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ORGANIZADORES

João Luis Baqui Dias

Marise Andri Piotto

Miriam Nogueira Teixeira

Nathan da Rocha Neves Cruz

Nayro Xavier de Alencar

Nicolino Ferreira Lauletta

Ricardo Duarte Lopes

DIRETORIA ABPCV

GESTÃO 2021 – 2023

Profa. Dra. Stella de Faria Valle - Diretora Presidente

Profa. Dra. Regina Kiomi Takahira - Diretora Vice-Presidente

Profa. Dra. Aline Moreira de Souza - Diretora Administrativa

MV. MSc. Ricardo Duarte Lopes - Diretor Financeiro

Prof. Dr. Nayro Xavier de Alencar - Diretor Técnico Científico

MV. PhD. Samantha Ive Miyashiro - Diretora Social e de Comunicação

Conselho Fiscal

Prof. Dr. Paulo Fernandes Marcusso

Profa. Dra. Giane Regina Paludo

Profa. Dra. Rejane dos Santos Sousa

Prof. Dr. Nathan da Rocha Neves Cruz

Conselho Consultivo

Profa. Dra. Mitika Kuribayashi Hagiwara

Profa. Dra. Nádia Regina Pereira Almonsy

Prof. Dr. Aureo Evangelista Santana


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Organizadores

João Luis Baqui Dias

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(2010). Mestre em Medicina Veterinária, área de conhecimento em patologia clínica animal,
pela Universidade Paulista (UNESP) campus de Botucatu (2021), Especialização em Patologia
Clínica Veterinária pela Universidade Castelo Branco / Instituto Qualittas (2013). Docente na
disciplina de Diagnóstico Laboratorial, Hemoparasitoses e TCC pela UNIFACCAMP. Docente na
Instituição UFAPE e ANCLIVEPA-SP na pós-graduação em Patologia Clínica. Fundador e atuante
na empresa Labin - Medicina Laboratorial Veterinária e Labin Classroom.

Marise Andri Piotto

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Paraná (1999). Possui
Pós-graduação "lato sensu" em Patologia Clínica Veterinária pela UNESP - Botucatu (2006).
Possui Mestrado na área de Clínica Veterinária pela USP - São Paulo (2010). Habilitada para a
realização da técnica de Imuno Difusão em Agar Gel (IDGA) e ELISA para o diagnóstico de Anemia
Infecciosa Equina e da técnica Fixação do Complemento é ELISA para o diagnóstico do Mormo
Equino pelo LANAGRO - Ministério da Agricultura e do Abastecimento (2004) Possui
treinamento para capacitação laboratorial na NBR ISO/IEC 17025:2005 pela Rede Metrológica
de São Paulo (2007). Possui Treinamento para capacitação laboratorial em Auditoria Interna da
Qualidade em Laboratórios Segundo Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005. Coordenadora do
Curso de Pós-graduação “lato sensu” em Patologia Clínica Veterinária do IBVET (2012).

Miriam Nogueira Teixeira

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (1988),


mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, na área
de concentração de Patologia Animal com ênfase em Patologia Clínica Veterinária (1994),
doutorado em Medicina Veterinária na área de concentração de Parasitologia Veterinária pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1998) e pós-doutorado na Universidade do Estado
do Mississippi - Estados Unidos, na área de Patobiologia e Medicina Populacional (2015).
Atualmente é professora Titular da Universidade Federal Rural de Pernambuco e leciona nas
disciplinas de Patologia Clínica Veterinária (graduação), Hematologia Veterinária e Bioquímica
Clínica Veterinária (pós-graduação).

Nathan da Rocha Neves Cruz

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade de Uberaba (MG), Patologista


Clínico Veterinário pelo Programa de Aprimoramento da UNESP - Jaboticabal, Mestre em
Patologia Animal pela UNESP - Jaboticabal, Doutor em Patologia Animal pela UNESP -
Jaboticabal. Experiência Internacional na área de Patologia Clínica Veterinária (UNL - Argentina)
e Experimentação de Animais de Laboratório (ICIVET - UNL - Argentina). Professor Doutor em
Laboratório Clínico Veterinário na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ -
Unesp) (2020 - 2021). Atualmente atua como Professor Assistente Doutor do Centro Educacional
Barão de Mauá (Ribeirão Preto / SP) nas disciplinas de Histologia Veterinária, Patologia Animal
e Clínica das Intoxicações e Plantas Tóxicas; Professor Doutor Tutor da Faculdade Unyleya nos
cursos de Pós-graduação de Citopatologia Veterinária, Medicina Veterinária Legal, Nutrição de
3

Cães e Gatos e Terapia Intensiva em Pequenos Animais. Proprietário da Essentiavet Hematologia


Clínica Veterinária (Ribeirão Preto/SP).

Nayro Xavier de Alencar

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural da Amazônia (1993),
mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(1997) e doutorado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (2002). Atualmente é Professor Titular da Universidade Federal Fluminense.

Nicolino Ferreira Lauletta

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(1987) com especialização em Patologia Clínica Veterinária pela FMVZ - UNESP - Botucatu.
Atualmente é Gerente/Proprietário na Embravet.

Ricardo Duarte Lopes

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Paulista (2003). Atualmente é líder
gerente laboratório clínico do Instituto Brasileiro de Diagnóstico e Especialidades Veterinárias.
Especialização em Patologia Clínica Veterinária e mestrado na área de Clínica Médica pela FMVZ-
USP e Coordenador do Curso de especialização em Citopatologia e Patologia clínica veterinária
na ANCLIVEPA-SP.
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Autores

João Luis Baqui Dias

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(2010). Mestre em Medicina Veterinária, área de conhecimento em patologia clínica animal,
pela Universidade Paulista (UNESP) campus de Botucatu (2021), Especialização em Patologia
Clínica Veterinária pela Universidade Castelo Branco / Instituto Qualittas (2013). Docente na
disciplina de Diagnóstico Laboratorial, Hemoparasitoses e TCC pela UNIFACCAMP. Docente na
Instituição UFAPE e ANCLIVEPA-SP na pós-graduação em Patologia Clínica. Fundador e atuante
na empresa Labin - Medicina Laboratorial Veterinária e Labin Classroom.

Marise Andri Piotto

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Paraná (1999). Possui
Pós-graduação "lato sensu" em Patologia Clínica Veterinária pela UNESP - Botucatu (2006).
Possui Mestrado na área de Clínica Veterinária pela USP - São Paulo (2010). Habilitada para a
realização da técnica de Imuno Difusão em Agar Gel (IDGA) e ELISA para o diagnóstico de Anemia
Infecciosa Equina e da técnica Fixação do Complemento é ELISA para o diagnóstico do Mormo
Equino pelo LANAGRO - Ministério da Agricultura e do Abastecimento (2004) Possui
treinamento para capacitação laboratorial na NBR ISO/IEC 17025:2005 pela Rede Metrológica
de São Paulo (2007). Possui Treinamento para capacitação laboratorial em Auditoria Interna da
Qualidade em Laboratórios Segundo Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005. Coordenadora do
Curso de Pós-graduação “lato sensu” em Patologia Clínica Veterinária do IBVET (2012).

Miriam Nogueira Teixeira

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (1988),


mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, na área
de concentração de Patologia Animal com ênfase em Patologia Clínica Veterinária (1994),
doutorado em Medicina Veterinária na área de concentração de Parasitologia Veterinária pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1998) e pós-doutorado na Universidade do Estado
do Mississippi - Estados Unidos, na área de Patobiologia e Medicina Populacional (2015).
Atualmente é professora Titular da Universidade Federal Rural de Pernambuco e leciona nas
disciplinas de Patologia Clínica Veterinária (graduação), Hematologia Veterinária e Bioquímica
Clínica Veterinária (pós-graduação).

Nathan da Rocha Neves Cruz

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade de Uberaba (MG), Patologista


Clínico Veterinário pelo Programa de Aprimoramento da UNESP - Jaboticabal, Mestre em
Patologia Animal pela UNESP - Jaboticabal, Doutor em Patologia Animal pela UNESP -
Jaboticabal. Experiência Internacional na área de Patologia Clínica Veterinária (UNL - Argentina)
e Experimentação de Animais de Laboratório (ICIVET - UNL - Argentina). Professor Doutor em
Laboratório Clínico Veterinário na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ -
Unesp) (2020 - 2021). Atualmente atua como Professor Assistente Doutor do Centro Educacional
Barão de Mauá (Ribeirão Preto / SP) nas disciplinas de Histologia Veterinária, Patologia Animal
e Clínica das Intoxicações e Plantas Tóxicas; Professor Doutor Tutor da Faculdade Unyleya nos
cursos de Pós-graduação de Citopatologia Veterinária, Medicina Veterinária Legal, Nutrição de
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Cães e Gatos e Terapia Intensiva em Pequenos Animais. Proprietário da Essentiavet Hematologia


Clínica Veterinária (Ribeirão Preto/SP).

Nayro Xavier de Alencar

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural da Amazônia (1993),
mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(1997) e doutorado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (2002). Atualmente é Professor Titular da Universidade Federal Fluminense.

Ricardo Duarte Lopes

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Paulista (2003). Atualmente é líder
gerente laboratório clínico do Instituto Brasileiro de Diagnóstico e Especialidades Veterinárias.
Especialização em Patologia Clínica Veterinária e mestrado na área de Clínica Médica pela FMVZ-
USP e Coordenador do Curso de especialização em Citopatologia e Patologia clínica veterinária
na ANCLIVEPA-SP.
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SUMÁRIO

1 – Introdução: 7

2 - Controle de qualidade (CQ) e garantia de qualidade (GQ): 7

3 – Intervalos de referência: 9

4 – Fontes de erros nos exames laboratoriais 11

4.1 – Fase Pré-analítica: 11

4.1.1 - Causas de erros pré-analíticos 12

4.1.2 Minimizando erros pré-analíticos 12

4.2- Fatores analíticos 14

4.2.1 Implantação de um laboratório 14

4.2.2 Erros laboratoriais 16

4.2.3 Validação de métodos 16

4.2.4 Equipamentos laboratoriais 18

4.2.5 Minimizando os erros analíticos 18

4.3 - Fase Pós-analítica 19

4.3.1 - Causas de erros pós-analíticos 19

4.3.2 - Minimizando erros pós-analíticos 21

5 - Checklists para diretrizes de garantia de qualidade segundo a ABPCV: fatores


pré-analíticos de importância em patologia clínica veterinária (v.1, 2023) 24
6 - Literatura consultada 27
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1 – Introdução:

Fatores de interferência nos exames laboratoriais são frequentes e podem


comprometer a sensibilidade analítica de diversos exames laboratoriais. Nesse sentido,
a Comissão Permanente para Normatização de Procedimentos Técnicos da ABPCV
elaborou essa publicação para abordar os principais fatores de interferência nos exames
laboratoriais na Medicina Veterinária. Para tal, os membros dessa comissão revisaram
a literatura pertinente ao assunto e elaboraram esse documento com intuito de oferecer
recomendações e diretrizes técnicas para identificar e minimizar esses fatores de
interferência nos exames laboratoriais. Além disso, este documento traz um checklist,
que facilita a implementação e a execução de diretrizes pré-analíticas comuns a
laboratórios veterinários, servindo como base, para a criação de uma estrutura comum
ao procedimento operacional padrão (POP) específico de cada laboratório.

2 - Controle de qualidade (CQ) e garantia de qualidade (GQ):

A utilização de resultados de exames laboratoriais precisos é fundamental para


a tomada de decisão médica, permitindo um bom atendimento aos pacientes.

Tanto o laboratório externo (comercial) quanto o laboratório dentro de clínicas


ou hospitais veterinários, devem manter um controle de qualidade rigoroso para garantir
constantemente que o teste seja executado corretamente e dessa forma liberar a melhor
medida possível de um analito.
Embora os equipamentos de laboratório comercializados para clínicas
veterinárias sejam projetados para facilitar o seu uso e exigir o mínimo de manutenção,
é importante destacar que resultados de boa qualidade não ocorrem espontaneamente,
mas são o resultado de um programa sistemático e abrangente de garantia e controle
de qualidade que vai muito além do equipamento em si.

Portanto, todos os laboratórios devem ter como principal objetivo demonstrar que
operam de modo competente e que são capazes de gerar resultados válidos.

A principal diferença entre garantia da qualidade e controle da qualidade está


em suas ações: enquanto a garantia da qualidade determina normas para alcançar a
qualidade do ensaio (define como você deve fazer), o controle da qualidade verifica
se os resultados obtidos naquele determinado ensaio estão de acordo com os padrões
estabelecidos (verifica se você fez corretamente).
8

A Garantia da Qualidade (GQ) inclui, entre outros, a necessidade de calibração


de equipamentos, monitoramento do ambiente laboratorial, utilização de técnica
validada ou adequada validação, treinamento e capacitação de equipe, bem como na
supervisão regular do programa de garantia da qualidade.

Em um laboratório, um compromisso com a garantia de qualidade envolve a


disposição de investir em treinamento periódico em tecnologia de diagnóstico para as
pessoas que realizam esses procedimentos, bem como na supervisão de um programa
regular de garantia de qualidade.
O controle de qualidade (CQ) refere-se a procedimentos para monitorar os
processos de trabalho do dia a dia, em todas as etapas dos ensaios, detectar problemas
e fazer correções antes de liberar o resultado do teste.
O controle estatístico de qualidade é comumente empregado no monitoramento
do desempenho analítico de métodos laboratoriais, para incluir validação/verificação de
método, seleção de materiais de controle, regras de controle e número/tempo de
execuções de controle necessárias para detectar eficientemente um desempenho
instável. Para realizar esse controle estatístico é necessária a coleta constante de dados
gerados por equipamentos ou pelo executor e esses dados devem sempre estar
armazenados de modo organizado e prontamente disponíveis para checagem e/ou
consulta.
Com a finalidade de seguir um programa adequado de controle da qualidade os
laboratórios devem participar de programas de avaliação externos e internos.
Os programas de avaliação externos envolvem a Acreditação e/ou Proficiência
realizados por terceiros que verificam sua adesão e manutenção de um programa de
controle de qualidade, além de avaliar a qualidade dos resultados de seus testes. A
Acreditação de um laboratório envolve uma combinação de auditorias laboratoriais,
inspeções e visitas ao local para endossar o sistema de controle de qualidade. Já os
programas de Proficiência são distintos dos programas de acreditação pois eles
medem a qualidade dos resultados laboratoriais, e caracterizam uma das etapas a
serem alcançadas para uma acreditação. Para atestar a sua proficiência, o laboratório
recebe periodicamente amostras “cegas”, ou seja, de resultado desconhecido para
serem analisadas e os resultados dos testes são enviados ao órgão/empresa que
administra o programa de proficiência. Ao final o laboratório recebe um relatório
comparando os resultados dos seus testes com os de outros laboratórios.

São também considerados como ferramentas de controle da qualidade a


comparação interlaboratorial na qual dois ou mais laboratórios se organizam entre si
e realizam os ensaios das mesmas amostras e avaliam os resultados de acordo com
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condições pré-determinadas entre eles. É um método reconhecido, mas que difere da


proficiência por não ter um número suficiente de participantes e uma empresa
responsável pela análise estatística dos resultados. Por essa razão, pode ser realizado,
mas tem menor valor do que a proficiência em uma avaliação.

É fundamental que laboratórios realizem suas atividades com plena


imparcialidade, evitando conflitos de interesse que possam influenciar adversamente os
resultados. Isso é especialmente crucial durante comparações interlaboratoriais e
ensaios de proficiência, onde o desempenho é avaliado em relação a outros
laboratórios. A administração do laboratório deve estar comprometida com a
imparcialidade e precisa identificar continuamente possíveis riscos à mesma, incluindo
pressões comerciais e financeiras. Ao identificar um risco à imparcialidade, é essencial
que o laboratório demonstre como pode eliminar ou minimizar tal risco, garantindo a
confiabilidade de seus resultados.

Os programas de avaliação internos também são meios para o controle da


qualidade e são complementares aos externos. São eles, o uso de materiais de
referência ou padrões conhecidos que são colocados em uso junto aos ensaios a
serem realizados. Além disso, são recomendadas as comparações intralaboratoriais,
onde amostras que já foram executadas são novamente colocadas em ensaio para
avaliar se as medições estão de acordo as condições pré-estabelecidas.

Em resumo, a seleção de um bom laboratório veterinário deve ser baseada em


seus métodos internos e externos de controle da qualidade através da acreditação por
agências externas e pela participação em programas de proficiência laboratorial.

3 – Intervalos de referência:

Para tomar decisões médicas, os resultados dos testes dos pacientes são
comparados com valores conhecidos de pacientes saudáveis. Os intervalos de
referência devem representar uma demografia suficientemente grande e apropriada
para comparação e devem ser criados usando a mesma metodologia de teste.
Segundo Stockham e Scott (2011) outros termos utilizados como sinônimos
incluem valores normais, intervalo normal e amplitude de referência. Além desses, a
International Federation of Clinical Chemistry tem recomendado a definição dos
seguintes termos:

A – Indivíduo de referência: se refere a um animal selecionado por um critério definido;


10

B – Valor de referência: um resultado obtido por observação ou mensuração de uma


substância em particular de um indivíduo de referência;

C – Distribuição de referência: a distribuição de valores de referência, que não é


necessariamente gaussiana (curva em formato de sino ou curva de distribuição normal);

D - Limites de referência: o valor mais baixo (limite de referência inferior) e o valor mais
alto (limite de referência superior) do intervalo de referência derivados de uma
distribuição de referência;

E – Intervalo de referência: um intervalo entre os dois limites de referência, incluindo-


os.

Os resultados próximos aos valores limites da referência devem ser analisados


com cautela, pois os valores de animais sadios e não sadios podem se sobrepor nas
extremidades do intervalo de referência (Figura 1). Por essa razão, os valores obtidos
em uma análise devem levar em conta o histórico do paciente, manifestações clínicas
no momento da coleta, dados epidemiológicos, medicamentos em uso, ciclo circadiano
quando pertinente, exames adicionais e demais dados que colaborem para uma correta
interpretação.

Figura 1: A sobreposição dos valores laboratoriais que pode ser esperada de


populações saudáveis e não sadias.

Adicionalmente, é importante levar em conta resultados individuais dos


pacientes quando estes se encontram saudáveis, mantendo um banco de dados destes
resultados. Esses dados irão colaborar para a identificação mais precoce de alterações
nos resultados do paciente, ainda que estejam dentro do intervalo de referência para a
população geral da espécie em questão, colaborando para um diagnóstico mais preciso.
11

4 – Fontes de erros nos exames laboratoriais

As fontes de erro nos exames laboratoriais podem ser divididas em pré-


analíticas, analíticas ou pós-analíticas. A fase pré-analítica compreende a escolha do
exame a ser executado, a preparação do paciente, a anamnese, a coleta, a identificação
da amostra e o armazenamento de amostras, ou seja, é a etapa laboratorial que
antecede o processamento dos analitos. Já a fase analítica refere-se à realização do
ensaio propriamente dito. No momento, essa etapa é a mais automatizada e para seu
controle existem diversos parâmetros avaliados, como precisão, sensibilidade,
especificidade, exatidão, entre outros. Ao avaliar esses índices, é preciso estar atento à
calibração da aparelhagem, à conservação dos reagentes e ao uso de cálculos
matemáticos, como o gráfico controle tipo Levey-Jennings, que analisa a imprecisão de
determinado analito. Por fim, a fase pós-analítica, etapa final do processo, consiste na
obtenção dos resultados, incluindo a interpretação dos ensaios e a caracterização do
diagnóstico.

4.1 – Fase Pré-analítica:

Erros pré-analíticos são causados antes da análise. Estes são os erros mais
comuns cometidos pelos profissionais e também os mais fáceis de prevenir ou corrigir.
Por outro lado, pode ser bem mais difícil de controlar, pois algumas etapas, como o
preparo do paciente, e muitas vezes a coleta da amostra, fogem do controle direto do
laboratório. Para evitar esses problemas, é preciso se cercar de procedimentos e
controles bem definidos, que visem aumentar a segurança e a confiabilidade dessa fase.
A educação continuada dos profissionais que realizam a coleta e manipulam as
amostras também se mostra extremamente importante. Os problemas pré-analíticos
podem estar relacionados à elevada rotatividade de pessoal, à negligência, à falta de
entendimento sobre boas práticas em laboratório e ao treinamento insuficiente.

Diversos estudos demonstram que essa fase representa a maior parcela de


todos os erros laboratoriais, exigindo maior atenção e documentação desta fase.
Em um estudo que avaliou a quantidade e os tipos de erros registrados durante
o período de 2003 a 2010, Hooijber et al. (2012) encontraram 52 a 77% de erros na fase
pré-analítica. Resultados semelhantes foram descritos por Braun et al. (2015) que
constataram danos potenciais de 3 a 12% dos casos.
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4.1.1 - Causas de erros pré-analíticos

As causas de erros pré-analíticos são variadas e incluem:

a. Local incorreto de coleta de amostra. Ex: coleta de sangue venoso ao invés de arterial
para determinação de gases sanguíneos (gasometria).
b. Técnica de coleta incorreta ou ruim. Ex: Punção venosa traumática para ensaios de
coagulação ou coagulação do sangue dentro da seringa.
c. Recipiente/frasco de amostra ou anticoagulante incorretos. Ex: Uso de tubo com
EDTA para mensuração de glicose ou lactato.
d. Proporção anticoagulante/sangue incorreta ou volume de amostra insuficiente. Ex:
Preenchimento insuficiente do tubo para testes de coagulação ou tubo preenchido com
muito pouco sangue de espécies animais pequenas.
e. Processamento inadequado antes do envio. Ex: enviar para o laboratório o soro junto
ao coágulo (sem centrifugar), não fazer esfregaços de sangue e fluidos antes do envio
da amostra ao laboratório.
f. Embalagem inadequada para envio. Ex: amostra ou frasco quebrando em trânsito,
expondo esfregaços de sangue a vapores de formalina.
g. Identificação incorreta da amostra. Ex: não rotular ou rotular incorretamente a
amostra.
h. Identificação incorreta do teste. Ex: marcação incorreta do teste no formulário de
envio
i. Degradação da amostra. Ex: armazenar a amostra por muito tempo antes da análise
j. Variações de temperatura. Ex: congelamento no inverno ou aquecimento excessivo
no verão, envio de amostra encostada no gelo causando hemólise, envio de amostra
sem refrigeração favorecendo sua degradação, envio de lâminas não fixadas sob
refrigeração.
k. Preparação inadequada do paciente. Ex: falta de jejum
l. Lipemia, hemólise e icterícia são variáveis pré-analíticas adicionais do paciente que
podem afetar a precisão da análise da amostra. A hemólise pode ser uma variável
inerente ao paciente ou resultar do manuseio inadequado da amostra.

4.1.2 Minimizando erros pré-analíticos

Os erros pré-analíticos são uma fonte importante de erro, tanto para testes
realizados na clínica quanto para testes enviados para um laboratório de referência.
Para minimizar esses erros uma série de recomendações podem ser seguidas conforme
descrito a seguir:
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• Preparação do paciente:
Para realização de alguns testes laboratoriais os pacientes devem estar em
jejum conforme necessário. Além disso, exercícios intensos devem ser evitados
imediatamente antes da coleta da amostra. Pacientes sob protocolo de fluidoterapia
podem sofrer diluição dos analitos a serem testados, devendo ser observado, quando
possível, o tempo após o término da fluído para coleta da amostra.

• Técnica de coleta da amostra.


A punção venosa e a cistocentese devem ser realizadas cuidadosamente por
pessoa devidamente treinada e com o mínimo de trauma, a fim de minimizar a
hemorragia do paciente, hemólise da amostra e ativação de proteínas de coagulação e
plaquetas, sendo esta última particularmente importante para testes de coagulação.
Durante a coleta da amostra, excitação excessiva e estresse devem ser
minimizados. As amostras devem ser acondicionadas em recipientes/tubos apropriados
para os testes que estão sendo realizados. Volumes de amostra adequados devem ser
obtidos; no entanto, deve-se evitar a coleta de volumes excessivos de sangue para
minimizar qualquer impacto negativo da amostragem na saúde do paciente.
No caso de analitos químicos determinados em plasma ou soro, estes (plasma
ou soro) devem ser separados das células em tempo hábil por centrifugação e
pipetagem subsequente. As amostras de plasma podem ser centrifugadas
imediatamente após a coleta, enquanto as amostras de soro devem coagular
completamente antes da centrifugação.

• Identificação da amostra
As amostras devem ser devidamente identificadas univocamente no momento
da coleta pelo nome do animal e número de identificação. A data e hora da coleta da
amostra também devem ser registradas.

• Armazenamento de amostras
As amostras destinadas aos exames laboratoriais devem ser mantidas sempre
em temperaturas adequadas, antes, durante e após o processamento. As amostras
sensíveis à luz devem ser embaladas ou mantidas no escuro.
Esfregaços de sangue e preparações citológicas devem ser mantidos longe de
vapores de formalina e não devem ser refrigerados. Essas amostras devem ser
embaladas separadamente das amostras de biópsia e de amostras sob refrigeração se
forem enviadas para um laboratório de referência.
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Recomenda-se que essas amostras sejam analisadas o quanto antes, porém em


caso de atraso entre a aquisição da amostra e a análise estas devem ser armazenadas
adequadamente.
Para exames enviados para laboratórios externos à clínica, recomenda-se que
a equipe da clínica responsável por esse envio, entre em contato com o laboratório de
referência, conforme necessário para garantir o manuseio adequado da amostra
durante o envio.
Caso o laboratório ofereça o serviço de retirada de amostras, o profissional deve
ser devidamente treinado e as normas de biossegurança seguidas. Quando a equipe da
clínica for a responsável pelo envio, esta deve também respeitar as orientações acima
bem como a segurança biológica exigida pela legislação, como por exemplo utilizar
embalagens adequadas para transporte de amostras biológicas.

4.2- Fatores analíticos

A fase analítica compreende a análise das amostras, e hoje em dia, com a


melhoria das tecnologias oferecidas tem diminuído muito as variações e erros
laboratoriais, mas sempre deve ser um ponto de atenção dentro do laboratório clínico e
as verificações, atualizações não conformidades devem ser criteriosamente analisadas.

Uma das maiores dificuldades na atualidade está no fato do médico veterinário


sempre aceitar um resultado liberado pelo equipamento ou laboratório de apoio como
certeiro/exato para aquele paciente. Entretanto, existem inúmeras variações analíticas
que podem ocasionar erros, como exemplo variações nos equipamentos (marcas e
metodologias), erro humano, condições de temperaturas (ambiente de trabalho ou
interno de equipamentos), rede de energia elétrica, qualidade dos reagentes e a solução
de trabalho (água para reação ou lavagem do equipamento).

4.2.1 Implantação de um laboratório

Para uma correta análise laboratorial, é de suma importância conhecer as


legislações, estrutura necessária e pessoal qualificado para realizar os exames, e esta
informação só é possível quando se definem os exames que gostaria de realizar no
laboratório clínico.

Algumas legislações federais, estaduais e municipais devem ser levantadas para


a implantação de um laboratório clínico e podem mudar de região para região, portanto
é importante levantar-se junto aos órgãos públicos de sua cidade/estado as principais
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leis e resoluções necessárias. Os principais órgão públicos a serem consultados são:


ANVISA, Ministério da Agricultura (MAPA), CRMV regionais, empresas de
contabilidade, entre outros.

Um laboratório veterinário precisa estar inscrito no CRMV de seu estado e


possuir um responsável técnico veterinário para sua operação e o CFMV através da
resolução nº 1.374 de 2 de dezembro de 2020 dispõe da responsabilidade técnica das
atividades clínico-laboratoriais. Nesta resolução é apontada por setores, as estruturas
mínimas necessárias, assim como os deveres do médico veterinário responsável.

Alguns testes laboratoriais são exigidos pelo MAPA, através de portarias,


algumas certificações adicionais, como no caso dos exames de Mormo e Anemia
Infeccioso Equina (AIE), mas outros testes no futuro podem exigir estas certificações. A
certificação necessária para a realização e liberação destes exames é a ISO 17.025.

Alguns pontos que devemos nos atentar para a implantação de um laboratório:

- Espaço físico adequado, onde amostras e pessoas consigam ter uma


circulação adequada e sem conflito;

- Bancadas do tamanho ideal e suportando o peso do equipamento, permitindo


que a sua superfície seja adequada para uma limpeza apropriada;

- Ambiente com iluminação adequada;

- Ambiente climatizado, sem grandes variações de temperatura, assim como


temperatura adequada para o bom funcionamento dos equipamentos;

- Rede elétrica estabilizada ou utilização de equipamentos eletrônicos


adequados para sua estabilização;

- Equipamentos e materiais necessários para o exame realizado e

- Sistema de refrigeração adequado para reagentes e amostras, com registro


das temperaturas mínimas e máximas.
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4.2.2 Erros laboratoriais

Podemos dividir os erros laboratoriais analíticos em dois grandes grupos, os


Erros aleatórios e Erros sistemáticos. Quando identificamos estas falhas através de
ferramentas de qualidade, isso auxilia o laboratório na melhora de suas práticas, assim
como, na obtenção de resultados cada vez mais assertivos além de melhorar as
performances e vida útil de seus equipamentos.

Os Erros aleatórios representam a parcela imprevisível do erro, onde


normalmente tem a sua origem de alguma variação temporal ou espacial, estes podem
ser expressos nos testes de repetibilidade, reprodutibilidade e imprecisão de um teste.
Já os Erros sistemáticos representam a parcela previsível de um erro correspondente
a um erro médio, estes podem ser expressos no teste de acurácia de um teste.

Ferramentas de controle de qualidade auxiliam na identificação destes erros e


devem ser implantados dentro do laboratório clínico. Como exemplo, podemos citar as
manutenções preventivas e corretivas, controles internos e externos de qualidade, uma
equipe qualificada e treinada, controle de temperaturas de geladeiras, freezer e
equipamentos.

A maior dificuldade na atualidade, está no controle de qualidade dos


equipamentos chamados “Point of care”, onde se é verificado o bom funcionamento de
uma parte do equipamento, não levando em consideração todo o processo de
calibração, controle de qualidade do equipamento ou do reagente e/ou cartucho em uso,
assim como o uso por diversos profissionais sem um treinamento técnico adequado.

4.2.3 Validação de métodos

Os métodos analíticos devem ser validados, assegurando que o processo


analítico forneça evidências de confiabilidade e qualidade nos resultados gerados, e
este processo pode ser realizado de duas formas:

1) Validação no laboratório (“in house”): processo preliminar do desempenho


de uma metodologia, onde o desempenho foi descrito em artigos ou revistas científicas,
mas sem uma avaliação mais ampla da metodologia, não se avaliando a
reprodutibilidade da metodologia pesquisada.

2) Validação completa (“full validation”): avalia o desempenho de uma


metodologia em diferentes laboratórios e matrizes, onde a reprodutibilidade,
17

seletividade, acurácia, limites de detecção e estabilidade são avaliados, assim como o


comportamento da metodologia com diferentes operadores.

Algumas metodologias e cuidados devem ser levados em consideração na


validação dos métodos e devem ser avaliados de acordo com a sua metodologia e
particularidade de cada teste, são eles:

- Matriz biológica: normalmente ocorre diferentes resultados analíticos frente a


diferentes matrizes biológicas e estas devem ser validadas de acordo com a sua
natureza.

- Aditivos: Diferentes aditivos podem ser utilizados para a obtenção das


amostras e estas podem gerar resultados com diferenças entre as amostras.

- Seletividade: um método pode produzir respostas diagnósticas para vários


analitos ou espécies, mas no processo de validação é necessário avaliar se a
metodologia empregada pode ser utilizada para este teste ou até mesmo em diferentes
espécies, não somente verificando o valor de referência para aquela espécie e sim
avaliando se a metodologia se aplica para ela.

- Linearidade: avaliação da capacidade do método é diretamente proporcional


a concentração do analito da amostra, demonstrando os níveis seguros do resultado
analítico para aquela metodologia.

- Limite de detecção/quantificação: avaliação da menor e/ou maior quantidade


do analito presente na amostra que possa ser quantificada ou detectada.

- Robustez: avaliar a capacidade em resistir a pequenas e deliberadas


variações. Como exemplos podemos citar a estabilidade, variações de pH, diferenças
entre lotes, variações de temperaturas entre outros.

- Precisão: avaliação da reprodutibilidade de uma análise naquela metodologia


e/ou equipamento e definem a capacidade de um método apresentar resultados
próximos em diferentes análises.

- Exatidão (Acurácia): capacidade de uma metodologia apresentar valores


exatos, sendo a concordância ao valor de referência e verdadeiro daquela amostra.
18

4.2.4 Equipamentos laboratoriais

Recomenda-se a criação de um inventário dos equipamentos do laboratório e


nele deve constar um número único na identificação de cada um, e um
acompanhamento gerencial deve ser realizado.

Informações como nome, marca, fabricante e número de série são importantes


para uma identificação inequívoca de cada equipamento, assim como melhor
planejamento de cada um.

Implantação de um planejamento de manutenções preventivas, assim como


liberação de resultados, devem ser avaliados em cada equipamento.

O plano de manutenção deve conter estratégias para evitar o mal funcionamento


dos equipamentos e consequentemente das análises e devem ser acompanhas e
registradas, aumentando a segurança dos resultados liberados, assim como, o aumento
de vida útil de cada equipamento e diminuição da sua depreciação.

As manutenções podem ser preventivas ou corretivas e devem ser classificadas


em:

- Periódicas: quando se define um período para a manutenção de acordo com


o manual de instruções do fabricante, e requerem uma frequência nestas manutenções
que podem ser diárias, mensais, semestrais, anuais ou outros períodos pré-definidos.

- Acumulativas: são manutenções realizadas na dependência de horas de uso


ou testes realizados em um determinado período de tempo.

- Eventuais: quando a manutenção é realizada frente a uma eventualidade não


prevista nas outras manutenções, como exemplos podemos citar mudança de local
físico ou condições ambientais, mudança de software ou atualizações, emprego de
novas metodologias ou análises, visita técnica do fabricante, entre outras.

4.2.5 Minimizando os erros analíticos

Os principais requisitos para a qualidade analítica levam em consideração tudo


o que foi comentado neste capítulo, principalmente quando o objetivo é manter a
qualidade total do laboratório. Dentre eles destacam-se:

- Validação dos controles de qualidade e bom desempenho dos equipamentos

- Equipe capacitada e treinada


19

- Validação estatística das metodologias aplicadas

- Definição dos limites de decisão médicas

- Dados de variação biológica

- Requisitos regulamentários externos devem ser seguidos

- Recomendações e consensos devem ser sempre atualizados

- Avaliação e documentação deve ser realizada por cada analitos

- Informações como metodologia aplicada, tipo de análise e validações para as


diferentes espécies devem ser registradas

4.3 - Fase Pós-analítica

A fase pós analítica compreende a etapa que sucede os ensaios analíticos.


Dentre as principais causas de erros pós-analíticos incluem-se: transcrição incorreta do
resultado (erro de digitação, erro na identificação dos nomes na requisição – no caso de
preenchimento manual da requisição), resultado incorreto (pode envolver erro na
transcrição das unidades, erros de cálculos de diluição), atraso no envio e o atraso na
notificação de resultado crítico.
As variáveis pós-analíticas também envolvem as diferentes formas como os
dados do laboratório são apresentados, armazenados e enviadas para o clínico, além
da interpretação baseada nos valores de referência fornecidos pelo laboratório. Erros
dessa fase são responsáveis por 9 a 21% de todos os erros compreendidos em todas
as etapas dos exames laboratoriais veterinários.

Dentro de um programa de garantia de qualidade, esta fase pode incluir também


o descarte adequado do material químico e biológico utilizado nos processos.

4.3.1 - Causas de erros pós-analíticos

Como já descrito anteriormente, os erros pós-analíticos são variados e estes


encontram-se resumidos no Quadro 1.
20

Quadro 1: Fontes de erros pós-analíticos nos exames laboratoriais.

Fontes de erros pós-analíticos


Transcrição incorreta de dados para o laudo
Transcrição incorreta de unidades ou de cálculo de diluição
Transcrição de resultado para outro paciente no registro
Laudos enviados fora do prazo previamente acordado entre cliente e laboratório
Resultados críticos não informados ao requisitante imediatamente
Interpretação inadequada do resultado pelo clínico e/ou patologista clínico
Conservação inadequada das amostras após conclusão da análise
Descarte inadequado de amostras e materiais
Falta de gerenciamento de estoque
Fonte: HOOIJBER, 2023; ARNOLD et al., 2019

Cabe ressaltar que segundo a Resolução 1374/2020 do CFMV, entende-se por


laudo, o documento que contém os resultados das análises laboratoriais emitido e
assinado pelo médico-veterinário. Essa Resolução estabelece ainda, os tópicos
necessários que devem constar nos resultados laboratoriais. Estes incluem a
identificação completa do laboratório e do médico veterinário responsável técnico;
identificação completa do animal e do responsável; nome do exame e da amostra
encaminhada; resultado completo incluindo a metodologia de cada análise; valores de
referência para a espécie; data da realização do exame; assinatura e número de registro
no conselho (CRMV) do médico veterinário que realizou o exame. No caso do teste
realizado em outro laboratório, deve-se constar no laudo transcrito o nome do laboratório
parceiro e o profissional responsável pela análise, juntamente com seu respectivo
número de registro no Conselho.
Os resultados podem ser expressos de forma quantitativa sendo que alguns
podem incluir um comentário qualitativo (ou descritivo). Qualquer descrição contida no
laudo deve ser padronizada pelo laboratório e constantemente reavaliada, buscando
manter um padrão que será executado por todos os profissionais envolvidos na análise.
Compreende-se por padronização a utilização dos mesmos termos para descrição e a
obediência a uma mesma ordem de apresentação.
Os resultados laboratoriais devem ser correlacionados ao estado geral do
paciente (sinais clínicos, informações obtidas na anamnese, outros exames
complementares) e não devem ser interpretados isoladamente. Os passos
recomendados perante um laudo concluído são:
1. Excluir a possibilidade de artefatos ou variáveis pré-analíticas e/ou analíticas
que, eventualmente, possam ser causadores das alterações observadas;
21

2. Reconhecimento de padrões e a busca interpretativa que justifique as mudanças


apresentadas no laudo;
3. Levantamento de diagnósticos diferenciais a partir da avaliação dos resultados
individuais e os possíveis mecanismos fisiopatológicos envolvidos.

4.3.2 - Minimizando erros pós-analíticos

A qualidade pós-analítica é, em última análise, o resultado de uma checagem da


fase pré-analítica e da fase analítica e a utilidade da resposta (resultado) obtida. Para
melhor acompanhamento, podemos atentar para alguns pontos críticos:

Ambiente laboratorial - O espaço laboratorial deve ser limpo, organizado e preparado


para os próximos procedimentos sempre após a conclusão de uma análise ou um lote
de análises.

Manutenção de estoque - Recomenda-se a utilização de um sistema de inventário e


de uma lista de fornecedores para administração adequada do estoque do laboratório.
Após realização da rotina, recomenda-se a verificação do inventário dos reagentes e
insumos para que não haja prejuízo a testes futuros.

Point of care - Muitos analisadores possuem função interna de controle de qualidade.


No entanto, o controle de qualidade interno monitora apenas parte dos processos do
teste. A utilização de controle de qualidade externo e manual de procedimentos são
indicados para reduzir erros pré-analíticos e pós-analíticos.

Problemas com a amostra na fase pré-analítica - Se uma amostra com problema não
foi descartada na fase pré-analítica, qualquer possível imprecisão no resultado deverá
ser acompanhada de um comentário sobre os possíveis erros na interpretação clínica.

Revisão dos dados obtidos em casos específicos - Recomenda-se o


estabelecimento de critérios de revisão apropriados para:
a) Amostras e/ou resultados de análises reconhecidamente problemáticas;
b) Parâmetros anormais em testes com alta significância clínica.
A revisão poderá ser realizada por outro profissional atuante e, em casos de análises
bioquímicas, através da repetição de testes (duplicata).
22

Resultados inexatos - Devem ter comentários claros e facilmente visíveis para o


requisitante e estes devem afirmar, de forma clara, que os resultados poderão ser
imprecisos, detalhando a razão para tais imprecisões.

Entrada de dados e apresentação de resultados - Deve haver precisão dos laudos


emitidos manualmente ou de forma digital em uma base de dados, que devem ser
apresentados em formato padronizado conforme estabelecido previamente pelo
laboratório.
Para evitar problemas nessa fase, recomenda-se atenção redobrada com a
digitação correta dos dados da requisição do exame (identificação do paciente,
identificação do tutor, identificação do veterinário). O uso de softwares de
interfaceamento de dados é uma excelente opção para mitigar erros na entrada de
resultados, além de tornar o processo de liberação mais ágil, seguro e rastreável.
Por fim, deve-se certificar do envio do resultado por meio eletrônico ou cópia
física para o veterinário solicitante.

Elaboração dos laudos - Devem ser elaborados em formato legível, de fácil


compreensão e contendo referências ou explicações oportunas, caso haja necessidade.
Deverão ser emitidos dentro do prazo estabelecido levando em consideração os
contextos pré-analíticos e analíticos.
Todos os relatórios deverão conter uma cópia que deverá ser armazenada pelo
laboratório, assim como quaisquer outras folhas de trabalho anexas. O documento
deverá conter a data e as iniciais dos profissionais envolvidos na execução e/ou
interpretação de qualquer etapa do processo.
Observar com atenção os dados numéricos conhecidamente passíveis de erros
ou imprecisões (ex. contagem de plaquetas pelo método eletrônico), estes não deverão
ser relatados;
Conferir os comentários interpretativos nos laudos que devem apresentar uma
padronização interna no laboratório (termos, ordem de comentários). Promover um
treinamento educacional periódico com a equipe técnica envolvida.

Entrega do laudo - Deverá ser realizada através de documento físico ou digital, de


forma previamente acordada entre o requisitante e o laboratório.

Preconiza-se a disponibilidade para uma interação entre clínico e patologista


clínico sempre que requisitada ou quando são observados achados laboratoriais
23

pertinentes, para que se promova uma interação multidisciplinar a partir do debate dos
resultados laboratoriais e das condições do paciente.

Notificação de exames terceirizados - Os clientes do laboratório devem ser


informados a respeito dos exames que não são realizados in loco, sendo necessária a
identificação do laboratório responsável pela execução do teste.

Arquivamento de amostras e resultados - Deve-se arquivar as amostras passíveis de


congelamento por tempo previamente determinado, considerando as características de
cada amostra e de cada ensaio. Recomenda-se o arquivamento dos resultados e/ou
lâminas (especialmente de hematologia e citologia) para consultas futuras por um
período de cinco anos.
Além disso, é recomendável arquivar os possíveis rascunhos dos resultados
elaborados durante a fase analítica, além dos resultados após a digitação e quando for
o caso, estes também devem ser arquivados no prontuário do paciente.

Conservação das amostras - As amostras deverão ser armazenadas sob condições


apropriadas durante um período pré-estabelecido, levando em consideração a
estabilidade da amostra, política do laboratório e por requisitos de
certificação/acreditação. Lâminas coradas podem ser armazenadas por tempo
indefinido, enquanto amostras biológicas possuem tempo de armazenamento limitado.
Não se recomenda armazenamento em congeladores de modelos “frost free”, pois pode
haver deterioração de material genético (no caso de testes moleculares) devido a ciclos
repetidos de congelamento/descongelamento.

Descarte de amostras - O descarte de amostras (perigosas ou não) e materiais deve


ser realizado de forma segura, respeitando o recipiente de acondicionamento para o
qual cada amostra ou material é destinado. Para garantir o correto descarte de resíduos
de serviços de saúde, é essencial que o laboratório veterinário consulte a RDC 222 /
2018 da ANVISA e elabore seu Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de
Saúde (PGRSS) de acordo com suas diretrizes. O laboratório deve assegurar a correta
destinação final desses resíduos, assumindo responsabilidade integral pelo processo
(contratando empresas idôneas nas atividades desse contexto), garantindo segurança
e conformidade regulatória.
24

5 - Checklists para diretrizes de garantia de qualidade segundo a ABPCV: fatores


pré-analíticos de importância em patologia clínica veterinária (v.1, 2023)

Recomendação De acordo? Comentários adicionais


do auditor

O laboratório possui ( )Sim


documentação técnica e equipe
( )Não
treinada para orientação de
clientes em relação ao preparo
de pacientes submetidos à
coleta de amostra biológica para
realização de teste laboratorial.

O laboratório disponibiliza ( )Sim


manual de orientação aos
( )Não
clientes, incluindo técnicas e
materiais de coleta,
condições de
acondicionamento e
armazenamento das amostras
biológicas, bem como a
previsão de tempo para o
resultado.

( )Sim
Caso o laboratório ofereça o
serviço de retirada de ( )Não
amostras, o profissional é ( )Não se aplica
devidamente treinado e as
normas de biossegurança
seguidas. Quando a equipe da
clínica é a responsável pelo
envio, esta respeita as
orientações acima bem como a
segurança biológica exigida
pela legislação, como por
exemplo, utilizar embalagens
adequadas para transporte de
amostras biológicas.

O responsável pelo transporte ( )Sim


das amostras possui meios para
( )Não
registrar e relatar ao laboratório
quaisquer eventualidades que
possam ocorrer durante o
percurso e que comprometam a
qualidade do material e/ou a
segurança do transportador.
Além disso, o laboratório possui
meios para notificar tais
intercorrências ao cliente.
25

O laboratório orienta a seus ( )Sim


clientes o preenchimento
( )Não
completo da requisição, a
identificação de tubos e lâminas
com os dados do paciente e o
tipo de exame solicitado. No
caso de material para análise
citológica, a região anatômica e
as características
macroscópicas do material
coletado.

A requisição possui campos ( )Sim


disponíveis para as seguintes
( )Não
informações:
● Identificação completa
do paciente, incluindo
nome, tutor, idade, sexo,
espécie e raça
● Data e hora da coleta
● Método de coleta (para
urinálise e citologia)
● Tipo de material
● Sinais clínicos ou estado
geral do paciente
(estresse)
● Uso de medicação ou
manobras terapêuticas
(fluidoterapia)
● Teste(s) solicitados

Existe um programa de ( )Sim


educação continuada,
( )Não
presencial ou remoto,
executado pelos menos a cada
6 meses, com o objetivo de
conscientizar os clientes sobre a
importância da fase pré-
analítica.

O estabelecimento cumpre os ( )Sim


requisitos mínimos para que
( )Não
esteja em conformidade com os
regulamentos de risco
biológico, tais como:
● Treinamento de
segurança necessário
(documentado)
● Avisos afixados
26

● Equipamentos de
proteção individual
(EPIs)
A equipe possui domínio sobre ( )Sim
os procedimentos técnicos, em
( )Não
conformidade com os POPs do
laboratório. Além disso, os
profissionais são submetidos a
avaliações contínuas em
intervalos apropriados para sua
área de competência e o
resultado é documentado pelo
estabelecimento. Recomenda-
se a nomeação de um gerente
de treinamento.

Existe um protocolo de ação ( )Sim


documentado em casos de
( )Não
intercorrências pré-analíticas.
● Amostras
comprometidas para
análise (ex: presença de
coágulo em amostra
para realização de
hemograma
● Amostras enviadas em
condições inadequadas
(Ex: tubo inadequado,
temperatura
inapropriada, prazo
máximo excedido para a
realização do ensaio
● Extravio de amostras
Existe Protocolo Operacional ( )Sim
Padrão (POP) no
( )Não
estabelecimento que se utiliza
de Equipamentos e testes ( )Não se aplica
rápidos Point of Care, bem
como registro dos profissionais
aptos a manusearem o
equipamento e a realizarem tais
testes.

Em relação a estabelecimentos que se utilizam de equipamentos e testes Point


of care

Os profissionais responsáveis ( )Sim


pela realização de exames
( )Não
Point of care (POC) e manuseio
de equipamentos passam por ( )Não se aplica
treinamento técnico prévio e
27

avaliação constante
documentada.

Todos os profissionais do ( )Sim


estabelecimento aptos a
( )Não
realizarem ensaios Point of
Care possuem formação e ( )Não se aplica
conhecimento técnico
compatíveis para o exercício de
tais atividades.

O estabelecimento, possuindo ( )Sim


equipamentos Point of Care,
( )Não
oferece as condições
estruturais e climáticas ( )Não se aplica
mínimas exigidas pelos
fabricantes para funcionamento
adequado de cada
equipamento.

Adaptado de ARNOLD et al., 2019.

6 - Literatura consultada

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ISO/IEC 17025:2017:


Requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração. Rio de
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fase pré-analítica de laboratórios clínicos: revisão sistemática. J. Bras. Patol. Med.
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AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (BRASIL). Resolução da Diretoria


Colegiada - RDC nº. 222, de 28 de março de 2018. Regulamenta as Boas Práticas de
Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde e dá outras providências. Brasília:
ANVISA, 2018.

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