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THIEME
318 Febrasgo Statement
Pré-eclâmpsia/Eclâmpsia
Pré-eclâmpsia/Eclâmpsia
José Carlos Peraçoli1 Vera Therezinha Medeiros Borges1 José Geraldo Lopes Ramos2
Ricardo de Carvalho Cavalli3 Sérgio Hofmeister de Almeida Martins Costa2
Leandro Gustavo de Oliveira1 Francisco Lazaro Pereira de Souza4 Henri Augusto Korkes5
Ione Rodrigues Brum6 Maria Laura Costa do Nascimento7 Mário Dias Corrêa Junior8 Nelson Sass9
Angélica Lemos Debs Diniz10 Edson Viera da Cunha Filho11
1Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade Médica de Botucatu Address for correspondence José Carlos Peraçoli, PhD, Departamento
School, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, de Ginecologia e Obstetrícia, Escola de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual
Botucatu, SP, Brazil Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Avenida Prof. Mário Rubens Guimarães Montenegro,
2Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina, sn. Distrito de Rubião Junior, Botucatu, SP 18618-687, Brazil (e-mail:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brazil jperacolifmb@gmail.com).
3Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brazil
4Department of Tocoginecology, Centro Universitário Lusíada, Este documento foi elaborado pela Comissão Nacional Especializada de Hipertensão
Santos, SP, Brasil na Gestação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
5Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina, Obstetrícia - FEBRASGO.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil
6Departamento de Saúde Materno-Infantil, Faculdade de Medicina,
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, Brazil
7Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina
Sciences, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brazil
8Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brazil
9 Paulista School of Medicine, Universidade Federal de São Paulo,
São Paulo, SP, Brazil
10Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina,
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brazil
11Centro de Formação em Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina, Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brazil
resposta inflamatória sistêmica, desequilíbrio angiogênico e estado Pré-eclâmpsia: manifestação de hipertensão arterial após a
nutricional deficiente.17,18 Para 20ª semana de gestação associada a proteinúria significativa.
melhorar a compreensão da fisiopatologia da pré-eclâmpsia, Embora esta associação seja considerada classicamente,
as teorias mais importantes foram integradas em duas etapas (pré- atualmente a presença de proteinúria não é obrigatória para o
clínica e clínica) descritas por Redman et al.19 No No primeiro diagnóstico de pré-eclâmpsia. Se a hipertensão, após a 20ª
estágio, alterações no desenvolvimento placentário e alterações semana, estiver associada a comprometimento sistêmico ou lesão
insuficientes na circulação uterina são decorrentes da hipóxia do de órgão-alvo (trombocitopenia, disfunção hepática, insuficiência
tecido placentário e, principalmente, do fenômeno de hipóxia e renal, edema pulmonar, eclâmpsia iminente ou eclâmpsia), a
reoxigenação, e proporcionam o desenvolvimento de estresse doença deve ser diagnosticada mesmo na ausência de proteinúria.
oxidativo e de produção excessiva de fatores inflamatórios e A associação de hipertensão arterial com sinais de
antiangiogênicos .20 No segundo estágio, a disfunção placentária comprometimento placentário, como restrição de crescimento fetal
e os fatores que ela libera danificam o endotélio de forma e/ou alterações dopplervelocimétricas, também deve chamar
sistêmica, resultando no aparecimento de hipertensão e no atenção para o diagnóstico de pré-eclâmpsia, mesmo na ausência de proteinúria.
comprometimento de órgãos-alvo. As alterações glomerulares Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia sobreposta: esse
(glomeruloendoteliose) são as mais características e são diagnóstico deve ser estabelecido em algumas situações
responsáveis pelo aparecimento da proteinúria. Roberts et al específicas, a saber: 1) após 20 semanas de gestação há início
propuseram uma teoria mais complexa, na qual associam essas ou agravamento de proteinúria já detectada na primeira metade
fases a fatores constitucionais maternos, acreditando que a da gestação (o aumento deve ser superior a três vezes o valor
disfunção placentária por si só não é suficiente para causar a inicial); 2) gestantes com hipertensão crônica que necessitam de
doença.11 Além disso, como a maioria das alterações metabólicas associação de anti-hipertensivos ou aumento das doses
da pré-eclâmpsia representa uma exacerbação da alterações terapêuticas iniciais; 3) na ocorrência de danos a órgãos-alvo.
observadas em gestações normais, em gestantes com fatores
predisponentes (obesidade, síndromes metabólicas, doenças Hipertensão gestacional: identificação de hipertensão arterial
responsáveis pela resposta inflamatória basal crônica), alterações após a 20ª semana de gestação em gestante previamente
placentárias sutis, e mesmo próximas do normal, podem ser normotensa, sem proteinúria ou manifestação de outros sinais/
sintomas relacionados à pré-eclâmpsia.
suficientes para induzir o segundo estágio, ou seja, o forma clínica da doença.
Apesar da etiologia desconhecida da pré-eclâmpsia, está se Esta forma de hipertensão deve desaparecer até 12 semanas
tornando evidente que mulheres obesas ou com índice de massa após o parto. Se os níveis de pressão arterial (PA) permanecerem
corporal elevado (IMC > 30kg/m2 ) apresentam risco particularmente elevados, deve ser reclassificada como hipertensão arterial crônica
elevado de desenvolver a doença.21,22 Outras alterações de que foi mascarada pelas alterações fisiológicas da primeira metade
risco são a hipertensão crônica. , diabetes pré-gestacional e lúpus da gravidez. Considerando os conceitos atuais sobre o diagnóstico
eritematoso sistêmico.20,23 A associação da pré-eclâmpsia com da pré-eclâmpsia, mesmo na ausência de proteinúria, deve-se
a obesidade pode decorrer do estado crônico de inflamação sempre estar atento à possibilidade de evolução desfavorável
sistêmica e, à medida que o índice de massa corporal (IMC) dos casos inicialmente diagnosticados como hipertensão
aumenta, da ativação de vias inflamatórias no nível materno- gestacional, já que até 25% dessas pacientes apresentarão sinais
infantil. interface fetal também é exacerbada.21,24,25 e/ou sintomas relacionados à pré-eclâmpsia, alterando assim seu diagnóstico.
A classificação das formas de hipertensão arterial na gestação
requer a definição de alguns conceitos, como segue27:
Diagnóstico
Hipertensão: valor da pressão arterial 140 mmHg e/ou 90
A classificação mais difundida estabelece quatro formas possíveis mmHg aferido após período de repouso com a paciente sentada,
de distúrbios hipertensivos durante a gravidez: hipertensão manguito adequado, considerando o 1º O som de Korotkoff é a
crônica, hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia-eclâmpsia e pressão sistólica e o 5º som de Korotkoff é a pressão diastólica
hipertensão crônica com pré-eclâmpsia sobreposta.1 Recentemente, (desaparecimento da bulha cardíaca). Nos casos de persistência
a Sociedade Internacional para o Estudo da Hipertensão na dos sons até o final da desinsuflação do balonete, o abafamento
Gravidez (ISSHP ) ) admitiu a possibilidade de ocorrência de do som deve ser considerado como pressão diastólica. Na
“hipertensão do avental branco” na gestação, como visto na clínica ausência de manguito adequado, aconselha-se a utilização de
médica.26 Essa condição é caracterizada pela presença de tabela de correção da PA de acordo com a circunferência do braço
hipertensão (140 90 mmHg) durante o pré-natal, o que não é do paciente. A medição deve ser realizada ao nível do ponto
apresentado nas avaliações domiciliares . Essa forma de médio do braço do paciente (ÿAnexo A).
hipertensão só deve ser considerada quando presente na primeira Proteinúria significativa: presença de pelo menos 300 mg na
metade da gestação e não deve ser confundida com a pré- urina de 24 horas com tendência a favor da substituição do teste
eclâmpsia, específica da segunda metade da gestação. Contudo, de proteinúria de 24 horas na prática clínica. A relação proteína/
a “hipertensão do avental branco” está associada a piores creatinina urinária tem sensibilidade suficiente para ser utilizada
resultados materno-fetais e é um fator de risco para pré-eclâmpsia. na identificação de proteinúria significativa, sendo um exame mais
Para a prática clínica atual, consideramos as quatro formas fácil e de menor custo. A proporção 0,3 é considerada alterada
descritas a seguir: (as unidades de proteinúria e creatinina devem estar em mg/dL).
Hipertensão crônica: presença de hipertensão antes Caso não seja possível determinar a proteinúria pelos métodos
gravidez ou identificada antes das 20 semanas de gestação. anteriores, a avaliação qualitativa da proteína por um
o teste da vareta pode ser considerado. A presença de 1+ é considerada ponto envolvimento principal do pulmão e do coração. Esta reclamação é muitas
de corte para diagnóstico de proteinúria, identificação compatível com 30 mg/ vezes desvalorizada.
dL.1 • Edema pulmonar: está relacionado ao intenso comprometimento do endotélio
Pré-eclâmpsia com sinais e/ou sintomas de deterioração clínica: durante pulmonar associado ou não à insuficiência cardíaca e/ou hipertensão grave.
muito tempo, pacientes com pré-eclâmpsia foram classificados como leves ou Porém, é mais frequente nessas associações.
graves com base na presença de manifestações clínicas e/ou laboratoriais que
demonstrassem envolvimento significativo de órgãos-alvo. Recentemente, a
estratificação em pré-eclâmpsia leve e grave passou a ser criticada. Em 2013, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG)
retirou os níveis de proteinúria (> 5 g/24h) dos critérios de gravidade
Tal conceito pode ser enganoso, pois todos os pacientes com pré-eclâmpsia relacionados à pré-eclâmpsia.1 Em nossa opinião, o uso frequente dos níveis
podem evoluir inesperadamente com desfechos desfavoráveis. Por outro lado, de proteinúria como critério de antecipação do parto tornou essa avaliação
quando uma paciente apresenta o diagnóstico de pré-eclâmpsia grave, controversa. Assim, recomendamos que os níveis de proteinúria não sejam
podemos induzir inadvertidamente a antecipação do parto, e por vezes de completamente desvalorizados, mas interpretados de acordo com os testes
forma iatrogênica. Assim, recomendamos que pacientes com pré-eclâmpsia clínicos maternos e de vitalidade fetal, principalmente quando >10 g/24h.
sejam avaliadas quanto a sinais e/ou sintomas de comprometimento clínico e/ Reforçamos que este parâmetro não deve ser utilizado como critério único para
ou laboratorial e prontamente conduzidas de acordo, sempre considerando a a antecipação do parto.
possibilidade de deterioração clínica progressiva. Neste contexto, os principais
parâmetros clínicos e laboratoriais a serem tratados e monitorados são:
convulsões casos de difícil controle, principalmente com MgSO4, Tabela 1 Fatores de risco relacionados à ocorrência de pré-eclâmpsia
acidente vascular cerebral deve ser investigado.
Característica clínica Risco relativo
• Desenvolvimento repentino de sinais e sintomas neurológicos
podem incluir acidente vascular cerebral, lesão cerebral expansiva, lesões tóxicas e Hipertensão crônica 1,38 1,01–1,87
• Convulsões sem déficits neurológicos podem ser desencadeadas por Idade > 40 anos e multíparas 1,96; 1,34 2,87
anormalidades metabólicas (hipocalcemia, hiponatremia e 2.12; 1,56–2,88
IMC > 30 na 1ª consulta de pré-natal
hipoglicemia), toxinas (abstinência de drogas ou álcool, drogas
História familiar de pré-eclâmpsia 2,90; 1,70–4,93
intoxicação), infecção (meningite, encefalite, sepse) ou
(mãe, avó, irmã)
traumatismo cranioencefálico recente. No entanto, a ausência de sintomas neurológicos
Nuliparidade 2,91; 1,28–6,61
déficits não excluem uma anormalidade anatômica cerebral.
• A gestação é um fator desencadeante para alguns distúrbios associados Gestação múltipla 2,93; 2.04–4.21
calculadora” está disponível online em https://pre-empt.bcchr.ca/monitoring/ As intervenções recomendadas que podem resultar na redução do
fullpiers e em um aplicativo móvel. risco de desenvolvimento de pré-eclâmpsia são o uso de ácido
Os seguintes eventos adversos são considerados no modelo PIERS: acetilsalicílico (AAS) e suplementação de cálcio.36,37
eclâmpsia, coma, cegueira central, descolamento de retina, acidente A administração de dose baixa diária de AAS (100 a 150 mg) é
vascular cerebral, descolamento precoce da placenta, coagulopatia, recomendada para pacientes identificadas com fator de risco, de acordo
disfunção hepática grave, hematoma hepático, edema pulmonar, infarto do com as diretrizes descritas acima sobre predição de pré-eclâmpsia. O ácido
miocárdio, insuficiência renal aguda e ascite. . Considerando que se trata acetilsalicílico deve ser administrado o mais cedo possível (antes da 16ª
de eventos que ameaçam a vida das gestantes, a inclusão de uma semana), à noite. Parece razoável começar por volta das 12 semanas,
ferramenta que possa orientar a tomada de decisão de forma mais objetiva embora não haja risco associado se for iniciado antes disso. Pode ser
parece ser fundamental em termos de proteção materna e fetal. ÿFig. 1 mantida até o final da gestação, mas a suspensão após a 36ª semana
ilustra a calculadora e como usá-la. A decisão será de acordo com o cenário parece uma conduta racional, pois permite a renovação das plaquetas com
assistencial, mas o transporte de um paciente com risco de 1,5% será plena capacidade funcional para as demandas do parto.
completamente diferente se o valor calculado for 26,5% (ÿFig. 1).
3 – Para creatinina usar ponto e não vírgula. Exemplo 2,5 mg/dl e não
2,5 mg/dl.
Figura 1 Calculadora completa de riscos integrados e estimados para pré-eclâmpsia (PIERS) com exemplo de situação clínica, dados laboratoriais e cálculo resultante.
Algumas regras devem ser seguidas para o correto preenchimento da calculadora. A figura ao lado mostra um exemplo de inserção de dados e o risco resultante. Algumas
informações adicionais: 1–Idade gestacional em semanas e dias. Para semanas inteiras, adicione “0”. Por exemplo, preencha 22 semanas e 0 dias. 2–Se não houver
oxímetro disponível, assuma saturação de 97%. 3–Para creatinina usar ponto e não vírgula. Exemplo 2,5 mg/dl e não 2,5 mg/dl. 4–Atenção às unidades. Existem duas
alternativas: Unidade Imperial (IU) e Padrão Internacional (SI). Para o sistema brasileiro utilize SI.
Dieta
Tratamento Farmacológico
Recomenda-se dieta normal sem restrição de sal, uma vez que não
há evidências que apoiem esta recomendação para controle da PA Anti-hipertensivos A
ou prevenção de desfechos adversos. Esses pacientes devem ser decisão de introdução de anti-hipertensivos deve considerar os
lembrados de que podem necessitar de longos períodos de riscos e benefícios para a mãe e para o feto, e tomar como principais
internação, bem como da importância de manter a qualidade mínima fatores o valor da PA e a presença ou ausência de sinais e/ou
de sua alimentação. A restrição na ingestão de sódio contribui sintomas. Pacientes hipertensos crônicos muitas vezes toleram
negativamente para a redução do volume intravascular.1,38 níveis pressóricos elevados sem apresentar quaisquer manifestações
clínicas. Em contrapartida, pacientes jovens
com níveis baixos de PA anteriores podem progredir para condições Tabela 2 Anti-hipertensivos recomendados para uso na gravidez
graves e eclâmpsia, mesmo com níveis de PA ligeiramente elevados.
Ao considerar a necessidade de tratamento medicamentoso, a Classe de agente Agente Posologia
recomendação inicial para classificação da PA na gestação é a Simpaticolíticos Comprimidos 750 a 2.000 mg/dia 2 a
seguinte: de ação central, de metildopa 4x/dia
agonistas ÿ2 250 mg e 500 mg
Hipertensão leve: PA sistólica 140 mmHg e < 150 mmHg e/ou PA
Clonidina 0,2 a 0,6 mg/dia 2 a
diastólica 90 mmHG e < 100 mmHg Hipertensão moderada: PA
comprimidos 3x/dia
sistólica entre 150 mmHg e < 160 mmHg e/ou PA diastólica 100
de 0,1 mg e 0,2
mmHg e < 110 mmHg Hipertensão grave: PA sistólica 160 mmHg e/
Bloqueadores mg Nifedipina retard 20 a 120 mg/dia 1 a
ou dos canais 10 mg e 20 mg 3x/dia 5 a 20
de cálcio
Amlodipina mg/dia 1 a 2x/dia
PA diastólica 110 mmHg
comprimidos de
Há consenso de que os casos de hipertensão grave, também 2,5 mg, 5 mg e 10 mg
chamada de crise hipertensiva, devem ser tratados prontamente e os
Vasodilatador Hidralazina 50–150 mg/dia
pacientes devem ser internados e/ou encaminhados para centros de periférico drageias de
referência para investigação de comprometimento de órgãos-alvo e 25 mg e 50 mg
condições fetais. ÿ-bloqueadores Metoprolol 100 a 200 mg/dia 1 a
Em relação ao uso de anti-hipertensivos para tratamento dos níveis comprimidos de 2x/dia
25 mg, 50 mg e 100 mg
de hipertensão leve a moderada, a maior preocupação é a redução
excessiva e/ou abrupta da PA. Essa preocupação decorre do fato de Carvedilol 12,5 a 50 mg/dia 1 a
comprimidos 2x/dia A
que, embora a redução da PA melhore as condições circulatórias
de 6,25 mg e 12,5 mg recomendação é
sistêmicas, pouco efeito é obtido em relação à circulação útero- iniciar com 12,5
placentária. As dificuldades em manter a perfusão deste compartimento mg/dia por 2 dias e
diante de uma redução agressiva da PA sistêmica poderiam contribuir depois aumentar a
dose
negativamente para a nutrição e/ou oxigenação fetal.
Recomendamos esses medicamentos como terceiro medicamento para
Em meta-análises de ensaios randomizados que consideraram o associação de medicamentos para controle da pressão arterial ou na
tratamento anti-hipertensivo de mulheres grávidas com hipertensão indisponibilidade de medicamentos de primeira escolha. Os ÿ-bloqueadores com
maior experiência clínica são o labetalol e o pindolol, mas o primeiro não é
leve a moderada e o recente estudo Control of Hypertension in
produzido no Brasil e o segundo foi recentemente retirado do mercado.
Pregnancy Study (CHIPS), não foram encontrados aumento de
restrições de crescimento ou outros resultados perinatais adversos.40–
Tabela 3 Agentes recomendados para tratamento de crise hipertensiva
42 Esses dados contrastam com uma metanálise anterior que avaliou
em gestantes
o efeito da terapia anti-hipertensiva sobre o peso fetal e concluiu que
a redução de 10 mmHg na PA média estava associada a uma redução Dose inicial Dose máxima
Agente Repita se
de 176 g no peso ao nascer.43 Acreditamos neste ponto controverso necessário
foi melhor estudado no estudo CHIPS, no qual um tratamento mais
Ampola de 5 mg 5 mg a cada 45mg
rigoroso da PA para manutenção dos níveis de PA diastólica em hidralazina intravenoso 20 minutos
torno de 85 mm Hg preveniu a ocorrência de hipertensão grave e 20 mg/mL
exerceu fator de proteção materno sem promover riscos fetais.42 Ampola de hidralazina contém 1 mL na concentração de 20mg/mL. Diluir
Todos os medicamentos anti-hipertensivos cruzam barreira placentária, uma ampola (1mL) em 19mL de água destilada, obtendo assim uma
mas os concentração de 1mg/mL.
agentes listados abaixo (ÿTabelas 2 e 3) apresentam perfil de Nifedipina 10 mg 10 mg cada comprimido de 10 mg oral 30mg
segurança aceitável durante a gravidez. A escolha de cada um 20–30 minutos administração administração oral
estão associados a anomalias no desenvolvimento fetal hipotensão que deve ser prontamente corrigida com elevação dos membros
rins quando utilizado a partir do 2º trimestre de gestação. inferiores e retirada de medicamentos ou fatores
Os pacientes devem ser instruídos a descontinuar e/ou substituir que podem ser potencializadores de atuação. Se o retorno do BP não for
este tipo de medicação no 1º trimestre assim que alcançado, recomenda-se uma hidratação cuidadosa.
confirmar a gravidez. Contudo, é importante tranquilizar
esses pacientes sobre o uso de medicamentos no início Nifedipina
da gravidez, uma vez que estas drogas não são teratogênicas, mas A nifedipina oral de liberação imediata, um bloqueador dos canais de cálcio,
fetotóxico, e não oferece riscos de malformação com o uso também pode ser usada como terapia de primeira linha, especialmente quando
no 1º trimestre.44 Ainda assim, o planejamento ideal para tais casos é acesso intravenoso não está disponível.47 Sua ação máxima é
orientação pré-concepcional. entre 30 e 40 minutos, os comprimidos não devem ser mastigados,
Aspectos relacionados ao uso de diuréticos indicam polêmicas e as formulações não devem ser usadas por via sublingual.
no papel dos diuréticos tiazídicos, embora algumas diretrizes
sugerem que esses agentes podem ser mantidos em mulheres com Nitroprussiato de sódio
hipertensão crônica que usaram antes da gravidez.26,45 O nitroprussiato de sódio é um potente vasodilatador arterial e venoso. A
Estas orientações baseiam-se no facto de que a redução da experiência clínica limitada e os temores sobre o potencial de envenenamento
volume circulatório, que ocorre nas primeiras semanas, pelo uso fetal por cianeto há muito restringem o uso de
dessas drogas, provavelmente não ocorreria nesta situação nitroprussiato na gravidez. No entanto, não há evidências
(assumindo que a dose do medicamento e a ingestão de sódio serão constantes apoiar o risco fetal, especialmente em casos de uso de curto prazo (6 a
durante toda a gravidez). O uso de diuréticos em doenças crônicas 12 horas). O nitroprussiato é especialmente recomendado para
gestantes hipertensas devem ser interrompidas caso haja gestantes com edema pulmonar associado a
uma redução no volume de líquido amniótico (oligoamina) ou comprometimento funcional cardíaco, pois exerce importante
pré-eclâmpsia sobreposta, uma vez que esta condição em si benefícios tanto na pós quanto na pré-carga.48–50
determina a contração do volume circulatório. As exceções são
feito para casos de edema agudo de pulmão ou de insuficiência renal, Sulfato de magnésio
casos em que o diurético de escolha é a furosemida.39 Desde a publicação dos resultados do The Collaborative Eclamp-sia Trial –
Magpie Trial, o MgSO4 é considerado o medicamento de
Hipertensão Grave escolha para o tratamento da eclâmpsia iminente e da
O objetivo do tratamento é reduzir a PA em 15 a 25% e eclâmpsia.51 Revisões sistemáticas indicam que o magnésio
atingir valores de PA sistólica entre 140 mmHg e 150 mmHg, sulfato é mais seguro e eficaz que fenitoína, diazepam,
e valores de PA diastólica entre 90 mmHg e 100 mmHg. ou coquetel lítico (clorpromazina, prometazina e petidina) para prevenir
Independentemente do anti-hipertensivo utilizado, quedas abruptas da PA convulsões recorrentes na eclâmpsia, em
deve ser evitado devido aos riscos maternos (acidente vascular cerebral, infarto) além de ser de baixo custo, fácil administração e não
e riscos de reduzir demais a perfusão útero-placentária, causando sedação.52–54 Recentemente, a exposição fetal à terapia com
aumentando assim os efeitos negativos sobre o bem-estar fetal.2 sulfato de magnésio demonstrou ser uma arma útil
Uma vez que as reduções desejadas nas pressões sistólica e diastólica na redução de casos de paralisia cerebral e disfunção motora grave em
obtidos, o uso de anti-hipertensivos orais de manutenção é prematuros (< 32 semanas de gestação).3
iniciado ou otimizado rapidamente (ÿTabelas 3 e 4). Portanto, o uso de sulfato de magnésio é altamente recomendado para
casos de eclâmpsia iminente, eclâmpsia, HELLP
Hidralazina síndrome (15% desses pacientes desenvolvem eclâmpsia) e
A hidralazina é um vasodilatador periférico amplamente utilizado na pré-eclâmpsia com deterioração clínica e/ou laboratorial,
situação de pré-eclâmpsia para o tratamento agudo de doenças graves incluindo hipertensão de difícil controle (ÿTabela 5).
hipertensão.46 Sua ação máxima ocorre em 20 minutos, Os esquemas Pritchard e Zuspan são os principais
e o monitoramento da PA deve ser rigoroso, pois há riscos de para o uso de sulfato de magnésio. Eles devem ser adotados
Peso do paciente 50kg 7,5 15,0 30,0 60,0 90,0 120,0 Taxa de infusão
Do ponto de vista prático, a recomendação é iniciar com a dose mínima e aumentar 1 mL/h a cada 10 minutos. # Quando necessário, o
a dose máxima não deve ser utilizada por > 10 minutos e depois reduzida pela metade. O nitroprussiato deixa de agir 3 minutos após a interrupção do
infusão.
Esquema Pritchard 4 g por via intravenosa (bolus) administrados 5 g por via intramuscular profunda a cada 4 horasb
Intravenoso e lentamentea þ 10 g por via intramuscular
intramuscular (5 g em cada nádega)b 4 g
Esquema Zuspan por via intravenosa (bolus) 1 g por via intravenosa por hora em
Exclusivamente intravenoso administrados lentamentea bomba de infusão contínua (CIP)c
a
Preparo da dose de ataque intravenosa: MgSO4 50% - 1 ampola contém 10mL com 5 g de MgSO4.
Diluir 8 mL de MgSO4 50% (4 g) em 12 mL de água destilada ou soro fisiológico. A concentração final será de 4 g/20mL. Infundir a solução por via
intravenosa lentamente (15–20 minutos).
Outra possibilidade: diluir 8 mL em 100 mL de soro fisiológico 0,9%. Infundir em bomba de infusão contínua a 300 mL/h. O volume total será infundido em
20 minutos.
b
Preparo da dose de manutenção – esquema de Pritchard: Utilizar 10 mL da ampola de MgSO4 50%. Outras apresentações não devem ser utilizadas para
este regime devido ao seu volume excessivo.
c
Preparo da dose de manutenção – Esquema Zuspan: Diluir 10mL de MgSO4 50% (1 ampola) em 490 mL de soro fisiológico 0,9%. A concentração
final será de 1 g/100mL. Infundir a solução por via intravenosa a uma taxa de 100 mL por hora.
de acordo com a experiência de cada serviço, pois são igualmente eficazes. recomendado para investigar complicações cerebrais, principalmente
hemorragias intracranianas.
O sulfato de magnésio heptahidratado (MgSO4.7H2O) deve ser utilizado – Em pacientes com insuficiência renal (creatinina 1,2 mg/dL), a dose de
com atenção à concentração disponível de magnésio: manutenção deve ser metade da dose recomendada. A infusão de sulfato
Dentro deste contexto, as situações de deterioração clínica proteção e deve ser usado para esse fim em idades gestacionais entre
que indicam a resolução da gestação são: 24 e < 32 semanas. Mesmo nos casos de indicação absoluta para
resolução da gestação, a estabilização clínica materna é obrigatória,
– síndrome HELLP; – principalmente com a introdução de MgSO4.
Eclâmpsia; –
Descolamento prematuro
da placenta; – Hipertensão refratária ao tratamento com três anti- Idade Gestacional entre 34 e 37 Semanas A
hipertensivos; – condução desses casos é a mesma descrita para idades
Edema pulmonar/comprometimento cardíaco; – gestacionais entre 24 e 34 semanas. Embora as complicações
Alterações laboratoriais progressivas (trombocitopenia, elevação de relacionadas à prematuridade sejam mais curtas após 34
enzimas hepáticas); – Insuficiência semanas, elas ainda existem, portanto diante da melhora
renal avaliada principalmente pela elevação progressiva dos níveis de clínica e laboratorial da mãe, e da vitalidade fetal preservada,
uréia e creatinina, oligúria e anasarca; – Alterações no bem-estar recomenda-se adiar o parto para o termo mais próximo.56
fetal.
Pré-eclâmpsia prematura
sulfato de magnésio
O parto vaginal é Considere corticosteróide
fortemente
Parto a termo (ÿ 37 Continue monitorando terapia para maturidade
recomendado
semanas) pulmonar
(24–34 semanas)
parto (ÿ o parto
Clínico e/ou
37 semanas) deterioração
laboratorial
vitalidade vitalidade
Figura 2 Fluxograma de condução dos casos de pré-eclâmpsia. A vitalidade fetal alterada é definida pela presença de Dopplervelocimetria das artérias umbilicais com
diástole zero ou reversa e/ou índice de pulsatilidade do canal venoso – IP > P95 de acordo com a idade gestacional e/ou cardiotocografia considerada alterada.
– Evitar o uso de anti-inflamatórios não esteroides para controle da – Na hipertensão grave, seguir as recomendações
dor, principalmente em pacientes com comprometimento da já administrado durante a gestação.
função renal e/ou com perda sanguínea significativa que possa – Atenção à deterioração clínica e/ou laboratorial. Recomenda-se
ter causado comprometimento renal. reavaliação laboratorial em até 24 horas pós-parto, e novos
– Evitar o uso de medicamentos destinados a suprimir a lactação, exames serão solicitados conforme cada caso.
como bromoergocriptina e cabergolina, pois estão associados ao
aumento do risco de eventos cerebrovasculares. – Pacientes com hipertensão pré-existente, que faziam uso de
– Nos casos de uso de sulfato de magnésio, manter a medicação medicação anti-hipertensiva e apresentavam bom controle da
por 24h. Caso a paciente apresente PA de difícil controle e/ou PA, devem reiniciá-la imediatamente após o parto se não houver
sinais e sintomas de eclâmpsia iminente, o sulfato de magnésio contraindicação à amamentação. Caso o paciente relate mau
também deve ser utilizado no puerpério devido ao risco persistente controle da PA com a medicação anterior, esta deverá ser
de convulsões, principalmente nos primeiros cinco dias. substituída. Porém, não introduzir diuréticos no período puerperal
– A manutenção ou introdução de anti-hipertensivos no puerpério dado o risco de redução do volume vascular e comprometimento
imediato é recomendada especialmente nos casos graves, a da amamentação.
menos que a PA seja < 110 70 mmHg. Além dos anti-hipertensivos – Pacientes com doença renal crônica precisam ser orientados
recomendados durante a gravidez, agora são permitidos conforme recomendações do nefrologista.
medicamentos proibidos para uso na gravidez. – Recomenda-se acompanhamento hospitalar até pelo menos o 3º
dia pós-parto, lembrando que a pressão circulatória
a dinâmica e a reabsorção de água no volume intravascular 12 Quinn MJ. Pré-eclâmpsia - A visão da “reinervação uterina”. Med Hipóteses
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