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UNIVERSIDADE PAULISTA- UNIP

JHONATAN MOURA

EUTANÁSIA

Jundiaí- SP
2022
JHONATAN MOURA

EUTANÁSIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Universidade Paulista- UNIP, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

Orientadora: Camila Colucci

Jundiaí- SP
2022
JHONATAN MOURA

EUTANÁSIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Universidade Paulista- UNIP, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Jundiaí, __ de ______________ de ____


RESUMO

A eutanásia é um tema sensível e ao mesmo tempo polêmico no Brasil, pois envolve


aspectos éticos, medicinais e de crenças como o lado religioso. A morte é
considerada o último estágio da vida do indivíduo, de um lado a legislação brasileira
garante a proteção e o respeito à vida, mas por outro, a não permissão de o
indivíduo optar por ter uma morte digna sem excesso de sofrimento. O objetivo deste
trabalho não é defender uma bandeira, ou seja, de contra ou a favor, porém o de
demonstrar diferentes pontos de vista a respeito do tema. Para isso, foi feita uma
revisão de literatura, onde foram pesquisados os aspectos legais no país e o
histórico da eutanásia no mundo. A partir de uma visão genérica, foi realizada a
discussão, onde o questionamento se deu de maneira imparcial fundamentado nas
opiniões dos teóricos. Por fim, conclui-se que a eutanásia é um tema bastante válido
e, por isso, precisa ser debatido para que se chegue a um norte, é claro, pautado na
ética e legalidade.

Palavras-chaves: Eutanásia; Crenças; Individuo; Legalidade


ABSTRACT

Euthanasia is a sensitive and at the same time controversial issue in Brazil, as it


involves ethical, medicinal and belief aspects such as the religious side. Death is
considered the last stage of an individual's life, on the one hand, Brazilian legislation
guarantees protection and respect for life, but on the other hand, the individual is not
allowed to choose to have a dignified death without excessive suffering. The
objective of this work is not to defend a flag, that is, for or against, but to demonstrate
different points of view on the subject. For this, a literature review was carried out,
where the legal aspects in the country and the history of euthanasia in the world
were researched. From a generic view, the discussion was carried out, where the
questioning took place in an impartial way based on the opinions of the theorists.
Finally, it is concluded that euthanasia is a very valid topic and, therefore, needs to
be debated in order to reach a north, of course, based on ethics and legality.

Keywords: Euthanasia; beliefs; Individual; Legality


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................7
2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A VIDA...........................................................9
2.1 O ESTADO BRASILEIRO E A INTERVENÇÃO SOBRE A VIDA.....................11
2.1.2 Manifestações no Brasil a Respeito da Eutanásia.........................................13
2.2 EUTANÁSIA..................................................................................................... 16
3 ASPECTOS JURÍDICOS DA EUTANÁSIA.............................................................26
3.1 A EUTANÁSIA NA ESFERA PENAL E CIVIL BRASILEIRA............................26
3.2 O CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.......................................................................30
3.3 DIREITO COMPARADO...................................................................................32
3.3.1 Holanda......................................................................................................... 32
3.3.2 Bélgica...........................................................................................................34
3.3.3 Suíça............................................................................................................. 35
3.3.4 Luxemburgo...................................................................................................36
3.3.5 Colômbia....................................................................................................... 37
3.3.6 Estados unidos..............................................................................................38
3.3.7 Canadá..........................................................................................................39
3.4 PERSPECTIVAS ATUAIS E PROJETOS LEGISLATIVOS..............................39
4 DISCUSSÃO...........................................................................................................42
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................44
REFERENCIAS......................................................................................................... 46
7

1 INTRODUÇÃO

A morte é um processo e/ou estágio do ciclo de vida do indivíduo, este


trabalho tem por objetivo abordar a temática do direito à vida relacionado a
eutanásia. É importante destacar que este referido trabalho não se posicionará a
prós e contras sobre o assunto, mas buscará abordar a questão da forma como este
tema é discutido atualmente no Brasil.

Segundo Batis e Scharamm (2008), a morte é a indelével certeza da condição


humana, embora quase sempre recalcada, constituindo intrínseca peculiaridade do
Homo sapiens sapiens, o único vivente que tem consciência da sua própria finitude.

É importante destacar que a questão “morte” é um tempo sensível e ao


mesmo tempo um tabu. Na concepção de Contaifer (2016), o fim da vida é um
assunto espinhoso, pois este momento não chega só para quem viveu uma vida
tranquila.

Ainda Contaifer (2016), este fim nem sempre ocorre de forma natural, ou seja,
às vezes no percurso da vida pode acontecer uma luta do indivíduo contra uma
doença incurável, dores insuportáveis e sem alívio. Neste cenário, onde a esperança
foi suprimida, e pensando em aliviar o sofrimento, entra em discussão a eutanásia.
Segundo (GOULART, 2019):

A eutanásia é um assunto dotado de alta complexidade por envolver


questões religiosas, éticas, penais e ligadas à medicina. Na legislação penal
infraconstitucional, o atual código penal (1940) não elenca de forma explícita
e objetiva a prática da eutanásia. A criminalização ocorre por meio da figura
do “homicídio privilegiado” (artigo 121, §1º do CP) e da “instigação,
induzimento ou auxílio ao suicídio” (artigo 122 do CP).

Goulart (2019), salienta que o assunto em voga, é dotado de alta


complexidade, pois envolve a questão de crença e aspectos éticos e legais. Do
ponto de vista humano, no Brasil, a religião cristã ainda exerce grande influência no
legislador. Entretanto, a partir de uma visão mais ampla, na qual se acredita em que
o sujeito é um ser dotado de livre arbítrio, e que o mesmo teria o poder para decidir
sobre uma possível eutanásia.
8

Contudo, no Brasil a discussão sobre o tema ainda é bastante remota, ou


melhor, quase inexistente. De um lado, a proteção e o respeito a vida garantidos
pela Constituição Federal estão sendo garantidos, mas por outro, a não permissão
de o indivíduo optar por ter uma morte digna sem excesso de sofrimento.

Este trabalho, fará um apanhado sobre a eutanásia de uma forma geral, e por
se tratar de um tema sensível e com bastante opiniões divergentes, nesta pesquisa
se buscará fazer uma revisão em diferentes ordenamentos jurídicos, assim como
buscar respostas de estudiosos, a partir de um ponto de vista mais específico.

O objetivo desta pesquisa não é defender pontos de vista, mas sim sintetizar
informações e pensamentos diversos a respeito da eutanásia, nos mais estritos
debates e opiniões. Salienta-se, que este tema, por ser sensível, é pouco discutido
no Brasil e, para formar se alicerçar de opiniões que fundamentam e contextualizam
a relação entre vida plena garantida pelo artigo 5º da Constituição Federal e, a
situação que nem todo direito é absoluto.

É óbvio que existem inúmeras correntes de pensamento sobre o assunto,


mas não há uma opinião certa ou errada, há pontos de vista diferentes. Neste
sentido, é importante fazer um apanhado dos principais pensamentos, de modo que
seja feito um arcabouço a respeito do tema, que é bastante sensível e que suscita
inúmeras discussões contras e prós.

Além desta seção introdutória, esta pesquisa conterá a seção 2, que será a
revisão de literatura, onde serão discorridos conceitos, legislações e opiniões a partir
de óticas diferentes, na seção 3, será apresentado os resultados e as discussões a
respeito do tema, e por fim, seção 4, com as considerações finais.
9

2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A VIDA

No Artigo 5º da Constituição Federal, “todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes”. A constituição garante o direito à
vida e a protege em sua essência, pois o constituinte entendeu que ela é o bem
mais tangível que o ser humano pode ter.

A Constituição Federal de 1988 prevê o direito à vida no artigo 5º, que está
situado no campo dos direitos e garantias fundamentais, e mais especificamente,
nos direitos e deveres individuais e coletivos. O referido direito é garantido a todos
os brasileiros e aos estrangeiros, mesmo que somente estejam transitando no país.

O direito à vida é o direito mais primordial direito humano, e que deve ser se
concedido diante de sua dimensão que abrange o direito de nascer, o direito de
permanecer vivo, o direito de alcançar uma duração de vida comparável com os
demais cidadãos, e o direito de não ser privado da vida por meio de pena de morte.

A Carta Magna, no entendimento de Alexandre de Morais, deverá assegurar o


direito à vida considerando primeiramente o direito de permanecer vivo, e também, o
direito a ter uma vida digna, promovendo sua subsistência.

Na sequência, a CF indica, no artigo 6º, o direito à saúde como um direito


social, e ainda, o relaciona como meio de alcance da ordem social, por meio da
seguridade social, como expõe o artigo 194. Na sequência, o artigo 196 inicia a
seção específica sobre o tema, e conceitua que a saúde é direito de todos e dever
do Estado, que deverá atuar por meio de medidas sociais que caminhem no sentido
de reduzir o risco de doenças e de possibilitar a aquisição de todos do direito à
saúde.

No curso, a CF prevê as diretrizes de tais medidas, que são: i. Medidas


descentralizadas, a fim de abranger o máximo possível de titulares do direito; ii.
10

Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo


dos serviços assistenciais; e iii. Participação da comunidade. Conclui Alexandre de
Moraes que a saúde é um direito pertencente a todos, e ainda mais, é um dever
primordial do Estado, que deverá garanti-la com políticas sociais e econômicas que
atuará nos termos da lei, fiscalizando e controlando a sua execução, que poderá ser
feita tanto diretamente quanto por terceiros.

O Superior Tribunal de Justiça entende “o direito à saúde como elemento


essencial à dignidade da pessoa humana [...]”, portanto, podemos concluir que o
direito à saúde é conexo ao direito à dignidade. A dignidade é direito humano e
direito fundamental previsto a todas as pessoas, por ser um valor inerente a todos, e
que deve ser respeitado, preservado e ampliado.

Podemos compreender que o direito à dignidade do ser humano é o alicerce


do ordenamento jurídico e da organização democrática do país. Neste sentido, o
dicionário Houaiss define dignidade como: 1. Qualidade moral que infunde respeito;
consciência do próprio valor; honra, autoridade, nobreza; 2. Qualidade do que é
grande, nobre, elevado; 3. Modo de alguém proceder ou de se apresentar que
inspira respeito; solenidade, gravidade, brio, distinção; 4. Respeito aos próprios
sentimentos, valores; amor-próprio.

Assim, o direito à dignidade não deve ser compreendido tão-somente no


contexto econômico, mas deve ser interpretado extensivamente, abrangendo a
satisfação pessoal por meio da busca da felicidade.

Não basta, conforme ensinamentos de Alessandro Marques de Siqueira,


elencar direitos sem confeccionar os meios efetivos de concretizá-los, pois é dever
expresso do Estado providenciar tais medidas para garantir o direito à felicidade.
Acerca do direito à felicidade, temos que, este ainda não configura direito
expressamente previsto na CF, entretanto há a proposta de emendá-la, em seu
artigo 6º, para a seguinte redação, conforme a PEC n.19/2010 do Senador
Cristovam Buarque: Art. 6º São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta CF.
11

O entendimento da suprema corte constitucional, por sua vez, é de que o


direito a felicidade constitui postulado implícito que decorre do direito à dignidade
humana, corroborando, assim, aos precedentes da Corte Americana sobre o direito
fundamental à busca da felicidade. Sendo assim, o Supremo Tribunal Federal aduz
que, este direito possui importância inegável para a afirmação dos direitos humanos
e dos direitos fundamentais, que deverá ser utilizado para conter ofensas aos
direitos individuais.

Portanto, os direitos sociais que a CF nos apresenta são indicados como


garantias mínimas para que o indivíduo possua uma existência digna, e o que nos
resta avaliar é se há a efetiva concretização de tais direitos no cenário atual.

2.1 O ESTADO BRASILEIRO E A INTERVENÇÃO SOBRE A VIDA


12

O item anterior, abordou-se a questão da vida como um direito fundamental,


onde todos são iguais perante a Lei, segundo Coelho (2012), os direitos sobre a
intimidade e a vida privada, estão expressos no art. 5º, X da Constituição Federal de
1998, ao lado dos demais direitos do mesmo inciso.

Ainda Coelho (2012), o princípio da dignidade da pessoa, impõe limites ao


poder estatal, tal limitação tem como objetivo impedir que o poder público venha
violar a dignidade pessoal, ao mesmo tempo em que o mesmo estado venha
promover a proteção e promoção de vida digna para todos.

Neste sentido, é importante destacar que o estado atua como um mediador,


pois hora deve resguardar para que todos tenham o mesmo direito e hora limita-se
ao próprio estado. Contudo, é importante destacar que o Brasil, é um país cuja
grande maioria dos seus habitantes se denominam cristãos, o que implica na
questão relacionada à vida.

Segundo Roberto (2002), a palavra VIDA, contém muitos significados dentre


os quais: o período de um ser vivo compreendido entre o nascimento e a morte;
motivação que anima a existência de um ser vivo, que lhe dá entusiasmo e prazer;
alma, espírito.

Ainda Roberto (2002), o direito à vida é inerente à pessoa humana. Neste


sentido, este direito, deverá ser protegido pela Lei, pois no ordenamento jurídico
brasileiro, ninguém poderá ser provado de sua vida.

Salienta-se que, os autores que abordam “o direito à vida", baseiam-se na


Constituição Federal, com isso destaca-se que o direito à vida no Brasil, é soberano,
exceto em casos de guerras para casos de supostas traições à pátria.
13

No tange a eutanásia, ainda é uma questão que está timidamente no campo


das discussões, pois conforme já fora abordado a morte, ou o escolher morrer é um
tabu, principalmente nos países ocidentais, principalmente o Brasil. É certo que o
direito à vida goza de uma proteção maior que os demais, entretanto, assim como os
outros, não deve ser visto como absoluto, tampouco deve figurar como um dever
(GOULART, 2019). Nesta seara, muitos conceitos referentes a vida são descritas,
porém a concepção de (SILVA, 2003):

[...] vida, no texto constitucional (art. 5º, caput), não será considerada
no seu sentido biológico de incessante autoatividade funcional, peculiar à
matéria orgânica, mas a sua acepção biográfica mais compreensiva. Sua
riqueza significativa é de difícil apreensão porque é algo dinâmico, que se
transforma incessantemente sem perder sua própria identidade. É mais um
processo (processo vital), que se instaura com a concepção (ou germinação
vegetal), transforma-se, progride, mantendo sua identidade, até que muda de
qualidade, deixando, então, de ser vida para ser morte. Tudo que interfere
em prejuízo deste fluir espontâneo e incessante contraria a vida.

Segundo o conceito de Silva (2003), a morte é o fim da vida, ou seja, deve ser
encarada como um processo da vida, ou melhor, como sendo o último estágio do ser
humano. A vida termina com a morte, devendo esta ser entendida como uma fase
integrante da vida e não como um evento externo. A morte consiste, na verdade, no
término do processo de viver. É a última etapa do ciclo da vida.

Sendo assim, conforme salienta (2019), se a morte fosse encarada como


parte integrante da vida, isso permitiria que a medicina se ocupasse não somente
com a cura do indivíduo, mas também com seu bem-estar, principalmente quando
este está em fase terminal.

Para Goulart (2019), o ordenamento jurídico brasileiro nada dispôs sobre a


existência de um direito de morrer dignamente, limitou-se apenas a não criminalizar
o suicídio, por motivos óbvios, nem penalizar o indivíduo que não queira buscar
tratamento para sua enfermidade. No próximo item, será abordado as manifestações
da eutanásia no Brasil.

2.1.2 Manifestações no Brasil a Respeito da Eutanásia


14

Segundo Direitonet (2022), A eutanásia traz à tona as discussões ocorridas


em todas as esferas da sociedade com questionamentos sobre princípios tais como
a ética e a moral. A eutanásia pode ser entendida como uma ação ou omissão que
impulsiona a morte de um paciente condenado, com o intuito de evitar e prolongar o
seu sofrimento.

Segundo Goulart (2019), o direito à morte digna não se confunde com o


direito à morte. O primeiro diz respeito a uma morte humanizada, com a utilização de
meios específicos que objetivam amenizar as manifestações da doença em estágio
terminal.

Para Sengés (2019), defender o direito de morrer dignamente não consiste


em defender qualquer procedimento que cause ou acelere a morte do paciente, mas
sim em reconhecer sua liberdade e sua autodeterminação quanto à escolha do
melhor procedimento para si próprio.

Na concepção de Goulart (2019), no ordenamento jurídico brasileiro, nunca


houve uma tipificação autônoma e expressa que criminalize a prática da eutanásia.
Ainda neste sentido, Goulart (2019), afirma que a eutanásia é tratada pelo
ordenamento jurídico como crime. Porém, como já dito, não há uma tipificação
autônoma para tal delito.

De acordo com o código penal de 1940, tanto a doutrina como a


jurisprudência afirmam que a prática da eutanásia representa a figura típica do
homicídio privilegiado por relevante valor moral, previsto no artigo 121, parágrafo 1º
do Código Penal (BRASIL, 1940).

Segundo Barbosa e Losurdo (2018), no Brasil, contrariando-se tendência


recente de despenalização da prática do dito homicídio piedoso ou homicídio
eutanásico, o atual Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40) em nada explícita ou
mesmo despenaliza a prática da morte por benignidade, alocando todas as condutas
analisadas no item supra como sendo facetas de um mesmo crime, o homicídio
tipificado no art. 121 do referido Código.
15

Neste sentido, Barbosa e Losurdo (2018), argumentam que inicialmente


quanto à vida, a mesma encontra-se no caput do artigo 5º da CF-88, constando a
inviolabilidade da mesma enquanto um direito fundamental. Neste sentido, Tavares
(2012), argumenta que este tal direito pode ser traduzido em: o direito ao indivíduo
permanecer existente e o direito a um nível de vida adequado.

É nesse último ponto que repousa a tese favorável à eutanásia.


Quando conflitadas ambas as esferas do direito à vida, como nos casos de
solicitação da morte piedosa, são inegáveis que a insistência no permanecer
vivo aos que desejam morrer acoima o referido nível de vida adequado. É,
portanto, quando o exercício do direito de viver esbarra na vida adequada, ou
seja, minimamente digna, que vale questionar se viver é um direito ou passa
a ser um dever do cidadão.
Neste sentido, Tavares (2018), pondera que a pessoa não tem o livre arbítrio
para decidir sobre a própria vida. Neste sentido SARLET (2001) afirma:
[...] a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da
comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de
cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover
sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e
da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Neste contexto, é importante ressaltar que a eutanásia é um tabu perante a


legislação brasileira, ou seja, é uma ênfase ambígua. De um lado, o ordenamento
jurídico brasileiro dota o indivíduo de livre arbítrio, e por outro, nega um fato que
poderá garantir a dignidade de uma boa morte. É importante destacar que por ser
um tema bastante polêmico, e as vezes controverso, poucos lugares do mundo
efetuam a tal prática. Segundo Gianello e Winck (2017).

Uruguai

O pioneiro no quesito eutanásia certamente é o Uruguai, que apesar de não


ter legalizado expressamente a sua prática, foi o primeiro país a tolerá-la.

Desde o ano de 1934, a legislação uruguaia, por meio do artigo 37 do Código


Penal, prevê que os juízes possuem a faculdade de isentar de pena quem comete o
denominado “homicídio piedoso”, desde que preenchidos três requisitos básicos: (I)
o autor da ação deve ter “antecedentes honráveis”; (II) o ato deve ter sido motivado
por piedade; e (III) mediante reiteradas súplicas da vítima (no caso, do paciente)
(GOLDIM, 1997). É importante ressaltar ainda que, pelo Código Penal do país, essa
16

isenção de pena não se aplica ao suicídio ou morte assistida, os quais se


configuram em conduta criminosa.

Colômbia

Diferentemente de outros países, a “autorização” para a prática da eutanásia


na Colômbia se deu pela decisão final da Corte Constitucional Colombiana, em maio
de 1997, em um julgamento, no qual restou decido que está isento de pena aquele
comete o denominado homicídio piedoso, desde que haja prévio e inequívoco
consentimento do paciente em estado terminal (GOLIM, 1998).
No entanto, apesar da decisão favorável da corte, o Código Penal
Colombiano continua prevendo, em seu artigo 326, continua prevendo como conduta
criminosa o homicídio, com pena privativa de liberdade de 6 meses a 3 anos, razão
pela qual muitos procedimentos de eutanásia acontecem de forma clandestina,
colocando em risco o paciente.
Holanda
A Holanda é considerada um país de referência quando o assunto é
eutanásia. Diferentemente do Uruguai, que não editou lei específica sobre o
assunto, a Holanda foi a primeira nação a efetivamente legalizar e regulamentar a
prática da eutanásia, tendo isso ocorrido em 2001.

No território holandês, as discussões acerca do assunto vinham acontecendo


desde o ano de 1973, com o chamado caso Postma. Naquela ocasião, a médica
Geertruida Postma foi julgada e condenada pela prática de eutanásia contra a
própria mãe, uma senhora muito doente que pedia reiteradamente para a filha tirar-
lhe a vida.

2.2 EUTANÁSIA

A Eutanásia é um procedimento bastante antigo, conhecido da Grécia Antiga


ao Império Romano e povos Celtas. O vocábulo eutanásia deriva do grego: eu, que
significa boa e de thanatos que significa morte. Podendo ser entendida em sua
literalidade, “como boa morte, morte apropriada, morte piedosa, morte benéfica,
17

crime caritativo, entre outras possíveis traduções”, conforme aponta Sá e Naves


(2009, p.301). A palavra eutanásia foi utilizada primeiramente por Francis Bacon,
filósofo inglês no ano de 1623, em sua obra Historia vitae et mortis.

Segundo Danielle Cortez (2012, p. 23), há uma sintética evolução histórica do


significado do vocábulo eutanásia: no século XVIII, queria dizer uma ação que
produzia uma morte suave e fácil; no século XIX, a ação de matar uma pessoa por
piedade, e, finalmente, no século XX, a operação voluntária de propiciar a morte
sem dor, tendo por escopo evitar sofrimentos dolorosos aos doentes. De acordo com
Sá e Naves (2009, p.302). A eutanásia, propriamente dita, é a promoção do óbito. É
a conduta, por meio da ação ou omissão do médico, que emprega, ou omite, meio
eficiente para produzir a morte em paciente incurável e em estado de grave
sofrimento, diferente do curso natural, abreviando-lhe a vida.

Segundo Guimarães (2011, p.91), a eutanásia própria ou propriamente dita


seria a conduta detentora dos seguintes requisitos: provocação de morte piedosa,
por ação ou inação de terceiro, no caso o médico; de que se determine o
encurtamento da vida, em caso de doença incurável que acometa paciente terminal
a padecer de profundo sofrimento, compreendendo assim a provocação da morte
por ação, denominada eutanásia ativa ou quanto por inação, entendida como
eutanásia passiva.
Entretanto o que se tem certeza é a existência de certa confusão em relação
ao termo eutanásia, fato que justifica trazer à colação as considerações de Pessini
(2004, p.205) que sugere:

Para ajudar na classificação terminológica, nesta fase da


discussão, sugerimos que o termo eutanásia seja reservado
apenas para o ato médico que, por compaixão, abrevia
diretamente a vida do paciente com a intenção de eliminar a
dor e que outros procedimentos sejam identificados como
expressões de assassinato por misericórdia, mistanásia,
distanásia ou ortotanásia conforme seus resultados, a
intencionalidade, sua natureza e as circunstâncias.

Para se estudar esse instituto é evidente compreender seus requisitos. Inicia-


se por identificar o significado de Provocação de morte, pois se esse pressuposto
18

não se efetivar, não se pode afirmar que tenha ocorrido eutanásia. Se a morte
acontece por causas naturais, definitivamente não é considerado eutanásia. Outro
fator a ser considerado é a Intervenção de Terceiro. Neste caso se a morte não é
provocada por outra pessoa, não se configura eutanásia. Se a morte é em
decorrência de ação do próprio indivíduo, não se configura eutanásia, mas suicídio.

Doença Incurável é outro requisito indispensável para se configurar a


eutanásia, uma que a enfermidade que acomete o indivíduo que vai se submeter à
eutanásia deve ser incurável, ou seja, uma doença em estado irreversível. Não se
deve ter nenhuma esperança de cura ou tratamento com recursos terapêuticos e
tecnológicos para curar o paciente.

Tem-se ainda a situação de Estado Terminal do Paciente. Este requisito é


exigido porque, apesar do paciente ter uma doença incurável, ele ainda pode ter
uma sobrevida razoável e suportável, tendo ao menos qualidade de vida, como é o
caso de pacientes com AIDS.

Sobre pacientes terminais, Danielle Cortez (2012, p.25), apud Guimarães


(2011, p.96-98) afirma o seguinte:

O conceito de paciente terminal, outrossim, remonta ao século XX, eis que foi
apenas nesse século, ou seja, bastante recentemente, que a trajetória das doenças
se alterou de modo especial. Antes as enfermidades, no mais das vezes, eram
fulminantes, sem conceder tempo ao indivíduo para que pudesse, ao menos, ser
considerado terminal. As condições tecnológicas de então, outrossim, não permitiam
maior prolongamento artificial do período vital, fosse ou não o alongamento benéfico
ao paciente.

Além de todos os requisitos acima evidenciados, há a necessidade de que a


conduta seja praticada com o intuito de encurtar a vida, e que essa conduta seja
praticada por um médico ou profissional da saúde, devidamente habilitado e
qualificado para lidar com a situação em que o paciente terminal se encontra.

Existem autores que não consideram necessário que a eutanásia tenha que
ser praticada exclusivamente por um médico para que seja caracterizada. Um
desses autores é Vieira (2009, p. 103), que delimita o conceito de eutanásia:
19

O conceito de eutanásia que se adota neste trabalho não se


restringe aos atos de caráter médico, entendendo-se
eutanásia como a conduta que, ativa ou passivamente, mas
sempre de forma intencional, abrevia a vida de um
paciente, como objetivo de pôr fim ao seu sofrimento.

Do que foi exposto resta claro que a eutanásia é compreendida como o


mecanismo utilizado como forma de promover a abreviação da vida de um paciente,
seja ele vítima de uma doença incurável, seja em estado terminal ou então sofrendo
intensas dores que não possam ser aliviadas, ocorrendo então a morte desse
paciente em decorrência de uma ação ou de uma omissão. O que se conclui acerca
da análise de sua conceituação é que há formas diferentes de se classificar a
eutanásia, que iremos abordar agora.

A palavra eutanásia tem origem do grego, tendo a sua construção semântica


dividida em "Eu", que significa “bom”, e "thanatos", que significa “morte”, de modo
que a etimologia da palavra se traduz em boa morte, piedosa, caridosa (LIMA
NETO, 2012). Francis Bacon, foi quem inicialmente propôs o termo “eutanásia”, no
ano de 1623, em sua obra intitulada História da vida e da morte; a eutanásia seria,
portanto, o tratamento adequado às doenças incuráveis.

A eutanásia é uma prática utilizada em larga escala pelos povos antigos.


Segundo Bonici (2013, on line), “Na Antiguidade a eutanásia era aceita e largamente
praticada por alguns povos, Eslavos, Escandinavos e Celtas apressavam a morte de
seus pais velhos e enfermos”.

O autor e advogado espanhol Luis Jiménez de Asúas (2003, p.185) define a


eutanásia como sendo a “morte que alguém proporciona a uma pessoa que padece
de uma enfermidade incurável ou muito penoso, e a que tende a extinguir a agonia
demasiado cruel ou prolongada”.

Neste sentido também discorre Maria Helena Diniz (2011, p. 438), a qual
afirma que a eutanásia consiste na “deliberação de antecipar a morte de doente
irreversível ou terminal, a pedido seu ou de seus familiares, ante o fato da
incurabilidade de sua moléstia, da insuportabilidade de seu sofrimento e da
inutilidade de seu tratamento”.
20

A tese arguida pelos defensores da eutanásia substancia-se no fato de que


este método serviria como uma espécie de “último ato misericordioso” em favor de
um enfermo, objetivando colocar um ponto final no sofrimento do paciente que se
encontra em estado terminal, acometido de enfermidade irreversível, onde o
prolongamento da sua vida serviria apenas para lhe causar maior padecimento.

Irrefutavelmente, a hipótese de aplicação da eutanásia acaba propiciando


uma grande discussão em todas as esferas sociais, uma vez que tal “ato
misericordioso” acaba esbarrando não apenas em normas legais, mas também em
princípios e direitos básicos do ser humano, como o direito à vida, à liberdade e a
dignidade da pessoa humana.

Do mesmo modo, outro notável agente responsável por intensificar o


sentimento de repulsa à eutanásia é a esfera religiosa, já que, segundo seus
ensinamentos, não cabe ao homem tirar a vida de seu semelhante.

Na doutrina clássica, a eutanásia pode ser classificada quanto ao tipo de


ação empregada pelo “executor”, segundo Neukamp (1937), da seguinte forma: (a)
eutanásia ativa, que é aquela executada por meio de um ato deliberado de induzir à
morte sem sofrimento do enfermo, com o objetivo de colocar um fim no sofrimento
do paciente, por fins humanitários/misericordiosos, tal como a famosa injeção letal; e
(b) eutanásia passiva, a qual ocorre por meio de omissões ou interrupções de
medidas que prolongariam a sobrevida do paciente e a sua ausência anteciparia a
morte.

Há, ainda, uma segunda forma de classificação do procedimento, agora em


relação ao consentimento do paciente, consistente nas três seguintes espécies (a) a
eutanásia voluntária, quando se atende a vontade expressa do paciente, podendo
ser também enquadrado como “suicídio assistido”; (b) a eutanásia involuntária,
quando a morte é induzida contra a vontade do enfermo, caracterizando assim
espécie de “homicídio”; e (c) a eutanásia não voluntária, que é quando a morte
acontece sem o paciente poder manifestar a sua vontade quanto a ela (MARTIN,
1998). Relacionadas ao resultado, qual seja, de tirar a vida de um paciente
irreversivelmente enfermo, encontram-se presentes, no mesmo campo da eutanásia,
outras duas práticas: a distanásia e a ortotanásia. Entretanto, apesar de acabarem
21

convergindo em um mesmo resultado, as duas espécies possuem distinções quanto


ao modo em que são executadas.

A autora Maria Helena Diniz (2001), ao versar sobre a distanásia, afirma que
este meio não visa prolongar a vida, mas sim o processo de morte. Em outras
palavras, a distanásia é o procedimento médico pelo qual se busca não a qualidade
da vida remanescente, mas sim o prolongamento ao máximo do tempo de vida
restante do paciente, fazendo uso de todos os recursos e procedimentos
necessários para que isso seja possível, o que, consequentemente, acaba por
prorrogar também o sofrimento do enfermo. Tal ato pode ser entendido também
como “obstinação terapêutica” (SELLI; ALVES, 2009).

A ortotanásia, por sua vez, conforme explica Tereza Rodrigues Vieira (1999),
prioriza a qualidade da vida que ainda resta ao paciente, deixando que a morte
ocorra naturalmente.

Neste procedimento, descartam-se tratamentos agressivos que não têm a


capacidade de reverter o quadro clínico, dando lugar apenas aos cuidados
paliativos, relacionados ao bem-estar da pessoa. Assim, neste caso, não mais se
luta contra algo que é inevitável – a morte. Talvez seja a ortotanásia a forma mais
“correta” ou “digna” de se morrer, uma vez que se dá prioridade à qualidade da vida
remanescente do enfermo, sem prolongar a sua dor por mais tempo do que o
necessário.

A palavra EUTANÁSIA foi criada no séc. XVII pelo filósofo inglês Francis
Bacon, quando prescreveu, na sua obra “Historia vitae et mortis”, como tratamento
mais adequado para as doenças incuráveis (SILVA, 2000). Na sua etimologia estão
duas palavras gregas: EU, que significa bem ou boa, e THANASIA, equivalente a
morte. Em sentido literal, a “eutanásia” significa “Boa Morte”, a morte calma, a morte
piedosa e humanitária.

A palavra EUTANÁSIA foi criada no séc. XVII pelo filósofo inglês Francis
Bacon, quando prescreveu, na sua obra “Historia vitae et mortis”, como tratamento
mais adequado para as doenças incuráveis (SILVA, 2000). Na sua etimologia estão
duas palavras gregas: EU, que significa bem ou boa, e THANASIA, equivalente a
22

morte. Em sentido literal, a “eutanásia” significa “Boa Morte”, a morte calma, a morte
piedosa e humanitária.

Lana (2003, p.2) em sua monografia “eutanásia - Ritos e Controversas


Médico-Legais” definiu, basicamente, o sentido da eutanásia como sendo o de uma
boa ou bela morte, em sentido mais amplo, a definiu como “ajuda para morrer”.

De outra forma, a eutanásia seria uma forma de interferência no desenrolar


natural da vida com a morte serena para acabar com o intenso sofrimento.
Entretanto, para a medicina a eutanásia consiste em minorar os sofrimentos de uma
pessoa doente, de prognóstico fatal ou em estado de coma irreversível, sem
possibilidade de sobrevivência, apressando-lhe a morte ou proporcionando-lhe os
meios para consegui-la (NETO, 2003, p.2). Ressalte-se que para a sua
caracterização é imprescindível estar tal ato eivado de relevante valor moral,
condizente com os interesses individuais do agente, entre eles o sentimento de
piedade e compaixão.

Asúa (2003), renomado professor espanhol, em sua obra “Liberdade de Amar


e Direito de Morrer”, define a eutanásia como a “morte que alguém proporciona a
uma pessoa que padece de uma enfermidade incurável ou muito penoso, e a que
tende a extinguir a agonia demasiado cruel ou prolongada”. O ilustre doutrinador
espanhol acentua que esse é o sentido verdadeiro da eutanásia, compatível com o
móvel e a finalidade altruística da mesma.

Na definição de Morselli (apud GOMES, 1969), a eutanásia é “aquela morte


que alguém dá a outrem que sofre de uma enfermidade incurável, a seu próprio
requerimento, para abreviar a agonia muito grande e dolorosa”. Cumpre, ainda,
apresentar a opinião do estudioso paraense Bittencourt (1995), segundo qual a
eutanásia é tão somente a morte boa, piedosa e humanitária, que, por pena e
compaixão, se proporciona a quem, doente e incurável, prefere mil vezes morrer, e
logo, a viver garroteado pelo sofrimento, pela incerteza e pelo desespero.

Deste modo, percebe-se que o termo eutanásia passou a designar a morte


deliberadamente causada a uma pessoa que sofre de enfermidade incurável ou
muito penosa, para suprir a agonia longa e dolorosa do denominado paciente
23

terminal. O seu sentido ampliou-se e passou a abranger o suicídio, a ajuda a bem


morrer, o homicídio piedoso, a exemplo do CP Uruguaio (CARNEIRO, 1998).

Nessa concepção, verifica-se que o significado da palavra eutanásia evoluiu


ao longo do tempo e exigiu nomenclatura específica para designar condutas
diferentes, convergindo seu significado apenas para a morte causada por conduta
do médico sobre a situação de paciente incurável e terrível sofrimento. O histórico
da eutanásia revela que os valores sociais, culturais e religiosos influenciam de
maneira fundamental nas opiniões contrárias ou favoráveis à prática da eutanásia.

As discussões sobre a eutanásia atravessaram diversos períodos históricos.


Passou pelos povos celtas, pela Índia, por Cleópatra VII (69 a.c.-30 a.c.); teve
ilustres participações de Lutero, Thomas Morus (Utopia), David Hume (On suicide),
Karl Marx (Medical Euthanasia) e Schopenhauer (GOLDIM).

A eutanásia que os gregos conheceram, praticaram e da qual se tem provas


históricas é a que se chama “falsa eutanásia”, ou seja, a eutanásia de fundamento e
finalidade “puramente eugênicos. Em Atenas, em 400 a.c., Platão pregava no 3º livro
de sua “República” o sacrifício de velhos, fracos e inválidos, sob o argumento do
fortalecimento do bem-estar e da economia coletiva (SILVA, 2000). Em Esparta, que
era uma sociedade guerreira por excelência, era prática comum lançar-se do monte
Taigeto os nascituros que apresentassem defeitos físicos.

Na Índia antiga, os doentes incuráveis, assim compreendidos aqueles


considerados inúteis em geral, eram atirados publicamente no Rio Ganges, depois
de obstruídas a boca e obstruídas a boca e as narinas com um pouco de barro. Os
celtas, além de matarem as crianças deformadas, eliminavam também os idosos
(seus próprios pais quando velhos e doentes), uma vez que os julgavam
desnecessários à sociedade, haja vista que os mesmos não contribuem para o
enriquecimento da nação (ASÚA, 2003).

A Igreja também se fez presente, ao longo da história, aderindo à posição


contrária à eutanásia, pois a antecipação da morte está em desacordo com as leis
de Deus, a lei natural.
24

Na década de 90 vigorou, por alguns meses, na Austrália uma lei que


possibilitava formalmente a eutanásia. Os critérios para a execução eram inúmeros,
tais como: vontade do paciente, idade mínima de 18 anos, doença incurável,
inexistência de qualquer medida que possa curar o paciente, precisão do
diagnostico, inexistência de depressão, conhecimento do paciente dos tratamentos
disponíveis, capacidade de decisão.

No Brasil, em 1996, foi proposto um projeto de lei no Senado Federal (projeto


de lei 125/96), instituindo a possibilidade de realização de procedimentos de
eutanásia no Brasil. Tal projeto como é cediço não prosperou (CARVALHO, 2003).
São pouquíssimos os ordenamentos jurídicos que legalizaram algum modo de
abreviação da vida nas situações de sofrimento extremo.

Há apenas quatro países, todos europeus, que regulamentaram algum tipo de


eutanásia ativa ou suicídio assistido: Holanda, Bélgica, Suíça e Luxemburgo.
Ressalte-se que o estado do Oregon, nos Estados Unidos, também o fez. Vale
ressaltar que as leis desse país permitem que decisões sobre certos temas fiquem a
nível está dual. A própria definição de eutanásia varia nestes locais, o que
demonstra a necessidade de a legislação regulamentar o que cada país entende
pelo termo. Não há consenso sobre a definição da eutanásia e de suas
classificações.
25

Povos Ano Descrição

Os Célticos Diversos povos, como os celtas, por exemplo,


tinham por hábito que os filhos matassem os seus pais
quando estes estivessem velhos e doentes. Na Índia os
doentes incuráveis eram levados até a beira do rio Ganges,
onde tinham as suas narinas e a boca obstruídas com o
barro. Uma vez feito isto eram atirados ao rio para
morrerem. Na própria Bíblia tem uma situação que evoca a
eutanásia, no segundo livro de Samuel.
Grécia e Egito 69 Estas discussões não ficaram restritas apenas a
Grécia. Cleópatra VII (69aC-30aC) criou no Egito uma
A.C-30ª.c
"Academia" para estudar formas de morte menos dolorosas.
Prússia 1895 No século passado, o seu apogeu foi em 1895, na
então Prússia, quando, durante a discussão do seu plano
nacional de saúde, foi proposto que o Estado deveria prover
os meios para a realização de eutanásia em pessoas que se
tornaram incompetentes para solicitá-la.
Brasil 1920 No Brasil, na Faculdade de Medicina da Bahia, mas
a 1940 também no Rio de Janeiro e em São Paulo, inúmeras teses
foram desenvolvidas neste assunto entre 1914 e 1935
Inglaterra 1931 Na Inglaterra, o Dr. Millard, propôs uma Lei para
Legalização da Eutanásia Voluntária, que foi discutida até
1936, quando a Câmara dos Lordes a rejeitou. Esta sua
proposta serviu, posteriormente, de base para o modelo
holandês
Uruguai 1934 Incluiu a possibilidade da eutanásia no seu Código
Penal, através da possibilidade do "homicídio piedoso". Esta
legislação uruguaia possivelmente seja a primeira
regulamentação nacional sobre o tema. Vale salientar que
esta legislação continua em vigor até o presente
Alemanha 1939 Em outubro de 1939 foi iniciado o programa nazista
de eutanásia, sob o código "Aktion T 4". O objetivo inicial era
eliminar as pessoas que tinham uma "vida que não merecia
ser vivida". Este programa materializou a proposta teórica da
"higienização social".
Vaticano 1956 A Igreja Católica, em 1956, posicionou-se de forma
contrária a eutanásia por ser contra a "lei de Deus"
Associação de 1968 A Associação Mundial de Medicina adotou uma
resolução contrária a eutanásia.
Medicina
Holanda 1973 Uma médica geral, Dra. Geertruida Postma, foi
julgada por eutanásia, praticada em sua mãe, com uma dose
letal de morfina. A mãe havia feito reiterados pedidos para
morrer. Foi processada e condenada por homicídio, com
uma pena de prisão de uma semana (suspensa), e liberdade
condicional por um ano
Holanda 1981 A Corte de Rotterdam revisou e estabeleceu os
critérios para o auxílio à morte. Em 1990, a Real Sociedade
Médica dos Países Baixos e o Ministério da Justiça
estabeleceram uma rotina de notificação para os casos de
eutanásia, sem torná-la legal, apenas isentando o
profissional de procedimentos criminais.
26

EUA 1991 Houve uma tentativa frustrada de introduzir a eutanásia no


Código Civil da Califórnia/EEUU.
Brasil 1996 Foi proposto um projeto de lei no Senado Federal (projeto de
lei 125/96), instituíndo a possibilidade de realização de
procedimentos de eutanásia no Brasil. A sua avaliação nas
comissões especializadas não prosperou.
Colômbia 1996 A Corte Constitucional da Colômbia estabeleceu que
"ninguém pode ser responsabilizado criminalmente por tirar
a vida de um paciente terminal que tenha dado seu claro
consentimento". Esta posição estabeleceu um grande
debate nacional entre as correntes favoráveis e contrárias
EUA 1997 O estado do Oregon, nos Estados Unidos, legalizou o
suicídio assistido, que foi interpretado erroneamente, por
muitas pessoas e meios de comunicação, como tendo sido
autorizada a prática da eutanásia.
Países Baixo 2000 A Câmara de Representantes dos Países Baixos aprovou,
com uma parte do plenário se manifestando contra uma
legislação sobre morte assistida. Esta lei permitirá inclusive
que menores de idade possam solicitar este procedimento.
Falta ainda a aprovação pelo Senado, mas a aprovação é
dada como certa

No Quadro 1, foram elencados os principais marcos referentes a eutanásia


nas mais diversas etapas e contextos históricos. É importante destacar que são
pouquíssimos os ordenamentos jurídicos que legalizaram algum modo de
abreviação da vida nas situações de sofrimento extremo. As formas legalizadas de
eutanásia ou suicídio assistido variam nos países supracitados, bem como a data
em que tal normatização foi aprovada pelos respectivos parlamentos.

Na Holanda, a mudança se deu inicialmente por jurisprudência, sem amparo


de lei específica sobre o tema. Desde 1973 a justiça holandesa aceitava a eutanásia
praticada por médicos, quando a morte é necessária para prevenir o sofrimento. No
próximo item será discorrido sobre a discussão.
27

3 ASPECTOS JURÍDICOS DA EUTANÁSIA

As discussões acerca da terminalidade da vida é polêmica e está longe de


ser pacificada. Todavia, ao mesmo tempo em que a população envelhece, uma
medicina mais humanizada é idealizada. Portanto, a eutanásia será um tema cada
vez mais recorrente e primordial na sociedade.

Os avanços tecnológicos possibilitam o prolongamento não natural da vida


humana, entretanto, em muitos casos o paciente é submetido a um sofrimento
extremo, e não encontra apoio legal para manifestar seu direito de liberdade e
autonomia de se submeter aos tratamentos terapêuticos que objetivam o
prolongamento da vida, ainda que de forma dolorosa.

O expresso crescimento das descobertas científicas e evolução da


tecnologia, não possui amparo suficiente do ordenamento jurídico, visto que este
não acompanhou toda essa evolução, e, portanto, é necessário que haja um
maior entendimento do texto normativo pelos operadores do direito, havendo
então uma adequação das normas aos eventos que permeiam pela sociedade
atual.

3.1 A EUTANÁSIA NA ESFERA PENAL E CIVIL BRASILEIRA

Por levantar o questionamento sobre o direito de uma pessoa a decidir por


fim a sua vida, necessitando do auxílio de um terceiro, a eutanásia faz com que
28

os princípios fundamentais legitimados através da Constituição, sendo eles o da


Dignidade da Pessoa Humana, o direito à vida e autonomia da vontade sejam
examinados.

A legislação brasileira não aborda expressamente acerca da eutanásia.


Apesar de todo o esforço para tentar reconhecê-la no ordenamento jurídico
brasileiro, a prática é tratada apenas na esfera criminal, tendo em vista que
superficialmente o ato fere o direito à vida, o bem jurídico mais valioso do nosso
ordenamento jurídico.

A nossa Carta-Magna em seu texto, não delimita de forma clara a


abordagem jurídica em relação a eutanásia, considerando que é na esfera penal
que se encontra a função de tratar acerca de ações delituosas. Assim, à
Constituição da República, cabe assegurar os princípios balizadores das normas
que vão regular o ordenamento jurídico em suas determinadas esferas.

O Código Penal Brasileiro não tipifica a eutanásia de forma exclusiva, mas


a prática é criminalizada por ser considerada uma conduta típica, ilícita e culpável,
sendo penalizada como homicídio, conforme explicita o artigo 121: “Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos” (BRASIL,1940, online).

Alguns doutrinadores entendem que a morte provocada se trata de uma


conduta delituosa, sustentando que o direito à vida se sobrepõe aos demais.
Sobre o tema, o constitucionalista Tavares (2019, p.440 e 441) dispõe:

Distingue-se, aqui, entre o chamado homicídio por piedade (“te e”) e o


direito à morte digna. No Brasil, não se tolera a chamada “ibe a e à
própria te”. Não se pode impedir que alguém disponha de seu direito à
vida, suicidando-se, mas a morte não é, por isso, um direito subjetivo do
indivíduo, a ponto de poder exigi-la do Poder Público. Assim, de um lado,
não se pode validamente exigir, do Estado ou de terceiros, a provocação
da morte para atenuar sofrimentos. De outra parte, igualmente não se
admite a cessação do prolongamento artificial (por aparelhos) da vida de
alguém, que dele dependa. Em uma palavra, a eutanásia é considerada
homicídio. Há, aqui, uma prevalência do direito à vida, em detrimento da
dignidade.

Na visão doutrinária há o entendimento de que o homicídio quando


cometido por motivo de relevante valor moral, praticado em virtude de interesse
particular, trata-se de homicídio privilegiado, e possui sua pena atenuada. Assim,
29

o homicídio eutanásico pode ser classificado como homicídio privilegiado, pois foi
ocasionado pelo sentimento de piedade diante do sofrimento do paciente
acometido doença em estágio terminal. O homicídio privilegiado está descrito no
código penal ainda no artigo 121, em seu parágrafo 1º:

Caso de diminuição de pena

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor


social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a
um terço (BRASIL,1940, online).

Nesse sentido, há uma predominância doutrinária no âmbito penal


brasileiro em classificar a eutanásia ativa direta e passiva como homicídio com
sua pena atenuada. De acordo com Bitencourt (2021, p.40): “Admite-se, por
exemplo, como impelido por motivo de relevante valor moral o denominado
homicídio piedoso, ou, tecnicamente falando, a eutanásia”. Pois apesar de haver
motivação com valor moral relevante diante da compaixão para com o sofrimento
irremediável da vítima, a consequência ainda será o óbito do paciente. Nelson
Hungria (1958, p.127) salienta que “o legislador brasileiro não se deixou
convencer pelos argumentos que defendem, no tocante ao homicídio piedoso, a
radical impunibilidade ou a faculdade de perdão judicial”.

Além da conduta comissiva de matar alguém, elencada no art. 121 do


Código Penal, também há a conduta omissiva, disposto no artigo 13 §2º do
referido código:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é


imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão
sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e


podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

1.1.1 tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;


(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
1.1.2 de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
1.1.3 com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência
do resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
(BRASIL, 1940, online).
30

A diferença entre a eutanásia ativa e a passiva é que na primeira há uma


conduta comissiva do agente, enquanto na segunda a conduta é omissiva. Sendo
assim, quando o agente se tratar de um médico, embora a sua conduta tenha sido
negativa, será tratada de forma positiva de acordo com a doutrina.

Dessa forma, Souza (2006. p 236):

[...] não há dúvidas de que esses agentes de saúde têm a especial


função de garantia de bens jurídicos – sobretudo de bens como a vida e
a saúde – dos pacientes. Dessa forma, se descumprir o dever de agir,
abstendo-se de realizar a conduta devida e não impedindo o resultado, o
médico será considerado o causador deste mesmo resultado e
responderá pelo crime correspondente, seja doloso ou culposo, já que os
crimes de omissão imprópria podem ter as duas características. Assim,
se o médico, intencionalmente, deixar de atender determinado paciente
em perigo de vida, o qual em virtude dessa omissão venha a morrer,
responderá pelo crime de homicídio (doloso), mas não pelo de omissão
de socorro.

No que tange ao nosso Código Civil, é possível localizar alguns artigos que
se relacionam com o tema central do trabalho. Um exemplo é o artigo 15 que
determina: “ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica” (BRASIL, 2002, online).

Em se tratando de responsabilidade civil, o código civil estabelece em seu


artigo 927 que “aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo”. E em relação a conduta, o artigo 186 aponta: “aquele e que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002, online).

Segundo Cavalieri (2005, p.24): “Responsabilidade Civil é um dever jurídico


sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever
jurídico origin rio”. Portanto, a responsabilidade civil é cabível quando resta
comprovado a culpa do agente bem como o dano causado a vítima. É necessário
que haja o nexo causal entre a conduta do agente e o dano causado.

Quando se trata de eutanásia, o procedimento deve ser realizado por um


médico devidamente apto para tal. E sendo assim, é entendido que a relação
entre médico e paciente é contratual, nesse sentido, Maluf (2020, p.433)
compreende:

A relação médico-paciente é contratual, e visa não somente a cura do


paciente, mas visa, sobretudo, prestação de cuidados conscienciosos,
31

atentos à ética profissional e às prescrições deontológicas, no limite do


exercício profissional, observados os ditames bioéticos.

Seguindo o raciocínio:

“Embora a natureza do trabalho do médico seja contratual, decorrente


das obrigações contratadas, não dominam os princípios da
responsabilidade objetiva, porque nem sempre é possível a obtenção do
êxito na execução de seu trabalho (MALUF, 2020, p.433).

Embora a responsabilidade do médico seja contratual, ela também é


subjetiva, haja vista a necessidade de haver comprovação da culpa, sendo tal
ônus do paciente ou seus herdeiros. Segundo Cavalieri (2005, p.394):

Culpa e erro profissional são coisas distintas. Há erro profissional quando


a conduta médica é correta, mas a técnica empregada é incorreta; há
imperícia quando a técnica é correta, mas a conduta médica é incorreta.
A culpa médica supõe uma falta de diligência ou de prudência em
relação ao que era esperável de um bom profissional escolhido como
padrão; o erro é a falha do homem normal, consequência inelutável da
falibilidade humana.

Desse modo, fica evidente que a responsabilidade civil pode ser


proveniente da conduta do médico tendo total nexo causal com o resultado.
Contudo, o artigo 935 determina que “a responsabilidade civil é independente da
criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre
quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo
criminal” (BR SIL, 2002, online).

Portanto, a eutanásia, sendo tratada como homicídio, deverá ser


competência da esfera penal, enquanto a esfera cível é competente para analisar
a conduta ilícita do médico ocasionando danos ao paciente.

Os efeitos ocasionados pela eutanásia, tratada como homicídio na esfera


civil é estabelecido no código civil:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir


outras reparações:

I - No pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral


e o luto da família;
II - Na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia,
levando-se em conta a duração provável da vida da vítima (BRASIL,
32

1940, online).

Sendo complementado pelo artigo:


Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade
profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte
do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o
trabalho.

Dessa forma, conclui-se que no âmbito penal, não é admitido a morte


motivada por compaixão e grande valor moral, e no âmbito civil o médico que
praticou o ato deverá reparar financeiramente a vítima, se comprovado o dano.

3.2 O CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

No Brasil, o texto normativo responsável por regulamentar o exercício da


medicina é o Código de Ética Médica. A resolução nº 1.805/2006 do Conselho
Federal de Medicina regulamenta acerca da possibilidade de o médico, mediante
autorização do paciente ou de seu responsável legal limitar ou suspender
tratamentos e procedimentos que prolongue a vida de pacientes em fase terminal,
não estendendo o sofrimento ao paciente.

No ano de 2010 a resolução 1.931/2009 entrou em vigor no referido código


e na seção dos princípios fundamentais, em seu capítulo I, dispõe acerca da
autonomia dos pacientes:

XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com


seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as
escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e
terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e
cientificamente reconhecidas (CFM, 2018, online).

Aos médicos é vedada pelo código de ética abreviar a vida de pacientes


ainda que seja solicitado por seu representante legal. Destarte, a eutanásia e a
distanásia não é permitida no Brasil. O artigo 41 do Código de Ética determina:
33

Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu
representante legal.

Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o


médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem
empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas,
levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na
sua impossibilidade, a de seu representante legal (CFM, 1990, online).

Já no inciso XXII do Capítulo I dispõe:

Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a


realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários
e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos
apropriados.

Do ponto de vista do código de ética, a prática da ortotanásia não é


considerada um ato ilícito, desde que a vontade do paciente ou a de seu
representante legal seja respeitada.

Dessa forma, o médico não deverá praticar nenhuma modalidade de


eutanásia, pois esta será considerada uma conduta ilícita, entretanto, em casos
de doentes em estágio final, o médico poderá, observando sempre a autonomia
do paciente ou de seu representante legal, suspender tratamentos que tragam
mais sofrimento, e que não tragam a definitiva cura, apenas postergando o fim
inevitável, como estabelece o preâmbulo da Resolução do Conselho Federal de
Medicina, nº 1.805/2006:

Na fase terminal de enfermidades graves e incuráveis é permitido ao


médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que
prolonguem a vida do doente, garantindo-lhe os cuidados necessários
para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva de uma
assistência integral, respeitada a vontade do paciente ou de seu
representante legal (CFM, 2006, online).

Bem como o parágrafo único do artigo 41 do mesmo dispositivo legal:


Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos
os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas
ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração
a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu
representante legal.
34

O Código de Ética Médica, através do princípio da dignidade humana e da


autonomia, assegura ao indivíduo uma morte digna e sem sofrimento, respeitando
sua vontade final, proporcionada pela ortotanásia, cabendo ao médico apenas os
cuidados paliativos com o paciente.

3.3 DIREITO COMPARADO

Diante o exposto, concluímos que no Brasil a eutanásia não possui uma


tipificação própria, contudo, o agente que pratica tal ato é penalizado pelo código
penal. Porém, no âmbito internacional, o tema é tratado de forma diversa de
acordo com o ordenamento jurídico e as decisões dos tribunais de cada país.

3.3.1 Holanda

A Holanda foi o primeiro país a descriminalizar a eutanásia e o suicídio


assistido. As novas adaptações foram feitas em 2002 e alterou o artigo 293 que
trata da eutanásia e o artigo 294 que dispõe acerca do suicídio assistido.

Tais alterações devem atender alguns requisitos pré-determinados pelo


dispositivo normativo do país. No documento “EUTANÁSIA E SUICÍDIO
ASSISTIDO: Legislação Comparada”, podemos observar esses requisitos:

De acordo com o n.º 1 do citado artigo 293.º, comete crime quem mata
alguém a seu pedido expresso e sério. O n.º 2 do mesmo preceito
excetua a responsabilidade quando cometido por um médico que cumpra
os requisitos estabelecidos no artigo 2.º da lei avulsa acima citada. A
irresponsabilização criminal do ato do médico ocorre também no caso do
suicídio assistido previsto no n.º 1 do artigo 294.º do Código Penal, por
via do disposto no n.º

2. Os pressupostos para a realização do ato passam por obedecer ao


desejo do doente, que deve estar consciente, num sofrimento
insuportável, sem perspectivas ou esperanças de melhoras. O pedido
nunca pode provir de um familiar ou um amigo. O ato tem de resultar de
solicitação do doente, reiterada e convicta, sendo a morte provocada a
única saída. Mas nem sempre os doentes têm o direito a esta prática
nem o médico a obrigação de a levar a cabo. Para respeitar os critérios
exigidos na lei, o médico deve ter noção de que está a cumprir na íntegra
a vontade do doente, depois de o ter informado escrupulosamente do
seu estado de saúde e ter verificado que o doente está num estado
35

terminal, em grande sofrimento físico e psicológico. Tem a obrigação


legal de reportar cada caso, depois de ter sido consumado, ao médico
patologista municipal e ambos à Comissão de Controlo da Eutanásia
(PINTO et al., 2016, p.29 e 30).

Ainda acerca dos critérios para a realização dos procedimentos na


Holanda, Diniz (2006, p. 388) pontua:

solicitação para morrer, decorrente de decisão voluntária e consciente do


paciente devidamente informado; consideração de seu pedido por
pessoa que tenha conhecimento de sua condição; manutenção do
desejo de morrer por um lapso considerável de tempo; irresignação do
doente com seu sofrimento físico ou mental inaceitável ou insuportável;
concordância obrigatória para a implantação da medida letal por outro
médico, consultado para este fim; proibição de emissão de atestado de
óbito por morte natural, pois o médico, em caso de eutanásia, deverá
informar o fato à autoridade médica local, preenchendo um extenso
questionário; relato da morte feito pela autoridade médica local ao
promotor do distrito e competência do promotor distrital para decidir se
haverá ou não acusação contra o médico.

Embora a eutanásia tenha sido regulamentada por lei recentemente, na


Holanda a prática era tolerada pela justiça do país, conforme explica Diniz (2006,
p. 387):

Na Holanda, a eutanásia hoje está regulamentada por lei, mas era, como
vimos, tolerada pela justiça se feita a pedido do paciente em estado
terminal, atestado por dois médicos, sob diretrizes especificas
estabelecidas, desde 1984, pela Comissão Governamental Holandesa
para a Eutanásia, disciplinadas pela Royal Dutch Medical Association
(RDMA) e pelo Ministério da Justiça.

Na Holanda, há um acordo tácito para que médicos que auxiliem seus


pacientes na abreviação da vida não sejam processados, essa tolerância segundo
Sztajn (2002, p.149), já vem sendo aceita há mais de duas décadas, entretanto,
alguns preceitos devem ser observados:

Pode-se imputar essa proto-legalização da eutanásia e do suicídio


assistido aos seguintes fatores: 1) ao extremado respeito aos médicos na
sociedade holandesa; 2) o tamanho, composição e filosofia política dos
holandeses; 3) ausência de influência religiosa importante; 4) o respeito
ao Judiciário e o poder dos Tribunais holandeses; e finalmente, o grande
respeito à autonomia e responsabilidade individuais.
36

Cabe salientar que o ato deverá ser praticado exclusivamente por um


profissional médico, podendo o mesmo se recusar a realizar o feito. Caso a
eutanásia seja realizada por um terceiro, este sofrerá as sanções relacionadas ao
homicídio. Portanto, embora legalizados, a eutanásia e o suicídio assistido
possuem um extremo controle no país. Sendo que, cada solicitação é
encaminhada para uma comissão formada por médicos, sociólogos e juízes, para
ser avaliada sua viabilidade de aplicação. Sendo o Poder Judiciário o responsável
para decidir em caso de dúvidas.

Isto posto, diante da legalização da eutanásia e do suicídio assistido na


Holanda, o país abriu caminhos para que o tema seja apreciado em outros países,
haja vista a necessidade de se quebrar o tabu que permeia o assunto morte.

3.3.2 Bélgica

Assim como na Holanda, a Bélgica também legalizou a eutanásia, não


distinguindo-a em ativa ou passiva. No ano de 2002 entrou em vigor no país a lei
que determina as diretrizes para a realização do procedimento, em termos
bastante semelhantes para a prática da eutanásia ou suicídio assistido na
Holanda. No ano de 2014, o texto sofreu uma polêmica alteração para estender a
possibilidade de aplicação em pessoas menores de qualquer idade. Neste caso, o
requisito é que seja imperioso que sejam vítimas de doença incurável, tenham
capacidade de discernimento, bem como o procedimento seja requisitado pelo
próprio paciente ou seu representante legal.

As diretrizes para a realização da eutanásia são análogas ao modelo


holandês, admitindo também as diretivas antecipadas da vontade por meio do
testamento vital assinado pelo paciente.

Em relação ao suicídio assistido, o direito belga não autoriza a realização e


o agente que pratica é penalizado pelo código penal.

Dessa forma:
37

a eutanásia ativa só é permitida nas estritas condições fixadas na


legislação específica citada, necessariamente por um médico. Fora
dessas condições, quando o ato é cometido por outra pessoa, constitui
crime de homicídio simples, punido pelo Código Penal. Quando assuma
a forma de ajuda ao suicídio, é também, em geral, punível criminalmente,
por poder ser qualificável como falta de assistência a pessoa em perigo
(PINTO et al., 2016, p.19).

Assim como na Holanda, todas as solicitações para a realização da


eutanásia são avaliadas por uma comissão especial formada por médicos e
psicólogos para analisar a situação em questão.

3.3.3 Suíça

Quando se fala em eutanásia, rapidamente associamos a Suíça à essa


prática. Entretanto, ao contrário do que muitos pensam, não há permissão legal
para a eutanásia, tampouco o suicídio assistido no país. Tais atos são punidos
com pena de prisão.

O que realmente se tem, é uma condescendência à prática do suicídio


assistido. Tendo em vista que o paciente procura auxílio médico em locais
especializados em suicídio para que o médico responsável lhe forneça o
medicamento utilizado na abreviação da vida.

Em suma, duas organizações são conhecidas por realizar essa prática, a


Exit e a Dignitas. A associação Exit possui uma ideologia mais conservadora e
somente recebe pacientes nacionais ou que possuam domicílio na Suíça. Já a
Dignitas, compreende uma visão mais liberal, e embora mantenha diretrizes
semelhantes às da Exit, a flexibilização em permitir que estrangeiros também
possam realizar o procedimento, levanta discussões polêmicas acerca do seu
“turismo da morte”, como é chamada no país.

No entanto, essas organizações dedicam-se a ajudar doentes terminais a


abreviar suas vidas através do suicídio desde que:

O paciente tenha discernimento e possa, pois, manifestar a sua vontade


consciente e livremente, o seu pedido seja sério e reiterado, a sua
38

doença se revele incurável, o sofrimento físico ou psíquico que o atinja


seja intolerável e o prognóstico do desfecho da doença seja a morte ou,
pelo menos, uma incapacidade grave (PINTO et al., 2016, p.44).

Todavia, embora o tema encontre uma maior aceitação no país, ainda há


um tabu envolvendo toda a temática, haja vista que a comunidade internacional
não vê com bons olhos o chamado “turismo da morte”.

3.3.4 Luxemburgo

No ano de 2009 entrou em vigor no país duas leis, sendo uma delimitando
diretrizes acerca de cuidados paliativos, diretrizes antecipadas de vontade
(testamento vital) e acompanhamento em fim de vida, já a outra lei regulamenta
acerca da eutanásia ativa e o suicídio assistido.

A eutanásia e o suicídio assistido são regulados pela Comissão Nacional


de Controle e Avaliação, que concede a prática aos pacientes que sejam adultos
competentes, portadores de doenças terminais, não tendo previsão de cura e se
encontram em situação de extremo sofrimento físico e psicológico.

Conforme explicita José Manuel Pinto, o requerimento é feito pelo


paciente à Comissão, podendo ser definidas as circunstâncias em que o
paciente deseja submeter-se em sua abreviação da vida, que é realizada por
um médico de confiança do paciente. Contudo, o médico responsável pela
realização do procedimento, deverá consultar outro especialista que não
tenha ligação com a equipe escolhida pelo paciente para uma última
avaliação.

3.3.5 Colômbia

O único país a legalizar a eutanásia na América do Sul é a Colômbia. No


ano de 1997, o Tribunal Constitucional descriminalizou a prática, entretanto,
39

apenas em 2015 foram estipuladas as diretrizes de realização pelo Ministério da


Saúde.

A Resolução 12.116/2015 do Ministério da Saúde e Proteção Social,


regulamenta o ato, determinando que a morte digna deve ser obedecer a critérios
e procedimentos estipulados em lei.

Nesse sentido:

Drogas intravenosas podem ser administradas por médicos, em


hospitais, em pacientes adultos com doenças terminais que provocam
dor intensa e sofrimento que não possam ser aliviados. O paciente deve,
conscientemente, requisitar a morte assistida, que deve ser autorizada e
supervisionada por um médico especialista, um advogado e um
psiquiatra ou psicólogo. Além disso, a legislação atual não proíbe a
assistência a pacientes estrangeiros (CASTRO, 2016, p.357).

Embora a terminalidade da doença seja um requisito fundamental para a


realização da eutanásia, recentemente a corte colombiana autorizou a eutanásia
de uma mulher chamada Martha Sepúlveda, de 51 anos.

Martha é portadora de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), e apesar de ser


uma doença incurável, a paciente não se encontra em estado terminal. Todavia, a
mesma relata que a doença lhe impede de viver dignamente, proporcionando
bastante sofrimento físico e mental. O procedimento havia sido agendado para o
dia 10/11/2021, mas no dia anterior, a clínica se recusou a realizar o
procedimento. Após recorrer ao Tribunal, o magistrado deferiu no dia 27/10/2021,
o pedido de Martha para a realização de sua eutanásia. A decisão determinou que
em 48 horas a clínica agendasse o procedimento junto à paciente.

A decisão encontra muita resistência por parte da igreja católica e ainda


cabe recurso.

3.3.6 Estados unidos


40

Os Estados Unidos da América, conhecido por ser a “terra dos bravos, e lar
dos livres”, não possui previsão legal acerca da eutanásia e do suicídio assistido,
sendo o ato e punido criminalmente.

No entanto, o suicídio assistido é legalizado em cinco estados no país,


sendo
eles:
Oregon (a partir de 1997, através de lei aprovada em referendo popular e
designada por Death With Dignity Act); - Washington (2008, após
consulta popular referendária); - Montana (2009, por via jurisprudencial
originada em caso concreto e firmada pela mais alta instância judicial do
estado de Montana); - Vermont (2013, por lei denominada End of Life
Choices Act); - California (2015, através da aprovação de uma lei
chamada End of Life Option Act) (PINTO et al., 2016).

No Oregon, o primeiro estado a legalizar a prática, os requisitos são: possuir


18 anos completos; capacidade de expressar sua vontade; com residência no
estado e ser portador de doença terminal, tendo sua expectativa de vida avaliada
em 6 meses. Assim, sendo o caso, o paciente receberá medicamentos letais
prescrito por médicos, e a medicação será administrada pelo próprio paciente de
forma voluntária.

Em Washington o “ato de morrer com dignidade” como é chamado,


recebeu diretrizes bastante semelhantes às do estado do Oregon.

No estado de Montana foi decretado pela Suprema Corte que o suicídio


assistido não era ilegal, após um caso de um caminhoneiro aposentado chamado
Robert Baxter, portador de uma doença terminal. Entretanto, em Montana, as
diretrizes da realização da eutanásia não estão bem regulamentadas, sendo os
requisitos básicos a maioridade, capacidade mental de discernimento e portar
doença terminal.

Em Vermont, assim como nos outros estados, o suicídio assistido foi


legalizado, apesar de que sua aplicação se deu de forma gradual, tendo em vista
que muitos hospitais alegaram não possuir aptidão para realizar o procedimento.

Por fim, o estado da Califórnia legalizou no ano de 2015 o suicídio


assistido, tendo por base as diretrizes do estado do Oregon.
41

Portanto, conclui-se que nos Estados Unidos, em âmbito federal, a


eutanásia ativa é proibida, sendo que o suicídio assistido é regulamentado
conforme as legislações estaduais.

3.3.7 Canadá

O Canadá foi o último país a legalizar a prática da eutanásia. Em 2015, a


Suprema Corte, após muitos anos de debates, declarou ser inconstitucional a
proibição da morte assistida, e na ocasião, concedeu o prazo de um ano para que
as diretrizes fossem regulamentadas no texto normativo canadense. Nesse caso,
a prática não seria ilegal, porém os médicos, em razão da falta de
regulamentação, poderiam delimitar seus próprios preceitos.

A primeira província a regulamentar a morte assistida foi Quebec, que se


baseou nas leis do estado americano do Oregon, com a exceção da exigência da
expectativa de vida máxima de seis meses. Isso impulsionou os demais territórios
a regulamentar a prática, utilizando os mesmos critérios de Quebec.

Os demais territórios que ainda não regulamentaram a morte assistida, os


pacientes que desejam requerer o procedimento devem requerer a concessões
judiciais.

3.4 PERSPECTIVAS ATUAIS E PROJETOS LEGISLATIVOS

No Brasil, ao contrário do que ocorre em outros países como os europeus,


não fomenta um debate acerca da eutanásia ou morte assistida. Os temas mais
abordados, principalmente em debates eleitorais são acerca da descriminalização
do aborto, a legalização da maconha, corrupção e redução da maioridade penal.
Além disso, o tema não conta com uma popularidade considerável.

No entanto, o ordenamento jurídico brasileiro conta com algumas iniciativas


e projetos em tramitação. De contramão a descriminalização do procedimento, o
projeto de Lei nº 236/12 do Senado Federal (novo Código Penal), traz em seu
42

artigo 122, a tipificação do crime de eutanásia, nos seguintes termos: “art. 122.
Matar, por piedade ou compaixão, paciente em estado terminal, imputável e
maior, a seu pedido, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável em razão de
doença grave: Pena – prisão, de dois a quatro anos” (BRASIL, 1940, online).

No caso da ortotanásia, o projeto prevê no §2º, a exclusão de ilicitude


quando o autor deixa de fazer uso de meios artificiais para manter a vida do
paciente em caso de doença grave e irreversível. Tal procedimento só será
permitido com expresso consentimento do paciente e que a doença seja
confirmada por outros dois médicos.

Os projetos de Lei 3002/2008 e 6715/2009 que trazem em seu texto a


exclusão de ilicitude da ortotanásia, há mais de uma década tramitam no
Congresso Nacional, sendo que nos últimos meses não tiveram nenhuma
movimentação relevante.

No ano de 2018 uma proposta de emenda ao código penal, de autoria do


senador Pedro Chaves (PSC/MS), estabelece em seu artigo Art. 13 (que trata dos
crimes de omissão), o seguinte dispositivo:

§ 3º Não se considera omissão penalmente relevante a falta


de instituição de suporte de vida ou a não realização de
tratamento ou procedimento médico ou odontológico
recusados expressamente pelo paciente ou, nos casos em
que o paciente não possa expressar sua vontade, por seu
representante legal (BRASÍLIA, 2018, online).

A proposta visa legitimar a conduta do médico que pratica a eutanásia


passiva e a ortotanásia, possibilitando uma maior proteção aos procedimentos
omissivos que abreviam a vida de pacientes terminais.

O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da saúde,


propôs no ano de 2009 o Projeto de Lei 352/2019 objetivando as mesmas
diretrizes. Atualmente o projeto foi apensado ao PL 3002/2008 e tramita na
Câmara dos Deputados.
43

Analisando a possibilidade de inserção dessas espécies no sistema


normativo, possibilitaria uma melhor aplicação da lei, bem como um maior
entendimento desses institutos.

4 DISCUSSÃO

Apesar da morte ser o último estágio da vida do indivíduo, ainda,


principalmente no Brasil, é um tabu em falar dela. Como já fora abordado na
introdução desta pesquisa (item 1), a finalidade deste, não é defender pontos de
vistas: prós e contras.
44

É importante destacar que para chegar nas opiniões a favores e contras, foi
importante buscar na literatura diferentes pontos de vista. Segundo Contaifer (2016),
o fim da vida é um assunto espinhoso, pois este momento não chega só para quem
viveu uma vida tranquila.

Neste sentido, o fim, ou melhor, a morte nem sempre ocorre de forma natural,
ou seja, às vezes no percurso da vida pode acontecer uma luta do indivíduo contra
uma doença incurável, dores insuportáveis e sem alívio, o que implicaria em um
possível encurtamento da vida. Neste cenário, onde a esperança foi suprimida, e
pensando em aliviar o sofrimento, entra em discussão a eutanásia.

Na concepção de Goulart (2019), apesar de a sociedade tratar o tema como


um tabu, este tem sido um dos assuntos mais discutível nos tempos atuais em
relação aos direitos do homem, é também uma pauta polêmica que envolve o
princípio norteador que é a vida. A eutanásia traz à tona as discussões ocorridas em
todas as esferas da sociedade com questionamentos sobre princípios tais como a
ética e a moral.

Entretanto, do ponto de vista do ordenamento jurídico brasileiro, as


discussões perante o assunto permanecem tímidas. De um lado, a Constituição
Federal garante vida em abundância para os indivíduos, e direito de livre arbítrio,
contudo, a livre escolha não é levada em consideração na fase terminal de um
paciente.

Então, cabe ressaltar que o tema que é objeto deste estudo, apesar de vir
sendo discutido, ainda esbarra muito na questão dogmática, que são pautadas em
questões religiosas. De um lado, a grande maioria das pessoas (cristãs), entendem
que a vida é um dom de Deus, por isso, a mesma não deve ser abreviada.

No âmbito da Câmara Federal e no Congresso Nacional, este tema, não tem


ganhado ênfase, pois é sensível, e mexe com o sentimento dos eleitores. Contudo,
do ponto de vista legal, onde a própria Constituição Federal, aborda a vida como um
direito fundamental, porém não leva em conta a questão da “boa morte”.

Nesta linha de raciocínio, no Brasil o indivíduo é dotado de livre arbítrio,


porém não é facultado o direito de escolher sobre a própria morte. Sem levantar a
45

bandeira do pró ou contra, apenas seguindo a premissa de que a morte é o último


estágio do ciclo de vida terrena, não caberia o estado brasileiro legalizar a
eutanásia?

Está ponderação não será respondida neste trabalho, pois a finalidade do


mesmo não é defender ou ir contra a eutanásia, mas tem como objetivo suscitar um
debate franco, onde o questionamento seja feito de forma imparcial, sem levantar
bandeiras dos contras e a favores, mas sim, discutir a questão do ponto de vista
legal. Neste item, foi feita uma discussão a partir de estudos literários sobre a
eutanásia. No próximo item será feito o fechamento deste trabalho com as
considerações finais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
46

A morte sempre foi um tabu, principalmente para a sociedade ocidental. O


Brasil, por ser um país que herdou dos colonizadores a fé cristã, por isso, existe uma
resistência grande no que tange a eutanásia, pois para muitos, principalmente os
tradicionais, somente o criador possui o direito sobre a vida.

Este trabalho teve como objetivo, levantar os principais argumentos sobre o


referido tema, pois por ser uma questão polêmica, e que envolve muitos fatores
como: religião, crenças, ética e etc. entendem-se que não é uma questão fácil para
ser debatida e/ou abordada.

A Constituição Federal, aborda somente a proteção à vida, por isso, existe


debates e polêmicas, e ao final destes, surgem a pergunta. A eutanásia é crime ou
não? Do ponto de vista jurídico, as implicações em torno da vida são inúmeras, por
isso, a finalidade desta pesquisa foi levantar os posicionamentos diversos e
divergentes a respeito do objeto em questão.

Sabe-se que tais debates giram em torno da preservação da vida. Não


obstante, é importante destacar que a morte é o último estágio do ciclo de vida do
indivíduo. Logo, tratar deste assunto é de suma importância, pois a vida em
abundância para todos já é garantida.

Entretanto, nem sempre todas as pessoas concluem esse ciclo da vida de


forma natural, ou seja, nem sempre a morte chega de forma rápida. Neste sentido,
às vezes é comum que o ser humano fique por dias meses e quiçá anos, levando
uma vida sofrida.

Para estes casos, fica a pergunta. Será que o indivíduo não teria o direito de
decidir sobre o destino da própria vida, ou melhor, em optar pela morte. Essas
ponderações são comuns, por isso, merecem ser debatidas, pois ao prolongar o
sofrimento seria a maneira mais correta, ou antecipar a morte seria crime.

É importante destacar, que no Brasil, os debates sobre a eutanásia, sempre


giram em torno dos aspectos legais, medicinais e religiosos. Como discorrido, no
parágrafo 2 deste item, o fator religioso, ainda é um dos principais tabus a ser
vencido, pois a discussão sobre o tema deverá ser discutida apenas no campo
medicinal e jurídico.
47

Portanto, este trabalho fez um apanhado sobre os principais aspectos da


eutanásia no Brasil. Também, foi feito um apanhado sobre a história da eutanásia no
curso da humanidade. É um tema bastante válido e, por isso, precisa ser debatido
para que se chegue a um norte, é claro, pautado na ética e legalidade.

REFERENCIAS

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48

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