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Produtos Farmacêuticos
Autoras: Profa. Marina de Freitas Silva
Profa. Michele Georges Issa
Profa. Michelle Maria Gonçalves Barão de Aguiar
Profa. Sabrina da Silva Sabo
Colaboradores: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro
Prof. Luiz Henrique Cruz de Mello
Professoras conteudistas: Marina de Freitas Silva / Michele Georges Issa /
Michelle Maria Gonçalves Barão de Aguiar / Sabrina da Silva Sabo
CDU 615.1
U515.01 – 22
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Unip Interativa
Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Angélica L. Carlini
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. Deise Alcantara Carreiro
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Lucas Ricardi
Bruna Baldez
Jaci Albuquerque
Sumário
Controle de Qualidade de Produtos Farmacêuticos
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 10
Unidade I
1 CONCEITOS BÁSICOS EM CONTROLE DE QUALIDADE....................................................................... 11
1.1 Sistema da qualidade farmacêutica ............................................................................................. 11
1.1.1 O gerenciamento de qualidade e a garantia da qualidade.................................................... 13
1.1.2 Boas práticas de fabricação de medicamentos (BPF)............................................................... 14
1.1.3 Controle de qualidade .......................................................................................................................... 16
1.2 Legislações relacionadas ao controle de qualidade................................................................ 18
2 ANÁLISE FARMACOPEICA E ESPECIFICAÇÕES DA QUALIDADE...................................................... 20
2.1 Especificações......................................................................................................................................... 20
2.1.1 Especificações para matérias-primas.............................................................................................. 23
2.1.2 Especificações para materiais de embalagem.............................................................................. 24
2.1.3 Especificações para produtos intermediários e produtos a granel..................................... 25
2.1.4 Especificações para produtos acabados......................................................................................... 25
2.2 Padrões de referência e substâncias químicas de referência.............................................. 27
2.3 Monografias ........................................................................................................................................... 28
2.4 Validação de método analítico ....................................................................................................... 30
3 AMOSTRAGEM................................................................................................................................................... 31
3.1 Tipos de amostragem........................................................................................................................... 33
3.2 Plano de amostragem.......................................................................................................................... 34
3.3 Técnicas de amostragem.................................................................................................................... 37
3.4 Preparo de amostras............................................................................................................................ 38
3.4.1 Cálculos empregados no preparo das amostras.......................................................................... 41
4 MÉTODOS DE ANÁLISE DE MATERIAIS DE EMBALAGEM................................................................. 45
Unidade II
5 CONTROLE DE QUALIDADE DE MATÉRIAS-PRIMAS........................................................................... 56
5.1 Ensaios de identificação..................................................................................................................... 56
5.1.1 Análise das características organolépticas.................................................................................... 56
5.1.2 Ensaios analíticos de identificação................................................................................................... 57
5.2 Ensaios de pureza.................................................................................................................................. 62
5.2.1 Determinação do pH.............................................................................................................................. 62
5.2.2 Impurezas orgânicas: substâncias relacionadas.......................................................................... 63
5.2.3 Impurezas inorgânicas........................................................................................................................... 65
5.3 Ensaios de doseamento...................................................................................................................... 68
5.3.1 Métodos não instrumentais................................................................................................................ 68
5.3.2 Métodos instrumentais......................................................................................................................... 73
6 CONTROLE DE PRODUTOS ACABADOS.................................................................................................... 76
6.1 Líquidos..................................................................................................................................................... 76
6.1.1 pH .................................................................................................................................................................. 77
6.1.2 Aspectos reológicos................................................................................................................................ 78
6.1.3 Características organolépticas e sensoriais................................................................................... 80
6.1.4 Limpidez das soluções............................................................................................................................ 81
6.1.5 Determinação de volume..................................................................................................................... 81
6.1.6 Teste de gotejamento............................................................................................................................. 82
6.2 Semissólidos............................................................................................................................................ 82
6.2.1 Ensaios físicos .......................................................................................................................................... 84
6.2.2 Ensaios químicos...................................................................................................................................... 92
6.2.3 Ensaios microbiológicos........................................................................................................................ 94
6.3 Sólidos......................................................................................................................................................100
6.3.1 Peso.............................................................................................................................................................100
6.3.2 Aspecto......................................................................................................................................................101
6.3.3 Dureza........................................................................................................................................................102
6.3.4 Friabilidade (aparelho: friabilômetro)............................................................................................103
6.3.5 Desintegração (aparelho: desintegrador).....................................................................................103
6.3.6 Dissolução (aparelho: dissolutor)....................................................................................................105
6.3.7 Teor do princípio ativo.........................................................................................................................108
6.3.8 Uniformidade de doses unitárias....................................................................................................119
6.3.9 Granulometria........................................................................................................................................ 120
6.3.10 Ângulo de repouso............................................................................................................................. 122
6.3.11 Umidade: Karl Fischer ou perda por dessecação (avaliação da quantidade de
água no produto evitando alterações no produto)........................................................................... 123
6.3.12 pH............................................................................................................................................................. 123
Unidade III
7 CONTROLE DE QUALIDADE MICROBIOLÓGICO..................................................................................130
7.1 Controle microbiológico de produtos estéreis........................................................................131
7.1.1 Principais fontes de contaminação microbiana........................................................................131
7.1.2 Microrganismos de interesse farmacêutico............................................................................... 134
7.1.3 Cinética de morte microbiana: aspectos logarítmicos.......................................................... 136
7.1.4 Nível de segurança de esterilidade (Sterility Assurance Level – SAL).............................. 138
7.1.5 Teste de esterilidade............................................................................................................................ 143
7.1.6 Teste de pirogênio................................................................................................................................ 148
7.1.7 Salas limpas............................................................................................................................................. 157
7.2 Controle microbiológico de produtos não estéreis...............................................................167
7.2.1 Amostragem, preparação da amostra e diluições seriadas decimais para
análises microbiológicas............................................................................................................................... 167
7.2.2 Teste de limite microbiano e métodos de contagem..............................................................171
7.2.3 Pesquisa de patógenos....................................................................................................................... 179
8 VALIDAÇÃO ANALÍTICA................................................................................................................................188
8.1 Conceitos e importância..................................................................................................................188
8.1.1 Conceitos e definições........................................................................................................................ 188
8.2 Principais parâmetros de validação.............................................................................................190
8.2.1 Seletividade..............................................................................................................................................191
8.2.2 Especificidade..........................................................................................................................................191
8.2.3 Precisão..................................................................................................................................................... 192
8.2.4 Exatidão.................................................................................................................................................... 192
8.2.5 Linearidade.............................................................................................................................................. 194
8.2.6 Limite de detecção............................................................................................................................... 195
8.2.7 Limite de quantificação...................................................................................................................... 196
8.2.8 Robustez................................................................................................................................................... 196
8.2.9 Efeito matriz........................................................................................................................................... 198
8.2.10 Estabilidade........................................................................................................................................... 198
8.3 Validação de métodos microbiológicos......................................................................................198
APRESENTAÇÃO
Desde sempre a qualidade é um aspecto inerente à atividade produtiva. A partir do momento em que
a fabricação de produtos farmacêuticos toma escalas ampliadas, ferramentas que auxiliam o controle da
produção vão sendo desenvolvidas paralelamente ao surgimento de técnicas analíticas mais apuradas.
Nesse sentido, o controle de qualidade – ferramenta da garantia da qualidade no contexto das boas
práticas de fabricação (BPF) – é uma área extremamente abrangente e aplicável tanto na indústria
farmacêutica quanto na farmácia de manipulação.
Este livro-texto foi organizado de modo que seja inicialmente dada uma visão geral do controle de
qualidade. Após discussão dos conceitos fundamentais, uma abordagem sobre análise farmacopeica
e estabelecimento de especificações é apresentada, além de considerações sobre amostragem e
preparo de amostras, sendo a unidade I finalizada com os métodos empregados para a avaliação de
materiais de embalagem.
O controle de qualidade microbiológico é abordado na unidade III, com a divisão dos produtos em
estéreis e não estéreis. Será feita uma discussão dos principais testes microbiológicos empregados, além
dos aspectos dos processos de esterilização e produção em ambientes controlados.
Considerando que um método analítico deve ser desafiado de modo a demonstrar a sua adequabilidade
à finalidade pretendida, no tópico final do livro-texto serão tratados os aspectos das validações de
metodologia analítica e de ensaios microbiológicos.
Ao passar por todo o conteúdo do livro-texto, o aluno terá uma boa noção do controle de qualidade
de produtos manipulados e especialidades farmacêuticas.
9
INTRODUÇÃO
Prezado aluno,
Tendo em vista a importância dessas habilidades, o presente livro-texto foi elaborado com o intuito
de convidá-lo a mergulhar nesse cenário, de modo que os princípios do controle de qualidade não apenas
façam parte de sua vivência acadêmica, mas também sirvam de inspiração para a tomada assertiva de
decisões na sua vida profissional.
Bons estudos!
10
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Unidade I
1 CONCEITOS BÁSICOS EM CONTROLE DE QUALIDADE
Assim, o controle de qualidade é uma área dentro das ciências farmacêuticas que se apresenta como
indispensável na produção de medicamentos. O conceito de qualidade em outras áreas produtivas pode
refletir competitividade, satisfação do consumidor e preferências do usuário a um produto; porém, no
caso de produtos farmacêuticos, é uma obrigação do fabricante assegurar sua qualidade (de acordo com
a legislação sanitária). Isso porque tais produtos podem comprometer a saúde dos que fazem uso deles
caso não atendam às especificações.
Na indústria farmacêutica, para que a qualidade seja garantida e os produtos sejam confiáveis, deve
ser implementado o sistema da qualidade farmacêutica. Esse sistema tem como objetivo estabelecer
um modelo eficaz de gestão da qualidade para a indústria farmacêutica referente ao Guia Q10 de
Conselho Internacional sobre Harmonização de Requisitos Técnicos em Produtos Farmacêuticos para
Uso Humano (em inglês, International Conference on Harmonisation of Technical Requirements for
Registration of Pharmaceuticals for Human Use, ou ICH). O ICH congrega autoridade em todo o mundo
11
Unidade I
na regulação de medicamentos e seus fabricantes. Assim, a Anvisa faz parte do ICH, o que permite sua
participação na harmonização da legislação sanitária nacional com a legislação internacional.
O sistema da qualidade farmacêutica foi um modelo proposto pelo ICH considerando os conceitos
de qualidade da Organização Internacional de Padrões (em inglês, International Standards Organization,
ou ISO).
O objetivo é que esse modelo de sistema de qualidade possa ser implementado pelos fabricantes
de medicamentos nas diferentes fases de vida do produto final. Apesar de o sistema da qualidade
farmacêutica ter sido proposto por uma entidade internacional – o ICH –, ele se encontra completamente
contemplado na legislação brasileira sanitária, mais especificamente na Resolução RDC n. 301, de 2019.
Na figura a seguir estão descritos os níveis da qualidade e como ocorrem as relações entre eles.
Gerenciamento da qualidade
• ser documentado e monitorado, através de revisão gerencial do próprio sistema pela equipe
designada, com fim de permitir o aperfeiçoamento constante das práticas realizadas;
• para implementar ou alterá-lo, devem ser considerados os princípios sobre gerenciamento de risco
(entende-se como risco à saúde a probabilidade de ocorrência de efeitos adversos relacionados a
objetos submetidos a controle sanitário, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde)
(BRASIL, 2007b).
Além disso, para que um sistema da qualidade farmacêutica seja considerado satisfatório, deve
assegurar diversos quesitos, alguns descritos no quadro a seguir, segundo a Resolução RDC n. 301,
de 2019. Ainda, a qualidade na produção de medicamentos de uso humano apresenta níveis, os quais
12
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
estabelecem relações entre si, conforme descrito na figura anterior. Desse modo, pode-se observar que
há o sistema da qualidade farmacêutica, o gerenciamento da qualidade, as boas práticas de fabricação
e o controle de qualidade.
A criação do produto deve ser realizada por meio de projeto, planejamento, implementação, manutenção e melhora constante
de um sistema, o qual possibilite a fabricação reprodutível dos medicamentos, com suas devidas propriedades de qualidade
A criação de medicamentos e seu desenvolvimento devem considerar as boas práticas de fabricação
As atividades relacionadas à produção e ao controle de medicamentos devem ser especificadas de forma compreensível e de
acordo com as boas práticas de fabricação
As responsabilidades gerenciais devem ser claras e especificadas
Deve-se assegurar que a fabricação, o fornecimento e o uso das matérias-primas e materiais de embalagem sejam apropriados
É necessário realizar a escolha e o monitoramento dos fornecedores, e verificar a conformidade de cada recebimento dos
fornecedores previamente aprovados (qualificação de fornecedores)
A qualificação de fornecedores relaciona-se com o conhecimento do material oferecido pelo fornecedor, o que impacta
diretamente na qualidade dos medicamentos fabricados a partir dele
Os resultados da monitorização de produtos e processos devem ser considerados para a aprovação dos lotes, bem como na
pesquisa de desvios e controle para desempenho do processo e para a qualidade do produto
Deve-se realizar os controles requeridos para os produtos intermediários e outros controles em processo e validações
A comercialização e a distribuição de medicamentos devem ser realizadas após a avaliação de cada lote de produto produzido
e controlado, de acordo com seu registro e as normas relacionadas à produção, ao controle e à liberação dos medicamentos,
pela pessoa designada pelo sistema da qualidade farmacêutica
É necessário implementar mecanismos que assegurem que o armazenamento, a distribuição e o transporte de medicamentos
sejam realizados para manter a qualidade durante a vida útil
É preciso prover um processo de autoinspeção que analise periodicamente a afetividade do sistema da qualidade farmacêutica
Pode-se notar que o conceito de qualidade vai além de verificar e analisar as matérias-primas,
os produtos intermediários (produtos parcialmente fabricados e que ainda precisam ser submetidos a
mais etapas de produção antes de se tornarem um produto a granel), os produtos a granel (produtos
que foram completamente processados, mas ainda não se encontram em sua embalagem primária),
os produtos acabados e os materiais de embalagem. De fato, a qualidade é de responsabilidade da
administração da empresa detentora da autorização de fabricação do produto e relaciona-se com toda
participação das equipes em todos os níveis da organização e com todas as ações que, em última
instância, podem impactar direta ou indiretamente as propriedades, a estabilidade, a eficácia e a
segurança dos medicamentos fabricados pela empresa.
No quesito qualidade, há diversos termos e definições que devem ser esclarecidos para melhor
compreensão de como traçar estratégias periódicas e revisões contínuas dos parâmetros da qualidade.
Alguns deles serão apresentados a seguir.
13
Unidade I
Segundo a Resolução RDC n. 301, de 2019, o desvio pode ser definido como o não cumprimento de
exigências estabelecidas pelo sistema de gerenciamento da qualidade farmacêutica.
Diferentemente de outros países, como os Estados Unidos, o Brasil teve sua agência reguladora
criada bem recentemente, através da Lei n. 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Anteriormente à criação
da Anvisa, o próprio Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância Sanitária, tinha a função de
controlar, regulamentar e inspecionar a produção e as demais atividades relacionadas a medicamentos,
além de outros produtos e serviços de interesse para a saúde.
Como marco regulatório, a primeira legislação sanitária que vigorou no Brasil referindo-se às BPF
foi a Portaria SVS/MS n. 16, de 6 de março de 1995. Essa portaria foi baseada no Guia de Boas Práticas
de Fabricação para a Indústria Farmacêutica, que foi redigido a partir de um fórum promovido pela
Organização Mundial de Saúde (OMS).
Após alguns anos, já sob a responsabilidade da Anvisa, essa portaria foi revogada, e a agência publicou
a Resolução RDC n. 134, de 13 de julho de 2001, seu primeiro ato normativo sobre BPF. Nela, novamente,
as orientações da OMS foram acatadas a respeito da certificação da qualidade de medicamentos, e o
documento contou com um roteiro de inspeção.
14
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Posteriormente, a Resolução RDC n. 134 foi revogada, e a Anvisa publicou então a Resolução
RDC n. 210, de 4 de agosto de 2003, trazendo os critérios de avaliação do roteiro de inspeção para os
fabricantes de medicamentos, pautados no risco à qualidade e à segurança dos produtos farmacêuticos.
Essa resolução ainda consolida a obrigatoriedade de validação de metodologia analítica.
Na sequência, a Resolução RDC n. 210 foi revogada e a Resolução RDC n. 17, de 16 de abril de 2010,
tomou seu lugar. A legislação de 2010 abordava, além das BPF, pontos específicos como validação, água
para uso farmacêutico, medicamentos fitoterápicos, produtos biológicos e principalmente produtos
estéreis. Apresentou, ainda, a obrigação da validação de sistemas computadorizados. Posteriormente,
essa resolução também foi revogada.
Atualmente, é a Resolução RDC n. 301, de 2019, e suas instruções normativas que regem as BPF.
Assim, as empresas fabricantes de medicamentos devem segui-las. Essa legislação é diferente das
anteriores, pois apresenta na própria resolução o sistema da qualidade farmacêutica, mas as demais
normas e diretrizes foram redigidas em instruções normativas. Acredita-se que essa forma visa facilitar
novas publicações e alterações, já que a instruções apresentam trâmites para alteração mais fáceis
quando comparados aos das resoluções.
As instruções normativas e suas ementas são: Instrução Normativa IN n. 35, 36, 37, 38, 39,
40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47 e 48, que dispõem de BPF complementares a medicamentos estéreis;
insumos e medicamentos biológicos; medicamentos radiofármacos; gases substâncias ativas e gases
medicinais; medicamentos fitoterápicos; atividades de amostragem de matérias-primas e materiais de
embalagens utilizados na fabricação de medicamentos; medicamentos líquidos, cremes ou pomadas;
medicamentos aerossóis pressurizados dosimetrados para inalação; sistemas computadorizados
utilizados na fabricação de medicamentos; radiação ionizante na fabricação de medicamentos;
medicamentos experimentais; medicamentos hemoderivados; atividade de qualidade e validação;
amostras de referência e retenção, respectivamente.
Assim, é sabido que todas as etapas realizadas em medicamentos, como armazenamento, distribuição
e transporte, podem influenciar na sua qualidade. Todavia, é a fabricação um dos pontos mais críticos e,
por isso, deve ser de grande atenção para a autoridade sanitária.
15
Unidade I
Para além disso, as BPF fazem parte do gerenciamento da qualidade e garantem que os medicamentos
sejam continuamente produzidos e controlados, considerando os possíveis desvios de qualidade, quando
esses são comparados ao pretendido e requerido à autoridade sanitária no registro do produto, na
autorização para uso em ensaio clínico ou na especificação do produto. Desse modo, o cumprimento
das BPF visa à diminuição de riscos inerentes a qualquer produção farmacêutica, os quais não podem
ser detectados apenas em ensaios feitos em produtos acabados pelo controle de qualidade.
A qualidade dos medicamentos resulta em três propriedades essenciais que os medicamentos devem
possuir: segurança, eficácia e estabilidade. A averiguação da qualidade exige que os profissionais que
nela atuam tenham conhecimentos sólidos de diversas áreas. Sendo assim, o controle de qualidade de
medicamentos é uma atividade privativa do profissional farmacêutico, segundo o Conselho Federal
de Farmácia (CFF, 2002).
O controle de qualidade é a parcela das boas práticas de fabricação e refere-se à coleta de amostras,
às especificações e à realização de testes. Ainda compete a ele a organização, a documentação e os
16
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Dessa forma, é o controle de qualidade o responsável por avaliar a qualidade das matérias-primas
que serão empregadas para a fabricação dos medicamentos, bem como os materiais de embalagem
e os medicamentos ali fabricados. Também é de sua responsabilidade realizar e monitorar os estudos
de estabilidade dos produtos acabados. Para tanto, o controle de qualidade deve cumprir requisitos
mínimos para averiguar adequadamente esses produtos, conforme a Resolução RDC n. 301, de 2019.
Os requisitos são apresentados a seguir.
• Ter métodos analíticos validados (a validação de metodologia analítica deve ser realizada conforme
a Resolução RDC n. 166, de 24 de maio de 2017, e definida como a avaliação e sua comprovação
de um método usando ensaios experimentais que confirmem e concedam resultados de que
os requisitos para o uso de tal método são seguros e confiáveis), de acordo com a legislação
sanitária vigente.
• Garantir que todos os lotes só sejam liberados para comercialização e/ou distribuição após a sua
certificação por pessoa encarregada do Sistema de Gestão da Qualidade.
17
Unidade I
Assegurar a precisa etiquetagem dos recipientes onde serão acondicionados materiais e produtos
Monitorar os estudos de estabilidade (curta e longa duração) de produtos acabados
Participar da investigação de reclamações feitas à empresa sobre problemas de qualidade de medicamentos
Supervisionar o controle de referência e/ou retenção de amostras de materiais e produtos
Essas atividades desempenhadas pelo departamento de controle de qualidade são divididas em duas
áreas a depender das análises. Quando os testes são de caráter físico e/ou químico, como o doseamento de
insumo farmacêutico ativo ou desintegração de comprimidos, eles são feitos pelo controle de qualidade
físico-químico. Já quando os ensaios são de caráter microbiológico, como contagem de microrganismos
presentes em um produto não estéril, são realizados pelo controle de qualidade microbiológico.
Segundo Abbagnano (2007), lei pode ser definida como uma regra categoricamente necessária, ou
seja, quando é impossível que o fato ocorra de outro modo ou ainda quando há uma força que permita
que determinado ato seja realizado de dada maneira.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, conhecida como Carta Magma, é a lei fundamental e
suprema, sendo considerada a base de todo ordenamento jurídico nacional. Todas as legislações e atos
normativos devem estar de acordo com ela, sem afrontar a lei maior, pois podem ser considerados
inconstitucionais.
A legislação é regida por uma hierarquia jurídica, ou seja, há um ordenamento de como cada ato
normativo é submetido a um ato maior a ele, até que se alcance a Constituição Federal. Todavia, essa
visão não parece ser unânime e há juristas que julgam a inexistência de tal interpretação.
A Constituição Federal, no artigo 200, atribui ao Sistema Único de Saúde (SUS) a competência
de controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para saúde e participar da
produção de medicamentos. Então, segundo a própria Constituição, são deveres do estado, através
do SUS, o controle e a fiscalização de matérias-primas e produtos acabados que possam trazer riscos
à saúde das pessoas, tais como medicamentos, correlatos e cosméticos, bem como os processos para
fabricação, controle, distribuição e comercialização. Nota-se que no âmbito do SUS, para realizar essas
atribuições, foi constituída a Anvisa.
Para o cumprimento da lei fundamental, vários atos normativos foram elaborados e vigoram para
garantir a saúde da população brasileira. A Constituição Federal não contém o detalhamento das regras
18
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
que devem ser seguidas, mas ela promove a base para que legislações possam ser redigidas e mostra como
os processos devem ser realizados. Há as leis complementares, as leis ordinárias, as medidas provisórias, os
decretos-leis, os decretos, as resoluções, as portarias, as instruções normativas e as resoluções do CFF.
Ainda, os atos legais podem perder sua validade e partes deles podem deixar de valer. Quando isso
ocorre, diz-se que o ato ou parte dele foi revogado – logo, esse ato não deve ser mais seguido. Em geral,
quando essa situação ocorre, um novo ato já foi feito. Assim, diz-se que o novo ato está vigente – isto
é, está valendo – e deve ser obrigatoriamente seguido.
Por fim, as legislações podem ser das esferas federal, estadual e municipal. Logo, um ato legal
estadual não pode ser mais exigente que um ato federal, assim como um ato municipal não pode ser
mais restrito que atos estaduais e federais. O ato federal tem validade em todo o território nacional, bem
como o ato estadual se restringe ao seu estado de origem e o ato municipal, ao seu município.
As leis complementares são aquelas que, como o nome sugere, complementam a Constituição Federal.
Elas regulamentam matérias importantes e presentes na Constituição e assumem, assim, o caráter de
lei constitucional. Ainda, apresentam maior valor que outras leis, exceto a própria Constituição. Sem
elas, certos dispositivos constitucionais não podem ser aplicados por falta de detalhamento na lei
suprema. São aprovadas pelo Congresso Nacional (deputados e senadores) por maioria absoluta. Já as
leis ordinárias são as leis propriamente ditas, ou seja, as demais leis, e nelas são abordadas matérias que
não são previstas na Constituição Federal. Devem ser aprovadas pelo Congresso Nacional para serem
validadas e por maioria simples.
No caso do controle de qualidade, as leis relacionadas são as ordinárias. São elas: Lei n. 5.991, de 17 de
dezembro de 1973 (dispõe sobre o controle sanitário de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos
e correlatos, e dá outras providências); Lei n. 6.360, de 23 de setembro de 1976 (dispõe sobre a vigilância
sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e os correlatos,
cosméticos, saneantes e outros produtos, e dá outras providências); Lei n. 8.080, de 19 de setembro de
1990 (trata da organização e funcionamento dos serviços de saúde); Lei n. 9.695, de 20 de agosto
de 1998 (dispõe sobre a falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produtos medicinais como
crime hediondo); Lei n. 9.787, de 26 de janeiro de 1999 (define o Sistema Nacional de Vigilância
Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e dá outras providências); Lei n. 9.787,
de 10 de fevereiro de 1999 (altera a Lei n. 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a
vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico).
As resoluções são determinações que indicam o ato pelo qual o poder público decide, impõe uma
ordem ou estabelece uma medida, e partem de órgãos colegiados (como a Anvisa). Elas dispõem de
questões administrativas ou regulamentares. No que se refere ao controle de qualidade, há diversas
resoluções vigentes que abordam diversos temas de atuação, como: boas práticas de fabricação
de medicamentos, uso de compêndios internacionais, validação de metodologia analítica, estudo de
estabilidade, entre outros. Logo, os profissionais dessa área devem estar sempre atentos às legislações
que permeiam sua atuação e acompanhar novas publicações, alterações ou vigência.
19
Unidade I
Desse modo, os insumos farmacêuticos ativos (IFA), excipientes, materiais de embalagem, produtos
intermediários, produtos a granel e produtos acabados devem ser categoricamente avaliados quanto a
sua qualidade. Essa avaliação é realizada tendo como parâmetros as especificações, as quais determinarão
se os insumos, materiais de embalagem, produtos intermediários, produtos a granel e produtos acabados
estão aptos para o consumo.
No caso dos insumos e materiais de embalagem, sua qualidade deve ser avaliada antes de serem
empregados na produção de medicamentos, para garantir que estejam apropriados para a produção de
medicamentos. Já para os produtos acabados, sua qualidade também deve ser analisada para verificar
se são adequados para o uso da população e garantir que não haverá problemas aos pacientes devido
a questões de qualidade.
Nota-se, então, que é de extrema importância estabelecer os requisitos que vão assegurar que os
insumos farmacêuticos ativos, excipientes, materiais de embalagem, produtos intermediários, produtos
a granel e produtos acabados são apropriados para uso, e isso deve ser feito de forma homogênea, sem
gerar dúvidas ou ficar a critério das empresas fabricantes de medicamentos. Assim, as especificações
devem ser definidas antes do emprego de insumos na produção de medicamentos e na comercialização
dos produtos terminados.
2.1 Especificações
As especificações podem ser definidas como documentos que apresentam as exigências quantitativas,
qualitativas ou semiquantitativas, a depender do tipo de ensaio, descritas de forma clara e objetiva, e
embasam a avaliação da qualidade de insumos e produtos. Elas devem ser autorizadas por profissional
competente e capacitado para tanto e também devem ser datadas.
20
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Quando as exigências são quantitativas, elas devem apresentar o valor ou faixa numérica (limite
máximo e limite mínimo) aceitável, como peso, volume, tempo e percentual (%), juntamente com suas
unidades, em geral no Sistema Internacional de Medidas (SI).
Por consequência, as especificações são estabelecidas pela autoridade sanitária nacional, ficando
agrupadas em um compêndio oficial conhecido como Farmacopeia. No caso do Brasil, a autoridade
sanitária é a Anvisa e o compêndio é denominado Farmacopeia Brasileira. O termo compêndio tem como
definição livro normativo que contém a síntese de um assunto. Em outras palavras, pode-se descrever
como um conjunto de normas e informações sobre uma determinada área do conhecimento. Assim,
a Farmacopeia Brasileira é uma coletânea de ensaios, conhecimentos, informações e especificações
sobre as análises de diversos tipos de insumos, materiais de embalagem e medicamentos. Esses últimos
abrangem as diversas categorias, tais como medicamentos sintéticos, medicamentos fitoterápicos,
medicamentos biológicos, radiofármacos, entre outros. As especificações encontradas na Farmacopeia
Brasileira são chamadas de oficiais ou farmacopeicas. Nesse caso, as especificações estarão descritas em
uma monografia farmacopeica.
Uma das situações é o fabricante estabelecer parâmetros que acredita serem mais completos sobre
determinados insumos ou produtos acabados, que irão proporcionar a aquisição de insumos específicos
para o fabrico de dado produto. Desse modo, além de o produtor seguir as especificações farmacopeicas,
há o acréscimo de informações específicas que nortearão a compra de insumos. Como exemplo, pode‑se
citar a aquisição de um insumo farmacêutico ativo que deve ter uma granulometria específica para a
produção de comprimidos. Ou seja, durante o desenvolvimento do medicamento na forma de comprimidos,
foi verificado que o IFA com determinada granulometria facilita o processo de compressão, e fora dessa
especificação o produto sofre variações que podem impactar na qualidade. Logo, a empresa estabelece
que o tal IFA deve ter uma dada granulometria, e sua aquisição fica condicionada a essa característica,
apesar de ser um requisito imposto apenas pelo fabricante. Isso não desobriga o fabricante a realizar os
demais ensaios para avaliar a qualidade do IFA, como identificação e teor, por exemplo, mas acrescenta
um ensaio para abranger a situação particular do produto em questão.
Portanto, as especificações são os limites aceitáveis para ensaios específicos que devem ser realizados
pelo controle de qualidade do estabelecimento produtor de medicamentos e detentor do registro de tais
produtos. A descrição desses ensaios, os reagentes necessários, o preparo das amostras, os equipamentos
a serem utilizados e os parâmetros a serem seguidos (tempo, temperatura e velocidade de agitação, por
21
Unidade I
exemplo) estão devidamente descritos na Farmacopeia Brasileira, juntamente com os limites aceitáveis.
Caso seja uma especificação não farmacopeica, o fabricante também deve ter todos esses dados descritos.
Assim, após a realização de determinado ensaio, o resultado obtido será comparado às especificações
e, caso esteja diferente, o ensaio é declarado não conforme, isto é, o resultado não está de acordo
com as especificações. Nesse caso, o objeto da análise (matéria-prima, produto acabado, material de
embalagem ou produto intermediário) não é considerado apto e deve ser descartado.
Matérias‑primas
Produto intermediário
Produto a granel
Produto acabado
22
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Por fim, é válido ressaltar que alguns ensaios não apresentam resultados que devem ser
comparados com as especificações farmacopeicas, o que acarretaria numa aprovação ou
reprovação. De fato, esses ensaios também estão presentes na Farmacopeia Brasileira ou descritos
em protocolos internos do fabricante e são realizados para verificar características próprias do
produto ou matéria-prima, que podem indicar desvio de qualidade ou impactar na produção, no
caso dos insumos. Esses ensaios são informativos e em geral caracterizam aquilo que está sob
análise, permitindo um conhecimento das propriedades de um produto ou insumo.
Por exemplo, o ensaio de viscosidade para produtos líquidos e semissólidos e insumos líquidos e
semissólidos não possui limites aceitáveis descritos na Farmacopeia Brasileira. Todavia, esse ensaio
se faz importante, pois pode auxiliar a caracterizar tanto um insumo, como glicerina, quanto um
produto acabado, como um xarope medicamentoso. Caso a viscosidade que já é conhecida pelo
fabricante de um xarope esteja distinta do esperado, isso pode ser um indicativo de que algo
durante o processo produtivo pode ter ocorrido e influenciado a mudança da viscosidade. Esse
fato deve ser investigado e deixar alertas os envolvidos com a produção e controle dos produtos.
As matérias-primas, que podem ser definidas como qualquer substância química empregada para
produzir medicamentos (desconsiderando os materiais de embalagem), para circularem nas áreas produtiva
devem estar devidamente aprovadas pelo controle de qualidade.
De fato, as matérias-primas, ao serem recebidas, devem ter uma amostra retirada por representantes
do controle de qualidade em ambiente apropriado e com qualidade de ar semelhante às áreas de
produção. Essa amostra deve ser analisada e sua qualidade verificada, de acordo com as especificações
farmacopeicas e não farmacopeicas.
Durante esse momento, as matérias-primas ficam segregadas em local reservado a itens sob
análise (chamado de quarentena) e recebem uma sinalização (na forma de etiquetas, nesse caso, na
23
Unidade I
cor amarela) na qual é descrito que estão sofrendo avaliação. Logo, tais matérias-primas não
podem ser empregadas para a produção de medicamentos. Após as análises físico-química, físicas
e microbiológicas realizadas pelo controle de qualidade, as matérias-primas podem ser consideradas
aptas ou não para a produção. Quando aptas, considera-se que foram aprovadas, ou seja, estão de
acordo com as especificações. Quando inaptas, julga-se que foram reprovadas, isto é, não estão
conforme as especificações.
A partir desse ponto, as matérias-primas aprovadas recebem uma identificação descrita como
aprovadas (na forma de etiqueta de cor verde) e são encaminhadas para o almoxarifado, onde serão
armazenadas no local apropriado. Porém, as matérias-primas reprovadas não podem ser empregadas na
produção de medicamentos; elas são identificadas como reprovadas (com etiqueta na cor vermelha) e
voltam à área de quarentena, onde ficam até serem devidamente descartadas, conforme as normas de
gerenciamento de registro.
Na figura a seguir é ilustrado o fluxo de entrada de matérias-primas quando são recebidas pelo
produtor de medicamentos.
Matérias‑primas reprovadas
em quarentena
Os materiais de embalagem podem ser descritos como um meio de assegurar aos medicamentos
proteção, identificação, informação, armazenamento e administração. O objetivo da embalagem é
fornecer o acondicionamento do produto farmacêutico e manter a integridade das suas características
originais durante seu prazo de validade.
As embalagens podem ser classificadas em dois tipos: primárias e secundárias. As primárias são os
dispositivos que entram em contato íntimo com o medicamento (como frascos de vidro ou plástico e
tampas). Já as secundárias asseguram proteção física adicional ao medicamento e encontram-se em
contato com as embalagens primárias (por exemplo, caixas).
24
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Os materiais de embalagem do tipo primário não devem interagir com os medicamentos neles
acondicionados, especialmente o teor, pois haveria uma alteração das propriedades da preparação
farmacêutica, comprometendo sua qualidade. Por essa razão, a avaliação da qualidade dos materiais de
embalagem e sua conformidade quanto as suas especificações são de extrema importância.
Dessa maneira, as especificações para materiais de embalagem devem ser escritas de acordo com o
tipo de medicamento, sua composição química e a forma de administração. Também é necessário que
os materiais sejam atóxicos e permaneçam íntegros mesmo em contato com o produto durante o prazo
de validade. Nas especificações devem conter: descrição detalhada do material de embalagem, com
nome, código interno, referência farmacopeica à monografia (caso haja) e fornecedor (devidamente
qualificado); arte dos materiais impressos; instruções para amostragem; quesitos quantitativos,
qualitativos ou semiquantitativos (o que for considerado, a depender da avaliação); condições de
armazenamento e precauções para armazenamento (caso haja).
• produtos intermediários são aqueles que são em parte processados, porém necessitam passar
por mais etapas, para posteriormente se tornarem produtos a granel (exemplo: comprimidos que
passarão pela etapa de revestimento);
• produtos a granel são aqueles que já sofreram todas as etapas do processo de fabricação, faltando
apenas a etapa de acondicionamento em embalagem primária.
As especificações para esses dois tipos de produtos devem contemplar as fases críticas de processos
de produção de medicamentos ou ainda se tais produtos foram adquiridos ou serão despachados.
Produtos acabados são aqueles que sofreram todas as etapas do processo fabril, inclusive o
acondicionamento em embalagem primária. Além disso, são produtos produzidos em concordância com
todas as normas de BPF e qualidade, culminando em conformidade com as especificações. Para garantir
que esses produtos sejam comercializados e distribuídos após a fabricação, os ensaios de controle de
qualidade devem ser realizados e seus resultados comparados às especificações.
25
Unidade I
Nesse momento, após os produtos acabados serem fabricados, eles são segregados em área distinta
dos demais produtos acabados, em quarentena, e recebem sinalização de que estão sob análise.
Representantes do controle de qualidade devem realizar a amostragem, ou seja, retirar uma quantidade
de produto acabado que seja representativa do lote e que ainda permita reanálises no futuro, se
necessário. Enquanto as análises são realizadas, esses medicamentos não podem ser disponibilizados
para distribuição.
Nos laboratórios de controle de qualidade, esses medicamentos são avaliados de acordo com
as especificações; havendo conformidade, são considerados aprovados, isto é, estão liberados
para comercialização e distribuição. Caso os resultados das análises não estejam de acordo com as
especificações, tais produtos não podem ser comercializados e são declarados reprovados. A partir daí,
os produtos podem ser destruídos, descartados (segundo as diretrizes de gerenciamento de resíduos) ou
reprocessados (considerada uma situação excepcional).
As especificações dos produtos acabados, então, compreendem: nome do produto; fórmula; descrição
da forma farmacêutica; instruções de amostragem e análises; detalhamento da embalagem; requisitos
qualitativos, quantitativos, semiquantitativos e limites de aceitação; condições de armazenamento e
prazo de validade.
Teste Especificação
Doseamento 95% a 105% da quantidade declarada no rótulo
26
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Para a realização dos ensaios de controle de qualidade e a confrontação dos resultados obtidos
com as especificações, é necessário avaliar se os ensaios que serão empregados reproduzem resultados
compatíveis com as substâncias que serão analisadas. Para tanto, é fundamental o uso de padrões
de referência.
Desse modo, entendem-se como padrões de referência as substâncias com alto teor de pureza
que são empregadas para verificação da qualidade de insumos farmacêuticos ativos, excipientes e
medicamentos que garantem que os métodos analíticos empregados para tal possuam a capacidade de
detectar a presença e/ou a quantidade de certas substâncias.
Além do mais, os padrões farmacopeicos (chamados de oficiais) possuem alto valor comparados
às matérias-primas e são empregados para padronizar os insumos como padrões que são usados
rotineiramente nos ensaios de controle de qualidade. Logo, os padrões farmacopeicos ou oficiais são
denominados padrões primários.
Já os padrões que são matérias-primas padronizadas a partir do padrão farmacopeico são conhecidos
como padrões secundários ou padrões de trabalho. Então, sofrem análises comparativas com os padrões
de referência (ou primários). As análises são rigorosas, mediante ensaios padronizados (farmacopeicos
ou não) realizados em dias distintos por analistas também distintos, e os resultados das análises
são submetidos à avaliação estatística. O ideal é que a matéria-prima que será usada como padrão
secundário apresente o mais alto grau de pureza e uniformidade e, obviamente, tenha sido aprovada
pelo controle de qualidade.
Outro ponto importante é que o uso do padrão farmacopeico deve estar em concordância com a
metodologia empregada. Em outras palavras, isso significa que, se o método é da Farmacopeia Brasileira,
o padrão usado deve ser a SQR, e assim por diante.
Por fim, os rótulos dos padrões de referência e documentos (certificados de análise) que os
acompanham devem indicar a pureza, a quantidade, a data de fabricação e a data de validade, e as
condições de armazenamento antes e após a abertura do lacre.
Na tabela a seguir são encontrados alguns exemplos de padrões farmacopeicos do IFA cefadroxil.
27
Unidade I
Quantidade de padrão
Cefadroxil Valor (R$)* farmacopeico no frasco
Padrão farmacopeico BP** 1.386,00 100 mg
Padrão farmacopeico EP*** 892,00 150 mg
SQR (FB) 398,00 400 mg
* Cotação realizada em 18 de setembro de 2021.
** Padrão da Farmacopeia Europeia.
*** Padrão da Farmacopeia Britânica.
2.3 Monografias
As especificações dos ensaios que irão verificar a qualidade de insumos, produtos intermediários,
produtos a granel, material de embalagem e produtos acabados estão descritas na Farmacopeia Brasileira.
Contudo, a depender do ensaio, podem estar na parte de ensaios gerais (descritos no volume I) ou na
parte de insumos (descritos no volume II).
Essa segunda parte é organizada de acordo com os insumos e produtos acabados, por ordem
alfabética, agrupados na forma de monografias. Portanto, as monografias são descrições detalhadas
que caracterizam os componentes aos quais se referem, com detalhamento de métodos de análises,
bem como os parâmetros a serem empregados (temperatura e velocidade, por exemplo), equipamentos
e suas especificações.
• nome;
• DCB;
• fórmula estrutural;
• especificações;
• solubilidade;
28
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
• ensaios de identificação;
• ensaios de pureza;
• ensaios microbiológicos;
• ensaios específicos;
• ensaios de doseamento;
• materiais de embalagem;
• descrição de armazenamento;
• DCB;
• fórmula estrutural;
• ensaios de doseamento;
• ensaios de identificação;
• testes físicos;
• especificações;
• ensaios microbiológicos;
• ensaios específicos;
• materiais de embalagem;
• descrição de armazenamento;
29
Unidade I
O fabricante também pode elaborar monografia para determinado produto ou insumo. Isso
geralmente acontece em casos nos quais o produto ou os insumos ainda não estão na Farmacopeia
Brasileira ou outros compêndios oficiais permitidos, ou seja, normalmente ocorre para medicamentos
inovadores, cujos fármacos são inéditos.
No entanto, alguns ensaios farmacopeicos são incorporados em tais documentos, como os ensaios
físicos que são feitos em comprimidos e cápsulas (desintegração, friabilidade, peso médio).
A Farmacopeia Brasileira encontra-se na sua 6ª edição, que data de 2019. Outras farmacopeias, como
a Farmacopeia dos Estados Unidos, são publicadas anualmente, em contínua pesquisa e conformidade
com as inovações na área farmacêutica.
No quadro a seguir, são destacadas algumas farmacopeias, a edição em que cada uma se encontra
e o ano da última edição.
Em algumas situações, o fabricante não usa o método analítico descrito na Farmacopeia Brasileira ou
em outra farmacopeia permitida pela Anvisa. O produtor prefere ou é obrigado a desenvolver um método
analítico particular para avaliar determinada especificação de um insumo, material de embalagem ou
produto acabado. Isso é permitido pela agência reguladora através da Resolução RDC n. 166, de 24 de
julho de 2017, que dispõe sobre a validação de métodos analíticos.
Portanto, a norma supracitada deve ser seguida e parâmetros devem ser testados para garantir
confiança no método e, consequentemente, nos resultados obtidos a partir dele. Contudo, isso não
interfere na especificação, que deve ser seguida. Tomando como exemplo o medicamento aciclovir
comprimidos, na monografia farmacopeica está descrito que a avaliação de doseamento do fármaco
30
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
no produto tem como especificação uma faixa de 95% a 105% da quantidade declarada no rótulo.
O método analítico preconizado pela Farmacopeia Brasileira (2019) é por espectrofotometria de absorção
no ultravioleta para o teste de doseamento. A empresa fabricante pode optar por desenvolver e validar
um método por cromatografia líquida de alta eficiência com absorção no ultravioleta. Isso significa
que o método é diferente do farmacopeico, porém a especificação ainda é a mesma preconizada
pela farmacopeia.
3 AMOSTRAGEM
Para o monitoramento da qualidade, uma certa quantidade de amostras deve ser retirada de cada
etapa do processo, de modo que se possa ter uma representação fiel das características do lote como um
todo. Ao receber uma barrica de um IFA, por exemplo, os resultados obtidos com as amostras que foram
retiradas e analisadas devem ser os mesmos para qualquer porção dessa matéria-prima.
Lembrete
Tomando outro exemplo, como no caso de comprimidos, a condição ideal seria o monitoramento de
todas as unidades, entretanto, durante a avaliação da qualidade, uma série de análises são realizadas, e
algumas delas acabam por destruir a amostra, inviabilizando essa possibilidade. Por outro lado, mesmo
para ensaios que não destruam a amostra, em caso de um lote muito grande, a análise de todas as
unidades acarretaria um tempo demasiado na sua liberação (KOU et al., 2010).
Dessa forma, é possível perceber que o conceito de amostragem é fundamental em uma escala
industrial. Esse é um procedimento que foi inicialmente adotado durante a Segunda Guerra Mundial,
no fornecimento de armas para o exército americano, sendo logo depois introduzido em diversas áreas,
especialmente na indústria farmacêutica (PINTO; KANEKO; PINTO, 2015).
A amostragem é aplicável nas diferentes fases do controle de qualidade: antes, com a análise das
matérias-primas e materiais de embalagem; durante, com a execução do controle em processo; e
após, com a avaliação do produto acabado. Para a sua execução, os analistas do controle de qualidade
devem ser treinados para a realização desse procedimento, que deve seguir um determinado plano de
31
Unidade I
amostragem, conforme o tipo de produto e a etapa do processo. Além disso, todo o procedimento deve
ser registrado para permitir a rastreabilidade das informações.
No caso de matérias-primas, deve haver um espaço destinado à realização dessa amostragem, além
de paramentação e acessórios adequados para a coleta das amostras (GIL; BARBOSA, 2010a; BRASIL,
2019b). No caso de materiais que sejam submetidos à análise microbiológica, esse procedimento deve
ser realizado em um espaço dotado de um fluxo laminar, utilizando materiais e recipientes esterilizados.
Saiba mais
32
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
A etapa de análise é aquela que avalia se o produto cumpre com os critérios de qualidade previamente
estabelecidos. Já o erro total do resultado analítico, como apresentado na equação a seguir, é a somatória
das variâncias da amostragem, do preparo da amostra e da própria análise (KOU et al., 2010):
σ2 = σ2amostragem + σpreparo
2 2
da amostra + σanálise
Observação
A variância é uma medida estatística de dispersão que está relacionada
com os desvios das observações em relação ao valor médio, servindo como
uma indicação da qualidade do resultado analítico.
São considerados dois tipos de amostragem: a primária (amostragem de campo), que se refere à
coleta de certa quantidade de amostras diretamente da embalagem original, como no caso de uma
matéria-prima ou de determinada etapa do processo; e a secundária (amostra de laboratório), que
é a amostragem do material que foi entregue ao laboratório de controle de qualidade para análise
(KOU et al., 2010).
Início
Meio
Final
A amostragem secundária está relacionada com a quantidade recomendada nas farmacopeias para
a execução de uma determinada análise. Assim, a quantidade de amostras analisadas é uma parte
do material coletado na amostragem primária, cujo número de coletas foi estabelecido no plano de
amostragem do produto.
Na tabela a seguir, são apresentadas as quantidades requeridas para a realização de alguns ensaios
farmacopeicos para a forma de comprimidos.
33
Unidade I
A quantidade de amostras a serem retiradas e o modo como essa coleta deve ser realizada devem estar
estabelecidos no plano de amostragem. A elaboração desse plano deve contemplar o tamanho do lote
e a complexidade do material, assim como o conjunto de testes que precisam ser realizados, considerando
a necessidade de repetição (GIL; BARBOSA, 2010a). Entre os critérios farmacopeicos de amostragem,
estão algumas fórmulas estatísticas, como ilustrado nas equações a seguir, que são recomendadas para
a análise de matérias-primas (PINTO; KANEKO; PINTO, 2015). Dependendo do material, o ideal é que
todas as barricas de um lote recebido sejam amostradas, entretanto, nem sempre é possível, sendo então
aplicadas as referidas fórmulas:
n= N
ou
n= N + 1
Onde:
n = quantidade de amostras;
N = tamanho da população.
Além disso, planos de amostragem baseados no padrão americano Military Standard (MIL-STD) são
disponibilizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, através do documento NBR 5426, que
traz os planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos.
34
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Um bom plano de amostragem deve ser delineado de modo que se aprove uma alta quantidade de
lotes bons e sejam reprovados aqueles com qualidade inaceitável. Dessa forma, inicialmente devem ser
definidos os valores de nível de qualidade aceitável (NQA), o nível de qualidade inaceitável e os riscos
α e β (o primeiro refere‑se à probabilidade da rejeição de um lote bom e o segundo, à probabilidade de
liberação de um lote ruim).
As figuras a seguir trazem duas tabelas presentes na NBR 5426. Para exemplificar como pode ser
obtido o tamanho da amostra, vamos considerar um lote que produza 1.000 comprimidos, adotando o
nível geral de inspeção II. Em geral, o nível de inspeção e o NQA são determinados pelo fabricante em
função do tipo de produto e de seus atributos de qualidade.
Ao olhar a tabela da figura a seguir, verificamos que a letra J é a indicada para essa situação, e essa
informação será utilizada na tabela seguinte.
Vamos considerar que o atributo avaliado seja o teor de ativo nos comprimidos. Nesse caso, a
variável é bastante crítica, então o NQA adotado deve ser baixo. Dessa forma, ao utilizar um NQA de
0,15, o número de amostras deve ser de 80 unidades (veja a figura a seguir). Ao avaliar os valores de Ac
(número de falhas que permite a aceitação do lote) e Re (número de falhas que implica a rejeição
do lote), verifica-se que não se admite nenhum resultado fora da especificação, uma vez que o número de
falhas permitido para aceitação é 0 e o número de falhas que indicam a rejeição do lote é 1 (veja a
figura a seguir).
35
36
NQA
Unidade I
0,010 0,015 0,025 0,040 0,065 0,10 0,15 0,25 0,40 0,65 1,0 1,5 2,5 4,0 6,5 10 15 25 40 65 100 150 250 400 650 1000
Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re Ac Re
Código de amostras
Tamanho da amostra
A 2 0 1 1 2 2 3 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22 30 31
B 3 0 1 1 2 3 4 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22 30 31 44 45
C 5 0 1 1 2 2 3 5 6 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22 30 31 44 45
D 8 0 1 1 2 2 3 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22 30 31 44 45
E 13 0 1 1 2 3 4 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22 30 31 44 45
F 20 0 1 1 2 2 3 5 6 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
G 32 0 1 1 2 2 3 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
H 50 0 1 3 4 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
1 2
J 80 5 6 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
0 1 1 2 2 3
K 123 0 1 1 2 2 3 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
L 200 0 1 1 2 3 4 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
M 315 0 1 1 2 2 3 5 6 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
N 500 0 1 1 2 2 3 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
0 1 3 4 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
P 800 1 2
Q 1.250 0 1 1 2 2 3 5 6 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
1 2 2 3 3 4 5 6 7 8 10 11 14 15 21 22
R 2.000
Usar o primeiro plano abaixo da seta. Se a nova amostragem requerida for igual ou maior do que o número de peças constituintes do lote, inspecionar 100%.
Usar o primeiro plano acima da seta.
Ac - Número de peças defeituosas (ou falhas) que ainda permite aceitar o lote.
Re - Número de peças defeituosas (ou falhas) que implica a rejeição do lote.
Observação
Na figura a seguir são apresentados exemplos de pás que são utilizadas na amostragem de pós,
geralmente constituídas de aço inoxidável ou polipropileno.
Uma observação importante é que muitas vezes faz-se necessária a coleta em diferentes locais do
recipiente da matéria-prima. O mesmo conceito é adotado para a amostragem em um misturador durante
uma etapa de validação do processo de mistura, por exemplo. Para facilitar esse tipo de amostragem
são utilizados acessórios especiais, como os coletores apresentados na figura a seguir, o primeiro com
apenas um ponto de amostragem (a) e o segundo com múltiplos pontos (b). Além deles, uma série de
modelos estão disponíveis comercialmente.
37
Unidade I
A) B)
Para a amostragem de materiais líquidos e semissólidos (veja a figura a seguir) ou para a coleta de
produtos dentro de tanques são utilizados amostradores do tipo copo (a), coletor com peso (b) ou tubo
de imersão (c). Os dois últimos são utilizados para coleta em locais mais profundos do recipiente.
Suporte do coletor
A) B) Peso C)
Figura 10 – Amostradores para líquidos: A) copo; B) coletor com peso; C) tubo de imersão
A qualidade de um medicamento não está atrelada somente ao processo de fabricação, mas também
à adequada caracterização desse produto. Logo após a amostragem, a primeira etapa da fase analítica
se dá com o preparo das amostras, de modo que se possa adequar o material para a aplicação de uma
determinada técnica.
38
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Uma vez estabelecido o preparo da amostra, ele deve ser descrito de maneira detalhada na
metodologia e avaliado na validação do método analítico. Para se ter ideia da sua importância, alguns
dados observados indicam que cerca de 1/3 das falhas analíticas estão associadas ao preparo da amostra
(NICKERSON, 2010).
O maior desafio no preparo das amostras é quando se trata da análise das formas farmacêuticas,
havendo a necessidade de extração do ativo (analito) dos demais componentes da formulação, de modo
a eliminar possíveis interferentes na sua determinação.
Para que a análise seja adequada, algumas questões devem ser levadas em consideração (NICKERSON,
2010; ORLANDO; GIL, 2010). Deve-se:
• se necessário, proceder com a derivatização da amostra, para que o analito possa ser detectado;
• utilizar condições razoáveis para o preparo da amostra, como tipo de solvente, volume gasto e
tempo necessário para a extração.
Na figura a seguir são esquematizadas de uma maneira bem simples as etapas que podem ser
necessárias para o preparo de uma amostra em função da forma farmacêutica. De um modo geral, o que
se pretende é a solubilização do fármaco e a eliminação de partículas insolúveis, de modo que se tenha
uma solução sem interferentes. Eventualmente, além dessas etapas pode ser necessária a derivatização da
amostra ou a extração do fármaco para outro solvente que seja mais compatível com o sistema analítico.
Diluição
A) Fármaco em solução Solução pronta para análise
Eliminação de partículas
39
Unidade I
Em alguns casos, a solubilização pode ser facilitada com a trituração do pó, uso de agitadores ou
ultrassom. O tempo para que ocorra a solubilização deve ser avaliado, de modo que se possa extrair o
máximo possível do analito.
A extração em fase sólida (SPE) é uma técnica que utiliza os adsorventes comumente empregados
na cromatografia líquida, sendo aplicável em casos nos quais a matriz em que o fármaco está
veiculado é bastante complexa. Esses adsorventes são comercializados na forma de cartucho ou
disco (veja a figura a seguir) e funcionam como fase normal, reversa ou troca-iônica (conforme o
quadro visto na sequência).
Reservatório Sorvente
Sorvente
Filtros
Cartucho Disco
40
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Após a filtração da amostra, devem ser utilizados solventes para eluição e recuperação do analito
que ficou retido na fase estacionária. Para a fase reversa, podem ser utilizados metanol, acetonitrila e
hexano, entre outros. No caso da fase normal, são empregados etanol, acetona e metanol. Para cartuchos
de troca iônica, são utilizados tampões com elevada força iônica. Uma condição importante é que o
analito tenha alta afinidade pelo solvente de eluição.
Além da preocupação com a extração do analito, deve-se ter cuidado com a realização dos cálculos
associados ao preparo das amostras. Um deles está relacionado com a quantidade de material que deve
ser pesado; o outro, com a diluição das amostras para que a concentração do analito fique dentro da
faixa de leitura.
Vamos começar pelo primeiro caso. Para facilitar o entendimento, analisemos dois métodos analíticos,
o primeiro para o doseamento de matéria-prima e o segundo para produto acabado.
Ao comparar os dois métodos, nota-se que, para a matéria-prima, a quantidade de amostra requerida
para pesagem está direta (0,225 g), enquanto no caso dos comprimidos é solicitada uma quantidade de
pó referente aos comprimidos triturados equivalente a 50 mg de fármaco. Essa diferença é atribuída ao
fato de que no produto acabado, além do mebendazol, estão incluídos os excipientes; assim, a tomada
de ensaio (TE) deve ser calculada.
41
Unidade I
Antes da trituração dos comprimidos, deve-se determinar o valor de peso médio das 20 unidades,
de modo que essa informação seja utilizada nos cálculos. Outro fator que deve ser considerado é a
dosagem do fármaco nos comprimidos; nesse caso, faremos o cálculo para a apresentação de 100 mg.
No quadro a seguir são sintetizados os dados que serão utilizados para o cálculo dessa TE.
De posse dos dados do quadro é possível calcular a TE utilizando regra de três simples:
Peso médio dos comprimidos Valor declarado
TE Quantidade de fármaco na TE
280 100
TE 50
280 × 50
TE = = 140 mg
100
42
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Exemplo de aplicação
Exemplo 1
10
=
C1 = 0,1 mg / mL
100
Agora, vamos converter o valor da concentração final (C2) para a mesma unidade (mg/mL):
p 0, 002 g 2 mg
C2 0, 002% 0, 02 mg / mL
V 100 mL 100 mL
Tendo os valores das concentrações inicial e final, é possível, a partir da equação a seguir, calcular
o volume que deve ser retirado da solução 1 (V1) para o preparo da solução 2. Suponha que o balão
disponível para diluição seja de 20 mL:
C1 x V 1 = C2 x V2
0, 4
0,1 x V1 = 0, 02 x 20 → V1= → V1 = 4 mL
0,1
Dessa forma, para preparar a solução 2, uma alíquota de 4 mL deve ser transferida da solução 1 para
um balão volumétrico de 20 mL; após completar o volume e homogeneizar a solução, a concentração
será de 0,02 mg/mL.
Vamos supor que a forma farmacêutica a ser analisada agora seja uma solução oral de concentração
0,5 mg/5 mL, cuja dose terapêutica é de 5 mL. A concentração da solução padrão é de 20 µg/mL, e você
deve preparar uma amostra na mesma concentração (Cf). Para saber qual balão deve ser utilizado para
a realização dessa diluição, basta calcular o fator de diluição (FD) da amostra, conforme a equação a
seguir. Considere uma TE de 5 mL:
43
Unidade I
Como o fator de diluição é de 25, para chegar à concentração desejada para o preparo da
solução, o volume de 0,5 mL deve ser inserido em um balão de 25 mL, resultando na concentração
de 0,02 mg/mL ou 20 µg/mL:
0, 5
Cf = = 0, 02 mg / mL
25
Exemplo 2
Vamos considerar uma outra situação, em que para esse mesmo produto a TE seja de 20 mL. Qual
seria o volume do balão a ser utilizado na diluição?
0,5 mL 5 mL
Quantidade na TE 20 mL
0, 5 x 20
QTE = = 2 mg
5
2
=
FD = 100
0, 02
Nesse caso, para preparar a mesma concentração da amostra é necessário um balão de 100 mL. Caso
não haja disponibilidade de balão com essa capacidade, pode-se trabalhar com balões de volume menor
e proceder com mais de uma diluição (D):
2 25 1
=D = x
50 50 100
Dessa forma, a QTE deve ser diluída em 50 mL no primeiro balão; na sequência, uma alíquota de
25 mL é retirada e adicionada em um segundo balão, chegando na concentração desejada:
2
Cf = = 0, 02 mg / mL
100
Exemplo 3
Com base no que foi discutido, calcule a TE e o FD necessário para a análise de comprimidos de
loratadina 10 mg.
Dados:
a) O peso médio dos comprimidos é de 80 mg, e para a realização do ensaio de doseamento a TE deve
ser equivalente a 25 mg.
b) A concentração de leitura no espectrofotômetro deve ser a mesma da solução padrão 0,0125%.
44
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Resolução
• Cálculo da TE:
80 mg 10 mg
TE 25 mg
80 x 25
TE = = 200 mg
10
• Cálculo do FD:
25
=
FD = 200
0,125
Assim como as matérias-primas que fazem parte da formulação, as embalagens também são
consideradas insumos e precisam ter a sua qualidade atestada, principalmente aquelas que estão em
contato direto com o produto (embalagem primária) e auxiliam na manutenção da sua estabilidade.
Entretanto, outras atribuições também podem ser consideradas no contexto das embalagens de
medicamentos, tais como a identificação do produto, a informação ao paciente e o próprio doseamento,
uma vez que, em alguns casos, a dose já vem exata na embalagem primária ou o próprio recipiente é
o dispositivo dosador, como no exemplo dos sprays nasais e das canetas para aplicação de insulina,
entre outros.
Lembrete
45
Unidade I
A) B) C) D)
E)
G)
F)
H)
J) K) L) M) I)
N)
46
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Atualmente, além dos resultados da estabilidade, a Anvisa solicita que os fabricantes dos
medicamentos apresentem os estudos de extraíveis e lixiviáveis da embalagem primária, condição
exigida para a obtenção do registro do produto (BRASIL, 2016). Tais estudos estão relacionados com o
potencial de migração de substâncias da embalagem para o produto.
Saiba mais
Além desses testes, outros relacionados com as características físicas da embalagem também
são realizados, como a integridade do fechamento e a avaliação de aspecto, que serão apresentados
mais adiante.
47
Unidade I
farmacêutica. No quadro a seguir são exemplificados alguns testes farmacopeicos para a caracterização
da composição do material de embalagem.
Adaptado de: Anvisa (2019a); Rodrigues e Ferraz (2007); Taneja et al. (2018).
Esses testes são bastante importantes e devem fazer parte do certificado de análise desses materiais,
sendo geralmente realizados por seus fabricantes. Entretanto, a responsabilidade também é da empresa
que produz o medicamento, e alguns testes podem ser realizados pelo setor de controle de qualidade
para a confirmação da qualidade do material e a liberação para utilização.
48
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
A figura a seguir traz dois exemplos de fissuras que podem ser encontradas em frascos de vidro.
Outro aspecto bastante importante é a vedação, que varia de acordo com o tipo de material
de embalagem e seu sistema de fechamento. A padronização das dimensões de todas as partes da
embalagem, como frascos, tampas, tampas de borracha e anéis de vedação, é fator crítico, pois um
desvio em relação ao tamanho pode acarretar dificuldades de encaixe no ferramental da máquina de
produção ou no fechamento inadequado da embalagem.
49
Unidade I
Como pode ser observado na figura a seguir, os selos de alumínio precisam estar no tamanho correto
para a vedação dos frascos (a), e o encaixe da tampa de borracha só é possível porque tem a dimensão
adequada em relação à abertura do frasco (b).
A) B)
Observação
Os blísteres também são exemplos de embalagem que é produzida durante a fabricação do produto,
na fase de colocação dos comprimidos (blistagem). Para isso, rolos de plástico e alumínio (veja a figura
a seguir) são adquiridos com a especificação adequada e amostras devem ser retiradas ao longo do
processo para o teste de vedação.
50
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Rolo de alumínio
Aquecimento
Coleta de blísteres
Comprimidos
Vácuo
Descarte de rebarbas
Lâmina de plástico
Infravermelho
Esse teste de vedação é conhecido como teste de estanqueidade. Embora existam equipamentos para
essa finalidade, um modo simples de fazer a sua avaliação é pelo mergulho do blíster em uma solução
de azul de metileno em um dessecador acoplado com uma bomba de vácuo. O resultado é considerado
adequado se após um determinado período não houve entrada da solução de azul de metileno na parte
interior da embalagem. Esse teste também pode ser aplicado a outros materiais.
Saiba mais
51
Unidade I
Resumo
52
CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Exercícios
Questão 1. Leia o texto a seguir, referente à Resolução RDC n. 301, de 2019:
Seção III
Do controle de qualidade
Art. 13. O Controle de Qualidade é a parte das BPF referente à coleta de amostras, às especificações
e à execução de testes, bem como à organização, à documentação e aos procedimentos de liberação
que asseguram que os testes relevantes e necessários sejam executados, e que os materiais não sejam
liberados para uso, ou que produtos não sejam liberados para comercialização ou distribuição, até que
a sua qualidade tenha sido considerada satisfatória.
Disponível em: https://cutt.ly/xSHDbkt. Acesso em: 25 jan. 2022.
Avalie as afirmativas a seguir, que foram propostas no âmbito do artigo 14 da Resolução e correspondem
aos requerimentos básicos para que haja o controle de qualidade dos produtos farmacêuticos:
I – Devem existir instalações adequadas, pessoal treinado e procedimentos aprovados que precisam estar
disponíveis para amostragem e teste de matérias-primas, materiais de embalagem, produtos intermediários,
a granel e terminados e, onde apropriado, para monitoramento das condições ambientais para fins de BPF.
II – Os produtos acabados devem apresentar a composição qualitativa e quantitativa em conformidade
com o descrito no registro ou na autorização para uso em ensaio clínico. Os componentes devem ter a
pureza exigida e devem estar em recipientes apropriados e devidamente rotulados.
III – Devem ser registrados os resultados da inspeção e dos testes realizados nos materiais, produtos
intermediários, a granel e terminados, demonstrando que foram formalmente avaliados em relação
à especificação, que deve incluir a revisão e a avaliação da documentação relevante de produção e a
avaliação dos desvios dos procedimentos especificados.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: corresponde ao inciso I do artigo 14 da Resolução RDC n. 301, de 2019.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: corresponde ao inciso V do artigo 14 da Resolução RDC n. 301, de 2019.
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CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
I – Afirmativa correta.
Justificativa: de fato, requisitos básicos devem ser cumpridos nos laboratórios e nas indústrias
farmacêuticas. Esses requisitos, descritos na Farmacopeia Brasileira, são aplicados na aquisição da
matéria‑prima vegetal, no processo produtivo, no controle e na garantia das análises, no armazenamento
e na distribuição, indo até o consumidor final. No Brasil, todas essas etapas são normatizadas e
fiscalizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que busca proteger e promover a
saúde em nosso país.
II – Afirmativa correta.
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