O termo “paliativo” deriva do latim pallium que significa Suicídio assistido
manto, capote. o Quem causa a ocisão é a própria pessoa, que se mata com o auxílio indireto de terceiros. Etimologicamente, significa prover um manto para o Assim, se o médico fornece uma substância letal ao aquecer “aqueles que passam frio”, uma vez que não doente, que a ingere ou a injeta no próprio corpo, podem mais ser ajudados pela medicina curativa. Isso morrendo em decorrência dessa prática (suicídio), a porque a essência dos Cuidados Paliativos é o alívio dos conduta do médico, comissiva, será enquadrada no sintomas, da dor e do sofrimento dos portadores de tipo do artigo 122 do Código Penal (auxílio ao doenças crônico-degenerativas em fase avançada, por suicídio). meio de uma abordagem holística na busca de uma melhor qualidade de vida. RESOLUÇÃO CFM Nº 1.805/2006 (PUBLICADA NO D.O.U., 28 NOV. 2006, SEÇÃO I, PG. 169) BEUCHAMP E CHILDRESS Trata da ortotanásia e da implantação dos Cuidados Princípios da ética bioética, 1979 – Teoria principialista Paliativos no cotidiano da medicina. 4 princípios Resolução CFM nº 1.805/2006, que está atualmente em o Autonomia → ordinário / extraordinário plena vigência, diz respeito à prática da ortotanásia, nada o Beneficência → indicado / contraindicado tem a ver com a eutanásia, constitui um alerta contra a o Não-maleficência → fútil / útil distanásia, é constitucional, não acarreta violação a o Justiça → proporcional / desproporcional nenhum dispositivo legal, não representa apologia ao homicídio nem incentiva a prática de qualquer conduta Princípios PRIMA FACIE criminosa ou ilícita e está absolutamente de acordo com a nossa sistemática jurídico-penal X-THANATOS = MORTE Primeira resolução que trata da autonomia do paciente na Eutanásia fase de terminalidade. o Significa a morte antecipada com o objetivo de dar o O paciente define o que é melhor para ele um fim ao sofrimento de doenças avançadas, sem chances de recuperação CONSIDERANDO o art. 1º, inciso III, da Constituição o No Brasil, contudo, a “eutanásia” não está legalizada Federal, que elegeu o princípio da dignidade da pessoa e continua sendo uma conduta que se enquadra no humana como um dos fundamentos da República tipo do homicídio. Federativa do Brasil; o Induvidosamente, portanto, quem pratica a CONSIDERANDO o art. 5º, inciso III, da Constituição eutanásia “mata alguém”, ou seja, realiza uma Federal, que estabelece que “ninguém será submetido a conduta de ação, que se tipifica no artigo 121 do tortura nem a tratamento desumano ou degradante”; Código Penal CONSIDERANDO que cabe ao médico zelar pelo bem-estar Ortotanásia dos pacientes; o Ocorre a suspensão dos procedimentos médicos na Na fase terminal de enfermidades graves e incuráveis é fase terminal do paciente para que ocorra a morte permitido ao médico limitar ou suspender natural, com o alívio dos sintomas que levam ao procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do sofrimento doente, garantindo-lhe os cuidados necessários para o Trata-se de omissão aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na Distanásia perspectiva de uma assistência integral, respeitada a o É o prolongamento artificial exagerado da vida e do vontade do paciente ou de seu representante legal. sofrimento do paciente. Mistanásia RESOLUÇÃO CFM Nº 1931/09 – Novo código de ética de 2009 o Mistanásia ocorre em decorrência de má gestão da Capítulo 1 – Princípios fundamentais saúde pública e de omissão dos responsáveis. o XXII – Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o O termo pode ser usado quando pacientes morrem o médico evitará a realização de procedimentos de maneira evitável por falta de atendimento de diagnósticos e terapêuticos desnecessários e qualidade, de insumos ou de leitos, comprovando propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os uma violação do direito à saúde que é garantido pela cuidados paliativos apropriados. Constituição Federal. É vedado ao médico: o Na maioria dos casos, a mistanásia atinge indivíduos o Art. 41 Abreviar a vida do paciente, ainda que a excluídos da sociedade e que dependem de políticas pedido deste ou de seu representante legal (= públicas. EUTANÁSIA é proibido). Kalotanásia Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e o Esse modelo de boa morte, organiza um conjunto de terminal, DEVE o médico oferecer todos os cuidados ações que busca reviver um processo de morrer e paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas uma morte mais suave, tendo como desafio fazê-lo ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em em um cenário médico identificado com o uso consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua continuado e persistente de alta tecnologia. impossibilidade, a de seu representante legal.
Material 8º Período Medicina Multivix
Ana Carolina Fasollo Alvarenga Cuidados Paliativos Como se vê, atualmente, no âmbito ético da prática da § 3o As diretivas antecipadas de vontade do paciente medicina, está consolidado, às completas, o prevalecerão sobre qualquer outro parecer não médico, entendimento de repúdio à “distanásia” e de total inclusive sobre os desejos dos familiares. aprovação da “ortotanásia”, cuja prática há de ser o As diretivas antecipadas de vontade são um estimulada. negócio jurídico, visto que se trata de uma declaração de vontade com a finalidade de LEGISLAÇÃO produzir os efeitos que o declarante pretende, para O artigo 15 do Código Civil preceitua que ninguém pode quando não puder se expressar, tendo em vista seu ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a estado terminal tratamento médico ou intervenção cirúrgica e, este artigo § 4o O médico registrará, no prontuário, as diretivas deve ser lido à luz da Constituição. antecipadas de vontade que lhes foram diretamente São Paulo – Lei estadual no 10.241/99 – Lei Mário Covas – comunicadas pelo paciente. inciso XXIII do artigo 2o dessa lei assegura aos usuários do o Tudo que é escrito no prontuário é considerado serviço de saúde do Estado de São Paulo o direito a VERDADE. recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para § 5o Não sendo conhecidas as diretivas antecipadas de tentar prolongar a vida. vontade do paciente, nem havendo representante Lei nº 16.279 do Estado de Minas Gerais XX - recusar designado, familiares diponíveis ou falta de consenso tratamento doloroso ou extraordinário. entre estes, o médico recorrerá ao Comitê de Bioética da Lei nº 14.254 do Estado do Paraná XXIX - recusar instituição, caso exista, ou, na falta deste, à Comissão de tratamento doloroso ou extraordinário para tentar Ética Médica do hospital ou ao Conselho Regional e prolongar a vida; Federal de Medicina para fundamentar sua decisão sobre conflitos éticos, quando entender esta medida necessária RESOLUÇÃO CFM Nº 1.995/2012 e conveniente. (PUBLICADA NO D.O.U. DE 31 DE AGOSTO DE 2012, SEÇÃO I, P.269-70) O QUE SÃO DAV? Considerando a necessidade, bem como a inexistência de Diretivas antecipadas de vontade (DAV) são instruções regulamentação sobre diretivas antecipadas de vontade escritas que o paciente prepara para ajudar a guiar seu do paciente no contexto da ética médica brasileira; cuidado médico. Considerando a necessidade de disciplinar a conduta do o Deixa registrado suas vontades para quando não médico em face das mesmas; (parte de um pressuposto puder falar por si, ter o que ele quer e não quer que de que o fato social já aconteceu - as diretivas já estavam seja feito mediante seu TTO. sendo feitas) São aplicadas a situações específicas como uma doença Considerando a atual relevância da questão da autonomia terminal ou um dano irreversível. do paciente no contexto da relação médico-paciente, bem As Diretivas Antecipadas produzem efeito quando o como sua interface com as diretivas antecipadas de médico determina que o paciente não é mais capaz de vontade; decidir acerca de seus cuidados médicos. Considerando que os novos recursos tecnológicos permitem a adoção de medidas desproporcionais que prolongam o sofrimento do paciente em estado terminal, sem trazer benefícios, e que essas medidas podem ter sido antecipadamente rejeitadas pelo mesmo;
Art. 1o Definir diretivas antecipadas de vontade como o
conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestadas pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade. Art. 2o Nas decisões sobre cuidados e tratamentos de pacientes que se encontram incapazes de comunicar-se, ou de expressar de maneira livre e independente suas vontades, o médico levará em consideração suas diretivas antecipadas de vontade.
§ 1o Caso o paciente tenha designado um representante
para tal fim, suas informações serão levadas em consideração pelo médico. § 2o O médico deixará de levar em consideração as diretivas antecipadas de vontade do paciente ou representante que, em sua análise, estiverem em desacordo com os preceitos ditados pelo Código de Ética Médica.
A Morte Digna e Autonomia do Paciente Terminal por Meio da Declaração Prévia de Vontade: Uma Análise à Luz dos Direitos Humanos e do Direito Civil Prospectivo