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Os conceitos em tensão neste tema são o dever de proteção da vida, especialmente a dos
mais vulneráveis Vs. o respeito pela autonomia pessoa e o livre desenvolvimento da
personalidade.
as normas constantes dos artigos 4º, 5º e 7º, na parte em que atribuem (aos médicos e à
Comissão de Verificação e Avaliação) a decisão sobre a reunião das condições
estabelecidas no artigo 2º;
as normas constantes do artigo 27º, na parte em que alteram o Código Penal
O PR impugnada as normas do art. 2º/1 por falta de densificação normativa, ou seja, devido à
falta de determinação dos conceitos definidos por estas normas. Designadamente o PR suscita
dúvidas de constitucionalidade relativamente
O PR defende com conceitos com este grau de indeterminação não se conformam com as
exigências de densidade normativa resultantes da Constituição, especialmente na matéria em
causa – que se reporta ao direito à vida que é, como sabemos, o coração dos direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos.
Slide 7: Normas da CRP que, na ótica do PR, que podem estar a ser violadas e que servem de
parâmetro para a análise da constitucionalidade das normas impugnadas
Art. 29º/1 CRP – princípios da legalidade e da lei tipicidade criminal. A indeterminação das
normas contende com estes princípios
Art. 112º/5 – que se refere à proibição de um ato legislativo conferir a um ato de outra
natureza a eficácia própria de um ato legislativo – designadamente, a possibilidade de
interpretar ou integrar a lei
o O PR considera que pode estar em causa a proibição de delegação consagrada
neste artigo porque considera que os preceitos definidos pelo legislador são de tal
forma vastos que conferem a órgãos administrativos – como os médicos e a
Comissão de Verificação e Avaliação – o poder de interpretar ou até integrar a lei –
ou seja, de preencher os conceitos normativos excessivamente abrangentes em
causa
O PR admite a existência de uma liberdade à limitação da vida – mas entende que esta não
pode ser reconhecida em termos de tal forma indeterminados que contendem com o pp.
de dignidade da pessoa humana – que resulta de uma leitura conjuga dos artigos 18º/2 +
1º + 24º/1 da CRP
Slide 8:
O direito à vida é objeto de um reconhecimento jurídico universal. Mas esta universalidade não
impede a consagração de soluções muito diferenciadas quanto à matéria da morte
medicamente assistida.
Uma vez que a questão do fim da vida envolve problemas éticos, científicos e jurídicos
complexos e não há consenso entre os Estados membros do Conselho da Europa sobre o
assunto, os Estados têm uma ampla margem de apreciação para fazer essa ponderação.
Slide 12: O direito à vida inclui o direito a morrer? Não. Mas o direito a morrer pode decorrer
do direito ao livre desenvolvimento da personalidade.
Contudo, não se pode excluir que um tal direito não possa resultar da liberdade de
cada um se autodeterminar, em função do seu projeto pessoal de vida, impondo um limite ao
próprio dever estadual de proteção da vida decorrente do artigo 24.º, n.º 1.
Slide 13: A insuficiente densificação normativa dos conceitos descritivos dos critérios de acesso
à morte medicamente assistida questionados pelo requerente face ao princípio da legalidade
criminal
Slide 14: A insuficiente densificação normativa dos conceitos descritivos dos critérios de acesso
à morte medicamente assistida questionados pelo requerente face ao princípio da
determinabilidade das lei
O TC avança assim uma outra norma que considera que é convocável no caso concreto
e que deve servir de parâmetro para a análise da constitucionalidade: o artigo 165º nº1 alínea
b) CRP.
De acordo com este art., as normas que tenham como objeto a restrição ou regulação
de direitos fundamentais integram a reserva de lei formal – ou seja, só podem ser objeto de
tratamento por lei formal da AR. Neste caso, a reserva de lei formal tem particular intensidade
e relevância atendendo ao bem jurídico fundamental que está aqui em causa (a vida), que diz
respeito ao core da dignidade humana, e ao caráter definitivo e irreversível das decisões que
prevê relativamente ao término da vida.
Da leitura conjugada deste art. 165º/1 b) com o art. 2º da CRP o TC descobre o pp. da
determinabilidade da lei, enquanto corolário do Estado de direito democrático.
Assim, esta matéria não pode ser tratada por atos de outro natureza – como atos
administrativos. Desta forma, se o TC chegar à conclusão de que a norma do art. 2º/1 é de tal
forma abrangente que remete para parecer administrativo a definição do seu conteúdo, então
esta norma será inconstitucional por violação do pp. da determinabilidade da lei. Está aqui em
causa, portanto, uma reserva de densificação normativa.
O prof. Reis Novais salienta precisamente isto nesta citação: Num Estado de Direito,
baseado na dignidade da pessoa humana, quando se procede a uma restrição aos direitos
fundamentais constitucionalmente protegidos, é necessário que sentido e alcance da restrição,
bem como a medida concreta da sua potencial aplicação, sejam determináveis com suficiente
precisão, ou seja, que possuam um conteúdo normativo suficientemente denso reconhecíveis
no seu conteúdo e previsíveis nos seus efeitos.
Slide 15: A insuficiente densificação normativa do conceito “em situação de sofrimento
intolerável”
Essa indeterminação do conceito não deve ser vista como uma falha na legislação, mas
sim como uma abertura adequada ao contexto clínico em que será aplicado pelos médicos. Isto
justifica-se pelas duas razões mencionadas anteriormente. Portanto, o grau de indeterminação
não contraria as exigências de densidade normativa resultantes da Constituição, especialmente
no dominio particular da antecipação da morte medicamente assistida.
Slide 16
O TC vem ainda num dos seus pontos discutir sobre a falta de clareza e
especificidade na definição do conceito de "lesão definitiva de gravidade extrema de
acordo com o consenso científico":
Existe também segundo o TC uma grande falta de clareza quanto à relação com
a antecipação da morte. No decreto-lei em análise é considerado que o critério de
"lesão definitiva de gravidade extrema" não implica necessariamente a antecipação da
morte, uma vez que a morte pode não ocorrer como consequência direta da lesão. Isso
levanta preocupações sobre a possibilidade de interpretações ambíguas da norma e a
falta de clareza sobre quando é que a morte medicamente assistida seria admissível.
Falta de densificação normativa: O TC considera que o legislador poderia ter
oferecido uma definição mais precisa e detalhada do conceito de "gravidade extrema"
em relação à lesão definitiva, referenciando normas similares em outros contextos
legais, como o direito penal ou o direito civil em relação a acidentes de trabalho. A falta
de densificação normativa do conceito torna a norma indeterminada e difícil de aplicar.
(B) Esse direito envolve a opção de viver e a opção de morrer, com as quais os outros não
podem legitimamente interferir;
(C) Assim, se alguém decide morrer, está a renunciar, no quadro das suas opções válidas,
ao direito à vida. E, ao renunciar a esse seu direito — este é o problema central criado pelo
Decreto nº 109/XIV —, está a libertar outros (especificamente está a libertar o Estado) do
dever de não o matar. E o Estado está a afastar a proibição/a punibilidade de matar nesse caso.
Vamos então agora para concluir olhar para o decreto que vai ser objeto de fiscalização de
constitucionalidade do acórdão 2 que vai ser apresentado pelas nossas colegas.
Olhamos para este decreto para ver de que forma é que o legislador, perante a declaração de
inconstitucionalidade do decreto que acabamos de apresentar, procedeu à alteração do
decreto considerado inconstitucional, aprovando um novo decreto.
No art. 2º o legislador introduz algumas definições que servem para densificar e concretizar os
conceitos que definem as situações em que a eutanásia não será punível.
Na alínea d) o legislador introduz igualmente uma definição que estava ausente no decreto que
acabámos de analisar: a definição de doença grave e incurável
lesão de gravidade extrema será a lesão grave que coloca a pessoa em situação de
dependência de terceiro ou apoio tecnológico para a realização das atividades
elementares da vida quotidiana.
A referência a lesão definitiva de acordo com o consenso científico é substituída pela
expressão “quando haja certeza ou probabilidade muito elevada de que estas
limitações persistam no tempo, sem possibilidade de cura ou de melhoria
significativa.”
Embora o TC não tenha considerado que a referência ao sofrimento enquanto critério sem que
o legislador ofereça quaisquer parâmetros para o mensurar seja inconstitucional, o legislador
ainda assim na alínea f) concretiza o conceito de sofrimento e introduz a referencia ai
sofrimento físico, psicológico e espiritual.
2 – Assim, apesar que a AR poder legislar sobre a eutanásia, impõe-se que o faça com leis
“claras, precisas, antecipáveis e controláveis” – o que não aconteceu neste caso