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Alessandra Albuquerque

Cláudia Fontes de Oliveira


Eloína Santos
Maria Alice Melo-Santos
(Org.)
Alessandra Albuquerque
Cláudia Fontes de Oliveira
Eloína Santos
Maria Alice Melo-Santos
(Org.)

RECIFE
FIOCRUZ-PE
2019
© 2019. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz & Instituto Aggeu Magalhães – Fiocruz-PE

Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

M912
Mosquitos: base da vigilância e controle / Alessandra
Albuquerque, Cláudia Fontes de Oliveira, Eloína
Santos, Maria Alice Melo-Santos, organização.
- Recife: Instituto Aggeu Magalhães, 2019.
97 p. : il., tab., graf.

ISBN 978-85-69717-14-0.

1. Culicidae. 2. Controle de mosquitos. 3.Vigi-


lância. I. Albuquerque, Alessandra. II. Oliveira, Cláudia
Fontes de. III. Santos, Eloína. IV. Melo-Santos, Maria
Alice. II. Título.
CDU 37:06

Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa obra, em


parte ou em sua totalidade, nos termos da licença para usuário final do Acervo de Recursos Edu-
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Coordenação Geral Designers Gráficos


Joselice da Silva Pinto Bruno Flávio Espíndola Leite
Déborah Vanessa Pereira da Silva
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Túlio Fernando Farias de Mesquita
Cláudia Maria Fontes de Oliveira

Desenvolvedor
Coordenação de Produção &
Designer Instrucional Diego Marcolino Silva
Sandra de Albuquerque Siebra
Avaliação Midiática-Pedagógica
Conteudistas Joselice da Silva Pinto
Alessandra Lima de Albuquerque
Cláudia Maria Fontes de Oliveira Revisão Ortográfica e de ABNT
Constância Flávia Junqueira Ayres
Jéssica Espíndola de Sá
Danilo de Carvalho Leandro
Eloína Maria de Mendonça Santos
Apoio Técnico
Gabriel da Luz Wallau
Michelle Juliana Pereira da Silva
Maria Alice Varjal de Melo Santos
Maria Helena Neves Lôbo Silva Filha
Rosângela Maria Rodrigues Barbosa Produção dos Vídeos
Tatiany Patrícia Romão Pompílio de Melo Luiz Henrique Teixeira Bazílio
Sobre os Autores
Alessandra Lima de Albuquerque

Bióloga com bacharelado (1999) e licenciatura (2000)


em Ciências Biológicas pela Universidade Federal
de Pernambuco, mestre em Genética (2004) também
pela UFPE e doutora em Ciências (2011) pelo progra-
ma de Saúde Pública do Instituto Aggeu Magalhães
(IAM) da Fundação Oswaldo Cruz/PE (Fiocruz/PE).
Colabora com projetos na área de Parasitologia-En-
tomologia Médica no Departamento de Entomologia
do IAM-Fiocruz/PE desde 1997. Atua em pesquisas sobre vigilância e controle
de mosquitos e diagnóstico molecular de infecção vetorial, além de participar
como docente em cursos de capacitação de agentes de saúde ambiental pro-
movidos pelo Serviço de Referência de Controle de Culicídeos Vetores do IAM.

Cláudia Maria Fontes de Oliveira

Bióloga com bacharelado (1987) e licenciatura plena


em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de
Pernambuco (1988), mestre em Biologia Animal, tam-
bém, pela UFPE (1996) e doutora em Biologia Celular
e Molecular pela Fundação Oswaldo Cruz/RJ (2002).
Pesquisadora em Saúde Pública no Departamento de
Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da
Fundação Oswaldo Cruz/PE (Fiocruz/PE) desde 2006.
Desenvolve projetos na área de Parasitologia-Entomologia Médica, atuando
principalmente nos temas: Vigilância e Controle de mosquitos e Diagnóstico
molecular de infecção vetorial.
Constância Flávia Junqueira Ayres

Bióloga com Bacharelado em Ciências Biológicas


(1994) e Mestrado em Genética (1997), ambos pela
Universidade Federal de Pernambuco, Doutorado em
Biologia Celular e Molecular pela Fundação Oswal-
do Cruz (2001), e dois Pós-doutorados pela Liverpo-
ol School of Tropical Medicine, em Liverpool (2009)
e pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical em
Lisboa (2019). Pesquisadora Titular em Saúde Públi-
ca no Departamento de Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM), da
Fundação Oswaldo Cruz/PE (Fiocruz/PE), onde atua como orientadora na Pós-
-graduação de Biociências e Biotecnologia em Saúde em nível de mestrado e
doutorado. Ocupou o cargo de Vice-diretora de Ensino e Informação no IAM-
-Fiocruz/PE. Tem experiência na área de Genética, com ênfase em Genética de
Populações de Insetos.

Danilo de Carvalho Leandro

Biólogo graduado em Ciências Biológicas pela Uni-


versidade Federal de Mato Grosso (2009), com mes-
trado (2011) e doutorado (2015) em Biologia Animal
pela Universidade Federal de Pernambuco. Desde
2016 é professor de Ciências e Biologia no Colégio de
Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco
(CAp-UFPE), onde atua como coordenador do Ensino
Médio, além de ser professor orientador do Mestrado
Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional (PROFBIO) da UFPE e
professor preceptor do Programa Residência Pedagógica (CAPES) no CAp-U-
FPE. Pesquisador colaborador do Departamento de Entomologia do Instituto
Aggeu Magalhães (IAM), da Fundação Oswaldo Cruz/PE (Fiocruz/PE) nos te-
mas: biologia molecular de insetos vetores e interação arbovírus-mosquito.
Eloína Maria de Mendonça Santos

Bióloga pela Universidade Federal de Pernambuco


(2008) e doutora em Ciências pelo Instituto Aggeu Ma-
galhães (IAM) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/
PE) (2017). Atua como colaboradora (Pós-doutorado)
no Departamento de Entomologia do IAM-Fiocruz/PE,
desde 2017. Desenvolve projetos na área de Parasi-
tologia-Entomologia Médica, com produção científica
nos temas: Bio-ecologia, comportamento, vigilância e
controle de mosquitos, atuando também em projetos direcionados à democra-
tização da ciência através da educação.

Gabriel da Luz Wallau

Biólogo pela Universidade Federal de Santa Maria


(2008), mestre e doutor em Biodiversidade Animal
pela Universidade Federal de Santa Maria. Atua como
pesquisador em Saúde Pública no Departamento de
Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/PE) desde 2015.
Desenvolve projetos na área de Genômica de Patóge-
nos e Vetores atuando nos seguintes temas: coevolu-
ção entre arbovírus e seus insetos vetores (mosquitos), patógenos transmitidos
pela fauna silvestre de mosquitos, evolução da família Culicidae e genômica
evolutiva de mosquitos.
Maria Alice Varjal de Melo Santos

Bióloga com bacharelado (1993) e licenciatura ple-


na em Ciências Biológicas (1994) pela Universidade
Federal de Pernambuco, mestre em Biologia Animal,
também, pela UFPE (2001). Doutora em Ciências
pelo Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz/PE) (2008). Pesquisadora em
Saúde Pública no Departamento de Entomologia do
IAM-Fiocruz/PE desde 2002. Desenvolve projetos na
área de Parasitologia-Entomologia Médica de culicídeos nos temas: avaliação
de programas de controle, de tecnologias e de instrumentos para vigilância e
controle de mosquitos; inseticidas químicos e biológicos; competência/capaci-
dade vetorial para arbovírus e vermes filariais.

Maria Helena Neves Lôbo Silva Filha

Bióloga pela Universidade Federal de Pernambuco


(1990) e doutora em Ciência Biológicas pela Univer-
sité Pierre et Marie Curie-França (1999). Atua como
pesquisadora no Departamento de Entomologia do
Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fundação Oswal-
do Cruz (Fiocruz/PE) desde 1997. A pesquisadora
tem desenvolvido projetos na área de Parasitolo-
gia-Entomologia Médica, com produção científica
nos seguintes temas: controle de mosquitos, execução e avaliação de pro-
gramas de controle, modo de ação de inseticidas biológicos e diagnóstico
de resistência a inseticidas.
Rosângela Maria Rodrigues Barbosa

Bióloga (1996) e Mestre em Biologia Animal pela Uni-


versidade Federal de Pernambuco (2001). Doutora
em Saúde Pública pelo Instituto Aggeu Magalhães
(IAM) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/PE) (2007).
Pesquisadora do Departamento de Entomologia do
IAM-Fiocruz/PE desde 2008. Desenvolve projetos na
área de Entomologia Médica, com produção científica
nos temas: controle de culicídeos vetores, desenvol-
vimento de armadilhas, identificação e avaliação de atraentes de oviposição,
avaliação de repelentes e estudos do comportamento básico de mosquitos dos
gêneros Aedes e Culex.

Tatiany Patrícia Romão Pompílio de Melo

Biomédica pela Universidade Federal de Pernambu-


co (2002). Mestre em Genética pela Universidade Fe-
deral de Pernambuco (2005) e doutora em Ciências
pelo Programa de Pós-graduação em Saúde Públi-
ca do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz/PE) (2010). Pesquisadora no
Departamento de Entomologia do IAM desde 2014.
Desenvolve projetos na área de Parasitologia-Ento-
mologia Médica, com Perfil de atuação em Biologia molecular e bioinformáti-
ca aplicada no estudo de insetos vetores e Interação arbovírus-vetor.
Sumário
1 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e
comportamentais dos mosquitos
14

1. Quem são os mosquitos? 15


2. Por que algumas espécies de mosquitos possuem impor-
tância médica? 22
3. Quais as características de alguns mosquitos de impor-
tância médica no Brasil? 26
4. Qual a diferença entre o vetor primário e o secundário? 35
5. Existem mosquitos que não se alimentam de sangue? 37
6. Como a condição ambiental influencia as principais espé-
cies de mosquitos de importância médica? 36
Referências 40

2 Capítulo 2 - Controle de Mosquitos 42

1. Por que é necessário fazer a vigilância e o controle de


mosquitos? 43
2. Como podemos realizar o controle mecânico/físico dos
mosquitos? 44
3. Como podemos nos proteger dos mosquitos? 49
4. Como fazer o controle dos mosquitos através dos inseti-
cidas e quais são os compostos mais utilizados? 51
Quais são e como funcionam os agentes de controle bioló-
gico? 57
5. O controle dos mosquitos também pode ser feito através
dos próprios mosquitos, ou seja, pelas técnicas de controle
genético. 59
Quais são as vantagens de utilizar o próprio mosquito para
seu controle? 63
6. Armadilhas para mosquitos, o que são e como funcio-
nam? 64
O que são instrumentos de busca ativa para captura de
mosquitos adultos? 69
Por que utilizamos instrumentos para coletar os mosqui-
tos? 70
Nesse contexto, o que significa monitorar? 71
7. O que é preciso para planejar e executar um programa
de controle de mosquitos? 73
Referência 80

3 Capítulo 3 - Avanços na pesquisa quanto ao


controle vetorial 84

1. O que são mosquitos transgênicos? 85


2. Como bactérias simbiontes intracelulares (Wolbachia)
podem auxiliar no controle de mosquitos? 88
3. Como o sequenciamento de DNA pode ajudar nos estu-
dos sobre mosquitos? 89
Mas qual a importância de se observar a variação na sequ-
ência de DNA dos mosquitos para o controle vetorial? 91
E quanto aos patógenos transmitidos pelos vetores e as
diferentes espécies de mosquitos, o que o sequenciamento
de DNA pode nos informar? 92
4. Como meu trabalho, como Agente de Endemias ou de
Vigilância Ambiental, pode ajudar na pesquisa realizada no
Brasil? 93
Referência 95
Apresentação
Nas últimas décadas, as doenças causadas por patógenos trans-
mitidos por mosquitos vetores têm provocado um grande impacto ne-
gativo na saúde pública. Doenças endêmicas como a malária, dengue,
febre amarela, e também as que têm causado novas epidemias, como
Zika e chikungunya foram responsáveis, nos últimos anos, por um gran-
de número de mortes e um alarmante contingente de pessoas afetadas
mundialmente. Ademais, a expansão da distribuição geográfica dos
mosquitos acelerou, também, a dispersão de patógenos, dificultando
significativamente o impacto das ações para o controle daquelas do-
enças. Portanto, ações de vigilância e controle vetorial têm sido im-
plementadas em diversos países, visando a redução da densidade po-
pulacional das principais espécies de mosquitos vetores. Contudo, o
intensivo uso de inseticidas químicos para o controle de insetos tem le-
vado à seleção da resistência aos compostos utilizados, e isso, conse-
quentemente, afeta de forma direta o sucesso dos programas de con-
trole de vetores. Somado a isso, outros aspectos, tais como a expansão
e a precariedade ambiental de áreas urbanas, métodos de vigilância
inadequados, e a carência de recursos humanos capacitados agravam
ainda mais a situação.

Neste contexto, este livro foi produzido com o intuito de ampliar o


conhecimento dos agentes de saúde e de outros profissionais envolvi-
dos nas ações de enfrentamento aos mosquitos vetores, com relação
às ferramentas clássicas e novas de vigilância e controle vetorial re-
centemente desenvolvidas. Consideramos que um conhecimento mais
aprofundado sobre a ecobiologia dos mosquitos e a sua dinâmica po-
pulacional, pode contribuir para a implementação de ações integradas
de forma mais eficiente e produtiva em sua prática cotidiana.
O módulo 1 trata sobre a biologia dos mosquitos, incluindo ciclo
de vida, criadouros preferenciais, e informações básicas sobre alguns
gêneros de importância médica. No segundo módulo, são abordados
aspectos relativos à vigilância entomológica e aos métodos e agentes
tradicionalmente usados nos programas para controle de mosquitos.
Já o terceiro e último módulo é destinado à apresentação de novas
tecnologias de controle, como as abordagens de liberação em massa
de insetos transgênicos, de machos estéreis ou ainda de mosquitos in-
fectados por Wolbachia, as quais são ferramentas que poderão em bre-
ve ser adotadas. A formação na área específica abordada neste último
módulo é praticamente inexistente, e a bibliografia disponível é quase
sempre em inglês e em linguagem complexa.

Este e-book é o resultado do trabalho da equipe do Departamen-


to de Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz-PE, além de
colaboradores de outras instituições. Ele foi concebido para trazer os
principais conceitos de forma direta e objetiva, e ser um instrumento
de apoio na formação de agentes de saúde e profissionais afins nesta
área. Sempre que possível, outras fontes de informação são sugeridas
e disponibilizadas para o leitor.

Nos tempos atuais, há necessidade de formar equipes bem pre-


paradas para atuarem de forma eficaz e rápida no enfrentamento dos
problemas, novos ou recorrentes, associados à interação ambiente-
-mosquito-homem, que são determinantes no processo de transmissão
de patógenos.

Desejamos que os leitores desfrutem do conteúdo do livro, e es-


peramos que o curso contribua para consolidar o conhecimento em
vigilância e controle de mosquitos. Esperamos ainda dar um passo para
a construção de uma visão crítica e ampliada nos profissionais dos ser-
viços de saúde sobre o tema, no intuito de promover o ganho de co-
nhecimentos e capacidade de avaliar sua prática no dia a dia para a
resolução de questões operacionais.

Constância Ayres
Coordenadora Geral
CAPÍTULO 1
CARACTERÍSTICAS
BIOLÓGICAS, ECOLÓGICAS
E COMPORTAMENTAIS

Autores
Alessandra Lima de Albuquerque
Cláudia Maria Fontes de Oliveira
Danilo Carvalho Leandro
Eloína Maria de Mendonça Santos
Maria Alice Varjal de Melo Santos
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

1
CARACTERÍSTICAS
BIOLÓGICAS,
ECOLÓGICAS E
COMPORTAMENTAIS
DOS MOSQUITOS

OBJETIVO

Ao concluir este módulo o participante deverá distinguir os mosquitos dos


demais insetos da ordem Diptera; as diferentes fases do seu desenvolvi-
mento; os locais mais utilizados para oviposição e desenvolvimento de suas
larvas e pupas e os ambientes em que são mais frequentes. Bem como, re-
conhecer as espécies dos gêneros Aedes, Culex e Anopheles, de maior im-
portância para a transmissão de agentes causadores de doenças ao homem.

quitina e outras substâncias protetoras


que o deixam impermeável. No exoes-
queleto, podem ser observados outros
1. Quem são os mosquitos?
componentes do corpo, que são arti-
culados, como as patas, antenas e pal-
Os mosquitos são animais que pos. Estas partes ou apêndices variam
pertencem ao Filo Arthropoda, Classe de número de acordo com a classe a
Insecta, Ordem Diptera, Subordem que pertencem.
Nematocera e Família Culicidae.
Na classe Insecta, os animais são
Os animais que fazem parte do geralmente terrestres e têm o corpo
Filo Arthropoda são invertebrados e dividido em cabeça, tórax e abdômen
apresentam o corpo segmentado, co- (Figura 1). Na cabeça estão os olhos
berto por um esqueleto externo cha- compostos, o aparelho bucal, um par
mado de exoesqueleto. Este esqueleto de antenas e um par de palpos. O
é rígido, ou seja, bem endurecido e é aparelho bucal pode variar bastante
também protegido por uma cutícula de em função do tipo de alimentação do

15
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Figura 1: Divisão dos principais segmentos do corpo do mosquito.

Fonte: Adaptado do Centers for Disease Control and Prevention (CDC)/ Prof. Frank Hadley Collins,
Dir., Cntr. for Global Health and Infectious Diseases, Univ. of Notre Dame.

são: mandíbulas e maxilas para tritu-


rar os alimentos; a hipofaringe, que é
um canal para liberar a saliva; o labro,
um canal por onde passa o alimento

VOCÊ SABIA? propriamente dito; e o lábio. Os dois


palpos e as duas antenas têm função
Qual a classificação biológica sensorial e possuem minúsculas sen-
dos mosquitos?
silas (pelos) que auxiliam na percep-
Reino: Animalia ção de estímulos do meio.
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta No tórax são encontrados três
Ordem: Diptera
Subordem: Nematocera pares de patas, cujos segmentos (as
Família: Culicidae partes destas patas) podem variar em
tamanho e forma de acordo com a
adaptação de cada inseto para andar,
inseto. Ele pode ter estruturas para correr, saltar, nadar, coletar e cavar,
mastigar, cortar, picar, sugar e lam- além de dois pares de asas, que estão
ber. Estas partes do aparelho bucal presentes na maioria dos indivíduos.

16
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

sam por uma grande transformação, ou


metamorfose completa. Mosquitos, por
exemplo, passam por este tipo de meta-
morfose: a partir do ovo eclode uma lar-
VOCÊ SABIA? va, esta passa para outra fase (estágio)
de desenvolvimento denominada pupa,
Os insetos utilizam espiráculos
quando então ocorre a metamorfose, e
para respirar. Os espiráculos são
estruturas situadas lateralmente ela se transforma em um mosquito adul-
no tórax e no abdômen da maio- to. Portanto, as formas jovens, larva e
ria dos insetos. São aberturas por pupa, são bem diferentes do mosquito
onde entra o ar e normalmente
adulto (Figura 2). Na fase adulta, o inse-
está presente um par por segmen-
to do corpo. to não sofre mais mudanças de forma e
também não cresce mais em tamanho.

O abdômen possui vários seg- Os insetos geralmente possuem


mentos e espiráculos respiratórios que dois pares de asas, um anterior e ou-
também são encontrados no tórax dos tro posterior, embora alguns possam ter
mosquitos. apenas um par ou serem ápteros, isto
é, não possuem asas. Estas estruturas
Os insetos passam por processos podem ser usadas para classificar os
de maturação, para se desenvolverem insetos em ordens (Figura 3) e as dez
da fase jovem (pré-imaginal) até a fase ordens mais conhecidas são:
adulta (imaginal), que podem acontecer
de diferentes formas e são por isso cha- 1. Orthoptera: as asas anteriores
mados de insetos tipo ametábolo, hemi- são mais rígidas e estreitas do que
metábolo e holometábolo (Figura 2). Os as posteriores que são membra-
nosas (ex.: grilos e gafanhotos);
insetos ametábolos chegam à fase adul-
ta com poucas mudanças estruturais, 2. Coleoptera: as asas anteriores
ou seja, modificações em sua forma. Os são bem rígidas, como uma cara-
hemimetábolos passam por mudanças paça, e as posteriores são mem-
de pouco a pouco, do estado de ninfa branosas (ex.: besouros);
para o adulto. Assim, para os insetos
3. Hemiptera: a base das asas an-
ametábolos e hemimetábolos as for-
teriores é mais rígida e a ponta é
mas jovens são parecidas com a forma
membranosa, assim como as asas
adulta, embora sejam menores. Por ou-
posteriores (ex.: barbeiro e perce-
tro lado, os insetos holometábolos pas-
vejos);

17
DESENVOLVIMENTO
DOS INSETOS a. Traça
ametábolo
OVO

FORMAS
JOVENS

b. Barbeiro
ADULTO
hemimetábolo

OVO

FORMAS
JOVENS
(NINFAS)

ADULTO c. Mosquito
holometábolo

OVO

LARVAS

FORMAS
JOVENS

PUPA

ADULTO

Figura 2: Tipos de Desenvolvimento dos insetos. | Fonte: Os autores. Infografia: Déborah Silva, EAD Fio-
cruz PE, 2019.
Figura 3: Diferentes ordens de insetos e seus respectivos representantes.

1. Coleoptera 2. Hemiptera 3. Hemiptera 4. Lepidoptera


(Besouro) (Percevejo de cama) (Barbeiro) (Borboleta)

5. Hymenoptera 6. Hymenoptera 7. Hymenoptera 8. Blattodea


(Abelha) (Formiga) (Vespa) (Barata)

9. Odonata 10. Diptera 11. Diptera 12. Diptera


(Libélula) (Borrachudo) (Flebótomo) (Mosca)

13. Diptera 14. Siphonaptera 15. Psocodea


(Mosquito) (Pulga) (Piolho)

Fonte: 1. Adaptado do Centers for Disease Control and Prevention (CDC); 2. CDC/DPDx - Blaine
Mathison; 3. CDC; 4. CDC; 5. CDC - Dr. Pratt; 6. Freeimages - Marcin Morawiec; 7. CDC; 8. CDC;
9. Freeimages - Cheryl Empey; 10. CDC; 11. CDC - Frank Collins; 12. CDC - Dr. Gary Alpert - Ur-
ban Pests - Integrated Pest Management (IPM); 13. CDC - Prof. Woodbridge Foster; Prof. Frank H.
Collins; 14. CDC - Ken Gage; 15. CDC - Dr. Dennis Juranek.
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

4. Lepidoptera: as asas anteriores ao voo e o par posterior modificado em


são maiores do que as posteriores pequenas estruturas, chamados de ba-
e são completamente recobertas lancins ou halteres, que funcionam para
por escamas (ex.: borboleta); o equilíbrio do voo. Estima-se que te-
nham sido descritas 150 mil espécies
5. Hymenoptera: podem ter dois pa-
da ordem Diptera, distribuídas em 188
res de asas membranosas ou não
famílias e cerca de 10 mil gêneros.
terem asas (ex.: vespas, abelhas e
formigas); Os dípteros, como são chamados
os insetos da ordem Diptera, são holo-
6. Blattodea: as asas anteriores são
metábolos e estão presentes na maioria
rígidas e as posteriores são mem-
dos habitats (ambientes), embora para
branosas (ex.: baratas);
alguns os ambientes aquáticos sejam
7. Odonata: os dois pares de asas colonizados apenas durante a fase jo-
são membranosos e têm o mesmo vem do desenvolvimento.
tamanho, mas não se dobram so-
Os dípteros, especificamente da
bre o corpo (ex.: libélulas);
subordem Nematocera, têm asas lon-
8. Diptera: o par de asas anterior é gas e estreitas, com pequenas escamas
membranoso e funciona para o voo, revestindo suas veias, as antenas são
já o par posterior é atrofiado (ex.: filiformes, formadas por seis ou mais
mosquitos, moscas, flebotomíneos); segmentos recobertos por cerdas e os
palpos apresentam de quatro a cinco
9. Siphonaptera: não possuem asas segmentos.
funcionais, mas possuem pernas
adaptadas ao salto (ex.: pulgas); Finalmente, os dípteros da família
Culicidae são habitualmente chama-
10. Psocodea: não possuem asas dos de mosquitos, pernilongos, cara-
funcionais, mas possuem per- panãs ou sovelas. Em geral, apresen-
nas adaptadas a se fixarem ou se tam dimorfismo sexual, ou seja, machos
agarrarem em alguma base (ex.: e fêmeas são diferentes. As fêmeas são
piolhos). mais corpulentas (maiores) e possuem
antenas pilosas, já os machos são me-
nores e possuem antenas plumosas,
Os insetos da ordem Diptera (do
sendo bem mais vistosas do que as pi-
grego di = duas e pteron = asas) pos-
losas (Figura 4).
suem o par de asas anterior destinado

20
Figura 4: Características morfológicas da diferença sexual entre machos e fêmeas e entre machos
e fêmeas de diferentes gêneros de mosquitos.

Fonte: Adaptado do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) / Dr. Richard Darsie.
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

2. Por que algumas espécies


de mosquitos possuem
importância médica? VOCÊ SABIA?
Você sabia que nem todos os
mosquitos estão infectados?
O hábito da alimentação sanguí-
nea, ou hematofagia, observado para Em uma área de ocorrência de
casos de arboviroses, por exemplo,
diversas espécies, levou estes insetos a
apenas uma pequena quantidade
terem contato e a ingerirem os patóge- de fêmeas dos mosquitos está
nos presentes no sangue de hospedei- infectada com um ou mais vírus.
Logo, a maioria delas não participa
ros vertebrados. É importante entender da transmissão vetorial. Do
que o hábito hematofágico dos insetos contrário, os problemas de saúde
pública seriam ainda maiores. Além
provavelmente surgiu através de duas
disso, a taxa de fêmeas infectadas
formas. Na primeira é possível que os pode variar bastante em virtude
insetos que viviam associados aos ver- dos períodos de epidemia/surto
de algumas doenças, pois quanto
tebrados e seus abrigos foram sendo maior for o número de pessoas
selecionados e modificaram gradativa- infectadas maiores as chances
das fêmeas dos mosquitos se
mente suas peças bucais (probóscide)
infectarem durante a alimentação
para conseguir realizar a sucção san- sanguínea.
guínea. A segunda, por sua vez, suge-
re que insetos que já possuíam peças são fundamentais ao desenvolvimento
bucais alongadas foram se adaptando dos ovários e, consequentemente, dos
para realizar a alimentação sanguínea. ovos daquelas espécies. No entanto,
sua sobrevivência, assim como os ma-
Independentemente da origem,
chos, também depende da ingestão de
o fato é que diversos insetos se ali-
seivas vegetais, néctar de flores ou ou-
mentam de sangue. Para alguns deles,
tras substâncias açucaradas presentes
como os piolhos, pulgas e triatomíne-
no ambiente.
os, tanto os machos quanto as fêmeas
são hematófagos. Para outros, como Os insetos hematófagos, seja ma-
os mosquitos, flebotomíneos e simu- cho ou fêmea, podem causar importan-
lídeos, apenas as fêmeas se alimen- tes problemas de saúde pública, pois
tam de sangue. Para estas, o sangue podem transmitir agentes patogênicos
é necessário para obter nutrientes que ao homem e a outros animais. A trans-

22
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

missão destes agentes patogênicos tinais do inseto, multiplica-se e invade


(ex.: bactérias, vírus, protozoários e hel- outros órgãos alvos (ex.: glândulas sa-
mintos) ao homem pode ocorrer através livares e ovários). Finalmente, para que
de duas formas principais, a mecânica a transmissão ocorra, o patógeno deve
e a biológica. ser liberado na saliva durante um novo
repasto ou alimentação sanguínea.
Na transmissão mecânica, os
insetos podem carregar os patógenos
em suas patas ou outras partes do seu
corpo e, posteriormente, de forma ca-
sual, transferí-los para um hospedeiro
vertebrado simplesmente através do VOCÊ SABIA?
contato. Já o processo de transmissão
O que é um arbovírus e uma
biológica de patógenos ocorre exclu- arbovirose?
sivamente via alimentação sanguínea.
Arbovírus é um vírus transmitido
Neste processo, o patógeno ingerido ao hospedeiro vertebrado, homem
no sangue infecta o inseto (hospedeiro ou outros animais, através de
um animal invertebrado do filo
invertebrado), se desenvolve em dife-
Arthropoda, ou seja, um artrópodo.
rentes estágios no interior do seu cor- A arbovirose, por sua vez, é a
po e pode se multiplicar ou até se re- doença causada pela infecção
com o arbovírus.
produzir nele. Em seguida, o patógeno
será então transmitido quando o inseto
infectado for picar um outro hospedei- Dois principais tipos de transmis-
ro vertebrado. No caso dos mosquitos, são são descritos para os ciclos de
o processo de transmissão biológica é infecção de patógenos em culicídeos
realizado exclusivamente pelas fêmeas. vetores, a transmissão horizontal e a
vertical (Figura 5). A mais comum é a
O período entre a ingestão do
transmissão do tipo horizontal, que
sangue contaminado com o patógeno
ocorre quando uma fêmea do mosqui-
e sua transmissão para outro hospe-
to não infectada se alimenta do sangue
deiro, a partir de uma nova alimentação
de um hospedeiro vertebrado (ex.: ho-
sanguínea, é conhecido por período de
mem ou outros animais), já infectado
incubação extrínseca. Quando pató-
pelo patógeno. Depois do período de
genos como vírus são transmitidos por
incubação extrínseca, a fêmea passa a
mosquitos, por exemplo, durante esse
infectar, através de sua picada, novos
período o vírus infecta as células intes-
hospedeiros vertebrados, estabelecen-

23
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

do assim o ciclo de transmissão veto- forma pela qual os vírus conseguem


rial. Esta é a via mais importante para a passar de uma geração para outra e se
circulação de patógenos entre as popu- manter na natureza.
lações humanas (Figura 5).
Para que um mosquito possa
Outra forma de transmissão, me- transmitir um determinado patógeno
nos comum e possivelmente com me- ele precisa ter competência vetorial
nor importância epidemiológica, devido para a transmissão. Um mosquito é
a sua baixa ocorrência, é a transmis- competente quando:
são vertical ou transovariana. Esta
1. Consegue se infectar com um
ocorre quando o vírus invade os ovos
patógeno a partir da alimentação
que estão sendo produzidos pela fêmea
sanguínea;
e infecta posteriormente os embriões.
Assim, os mosquitos que vão ser pro- 2. Permite o completo desenvolvi-
duzidos a partir destes embriões pas- mento e/ou multiplicação/repro-
sam para a fase adulta já infectados (Fi- dução do patógeno em seus teci-
gura 5). Acredita-se que esta seja uma dos e órgãos;

3. Consegue transmitir o patógeno


a um novo hospedeiro a partir de
uma nova alimentação de sangue.

VOCÊ SABIA? A competência vetorial está rela-


cionada principalmente a fatores ge-
O que é capacidade vetorial? néticos, resultantes da seleção natural
Capacidade vetorial é definida durante o processo de evolução simul-
pela taxa de eficiência da tânea entre patógeno e vetores.
transmissão do patógeno por uma
determinada população do vetor. Alguns insetos, por exemplo, são
A capacidade vetorial depende
de vários aspectos, tais como: a incapazes de transmitir o patógeno
própria competência vetorial, a após ingestão de sangue infectado,
preferência alimentar, o número
de picadas, a longevidade, a pois há uma incompatibilidade entre os
duração do ciclo gonadotrófico dois organismos e o desenvolvimento
(tempo para a maturação de
ovos), a eficiência no processo
do patógeno é bloqueado em alguma
de alimentação sanguínea e fase da infecção. Esta incompatibilida-
densidade populacional.
de genética/evolutiva explica o porquê
de algumas espécies de mosquitos não

24
Figura 5: Vias de transmissão. | Fonte: Os autores. | Infografia: Déborah Silva, EAD Fiocruz PE, 2019.
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

conseguirem transmitir determinados a família Culicidae, a qual está subdi-


tipos de patógeno. Como exemplo po- vidida em três subfamílias: Culicinae,
demos citar a incapacidade do mosqui- Anophelinae e Toxorhynchitinae. As
to Aedes aegypti em transmitir o verme duas primeiras subfamílias têm grande
Wuchereria bancrofti, um nemátodo importância para a saúde pública.
causador da filariose linfática. Também
O ciclo de vida dos mosquitos tem
deve ser lembrado que diferentes linha-
início com a deposição dos ovos após
gens ou populações de uma mesma
digestão da alimentação sanguínea pe-
espécie podem ter diferenças na sua
las fêmeas. A quantidade de ovos por
competência vetorial devido às varia-
ciclo gonotrófico pode variar bastante a
ções genéticas entre mosquitos e pató-
depender da espécie. Estes ovos apre-
genos. A competência vetorial faz parte
sentam formas e coloração variadas e
da capacidade vetorial de uma espécie,
podem ser colocados nos criadouros
mas não tem o mesmo significado.
de forma isolada, ovo a ovo, ou agru-
A capacidade vetorial é bem pada, formando uma massa de ovos
mais ampla e complexa, envolve fatores (Figura 6). A postura dos ovos (oviposi-
próprios do mosquito, da sua relação ção) pode ser feita diretamente na água
com o hospedeiro e de fatores ambien- ou em superfícies ou substratos úmi-
tais do local onde eles estão inseridos. dos próximos ao contato com a água.
Aproximadamente 48 a 72h depois da
oviposição eclodem as primeiras larvas.

Embora os mosquitos adultos co-


3. Quais as características
de alguns mosquitos de lonizem o ambiente terrestre, as suas
importância médica no formas jovens (larvas e pupas) são
Brasil? aquáticas, no entanto, respiram o oxi-
gênio dissolvido no ar, e não na água.
As larvas e pupas precisam vir para a
De um modo geral, os mosquitos superfície da água para respirar através
são considerados dípteros primitivos. de uma estrutura chamada de sifão, ou
Como os outros insetos, os adultos ainda de um conjunto de placas respi-
apresentam o corpo alongado dividido ratórias, localizado no último segmento
em cabeça, tórax e abdômen (Figura 1). abdominal. O sifão respiratório possui
formas diferentes e pode auxiliar na
Atualmente, existem mais de 3000
identificação das larvas e sua classi-
espécies de mosquitos descritas para

26
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

ficação até o nível de espécie. Para a podem ter um tempo de vida (longe-
subfamília Anophelinae, por exemplo, vidade) que, em condições favoráveis,
a ausência de sifão já a torna diferente pode alcançar dois ou mais meses, es-
das demais (Figura 6). pecialmente para as fêmeas. Em alguns
casos excepcionais, em regiões de cli-
Em relação à alimentação, as larvas
ma frio, as fêmeas podem entrar em
são predominantemente filtradoras, com
diapausa (um tipo de dormência), aju-
aparelho bucal adaptado para filtrar e in-
dando-as a superar o inverno rigoroso.
gerir microrganismos e matéria orgânica
em suspensão na água dos criadouros. Na subfamília Culicinae, os prin-
Excepcionalmente, em alguns gêneros cipais gêneros envolvidos com a trans-
como Toxorinchites as larvas são preda- missão de patógenos são Aedes e
doras. Culex, já para a subfamília Anopheli-
nae, o gênero de maior importância é
Dependendo da temperatura e da
Anopheles. Informações sobre cada
disponibilidade de alimento, a fase larvá-
gênero são descritas em mais detalhes
ria, que compreende quatro estádios de
a seguir.
desenvolvimento (L1, L2, L3 e L4), pode
se completar entre 5 a 7 dias. • Aedes

Na sequência do desenvolvi- Os mosquitos pertencentes ao gê-


mento da fase jovem ou pré-imaginal, nero Aedes estão envolvidos em ciclos
ocorre a passagem da larva para a de transmissão de um grande número
pupa. Essas se movimentam livremen- de patógenos, em especial os arboví-
te na água e não se alimentam mais. rus. Atualmente, a espécie mais impor-
É a partir desta fase que ocorre, em tante deste gênero é Aedes aegypti. A
cerca de 48h, a metamorfose final e a sua origem está no continente africano
passagem para a forma adulta, de ma- (provavelmente na região etiópica), e a
chos e fêmeas. Assim, o ciclo de vida ampliação de sua distribuição geográfi-
dos mosquitos do ovo até o mosquito ca para regiões tropicais e subtropicais
adulto (Figura 2) leva de 8 a 10 dias, do globo ocorreu através da expansão
em condições favoráveis de desenvol- da navegação no século XIX. Esta es-
vimento, ou seja, com disponibilidade pécie está distribuída em diversos pa-
de alimento, temperatura e luminosi- íses cujas características ambientais
dade (fotoperíodo) adequados. (temperatura, umidade e pluviosidade)
favorecem seu estabelecimento. A sua
Uma vez adultos, os mosquitos
introdução no Brasil pode ter ocorrido

27
Formas Anofelinos Culicíneos

Anopheles Aedes Culex

Ovos

3. Postos agrupados
1. Postos isolados com 2. Postos isolados
formando jangada sem
flutuadores sem flutuadores
flutuadores

Larvas

4. Permanecem para-
5. Permanecem vertical 6. Permanecem diago-
lelas à superfície da
à superficie da água - nal à superficie da água
água para respirar - não
possuem sifão curto - possuem sifão longo
possuem sifão

Adultos

7. Probóscide e corpo
8. Corpo pousado para- 9. Corpo pousado para-
quase em linha com a
lelamente a superfície lelamente a superfície
superfície de pouso

Figura 6: Características de ovos, larvas e adultos de Anopheles, Aedes e Culex.


Fonte: 1. Ovos de Anopheles stephensi, Centers for Disease Control and Prevention (CDC); 2. Ovos
de Aedes aegypti, CDC; 3. Jangada de ovos de Culex quinquefasciatus, CDC - Harry Weinburgh; 4.
Larva de Anopheles quadrimaculatus; University of Florida - James Newman; 5. Larvas de Aedes
aegypti, CDC - Dr. Pratt; 6. Larva de Culex sp.; 7. Fêmea de Anopheles albimanus; 8. Fêmea de
Aedes aegypti; 9. Fêmea de Culex quinquefasciatus. Fotos 6 a 9 por CDC - James Gathany.
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

Figura 7: Mosquitos adultos Aedes aegypti e Aedes albopictus.

Fonte: Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention (CDC), Ae. aegypti CDC/ Paul I.
Howell, MPH; Prof. Frank Hadley Collins & Ae. albopictus CDC/ James Gathany.

durante o período colonial, provavel- mentações de manchas com escamas


mente na época do tráfico de escravos em tons claros. As pernas, tradicional-
oriundos do continente africano. mente, apresentam manchas claras in-
tercalando-se com manchas escuras,
Os mosquitos adultos são de por-
assim, as pernas dos insetos têm um
te médio, coloração escura, do marrom
aspecto listrado (Figura 7). No subgê-
ao preto, com padrões diferenciados de
nero Ochlerotatus, as ornamentações
escamas claras. O abdômen é frequen-
de tórax ocorrem com escamas estrei-
temente mais estreito nos últimos seg-
tas de mais de uma tonalidade, apre-
mentos. Já as larvas possuem o sifão
sentando linhas ou manchas.
respiratório curto e largo, com aspecto
cônico e coloração escura (Figura 6). As As duas espécies do subgêne-
espécies do gênero Aedes, no Brasil, ro Stegomyia com maior importância
estão agrupadas em dois subgêneros médica são Aedes aegypti e Aedes al-
de importância epidemiológica (Ochle- bopictus (Figura 7). O mosquito Aedes
rotatus e Stegomyia) e dois outros que (Stegomyia) aegypti foi descrito por Lin-
não apresentam registro de transmis- naeus, em 1762, e é atualmente a espé-
são de patógenos (Howardina e Proto- cie mais importante nos registros epi-
macleaya). demiológicos da febre amarela urbana,
dos quatro sorotipos do vírus dengue,
No subgênero Stegomyia, os
do vírus chikungunya e do Zika vírus.
mosquitos na fase adulta apresentam o
Os adultos são facilmente reconheci-
corpo de cor negra e no tórax tem orna-

29
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

dos por apresentarem coloração mar- pos em diversos criadouros, garantindo


rom-escura, desenho em forma de uma assim um maior sucesso reprodutivo.
lira no tórax, destacado por escamas
branco-prateadas e pernas com listras
de escamas claras e escuras (Figura 7).

Aedes aegypti é um mosquito


extremamente antropofílico, isto é, ali-
VOCÊ SABIA?
menta-se preferencial de sangue huma-
no, durante o dia. Está muito presente Qual a capacidade de desloca-
mento do mosquito Aedes ae-
nos aglomerados humanos, sobretudo gypti?
em ambientes urbanos nas cidades,
A capacidade de dispersão
onde está bem adaptado, pois nestes ativa do mosquito Ae. aegypti
encontra com facilidade fonte de ali- pelo voo pode ser de até 800 m,
nos momentos em que a fêmea
mento (hospedeiro humano), abrigo e
faz a busca por locais para a
potenciais criadouros nos domicílios e postura dos ovos. A dispersão
áreas peridomiciliares. é um importante parâmetro em
epidemiologia e programas de
controle desse mosquito vetor,
Os ovos de Aedes aegypti apre- porque pode definir as áreas de
sentam uma característica chamada de risco para a transmissão viral e para
o direcionamento/intensificação
quiescência. Esta representa uma inter- das ações de controle e bloqueio
rupção do processo de desenvolvimen- da transmissão. No entanto, há
evidências de que, havendo fonte
to embrionário devido à redução drás-
de alimentação e locais para a
tica da umidade no ambiente, que por oviposição disponíveis, as fêmeas
sua vez leva à perda de água nos ovos dessa espécie se deslocam
por pequenas distâncias, que
(dessecação). A quiescência induz à podem variar entre 50 a 100 m,
dormência do embrião, permitindo que mantendo-se próximas aos locais
(casas) onde emergiram ou em
ele resista a períodos prolongados de sua proximidade (casas vizinhas),
seca no ambiente, permanecendo viá- especialmente em áreas muito
urbanizadas.
vel por até um ano. Desta forma os ovos
podem ser transportados passivamen-
te para outros locais (dispersão pas-
Os ovos são postos nas paredes
siva). Outra forma de dispersão desse
internas de objetos/recipientes naturais
mosquito é o comportamento de ovi-
ou artificiais, temporários ou não, que
posição em saltos, no qual as fêmeas
possam acumular água parada, limpa
distribuem os ovos em pequenos gru-
ou com baixo teor de matéria orgânica.

30
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

Cada fêmea põe 50 ou mais ovos por Vários estudos comprovam a sus-
oviposição. São exemplos de criadou- ceptibilidade de Ae. albopictus a dife-
ros dessa espécie: caixa d´água, pneus rentes arbovírus, entre eles dengue, fe-
em desuso, vasos de planta e seu pra- bre amarela, chikungunya e Zika. Surtos
to coletor de água, entre muitos outros. de transmissão do vírus dengue, atribu-
Atenção! Pois os tipos de criadouros ídos a essa espécie, foram registrados
podem ser diversos de acordo com o em regiões dos continentes asiático,
ambiente (Figura 8). As larvas de Ae. europeu e africano. Ae. albopictus está
aegypti buscam o alimento no criadou- presente na maioria dos estados brasi-
ro movimentado-se ativamente da su- leiros, mas, sua participação nos ciclos
perfície ao fundo. locais de transmissao ainda é incerta.

Outra espécie importante epi- Em 2017, no Brasil, fêmeas desta


demiologicamente na transmissão do espécie infectadas pelo vírus da febre
vírus dengue é o mosquito Aedes al- amarela foram detectadas em áreas
bopictus. Espécie descrita por Skuse, rurais de municípios de Minas Gerais,
em 1894, apresenta sua distribuição onde havia transmissão silvestre ativa.
relacionada aos países de clima tem- Esta situação revela que Ae. albopictus
perado e tropical. Sua distribuição pode assumir o papel de vetor ponte
está mais relacionada a ambientes entre os ciclos de transmissão silvestre
silvestres, semisilvestres, rurais e ur- e urbano, ou seja, suas fêmeas podem
banos. Neste último caso, o ambiente se alimentar em macacos infectados e
urbano, geralmente tem uma ampla posteriormente transferir o vírus para o
cobertura vegetal. É uma espécie que homem no ambiente urbano. Este pa-
não depende da grande concentração pel de vetor ponte aumenta sua impor-
humana para sua ocorrência, como tância epidemiológica local.
Ae. aegypti, uma vez que pode se ali-
• Culex
mentar do sangue de outros animais.
Morfologicamente é caracterizado por O gênero Culex é um dos mais
ser um mosquito de coloração marrom abundantes, pois possui 768 espé-
quase negra (mais escuro do que Ae. cies amplamente distribuídas, sendo
aegypti), com uma única faixa longitu- a maioria delas presente nas regiões
dinal de escamas brancas, localizada tropicais e subtropicais do globo. Eles
bem no meio do tórax, apresentando são conhecidos por atacar o homem e
também pernas com listras claras e uma diversidade de animais para sugar
escuras (Figura 7). sangue, e embora gerem um grande in-

31
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

cômodo com as picadas, suas fêmeas pequeno a grande porte, com colora-
são menos agressivas do que as do gê- ção em geral marrom claro a negro.
nero Aedes.
Os dois subgêneros com maior
Algumas espécies são reconheci- número de espécies e importância epi-
das pela importância médico-veteriná- demiológica são Culex e Melanoconion.
ria na transmissão de patógenos cau-
Sob o ponto de vista de transmis-
sadores de doenças como a filariose
são de doenças ao homem no Brasil,
bancroftiana, dirofilariose (filariose ca-
Culex quinquefasciatus é o represen-
nina), malária aviária, encefalite equina
tante de maior importância do com-
venezuelana, encefalite de Saint Louis,
plexo Culex pipiens. Um complexo é
encefalite japonesa, além da febre do
um grupo de espécies muito parecidas
Nilo ocidental e, mais recentemente,
morfologicamente, mas geneticamente
considerada vetor potencial do Zika ví-
distintas, e que em alguns casos não
rus. Devido à sua característica cosmo-
podem produzir uma prole fértil e por
polita, é importante a investigação do
isso podem ser consideradas espécies
papel de Culex na transmissão de pató-
diferentes. Assim, na maioria das vezes
genos de doenças emergentes.
a identificação taxonômica destas es-
Considerando o grande número pécies só é possível através da análise
de espécies do gênero Culex, as ca- de seus genes.
racterísticas biológicas são variadas
Cx. quinquefasciatus é conheci-
quanto ao ambiente onde ocorrem (ex.:
do como mosquito doméstico tropical,
silvestre, rural e urbano), bem como
apresenta distribuição expansiva no
quanto ao comportamento de acasala-
ambiente urbano entre a faixa equato-
mento, que pode se dar em locais pe-
rial, tropical e subtropical do globo. No
quenos e fechados, como no interior de
Brasil, sua distribuição é bastante in-
uma casa ou mesmo de uma gaiola em
fluenciada pela presença do homem.
condições de laboratório (neste caso
são chamadas de espécies estenogâ- O mosquito adulto tem porte mé-
micas) tal como Ae. aegypti. Outras es- dio, coloração marrom claro sem brilho
pécies se reproduzem em locais aber- metálico e pernas também escuras sem
tos no ambiente silvestre (ex.: matas), marcações claras (Figura 7), diferente
formando verdadeiros enxames (espé- de Aedes aegypti. Os adultos, machos
cies eurigâmicas). Quanto ao tamanho, e fêmeas, são frequentemente encon-
as espécies de Culex podem variar de trados dentro das casas, espaço explo-

32
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

rado na busca de locais para abrigo/ ra não possuam flutuadores, boiam no


repouso durante o dia e, à noite, para a criadouro, semelhantes a uma jangada
alimentação sanguínea das fêmeas em (Figura 8). Mas há exceções, como al-
hospedeiros humanos. Este compor- gumas espécies do subgênero Melano-
tamento de antropofilia tem sido mais conion. Cada jangada tem aproximada-
registrado em países da América do Sul mente 200 ovos, que não são resistentes
do que do Norte, onde as fêmeas de à dessecação, portanto, murcham fora
Cx. quinquefasciatus são mais genera- d’água levando à morte dos embriões.
listas e se alimentam em animais, como Os ovos possuem uma substância que
as aves. atrai outras fêmeas da mesma espécie
(feromônio de oviposição) para fazer
As fêmeas de Cx. quinquefascia-
postura no mesmo criadouro, por isso
tus tiram proveito das modificações hu-
podem ser encontradas densidades ele-
manas no ambiente peridomiciliar para
vadas de larvas e pupas.
encontrar criadouros. Portanto, não ne-
cessitam realizar grandes deslocamen- As larvas possuem um sifão lon-
tos, embora estudos tenham registrado go e se posicionam de forma diagonal
sua dispersão por quase 10 quilôme- à superfície da água durante a respira-
tros, quando necessário. ção. Elas se alimentam de partículas or-

Os criadouros preferenciais des-


ses mosquitos são geralmente coleções
de águas paradas, poluídas com maté-
ria orgânica como dejetos de animais,
vegetais em decomposição e rejeitos VOCÊ SABIA?
agroindustriais. São exemplos desses
criadouros ao nível do solo, rios, ca- Apenas as espécies do gêne-
ro Anopheles podem ser vetores
nais, córregos, lagoas de decantação, dos quatro tipos de plasmódios
charcos, fossas sépticas, sistemas de que causam a malária humana.
escoamento de água, caixas de drena- Plasmodium falciparum, Plasmo-
dium vivax, Plasmodium malariae
gem de águas pluviais e águas usadas e Plasmodium ovale são os proto-
(esgoto), fossos de elevadores e outros zoários que causam a malária hu-
recipientes artificiais temporários (Figu- mana e o fato deles conseguirem
se reproduzir sexuadamente no
ra 8).
corpo do mosquito faz dele não
apenas vetor, mas também hospe-
Os ovos são postos de forma agru- deiro definitivo destes parasitas.
pada na superfície da água e, embo-

33
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Considerado o mais conhecido entre os anofelinos, o gênero


Anopheles é o único que possui espécies de importância para a
saúde pública, pois estão envolvidas nos ciclos de transmissão dos
patógenos causadores da malária humana, filariose bancroftiana e
algumas arboviroses. A malária tem maior destaque pelo elevado
número de mortes registrado anualmente, e é por esta razão que
os mosquitos são considerados os animais mais letais do mundo
para os humanos. Dados da OMS mostram que quase metade da
população mundial vive em áreas com risco de adoecimento por
malária. Apesar das medidas de controle, esta doença permanece
fatal, principalmente para crianças abaixo dos cinco anos de idade,
matando uma criança a cada dois minutos.

gânicas e microrganismos localizados Stethomyia e Cellia, dos quais apenas o


na coluna de água dos criadouros. último não ocorre no Brasil. Além disso,
o maior número de espécies é encon-
• Anopheles
trado nos três primeiros subgêneros.
Estes mosquitos são também
Aproximadamente 70 das 484 es-
conhecidos como anofelinos ou ca-
pécies de Anopheles são vetores dos
rapanãs. Ocorrem principalmente nas
plasmódios causadores da malária. De
regiões tropicais e subtropicais do glo-
acordo com as condições ambientais,
bo terrestre. A subfamília Anophelinae
o comportamento alimentar das fême-
é considerada a mais antiga (ancestral)
as em relação ao hospedeiro humano, e
da família Culicidae e possui três gêne-
sua densidade, as espécies podem ser
ros: Anopheles, Chagasia e Bironella. O
consideradas vetores primários ou se-
gênero Anopheles é sem dúvida o que
cundários daqueles parasitas. Algumas
apresenta o maior número de espécies
destas espécies são morfologicamente
já descritas, distribuídas em todo o
muito parecidas e também formam um
mundo. Os dois outros gêneros estão
complexo de espécies semelhante ao
restritos a algumas regiões.
Cx. quinquefasciatus. O mais importan-
No gênero Anopheles existem te deles é o complexo Anopheles gam-
seis subgêneros: Anopheles, Nys- biae, originário da África.
sorhynchus, Kertezia, Lophopodomyia,

34
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

eurigâmico, habita ambientes silvestres,


semissilvestres, rurais e urbanos. Em
relação a outras espécies, An. darlin-
4. Qual a diferença entre
gi apresenta um comportamento mais
o vetor primário e o
secundário? acentuado de antropofilia e endofilia.
Embora, suas fêmeas possam oportu-
namente se alimentar e permanecer nos
O vetor primário ou principal é a espaços externos (exofilia). Além des-
espécie que apresenta elevada com- sas características comportamentais,
petência e capacidade vetorial para a outros fatores ambientais podem afetar
manutenção do ciclo de transmissão o desenvolvimento do parasita no mos-
de um patógeno. Já o vetor secundário quito, contribuindo para o sucesso da
ou auxiliar apresenta uma menor com- transmissão da malária. Um dos mais
petência ou capacidade vetorial, sendo importantes é a temperatura do am-
responsável pela transmissão ocasio- biente, pois quando elevada, acelera o
nal do patógeno, não tendo, portanto, a crescimento do parasita no mosquito,
mesma importância epidemiológica do permitindo que os plasmódios comple-
vetor primário. tem seu desenvolvimento e multiplica-
ção mais rapidamente. Adicionalmente,
Para cada região existem as espé-
pode também aumentar a longevidade
cies de maior importância no ciclo de
das fêmeas, potencializando sua capa-
transmissão da malária. No Brasil, por
cidade vetorial.
exemplo, cinco espécies se destacam:
Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi – Durante a vida adulta, cada fê-
Root, 1926; Anopheles (Nyssorhynchus) mea pode fazer a postura de 50 a 200
albitarsis – Lynch-Arribalzaga, 1878; ovos por oviposição. Os ovos são pos-
Anopheles (Nyssorhynchus) aquasa- tos diretamente na água e, como os de
lis – Curry, 1932; Anopheles (Kerteszia) Culex, também não resistem à desse-
cruzii – Dyar & Knab, 1908 e Anopheles cação. Além disso, eles são colocados
(Kerteszia) bellator – Dyar & Knab, 1906. de forma isolada, ovo a ovo, e possuem
Apesar de existirem mais de 50 espé- flutuadores, que são estruturas laterais
cies de Anopheles descritas no país. para que eles não afundem na água (Fi-
gura 6).
Anopheles darlingi é o vetor pri-
mário da malária no Brasil. Com hábito Os criadouros mais frequentes
crepuscular e noturno, este anofelino dos anofelinos são cursos d’água ao
de médio porte possui comportamento

35
Figura 8: Exemplos de criadouros típicos de alguns culicídeos.

Criadouro de Anopheles

2 3

Pneus descartados - Caixa d’água destampada -


Criadouro de Aedes Criadouro de Aedes

4 5

Lixo dosméstico - Esgoto a céu aberto -


Criadouro de Culex criadouro de Culex

Fonte: 1. Maria Alice Varjal de Melo Santos; 2. e 4. Centers for Disease Control
and Prevention (CDC) / Graham Heid, Dr. Harry D. Pratt; 3. e 5. Instituto Aggeu
Magalhães / Departamento de Entomologia / Danielle C. T. V. Melo.
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

nível do solo, pobres em matéria orgâ- • Ausência de sifão respiratório


nica, representados por igarapés, rios na larva o que leva ao posicio-
com pouca correnteza, charcos, cam- namento do seu corpo parale-
pos de plantação de arroz, pântanos lo à superfície da água;
de água doce ou salgada, pântanos
de mangue, valas gramadas, margens • Presença de estruturas laterais
de córregos, rios e pequenas poças de que auxiliam na flutuação do
chuva temporárias (Figura 8). Há mui- ovo (flutuadores) sobre a lâmi-
tas espécies de Anopheles que podem na d’água.
explorar criadouros, produzidos pelo
homem, em áreas urbanizadas, como
tanques, cisternas e até tanques e/ou
lagoas de piscicultura.
5. Existem mosquitos
Existem características morfoló- que não se alimentam de
gicas que separam os anofelinos dos sangue?
demais mosquitos (Figura 6), entre elas
destacam-se: Entre os culicídeos encontramos
a subfamília Toxorhynchitinae, re-
• A maioria das suas espécies,
presentada por mosquitos grandes e
repousam de modo quase per- coloridos com um único gênero cha-
pendicular nas superfície, se- mado Toxorhynchites (Figura 9). São
melhante a um prego inclina- conhecidos também como “mosquito
do, e por isso são chamados elefante” por apresentarem uma pro-
de mosquitos-prego; bóscide curva para baixo, como uma
tromba (Figura 9A). O mosquito ele-
• Apresentam escamas claras e
fante costuma assustar pelo tamanho,
escuras formando diferentes
que pode ser duas vezes maior do que
padrões nas veias das asas, os outros mosquitos. Não transmitem
em ambos os sexos, os quais doenças e são inofensivos, pois não
auxiliam na identificação das sugam sangue na fase adulta. Pelo
espécies; contrário, eles podem ser nossos alia-
dos no controle de outras larvas de
• Possuem palpos maxilares tão
mosquito, já que larvas de Toxorhyn-
longos quanto à probóscide
chites são predadoras vorazes de ou-
(Figura 4);
tras larvas de mosquito (Figura 9B).

37
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Figura 9: Curiosidades sobre mosquitos e falsos mosquitos.

A B C D

Toxorhynchites -
Toxorhynchites - Tipulídeos - Quironomídeos
Grande dimensão
Mosquito elefante “mosquitos” - imitadores de
da larva do
adulto gigantes mosquitos
mosquito elefante

Fonte: A. e B. Walther Ishikawa - Planeta Invertebrados; C. Bulent Fahri Ince - Freeimages; D. Dé-
borah Silva/EAD Fiocruz PE.

Assim eles podem desempenhar um


papel importante no controle de mos-
quitos no ambiente silvestre.
6. Como a condição
Existem ainda os “imitadores” de ambiental influencia as
mosquitos, pois se parecem com eles principais espécies de
mas não são mosquitos. Os tipulíde-
mosquitos de importância
médica?
os e os quironomídeos (Figura 9C e
9D), por exemplo, são confundidos fre-
quentemente com mosquitos, mas não Na maioria das regiões do Bra-
fazem parte do grupo dos culicídeos. sil, as condições climáticas são muito
favoráveis para o desenvolvimento de
Os Tipulídeos apresentam pernas
insetos, apresentando temperaturas e
muito longas, podem medir até 6 cm
umidade elevadas durante a maior parte
de comprimento e se parecem com
do ano. Vários estudos confirmam uma
mosquitos, por isso são conhecidos
relação direta entre temperaturas eleva-
como “mosquitos gigantes”. Mas não
das (27º-31º C) e a rapidez do desen-
são culicídeos nem são hematófagos
volvimento da fase larval dos mosqui-
(Figura 9D).
tos. Consequentemente, em um período
Os Quironomídeos não possuem menor de tempo os adultos emergem
probóscide e o comprimento aproxima- e vão em busca de fonte alimentar. Por
do é de 1 cm (Figura 9D). outro lado em baixas temperaturas, os
mosquitos podem se desenvolver muito
lentamente ou até não sobreviver.

38
Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

Em relação à umidade, a precipi- to, por isso, suas densidades larvárias


tação exerce um importante efeito no são extremamente elevadas (Figura 8).
aumento do número de criadouros na- Situações dessa natureza são particu-
turais para larvas dos mosquitos. Inclu- larmente importantes em áreas endê-
sive criadouros permanentes ao nível micas para filariose linfática, a exemplo
do solo, frequentemente, colonizados da Região Metropolitana do Recife.
por espécies de Culex e Anopheles,
A irregularidade no abastecimen-
quanto os microcriadouros temporários
to de água potável também representa
artificiais, são colonizados por Aedes
um grande problema, haja vista, que o
(Figura 8). Por isso, frequentemente,
seu armazenamento de forma inade-
quando acontecem chuvas esparsas
quada, pode aumentar a presença de
em períodos de temperaturas elevadas,
criadouros potenciais para Ae. aegypti.
pode ser observado o crescimento po-
Diferente de Culex, as fêmeas de Ae.
pulacional explosivo dos mosquitos.
aegypti tendem a espalhar ao máximo
É importante destacar, que condi- seus os ovos, no maior número de cria-
ções precárias de saneamento básico douros existente no ambiente.
também favorecem o aumento da den-
Assim, é possível perceber que
sidade populacional de mosquitos nas
realizar o controle de mosquitos em pa-
áreas urbanas, por ampliar as opções
íses tropicais, além de ser um grande
de criadouros.
desafio para a saúde pública, requer
Culex quinquefasciatus, por exem- ações constantes e intersetoriais, espe-
plo, concentra o maior número possível cialmente as voltadas ao saneamento
de ovos (jangadas) em poucos criadou- básico e ao manejo ambiental.
ros, como fossas e esgotos a céu aber-

39
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

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Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos

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41
CAPÍTULO 2
CONTROLE DE MOSQUITOS

Autores
Cláudia Maria Fontes de Oliveira
Maria Alice Varjal de Melo Santos
Maria Helena Neves Lobo Silva Filha
Rosângela Maria Rodrigues Barbosa
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

CONTROLE
DE MOSQUITOS 2
OBJETIVO

Ao final desse módulo o participante deverá reconhecer as condições que


favorecem a presença de mosquitos nos ambientes; os objetivos, instru-
mentos e métodos para a vigilância de mosquitos; a importância estraté-
gica das ações de vigilância para a saúde pública; os principais métodos
de controle, vantagens, limitações e adequações aos diferentes contextos;
a necessidade da implantação de programas de controle integrado para
reduzir a população de mosquitos de forma sustentável.

Para controlar é preciso antes co-


nhecer qual(is) espécie(s) pode(m) estar
atuando como vetor de algum patóge-
1. Por que é necessário
no ao homem, ou provocando outros
fazer a vigilância e o
controle de mosquitos? problemas de saúde. Em seguida, é
necessário avaliar vários fatores para,
por fim, definir as estratégias que deve-
Os mosquitos, como sabemos,
rão ser utilizadas para sua vigilância e/
podem ser vetores de patógenos que
ou controle. Os principais fatores a se-
causam doenças ao homem, além de
rem determinados são: saber se a es-
alergias e desconfortos, associados às
pécie é exótica (estrangeira, ou seja, se
picadas durante a alimentação sanguí-
tem origem diferente do local em que
nea. Por isso, é necessário reduzir, ao
foi encontrada) ou se é própria desse
máximo, a quantidade destes insetos
lugar (autóctone); sua distribuição no
no ambiente, ou seja, fazer o controle
ambiente e o número de indivíduos en-
de sua densidade populacional.

43
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

contrados em uma determinada área sivelmente associadas à deficiência no


(densidade populacional); seu compor- abastecimento de água, de saneamen-
tamento para estimar o nível de contato to, coleta de lixo, estrutura das habita-
com o homem em sua moradia (domici- ções e dos espaços públicos, que favo-
liação); e as causas da sua proliferação recem sua proliferação (Figura 1).
no ambiente. Todas estas informações
são necessárias à vigilância entomo-
lógica que, com base na análise dos
resultados encontrados, estabelece os

VOCÊ SABIA?
indicadores entomológicos e os níveis
de transmissão da doença, para identi-
ficar situações ambientais e climáticas
Devemos controlar mosquitos
que favoreçam a disseminação de pa-
em uma área mesmo que NÃO
tógenos. Portanto, a vigilância entomo- esteja ocorrendo a transmissão de
lógica é um componente essencial nos doenças. Isto porque eles podem
causar danos à saúde humana,
programas de controle de insetos. como alergias e incômodo ao sono
e repouso das pessoas.
É importante saber que não existe
um método universal, ou único, para re-
duzir as populações dos mosquitos em
todos os lugares ou ambientes onde
eles causam problemas. A situação de
2. Como podemos realizar
cada local deve ser avaliada para es- o controle mecânico/físico
colher as estratégias de controle mais dos mosquitos?
adequadas e viáveis. Por isso, a Organi-
zação Mundial de Saúde recomenda o
Manejo Integrado de Vetores (MIV) e re- A estratégia de controle mecânico
centemente publicou diretrizes relativas é a mais importante e deve ser feita pela
à importância estratégica do controle população, pelos agentes de endemias
de vetores para a redução e eliminação e pelos órgãos públicos municipais,
de doenças a nível global até 2030. estaduais e federais. Ela deve ser apli-
cada em todos os programas, pois tem
A alta infestação ou alta densi-
como objetivo eliminar os criadouros e
dade populacional de mosquitos em
as condições que causam a prolifera-
áreas urbanas, geralmente, indica que
ção dos mosquitos. Ações mecânicas
existem condições no ambiente, pos-
ou físicas incluem o fechamento corre-

44
Figura 1: Exemplos de ambientes que favorecem a proliferação de mosquitos e podem ser cha-
mados de “criadouros”.

A B

Poço de elevador Canaletas e canais com obstrução do fluxo de água


pelo lixo

C D

Canaletas e canais com obstrução do fluxo de água Caixa de inspeção sem tampa
pelo lixo

Fonte: Departamento de Entomologia / Instituto Aggeu Magalhães - Eloína Maria M. Santos, Tatia-
ne Cibele S. Gomes e Maria Alice V. Melo Santos.
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

to de fossas, bem como dos grandes A vistoria nas residências para en-
reservatórios de água, como tanques, contrar e eliminar os criadouros é uma
cisterna e caixas d’água; o descarte de ação mecânica-física-ambiental muito
objetos que possam acumular água, es- importante para o controle de mosqui-
pecialmente no ambiente peridomiciliar tos, no entanto, não pode acontecer
(fora da casa) e intradomiciliar (dentro apenas durante as campanhas ou ar-
de casa); a drenagem e limpeza de rios, rastões de limpeza. A vistoria precisa
canais, córregos, sistemas de coleta de ser feitas pelos próprios moradores e
águas pluviais (água de chuva) e de es- por isso, os Agentes de Endemias dos
gotos, calhas e outros para impedir o municípios são também responsáveis
acúmulo de água parada (Figura 2). por ensinar a população sobre como
achar e eliminar os criadouros presen-
tes no ambiente residencial. A partir
destas informações, cada morador(a)

VOCÊ SABIA?
O melhor agente para achar
criadouros de mosquitos é
o próprio morador(a). Ele(a) VOCÊ SABIA?
conhece bem todos os recantos
da casa, sabe onde estão a A organização e a limpeza nas
fossa, tanques, cisternas, calhas, casas pode eliminar boa parte dos
e outros locais e recantos que mosquitos do ambiente.
podem servir como criadouros.

Figura 2. Aspecto de um rio em área urbana com proliferação de Culex quinquefasciatus.

Situação após a intervenção englobando


Situação antes de intervenção limpeza da vegetação das margens, reti-
rada de lixo e dragagem do leito do rio.

Fonte: Prefeitura de São Paulo / Coordenação da Vigilância em Saúde (COVISA).

46
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

pode então vistoriar semanalmente os


locais que podem ser uma possível fon-
te de criação de mosquitos, dentro e
SAIBA MAIS
fora de suas casas, e assim proteger ao
máximo o ambiente em sua volta. Você já ouviu falar da campanha
10 minutos contra a dengue?
A organização e a limpeza dentro Existem folhetos e vídeos que
e fora da casa significa não deixar ne- explicam como fazer a vistoria
das casas para buscar e eliminar
nhum local que possa acumular qual- criadouros do mosquito Ae.
quer quantidade de água, incluindo a aegypti, em apenas 10 minutos
a cada semana. Conheça mais
bandeja atrás do motor da geladeira e acessando:
do ar-condicionado, a grade do bebe-
⮑ http://www.ioc.fiocruz.br/
douro de água, as esquadrias dos boxes
dengue/textos/10minutos.html
de banheiros, janelas e portas. Significa
também limpar a calha e as canaletas
As ações do setor público, dos
de drenagem de água, removendo fo-
governos, como os serviços de infra-
lhas, papéis ou outros objetos descar-
estrutura, também fazem parte nesta
táveis e resíduos que possam represar
categoria de controle mecânico. Os
ou acumular água de chuva; cobrir re-
exemplos mais importantes são os
servatórios, que armazenam água e não
serviços de saneamento, fornecimen-
tenham tampas, com tela de malha bem
to de água encanada (para evitar seu
fina, prendendo-a com elástico, bem
armazenamento em reservatórios nas
como tonéis, tanques e baldes; colocar
casas), coleta regular de lixo e manu-
semanalmente água sanitária nos ralos,
tenção de espaços públicos, como
vasos sanitários e outros locais pareci-
praças, vias públicas, canais e córre-
dos. As fêmeas dos mosquitos gostam
gos limpos.
de se abrigar em locais escuros dentro
das casas (debaixo de camas, armá- As ações do setor privado tam-
rios, móveis, mesas, caixas e malas). bém são necessárias quanto aos cui-
Qualquer objeto, móvel ou local, e até dados com os imóveis, sobretudo fer-
roupas de cor escura, atraem bastante ros-velhos, borracharias, cemitérios,
os mosquitos adultos. Assim, deve-se depósitos de objetos para reciclagem
abrir as janelas para arejar e clarear os e outros estabelecimentos comerciais
ambientes, e mover os móveis e objetos que possam servir como locais estra-
para achar e matar os mosquitos que se tégicos para a proliferação dos mos-
esconderam atrás ou embaixo deles. quitos (Figura 3). Os estabelecimentos

47
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

industriais também precisam atentar cial às condições ambientais para não


para que suas instalações não tenham terem focos de mosquito. Estes locais
fontes de mosquitos (ex.: tanques de são estratégicos, pois agrupam muitas
água ou de rejeitos). pessoas e se houver mosquitos tam-
bém oferecem um ótimo cenário para
Os hospitais e outras unidades
a transmissão rápida de patógenos.
de saúde devem ser mantidos livres de
mosquitos, pois, também são locais O controle governamental tam-
estratégicos para a transmissão, devi- bém pode ser feito através da legis-
do à presença de um grande número lação específica. O exemplo mais co-
de pessoas doentes, que podem estar mum é a aplicação de multas para os
infectadas e servir como fonte de in- responsáveis por imóveis que tiverem
fecção para as fêmeas dos mosquitos. criadouros ativos (Lei nº 6.437, de
1977, que configura as infrações à le-
As escolas e locais de trabalhos
gislação Sanitária Federal). No Brasil,
também devem ter uma atenção espe-
Figura 3: Exemplos de áreas estratégicas para criadouros de Aedes.

A B

Vasos de plantas como exemplo de cria-


Cemitério
douros potenciais de mosquitos

Ferro-velho

Fonte: A e B: Departamento de Entomologia - Instituto Aggeu Magalhães / Maria Alice V. Melo


Santos e Rosângela Maria R. Barbosa; C: Pixabay.

48
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

da população tem informações sobre


mosquito, mas poucos conhecem as
suas formas jovens. Os ovos e as lar-
vas são muito pequenos, e a população
VOCÊ SABIA? precisa de orientação para reconhecê-
-los (Figura 5).
Existe uma legislação especifica
para punir os responsáveis por
locais abandonados com risco
da presença de criadouros de
mosquitos. É a Lei nº 6.437, de
1977, que configura as infrações à
legislação Sanitária Federal.
VOCÊ SABIA?
esta forma de controle não é utilizada,
embora nos casos de denúncias de lo- Os mosquitos que estão em uma
casa provavelmente vêm dela
cais com focos ativos e produtivos de e não da casa dos vizinhos. Em
mosquitos, as portas de imóveis aban- 80% dos casos os mosquitos de
uma casa vêm dela mesma e uma
donados podem ser abertas à força.
busca cuidadosa vai comprovar
Locais abandonados podem represen- que há criadouros.
tar um grande risco para a proliferação
dos mosquitos. Para evitar tal situação,
é cada vez mais necessário um traba-
lho de conscientização e, sobretudo,
mobilização das pessoas para evitar a 3. Como podemos nos
presença destes locais de proliferação proteger dos mosquitos?
de mosquitos (Figura 4).

As ações de educação/conscien- Mosquiteiro na cama e outros lo-


tização/mobilização da população são cais de repouso (figura 6), serve como
essenciais para o sucesso do controle uma importante barreira de proteção
vetorial. Infelizmente, elas não têm sido contra os mosquitos, sobretudo durante
valorizadas nem, portanto, executa- o sono, quando as pessoas estão mais
das rotineiramente, sendo comum ver expostas às picadas destes insetos. Te-
a participação da comunidade apenas las protegendo portas e janelas também
nos arrastões, mutirões e campanhas devem ser usadas para reduzir a entrada
de limpeza, realizados de tempos em dos mosquitos nas casas. Existem ain-
tempos pelos órgãos de saúde. Parte da as raquetes “mata-mosquitos” que

49
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Figura 4: Exemplos de criadouros de mosquitos que devem ser protegidos ou preferencialmente


eliminados.

Tonel parcialmente coberto

Recipientes sem coberturas ou tampas

Tanque com abertura

Caixa de passagem aberta e


água estagnada

Fonte: Departamento de Entomologia - Instituto Aggeu Magalhães / Cláudia Maria F. Oliveira e


Maria Alice V. Melo Santos. 50
FASES DE DESENVOLVIMENTO
DO MOSQUITO AEDES AEGYPTI
EM ESCALA
~0.5mm OVO

~1mm L1

~3mm L2

~5mm L3

LARVAS

~7mm L4

~5mm PUPA

~8mm ADULTO

Figura 5: Fases de desenvolvimento dos mosquitos Culex e Aedes em escala. Adultos, pupas,
larvas e ovos.
Fonte: Os autores. Infografia: Déborah Silva, 2019
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Figura 6: Instrumentos de proteção contra mosquitos.

A B

Cama protegida por mosquiteiro Raquete mata-mosquito

Fonte: A. Louise Gubb / Carter Center; B. Ilustração: Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019.

podem ajudar a eliminar adultos que


circulam no ambiente (Figura 6). Todos
são instrumentos simples e que podem
4. Como fazer o controle
reduzir as picadas dos mosquitos.
dos mosquitos através dos
As ações chamadas de proteção
inseticidas e quais são os
compostos mais utilizados?
pessoal têm como objetivo prevenir a
picada daquelas fêmeas de mosquitos
que já estão presentes e circulando nas Inicialmente, deve ser lembrado
residências, nos locais de trabalho e de que as ações de controle mecânico-fí-
lazer. A utilização de roupas de cor clara sico-ambiental são as mais recomen-
para cobrir bem o corpo, como blusas dadas, pois agem na raiz do problema.
de mangas longas, meias, sapatos fe- O uso de qualquer inseticida deve ser
chados são muito úteis. Repelentes de feito em situações que não podem ser
mosquito (ex.: DEET, icaridina e outros) resolvidas de outra maneira. Abaixo se-
podem ser aplicados em diferentes par- gue a descrição das principais classes
tes do corpo, especialmente nas pernas, de agentes de controle de mosquitos
tornozelos e braços (Figura 7). Atenção, atualmente disponíveis para uso em
pois o uso de repelentes tem que ser programas de controle.
feito de acordo com as instruções do
Inseticidas químicos “tradicio-
rótulo, sobretudo para crianças. Mesmo
nais” com ação larvicida ou adultici-
assim, deve ser verificado se o produto
da. Os quatro grupos de inseticidas quí-
está funcionando após a aplicação.

52
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

Figura 7: Exemplos de repelentes para proteção pessoal.

Óleo de
C it r o n e la s
rdu
Cymbopogon na

Pr o
d
EA uzido e
D ex
B-7 exporta portado por:
5
Rec , Seto dora l
Peso: 15rm
ife P r-7 IAM
no
E, B

uso exte
rasil

Loção com ingredientes DEET Óleo de citronela

Fonte: Os autores. Ilustração: Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019.

micos mais conhecidos e utilizados são Estes compostos podem ser usa-
os organoclorados (ex.: DDT, dieldrin), dos como larvicidas e aplicados na
organosfosforados (ex.: temephos e água dos criadouros para matar as for-
malathion), carbamatos (ex.: propoxur) mas jovens, principalmente na fase de
e piretróides (ex.: permetrina e deltame- larvas. Eles também podem ser usa-
trina) (Figura 8). dos como adulticidas para eliminar os
mosquitos adultos do ambiente. Neste
Figura 8: Exemplos de inseticidas usados no controle de mosquitos.

Organofosforado (temephos) Piretróides (permetrina)

Fonte: Os autores. Ilustração: Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019.

53
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Figura 9: Formas de aplicação de inseticidas.

Aplicação de inseticida por ultrabaixo volume UBV-portátil (bomba costal)


Fonte: Departamento de Entomologia - Instituto Aggeu Magalhães / Multiave LTDA.

caso, os inseticidas podem ser aplica- Usar um inseticida químico para


dos em ultra baixo volume (UBV) em o controle é uma escolha que deve ser
veículo (fumacê), UBV-Portátil (Figura feita cuidadosamente, após as ten-
9) ou até através de sprays domésticos, tativas de eliminação dos focos do
de venda livre nos supermercados. mosquito através de ações de contro-
le mecânico. Além disso, ao se usar
As aplicações podem ser feitas
um determinado inseticida devemos
no ambiente em geral (aplicação espa-
ter certeza que aqueles insetos são
cial), especificamente em torno de fo-
realmente susceptíveis ao insetici-
cos dos mosquitos (perifocal) ou ainda
da escolhido, através de testes que
em paredes do interior das casas (apli-
comprovem essa susceptibilidade. Os
cação residual).
inseticidas devem ser trocados por
Os inseticidas químicos agem por outros inseticidas, em forma de rodí-
contato com o tegumento (ou superfície zio, para evitar que ocorra a seleção
do corpo) dos insetos e atingem o siste- de insetos resistentes ao produto. A
ma nervoso causando danos que levam resistência dos insetos pode ocorrer
à morte. Em geral eles têm uma ação quando um mesmo inseticida é usado
muito rápida, em poucas horas. O prin- por muito tempo. A seguir serão dadas
cipal problema deste tipo de inseticida é informações sobre o que é exatamente
que eles também podem causar danos a resistência.
para outros seres vivos, ou seja, também
Inseticidas químicos que impe-
são tóxicos para outros insetos úteis (ex.:
dem o desenvolvimento de insetos:
abelhas) e até para o próprio homem, de-
IGRs. Dentre os agentes químicos, há
pendendo da dosagem e tempo de uso.
o grupo chamado de IGR (do inglês

54
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

rem no crescimento de larvas e pupas e


impedem que elas se desenvolvam até
a fase adulta. São chamados também
de compostos que inibem a emergên-
VOCÊ SABIA? cia ou muda para a fase adulta.

Alguns interferem diretamente na


Antes de usar um produto é muda dos insetos e são chamados ini-
necessário testar a dose indicada
no rótulo. Isto é importante para bidores de quitina (ex.: diflubenzuron
garantir que a dose esteja adequada e novaluron). Como boa parte do te-
para tratar a população de
gumento do inseto é feita de quitina, o
mosquitos daquele local específico.
A dose estabelecida pelo fabricante inseto não consegue produzir a quitina
pode precisar de ajustes para a para realizar as mudas para atingir a
situação de cada local.
fase adulta e morre.

“Insect Growth Regulators”), que são Outros IGRs são chamados aná-
substâncias reguladoras do crescimen- logos do hormônio juvenil (ex.: meto-
to de insetos. Estes compostos interfe- preno e pyriroxyfen) e eles causam um

Figura 10: Efeito do tratamento de larvas com agentes de controle do grupo IGR.

A B

Exemplo de IGR - Diflubenzuron Adultos com deformações

C D

Acidente de muda entre a fase de pupa e Adultos com deformações em patas


fase adulta

Fonte: Os autores. Ilustração: A. Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019. B a D. Departamento de
Entomologia - Instituto Aggeu Magalhães / Fabiana Kalina A. S. da Silva e Maria Alice V. Melo Santos.

55
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

desequilíbrio deste hormônio na fase compostos IGR, há poucos registros e


jovem (larvas/pupas), impedindo que pode-se dizer que ainda não é proble-
as mesmas passem para a fase adul- ma generalizado para esta categoria de
ta. Os insetos morrem na fase de larva substâncias.
ou pupa e é muito comum que durante
a muda ocorram problemas, também
chamados acidentes de muda, provo-
cando a morte do inseto (Figura 10).

A ação destes compostos é mais VOCÊ SABIA?


específica do que a dos inseticidas quí-
micos tradicionais, mas eles também
Muitos inseticidas químicos têm
podem atingir organismos não alvo ação tóxica em vários organismos.
que fazem mudas durante seu desen- Assim, recomenda-se o uso de
inseticidas mais “seletivos”,
volvimento como, por exemplo, outros ou seja, produtos que numa
artrópodes, como os crustáceos ou determinada dose tenham ação
letal para os mosquitos, mas que
outros insetos. Atenção, pois os IGRs não matem ou prejudiquem outros
agem muito lentamente, e a morte de organismos.
larvas e pupas só ocorre cerca de 10-
15 dias depois que o produto é aplica-
do no criadouro e tem contato com as A Isca Tóxica de Açúcar (ITA) – do
larvas. Por esta razão, os agentes de inglês, Attractive Toxic Sugar Baits –
endemias têm dificuldade para obser- ATSB – também conhecida como isca
var o efeito destes compostos nos cria- letal, é a combinação de uma fonte
douros, ou seja, que eles de fato fun- de carboidrato, como o açúcar, e uma
cionaram e que não haverá a produção substância capaz de matar, de inibir o
de mosquitos a partir daquele criadou- comportamento de alimentação sanguí-
ro tratado. nea ou de reduzir a reprodução (fecundi-
dade e fertilidade) dos mosquitos, após
Outro aspecto importante é que
a sua ingestão. Alguns exemplos destas
estes produtos agem em doses muito
substâncias são os inseticidas, como o
baixas, sendo necessário diluir o pro-
malathion, deltametrina, pyriproxyfen ou
duto para sua aplicação. A manipula-
outras substâncias como o ácido bórico,
ção do produto puro para o diluído deve
a ivermectina, o dinotefuran, o spinosad,
ser feita segundo cuidados indicados
o eugenol e o óleo de alho.
pelo fabricante. Sobre a resistência aos

56
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

maturação dos ovos, conforme descrito


no Módulo 1.

A isca é preparada na forma de


solução e disponibilizada em algodão
VOCÊ SABIA? ou esponjas embebidos colocados no
interior de potes plásticos ou outros ob-
Existem iscas letais que podem ser jetos, preferencialmente de cor escura,
usadas no controle de mosquitos
adultos. que sirvam como suporte para a isca.
Esta pode ser usada dentro das casas
para a redução dos mosquitos que se
Os mosquitos são atraídos e bus-
abrigam neste local ou no peridomicílio
cam a ITA para se alimentar, tal como eles
(jardins e quintais), em áreas próximas
buscam fontes naturais de açúcares no
aos criadouros potenciais dos mos-
ambiente para sobreviverem (ex.: seivas
quitos (Figura 11). Pesquisas mostram
de plantas, sucos de frutos maduros e
que é um método eficaz para o controle
outros). É importante lembrar que tanto
complementar de mosquitos adultos de
machos quanto fêmeas necessitam de
baixo impacto para espécies não-alvo.
açúcares para sobreviver. Lembrando
que as fêmeas também fazem a alimen-
tação sanguínea, especificamente para a

Figura 11: Suporte contendo algodão embebido em isca tóxica de açúcar.

A B

Fonte: Os autores. A. Departamento de Entomologia - Instituto Aggeu Magalhães / Maria Alice V.


Melo Santos; B e C. Ilustração: Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019.

57
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

e distribuídos nos criadouros. Há outros


insetos que também vivem no ambiente
aquático e podem se alimentar de lar-
Quais são e como
vas de mosquitos, mas os predadores
funcionam os agentes de
controle biológico? mais usados, conhecidos e aceitos pela
população são os peixes.

Alguns organismos podem ser


predadores de mosquitos, e aque-
les que se alimentam de larvas são os
agentes biológicos mais comuns para
o controle, inclusive já bem conhecidos VOCÊ SABIA?
pela população. Peixes, como Poecilia
e Gambusia (ex.: barrigudinho e lebis- Bactérias podem ser usadas no
te), conseguem ingerir dezenas de lar- controle biológico de mosquitos.

vas por dia (Figura 12). Eles podem ser


colocados em ambientes ou criadouros Entre os agentes patogênicos,
onde tenham condições de sobrevivên- mais usados no controle biológico es-
cia, tais como tanques e cisternas. Para tão as bactérias chamadas Bacillus thu-
sua utilização, estes predadores preci- ringiensis, subespécie israelensis (Bti) e
sam ser criados em grande quantidade Lysinibacillus sphaericus (Lsp), anterior-
Figura 12: Peixes são exemplos de predadores de larvas de mosquito que podem ser usados em
tanques e cisternas.

A B

Peixes na água de um criadouro

Operador coloca peixes predadores de Detalhe de um peixe predador e sua


mosquito em tanque presa, larva de mosquito

Fonte: Os autores. Ilustração: Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019.

58
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

Figura 13: Larvicida biológico.

Bactéria Bacillus thuringiensis subspé- Produto comercial para controle de


cie israelensis (Bti) produz cristais (C) larvas de mosquitos com toxinas de Bti
com tóxinas como princípio ativo

Fonte: Os autores. Ilustração: Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019.

mente chamada de Bacillus sphaericus. contornar este problema, o uso do Lsp


Estas bactérias produzem cristais com deve ser feito de forma intercalada ou
toxinas que matam as larvas de mos- associada com outros larvicidas, como
quitos. Estes cristais são utilizados para por exemplo, o próprio Bti, o difluben-
a produção de larvicidas (Figura 13) que zuron ou outro agente biológico, o spi-
podem ser aplicados na água através nosad que será apresentado abaixo.
de diferentes instrumentos, como os
O Spinosad é outro larvicida bioló-
citados para os inseticidas químicos.
gico fabricado a partir de outra bactéria
Neste caso, as toxinas agem apenas
chamada Saccharopolyspora spinosa.
por ingestão e não há ação pelo con-
Esta produz as toxinas chamadas es-
tato com o tegumento das larvas. Uma
pinosinas, que também são aplicadas
vez ingeridas, as toxinas agem no seu
na água pelos instrumentos já citados
intestino e a morte ocorre em até dois
ou ainda diretamente nos criadouros
dias após a aplicação. Ao contrário dos
através de fomulações em grânulos,
inseticidas químicos, estas toxinas são
tabletes e outros. As espinosinas agem
muito seletivas, pois agem apenas em
por contato e por ingestão. Depois, elas
algumas espécies de larvas de mosqui-
chegam até o sistema nervoso dos in-
tos e de borrachudos (Simulium spp.)
setos, agem neste local e levam à mor-
da ordem Diptera. Por esta razão, estes
te em até dois dias. Estas toxinas agem
larvicidas são considerados os mais es-
em larvas de mosquitos, mas também
pecíficos e, portanto, os mais seletivos
em alguns grupos de outros insetos. A
e seguros dentre os produtos hoje dis-
seletividade das toxinas espinosinas é
poníveis. Ainda não há casos de resis-
menor do que a das toxinas dos cris-
tência ao Bti, mas há para o Lsp. Para

59
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

tais do Bti e do Lsp., pois agem em al-


gumas ordens de insetos (ex.: Diptera,
Lepidoptera, Coleoptera e Orthoptera).
5. O controle dos mosquitos
Ainda assim, a segurança das espinosi-
também pode ser feito
nas para outros organismos é conside- através dos próprios
rada bem mais elevada do que quími- mosquitos, ou seja, pelas
cos convencionais, por exemplo. técnicas de controle
genético.
Dentre os agentes biológicos,
existem fungos que produzem toxi-
nas com ação para larvas e mosquitos Existem metodologias de contro-

adultos (ex.: Metarhizium e Beauveria). le que estão baseadas na produção e

No Brasil, o seu uso para controle de liberação da própria espécie de mos-

mosquitos ainda está em fase experi- quito que se quer controlar em campo,

mental e tem um excelente potencial após a modificação de algumas de suas

de desenvolvimento para utilização no características biológicas. Dependendo

futuro. Os fungos também apresentam do objetivo, supressão ou substitui-

um modo de ação lento e a morte dos ção, serão adotadas abordagens di-

insetos infectados (Figura 14) pode de- ferentes para solturas ou liberação em

morar vários dias. Assim como as bac- massa dos insetos.

térias (Bti e Lsp), alguns fungos podem


A Técnica do Inseto Estéril (TIE)
ser usados em armadilhas, como será
– do inglês, Sterile Insect Technique –,
descrito posteriormente. Um resumo
desenvolvida na década de 1950, tem
destes agentes está apresentado no
como objetivo reduzir a população dos
Quadro 1.
mosquitos ou causar a supressão po-

Figura 14: Aspecto de mosquito infectado por fungos entomopatogênicos.

Ilustração: Déborah Silva e Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019.

60
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

Quadro 1. Resumo sobre as características dos principais agentes de controle.

Fonte: Os autores, 2019.

61
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

VOCÊ SABIA?
O que é a resistência de insetos a inseticidas?

⮑ A resistência é a capacidade de alguns insetos de sobreviverem a uma dose


de inseticida que é mortal para outros desta mesma espécie. Portanto, quando
esta dose é aplicada, os insetos suscetíveis morrem e alguns resistem. Esta
capacidade está nos genes (informação genética) que passam de uma geração
para outra. MAS ATENÇÃO! É importante não confundir resistência com falhas
operacionais nas atividades de campo. Quais podem ser estas falhas? As vezes o
produto não foi aplicado ou ele foi aplicado numa dose baixa ou ainda o produto
foi aplicado mas não funcionou devido a outros fatores, como chuva excessiva.

Como detectar?

⮑ O método mais simples para detectar resistência é coletando amostras dos


insetos em campo e avaliando sua suscetibilidade ao inseticida em testes de
laboratório denominados bioensaios. O teste é simples, os insetos são tratados
com doses que são letais, ou seja, matam todos os insetos suscetíveis. Se parte
dos insetos não morrer isto significa que eles podem estar resistentes ao inseticida.
Testes moleculares podem detectar os genes de resistência, mas a sua execução
é mais complexa.

Como prevenir?

⮑ As populações tratadas devem ser avaliadas periodicamente através de


bioensaios, para detectar precocemente a possível presença da resistência. Usar
inseticidas com diferentes modos de ação em rotação, ou seja, usar o produto A
em seguida o produto B, produto C e assim sucessivamente. Outra estratégia,
que é chamada de associação, consiste em usar diferentes produtos ao mesmo
tempo. De uma forma geral, recomenda-se que nenhum produto seja usado por
períodos prolongados, sobretudo de forma isolada. Também deve ser lembrado
que os inseticidas devem ser usados nas situações realmente necessárias,
determinados pelos especialistas em controle.

Como contornar o problema de resistência já estabelecido?

⮑ O uso do inseticida que levou ao desenvolvimento da resistência deve ser


imediatamente suspenso e ele deve ser substituído por outro inseticida com modo
de ação diferente do que era antes usado. Testes para avaliar a suscetibilidade
dos mosquitos ao novo produto inseticida devem ser feitos antes do seu uso em
campo, devido à possibilidade de resistência cruzada entre os compostos.

62
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

pulacional. Para isto, são produzidos sendo a exposição dos mosquitos à ra-
milhares ou milhões de mosquitos ma- diação X ou gama o mais tradicional e
chos estéreis, que são liberados no utilizado.
ambiente. O objetivo deste método é
Outro método de controle gené-
que os machos estéreis cruzem com as
tico é a técnica do mosquito transgê-
fêmeas de campo (selvagens) e gerem
nico. Nesta técnica uma linhagem de
ovos inviáveis, reduzindo a população
mosquito é modificada geneticamen-
da espécie-alvo progressivamente. A
te em laboratório. Esta modificação
eficiência da técnica depende da cria-
pode ser a inserção de um gene ou a
ção em larga escala, ou seja, em gran-
mudança de um gene já existente no
de quantidade, dos machos estéreis e
mosquito que cause um efeito nega-
em seguida fazer liberação destes em
tivo para sua sobrevivência ou capa-
campo (Figura 15). Quanto maior for o
cidade de transmitir um agente pato-
número de machos estéreis liberados
gênico. Como exemplos, pode ser um
e menor o intervalo entre as solturas,
gene que cause a morte precoce do
maior será a possibilidade de machos
mosquito durante a fase jovem ou ain-
estéreis competirem com machos sel-
da um gene que afete a sua capacida-
vagens em campo e mais efetivo será
de de voar e, portanto, de buscar os
o controle. A esterilização dos machos
hospedeiros para se alimentar.
pode ser feita por diferentes métodos,

Figura 15: Técnica do Inseto Estéril.

Fonte: Adaptado de Ritu Kenn/IAEA, 2017.

63
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Como exemplo prático, há uma li- cies presentes no ambiente. Isto ocorre
nhagem transgênica de Aedes aegypti, pois o método é baseado na passagem
denominada OX513A, que foi desen- de genes de uma geração para outra,
volvida em 2002 pela empresa inglesa e a reprodução só pode ocorrer entre
Oxitec. Mosquitos desta linhagem pos- mosquitos da mesma espécie. 2) Os
suem um gene que impede a passagem machos buscam ativamente as fême-
das larvas e pupas para a fase adulta. as para o acasalamento. 3) Os des-
Por isso, se diz que estes mosquitos cendentes ou prole do cruzamento são
transgênicos são portadores de um eliminados ainda na fase jovem. 4) Os
gene letal, que mata toda a prole das machos que são liberados no ambien-
fêmeas que acasalam com os machos te não se alimentam de sangue, por-
OX513A, que foram modificados gene- tanto não são vetores e não causam
ticamente. Projetos de controle popu- incômodos associados às picadas. 5)
lacional utilizando estes mosquitos Ae. O método pode ser utilizado junto com
aegypti transgênicos foram realizados outras técnicas de controle. Existem al-
nas Ilhas Cayman, Malásia, Panamá e gumas experiências de sucesso do uso
no Brasil, que a propósito, foi o primei- da TIE para o controle de espécies de
ro país no mundo a ter uma biofábrica culicídeos, tais como: Cx. pipiens, Cx.
deste tipo de mosquito, localizada no tritaeniorhynchus, Cx. quinquefascia-
estado de São Paulo. Mais informações tus, An. albimanus, An. culicifacies, An.
sobre mosquitos transgênicos serão gambiae, inclusive Ae. albopictus e Ae.
descritas no Módulo 3. aegypti, em países como Itália e Brasil,
respectivamente.

Quando o objetivo do controle


biológico/genético é a substituição
Quais são as vantagens de
da população, como por exemplo,
utilizar o próprio mosquito
para seu controle? com mosquitos portadores de bacté-
rias endossimbiontes, como a Wolba-
chia, é necessária a liberação tanto
O controle através dos machos dos machos quanto das fêmeas, uma
estéreis apresenta as vantagens descri- vez que o cruzamento destes com
tas a seguir. 1) É um método espécie- os mosquitos selvagens deverá pro-
-específico, o que significa dizer que o duzir descendentes infectados com
seu efeito ocorre apenas para a própria Wolbachia. A quantidade (frequência)
espécie-alvo e não atinge outras espé- de mosquitos com Wolbachia deve-

64
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

rá aumentar a cada nova geração até portanto, são muito empregadas para
que ocorra a substituição da popula- o levantamento de índices na vigilân-
ção natural, após um número relati- cia entomológica. Todas têm em co-
vamente reduzido de solturas. Neste mum o fato de serem colonizadas em
caso, o controle é autossustentável. campo pelos próprios mosquitos. Além
Este é o caso dos indivíduos da li- disso, uma pequena quantidade de ar-
nhagem de Ae. aegypti portadora da madilhas pode ser capaz de mostrar a
Wolbachia WmelPop, considerada quantidade de insetos presente em um
capaz de impedir a replicação dos ví- determinado momento em uma deter-
rus Dengue, Zika e chikungunya no minada área. É importante destacar que
mosquito, em teste no projeto “Eli- antes de serem instaladas em campo, é
minar a dengue: Desafio Brasil” e em preciso definir o número de armadilhas
outros países, como Austrália, Viet- em cada área ou bairro. As armadilhas
nã, Colômbia, Índia, Indonésia, Sri também podem ser utilizadas como
Lanka, Fiji, Vanuatu e Kiribati. Mais instrumento para o controle de mosqui-
informações sobre mosquitos trans- tos. Neste caso, a quantidade de arma-
fectados com endossimbiontes se- dilhas será maior do que a necessária
rão descritas no Módulo 3. para o levantamento de índices.

As armadilhas são, portanto, uma


forma passiva para a coleta de inse-
tos, o que significa dizer que o esforço
6. Armadilhas para
de trabalho e o tempo para instalar e
mosquitos, o que são e
vistoriar estes instrumentos é, frequen-
como funcionam?
temente, menor do que o gasto, por
exemplo, na busca ativa de criadouros
As armadilhas são instrumentos positivos nos imóveis, tal como feito na
ou táticas utilizadas para atrair, coletar pesquisa larvária.
ou causar algum dano aos mosquitos.
Existem diferentes modelos de ar-
Elas são construídas com base em in-
madilhas, entre eles os que atraem os
formações importantes sobre o com-
insetos por fatores físicos (ex.: luz, som
portamento dos mosquitos, tais como
e cor) e/ou químicos (ex.: gás carbônico
alimentação, oviposição, acasalamento
ou CO₂, odores naturais ou sintéticos
e outros. Elas são adequadas para ve-
dos próprios insetos, dos hospedeiros
rificar a presença e a flutuação do ta-
e dos criadouros).
manho da população de uma espécie,

65
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Os insetos, em geral, usam subs- após o inseto perceber o estímulo. Os


tâncias químicas para se comunicar e repelentes são substâncias que podem
estas são chamadas de semioquími- atuar a longa distância, fazendo com
cos, o que significa “sinais químicos”. que os insetos se desloquem para lon-
Os semioquímicos podem servir como ge da fonte de estímulo, em um com-
atraentes ou estimulantes, mas podem portamento de rejeição.
também ser inibidores ou repelentes.
Para funcionar, as armadilhas po-
Os atraentes são responsáveis por in-
dem ou não necessitar de uma fonte de
duzir os insetos ao deslocamento ati-
energia elétrica (baterias). As armadi-
vo em direção à fonte de odor. Já os
lhas “letais” são assim chamadas por-
estimulantes desencadeiam um deter-
que além de atrair também matam os
minado comportamento, por exemplo,
mosquitos. Geralmente, as armadilhas
incentivam a oviposição, a alimentação
letais estão associadas a inseticidas
e outros comportamentos, após o con-
químicos/biológicos ou ainda a subs-
tato físico com a substância. Os inibi-
tâncias adesivas (colas, ceras e outros).
dores provocam resposta de rejeição

Figura 16: Armadilhas utilizadas para captura passiva de mosquitos adultos.

A. B. C. D.

E. F. G.

H. I. J. K.

Fonte: Os autores. Ilustração: Déborah Silva, 2019.

66
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

Os principais tipos de armadilhas estão da no peridomicílio. (Figura 16E) (www.


representados na Figura 16 e descritas bg-sentinel.com).
resumidamente a seguir.
Box Gravid Trap: armadilha contendo
CDC luminosa: armadilha contendo estímulos físicos e/ou químicos utiliza-
estímulos físicos (fonte luminosa) utili- dos para atrair e coletar fêmeas grá-
zados para atrair e coletar mosquitos vidas de Culex spp. e de outros mos-
adultos. É usada nos ambientes in- quitos. É mais usada no peridomicílio.
tra, peri e extradomiciliar. (Figura 16A). (Figura 16F) (www.bioquipinc.com).
(Guia de vigilância do Culex quinque-
Adultrap: armadilha contendo estí-
fasciatus http://www.saude.gov.br/bvs).
mulos físicos e/ou químicos utilizados
New Jersey: armadilha contendo estí- para atrair e coletar mosquitos adultos
mulos físicos (fonte luminosa) utilizados de Aedes spp. e de outros mosquitos.
para atrair e coletar mosquitos adultos. É mais usada no peridomicílio. (Figura
É usada nos ambientes peri e extrado- 16G) (https://twitter.com/adultrapofi-
miciliar. (Figura 16B). (Guia de vigilância cial).
do Culex quinquefasciatus http://www.
MosquiTRAP: armadilha contendo es-
saude.gov.br/bvs).
tímulos químicos utilizados para atrair e
Shannon: armadilha contendo estímu- coletar fêmeas grávidas de Aedes spp.
los físicos (fonte luminosa) utilizados e de outros mosquitos. É mais usada
para atrair e coletar mosquitos adultos. no peridomicílio. (Figura 16H) (http://
É mais usada no ambiente extradomi- v1.ecovec.com).
ciliar. (Figura 16C). (Guia de vigilância
Gravid Aedes Trap (GAT): armadilha
do Culex quinquefasciatus http://www.
contendo estímulos físicos e/ou quí-
saude.gov.br/bvs).
micos, além de superfícies adesivas,
MosqTent: armadilha contendo estí- utilizados para atrair e coletar fêmeas
mulos físicos e/ou químicos utilizados grávidas de Aedes spp. e de outros
para atrair e coletar mosquitos adultos. mosquitos. É mais usada no peridomi-
É usada em ambientes extradomicilia- cílio. (Figura 16I) (https://eu.biogents.
res. (Figura16D) (journals.plos.org/plos- com/bg-gat/).
ntds/journal.pntd.0005245).
Sticky trap: armadilha contendo estí-
BG-Sentinel: armadilha contendo estí- mulos físicos, além de superfícies ade-
mulos químicos utilizados para atrair e sivas, utilizados para atrair e coletar
coletar mosquitos adultos. É mais usa- fêmeas grávidas de Aedes spp. e de

67
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

outros mosquitos. É mais usada no pe- BR-OVT: armadilha contendo estí-


ridomicílio. (Figura 16J) (https://doi.org/ mulos físicos e/ou químicos utilizados
10.1111/j.1365-2915.2007.00680). para atrair e coletar fêmeas grávidas
de Culex spp. e de outros mosquitos.
AedesTrap: armadilha contendo estí-
É mais usada no intradomicílio. (Figura
mulos físicos e/ou químicos, além de
17B) (Guia de vigilância do Culex quin-
superfícies adesivas, utilizados para
quefasciatus http://www.saude.gov.br/
atrair e coletar fêmeas grávidas e ovos
bvs).
de Aedes spp. e de outros mosquitos.
É mais usada no peridomicílio. (Figu- BR-OVT adesiva: armadilha contendo
ra 16K) (https://doi.org/10.1186/1756- estímulos físicos e/ou químicos, além
3305-5-195). de superfícies adesivas, utilizados para
atrair e coletar fêmeas grávidas e ovos
Ovitrampa: armadilha contendo estí-
de Culex spp., Aedes spp. e de outros
mulos físicos e/ou químicos utilizados
mosquitos. É mais usada no intradomi-
para atrair fêmeas grávidas e coletar
cílio. (Figura 17C) (https://repositorio.
ovos Aedes spp. e de outros mosqui-
ufpe.br/handle/123456789/11756).
tos. É mais usada no peridomicílio. (Fi-
gura 17A) (Fay; Eliason, 1966).

Figura 17: Armadilhas utilizadas na coleta de formas imaturas dos gêneros Aedes e Culex.

A A B

C C C

Legenda: A. Ovitrampa; B. BR-OVT; C. BR-OVT adesivas (ovos e adultos).


Fonte: Departamento de Entomologia - Instituto Aggeu Magalhães / Maria Alice V. Melo Santos e
Rosângela Maria R. Barbosa.

68
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

VOCÊ SABIA? VOCÊ SABIA?


Os semioquímicos podem As armadilhas também podem
estabelecer a comunicação entre ser usadas para o controle dos
indivíduos da mesma espécie ou mosquitos.
entre espécies diferentes.

As armadilhas podem também


Feromônios são substâncias quí- auxiliar no controle de mosquitos. Este
micas produzidas pelos insetos, que é um tipo de controle comportamental,
atuam na comunicação entre indivídu- ou seja, aquele que utiliza o comporta-
os da mesma espécie (intraespecífico), mento da própria espécie-alvo associa-
podendo agir na fisiologia e no desen- do a um instrumento para seu controle.
volvimento dos indivíduos, quando são Um exemplo desta metodologia é o uso
denominados “preparadores”. Em ou- de um grande número de ovitrampas
tros casos, os feromônios têm um efei- em uma mesma localidade, por exem-
to “desencadeador”, quando induzem plo em um bairro, para coletar e elimi-
uma ação imediata no comportamen- nar massivamente ovos de Ae. aegypti.
to dos indivíduos (ex.: acasalamento, Estudos no Brasil revelam o grande po-
agregação, dispersão, fuga, territoria- tencial desta metodologia de controle e
lidade, trilha, oviposição, entre outros). destacam a importância e possibilida-
de da participação comunitária na sua
Aleloquímicos são substâncias
aplicação em campo.
químicas produzidas pelos insetos, mas
neste caso atuam na comunicação en- Outro modelo de armadilha, a es-
tre espécies diferentes (interespecífico). tação disseminadora de inseticidas
Podem ser chamados de cairomônios, (ED), apesar de não coletar ou matar
quando a espécie que recebe o estímulo mosquitos adultos, permite que estes a
se beneficia, alomônios, quando a es- visitem livremente como um local para
pécie que produz a substância e emite oviposição ou repouso, mas as EDs es-
o estímulo se beneficia, e sinomônios, tão na verdade impregnadas com inse-
quando a espécie que produz/emite e a ticidas. Neste caso, os mosquitos visi-
que recebe o estímulo são beneficiadas. tam a armadilha e se contaminam com

69
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

o inseticida em pó, umedecido e apli- bopictus, especialmente os microcria-


cado a um tecido de cor preta, o qual douros que só a fêmea do mosquito
reveste a parte interna do recipiente é capaz de localizar, por ser de difícil
contendo água; os mosquitos contami- acesso ou por não estar visível aos
nados levam, passivamente, partículas olhos dos Agentes de Endemias, em
do produto inseticida aderidas ao seu campo. As UD-pyriproxyfen ainda es-
corpo, para outros criadouros. Por isso, tão em fase de teste em algumas cida-
esta armadilha é chamada de dissemi- des brasileiras, mas também revelam
nadora ou dispersora de inseticidas, grande potencial para uso associado
embora o mosquito seja o veículo da a outras ações de controle de Ae. ae-
disseminação (Figura 18). gypti. Existem ainda armadilhas tipo UD
contendo fungos entomopatogênicos
As EDs não precisam ser utiliza-
que podem ser usados no controle bio-
das em grande número. O pyriproxyfen
lógico de mosquitos (www.in2care.org).
tem sido o inseticida mais empregado
nesta combinação, por eliminar larvas e
pupas dos mosquitos com doses muito
baixas e poder ser usado, com segu-
O que são instrumentos de
rança, também em água potável. Este
busca ativa para captura de
processo de disseminação do produto mosquitos adultos?
potencializa a cobertura de tratamento
dos criadouros de Ae. aegypti e Ae. al-
Figura 18: Armadilha utilizada como Estação A captura de mosquitos adultos
Disseminadora (ED) de pyriproxyfen.
por busca ativa se caracteriza pela pre-
sença do operador manipulando instru-
mentos, como capturador, aspirador ou
puçá, para a captura dos indivíduos em
locais de repouso (paredes, tetos, mó-
veis, plantas) e/ou em atividade, por um
dado período de tempo.

Aspirador entomológico: exis-


tem diferentes modelos e tamanhos de
aspiradores elétricos utilizados para a
captura de insetos, que permitem, ao
Fonte: Departamento de Entomologia - Instituto operador, maior eficiência e rendimen-
Aggeu Magalhães / Maria Alice V. Melo Santos.

70
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

to para a obtenção da amostra. Podem Puçá ou rede entomológica: o


ser úteis para locais de difícil acesso, instrumento está constituído por um
como embaixo ou atrás de móveis, aro de arame ou alumínio, revestido
abrigos em diferentes alturas, ocos de por um saco de tecido leve, com ma-
árvore, tocas de animais, margens de lha fina e transparente, preso a uma
canais, córregos, lagoas, bueiros e ga- haste (Figura 19D).
lerias (Figuras 19A e 19B).

Capturador de Castro: consiste


em um tubo transparente (plástico ou
Por que utilizamos
vidro) provido de uma tela fina, em uma
instrumentos para coletar
das extremidades, seguida ou não de os mosquitos?
um filtro EPA, ao qual se liga a uma man-
gueira flexível para sucção dos insetos
pelo operador (Figura 19C). Esse méto- A efetividade da vigilância de-
do é quantitativo (número de mosquitos pende da sensibilidade dos índices
por tempo de captura) e pode ser usado entomológicos, que por sua vez, de-
no intra, peri e extradomicílio, em captu- pendem dos indicadores, os quais
ras feitas em locais de repouso. também dependem da aparelhagem

Figura 19: Instrumentos utilizados na captura ativa de mosquitos.

A B D

Puçá do aspirador elétrico


com amostra de mosquitos
capturados

Aspirador entomológico
movido a bateria Capturador de Castro Puçá

Fonte: Departamento de Entomologia/Instituto Aggeu Magalhães/ Maria Alice V Melo Santos, Ro-
sângela Maria R Barbosa e Gabriel L Wallau.

71
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

técnica (instrumentos) utilizada para a Local de instalação:


coleta regular das amostras da espé-
• Ovitrampa: área peridomiciliar em
cie-alvo.
local protegido do sol, da chuva e
O levantamento do índice entomo- da circulação de animais, a 0,5 a 1,2
m do chão (Figura 17A).
lógico é feito para conhecer e estimar
a distribuição, densidade e dinâmica • BR-OVT: área intradomiciliar (ex.:
populacional da espécie-alvo (moni- salas, quartos, banheiros) ou ainda
toramento). No caso dos mosquitos na área peridomiciliar (ex.: terraço)
e outros insetos holometábolos, eles (Figura 17B).
podem ser estimados por indicadores
Permanência em campo: 7, 15 ou 30
baseados na coleta de ovos, larvas, pu-
dias.
pas e adultos (Quadro 2).
___________________________________

Método para coleta de larvas

Nesse contexto, o que Instrumento: conchas com cabo de


significa monitorar? madeira/alumínio ou pesca larvas.

Conteúdo: recipientes para coloca-


Significa acompanhar e avaliar os ção das amostras de água coletadas
dados obtidos das amostras da espécie- na concha, em criadouros ao solo. No
-alvo, representativas do local, ao longo caso dos criadouros artificiais, frequen-
do tempo, coletadas por instrumentos, temente colonizados por Ae. aegypti,
como armadilhas, capturadores e ou- utilizar o pesca larva.
tros, já mencionados no tópico anterior.
Local de coleta das amostras:
Métodos para a coleta de ovos
• Criadouros de pequeno porte, de-
Instrumentos: armadilhas dos modelos limitados: quatro amostras nas la-
ovitrampa e BR-OVT. A primeira é indi- terais e uma no centro (ex.: fossas e
cada para coletar ovos de mosquitos do caixas de inspeção) (Figura 20).
gênero Aedes e a segunda para coletar
ovos dos gêneros Culex e Aedes. • Criadouros abertos e extensos
(solo): coletas sucessivas nas mar-
Composição: suporte para colocação gens a cada um ou dois passos,
dos ovos (palheta ou tecido), água e alternadamente em cada margem
um larvicida. (ex.: valeta, canal, lago).

72
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

Figura 20: Coleta de larvas e pupas de mosquitos em criadouros tipo fossa através do método de
conchada para estimar a densidade populacional de larvas.

A B

Criadouro tipo caixa de passagem e instru- Detalhe da concha cotendo larvas e pupas
mento de coleta tipo “concha”

Fonte: Departamento de Entomologia - Instituto Aggeu Magalhães / Cláudia Maria F. Oliveira.

• Criadouros artificiais (reserva- de animais, no chão (ex.: BG-Senti-


tórios de água e outros): coletar nel, Gravid-Trap, BR-OVT adesiva).
as larvas e pupas com pesca lar-
va, transferir para um recipiente de • Área intradomiciliar (ex.: salas, quar-
cor clara e remover com uma pipe- tos, banheiros) ou ainda na área pe-
ta para um tubo contendo álcool a ridomiciliar (ex.: terraço), suspensas
70%. a 1 ou 2 m do chão (ex.: CDC lumi-
nosa).
Frequência da coleta: 7, 15 ou 30 dias.
Frequência de permanência em cam-
___________________________________
po: de 6 a 24h, a cada 7, 15, 30 ou 60
Método para coleta de adultos dias.

Instrumentos: armadilhas de diferen-


tes modelos, aspiradores e puçá.

Conteúdo: sacos ou potes entomoló-


gicos para transporte dos mosquitos
vivos. Suportes adesivos contendo os VOCÊ SABIA?
mosquitos aprisionados.
É possível investigar a circulação
Local de instalação: de patógenos em amostras de
mosquitos.
• Área peridomiciliar em local protegi-
do do sol, da chuva e da circulação

73
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

As amostras de mosquitos adul- a realização desta técnica é importan-


tos, especialmente as fêmeas, podem te que as amostras sejam bem preser-
ser usadas para detectar a presença de vadas após a coleta, o que pode exigir
um patógeno. Este procedimento cha- em alguns casos, o seu congelamento
ma-se xenodiagnóstico e deve ser fei- rápido ou o transporte em gelo seco,
to de forma rotineira no âmbito de um principalmente quando se tratar da de-
Programa de Controle, neste caso, isso tecção de vírus.
é chamado de xenomonitoramente. A
palavra xenomonitoramento tem ori-
gem no termo xenodiagnóstico (do in-
glês “xenodiagnosis”), introduzido pelo 7. O que é preciso para
pesquisador Brumpt em 1914, quando planejar e executar um
utilizava barbeiros como indicador da programa de controle de
infecção por Trypanosoma cruzi em hu- mosquitos?
manos (doença de Chagas).

Sendo assim, no caso dos mos- A primeira etapa para o planeja-


quitos, o método de coleta das fêmeas, mento de um programa de controle ve-
alimentadas ou não com sangue, e sua torial é definir qual a espécie de mos-
integridade são fundamentais para o quito que está causando danos e quais
xenomonitoramento de arbovírus, ver- as características da área-problema,
mes filariais, plasmódios e outros pató- tais como clima, situação ambiental,
genos. identificação dos criadouros usados
pelos mosquitos. Além disso, como a
A partir das informações do xeno-
participação da comunidade é essen-
diagnóstico é possível estimar a Taxa
cial em um programa, é também ne-
de Infecção e a Taxa de Infectivida-
cessário levar em conta o que as pes-
de. Os cálculos da Taxa de Infecção
soas sabem sobre os mosquitos, o que
são feitos por um modelo estatístico,
pensam sobre eles, de onde vêm, o que
considerando o número de grupos de
provocam, como as pessoas convivem
fêmeas analisados (pools) e o número
com sua presença e o quanto estão
total de pools positivos. Enquanto que
dispostas a ajudar.
a Taxa de Infectividade considera o
número de pools analisados em relação A partir das informações, deve-
ao número total de pools positivos para -se estabelecer um plano de ação para
a forma infectante do patógeno. Para reduzir a população de mosquitos ba-

74
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

Quadro 2. Índices entomológicos estimados por indicadores baseados na coleta de ovos, larvas,
pupas e adultos de mosquitos.

Fonte: Adaptado de Gomes (1998) e Brasil, (2013).

75
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

seado na avaliação entomológica. É toda a equipe de campo, fazer o aper-


necessário, por exemplo, fazer um le- feiçoamento e avaliação contínuos da
vantamento entomológico da área, ação destas equipes e ter o gerencia-
antes de decidir qual e como fazer mento necessário. Também deve haver
qualquer ação de controle. No Gráfi- os recursos necessários para aquisição
co 1, observa-se que na área avaliada de insumos, equipamentos e custos de
ocorrem várias flutuações na densida- outras ações previstas de educação e
de de mosquitos. O número médio de mobilização da comunidade residente
mosquitos/casa/coleta é de 30 adultos, na área de controle. Definir os indica-
levando em consideração todos os me- dores entomológicos (coleta de ovos,
ses. Assim, antes de iniciar o controle é larvas-pupas ou adultos); escolher cor-
preciso decidir qual o nível de redução retamente a técnica e os instrumentos
que se pretende alcançar. Se for feita a serem usados para coletar o material
uma redução de 80%, então, a média biológico (ex.: armadilhas de ovos, co-
de mosquitos adultos/casa/coleta deve leta de larvas com conchas, aspiração
cair de 30 para 6 adultos/casa/coleta. de adultos e armadilhas de adultos).

Outro aspecto essencial é fazer Estes métodos deverão estimar a


um treinamento de alta qualidade para densidade antes e depois da interven-

Gráfico 1. Densidade de adultos de Culex coletados com armadilha do tipo CDC, que mostra as
flutuações encontradas ao longo do ano.

Fonte: Os autores, 2019.

76
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

ção. No Gráfico 2 é mostrado um exem- to de novos criadouros em uma área


plo de queda da densidade de larvas e sempre está ocorrendo e desta forma é
pupas, principalmente nos meses mais possível garantir que o tratamento está
críticos. Os dados coletados precisam sendo feito no maior número possível
ser registrados em um sistema infor- de criadouros de uma área (Gráfico 3).
matizado para gerar mapas, relatórios
e outras informações para fornecer o
diagnóstico entomológico da área (Fi-
gura 21).

Durante o programa de controle, VOCÊ SABIA?


é importante executar as ações com ri-
gor, acompanhar a densidade através
O mapeamento de criadouros
dos índices entomológicos escolhidos de uma área tem que ser
e avaliar os resultados. O monitoramen- periodicamente atualizado. Isto
é necessário porque em áreas
to da densidade de mosquitos pode urbanas há mudanças constantes
ser feito mensalmente e a reavaliação como reformas de casas, novas
construções, casas que são
do mapeamento de criadouros da área fechadas e outras que passam a
tem que ser feito periodicamente (ex. ter moradores.
semestral ou anual), pois o surgimen-

Figura 21. Mapa tipo “Kernel” que mostra uma área com maior (laranja) e menor (azul) densidade
de ovos coletados em armadilhas (ovitrampas) usadas em um município, antes e após intervenção
de controle para avaliação do seu resultado.

MIN: = 67 MIN: = 0
MÁX = 6027 MÁX = 1035

ANTES DO TRATAMENTO APÓS O TRATAMENTO

Fonte: Adaptado de Regis et al. (2013).

77
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Gráfico 2. Densidade larvas/pupas de mosquitos antes (acima) e depois da intervenção de controle


(abaixo).

Fonte: Os autores, 2019.

78
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

Gráfico 3. Aumento do número de criadouros após revisão de mapeamento.

Nota: Gráfico mostrando redução da densidade de mosquitos adultos após aumento do número
de criadouros tratados a partir do 13º mês.
Fonte: Os autores, 2019.

Este gráfico mostra que quanto maior Para controle de adultos, estão exem-
for o número de criadouros tratados, plificadas ações de aplicação de adul-
menor será o número de adultos cole- ticidas (spray) espacial, UBV, aplicação
tados, comprovando assim o efeito do no interior de casas, proteção pessoal
tratamento no controle da densidade através do uso de mosquiteiros e re-
populacional dos mosquitos. pelentes. Novos métodos aplicados
na fase adulta, como armadilhas letais,
Para encerrar este módulo, a Fi-
iscas tóxicas e outras, também estão
gura 22 resume os agentes e métodos
exemplificadas. Na parte inferior são ci-
que podem ser aplicados para o con-
tados alguns métodos que ainda estão
trole na fase de ovos-larvas e pupas
em fase de testes, incluindo métodos
(esquerda), e na fase adulta (direita).
com base genética, como as técnicas
Vários métodos descritos neste módulo
de liberação de mosquitos irradiados,
estão localizados na parte superior da
mosquitos transgênicos e mosquitos
figura. Para o controle de larvas, podem
infectados com a bactéria Wolbachia.
ser destacadas as ações de eliminação
de recipientes e tratamento destes com
agentes químicos, biológicos ou IGRs.
As campanhas de educação, limpeza
e organização dos ambientes para re-
duzir criadouros, também são citadas.

79
MÉTODOS EM MÉTODOS
DESENVOLVIMENTO EXISTENTES

Novos Fungos com ações em Mosquitos Controle de formas jovens


Principais categorias
- Limpeza de recipientes (lavagem, uso de cloro-água sanitária)
OVO
- Proteção de recipientes (telas, tampas)
- Tratamento de criadouros (vide opções abaixo)
- Ações comunitárias (educação, eliminação de criadouros)
- Manejo ou gestão ambiental
FASES
DA LARVA - Legislação
LARVA
1o
2 o
3o Água Sanitária
4o Tratamento de criadouros-recipientes
Inseticidas: - Temephos - Spinosad
- Novaluron - Bti - L. sphaericus
PUPA Predadores como
Metopreno, Pyriproxyfen microcrustaceos e peixes

Controle genético, comportamental


e novos inseticidas MUDA
Controle de adultos
IMAGINAL Principais categorias (vide opções abaixo)
- Aplicação espacial de adulticidas
RIDL ou liberação - Aplicação intra-domiciliar de adulticidas
de adultos trangênicos (residual)
- Proteção pessoal
ACASALAMENTO

Aplicação espacial de adulticidas:


Em veículo usando ultra-baixo-volume (UBV),
Iscas açucaradas tóxicas aplicação peri-focal com dispositivos
ALIMENTAÇÃO manuais (bomba costal)
COM AÇUCAR
Mosquitos ingectados
com a bactéria Wolbachia,
técnica de paratransgênesis ALIMENTAÇÃO - Repelentes (Deet, picaridina)
COM SANGUE - Roupas/Calçados
MODIFICAÇÃO DE - Mosquiteiros
COMPORTAMENTO - Raquetes
REPOUSO Uso de adulticidas via spray
Telas, cortinas e aplicação
no intradomicílio
de inseticida residual nas casas

POSTURA
Armadilhas para DE OVOS
ovos-ovitrampas letais,
e armadilhas de
autodisseminação

Figura 22: Resumo de agentes e métodos usados para o controle de mosquitos na fase jovem
como ovos-larvas-e pupas (parte superior) e na fase adulta (parte inferior).
Fonte: Adaptado de Achee et al. (2019). Infografia: Túlio Mesquita, 2019.
Capítulo 2 - Controle de Mosquitos

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Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

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84
CAPÍTULO 3
AVANÇOS NA PESQUISA
QUANTO AO CONTROLE
VETORIAL

Autores
Alessandra Lima de Albuquerque
Constância Flávia Junqueira Ayres
Eloína Maria de Mendonça Santos
Gabriel da Luz Wallau
Tatiany Patrícia Romão Pompílio de Melo
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

3
AVANÇOS NA
PESQUISA QUANTO
AO CONTROLE
VETORIAL

OBJETIVO

Espera-se que ao término deste módulo o participante esteja informado


sobre os principais avanços científicos no desenvolvimento de novas me-
todologias para o controle de mosquitos. Maior enfase é dada às metodo-
logias de controle genético com o uso de mosquito transgênico e a libera-
ção de machos estéreis, bem como, controle biológico com a liberação de
mosquitos infectados com bactérias do gênero Wolbachia.

As estratégias e ferramentas, hoje


disponíveis e aplicadas ao controle
das populações de mosquitos veto-
1. O que são mosquitos
res, ainda estão muito concentradas no
transgênicos?
uso tradicional dos inseticidas quími-
cos. Entretanto, estas estratégias, em
Os mosquitos, como todos os se-
muitos casos, não se mostraram sufi-
res vivos, armazenam em seu material
cientemente efetivas para conter, por
genético (genoma ou conjunto de ge-
exemplo, a transmissão das arboviro-
nes) as informações referentes às suas
ses. Esta situação tem levado a busca
características biológicas, como, por
por novas tecnologias, algumas volta-
exemplo, formato dos ovos, resistên-
das ao controle genético dos vetores,
cia a inseticidas, susceptibilidade aos
utilizando mosquitos transgênicos e
patógenos, entre outras. Estas infor-
mosquitos transfectados com a bac-
mações são passadas de uma gera-
téria simbionte Wolbachia, tal como
ção para outra pela herança dos genes.
referido no Módulo 2.

86
Figura 1: Exemplo simplificado das etapas de modificação de mosquitos através da transgenia.
Fonte: Os autores. Ilustração: Déborah Silva, EAD Fiocruz PE, 2019.
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

Assim, para transformar os mosquitos contra o mosquito Ae. aegypti, porém,


vetores em mosquitos ineficientes na estudos adicionais são necessários
transmissão de patógenos, o seu perfil para avaliar o custo-benefício de sua
genético é modificado pela introdução implementação em larga escala. Adi-
de genes estranhos (exógenos) na sua cionalmente, há ainda a preocupação
linhagem germinativa (geralmente ovos com relação à segurança ambiental e
embrionados). Essa modificação gené- à viabilidade destas tecnologias. Des-
tica permite que o mosquito apresente ta forma, a Organização Mundial de
uma nova característica que não tinha Saúde destaca a necessidade de se
antes, e que é favorável ao controle da buscar evidências do impacto destas
transmissão de patógenos. novas ferramentas. Até o momento, só
existem mosquitos transgênicos para
Duas diferentes abordagens po-
as espécies Ae. aegypti e Anopheles
dem ser realizadas quando se pensa
gambiae, fazendo com que essa abor-
em mosquitos transgênicos: I - inserir
dagem não seja atualmente aplicável
genes que deixam os mosquitos refra-
para outras espécies de mosquitos
tários aos patógenos (não transmisso-
vetores. Mais informações sobre uma
res), visando a substituição da popu-
iniciativa de controle de Ae. aegypti no
lação natural pela refratária e II - inserir
Brasil através da técnica de liberação
genes que deixam a prole inviável, ou
de mosquitos transgênicos podem ser
que seletivamente matem determinado
consultadas em https://www.oxitec.
estágio de vida (larva) ou sexo (fêmea),
com/friendly-mosquitoes/brazil/.
ocasionando a supressão e/ou elimi-
nação da população (Figura 1). Questões a serem resolvidas
antes da liberação dos transgênicos
Para produzir um mosquito trans-
no ambiente!
gênico é necessário que alguns peda-
ços ou fragmentos de DNA sejam in- Importantes avanços de interesse
troduzidos na população de mosquitos médico foram alcançados no processo
de laboratório, fazendo com que seus de transgenia de mosquitos, e vários
descendentes sejam refratários aos pa- projetos pilotos estão atualmente em
tógenos ou não sobrevivam à fase de execução. Entretanto, ainda existem
larva (Figura 1). muitas questões que precisam ser es-
clarecidas antes da liberação dos trans-
Mosquitos transgênicos já estão
gênicos em larga escala no ambiente,
sendo utilizados em algumas cidades
são elas: 1. Os novos mosquitos re-
no Brasil com resultados promissores

88
Capítulo 3 - Avanços na Pesquisa Quanto ao Controle Vetorial

fratários terão o mesmo desempenho de suas células são então denomina-


reprodutivo que a população natural? dos de simbiontes intracelulares. Entre
2. Qual o tempo que levará para a fi- eles, as bactérias do gênero Wolbachia
xação do novo gene na população? 3. destacam-se por seu sucesso de dis-
O gene de refratariedade tem 100% de persão nas populações de artrópodes.
efetividade na redução da transmissão Como simbionte, essas bactérias se re-
do patógeno? 4. Qual o número de es- lacionam com seus hospedeiros e po-
pécies e populações naturais do vetor dem provocar uma ampla variedade de
que devem ser substituídas? 5. Qual o interações, como, por exemplo, altera-
local ideal para a realização dos testes ções na reprodução ou na duração do
pilotos em campo? 6. Existe um plano ciclo de vida dos insetos.
emergencial de segurança caso ocorra
A multiplicidade de interações en-
a perda de controle dos transgênicos
tre a Wolbachia e os insetos tem des-
liberados no ambiente?
pertado o interesse do uso desse sim-
A avaliação da efetividade do me- bionte no controle das populações de
canismo de refratariedade empregado mosquito. A incompatibilidade citoplas-
no controle da doença e dos riscos am- mática (IC), resultante da infecção por
bientais são fatores cruciais no processo Wolbachia, é um processo muito co-
de liberação destes mosquitos. É impor- mum nos mosquitos. A IC ocorre quan-
tante ter em mente que a associação de do diferentes populações portadoras de
estratégias de controle é o melhor cami- uma ou mais linhagens de Wolbachia,
nho na luta contra diferentes patógenos também diferentes, cruzam e não pro-
transmitidos por mosquitos. duzem descendentes, ou seja, a morta-
lidade ocorre ainda na fase embrionária
(Figura 2). Existe também a possibilida-
de de machos infectados com Wolba-
2. Como bactérias chia acasalarem com fêmeas não infec-
simbiontes intracelulares tadas e os embriões resultantes deste
(Wolbachia) podem auxiliar cruzamento também serem inviáveis,
no controle de mosquitos? neste caso ocorreu a IC unidirecional.

Essa abordagem que utiliza a IC


Como na maioria dos insetos, os também é conhecida como a Técnica
mosquitos também hospedam micror- do Inseto Incompatível (TII) e é seme-
ganismos, e aqueles que vivem dentro lhante à Técnica do Inseto Estéril (TIE)

89
Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

descrita no Módulo 2. A TII utiliza a IC vírus dengue, Zika e chikungunya. Essa


através da liberação em massa de ma- estratégia, tem sido utilizada em várias
chos incompatíveis, infectados com cidades brasileiras, está baseada na li-
Wolbachia diferentes das encontradas beração em massa de mosquitos ma-
na população natural. Essa técnica tem chos e fêmeas adultos infectados com
demonstrado o seu potencial como al- Wolbachia (linhagem wMelPop) que
ternativa à TIE. A TII já vem sendo uti- irão acasalar com os mosquitos que
lizada nos Estados Unidos da América ainda não possuem esse endosimbion-
para o controle populacional de Aedes te. Este cruzamento dará origem a des-
albopictus. Nesta abordagem, machos cendentes infectados com Wolbachia,
infectados com Wolbachia são libera- que têm uma capacidade reduzida de
dos para cruzar com as fêmeas selva- transmitir o vírus dengue. Com o pas-
gens, que não tem Wolbachia ou estão sar do tempo, os mosquitos com Wol-
infectadas com uma linhagem diferen- bachia substituirão completamente a
te, e assim, seus descendentes não se população natural, diminuindo assim
desenvolverão. Se a liberação dos ma- a taxa de transmissão do vírus ao ser
chos na área de controle for contínua, a humano. Mais informações sobre uma
estratégia irá provocar a redução popu- iniciativa de controle de Ae. aegypti
lacional desta espécie (Figura 2). através da liberação de mosquitos in-
fectados com a bactéria Wolbachia, em
Apesar da bactéria Wolbachia
andamento no Brasil e outros países
ocorrer naturalmente em várias espé-
(“World Mosquito Program”), podem
cies de mosquitos, ela está ausente em
ser consultadas em https://www.world
outros, como, por exemplo, na maioria
mosquitoprogram.org.
das populações de Ae. aegypti. Entre-
tanto, ela pode ser artificialmente in-
troduzida e usada para o controle po-
pulacional desta espécie. Além disso, 3. Como o sequenciamento
dependendo da variedade de Wolbachia de DNA pode ajudar nos
usada nas infecções artificiais de mos- estudos sobre mosquitos?
quitos, é possível até levar à inibição da
infecção dos mosquitos por patógenos
através da substituição das populações O sequenciamento de ácido de-
selvagens, tornando-se uma ferramen- soxirribonucleico (DNA) revolucionou a
ta promissora nos programas de con- pesquisa dos seres vivos, pois permi-
trole. Isso já foi demonstrado para os tiu conhecermos em detalhe as infor-

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Capítulo 3 - Avanços na Pesquisa Quanto ao Controle Vetorial

Figura 2: Uso da Wolbachia no controle de mosquitos vetores


Fonte: Adaptado/Traduzido com a permissão de Springer Nature: Nature Reviews Microbiology.
HEATHER A. Flores et al, 2018. Ilustração: Déborah
91 Silva, EAD Fiocruz PE, 2019.
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mações moleculares dos organismos sequenciar com maior detalhamento


contidos na dupla fita de DNA (Figura cada informação contida no genoma
3). Essas informações estão organiza- dos mosquitos, permitindo assim ob-
das como “uma receita de bolo”, em servar as regiões do DNA que diver-
que regiões do DNA podem ser ativa- gem mais ou menos entre as espécies
das e produzir proteínas, as quais terão e analisar o quanto elas variam dentro
funções específicas no organismo. Por de cada espécie.
exemplo, as proteínas da cutícula que
revestem o corpo dos mosquitos são
produzidas, inicialmente, a partir de um
pedaço de DNA dos organismos em Mas qual a importância
uma determinada fase de desenvolvi- de se observar a variação
mento. na sequência de DNA dos
mosquitos para o controle
Figura 3: Estrutura da molécula de DNA no for-
mato de dupla hélice e os quatro nucleotídeos vetorial?
que compõem essa molécula

Um bom exemplo para evidenciar


a aplicabilidade do sequenciamento
de DNA, na tomada de decisões sobre
o controle vetorial, é a sua utilização
para detectar e monitorar mosquitos
resistentes a determinados inseticidas
em campo. Existe uma ampla gama
de inseticidas químicos e biológicos,
já referidos no Módulo 2, que podem
ser utilizados para o controle vetorial.
Entretanto, também sabemos que o
uso excessivo e prolongado de um
mesmo inseticida pode levar à seleção
de mosquitos resistentes, e essa resis-
tência está diretamente ligada a mu-
Fonte: Os autores. Ilustração: Déborah Silva
Silva, EAD Fiocruz PE, 2019. danças no DNA dessas espécies. Por
A partir do momento em que a exemplo, alterações na sequência do
nossa capacidade de realizar o sequen- DNA podem levar a uma mudança na
ciamento de DNA evoluiu, foi possível estrutura da molécula alvo de ligação

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Capítulo 3 - Avanços na Pesquisa Quanto ao Controle Vetorial

do inseticida (ou receptor), alterando a quito de forma mais eficiente. Esse pro-
forma de ligação ou até mesmo impe- cesso leva a uma mudança no metabo-
dindo a ligação do composto, como se lismo do inseto, desencadeando o que
fosse uma chave errada na fechadura. chamamos de resistência metabólica.
Essas variações no DNA podem ser Assim, os mosquitos que têm essa alte-
monitoradas nas populações de cam- ração no DNA não são mais eliminados
po através de técnicas de biologia mo- pelo uso do mesmo inseticida.
lecular (Figura 4).
Utilizando o sequenciamento de
Outra forma de resistência a inse- DNA, podemos então detectar se as
ticidas químicos, amplamente conheci- mudanças ligadas à resistência a um
da, ocorre devido às mudanças no DNA dado inseticida, podem também com-
de determinados genes que codificam prometer a ação de outros inseticidas,
para uma proteína/enzima com alta processo conhecido como resistência
capacidade de desintoxicação. Neste cruzada. Para evitar a resistência é ne-
caso, essa enzima torna-se capaz de cessário fazer a rotatividade entre os
eliminar o inseticida do corpo do mos- inseticidas.

Figura 4: Gel de agarose mostrando amostras de Aedes aegypti da Ilha da Madeira-Portugal ava-
liadas para a mutação KDR F1534C que confere resistência ao DDT e piretróides.

Nota: A foto mostra a maioria dos indivíduos resistentes com o genótipo homozigoto (RR) e desta-
ca um indivíduo heterozigoto (RS) e outro susceptível homozigoto (SS).
Fonte: Gonçalo Seixas do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).

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Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

A técnica de sequenciamento do A informação contida em regiões


RNA – do inglês, Ribonucleic Acid – específicas do genoma é única para
identifica moléculas muito parecidas cada espécie e pode funcionar como
com o DNA. As moléculas de RNA são um “código de barras” tanto para iden-
geradas a partir da informação conti- tificação de espécies de mosquitos
da no DNA, em uma etapa preliminar como também de patógenos. Com
à produção de uma proteína. Assim, o esse tipo de estudo, é possível também
sequenciamento de RNA poderia de- saber se a espécie do mosquito e a va-
tectar se uma determinada proteína/ riedade do patógeno são conhecidas
enzima está sendo produzida em maior ou não. Baseado nessas informações é
quantidade e se há alguma relação com possível definir também se as ações de
o estado de resistência apresentado controle adotadas estão sendo efetivas
pelos mosquitos. para diminuir a população do mosquito
e reduzir a transmissão viral da doença.

E quanto aos patógenos


transmitidos pelos vetores 4. Como meu trabalho,
e as diferentes espécies como Agente de Endemias
de mosquitos, o que o ou de Vigilância Ambiental,
sequenciamento de DNA pode ajudar na pesquisa
pode nos informar? realizada no Brasil?

O sequenciamento de DNA pode Todas as técnicas abordadas nes-


fornecer informações sobre quais pató- se Módulo têm o propósito de demons-
genos estão circulando nas populações trar a importância dos avanços tecnoló-
de mosquitos vindos do campo. Para gicos no controle vetorial. Nas diversas
tanto, deverá ser feita a investigação etapas da pesquisa, é possível perce-
da infecção vetorial para a detecção ber a grande importância das ativida-
do(s) patógeno(s). A partir de amostras des de vigilância e controle realizadas
de mosquitos é possível extrair o ma- pelos serviços de saúde. Durante esse
terial genético, amplificá-lo pela técnica processo, um trabalho bem realizado,
de reação em cadeia da polimerase, ou com um profissional bem treinado, faz
PCR, do inglês Polymerase Chain Re- toda a diferença. Em todos os estudos,
action e, em seguida sequenciar o pro- o acondicionamento do material bioló-
duto de PCR, tanto do mosquito quan- gico é crucial para se realizar análises
to do patógeno. moleculares posteriores, como, por

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Capítulo 3 - Avanços na Pesquisa Quanto ao Controle Vetorial

exemplo, a identificação das espécies A ciência desempenha o papel pri-


via código de barra, a presença de pa- mordial de buscar respostas e soluções
tógenos nos mosquitos ou a detecção para os problemas que surgem, mas só
de mutações no DNA que causam re- através da colaboração com os mora-
sistência aos inseticidas. Desta forma, dores das comunidades é que realmen-
é importante ficar atento aos protocolos te conseguimos fazer um bom trabalho.
e treinamento realizados pelas equipes Muitas vezes, quem estabelece o ca-
de pesquisa antes da execução dos minho de diálogo entre os moradores e
projetos, pois estas moléculas (DNA e os pesquisadores são os Agentes que
RNA) são relativamente fáceis de so- trabalham em campo. Por isso, refor-
frerem degradação. Por isso, uma boa çamos aqui a importância da qualida-
preservação e transporte de amostras é de no trabalho realizado pelos Agentes
crucial para o desenvolvimento da pes- em campo no controle dos mosquitos
quisa. vetores. Juntos podemos fazer muito
mais!

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Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle

REFERÊNCIAS

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