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Hideraldo Montenegro
Saio de fininho do meu quarto e desço em direção à cozinha
dos empregados, onde sei que ele faz um breve lanche todas as
noites quando acontece a troca de soldados e chega o fim de suas
rondas noturnas. Ele é muito mais velho do que eu, porém não me
importo.
Odeio saber que logo serei sacrificada como um cordeiro, dada
como uma promessa de paz que todos sabemos que não durará
muito tempo. Só de pensar que não estarei mais em seus braços,
sinto uma dor imensa no peito. Eu não me importaria de fugir e viver
longe daqui, porque nada disso aqui me importa. Mas nós dois
sabemos como seria nosso fim. Papai não me perdoaria, e além de
ser expulsa de casa, deserdada, eu seria jogada em um bordel
qualquer. De quebra, matariam ele por ter tocado em uma das
mulheres da família. Seríamos sentenciados e condenados pelo
resto das nossas vidas.
Chego por trás de suas costas e o abraço.
— Você demorou. Achei que não viria hoje. — Acaricia minha
bochecha.
— Samantha custou a dormir e eu fiquei com medo de que ela
me visse sair.
Nós nos olhamos por um tempo, com todas as palavras
engasgadas e, ao mesmo tempo, sem ter o que falar. Sabemos que
nada pode ser feito.
— Estou com medo. — assumi, sentindo a angústia me tomar.
— Seja corajosa, principessa! Nossos destinos foram traçados
desde o nosso nascimento. Não há nada a se fazer.
— Eu sei. — Tremo os lábios, segurando o choro. — Promete
não se esquecer de mim?
Ele segura o meu pescoço e junta nossas testas.
— É tudo que posso te prometer, pequena.
— Quero que saiba que posso até ser dada a esse homem em
casamento, mas que ele nunca terá meu coração, porque eu te
amo. — Nesta hora, meus olhos já estão alagados, e mesmo que eu
tente segurar as lágrimas, elas escorrem pelas minhas bochechas.
Isso é muito injusto.
— Faça amor comigo! Uma última vez. — pedi com jeitinho.
E ele faz. Beija-me e me toma em seus braços, amando todo o
meu corpo de maneira marcante e carinhosa.
Mal sabia eu que quando disse aquelas palavras,
inconscientemente, selava ali o fim de uma história de amor tão
trágica quanto às de Shakespeare que eu lia desde menina.
(...)
***
20 anos atrás
***
***
***
(...)
***
***
Mal sabia eu que essa seria a última vez que iria vê-la com
vida. Quando voltei para casa, apenas encontrei um pedaço de
terra, onde seu corpo estava enterrado.
Marco me olha desconfiado por eu ter ficado calado, então
raspo a garganta para disfarçar as emoções que sinto por ter me
lembrado de sua mãe e do quanto ela amaria ver como ele cresceu.
— Eu quero destruir o Luigi até que não reste nada dele...
Nenhum único pedaço seu para contar a história. — Vejo como meu
sobrinho fica surpreendido. — Estou perto de realizar meu desejo.
E, não sou seu inimigo, sou seu aliado.
Ele semicerra os olhos em minha direção, tentando decidir se
falei ou não a verdade. Deve ter achado o que precisava para a sua
conclusão, porque balança a cabeça, confirmando.
— Como? — perguntou, testando-me.
— Fazendo com que ele caia do seu trono e perca todos os
seus aliados. Podemos nos unir e o derrubar juntos. Ou não. Eu te
garanto que terá meu total apoio em qualquer decisão que tomar.
— O que ganhará com isso? — Encara-me desconfiado.
— Vingança. Eu quero matá-lo por ter sido o culpado pela
morte da minha irmã. — informei uma meia verdade.
Percebo que ele entende minhas justificativas devido às suas
motivações serem as mesmas que as minhas. Só não sabe disso.
— Tirando-o do nosso caminho, darei meu apoio ao Vincent
para ser o novo capo. Não é isso que deseja? — questionei.
— Sim. Eu prometi ajudá-lo a conquistar a cadeira e vou
cumprir minha promessa. A minha palavra...
— É lei. — completei. Essa era a frase preferida de sua mãe
quando queria me convencer a ajudá-la em seus terríveis planos.
“Promessa é dívida, Henrique. Eu tenho que cumprir o que
falei. Minha palavra é lei.” — Parece que até posso ouvi-la dizer.
— Temos um trato? — Ofereço-lhe minha mão em um acordo
de paz.
— Por agora sim. — aceitou.
Camillo vem até nós, xingando, e Marco olha estrago que fez
em sua perna.
— Então, é isso? Vamos deixá-lo ir embora depois de tudo que
ele nos fez? — criticou minha decisão.
— Foi mal, Camillo! — Marco disse cinicamente.
— Foi péssimo! — resmungou seriamente.
— Na próxima vez que eu o ver, vou te pagar um copo de
bebida.
— Chupe meu pau, seu maledetto! Na próxima vez que nos
vermos, eu aceitarei suas desculpas, dando um tiro nesta sua cara
feia.
Marco o ignora.
— Onde está a bomba? — perguntei para poder desarmá-la.
— É... Não tem uma. — Cruza os braços em uma postura
cínica, surpreendendo-nos.
— Como assim não tem? — Camillo perguntou descrente.
— Foi só um blefe. — Sua confissão nos deixa mais surpresos.
— Você só pode estar brincando comigo, seu merdinha! Filho
da puta! — falei entre os dentes, querendo agora, eu mesmo, atirar
nele.
— Não. Peguei esse acionador do soldado de Mariano depois
que o matei. Não precisei pensar muito para chegar à conclusão de
quem partiu o pedido de colocar a bomba em seu carro no atentado
do qual te salvei. De nada por isso.
Figle de una cagna!
— Eu levei um tiro a troco de nada? — Camillo reclamou
revoltado.
— Supere, cara! Ou, na próxima vez, irei lhe pagar um copo de
leite com achocolatado. Nunca vi um homem tão chorão quanto
você. — Dá um tapa no meu ombro e se despede. — Nós nos
veremos em breve.
— Avise ao Vincent que o Luigi está indo atrás dele!
— Okay. — Vai embora, deixando um Camillo puto para trás.
— Você deveria ter abatido ele. Por que o protege tanto?
— Um dia saberá.
— Juro que na próxima vez irei lhe dar uma boa lição.
— Só para que esteja ciente, você não vai fazer nada contra
ele! Ou terá bem mais que uma perna danificada.
— Está gozando de mim, Henrique?
— Nunca falei tão sério. Capiche? — Espero que ele fale que
me entendeu.
— Eu entendi. — Balança a cabeça, não concordando comigo.
— Em dois dias já fui ameaçado por você duas vezes. Estou
começando a me questionar se merece que eu arrisque minha vida
para te ajudar.
— Largue de chorar feito uma menininha e vamos terminar
logo com isso, Camillo! Antes que eu te lembre de como é sentir dor
de verdade. Ainda temos dois corpos para enterrar. — Deixo-o para
trás, escutando-o reclamar e pontuar sobre o quanto sou ingrato por
não saber valorizá-lo como merece.
Algumas semanas depois
(...)
(...)
(...)
Após colocar minha arma em meu coldre e mais um punhal
enfiado nas costas, fecho meu terno e aperto o botão do elevador
para descer. Enquanto o aguardo subir, percebo Giovanna triste,
olhando pela janela. Eu sei que ela odeia me ver saindo para uma
missão e entendo seus anseios, contudo não posso evitar
confrontos. Não há nada em nosso mundo que se consiga sem ir à
luta.
Caminho até ela para me despedir e a deixar mais tranquila
nos momentos seguintes, enquanto me espera. Seu olhar encontra
o meu e eu a puxo para mim, beijando-a com a mesma ânsia da
primeira vez, para que seu gosto fique gravado em meus lábios e
pensamentos se, por acaso, for o nosso último beijo.
— Eu não quero que você vá. — Segura a lapela do meu terno
com seus dedos trêmulos.
Seus lábios estão mais vermelhos do que de costume por
conta do nosso recente beijo, e isso me deixa duro, necessitado por
ela.
— É preciso. — Aliso seu rosto com carinho. — Tenha
paciência! Prometo lhe fazer uma surpresa quando voltar.
— Eu só quero que você volte logo. Só isso. — Entrelaça seus
braços à minha volta e me aperta com força.
— Não faça ser mais difícil para mim do que já é, boneca! —
Seguro seu queixo e beijo a ponta do seu nariz arrebitado. — Eu irei
fazer o possível para voltar. Tenha a certeza disso! Tenho todos os
motivos para querer terminar o serviço o mais breve possível e estar
aqui, com você. — Espalmo minha mão em seu abdômen,
segurando entre meus dedos uma das minhas motivações para ir ao
seguinte encontro.
— Eu estarei aqui, esperando-o ansiosamente.
— Você me tem. Não se esqueça disso, Giovanna! — Encosto
seus lábios nos meus uma última vez e saio, carregando em meu
peito o desejo de voltar para seus braços quando tudo acabar.
Assim que alcanço o térreo e a porta do elevador se abre, dou
de cara com Camillo me aguardando, com os outros soldados.
— Tudo certo para irmos? — Caminho até o carro.
— Só esperando suas ordens, chefe.
— Então, vamos! Quero terminar logo com isso.
Meu chefe de segurança toma a frente, senta-se no banco do
motorista, dá partida no carro e dirige até o bairro onde se encontra
a residência do investigador.
— Iremos entrar pelos fundos. Assim, chamaremos menos
atenção para nós. Todos com silenciadores nas armas? —
questionei apenas por preocupação. Logo recebo a confirmação de
cada um. — Está na hora. — Dou um sinal a todos.
Entro no quintal, onde fica a área de lazer da casa, e nos
deparamos com uma churrasqueira acesa, comprovando que há
pessoas presentes no local.
Camillo entra na frente a fim de ir em busca do imbecil
enquanto os outros cercam a área, vigiando a vizinhança para nos
avisar de possíveis irregularidades. Já dentro da residência, nós nos
espalhamos e procuramos por um dos dois moradores.
Um grito feminino chama a nossa atenção para a escada, e
assim que a pequena garota vestida apenas de lingerie tenta correr,
Camillo a alcança.
— Só fique quieta e não vai se ferir! — avisou.
— Onde está o Harry? — Encaro-a.
— Eu não sei. Ele saiu para comprar mais cervejas e não
voltou ainda. — Começa a tremer.
— E o David? — perguntei pelo irmão mecânico.
— Lá em cima, no quarto.
Dois dos meus homens sobem lá para o buscar e eu aviso aos
que estão do lado de fora, para ficarem atentos com a chegada do
outro.
— Por favor! Eu não tenho nada a ver com essa confusão.
Deixe-me ir! Juro que não irei contar nada a ninguém.
— Shiii! Colabore, garota, e fique calada para não me
atrapalhar! Se gritar, irei atirar em você. Entendeu?
Ela balança a cabeça em concordância, já chorando.
Logo meus soldados descem com um David sapateando pela
escada e o colocam ao lado da menina.
— Quem são vocês, caras? Eu não fiz nada. — Na defensiva,
levanta as mãos.
— Isso é o que veremos. — Fecho as cortinas das janelas e
aguardo nosso anfitrião.
Harry entra, e quando nota nossa presença, tenta puxar a
arma para nós. É em vão.
— Que porra está acontecendo aqui?! — Debate-se, tentando
se soltar das mãos de Camillo.
— Eu irei dizer apenas uma vez e espero que me dê a
resposta que busco, ou as coisas irão ficar muito feias por aqui,
Harry.
— Quem é você? — indagou assustado.
— Henrique Cavallari. Esse nome te lembra alguma coisa? —
Eu o analiso, aguardando sua resposta.
— Não. — apressou-se em negar.
— E Luigi Lourenço?
Seus olhos ficam enormes ao ouvir o nome do desgraçado, e
mesmo que já tenha se entregado, tem a cara de pau de balançar a
cabeça negativamente.
— Eu não sou conhecido por ser uma pessoa benévola. Mas,
mesmo assim, vou te dar uma segunda oportunidade de me dizer o
que quero. — Abro a mala que trouxe comigo e começo a tirar dela
alguns objetos de tortura.
— Eu não fiz nada. Não contei nada a ninguém. Eu juro. — Aí
está. É o indício do que preciso.
— Você vai me contar tudo que sabe sobre o acidente que
matou meu pai e meu amigo, ou irei esquartejar todos nesta sala. A
começar pelo seu irmão. — Bato no ombro de David. — Para o seu
bem, espero que saiba escolher a opção correta, Harry. Entretanto,
não irei me opor se escolher o caminho mais difícil.
— Não precisa chegar ao extremo. Eu vou falar tudo que sei.
Só não machuque o meu irmão! — Suor começa a escorrer do
porco.
— E eu? Seu filho da puta! — a garota gritou, chateada com
ele. O que me faz rir.
— Eu acho que ele não gosta de você, docinho. — Pisco para
ela, deixando-a rubra.
Sento-me na poltrona, em sua frente, abro uma das garrafas
de cerveja que ele trouxe e bebo um gole dela.
— Não é da marca que gosto, mas vai servir. Comece! Sou
todo ouvidos. — Sorrio da sua cara de espanto.
A hora das brincadeiras acabou. Pelo menos para os dois.
Harry engole em seco e me fita na confiança de que eu vá lhe
dar clemência após quase uma hora de depoimento. Não sou um
cara bom. Isso é indiscutível aqui e minha sede de fazer justiça me
impede de ter qualquer resquício de pena por todos aqueles que se
aliaram ao odioso Luigi no passado.
Eu o aguardei contar detalhadamente sobre sua história de
como foi recrutado e do quanto recebeu para arquivar a papelada e
dar sumiço em provas consistentes que me ajudariam a condenar o
filho da puta sádico do meu capo à morte. Em certos momentos,
minha mente vagou entre o presente e o passado, onde meu amigo
Matteo me implorou para deixar que cuidasse de tudo ao seu modo
e acabou caindo na própria armadilha. Agora, anos depois, eu
consegui ter a verdade vindo à tona pela boca nojenta de um agente
desgraçado que aceitou suborno e, ainda, achou o homem certo
para sabotar o jato dele.
Não posso falhar, pois todos eles contam comigo: Vincent,
Marco e, principalmente, Giovanna. Essa missão só terá um fim
depois que eu matar Harry Paterson e o jogar em uma cova funda,
onde ninguém irá encontrar seus ossos putrificados.
Seguro-me para não acabar com o miserável antes de terminar
de ouvir tudo. Fecho as mãos em punho e o olho, imaginando o que
farei com ele depois, para aplacar minha sensação de dormência.
Somente tenho a certeza de que ele irá morrer da pior maneira
possível.
Sorrio, fazendo o monstro feio em mim salivar, desejando que
chegue logo o momento propício.
— Então... Quer dizer que você recebeu uma quantia
considerável para executar o serviço e lhe apresentar o tal
engenheiro? — Bebo mais um gole da cerveja ruim que mais se
parece com água suja, de tão fraca.
— Sim. Ele disse que se eu fizesse tudo certinho, iria me
deixar viver. No entanto, eu fiquei com medo e resolvi contar tudo ao
meu superior. Foi quando recebi uma proposta boa: eu ficaria com o
dinheiro que me foi oferecido e receberia uma identidade nova se,
em troca, entregasse todas as provas que havia juntado com minha
investigação.
— Quem foi o cara? — Eu já sei quem é o outro, entretanto
quero ouvir o nome dele.
— O... O quê? — gaguejou, fazendo-se de desentendido.
— Quem foi o cara que você apresentou ao Luigi?
Sua cabeça vira ligeiramente na direção do seu irmão, que, a
esta altura, já está suando feito um porco que está indo para o
abate. O que não é muito fora da realidade, considerando o que irá
lhe acontecer.
— Eu não me lembro mais. — mentiu.
— Tsc, tsc, tsc! — balbuciei, repreendendo-o.
Levanto-me, buscando equilibrar meus pensamentos com o
desejo insano de abri-lo ao meio por me fazer de besta.
— Nunca te disseram que é feio mentir, Harry? Eu quero ouvir
da sua boca quem é o desgraçado que o ajudou e o fazer se
lamentar por ter tomado a decisão de se meter em meu caminho.
— Faz muito tempo. — negou de novo, levando-me a perder a
complacência.
— Okay. Vamos refrescar sua memória.
Eu pego o alicate na maleta e ele se debate na poltrona, onde
Camillo o segura. Dou um golpe seco na sua mão direita e puxo
uma de suas unhas, fazendo-o gritar alto. Vou arrancando uma por
uma até não restar nenhuma. O sangue escorre dos seus dedos,
pingando no chão.
— Por favor! Eu não aguento mais. Eu disse tudo. Contei toda
a verdade.
— Quero o nome do homem que mexeu no jato em que meu
amigo morreu. — ordenei, batendo nele com um ferro várias vezes
seguidas. Foi até possível ouvir os estalos dos seus ossos se
quebrando.
— Fui eu! Por favor, pare! — David gritou, entregando-se.
Ah! O merdinha resolveu virar homem e assumir seu erro?
Levanto-me satisfeito e vou em sua direção.
— Tem noção, David, da proporção das suas atitudes? —
Acerto seu rosto com um chute. A força da pancada faz sua cabeça
torcer para o lado.
Eu o puxo para ficar de pé e me encarar.
— Eu não sabia. Juro que não sabia que era para matar o
cara. Eles me disseram que iriam apenas o assustar para lhe dar
uma lição. — Começa a choramingar.
— Acha que tenho cara de otário? — Gargalho, mas não por
achá-lo engraçado, e sim pelo ódio de ter ouvido tamanha bobagem.
— Por favor! Eu tenho uma esposa e dois filhos pequenos.
Eles precisam de mim.
— Você não parecia preocupado com sua família enquanto
fodia essa vadia aí. — Aperto seu pescoço, com a raiva tomando
conta da minha lucidez. — Vou te dar a oportunidade de me provar
que deseja viver e voltar para sua família, se eles forem realmente
tão importantes para você quanto diz. Que tal matar seu irmão para
mim? Assim, será um serviço a menos.
— Nãao! — Harry começou a implorar. — Não ouça ele, David!
— Não posso. Você é louco?! — esbravejou para mim a sua
cólera.
— Aposto que se eu sugerir isso para ele, ele vai aceitar. —
provoquei.
— Eu não posso. Não posso fazer isso. — começou a lamuriar.
Eu o solto, deixando-o cair no chão, enojado.
— Sua esposa e seus filhos estarão melhor sem você. — Atiro
em sua nuca.
A garota chora alto, pedindo para que a deixem ir. Não será
possível, porque ela é uma testemunha das atrocidades que estão
acontecendo aqui. Sem testemunha, sem provas.
— Desculpe, querida! Hora e momento errado para cruzar
comigo. — Atiro em sua testa quando ela já está se preparando
para gritar por socorro.
— Só restou você, Harry. — cantarolei.
— Espere! — Abaixo a arma, curioso com sua próxima jogada.
— Eu tenho documentos novos sobre o Luigi. Se me deixar pegá-
las, podemos negociar.
— Que provas são essas exatamente?
Ele pode estar blefando, mas, mesmo assim, quero pagar para
ver.
— São de casas de pedofilia. Eu as descobri através de um
amigo da polícia que recebe suborno para o avisar sobre quando
terá batidas nos lugares. Assim, ele tem tempo de tirar as meninas
de lá.
Isso me interessa muito.
— E, onde estão essas provas? — Minha pergunta o deixa
animado, achando que deu uma cartada de mestre.
— No cofre. — Aponta para o escritório com os dedos
ensanguentados.
— Passe o código para o Camillo! Ele irá verificar se é
verdade. — ordenei, torcendo para que não fosse um truque dele.
— 12-36-18. É esse o código.
Camillo vai conferir.
— Se estiver mentindo, eu irei te afogar na banheira com soda
cáustica. — ameacei, fazendo-o engolir em seco.
Camillo traz alguns envelopes marrons e os espalha sobre a
mesa, procurando as tais provas. Após verificar cada um, confirmou
em um deles alguns papéis referentes às casas de horrores e um
pen drive. Nós o conectamos ao notebook dele e constatamos que o
conteúdo contém imagens e vídeos de entregas de novas
“mercadorias”.
Tráfico humano. A prova que eu precisava, está bem aqui, nas
minhas mãos. A única coisa que necessito agora é ligá-las ao Luigi.
E para isso, estou contando com o Rocco.
— Estou curioso. Por que foi mexer novamente no vespeiro, se
já estava livre? — indaguei curioso.
— Eu queria me proteger caso ele viesse atrás de mim um dia.
— Ou você queria mais dinheiro dele. — Sorrio quando ele
abaixa a cabeça, envergonhado.
Estúpido!
— Eu me admiro que tenha sido detetive no passado. Pois, se
fosse esperto, teria ido para bem longe da fogueira.
— Vai me deixar livre? — inquiriu, sendo corajoso. — Pode
levar tudo. Só me deixe em paz!
— Não posso, Harry. Não é justo você viver, sendo que meu
amigo não teve a mesma opção.
— Nãao! Eu colaborei. Socorrooo! — vociferou alto, levando
uma sequência de socos de Camillo no processo.
Inclino-me para a frente e fico cara a cara com o infeliz. Eu
gosto de olhar nos olhos dos homens dos quais irei tirar as vidas.
Gosto de saber que serei a última coisa que eles verão antes de
morrer.
— Sabe qual é a única diferença entre nós e vocês, policiais?
— Abro o carregador da minha pistola glock e conto as balas do
pente. — É que vocês escolhem usar o poder da lei para nos
extorquir, achando que estão acima de nós. Mas não estão. Existe
uma linha tênue entre vocês matarem por justiça e nós matarmos
por necessidade de nos defender, inclusive de insetos como vocês.
A única diferença são suas permissões para atirar. Coisa que nós
não temos. O que, claro, não nos impede de apertar o gatilho
mesmo assim.
— Vá para o inferno! — rugiu, babando sangue no chão.
Resultado dos socos que recebeu.
— Fique à vontade para ir primeiro! — Fecho o pente,
engatilho a arma e atiro nele.
Sem incertezas, sem clemência. 4 balas, 4 tiros.
A primeira foi por Matteo, a segunda por Ariella, a terceira pelo
babaca do meu pai, pois me tiraram a chance de matá-lo, e a última
foi pela minha mãe, que sofreu pela perda do desgraçado até o
último dia de sua vida.
— Chefe! Deu tudo certo em Milão. — Camillo melhorou ainda
mais a minha noite por ter me passado essa informação sobre a
outra missão.
— Perfeito! Embale os malditos e dê um fim neles! Não se
esqueçam de limpar tudo e jogar alvejante para destruir qualquer
digital nos corpos! — ordenei, saindo da casa e indo para o hotel.
Metade dos meus planos foi executado com êxito. Agora é só
me preparar para a cartada final.
Em frente ao espelho, amarro o meu cabelo em um coque alto,
coloco saltos, passo um batom vermelho e aliso a camisola branca
de cetim em meu corpo. Ficou incrível em mim e muito melhor do
que achei que iria ficar quando a peguei no closet. Linda: é assim
que me vejo. Estou tão perfeita dentro dela, que a peça até parece
minha segunda pele.
Henrique entra pela porta e para no meio do quarto,
analisando-me. Quando sua respiração oscila, vejo que o
surpreendi. Seu rosto denota tensão e curiosidade. Creio que seja
por estar, pela primeira vez, vendo-me como sou: uma mulher feita.
Aproveitando a chance que caiu de bandeja em meu colo, de
estar a sós com ele, subo o tecido um pouco, deixando minhas
pernas à mostra. Ele engole em seco, pronto para dizer algo, e eu
lhe faço sinal de “silêncio”. Seus olhos dançam entre mim e a porta
aberta enquanto luta contra seus instintos, contra o que sua mente
prega como certo e errado.
Espero seus próximos passos a serem tomados, torcendo para
que, dessa vez, ele escolha a opção certa. Como em câmera lenta,
chuta a porta sem tirar os olhos dos meus e começa a tirar sua
camisa. Logo em seguida, retira o coldre com as armas e o coloca
sobre a mesa de canto. Seus olhos azuis brilham interesse.
Estou tão emocionada, não acreditando que ele finalmente se
rendeu e irá se tornar meu. Sorrio, mordendo meu lábio inferior, e o
vejo dar alguns passos em minha direção, aceitando o convite
oculto do meu corpo, que mostra o quanto o quero agora.
Vou andando de costas até me bater na beirada da cama e me
deixo cair sobre ela, tremendo de excitação. Eu abro minhas pernas
para que ele veja que estou inteiramente nua por baixo da camisola
e um sorriso perverso desenha sua boca, tornando sua expressão
feroz.
Fico ansiosa para o fazer me desejar e ter uma longa noite de
amor comigo. Então, fecho meus olhos, permitindo-me ser ousada.
Como Henrique é experiente, não quero que desista de mim por
achar que sou inexperiente. Sendo assim, desço meu dedo pelo
meu colo vagarosamente, com seus olhos acompanhando cada
movimento dele por todo o caminho até a minha coxa direita. Arfo,
imaginando ser sua mão a me explorar.
Meu corpo esquenta de uma maneira intensa e eu gemo,
tocando-me de um modo íntimo e me levando a um pico alto de
prazer onde somente ele poderia me fazer chegar.
Henrique não aguenta ficar apenas me olhando e avança
sobre mim, tomando meus dedos de um jeito quase agressivo e os
levando à boca para chupar. A cena erótica faz meu ventre oscilar e
o querer dentro de mim, fazendo-me sua da maneira como imaginei
tantas vezes. Eu quero dizê-lo o quanto o amo, mas antes que
qualquer frase coerente saia de minha boca, sou tomada por um
beijo deliciosamente cheio de volúpia.
Seu corpo se encaixa entre minhas pernas e, em poucos
segundos, de um jeito selvagem, finalmente me toma, subjugando-
me e retribuindo minha ânsia com estocadas fortes e vigorosas,
como só ele sabe fazer. Ainda prende minhas mãos para cima e
coloca a auréola do meu seio na boca, sugando-a ao ponto de me
causar dor. Dor essa que é bem-vinda, pois me faz ficar ainda mais
molhada. O que o ajuda a deslizar mais rápido dentro de mim.
Nossos corpos batem juntos, fazendo um barulho alto no quarto.
Gemo, em desespero, quando meu orgasmo inicia seu trajeto
de saída e grito alto por mais, indo de encontro ao seu mastro duro.
Desejo tudo que ele pode me oferecer e...
— Oh, meu Deus! O que você está fazendo no quarto dos
patrões, Giulia?!
Salto da cama e caio no chão. Sem fôlego e constrangida,
cubro-me.
— Jesus! Você estava se tocando?! — Minha nonna arregala
os olhos, chocada.
Inferno! Nem nas minhas imaginações, tenho paz para o ter só
para mim.
Vovó me encara com sua habitual cara de desgosto,
esperando minha resposta. Eu raspo a garganta, molho meus lábios
secos e forço a saída da minha voz após quase ter tido um orgasmo
arrebatador.
— Eu estava guardando as roupas da Giovanna no closet. —
tentei me justificar.
— Oh, Giulia! — choramingou, prestes a começar seu sermão.
— Não me diga que estava tendo um sonho erótico com... —
Engasga-se, tentando dizer o nome dele.
Minha vontade é de gritar: “Henrique! Meu homem estava me
FO-DEN-DO de jeito duro e forte, sua idiota!”
— Meu Deus, vovó! — Faço a melhor pose de injustiçada. —
Como pode pensar isso de mim? Eu tenho o Henrique como um
irmão.
Seu rosto se alivia com minha negação e eu seguro a vontade
de revirar os olhos diante de tanta burrice. Maldita puxa-saco!
— É claro que sim, filha. Que outro sentimento poderia ter pelo
patrão? Ele nunca te deu motivos para pensar nele de outra forma.
Nem deve. — Velha estúpida!
Balanço a cabeça, “concordando” com sua conclusão dos
fatos. Por fim, finjo timidez e sorrio fracamente como uma
adolescente que foi pega no flagra fodendo com o namoradinho de
escola, no quarto.
— Eu queria saber como eram as roupas dela e minha mente
viajou. — Encho meus olhos de lágrimas e tremo meus lábios
propositalmente. — Desculpe, vovó! Acho que são todos os meus
hormônios à flor da pele.
— É normal. Você é uma jovem bonita e saudável. Está na
idade de se casar e formar sua própria família.
— Acho que sim. — Com meu Henrique, eu quero, já com
outro nem penso nisso.
— Nunca mais entre aqui e faça isso! Imagine se fossem os
patrões te pegando nessa posição! — Coloca a mão na cara, com
vergonha. — Céus! Estaríamos na rua.
— Desculpe-me! É porque são tantas coisas lindas que ela
tem, que eu não resisti e as experimentei para ver como ficariam em
mim.
— Eu não quero você mexendo nas coisas da senhora
Giovanna. Isso não está certo, filha.
— A senhora tem razão. Vai me perdoar? São tão bonitas!
Olhe! — Chego mais perto para que ela veja o tecido da camisola.
— Realmente, são muito lindas, Giulia, mas essas são roupas
que não temos condições de comprar. — Que diga isso por ela! Eu
ainda serei a dona disso tudo aqui. — Tire isso e dê para mim! Vou
lavá-la e a deixar no lugar certo. Vamos!
Troco de roupa e entrego a bendita camisola a ela. Ainda digo
que irei terminar de arrumar a bagunça que fiz, fingindo-me de
arrependida.
Respiro aliviada quando ela vai para a lavanderia e me deixa
sozinha. Quase descobriu. Ainda não é meu tempo e eu não preciso
de uma inimiga para atrapalhar meus planos. Primeiro, preciso tirar
aquela vadia do meu caminho. Aí sim investirei pesado e terei o que
desejo.
Dobro as peças e coloco todas de volta no lugar. Quando tento
devolver uma caixa de sapato para o local de onde a tirei, uma
pasta cai da prateleira, espalhando muitos papéis pelo chão. Xingo-
me pelo meu jeito desastrado, agachando-me para os recolher e pôr
de volta em seus devidos lugares.
Contudo, curiosa como sou, antes leio os papéis e percebo
que eles são os exames de gravidez que Giovanna fez. Abro a
pasta para os arrumar dentro dela, mas paro de fazer isso quando
um pequeno detalhe acima dos meus dedos, no exame de
ultrassom, chama a minha atenção. A data é de poucos dias atrás e
o detalhe que leio me choca.
“Gestação compatível com 15 semanas e 5 dias de evolução.”
Franzo a testa, confusa com a data estimada do parto para
daqui a exatos cinco meses. Somo na cabeça o dia que ela passou
a dormir com Henrique até agora e chego à conclusão de que as
contas não batem. Sei dessa informação porque mantenho
constante vigilância sobre eles desde que se casaram.
Sentindo o coração acelerar com a possibilidade de estar certa
sobre o que estou pensando, coloco-me em movimento, à procura
de vovó, para ter certeza.
Eu a encontro entretida na lavanderia, conversando com uma
empregada da casa. Assim que ela se retira, volto-me à minha vó,
tratando de manter minha ansiedade controlada para não levantar
suspeitas sobre mim.
— Vovó! Pode me tirar uma dúvida? — Seguro minha euforia
em ouvi-la.
— Sobre o quê? — perguntou desconfiada.
Faço cara de inocente, e por mais que eu queira respostas
logo, demonstro desinteresse.
— O Henrique já conhecia a Giovanna antes de se casar com
ela?
— Até onde eu sei, não. Por quê?
Interessante!
— Curiosidade. Não é estranho que ele tenha aparecido
casado com ela, sem nunca ter nos falado dela?
— É porque ela era noiva do subchefe Vincent, e como deu
errado o noivado, Henrique assumiu o compromisso.
— Errado como? — Será que a vadia dormiu com o subchefe?
— Aí não sei. — Desvia os olhos de mim. — O Vincent desistiu
e Henrique aceitou se casar com ela para selar a paz.
— Hum! Torço muito pela felicidade de Henrique. Sabe? —
Sorrio, alegre pela minha descoberta.
— Eu também. Ele merece.
Sim. Com toda a certeza, merece. Mas não com ela.
Faço uma dancinha de vitória por dentro, já tendo sacado tudo:
seu choro desesperado há algumas semanas quando,
supostamente, descobriu sobre a gravidez, vovó a consolando...
É fato: Henrique não é o pai do bebê. Que maravilha! Que
notícia esplêndida! Não podia ter me acontecido coisa melhor do
que essa.
Ah, Giovanna! Assim, você facilitou demais para mim.
E eu estava preocupada, achando que ela iria ser uma rival à
minha altura.
Aproveite a viagem, querida! Quando você voltar, sua estadia
aqui estará com os dias contados.
Cansada de rolar de um lado a outro na cama, esperando-o
voltar, chego à conclusão de que não irei conseguir dormir enquanto
não o ver de novo. Desistindo de tentar me enganar, para não
perpetuar minha tortura, que já está me deixando louca, levanto-me
em busca de água e sinto a camisola molhada de suor grudar em
meu corpo.
É assim todas as vezes que ele precisa se afastar. Eu sinto
temor e pavor, imaginando que não irei mais vê-lo. Isso termina
sempre comigo tendo insônia ou um início de ataques de pânico,
porque fico insana e desesperada. Sendo assim, tenho que me
agarrar a qualquer fagulha de esperança, para não enlouquecer.
Às vezes disfarço, não querendo deixá-lo assustado ou
preocupado comigo, mas é claro que ele percebe as minhas
tentativas falhas de parecer forte em sua presença. Portanto,
sempre dá um jeito de prometer que tudo vai ficar bem, mesmo que
nós dois saibamos que esse tipo de promessa é em vão, dado que
ele nunca tem controle sobre as circunstâncias perigosas que irá
enfrentar. Tudo é possível, e por mais estrategista que Henrique
seja, não dá para ter cem por cento de certeza que as coisas vão
sair como planejadas.
Agora, enrolo-me no roupão e abro a porta dupla de vidro,
sendo recebida pelo vento frio da madrugada. Sento-me na sacada
e olho a cidade lá em baixo, que ainda está funcionando a todo o
vapor. Nova York lembra muito Las Vegas em certo ponto. Parece
que a cidade nunca para e que as pessoas não se importam em
fazer sequer uma pausa.
O elevador apita, avisando da chegada de alguém, e eu me
levanto para receber o visitante, torcendo para que seja ele. Em
poucas passadas, Henrique adentra o recinto e para no meio da
sala. Como se estivesse ligado a mim e soubesse onde exatamente
me procurar, vira-se na minha direção em seu modo sombrio,
prendendo-me no lugar. Nós nos entreolhamos por um curto
instante suficiente para me deixar arrepiada da cabeça aos pés.
Culpa do seu olhar gélido.
Ofego quando ele ascende a luz da sala, dando-me a visão
completa do seu corpo. Sua camisa, antes branca, agora está
embebida de sangue. Sangue fresco. Tudo em mim grita para ir até
ele, mas minhas pernas travam e eu começo a tremer sem parar. Eu
não sei lidar com esse seu lado ainda.
Notando que não irei até onde ele está, disfarça sua decepção
e segue seu caminho até o quarto, sumindo da minha visão. Com as
pernas bambas, sento-me na cadeira de descanso e fecho meus
olhos, querendo apagar as imagens que vi e tentando não imaginar
onde ele estava e o que fez para chegar aqui naquele estado.
Sentindo-me tonta e enjoada, levanto-me e me encosto no
parapeito, puxando o ar para os meus pulmões na tentativa de fazer
o meu mal-estar ir embora, como nas outras vezes, e falho
miseravelmente.
— Sabe que não conseguirá fugir sempre dessa minha face,
não é? — Suas mãos me seguram firmemente pela cintura, virando-
me para si.
Ele já está de banho tomado, apenas com uma calça de
moletom o cobrindo. O cheiro de lavanda em seu corpo e seus
cabelos penteados para trás o fazem parecer perigoso e muito
pecaminoso, ainda que a escuridão não tenha o abandonado por
completo. O que o deixa nefasto.
— Eu não estava... — Silencia-me com um dedo.
— Nunca minta para mim, amor! — Raspa sua boca por cima
da minha, imprensando seu corpo ao meu e me tomando com um
beijo desesperado, enlouquecedor, pegando de mim tudo que tem
direito e muito mais. — Nunca! — sussurrou e finalizou com uma
mordida leve em meus lábios, porém punitiva, pela minha mentira.
São nessas horas que eu fico tentada a lhe contar tudo, mas
junto vem o medo de que essa verdade seja meu fim.
— Eu detesto quando você volta assim. — confidenciei,
alisando seu rosto e tentando acalmá-lo.
Este ainda não é completamente o meu marido. É o seu eu
assassino. Posso enxergar isso dentro dele e os diferenciar. O que
está aqui, tem uma áurea demoníaca, impiedosa. Tenho o visto com
frequência nos últimos tempos, sempre depois de uma das suas
saídas.
É esse Henrique que faz eu me calar, pisar com cuidado à sua
volta e temer pela minha vida. Eu sei que, em seus dias bons, nunca
me machucaria. Entretanto, seu outro eu... Esse gosta da guerra, do
medo que causa e, sobretudo, do caos e dos gritos por misericórdia.
Nem em cem anos estarei preparada para lidar com ele e o desafiar.
— Quero você. — Encosta sua testa na minha, fazendo sua
respiração entrecortada aquecer meus lábios doloridos. — Preciso
que me deixe te possuir de forma rápida e dura, Giovanna.
Passo a ponta dos meus dedos em seu rosto, acariciando-o e
desejando tirar a escuridão dele. O friozinho na barriga de
antecipação aparece. Tudo entre nós é tórrido e árduo.
Uma parte minha almeja sua posse enquanto a outra se
encontra receosa. Então, sua mão massageia meus seios,
apertando demoradamente os bicos rijos. Sem querer negar nada a
ele e, principalmente, a mim, abro o roupão e puxo a camisola pela
cabeça, ficando nua para a sua apreciação. Seus olhos se
escurecem mediante à varredura que fazem por todo o meu corpo,
demorando em minha barriga e fazendo todo o caminho de volta,
até parar em meu rosto.
Sorrio, incentivando-o, e posso ver diante de mim a besta nele
querendo sair, dominá-lo por completo. Sua luta é interna e eu só
posso apreciar a beleza que meu homem tem, em todos os
sentidos.
Sem demora e com gentileza, sou empurrada contra a parede
mais próxima e tenho sua língua quente dentro da minha boca com
urgência e sofreguidão. Gemo diante da sua exploração e levo uma
mão aos cabelos de sua nunca em uma tentativa falha de me
segurar, buscando um pouco do controle que eu sei que ele sempre
irá me negar.
Seus dedos adentram minha vulva, estimulando-me em um
nível que me deixa sem respirar. Eu aprecio o que seus tortuosos
toques me fazem, pois eles me transformam em outra pessoa. Uma
que não ouso admitir em voz alta que existe, mas que ama ser
devorada por ele. Nesse caso, são desnecessários os seus
estímulos, porque ela está sempre pronta e febril para sua posse.
Todos os fluidos possíveis escorrem pelas minhas coxas,
comprovando minha teoria.
— Tão perfeita, porra! — grunhiu ferozmente, chupando meu
mamilo sensível. — Você me tem de joelhos por você, angelo mio.
— Foda-me Henrique! — implorei choramingando, abrindo-me
para que ele se encaixasse entre minhas pernas.
Levo minhas mãos até sua calça e abaixo o cós dela o
suficiente para pegar seu membro duro, que palpita e está inchado.
Eu o massageio, lambuzando sua extensão com os dedos melados
de sua essência, que escorre, e me preparo para descer, com água
na boca, a fim de chupá-lo.
Percebendo minha intenção, ele me puxa para cima e segura
meu queixo para que eu o encare.
— Agora não, boneca. Leve-me para dentro de você! É tudo
que preciso. — murmurou asperamente.
Ele me levanta com seus braços, firmando-me com suas
mãos, e guia seu pau para dentro do meu centro em um golpe
assertivo que me faz gritar para a escuridão. Sou possuída de
maneira dura e exigente. Henrique bate dentro do meu canal, que o
recebe apertado e encharcado. Eu me retorço, delirando em êxtase.
Nós dois juntos somos combustão pura.
— Eu amo como você se entrega para mim, Giovanna. Nunca
se nega a mim. Mesmo quando sente medo, ainda assim está aqui,
confiando-me o seu corpo e me deixando ter cada pedacinho seu.
— Continua me possuindo e me estirando com rigorosas estocadas
abruptas.
— Humm! — gemi, sendo empalada pelo seu eixo espesso.
— Dio, amore mio! Você é tão gostosa e me leva tão bem! —
gruiu fascinado.
— Henrique! — choraminguei seu nome.
São tão avassaladores os nossos momentos, que, na maioria
das vezes, eu me sinto totalmente dominada e fora da realidade.
Desse modo, não me sobra nada além de choramingar,
experimentando toda a profusão de sensações que ele me
proporciona.
Meu marido me desce devagar somente para me colocar
inclinada sobre o parapeito da varanda. Empurra meu corpo até o
limite quando volta a me foder duramente, segurando em meu
quadril.
— Eu vou cair. — comuniquei, temendo que ele me deixasse
desabar lá embaixo.
É arriscado, pois o parapeito é baixo. Estou com receio,
mesmo que todo o risco me deixe mais excitada.
— Confie em mim, boneca! Apenas me sinta em você!
E eu confio nele. Confio em suas palavras e deixo que ele me
leve a um outro nível de prazer primitivo, o qual beira ao sadismo,
mas, ainda assim, é fenomenal. E é pendurada, olhando os carros
passarem lá embaixo, que grito feito uma descontrolada aos quatro
ventos o meu orgasmo, sentindo meu homem inchar e preencher
cada pequeno espaço que existe dentro do meu canal judiado.
— Caralho! — rosnou, abraçando-me e me segurando em pé
com ele. — Eu te amo tanto! — Beija meu ombro.
Pisco, sentindo-me surpresa. Essa foi a primeira vez que ele
me confidenciou tais palavras com todas as letras.
— Oh, Henrique! — sussurrei emocionada.
Foda-se se o tempo é curto e se existe certas dúvidas! O que
eu sinto por esse homem, consome a mim em um nível que beira ao
surreal e ao insano. Muito louco... Ao ponto de exaurir tudo e não
restar mais nada da minha antiga eu.
— Eu o amo tanto! — devolvi sua declaração, deixando
minhas lágrimas de emoção saírem e absorverem o brilho sublime
que vi em seus olhos azuis. Ele se intensifica por Henrique ter me
ouvido dizer que o amo.
— Eu sou tão louco por você, Giovanna! Você me faz tão feliz.
Seja inteiramente minha!
— Eu já sou, Henrique. — murmurei com a voz rouca,
sentindo-me seduzida.
— Não! Não do jeito que eu quero. — E, como em câmera
lenta, ele se abaixa e se ajoelha, segurando minha mão. — Case-se
comigo! — Tira do bolso da calça uma caixinha preta, de onde um
anel de diamante azul me dá boas-vindas.
— Mas nós já somos casados... — comecei a questioná-lo,
mas parei quando entendi, mesmo que tardiamente, a sua atitude.
Ele quer que eu diga “sim” e que eu tenha a chance de
escolhê-lo, como não tive na primeira vez.
— Diga que sim, amor! Deixe-me fazer certo dessa vez!
— E se eu disser que não? — Sorrio como uma boba
apaixonada.
— Vou ter que trabalhar dobrado para que mude sua opinião,
pois não me vejo mais sem você. Isso nem é uma opção. — rebateu
com sinceridade.
Nem eu. — pensei.
— Você é impossível! Sabia? — Ajoelho-me para me encontrar
face a face com ele. — Mil vezes sim, Henrique! Sempre será você.
Vejo-o colocar o anel em meu dedo e me levantar no ar para
me rodopiar.
— Meu Deus! Vou vomitar. — Eu rio e ele gargalha.
— Vamos entrar! Aqui fora está fazendo muito frio, e eu não
quero que você fique doente.
— Diz o homem que fodeu comigo nua na varanda e
pendurada no parapeito, em tempo de me fazer cair.
— A única queda que terá na sua vida, é a de cair de amor por
mim. — Estende-me uma mão, a qual aceito prontamente.
Cretino arrogante! Eu já caí. E como não cairia? Mesmo com
todos os seus defeitos, ele é perfeito demais. Meu príncipe. Ainda
que seja um príncipe negro, é meu. E mesmo que eu saiba que
existe um elefante na sala entre nós dois, estou afim de ignorá-lo se
for preciso para o ter sempre assim.
Ou, assim, eu me enganei mais uma vez.
É inegável tudo o que sinto por Giovanna, e foi pensando
dessa forma, que me declarei. Não tinha mais porque lhe esconder
meus sentimentos, se ela já estava consumindo meus pensamentos
e povoando de maneira irrevogável o meu coração. Eu cheguei a
um ponto em que eu me sentia sufocado por me abster. Não
somente a desejo, como preciso dela, da mesma maneira que um
maldito viciado necessita compulsoriamente de suas drogas. Ela é
como um bálsamo para as minhas feridas e a alegria em meio ao
tormento. E dizer o contrário disso, seria idiotice minha.
Muitos homens feitos nunca assumiriam que têm uma mulher
comandando seu coração. Droga! Muitos de nós nem mesmo
assumiriam que ainda têm o órgão funcionando dentro de si. A
máfia é cruel e te molda para ser agressivo, intolerante e áspero.
Sou um dos últimos que pegou a antiga geração, onde tudo
era a fogo e ferro. Eu sou um homem intransigente sim, quando
tenho que ser, e honrado quando preciso também. E isso inclui ser
sincero comigo mesmo em relação ao que me permito vivenciar,
sem me sentir culpado por querer tudo que tenho direito.
Indigno, sempre irei achar que sou, porém tolo eu seria se
ficasse me sabotando por isso. Porque todos já passamos por
momentos difíceis; uns menos que outros. E eu, em dose dupla, fui
moldado para matar e estraçalhar sem remorso. A organização me
fez virar um homem cedo, no entanto foi no exército que aprendi, da
forma mais dura, que a vida não era bonita e que a morte não era
um filme de ficção.
Se eu fechar meus olhos, transporto-me exatamente para
minha última missão.
***
***
Em um piscar de olhos, eu levava uma alma, e em um sopro,
poderia ser eles levando a minha. No nosso mundo, se
demonstramos fraqueza, somos trucidados sem o menor
arrependimento. Eliminar o que eles chamam de escória, sempre foi
uma obrigação na Camorra. Os elos fracos: é assim que chamam os
que desaprovam as regras e tentam burlá-las. Esses são os que
recebem um ultimato definitivo, porque os fracos não sobrevivem.
Como uma maldita regra doentia e sem opção de escolha,
quando decidem que devemos matar, automaticamente precisamos
anular nossa parte humana. Porque se ainda pudermos ouvir o
coração, não somos dignos de ser um deles. Eu diria que a primeira
morte não é aquela que temos que causar para passar no teste, e
sim a nossa. Renegar-se te mata, consome, fere... E, aos poucos,
diante de tantas negativas, a humanidade vai morrendo até não
restar mais nada. A não ser uma casca vazia habitada apenas pelo
ódio e pelas sombras. E esses se tornam os nossos eternos
companheiros.
Eu pensava assim também, até bater meus olhos nela.
Tornei-me diferente deles porque acreditava que não era
necessário sermos tão radicais. Matteo era a prova viva de que uma
coisa nada tinha a ver com a outra: o homem era destruidor quando
queria e suas ordens faziam todos os seguir como mariposas
procurando luz, mas ele também não tinha vergonha de demostrar
seu amor por Ariella. Só que isso foi sua perdição, porque Luigi e
seus seguidores usaram esse fato para tramar sua queda.
Por esse motivo, eu serei indiferente na frente deles, pois
mesmo sendo o melhor consigliere que a Camorra teve até hoje,
não sou imune às avaliações negativas e aos julgamentos
constantes de todos à minha volta. As pessoas em nosso meio
esperam que eu seja perfeito em negociar, torturar e matar, só que
nenhum de nós tem a permissão de amar. Nem eu. Isso é como um
requisito que diz que sou o homem certo para meu cargo, portanto
nenhum excesso sobre o meu casamento está permitido ser
exposto. Mostrar demais pode ser fatal, e isso é motivo o suficiente
para me fazer ser um iceberg diante daqueles que precisam do meu
comando, não das minhas emoções.
Giovanna é, sem dúvida, meu elo de ligação entre o mundo
sombrio e o real. Posso perambular entre os dois sem me perder. A
alma que achei ter perdido um dia, encontrei no corpo da minha
doce esposa. Porque eu e ela somos um só. Isso é indiscutível.
— Você parece sério. Não conseguiu resolver todos os seus
problemas? — Brinca com os pelos do meu peito.
Estamos deitados na cama após termos feito amor mais uma
vez. Ou, como ela gosta de dizer: depois de eu ter fodido seus
miolos.
Menina atrevida! — pensei sorrindo.
— Sim. Tudo saiu como planejei. — Passo meu dedo em seu
lábio inferior, que ainda está inchado pelos nossos beijos.
— Não parece feliz com o resultado. — Leva sua boca
aveludada ao meu peito e beija em cima do meu coração. Depois
levanta o rosto.
— Apenas estou irrequieto com meus próximos passos daqui
em diante. Porém, não vamos falar disso. Não gosto de falar sobre
os negócios quando estou com você. — Não é só por não poder,
mas também por não querer compartilhar essa parte com ela.
Giovanna ainda não está pronta para lidar com o meu pior.
— Tudo bem. Eu gostaria de ir fazer um tour na cidade
amanhã. Irá comigo? — pediu com uma voz doce.
— Claro que sim, boneca. Amanhã serei todo seu. — Ganho
um lindo sorriso em troca da minha resposta.
— Eu te amo!
Ah, caralho! Essa foi a terceira vez que ela me disse isso hoje;
e a emoção que senti, foi a mesma que a da primeira. Eu não
preciso de mais nada, porra. Tenho tudo que sempre quis, aqui, na
minha frente.
— Boneca! Eu nunca vou me cansar de ouvir você dizer isso.
— Seguro-a firmemente em meus braços, querendo me fundir ainda
mais a ela.
Aliso a pele exposta da sua barriga, fazendo uma leve carícia
nela.
— Você tem um nome favorito? — inquiriu de repente.
— Eu nunca tinha pensado nisso. Tem algum em mente?
— Se for menina, gosto de Helena.
Abro um sorriso sincero, gostando da sua escolha.
— Era o segundo nome da minha mãe.
— E do seu pai? — perguntou curiosa.
— Augusto. — Trinco os dentes, lembrando-me do filho da
puta que eu chamava de pai. — Nenhum filho meu receberá o nome
daquele desgraçado. — esbravejei, fazendo-a se afastar devido ao
meu tom seco.
— Desculpe! Eu não queria deixá-lo chateado. Daremos outro
nome se for menino. — tentou me tranquilizar.
— Não é sua culpa. Só não quero falar dele, muito menos
amaldiçoar a criança com seu nome.
— Um dia irá se abrir para mim e me dizer sobre ele. — Volta a
deitar a cabeça em meu peito.
— Não vale a pena, amore mio. Ele não vale um minuto do seu
pensamento.
— Eu entendo. Não falaremos dele, então.
— Henri. — respondi sua primeira pergunta, retomando o
assunto. — Imitaria o meu nome.
— Arrogante quase nada, né? — Ri de mim.
— Um espécime perfeito como eu, tem que deixar bons
substitutos. — provoquei, arrancando outra gargalhada dela.
— Amo Rafaelle. É bíblico. Nome de anjo. — sugeriu.
Mordi a língua quando estava prestes a dizer que não
importando o nome que colocarmos, nosso filho será tudo quando
crescer, menos um anjo.
— Ainda tem muito tempo. Decidiremos até chegar a hora.
Precisa descansar, pois o dia está quase amanhecendo. — Olho os
primeiros raios de sol baterem na janela, anunciando o novo dia.
— Acorde-me daqui a pouco! Quero aproveitar bem o dia. —
Começa a cochilar.
Fecho os olhos a fim de tirar uma soneca também. O que se
mostra impossível logo em seguida, quando ouço meu celular vibrar
na mesinha de canto, ao lado da cama. Penso em ignorá-lo, no
entanto, ao ver o nome “Gabriel” piscar insistentemente na sua tela,
algo me alerta de que não terei notícias boas.
— Gabriel? — tentei aparentar calma.
— Henrique! Ainda está na cidade? — indagou exasperado.
— Sim. — confirmei.
— Saia daí agora! Estão indo atrás de você.
Pulo da cama, em busca da minha arma, encosto-me na janela
do quarto e verifico a rua lá embaixo. Tudo parece calmo. Calmo
demais.
— Quem está vindo atrás de mim?
— O FBI. Eles sabem dos motivos que te trouxeram aqui.
— Como, porra?! — Não faz sentido. Eu, pessoalmente, tomei
todas as precauções.
— Luigi! O Luigi sabe de tudo, caralho! Alguém o alertou sobre
as investigações e ele usou tudo que tinha para pedir que
me tirassem do caso de Vincent. — Pedir é muito forte. Ele deve ter
uma carta muito poderosa na manga. A qual usou para se proteger.
— Parece que invadiram a casa dele em Milão e roubaram
algo muito valioso de lá, porque o cara está desesperado. Você
sabe do que se trata?
É claro que sei. Fui eu quem orquestrei tudo. E se ele me
jogou na fogueira, é porque sabe do meu envolvimento nisso.
Olho Giovanna dormindo serenamente, sem saber que, do
outro lado da linha, estou recebendo um aviso de que pediram a
minha cabeça.
— Gabriel, você está seguro? — Preocupo-me com ele, que
está sozinho e desprotegido. Eu já estive em seu lugar, então sei
como a agência funciona quando tem seus interesses em cheque.
— Estou aqui, em Nova York. Eu estava saindo daqui, quando
meu parceiro me avisou sobre o que estava acontecendo. Eu tentei
ajudar, Henrique, mas estou de mãos atadas.
— Vou te passar o endereço de um lugar. Vá para lá
imediatamente! Eu sei como reverter tudo isso.
— Sabe? — questionou esperançoso.
— Sei. Vamos dar a volta por cima.
— Cara! Você me assusta com o quanto é frio nessas horas.
Não preciso vê-lo para saber que ele estava sorrindo de
nervoso.
— Anos de prática, Gabriel. Estou saindo daqui para te
encontrar no local. — Desligo a ligação.
Mando uma mensagem ao Camillo, chamando-o aqui, para
cima, com urgência. Não queria Giovanna no meio desse ataque
surpresa, entretanto não haverá tempo de tirá-la da cidade rápido o
suficiente. Quando eu chegar na fábrica, irei arrumar um jeito de
fazer isso.
— Amore mio, acorde! Precisamos ir.
Ela me fita com olhos sonolentos.
— Já deu a hora? — Senta-se, esfregando o rosto.
— Vamos, amor! Não temos tempo. — Algo em minha voz
denunciou minha preocupação.
Ela corre até a mala para pegar uma roupa. Eu já estou vestido
e pronto para lidar com qualquer imprevisto.
Vou até a sala no momento que o elevador abre, trazendo
Camillo.
— Mandei os homens irem para a fábrica assim que fui
informado por Rocco sobre a perseguição contra eles. — avisou.
— E, como vamos sair daqui sem escolta? Está tentando nos
matar? — esbravejei.
— Não. Estou tentando te salvar. — retrucou nervoso. — Por
que acha que indiquei esta merda de hotel? Ele tem um heliporto no
terraço. Você não vai descer para o estacionamento, nem por cima
do meu cadáver. A empresa de segurança já providenciou um
helicóptero para te tirar daqui. Em poucos minutos, ele pousará
somente para entrarmos nele e sermos tirados daqui. De nada por
isso. — respondeu com sarcasmo.
Respiro aliviado. É por isso que ele é meu braço direito, porra!
— Você sabe que isso não foi coincidência. Certo? —
questionei.
— Acha que Rocco trocou de lado? — Não perdi a nota de
decepção em sua pergunta.
Eu já tinha o alertado sobre Rocco, mas devido à sua amizade
com o bastardo, ele confiou nele tanto quanto eu.
— Não posso descartar ninguém. A única certeza que tenho, é
que alguém nos traiu. E nós vamos descobrir qual deles foi.
Por mais que eu não confie totalmente no Rocco, não acho
que foi ele. Eu tenho um nome em mente, no entanto quero
averiguar primeiro, antes de matar o filho da puta.
— Temos que ir. Já estão nos esperando lá em cima.
— Rápido, Giovanna! — gritei, estranhando sua demora.
Camillo começa a rir quando ver a bendita da minha mulher
puxando duas malas grandes de roupas, mal aguentando andar.
— Mas, que caralho, Giovanna! — grunhi agitado. — Deixe
essas malas fodidas aí! Só pegue o necessário e vamos embora!
— Não me xingue, marido! São meus vestidos novos. —
reclamou irritada.
— Dio, mulher! Tudo que menos me importa agora, são as
porras dos seus vertidos! Estamos sem tempo para essas
bobagens.
— Mas... — Quando ela começa a argumentar, eu a puxo até o
elevador, sem deixá-la terminar a explicação.
— Prometo que compraremos outros depois, querida. Quantos
você quiser. — abrandei a voz, pois ela não sabe detalhes de nossa
partida repentina.
— Se você diz. — Cruza os braços e semicerra os olhos para
Camillo, que, por mais que tente, não consegue disfarçar sua
zombaria.
— Ouse relinchar feito um cavalo de mim, e eu juro que atirarei
em você! — resmungou mal-humorada, fazendo nós dois rirmos
alto.
Chegamos no terraço, onde o helicóptero já nos aguarda
ligado, e entramos nele sem demora. Somos tirados às pressas do
hotel. Eu e Camillo não deixamos de notar as várias viaturas de
polícia lá embaixo, cercando o prédio na tentativa de me pegar
desprevenido.
Para a minha sorte, foi tarde demais para eles. — pensei,
agradecendo mentalmente.
Giovanna segura minha mão, inocente quanto ao que se
passa. Com certeza, ela desconfiou que estávamos sob risco,
entretanto mal sabe que acabou de se livrar de uma enrascada
muito fodida. Uma que se tivesse sido concretizada, eu
provavelmente teria saído morto dela, pois não iria deixá-los vencer.
Descemos do helicóptero e corremos em direção à fábrica.
Quando dizem que nada acontece por acaso, é disso que estão
falando: uma compra inesperada me salvou de última hora. O que
seria um presente para Giovanna, tornou-se um esconderijo
perfeito.
Meus homens estão a posto, já Gabriel, em um timer perfeito,
para sua moto no mesmo instante que nós chegamos e desce.
— Vamos entrar! Preciso fazer duas ligações e te passar o
plano. — comuniquei-o, adentrando o prédio.
Por sorte, ele está vazio. A caminho para cá, avisei ao antigo
proprietário que faria uma vistoria no local para o reformar, e que,
portanto, precisaria de todos os funcionários dispensados pelos
próximos dias. O cara não se negou, é claro, e tratou de me atender
prontamente. Depois de ter negociado sua dívida comigo, e eu ter
sido benevolente em não o matar, esse era o mínimo que podia
fazer.
Camillo faz um sinal de que está pronto o que pedi, então
deixo Giovanna passeando pelo local que, desde a entrada, teve
sua total atenção devido a ser o que é, e entro no escritório.
Após fazer uma ligação rápida para Marco, deixando-o a par
do que está acontecendo, ligo para a Maria e a mando preparar
duas malas de roupas para entregar ao Rocco, que irá me enviá-las.
Matarei dois coelhos com uma cajadada só. Quero ter uma
conversa séria com ele, longe de toda a bagunça.
— O Elliot já mandou todas as documentações escaneadas e
as cópias dos arquivos do pen drive encontrados na mansão.
— Ótimo! Deixe-me ver se o que temos aqui, pode nos ajudar!
— Abro o notebook e, em seguida, a pasta enviada para o meu e-
mail.
Encontro documentações referentes às casas de pedofilia
iguais aos que o Harry me entregou. Fica interessante quando abro
a pasta de imagens e avisto fotos comprometedoras sobre pessoas
de renome para a alta sociedade enfiadas nas falcatruas do capo:
políticos, juízes, policiais e — pasmem — até mesmo o filho do
melhor amigo de Luigi, o exemplar embargador de justiça.
Todavia, não foi esse cara que me deu o sorriso grande que
estou ostentando neste momento, e sim uma certa pessoa especial
que, nem se eu nascesse de novo, iria imaginar vê-lo aqui. Esse é
meu passaporte para livrar minha cara e, ainda, ajudar o Vincent no
processo.
Quem diria? O carma é uma cadela.
— O Natal chegou cedo este ano, não é? — Camillo ri, tão feliz
quanto eu com a descoberta.
— Parece que sim. Essa vai ser a cereja do bolo se der certo o
que estou planejando. — comentei. — Gabriel! — chamei-o.
Desde quando ele chegou, está perdido em seu próprio mundo
particular. Preciso dele centrado.
— Sim! Achou um meio de nos tirar dessa enrascada em que
me colocou?
— Eu? — Viro a cabeça para o ver. — Tudo que você fez, foi
consciente, Gabriel. Eu não o forcei a nada. Mas, respondendo sua
pergunta... Sim. Eu disse que tenho um plano. Só preciso de um
favor seu para o executar.
— Fale! Já estamos atolados até o pescoço e na merda,
mesmo. O que é um peido para quem já está todo cagado? —
Arruma-se na cadeira, interessado em ouvir.
Respiro, sabendo que não vai ser fácil o que irei fazer.
— Eu vou me entregar. — anunciei, vendo todos arregalarem
os olhos.
— Você é doido, porra?! — Camillo gritou, quase pulando dois
metros de altura. Está assustado.
— Faço as dele, minhas palavras. — Gabriel concordou
consternado.
— Você não vai fazer isso, Henrique! Acabamos de escapar
deles. Qual é a lógica nisso? — Camillo inquiriu desolado.
— A lógica é que não tínhamos em mãos as provas que temos
agora. Se Gabriel fizer direitinho tudo que eu pedir, irei sair em
poucas horas do FBI, pela porta da frente e sem nenhum arranhão.
— expliquei decidido.
— Está muito confiante. O que tem em mente, que lhe dá tanta
certeza assim? E, não pense em mentir, Henrique! Sairei por aquela
porta e não voltarei se você me esconder alguns detalhes
mirabolantes que tiver. — Gabriel, sendo um tremendo babaca,
chantageou-me.
— Não é a minha intenção esconder nada. Preciso que você
saiba de tudo, já que estarei em suas mãos.
— Eeee! Não estou gostando disso. — Camillo falou todo
insolente.
— O negócio é o seguinte, Gabriel: você irá me levar e vai
limpar sua barra com seu chefe quando me entregar. Em seguida,
irá ligar para o secretário de segurança Barry Hermann e o mandar
para mim. Diga meu nome! Ele vai me reconhecer. Fale que quero
negociar, pois tenho algo do seu interesse.
— E se ele não aceitar te ver? — Gabriel questionou,
duvidando que tive uma boa ideia.
— Então, você vai dizer que se ele não aparecer dentro de 24
horas, fotos dele em um certo casarão de orgia estarão espalhadas
em cada canal televisivo que existir no mundo.
— O nome dele está... — Arregala os olhos e aponta para o
notebook. — Ali?
— Sim. — esclareci convicto.
— Porra! Isso é... Uau! — sibilou incrédulo. — Tem certeza que
deseja ameaçar o cara? Ele é peixe do tipo bem grande.
— Bom... Se queremos derrubar um tubarão, devemos colocar
outro na jogada. — Levanto-me, indo até a janela que vai do chão
ao teto. — Luigi vai jogar pesado e eu estarei preparado,
esperando-o. Vou tirar todas as suas chances de escapatória dessa
vez. — Quero ver como vai se livrar dessa.
— Se está tão certo disso, só posso dizer que estou dentro. —
Camillo me deu seu apoio, como sempre.
Olhamos para Gabriel, esperando sua resposta. Com um longo
suspiro, ele balança a cabeça positivamente, desgostoso.
— Fazer o quê? Vamos nessa! Espero que, realmente, saiba o
que está fazendo, Henrique.
— Eu sei. — respondi confiante, mesmo sabendo que tudo
pode acontecer.
Depois de passar mais alguns detalhes aos meus homens e
deixar tudo explicado, faço uma vídeo-chamada com todo o
Conselho. Eu preciso cortar os laços deles com o capo para o deixar
sem nenhuma opção. Após muito discutir com eles e provar minha
teoria, finalmente consigo que todos fiquem ao meu lado. É claro
que garanti limpar suas bundas gordas com o FBI e os livrar de
serem caçados. Esse foi o ponto fundamental para a decisão final.
Tendo resolvido essa parte, peço para que chamem a
Giovanna. E se pensam que, até agora, essa será a parte fácil, digo
que erraram feio. Essa mulher é o cão quando quer, e assumir que
irei me deixar ser preso, não é exatamente o que ela gostaria de
ouvir. Contudo, necessito me despedir dela. Será difícil, mas
preciso.
— O Camillo disse que você precisa falar comigo.
— Sim, angelo mio. — Sem espera, beijo-a, querendo gravar
mais uma vez o seu gosto.
É tudo que irei precisar enquanto estiver esperando pelo golpe
de misericórdia.
— Você irá para uma casa segura, porque não poderei
resolver as coisas com você aqui.
— É tão ruim assim?
Passo um dedo pela sua testa vagarosamente, desfazendo o
vinco entre suas sobrancelhas.
— Nada que eu não possa resolver. — respondi atordoado,
imaginando que podia estar lhe fazendo uma promessa falsa.
— Não está indo fazer nada estúpido, né? — E aqui está o
motivo de eu ser louco por ela.
Giovanna é uma mulher em ascensão. Pode aparentar ser
apenas uma menina, no entanto, em pouco tempo de conversa,
consigo enxergar como sua mente funciona. Para a pouca idade
que tem, ela é fantástica, esperta e observadora demais. O que a
faz aprender fácil, por entender tudo muito rápido. Eu estou ansioso
para a ver desabrochar e se tornar uma deusa, em todos os
sentidos.
— Já perdeu sua confiança em mim, boneca? — brinquei.
— Não. Só não gosto que fique todo misterioso.
— Eu sei que pode ser difícil, amor, mas acredite em mim
quando digo que tudo irá melhorar em breve e eu não estarei saindo
tanto para missões e sacrificando meu tempo com você.
— Tudo bem.
Beijo sua mão.
— Gostou do lugar?
— Sim. São lindos os tecidos que vi lá embaixo. Imaginei
muitos modelos feitos com eles. Posso escolher uns?
— Que tal escolher todos? — devolvi sua pergunta.
— Vai comprar todos? — perguntou espantada.
Essa mulher não faz ideia do que sou capaz de fazer por ela.
— Já comprei. — Abraço-a e sorrio enquanto vejo as írises dos
seus belos olhos azuis cristalinos aumentarem.
— Não acredito! — rebateu espantada.
— Pode acreditar. E tem mais. — Viro-a para a janela e me
posiciono atrás dela. — Tudo isso aqui é seu. É meu presente de
compensação por você não ter tido uma festa de casamento.
— Ai, meu Deus! — gritou animada. — Jura?!
— Sim. É a minha contribuição para a realização do seu
sonho.
— Eu já disse que te amo, hoje? — Pula em meus braços.
— Eu devo ter ouvido algo aqui e acolá, porém é bom que me
lembre disso sempre. — Pisco de um jeito safado.
— Você sempre leva as coisas para o lado sexual, não é? —
Gargalha toda feliz. Isso é o suficiente para me deixar em paz e com
a certeza de que estou fazendo a coisa certa.
— Isso é porque você é irresistível e sempre me faz lembrar de
uma deusa do sexo. Achei que fosse óbvio o quanto sou viciado em
você, Giovanna. — Eu te respiro e te transpiro, boneca.
— Eu não sei mais viver sem você, então trate de terminar
logo, seja lá o que vai fazer, e voltar para mim definitivamente!
— Para vocês. — Dobro-me e beijo a pequena protuberância
que me deixa de joelhos.
É por você, filho. É por você que irei me sacrificar.
Eu a levo de volta para o helicóptero juntamente com dois dos
meus melhores soldados e a ajudo a subir. Minha mulher vai para
um lugar seguro, longe disso aqui... Longe de Luigi.
— Seja forte! — pedi quando a vi se acomodar, sabendo que
as próximas horas não seriam fáceis.
— Eu te espero em casa. — Puxa meu rosto para um beijo.
Fico olhando para o céu até o helicóptero sumir da minha
visão.
— Ainda dá tempo de desistir dessa sandice. — Gabriel entra
no veículo.
— Eu lá sou homem de desistir de alguma coisa, Gabriel!
Vamos acabar logo com isso!
— Vamos lá! — Camillo liga o carro e acelera, levando-me
para o último lugar em que me imaginei ir parar um dia.
(...)
***
***
***
***
(...)
(...)
(...)
Até tentei fugir sozinha para ir ver Luna, porém fui duramente
chamada à atenção pelos médicos. Eu ainda me sinto fraca, por
mais que a dor não esteja presente por conta das medicações
intravenosas. Assim que me trouxeram praticamente escoltada de
volta ao quarto, recebi uma dose alta de alguma coisa que me
baqueou. Assim, foi impossível manter meus olhos abertos. Mas,
com a graça de Deus, o efeito já está passando e, aos poucos,
estou recobrando a consciência.
Logo percebo que não estou sozinha. O cheiro dele me
alcança, deixando-me inebriada. Sei que uma hora nós teremos que
sentar e conversar como dois adultos, no entanto a minha raiva
ressurge todas as vezes em que me lembro que fiquei sozinha, sem
receber qualquer coisa da parte dele além do seu desprezo.
Sinto sua mão acariciar meu rosto enquanto eu finjo continuar
dormindo. O toque que tanto ansiava, deixa-me arrepiada. Estou tão
sensível devido ao que acabei de passar, que minha vontade é de
esquecer tudo, enterrar-me em seu peito e me permitir ao menos,
por alguns míseros segundos, desabar, deixando que tudo que
estou sentindo, saia de dentro do meu coração. Contudo, jurei que
me tornaria uma pessoa diferente do que eu era há alguns meses, e
farei de tudo para cumprir meu juramento. É muito pessoal. Preciso
me colocar em primeiro lugar e provar a mim mesma que não sou
fraca, como Vincent me acusou de ser. Somente assim, estarei
preparada para o perdoar, se ele merecer. E, apenas dessa forma,
saberei que não estou dependente dele emocionalmente para viver.
— Abra os olhos para mim, amor!
Eu quero gritar com ele e dizer que se eu sou seu amor, ele
não sabe como amar alguém.
Com muita dificuldade, eu o encaro, reparando em suas
olheiras escuras ostentadas. Bom! Pelo menos uma vez tinha que
perder o sono, não é? Não seria justo somente eu sofrer.
— Eu fui vê-la. A pequena Luna tem os seus olhos.
Isso me faz despertar de vez e procurar por mais.
— Eu quero vê-la. Por que estão me mantendo longe dela? —
Eu o mataria se estivesse fazendo isso comigo como um tipo de
castigo.
Dá até para imaginar a manchete nos jornais: “Mulher surtou
depois de parir e matou seu marido dentro do hospital.”
— Porque ela está na incubadora. Precisa ficar internada
alguns dias para amadurecer seus pulmões.
Espanto o meu pensamento assassino e me obrigo a voltar
para o presente.
— Oh, Dio! — falei fungando, sentindo-me culpada.
Esse é um arrependimento que carregarei pelo resto da minha
vida: saber que um descuido meu quase custou a vida dela.
Ninguém pode julgar uma mãe por chorar pela sua filha, que
sobreviveu por um milagre.
— Ei! Ela está bem. — Segurou minhas mãos entre as suas.
— Eu a peguei no colo e a fiz dormir. — Isso não está ajudando. Só
me causa mais revolta.
— Isso não é justo. — afirmei o que se passava dentro de
mim. — Você a rejeitou e, depois de tudo que eu passei, foi o
primeiro a estar com ela.
Sei que essa é uma implicância minha, entretanto serei uma
maldita dor na bunda com ele mesmo. Se pensa que irei ceder fácil,
está redondamente enganado. Perdoar é humano, já esquecer-se
se chama amnésia.
— Por que agora, Henrique? Por que aceitar minha filha
somente agora?
Ela não merece ser uma obrigação na vida de ninguém. Eu a
amo, sendo filha dele ou não, e não vou aceitar para a vida dela
menos do que ela merece.
— E-eu errei, Giovanna. Errei feio. O Vincent me fez ver o que
estava bem diante dos meus olhos. Ele pontuou que posso ser
melhor e que, mesmo do meu jeito torto, fiz um bom trabalho com
ele e Marco.
— Se “fazer um bom trabalho” refere-se ao fato de deixá-lo
estúpido, eu concordo. Marco foi o único com quem você acertou. —
retruquei.
Ele balança a cabeça, rindo.
— Não, angelo mio. Eu errei bem mais com o Marco, e temos
um longo caminho a percorrer antes de nos considerar dignos de
uma segunda chance. Eu quis protegê-lo e acabei o magoando
muito.
— Enfim, a hipocrisia.
— O quê? — indagou confuso.
— No fim, você fez a mesma coisa que eu para proteger seu
sobrinho: omitiu a verdade dele. O que acabou o ferindo de tal
forma, que nem consigo imaginar se é reversível. Já olhou para ele,
Henrique? Ele não vive, e sim sobrevive. Marco é como uma brisa: a
gente sabe que existe e sente sua presença, mas não consegue o
ver e o tocar. Entende? Poucas semanas na sua presença foram
suficientes para me fazer conhecê-lo e perceber quanta dor ele
tenta esconder por baixo daquela máscara de executor feroz.
Sua cabeça se inclina com o maxilar apertado.
— Você se apegou rápido demais ao Marco. Não acha? —
Senti seu tom de acusação.
— Talvez esse seja o meu mal: confiar rápido demais e ser
sempre intensa, tanto no amor quanto no ódio. Comigo é ou não é,
Henrique. Eu cometi o desatino de te amar rapidamente, soltando
minhas mãos e confiando em você, e olhe onde vim parar com isso.
Espero não estar errada sobre o Marco também.
— O que quer dizer com isso, Giovanna? — levantou a voz,
começando a andar ansiosamente pelo quarto.
— Eu quero dizer que: ou me ame ou me deixe de uma vez.
Porque se não decidir, Henrique, eu vou escolher por você. E
garanto que não gostará disso.
— Nunca, porra! — disse incisivamente, parando para respirar
fundo, em busca de controle. — Eu vou consertar as coisas entre
nós, Giovanna, e não ouse me pedir o divórcio! Já digo, de
antemão, que não lhe darei, nem por cima do meu cadáver. — Beija
minha testa, vira-se, abre a porta do quarto e sai.
Eu ia perguntar como ele pretende fazer isso, sendo que ainda
está andando com aquela serpente do Éden a tiracolo, mas antes
que pudesse dizer qualquer palavra, ele saiu feito um raio e foi em
direção à cabine de enfermagem.
No minuto seguinte, uma enfermeira entra sorridente e me
ajuda a me vestir para que eu possa ir ver minha filha.
Olhando o papel em minha mão, leio mais uma vez as
palavras destacadas em negrito.
“Luna Cavallari, filha de Giovanna e Henrique Cavallari”.
É como tem que ser. Quero ver aquela mulher teimosa me
dizer que a menina não é minha filha agora. Isso aqui era tudo que
eu precisava para comprovar o contrário.
Sobre encontrar resistência de sua parte para me aceitar de
volta, eu a entendo e darei seu tempo para se acostumar comigo na
vida das duas daqui em diante. Talvez eu seja um cretino arrogante,
como ela me chama. Aliás, tenho certeza que, por mais que deixe
sua mágoa falar por si, sente-se insegura e com medo de ser minha
de novo. Mas eu não estou disposto a aceitar que ela me deixe e
que vá para longe de mim. Eu a amo mais do que tudo e sei que
posso reverter nossa situação.
No fim, Marco tinha razão: como eu poderia continuar a
culpando pela sua mentira, se fiz a mesma coisa? Se quero que ela
me perdoe, tenho que a perdoar também. Não me vejo com
nenhuma outra além dela. Basta eu me mostrar presente e não a
deixar mais desamparada, até porque agora não é hora de sobrepor
nada. Giovanna precisa se recuperar primeiro, por mais que meu
lado possessivo queira exigir tê-la e a ouvir dizer, com todas as
letras, que desistiu da ideia absurda de me deixar.
Foco, Henrique! Apenas lute pelo que é seu e sempre será!
Olho a pequena pelo vidro e pondero se devo ir até Giovanna
primeiro. Contudo, ao escutar Luna chorar, sem delongas me
preparo para entrar no berçário. As enfermeiras nem estranham
mais a minha entrada abrupta aqui, e eu quero ver só se tentarem
me separar dela. Eu seria capaz de colocar esta porra de hospital
abaixo. Eles nem são loucos de caçar briga comigo, ou um por um
iria sentir o peso do meu lado mais cruel que existe. Eu faria
questão de, pessoalmente, cuidar para que cada um nunca mais
exercesse suas profissões em canto nenhum, por ter me desafiado.
Observando a enfermeira que paguei para cuidar
exclusivamente da bebê, suspirar me olhando, peço-lhe o relatório
sobre Luna. Quero saber tudo que aconteceu em minha ausência.
Abro a camisa, como me orientaram, e seguro meu pequeno
anjo sobre o peito.
— Nós vamos ficar todos juntos, princepessa. — sussurrei
carinhosamente, deixando um beijo sobre sua cabecinha. — Sua
mamãe só está chateada, mas vai aceitar o papai de volta. Eu
prometo. — Essa é toda verdade que pude proferir.
Eu lutarei por elas e as deixarei saber que compraria uma
briga com qualquer um antes de ser afastado delas. Errei uma vez e
reconheço meu erro, porém viver sem elas está fora de cogitação.
Prefiro morrer do que me permitir experimentar aquela tortura de
meses mais uma vez.
Faz quinze dias que ganhei alta do hospital, mas se pensaram
que saí de lá assim que fui liberada, enganaram-se. Eu só irei
embora quando puder levar minha princesinha comigo. Tenho fé que
isso acontecerá em breve, pois sua recuperação está sendo
maravilhosa e os médicos só têm elogios para a minha pequena
guerreira.
Desde aquela conversa no quarto, Henrique não tocou mais no
nome da vagabunda comigo, e eu estou o evitando para não ouvir
que ele ainda está se encontrando com ela. Não preciso ter que o
deixar ver como me quebrou depois de ter me consertado. Sou
forte. Eu tive que me tornar forte ao decorrer da minha vida inteira e
não será a porra de um coração partido que me fará cair de novo.
Não mais. Não com Luna aqui, precisando de sua mãe inteira. Não
posso mais me dar esse “luxo”.
Marco é outro que se mantém observador e fiel ao meu lado,
feito um cão de guarda. É adorável o quanto esse homem é leal aos
seus. Essa é uma qualidade admirável que ele também puxou do
tio.
Eu me dei um tempo para amadurecer minha vingança, e a
cada dia que passava, mais certeza tive de que era isso que eu
queria. Depois que conversei com Maria e soube detalhadamente o
que Giulia nos fez, passei a me sentir pronta para fazer o que havia
dito que faria, e não pensei em recuar em momento algum. O que
me assustou de início, agora parece que está entranhado e mim e
se rastejando em minha pele.
Termino de amamentar minha pequena, deixo-a sob cuidados
de profissionais e saio em busca de Henrique para que ele me leve
até onde mantém aquela víbora peçonhenta presa.
— Giovanna! — Ouvi a voz de Vincent me chamar. — Preciso
falar com você.
— Já está falando. — respondi ácida.
Suas palavras ainda queimam em minha mente e eu sou
rancorosa mesmo. Se ele não fez questão de poupar grosserias em
minha direção, não tem motivos para eu lhe tratar com simpatia.
— Creio que está indo para o galpão. Certo? — Aproxima-se.
— Não me diga que veio pessoalmente me buscar para ter
certeza de que não irei amarelar e fugir! — fui direto ao ponto.
— Devo admitir que duvido que vá conseguir seguir adiante
com isso, mas não foi por essa razão que vim. Quero conversar com
você sem aqueles dois por perto. Vamos até a cafeteiria do outro
lado?
Mais uma vez, olho Luna dormindo dentro do berçário,
despeço-me dos soldados que a guardam no corredor e o
acompanho.
Nós nos sentamos na mesa mais reservada que tem e ele me
analisa por um tempo. Enquanto isso, eu bebo o suco que pedi e o
deixo iniciar a conversa em seu tempo. Ao mesmo instante,
mantenho-me curiosa com o assunto.
— Você está diferente. — apontou.
É claro que estou. Os últimos meses não foram fáceis. Eu
perdi o Henrique, tornei-me mãe e, para fechar com chave de ouro,
quase fui morta. Isso muda você de alguma forma.
— Era isso que queria me dizer? — cortei sua asneira, sem
paciência.
— Você o ama? — perguntou de uma vez, indo logo ao
assunto. — Falo do Marco.
Mas, o que é isso?
— De onde você tirou isso? — indaguei espantada.
— Eu preciso saber, Giovanna. Aquele beijo significou muito
para o Marco, e se não tem nenhuma possibilidade de ele a ter, é
melhor ser clara com ele e terminar toda a palhaçada com o
Henrique.
Aaaah! Era só essa que me faltava.
— Escute aqui, playboyzinho de meia tigela! — vociferei,
fazendo-o levantar as pestanas. — Primeiro: não devo satisfação da
minha vida a você; e, segundo: nunca enganei ninguém aqui. Muito
pelo contrário. Quem anda com um enorme enfeite na cabeça, sou
eu, a pessoa por quem você deveria se compadecer em vez de
culpar pelos erros de dois homens adultos e bem criados. — falei
sem fazer pausa para tomar fôlego. Tenho esse defeito de não parar
de falar quando fico muito nervosa.
— Uau! Isso foi surpreendente. — Ri de maneira provocadora.
— Eu não estou te acusando, mulher, e sim perguntando sobre o
que você sente em relação aos dois. O Henrique terá que se mudar
para Los Angeles em breve e eu não quero nenhum mal-entendido
entre ele e Marco.
Espera! O quê?
— Ele está indo de vez para lá? — Estou chocada por ele não
ter me falado nada.
Também, pudera! Foi o próprio quem cortou todos os laços
comigo. Por que teria a decência de me informar sobre isso?
É porquê ele levará a outra. — minha mente zombou de mim.
Engulo um choro de ressentimento.
— Acho que já tenho minha resposta. — falou baixo.
— Está enganado se acha que Henrique se preocupa comigo.
Ficou três meses longe e, em nenhuma vez sequer, ligou para mim
ou atendeu minhas ligações. Eu não tive nada vindo dele. Imagine
como me senti quando li sobre seu romance com aquele protótipo
de Barbie Yakuza! — Vincent junta os lábios, apertando-os, e eu
continuo. — Não viu o que aconteceu no restaurante? Ele estava
com ela enquanto havia me deixado em casa, grávida. — enfatizei
para que ele entendesse meu ponto.
— Puta que pariu! Ser cupido não faz parte do meu cargo,
porra! — grunhiu irritado. — Ele não está com a Emma e nunca
esteve, Giovanna. O cara morou em um dos meus apartamentos o
tempo todo, cercado de prostitutas que teriam cortado qualquer
parte do corpo delas para ter uma chance com ele, mas nenhuma
conseguiu levá-lo para a cama.
Meu coração acelera e bate tão forte após eu ouvir isso, que
tenho certeza que Vincent consegue escutá-lo também. Só pode
estar inventando essa história para puxar o saco do Henrique.
— Eu duvido que, ao menos com Emma, ele não tenha tido
nada. Ela é tudo que eu não sou. — Ainda estou sentida.
— Mas não é você. Acredite em mim quando digo que aquele
homem estúpido te ama ao ponto de abdicar de si mesmo para te
ver feliz!
— Jeito estranho de provar isso. — continuei meu dilema.
— Olhe! O Marco estava disposto a morrer pelas mãos do
Henrique para te defender. Ele e o tio têm muito em comum. Só te
peço para que seja sincera com meu amigo, que já perdeu muito e
não merece ser a segunda opção na vida de ninguém. Estou até
disposto a reconsiderar trocar o cargo dele o mudar para cá se isso
significar que você lhe dará uma chance.
— Vincent, eu adoro o Marco, e acho que ele é um homem
maravilhoso que merece alguém que o ame por completo. Mas essa
mulher não sou eu. Torço para que ele a encontre um dia e que ela
o valorize como deve.
— Era isso que eu temia. — disse pensativo.
— O quê? — questionei confusa.
— Você não faz ideia do quanto o Marco é fechado. Se você
acha tudo isso sobre o cara, é porque ele baixou a guarda em sua
presença e quis que você visse um lado dele que somente eu
conhecia.
Abro a boca várias vezes para falar e nada sai dela para eu
rebater.
— Então, eu fui uma sortuda por conhecê-lo bem.
— Foi sim. — concordou.
— Volto a afirmar que ele merece alguém que o ame, que o
coloque em primeiro lugar e que lute por ele.
— E sobre você querer matar a Giulia, não precisa fazer isso
se for pelo que eu te disse. — lançou-me sua prepotência, achando
que me atingiria com tais alegações.
— Você tem o ego muito grande, boss. Acha mesmo que eu
iria me submeter a isso porque você deu uns gritinhos histéricos
para cima de mim? — Ele semicerra os olhos. — Eu quero fazer
isso por mim, para matar a antiga Giovanna. Além de poder
entender porque vocês escolheram ser mafiosos, provarei para mim
mesma que posso ser forte e me defender.
— Não é tão fácil quanto parece. Todas as pessoas das quais
você tira a vida, deixam uma parte delas presas em você. É como
uma marca invisível, porém permanente. Elas nunca vão embora
totalmente. Conseguirá lidar com isso?
— Eu vou superar. Giulia é minha e ninguém toca nela.
— Tudo bem. Já que estamos entendidos, vamos embora! Eu
preciso voltar para Los Angeles, mas antes quero assistir à sua
entrada triunfal no mundo dark.
Balanço a cabeça positivamente, rindo. Esse imbecil quer me
ver fracassar, mas vai quebrar a cara. Todos eles irão.
(...)
O galpão aparece em minha visão e eu respiro fundo, sabendo
que chegou a hora de cortar de vez a antiga Giovanna. Desço do
carro e caminho até a porta cercada por soldados, estranhando a
quantidade de homens presentes. Até parece que uma guerra está
a caminho.
Mesmo sem ter sido informada de nada, adentro o local para
fazer o que me propus. Logo de cara sou recebida por gritos
desesperados. E, por que não dizer berros agonizantes de quem
está sentido uma imensa dor? Eles me fazem parar por alguns
segundos e eu aproveito para me recompor do susto. Inspiro
algumas vezes e sigo adiante.
No meio do pavilhão, vejo Ramón pendurado de cabeça para
baixo, sangrando muito, e na sua frente está Henrique, segurando
seu punhal banhado de vermelho. Engulo em seco. A primeira coisa
que sinto é a necessidade de me virar e sair correndo, entretanto
essa seria a atitude da antiga Giovanna, a medrosa e que todos
acusaram de ser fraca. A nova vai encarar tudo e aceitar que, no
meio da escuridão em que vive, não existe a possibilidade de sair
ilesa.
Henrique vira a cabeça quando nota que seus homens me
encaram. Seus olhos se trancam aos meus, e como se fosse para
me testar, ele caminha em minha direção, sujo do sangue de
Ramón, que está espalhado por todos os lados, até parar em minha
frente com um olhar bastante intenso e sombrio. Com isso, meu
desejo é lhe puxar para mim e o beijar para aplacar toda a saudade
que ele me deixou por ter ficado tanto tempo longe.
Creio que ele vê estampado em minha cara exatamente o que
estou pensando, porque seus lábios se retorcem de lado, dando
vazão a um sorriso predador que eu já havia visto muitas vezes e
que senti muita falta de vê-lo.
— Ainda dá tempo de voltar atrás, boneca. — sussurrou de um
jeito demoníaco.
Ele não quer, de fato, que eu desista, contudo está me dando a
chance de escolher.
— Onde ela está? — foi o que consegui pôr para fora dos
meus lábios.
Ele sinaliza para um dos homens. O qual sai do local e volta
logo em seguida com uma Giulia sapateando e gritando ofensas a
quem quiser escutar. No momento que me vê, ela se apruma e abre
um sorriso cínico para mim.
— Ora, ora! Pelo jeito, as doses que te dei, não foram
suficientes para matar você e aquela monstrinha que carregava.
Avanço para cima dela e a calo com um tapa na cara. Falar de
mim, tudo bem, mas da minha bebê é outra história.
— Se abrir essa sua boca imunda para citar minha filha de
novo, arrancarei um por um dos seus dentes. — ameacei.
Ela ri, achando que blefei, e para provar o quanto falei sério,
tomo a adaga das mãos de Henrique sem aviso e a enfio nas
entranhas dela, torcendo-a. Fico em contato visual com ela, sem
desviar a atenção dos seus olhos. Seu grito é tão prazeroso, que eu
não resisto e devolvo sua provocação.
— Não parece corajosa agora, né? — Vejo-a cair no chão,
segurando o ferimento e chorando de dor. A arma está enfiada até o
punho.
— Ajudem-me! — Olha para os homens ao seu redor, como se
alguém aqui fosse idiota de lhe estender a mão.
Ando até onde ela está e piso no cabo da faca, empurrando-a
ainda mais para dentro da ferida.
— Eu te dei muitas chances, Giulia. E reconheço esse meu
erro, porque deveria ter lhe dado um fim desde o início. — Rio sem
vontade. — Mas fui burra de achar que você poderia mudar.
— Henrique! — Estende uma mão para ele, implorando pela
sua ajuda. — Eu sou sua irmã. A vovó me contou naquele dia. Por
favor, não deixe ela me matar! Sou seu sangue.
Que porra é essa agora?!
Encaro Henrique, que se mantém sério e não demonstra nada
com a confissão dela. O que me leva a crer que ele já sabia de tal
informação ou não acredita nela.
— Vai salvá-la? — questionei-o, querendo ouvir sua opinião.
— Não. — foi sua única resposta.
— Isso é verdade? — inquiri.
— Ao que parece, sim. — Ele inclina a cabeça e a olha com
raiva. — Mais um motivo para ela morrer. Se mesmo sabendo disso,
continuou seu plano sádico e tentou me ferir, tirando você de mim, é
porque não tem conserto. — Traz seu rosto rígido de volta ao meu.
— Continue! Eu não me importo com ela. — Essa é a confirmação
que eu precisava.
Peço para que busquem gasolina, e quando me entregam o
litro, eu viro todo o conteúdo em cima dela, encharcando-a. Depois
me afasto, fazendo um caminho com o líquido, fico em uma
distância suficientemente segura para não me machucar e solto a
garrafa vazia.
— Não! Henrique, eu prometo mudar! Por favor! Eu prometo!
— gritou, tentando alcançá-lo com uma mão.
Ele se afasta dela e me fita com um brilho nos olhos que eu
não via há muito tempo.
— É assim que será seu fim, Giulia. Obrigada por ter me
mostrado que não devo colocar muita fé nas pessoas! Você me
ensinou que devo ser forte e me defender à altura.
Ela chora desesperadamente e se arrasta pelo chão, tentando
sair do molhado. O que é em vão, já que seus movimentos fazem a
gasolina se espalhar ainda mais.
Marco aparece ao meu lado e me entrega seu Zippo.
— Se quiser, posso terminar. — ofereceu-se.
— Agradeço a oferta, mas, no momento, passo. — Aceito seu
isqueiro e acendo a chama.
Olho por olho, dente por dente. Eu o jogo aceso sobre a linha
de gasolina e acompanho o fogo fazer seu caminho até ela.
— Vá para o inferno, Giulia! — sussurrei, ouvindo seus gritos
de dor.
Depois de uns instantes, não ouvimos absolutamente mais
nada. Saio do galpão somente quando seu corpo está todo
carbonizado.
Procuro por uma fagulha de arrependimento dentro de mim, só
que não encontro nada. Acho que é assim que se assina seu
contrato com o diabo: você perde sua alma e, em troca, ele toma
sua humanidade.
Admirado com sua mudança, vejo-a sair. Jamais imaginei vê-la
fazendo tudo que fez hoje e me encho de orgulho por ter sido
privilegiado de poder assistir, em primeira mão, ao seu crescimento.
Perfeita, porra! Perfeita para caralho! E o mais importante de tudo:
ela é inteiramente minha. E isso é definitivo.
Olho o corpo de Giulia ainda queimando e sigo adiante no que
estava indo fazer. A garota escolheu seu caminho e eu não seria
sua táboa de salvação. Não depois de tudo que ela fez. Quando
Maria me chamou hoje de manhã e me contou a história, eu, de
início, tive raiva dela por ter me escondido tal fato, mas depois
entendi sua conduta. Meu pai teria a matado se soubesse da
menina e ela fez o que qualquer mulher com instinto materno faria:
protegeu sua cria, mesmo que Giulia não fosse sua
responsabilidade realmente. E, olhando seu lado, quem sou eu para
a jugar. Não estou fazendo exatamente o que ela fez, ao proteger
Luna de tudo e de todos?
Talvez, se eu e a garota tivéssemos crescido juntos, as coisas
teriam sido diferentes. Entretanto, esse não foi o caso, e já é tarde
demais para lhe salvar. Isso é indiscutível.
Estou surpreso com a coragem dela. — Vincent, que se
manteve o tempo todo calado, aproxima-se.
— Eu sempre acreditei que ela evoluiria. — Foi assim com ele
e Marco.
— Vai tomar essa decisão mesmo? — sondou-me curioso.
— Não há outra opção.
Eu me certifiquei de tirar todas as dúvidas que poderiam me
impedir de aceitar.
— Tudo bem. Já tomei todas as providencias cabíveis.
Balanço a cabeça, concordando. É hora de deixar tudo para
trás e mudar de ares. Ele irá precisar de mim como seu conselheiro,
e, para isso, eu terei que estar ao seu lado em Los Angeles.
— Ela acha que você não irá levá-la. — Observa-me. — E
acredita em um caso seu com a Emma.
Quem poderia culpá-la? Eu a fiz acreditar nisso.
Entretanto, não toquei em mulher alguma. Quando falei que,
depois dela, não seria capaz de encostar meu dedo em qualquer
outra, não menti. No entanto, ela não precisava saber disso na
época.
Eu saí com a Emma algumas vezes sim, mas somente para
não ir sozinho aos eventos. É claro que a mulher tentou entrar nas
minhas calças em cada oportunidade que teve, além de inventar um
relacionamento fictício entre nós dois, com o intuito de me fazer
mudar de ideia em relação ao que tínhamos antes de eu conhecer
Giovanna. Não vou mentir que até pensei em deixar que
acontecesse algo, porém, cada vez que vinha em minha mente essa
possibilidade, eu me recriminava, pegava-me pensando na minha
esposa e não prosseguia adiante. Sou dela, e esse fato não mudará
nem se eu quiser.
— Eu irei conversar com ela quando sairmos daqui. — falei por
fim, querendo encerrar o assunto.
— Eu a perguntei sobre o que ela sentia por ele.
Cara! O Vincent não sabe a hora de calar a maldita boca.
— E...? — Trinco os dentes.
Se ele falar que ela tem sentimentos pelo Marco, não prometo
deixar isso para lá e não o acrescentar à pilha de corpos que irei
fazer. Porra!
— Ela o admira, mas não o ama. Fique tranquilo!
— Não é a Giovanna que me preocupa, e você sabe disso. —
revidei. — O Marco a beijou, caralho! E eu o pego direto com aquele
olhar estranho para cima dela.
Vincent franze a testa.
— E qual olhar seria esse? — perguntou confuso.
— É como se ela tivesse se tornado o centro do seu universo.
— Seguro a raiva e o ciúme que sinto ao perceber isso.
— Você está enganado. — tentou defendê-lo. — Ele só está
impressionado com o fato da história de vida dela ser igual a da mãe
dele.
Ou ele é cego ou está fingindo ser um. Eu não duvido que
essa tenha sido a desculpa que Marco usou para se aproximar de
Giovanna, no entanto algo mudou nele ao ponto de ter me
provocado de propósito no restaurante.
— Eu sei do que estou falando, porra! Porque vejo o mesmo
olhar todos os dias quando me olho no espelho. — afirmei com um
nó seco na garganta. Isso dói em mim.
Eu daria e faria qualquer coisa ao meu sobrinho. Qualquer
coisa mesmo. Entretanto, eu não sou bom, nem nunca fui, e só
abriria mão da minha mulher se ele me matasse.
— Ele vai superar. — finalizou, olhando para a porta por onde
Marco e Giovanna saíram enquanto conversávamos.
— Ele tem que superar.
Ou eu não responderei por mim. — completei na minha mente.
Todos os meus homens que estavam de guarda na mansão,
na noite em que Giulia a invadiu com Ramón e quase matou
Giovanna, entram. Então, peço que eles aguardem Rocco e
Ramires chegarem para começarmos uma “reunião”.
Assim que os dois passam pela porta, são fuzilados sem
misericórdia. Elliot arrasta Rocco até perto do corpo do irmão,
também sem vida, e Camillo joga Ramires ao lado dos outros
soldados.
Rocco ainda respira quando chego por cima dele e chuto sua
cara.
— Pensou que eu não iria descobrir sua traição? — indaguei
furioso. — Desconfiei disso desde o dia que Demeron foi morto e
você abriu a boca para falar da reunião que somente Camillo
deveria saber. O que comprovou que, para estar a par da situação,
alguém da reunião lhe deu informações. Só que até aí, eu ainda
tinha minhas dúvidas. A certeza veio em Nova York, quando Luigi
mandou policiais atrás de mim. Você jogou nos dois lados, junto
com seu irmão. O bom é que vou mandar os dois de uma só vez
para os braços do diabo. — Explodo suas cabeças com tiros.
Viro-me de frente aos homens em fila, que mantêm os olhos
arregalados.
— Eu estarei me mudando para Los Angeles, como sabem, e
não irei permitir traidores ou incompetentes lá. Isso, para mim, é
imperdoável. Eu quero que vocês subam até a sala onde fica meu
arsenal e peguem as caixas que separei para levar na viagem.
Um por um, de cabeça baixa, sobe. Enquanto isso, pelo
aplicativo em meu celular, aciono o código para os trancar assim
que o último entra no local.
— Vai matá-los? — Elliot perguntou surpreso.
— O que acha?
Todos eles estavam de guarda naquela noite e, mesmo assim,
minha mulher quase morreu pelas mãos daquela lunática. Eu não
confio em nenhum deles perto da minha família.
— Não foi o Ramón que ajudou a garota a entrar? Na minha
opinião, somente ele deveria pagar pelo erro. — argumentou em
frente ao futuro capo.
— Você acha que dez homens com capacidade de treinamento
para impedir um ataque, não têm culpa da minha mulher quase ter
morrido, sendo que todos eles estavam dentro da mansão, bebendo
e jogando em vez de fazerem seus serviços?
Eu vi tudo pelas câmeras quando estava buscando uma
explicação plausível para o que tinha acontecido.
Esperando sua resposta, levanto uma sobrancelha.
— Responda! Eu estou curioso para saber o que pensa. —
Vincent comentou debochado.
— Só achei exagerado. — respondeu sem jeito.
— Bom! Respeito sua opinião, Elliot. Tudo bem discordar de
mim, porque você também não irá comigo. — Atiro nele, fazendo-o
cair aos pés de Camillo.
— Merda! — Camillo reclamou, limpando o sangue que
espirrou em sua cara. — Você precisa foder a sua mulher
urgentemente, ou vai acabar com metade da organização.
— Você também não concorda?
Ele ri.
— Foda-se o que penso! Concordando ou não, sou bem pago
para limpar sua bunda. — Rio junto com o Vincent da sua revolta. —
No entanto, Elliot estava errado. Se Ramón errou, foi porque todos
eles deixaram de fazer seus serviços. Caso contrário, teriam visto a
cadela entrar.
Esse é o motivo pelo qual o tenho constantemente por perto.
Concordando ou não comigo, está sempre presente para me apoiar,
como aconteceu em Nova York, e nunca colocaria a minha vida ou a
de quem amo em risco, por ter um pensamento diferente do meu.
Camillo se tornou para mim o que Marco é para Vincent, e pessoas
assim, você mantém ao redor.
— Pode explodir tudo. — Passo por ele, indo atrás de
Giovanna.
Eu quero me desculpar decentemente com ela. Depois do
hospital, dei seu tempo, mas agora é hora de eu pegar de volta o
que me pertence. Sem mais desculpas, sem mais segredos.
Marco olha para o nada, pensativo e mais calado do que de
costume. E isso faz meu coração doer por ele. Eu queria poder
amá-lo como o Vincent julgou, entretanto isso é impossível, porque
já sou de outro. Mas desejo que ele ache seu caminho para o amor
também.
— Marco? — chamei sua atenção para mim.
— Eu sei o que vai falar. — cortou-me calmamente.
— Você está chateado por isso?
Estou realmente triste por ele. Não queria machucá-lo.
— Você o ama? — perguntou, já sabendo que sim.
— Com tudo de mim. — fui sincera.
— Então, é isso que me importa. Se ele for te fazer feliz,
estarei bem com isso.
— Eu queria ser o que você procura, Marco. Sério mesmo. —
Deixo minhas lágrimas escorrerem pelo rosto. — Mas acontece
que... seu tio conquistou cada espaço que existe em mim. Além do
mais, eu não seria capaz de te amar como você merece.
Ele me puxa para seus braços e me abraça fortemente.
Oh, Deus! Achei que seria mais fácil.
— Tudo bem, menina bonita. Eu entendo. Entrei nesse jogo
sabendo que não teria chance. Estou muito orgulhoso de você e
estarei há uma ligação de distância caso precise de mim.
Eu choro por esse homem, por ele ser tão sofrido, tão
rejeitado, e, mesmo assim, abrir mão de tudo pelos outros,
contentando-se com quase nada que a vida lhe oferece. Na maioria
das vezes, cheguei a pensar que ele, de alguma forma, achava que
não merecia mais do que lhe era jogado. Marco merece o mundo, e
eu tenho minhas dúvidas de que saiba disso.
— Promete para mim que quando encontrá-la, não a deixará
escapar, por não se achar merecedor? — Permaneço o abraçando.
— Eu não estou à procura de ninguém, Giovanna.
Está sim! — quis dizer.
— Prometa, Marco!
— Okay. Prometo. — Revira os olhos e me afasta dele. — Seu
homem está vindo em nossa direção. É melhor se afastar.
Nem morta deixaria ele ser machucado de novo!
Viro-me para encarar Henrique, que não parece feliz com o
que vê. Então, abro um sorriso no rosto que o faz ficar aturdido e me
olhar confuso. Eu me mantive distante dele até agora, trabalhando
meus sentimentos sem toda a bagunça de hormônios que haviam
me deixado insana.
— Vá, Marco! Seja feliz! — sussurrei, olhando-o por cima dos
ombros e o incentivando a ir.
Sei que ele está pronto para outra briga, mas não quero isso.
Então, olha-me incerto, balança a cabeça, aceitando meu pedido, e
sai.
Com um vinco na testa, Henrique o observa ir embora,
estranhando sua rendição.
— O que foi isso? — Não está entendendo nada.
— Isso foi eu dando um fim na rixa descabida entre vocês dois.
— Aproximo-me dele.
Ele meneia a cabeça, compreendendo, e fixa seus olhos nos
meus.
— Eu pensei que... — Olha por onde Marco já sumiu.
— Seu homem tolo! — resmunguei, cruzando os braços.
— Nem sei por onde começar. — Ele parece sem jeito e eu
apenas o espero iniciar em seu tempo. — Achei que estava fazendo
a coisa certa, mas acabei errando mesmo assim. Não quero que
fiquemos mais separados, porque isso não faz sentido, sendo que
tudo que mais desejo, é você ao meu lado. Venha comigo para Los
Angeles, amor! Se não quiser ir, irei me abdicar do meu cargo e
aceitar outra posição para poder ficar aqui ou onde quiser morar. —
Abro minha boca, em choque. — Eu te amo, Giovanna! Não é
possível viver sem você.
Esse patife sabe usar as palavras.
Minhas pernas tremem e eu me apoio sobre o outro pé,
buscando equilíbrio. Apenas uma frase e ele já me tem
completamente seduzida por ele.
— Eu sei, Henrique. O pior de tudo, é que eu sei, porque sinto
o mesmo quando penso sobre nós dois.
Ofego quando ele se aproxima rápido.
— E isso significa o quê?
Ele sabe. O filho da puta arrogante só quer ouvir da minha
boca.
— Significa que estou tomando o que é meu, e se ousar se
afastar de novo para tocar em um fio sequer de cabelo daquela
cadela siliconada ou de qualquer outra, irei fazer parecer brincadeira
de criança o que fiz com a Giulia, perto do que farei com você e ela.
Está ouv...? — Cala-me com um beijo cheio de saudade. Um que
faz me perder a noção de tudo, inclusive de onde estamos.
— Não precisa me ameaçar, boneca. Eu não tive nada com
ela. Como poderia, depois de ter provado você? — Encosta sua
testa na minha e me segura com tanto desespero, que chego a
pensar que irá me quebrar ao meio.
— Vai me dizer que não deixou ela sequer lhe dar uma
chupadinha? — Analiso-o, em busca de alguma hesitação.
Se ele tiver deixado outra tocá-lo vou surtar, mas também irei
colocar para fora do meu sistema a raiva e o ciúme dela, porque, de
certa forma, deixei que Marco me tocasse também.
— Nada. Absolutamente nada. — Prende suas írises em mim,
deixando-me ver toda a verdade refletida nelas.
Eu já sabia dessa pequena informação, porque Vincent me
contou, mas ouvir dele é melhor ainda.
Eu avanço para cima dele, a fim de retomar o beijo, e ele me
para.
— Estou muito sujo e fedendo a sangue. — Aponta para a
camisa que uma vez foi azul.
— E eu fedendo a gasolina. — Sorrio, achando engraçado o
seu jeito protetor. — Você me corrompeu, marido. Agora, aguente as
consequências!
— Estou orgulhoso de você e irei te treinar quando puder voltar
à ativa.
Toco em sua barba, fazendo um carinho nela.
— A Giulia estava errada. — comentei, lembrando do que
Maria me disse a respeito da cadela psicótica.
— Sobre o quê? — indagou curioso, segurando meu rosto
entre suas mãos.
— Ela disse à Maria que vocês seriam um casal perfeito como
Bonnie e Clyde. No entanto, esse posto já pertence a nós dois.
Ele gargalha e beija a ponta do meu nariz.
— Eu te amo tanto, angelo mio! Vai me perdoar por tudo? —
Mordisca meus lábios.
— Eu te perdoei no instante que encontrei você no berçário
com minha filha nos braços. — confidenciei meu pequeno delito.
Eu ficava escondida, vendo a interação dele com Luna, e pedia
para que as enfermeiras me avisassem da sua chegada todas as
vezes em que, sorrateiramente, ia visitá-la.
— Nossa! — enfatizou. — Nossa filha! E, falando nela, a
pediatra ligou, dizendo que acabou de lhe dar alta.
Acho que meu coração vai explodir de alegria. Eu pulo em
seus braços, abraçando-o, e me afasto dele quando me dou conta
de um pequeno detalhe.
— Espera! Por que a médica ligou para você, e não para mim?
— inquiri enciumada.
— Porque eu pedi, boneca. Vamos buscar nossa menina! Ela
já está sozinha há muito tempo. — É verdade, pois desde que
nasceu, sempre tem um de nós com ela.
Ele caminha comigo até o carro e me puxa para seu colo. O
que faz Vincent e Camillo provocarem nós dois, dizendo que já era
sem tempo.
Assim que estamos longe, o galpão explode em pedaços. Olho
as chamas altas consumirem o lugar e só posso pensar que, a partir
daqui, tudo zerou. Eu me transformei em outra pessoa: uma mais
forte e capaz de tudo pela minha família.
Quando você nasce na máfia, não há certo ou errado; não se
fica imune, nem intocável. Ou você mata ou você morre. Tudo é
questão de escolha. E as consequências são apenas obstáculos a
serem ultrapassados. Eu demorei a entender isso, mas depois que
passei a ver as coisas como eles, renasci. Não tenho mais medo da
escuridão que cerca Henrique, porque os mesmos demônios que
existem nele, agora habitam em mim em também.
Ando sem direção o dia todo, até que paro na floresta onde eu
e Vincent vínhamos treinar quando éramos mais jovens. Eu sei que
não deveria me sentir afadigado, porque sempre soube que ela não
seria minha. No entanto, isso não me impediu de me apegar. Por
anos, achei que tivesse um coração de ferro que não bateria mais
por ninguém. Eu me fechei quando perdi minha mãe, e a cada ano
que passava lutando contra os monstros em minha cabeça, mas frio
ficava.
Porra! Isso dói.
Passo uma mão em meu peito numa tentativa de aplacar a dor
que sinto. Ela está feliz. É isso que me importa. Sua filha irá ser
amada por Henrique, e tudo que eles passaram, será esquecido.
Meu trabalho está feito, então me resta somente partir na direção de
uma nova aventura.
Sento-me na garupa, assistindo ao pôr do sol, e minha mão
comicha para pegar um cigarro. Não me fazendo de rogado, acendo
um. Eu evitava fumar perto dela para não prejudicar sua gravidez,
só que agora não há mais motivos para eu me segurar. Giovanna é
uma menina sofrida e, talvez, esse meu apego seja por causa da
sua história ter me lembrado o que minha mãe passou. Na época,
eu era só uma criança e não pude fazer nada, mas por ela, eu tinha
como mudar algo.
As lembranças da última vez que vi mamãe, mesclam-se com
o rosto dela, fazendo-me cambalear.
Vamos lá, Marco! Você consegue, cara! Não se deixe cair no
fundo do poço! Vire homem, porra! — tentei me convencer da minha
força.
O sentimento de rejeição me faz querer usar as porcarias das
drogas em que não encosto o dedo há tantos anos.
Seguro a minha cabeça com as duas mãos e tremo, sufocando
a tristeza que mantinha guardada há muito tempo. Eu sinto falta da
minha mãe. Enquanto ela era viva, eu sabia que me amava e lutava
por mim.
Fazer-me de forte o tempo inteiro, nunca me tornou imune a
sentir emoções, apenas me sufocou.
Meu celular toca distante e eu não faço questão de me
levantar para o pegar. Se estou certo, é Vincent tentando saber
onde estou. Não quero que ele me veja frágil assim. Tenho inveja
dele por sempre ser forte e destemido apesar de tudo que passou.
O toque insistente logo se faz presente novamente, irritando-
me a ponto de eu pensar em tacar o aparelho morro abaixo. Apenas
abro uma garrafa de vodka e dou um longo gole nela. Uma vez na
vida, posso ser imprudente e não me preocupar com mais nada.
O clarão do sol vai dando sua vez à noite e eu continuo em
meu lugar, fumando um cigarro atrás do outro, até que a bebida me
deixa dormente e não sinto mais nada. Sou o Marco de sempre: o
bastardo frio e sem coração.
Um carro à distância vai diminuindo a velocidade até parar ao
meu lado, na estrada. Seguro minha arma em mãos para atirar no
intruso, mas minha visão está borrada, deixando-me enxergar em
dobro. Pouco a pouco, a pessoa se aproxima e se senta ao meu
lado. Rio sem vontade, constatando que nunca estarei livre da
máfia.
— Fiquei preocupado com você. — Observa-me.
Prendo meus sentimentos e o olho com firmeza.
— Eu precisava ficar sozinho para colocar minha mente no
lugar.
— E conseguiu? — Pega a garrafa da minha mão e toma um
gole dela.
— Sim. — menti, não querendo ter nenhuma conversa sobre
sentimentos com ele.
Conhecendo-me bem, vira sua face em minha direção e me
olha por um bom tempo.
— Sabe que não consegue mentir para mim, né? — Inclina a
cabeça.
— O que quer que eu diga? Que me encantei por ela e, mais
uma vez, pelo bem da organização, abri mão de algo que eu queria?
— Eu não te julgaria se, de repente, causasse um “acidente” e
tirasse o Henrique da jogada para ficar com ela. Posso ficar ao seu
lado e te ajudar nisso se quiser pegá-la para você. — Analisa-me
sério, estudando minha reação e procurando por uma rachadura
que não estou disposto a mostrar.
Suas falas foram meticulosamente escolhidas, então qualquer
idiota desesperado cairia feito um patinho nessa sua oferta se não o
conhecesse bem. Ele quer me testar, saber onde minha mente está
e se sou um provável risco para minar seus planos. Fez isso de
propósito para verificar se ainda sou leal a ele. Vincent jamais
colocaria em cheque seu cargo por mim, nem por ninguém. Ele não
é do tipo que abriria mão de ser um capo, por amor. Esse fato ficou
mais do que provado quando mandou Lorena embora.
— Eu odeio quando você faz esses testes idiotas comigo. —
Vejo-o torcer seus lábios em um sorriso irônico. — Ela não é um
brinquedo, Vincent. Tem sentimentos e um coração que bate por
ele. Você acha mesmo que se eu soubesse que teria uma chance,
iria me retirar? Ela o ama.
— Você ainda vai encontrar a sua, Marco.
— Pergunto-me se quando esse momento chegar, irei saber
valorizá-lo. Eu perdi tanto nessa vida e fiz tantos estragos, que não
sei se estou preparado para ser feliz um dia.
— Você vai. E até lá, você tem a mim.
Até quando? Aposto que logo ele irá atrás da sua mulher. E eu
não o condeno por isso. Muito pelo contrário.
— Faça um favor para mim! Nunca te pedi nada. — falei com
calma.
— O que seria?
Conto-lhe o que pretendo fazer. É um pedido inusitado que não
sei se Vincent vai aceitar, mas estou tentando puxar a carta da
lealdade que sempre tive por ele.
— Tem certeza que deseja fazer isso? — inquiriu duvidoso.
— Sim. Depois disso, voltarei a ser o que era antes. — prometi
para o dissuadir.
— Tudo bem. Considere feito! — assegurou, dando um tapinha
amistoso em meu ombro.
Respiro aliviado com sua aceitação.
Preciso fazer isso acontecer, porque será um presente meu
para ela. Depois disso, eu me afastarei de vez e seguirei meu
caminho, como sempre fiz.
Sento-me na cadeira do terraço após verificar que Luna
continua dormindo. Estamos na Sicília, pois viemos visitar o Paolo e
sua esposa. Queríamos um pouco mais de sossego, e como não
viajamos em nossa lua de mel, achei propício aproveitar esse
recomeço que estamos nos dando, para sair de cena por um tempo.
Não significa que eu ainda não queira ouvir o “sim” de sua linda
boca no altar, é claro. Entretanto, isso ainda irá demorar um pouco.
Estou muito ansioso para pôr minhas mãos no corpo delicioso
da minha esposa. O qual está muito mais apetitoso do que eu me
lembrava, com muito mais curvas e seios fartos. Será a nossa
primeira vez desde que voltamos, e isso explica minha ansiedade
por esse momento.
Olho o presente para Giovanna em cima da cama e sorrio
maliciosamente. Faz tanto tempo que não a tenha à minha mercê,
que foi difícil esperá-la pacientemente em todos os últimos dias.
Acontece que eu queria que ela estivesse segura e se recuperasse
bem antes de tentarmos algo. Também quero lhe dar uma boa lição.
Prazerosa, é claro. Nada mais do que lhe deixar submissa a mim
hoje, para o meu bel prazer.
Olho-a sobre os ombros quando ela aparece no batente da
porta. Um olhar de confusão passa pelo seu rosto quando nota a
joia com a inicial do meu nome. Sorrindo, coloca a peça no pescoço
e gargalha.
— Você levou a sério essa história de me arrumar uma coleira,
né?
— Para uma menina rebelde, sempre ofereço o melhor. —
Salto da cadeira, indo em sua direção.
Trago seu corpo para junto do meu e a beijo com ardor. Então,
ela enfia a língua em minha boca e a balança de um lado a outro,
deixando-me duro e necessitado. Enquanto isso, suas mãos afoitas
vão para a minha calça e abrem o zíper.
Por mais que meu membro falte pular para fora eu a paro.
— O que foi? Não quer que eu te chupe? — perguntou,
parecendo insegura.
— Quero, boneca. — Levo meus olhos ao seu rosto, buscando
qualquer desconforto com o apelido, mas a encontro com o
semblante pacífico. O que me encoraja a dar seguimento aos meus
planos.
— Então...? — Sua ansiedade me faz rir.
— Eu quero adorar sua boceta primeiro, amor. Faz muito
tempo. — Puxo-a pela mão e fecho as portas de vidro atrás de mim.
Seus olhos azuis me fitam com expectativa e eu tomo a
postura dominadora que tenho e sei que a deixa excitada.
— Abra as pernas para mim, Giovanna! — ordenei, não
fazendo questão de esconder a rouquidão em minha voz, que
denunciou o quanto eu estava me controlando para não pular em
cima dela e montar nela como um louco.
— Assim, marido? — Abre-as, dando um sorriso sedutor.
Seu monte tem um feixe vermelho bem amparado, não
escondendo muito suas dobras, que estão úmidas pela sua
excitação. Essa constatação me deixa à beira de gozar na roupa
sem ao menos ter lhe tocado.
São meses de desejos reprimidos e sem provar seu sabor
picante em minha língua. Giovanna é doce e gostosa em todos os
lugares, e isso inclui os lábios de sua boceta cheirosa que me deixa
sedento a cada vez que a vejo ou me imagino dentro dela.
Sem ficar esperando por um convite, levo minha boca até sua
fenda e chupo seu clitóris, recebendo seus gemidos de apreciação
como resposta. Isso me anima a continuar minha degustação e
abocanhar com vontade seus lábios encharcados pelos seus sucos
de gostos inconfundíveis.
Levo minhas mãos para baixo de sua bunda redonda e a
levanto na altura da minha boca, que saliva por mais dela. Tudo
nessa mulher me deixa possessivo, e o menor pensamento de que
outro possa ter a visto nua assim, entregue e gemendo de prazer,
deixa-me insano. O bastardo filho da puta que matei, pode ter a tido
antes de mim, mas nenhum outro a tocará depois de eu ter a
tocado.
Com o desejo pulsando em cada terminação nervosa e com o
coração acelerado de emoção por ter minha mulher de volta, enfio
dois dedos em seu canal, querendo que ela me marque com seus
fluidos. Desejo Giovanna entranhada em cada extensão do meu
corpo, para nunca se esquecer que tem para quem voltar no final de
um dia árduo.
Quando enfio meus dedos e os movimento para frente e para
trás em sua fenda escorregadia, seu corpo vibra e suas paredes me
apertam, sugando eles desesperadamente e me deixando saber
que ela está prestes a alcançar o êxtase. Em seguida, levo minha
língua ao seu clitóris, chupando-o ferozmente. Com isso, suas mãos
vêm para meus cabelos e os puxa com um pouco mais de força do
que deveria.
Com meus olhos em seu rosto, encontro os seus revirados,
além do seu corpo se contorcendo. Seus dentes castigam seu lábio
inferior para abafar seus gritos que tanto amo ouvir. Sem demora,
arrasto-me para cima do seu corpo e paro por um instante em cima
da cicatriz da cirurgia, que ainda está avermelhada, mostrando o
quanto ela é forte e lutadora. Beijo o local com carinho e percebo
gratidão em seu rosto. Então, ela se ergue e me puxa para cima
dela, beijando-me com volúpia.
Por fim, acaricio minha extensão dolorosa e a miro em sua
entrada molhadinha. É quando sinto que ela retesa seu corpo. Isso
me faz parar para verificar o que lhe incomoda.
— Está com medo? — Junto nossas mãos em cima de sua
cabeça.
— Um pouco. É que faz muito tempo.
— Se quiser parar, eu paro. Podemos tentar outro dia.
Estou necessitado pela minha mulher, mas não ao ponto de
machucá-la para buscar meu prazer. Eu quero que seja bom para
ela também.
— Eu confio em você. — Desce sua mão e enfia a cabeça do
meu pau dentro dela.
Meto vagarosamente todo o meu comprimento no interior do
seu corpo, fazendo-a ofegar e sibilar por causa do aperto.
— Porra, boneca! Que boceta apertada do caralho! — grunhi,
começando a me mexer e a foder com desespero.
— Sim! Mais, por favor!
Suas paredes sufocam meu eixo e eu silvo de tesão.
— Desse jeito, não vou durar muito. — Arrasto o meu pau
completamente para fora e o enfio nela de novo.
— Sim, Henrique! Bem aí! — Balança a bunda, vindo ao
encontro das minhas estocadas.
— Não faça isso, Giovanna! — Vejo suas pupilas dilatarem
com minha ordem.
Minha mulher gosta de sexo sujo e depravado, porém morrerei
antes de admitir isso para mim mesmo. Ela gosta de pensar que, ao
menos aqui, controla-me. E na maioria dos nossos embates, ganha
de mim. Foda-se! Esse é o jogo mais gostoso que temos e fico feliz
por ceder algumas vezes.
— Não fazer o quê? Isso? — Aperta-se em volta do meu pau,
levando-me a reter minhas estocadas para não gozar rápido. — Ou
isso? — Começa a se mexer embaixo de mim, espremendo-me ao
ponto de me causar dor.
— Caralhooo! — gemi quando a safada não parou e me fez
chegar a um orgasmo forte e rápido.
Encosto minha testa na sua, buscando fôlego. Assim que me
recupero, saio de dentro dela e a viro de barriga para baixo para me
enfiar novamente em seu canal. Agora, vou por trás. Ao mesmo
tempo, estimulo seu clitóris latejante até ter certeza que ela está
pronta para permitir que seu orgasmo se esvaia e me retiro no
último segundo.
— Henrique! — reclamou ofegante. — Eu estava perto.
Seguro meu membro e o massageio de cima a baixo enquanto
lhe dou um sorriso presunçoso por ter devolvido seu atrevimento.
— Dois podem jogar o mesmo jogo, Giovanna. — Pisco. —
Venha aqui! Venha! Quero sua boca gostosa em mim.
— Isso não é justo. Eu te deixei gozar, mas você me privou da
minha vez. — choramingou, levantando-se da cama.
— Venha buscar por sua libertação, querida! Sou todo seu. —
Sorrio de maneira sacana, jogando-me na poltrona.
Eu lhe lanço um olhar conhecedor. O qual ela compreende
prontamente.
— A minha cadelinha quer ser fodida pelo seu macho? Quer?
— Muito! — sussurrou rouca.
Estiro minhas pernas, ficando bem à vontade, e aponto para o
chão.
— Quero ver você vir de quatro para mamar o meu pau, sua
safada!
Giovanna se dobra de quatro no chão e vem até mim com um
olhar faminto. Ela andando sobre suas mãos e joelhos, com apenas
o colar em seu pescoço, é a coisa mais sexy que já vi em toda a
minha vida.
Segurando meu membro em sua direção para que minha linda
esposa o abocanhe, passo a glande em seus lábios inchados pelos
nossos amassos. Para me torturar ainda mais, ela coloca a língua
para fora e lambe, esfomeada, o pre-sêmen. Logo começa a gemer
com os olhos fechados.
— Chupe, boneca! Leve-me para sua boquinha gulosa!
— Só se for agora. — Lambe todo o meu eixo, levando-o ao
seu limite máximo.
Com a saliva escorrendo pelos cantos da boca, ela aproveita
para massagear minhas bolas, que estavam cobrando sua atenção.
Por minha vez, impulsiono meu quadril para dentro de sua garganta,
segurando os dois lados de sua cabeça. Deliro com os sons que ela
faz e deixa reverberar por todo o meu corpo.
Não suportando apenas me chupar, ela direciona seus dedos
até seu monte, não aguentando mais esperar, e eu a puxo para
cima do meu colo. Coloco-a montada em mim e a empalo de novo.
— Cavalgue, Giovanna! Goze no meu pau! — incentivei-a.
Levo meus dedos para suas nádegas empinadas, molho-os
com seus sucos e acaricio seu buraco enrugado que tanto desejo
experimentar.
— Ainda não me sinto pronta para tentar aí.
Eu gosto quando ela é sincera e me diz exatamente o que
quer.
— Teremos muito tempo para tentar, amor.
— Conhecendo você, não me admirarei se me fizer mudar de
ideia daqui a uns meses.
— Querida, daqui a alguns meses, estarei metendo até nos
seus ouvidos. — Sorrio maldoso e mordo seu pescoço.
— Seu cretino arrogante! — Gargalha, levando-me a rir
também.
Mordisco seu lábio inferior.
Segurando-se em meus ombros, ela inicia com movimentos
descompassados sobre meu pau, contudo toma um ritmo gostoso
quando começa a pular em meu colo, jogando a cabeça para trás.
Assim, seus seios irresistíveis batem em minha cara, não me
deixando outra opção que não seja tomá-los em minha boca e
chupar seus mamilos. Quando um pouco de leite sai deles, sugo-os
com mais força, querendo cada gota que escorre dela.
Meu pau endurece mais no momento que imagino Giovanna
grávida novamente, carregando um fruto do nosso amor e
amamentando outro serzinho lindo como a Luna, só que feito com
nossa mistura de característica
Sentindo sua boceta latejar, tomo a frente da situação e
aumento minhas investidas, deixando os conhecidos arrepios me
invadirem. E juntos, em uníssono, gememos nosso prazer na boca
um do outro em um beijo apaixonado, cheio de promessas não
ditas. Finalmente, jorro toda minha essência dentro dela, sentindo-
me completo de novo.
— Eu te amo! — Está lânguida me encarando.
— Eu sou louco por você, Giovanna. Completamente doente
de amor por você. — Junto nossas bocas, querendo perpetuar cada
segundo que puder passar junto dela.
Seus braços me apertam, prendendo-me no lugar, e eu a
abraço com força também, deixando claro que não tenho a intenção
de ir a canto algum sem as mulheres da minha vida. Eu estou em
casa e elas são o meu lar.
Luna bate palminhas, sentada na cadeirinha do carro,
enquanto eu tento, sem muito sucesso, esconder o teste que fiz. O
meu marido é um cafachorro. Eu mal saí do resguardo e ele já
meteu — muito bem metido, na minha opinião — outro bebê em
mim. O homem não consegue deixar suas mãos longe do meu
corpo por muito tempo e eu estou adorando ser tratada como uma
rainha por ele novamente.
Sorrio, lembrando-me de como foi a nossa reconciliação.
Henrique aguardou pacientemente a médica me liberar da
quarentena, com o intuito de colocar seu plano diabólico em ação. O
patife gostoso comprou uma coleira de diamantes com um enorme
“H” como pingente e o colocou em meu pescoço para me fazer
andar de quatro até ele. Literalmente. E eu andei. Ah, se andei!
Coloquei meu rabo no ar e, se bestar, até falei “au, au”. Fui
duramente chupada e montada por ele até não consegui aguentar
mais. E, no outro dia, tratei de me rebelar para que ele pudesse me
castigar de novo. Se é assim que meu homem quer me punir por
desafiá-lo, eu viro sua cadelinha de estimação e lato feliz todas as
noites se quiser.
E foi nesse bendito dia que Henrique se aproveitou para me
tacar outro filho. Eu acredito que tudo tenha sido premeditado por
ele, porque esse homem impossível não faz nada por impulso e
suas atitudes são muito bem calculadas.
E aqui estou eu, enjoada para cacete, morrendo de sono, com
vontade de chorar e querendo bater nele por ter me deixado sozinha
logo hoje, que irei apresentar minha primeira coleção de roupas
exclusivas em um desfile para a nata da alta sociedade de Milão.
Sinto-me nervosa e muito radiante, mesmo que, lá no fundo, uma
vozinha irritante me diga que meu marido tem mexido os pauzinhos
para que isso acontecesse tão depressa. Se eu vou reclamar? Para
a porra com isso! Sei que sou muito boa no que faço.
Se depender da madame Madalena, ela irá me explorar até
meu cu fazer bico, porém não irei deixar de realizar meu sonho
agora. A mulher é muito exigente e arranca meu coro sem dó. Em
qualquer dia desses, vai fazer um cachecol com cada pedaço meu
que tira. Por mais que eu note o brilho em seus olhos quando lhe
entrego cada design novo, a safada não me devolve os créditos
quando os usa em suas coleções.
Já estou de saco cheio de tentar agradar essa tirana e esperar
um elogio seu sequer. Todas essas decepções e cada “não”
recebido, sempre me fizeram chegar bem estressada em casa, e
depois de muito tentar, comecei a me desanimar de trabalhar para
ela.
Eu comentei com Henrique sobre minhas frustações, e daí, em
um belo dia, quando cheguei no ateliê da madame, ela me
recepcionou com um sorriso tão grande, que se parecia com a mãe
do coringa. Em seguida, pediu para que eu produzisse novos
designs, porque havia sido a escolhida para apresentar uma
coleção de outono no desfile que aconteceria hoje. Fiquei eufórica e
muito animada.
Venho, dia após dia, aperfeiçoando-me cada vez mais no meu
trabalho. Ainda tenho mais três anos de curso para fazer até me
formar, porém estou investindo nele duramente a fim de conseguir
ser a melhor. Quero me especializar em estilismo, então, para isso,
tenho me sujeitado a ser tratada feito um cão pela melhor e mais
requisitada estilista de Milão.
É claro que não estou sentada, esperando por um milagre dos
céus, pois tenho feito vários outros cursos relacionados à minha
área, como: corte, costura, desenho e ilustração. Tudo isso é com a
finalidade de me aperfeiçoar, agregar ainda mais conhecimento
profissional e, um dia, criar minha própria marca. Mas até lá, serei o
tapete humano da diaba, pois é ela quem me apresentará ao mundo
e me deixará famosa.
Tá! Eu sei o que vocês estão pensando. Por que não ter meu
próprio ateliê e montar minha marca agora, com todo o dinheiro que
tenho? Pelo simples fato de querer subir com minhas próprias
pernas. Se eu quisesse, poderia comprar a marca da mulher e a
colocar para trabalhar para mim. No entanto, quero algo que o
dinheiro, ao menos da maneira que desejo, não compra: sua
aprovação e admiração. Isso irá levar um pouco mais de tempo para
eu conseguir, porém estou disposta a investir muito para tal feito.
Sento-me no banco de trás e brinco com Luna enquanto sou
levada ao melhor lugar do mundo: minha casa. Abro a boca,
sentindo sono, encosto meu pescoço no banco e fecho os olhos,
pensando que ficarei assim só por alguns segundos. Contudo,
acabo apagando.
Só percebo que cochilei quando uma mão acaricia
suavemente o meu rosto e me chama. Então, abro meus olhos,
encontrando meu lindo marido sorrindo com Luna no colo.
Eu me pergunto se irei para de admirá-lo e de desejá-lo dentro
de mim o tempo todo. O homem está prestes a fazer cinquenta
anos, mas dá um banho em qualquer rapaz que tem metade da sua
idade, com seu fogo que me deixa de cara no chão, de forma literal.
Fico impressionada com sua vasta experiência em me levar às
nuvens sempre que possui meu corpo com seu delicioso pau,
língua, dedos e tudo que tenho direito.
— Venha, boneca! Tenho uma surpresa para você.
Eu também tenho. — pensei, mordendo a língua para não falar
logo a novidade.
— Que surpresa é essa? Onde está? — Saio do carro
apressada, aceitando sua mão.
— Está lá dentro. — Beija meu rosto e dá um sorriso faceiro.
Passo por ele, ansiosa, abro a porta e quase caio para trás
quando me deparo com Samantha sentada em meu sofá.
— Sam?! — vociferei, não acreditando no que meus olhos
viam.
— Gio! — Corre para mim e me abraça. — Eu senti tanto a sua
falta!
— Eu nem sei como pontuar o quanto estava sofrendo sem
notícias suas, docinho. — Aperto-a em meus braços. — Você está
tão linda! — Aliso seus cabelos loiros.
— Meu Deus, Gio! Parece que faz séculos que não nos
vemos. Eu sou tia e nem sabia disso. — Sorri, pegando Luna.
— Estou curiosa. Como aconteceu? Quero dizer... Tentei te
ligar e não tive resposta suas. A última coisa que eu soube, é que
iria se casar com o capo da máfia calabresa.
— Ele aconteceu. — Aponta o dedo para uma direção.
Eu olho para o local apontado e dou de cara com Marco
encostado na parede, sorrindo para nós.
Meu Deus!
— Você cumpriu! — murmurei emocionada por ele não ter
desistido de achá-la mesmo após ter tentado uma vez e não obtido
resposta alguma.
— Eu tinha prometido, não foi? Nunca volto atrás em minha
palavra. — Anda até onde estamos e se senta no outro sofá,
encarando minha filha no colo da tia.
— E o que te custou? — Lembrei que Henrique havia me dito
que teria que causar uma guerra para conseguir minha irmã.
— Custou mais que a metade da sua herança. — meu marido
respondeu.
Minha boca cai aberta.
— Marco, eu serei eternamente grata a você, mas prometo
que irei lhe pagar cada centavo que gastou para salvar a Sam. —
garanti, admirada com sua bondade.
— É um exagero do Henrique. Não é como se ele não tivesse
aberto mão de algo também.
Olho para o meu esposo, franzindo a testa. Marco abriu mão
da sua parte da herança, mas... E ele?
Vendo as dúvidas rondando meu rosto, logo trata de me
explicar.
— Eu sabia que Luigi vinha fazendo alguns negócios
misteriosos por debaixo dos panos, sem consultar a mim ou ao
Conselho. De início, achei que ele estava expandindo o tráfico
humano. Mas me enganei. O cara estava tirando muito dinheiro para
investir nos bairros pobres de Nápoles, como Scampia e
Secondigliano, a fim de expandir nossos territórios pela Espanha,
onde a Ndrangheta também estava de olho. Na invasão à casa dele,
encontrei as documentações sobre esses negócios e entrei em
contato com os Santoro para os oferecer em troca da liberdade de
sua irmã. Eu negociei, abrindo mão da nossa parte por lá. O que
eles só aceitaram depois de pedirem mais uma certa quantia em
dinheiro. A qual Marco se ofereceu a pagar. E aqui estamos nós.
Sorrio como se tudo isso não fosse nada, porém sei que é
muito. Para ele ter oferecido esses territórios, imagino que também
tenha que ter desembolsado algum dinheiro. Que não foi pouco.
Afinal, as localidades pertenciam à Camorra e o desfalque com essa
perda teria que ser ressarcido de alguma forma.
— Estou tão feliz que nem sei o que falar. — Lágrimas descem
sem parar pelo meu rosto. Malditos hormônios! — Foi você quem foi
buscá-la? — perguntei ao Marco.
— Sim. — Olha-me de um jeito curioso.
— Foi sim, Gio. E ele me tratou muito bem. — Sam se
adiantou em me esclarecer, achando que meu choro era de
preocupação.
— Isso quer dizer que a Sam poderá ficar conosco? —
questionei só para ter certeza.
— Se ela quiser, sim. Poderá ficar o tempo que desejar. A casa
é dela. Estará em família e irá conosco aonde formos. — Henrique
pisca e sorri.
— Eu quero. — Sam respondeu rapidamente, fazendo-nos rir
da sua pressa em aceitar.
— Está decidido, então. Seja bem-vinda, minha irmã! Até que
enfim, estamos juntas de novo. — Beijo seu rosto.
Surpreendo Marco quando me atiro em cima dele para o
abraçar.
— Obrigada a vocês dois por esse presente! — falei olhando
para ambos.
Meu marido semicerra os olhos para mim, fazendo-me uma
promessa silenciosa de que mais tarde eu pagarei pelo meu
atrevimento de me jogar nos braços do seu sobrinho.
Oh! Estarei ansiosa e muito feliz para pagar, com todos os
juros, essa dívida mais tarde.
Verifico a área para ter certeza de que estamos seguros
enquanto ouço, pelo fone, os relatórios dos meus soldados. Depois
me volto para onde minha adorável esposa arruma as modelos que
ainda irão entrar na passarela. Uma por uma desfila com as roupas
feitas por ela, sendo aplaudidas por cada pessoa presente. Estou
orgulhoso para caralho dela.
Giovanna mantém um sorriso largo estampado de orelha a
orelha e eu me pego admirando o quanto ela é linda com toda sua
genialidade. Eu teria pagado o dobro do que a velha sacana me
pediu para aceitar que minha mulher fosse apresentada ao público e
assinasse seus próprios modelitos, se meu ganho ainda fosse vê-la
contente desse jeito.
Estou tão feliz com essa nova Giovanna, que não tenho
palavras suficientes para expressar toda a minha gratidão por ela ter
me perdoado e me dado uma família. Luna fará cinco meses daqui a
alguns dias e é a alegria da nossa casa. A minha principalmente.
Sempre que a pego, recebo um beijo molhado seu e um olhar
amoroso vindo daqueles olhinhos curiosos e recheados da mesma
confiança que sua mãe tem quando me fita. Eu já sou louco pelas
duas irrevogavelmente e pela bebê que se desenvolve saudável na
barriga da minha mulher. Torço para que quando Luna crescer,
nunca descubra quem o crápula do Damien foi. Esse é um segredo
do qual não estou a fim de abrir mão. Giovanna concorda comigo
nisso, e, para mim, está mais do que perfeito.
— Humm! Está muito sério, senhor Cavallari. — Emma
murmurou dengosa, muito perto de mim.
Mantenho meu olho em minha esposa, que sai do desfile feito
um furacão, quase derrubando as coitadas das modelos de cima do
palco, para chegar até mim.
— O que está acontecendo aqui? — Cruza os braços, fazendo
seus seios naturalmente grandes por conta da amamentação,
subirem. Isso me deixa salivando para os provar.
Eu adoro essas crises de ciúme dela, porra. Eu amo tudo que
tem a ver com essa mulher. Eis a verdade absoluta.
— A Emma apenas veio me cumprimentar, amore mio.
— Cumprimentar minha bunda! Pode vazar daqui vagaranha!
Na última que bancou a engraçadinha comigo, eu taquei fogo.
Seguro a vontade de rir. Ela é muito criativa em seus
xingamentos.
Emma está de boca aberta com a explosão de Giovanna
enquanto eu só quero arrastá-la pelos cabelos e a foder sem pena.
Sua rebeldia sempre me deixa com um puta tesão e só me acalmo
depois de reivindicá-la.
— Você já era louca quando nos conhecemos, mas agora está
insana. Deus me livre! — Sai andando depressa, quase caindo com
os enormes saltos que usa.
Eu me volto para a minha querida esposa e a puxo pelo
pescoço, trazendo sua boca apetitosa à minha.
— Nem venha, seu cafajeste! Por que tinha que ficar de
conversinha com essa sonsa aí?
— Respeite-me, mulher! Ou irei te colocar para andar de
quatro até mim de novo. — ameacei, torcendo para que ela me
provocasse mais.
— Nunca reclamei dos seus castigos, marido. — Morde o lábio
inferior.
— Porra, mulher! Desse jeito, você vai me matar. Já terminou?
— Estou ansioso para ouvir um “sim”.
— Já. Agora acontecerá a festa de comemoração. — falou
arfante, segurando a lapela do meu terno.
— Preciso apenas de dez minutos, amor. Prometo ser rápido.
Pode até mesmo contar o tempo.
Eu adoro nossos jogos sexuais. Às vezes escolhemos lugares
aleatórios e competimos com quantos minutos podemos fazer
algumas travessuras sem sermos pegos.
— Lá em cima. Uma sala está vazia. — Aponta para onde
guardam as roupas exclusivas.
Subimos as escadas correndo feito dois esfomeados que não
comem há dias. Logo após abrirmos a porta, já arrancamos as
roupas um do outro e nos emaranhamos no chão, nas paredes e na
mesa da bruxa.
Sorrio maldoso, imaginando a cara dela se souber disso.
— Abra as pernas para mim, amor! Preciso do seu sabor em
minha boca. — Enfio-me entre elas e meto a língua em sua boceta,
que está cada vez mais doce desde que engravidou. Sua fenda tem
um tamanho tão pequeno, que fico abismado em como consigo
penetrar nela sem machucá-la.
Eu me pergunto todos os dias como aguentei ficar longe dela e
ainda me sinto culpado por tê-la deixado passar pela outra gestação
sozinha. Então, nessa de agora, tenho me programado para não
perder nada; nem mesmo as menores coisas, como as escolhas das
roupas e dos detalhes do quarto da bebê. Gosto de acompanhá-la
em tudo isso. Nunca nos esquecemos da nossa pequena Luna, é
claro. O que compramos para Helena, ela ganha também.
— Chupe, safado! Devore-me todinha! — pediu com uma voz
de excitação.
Obedecendo minha dona, chupo seu mel sem demora,
lambuzando-me com o néctar dos deuses que somente ela tem.
Não demora muito para eu a sentir se apertar em volta dos
meus dedos e a ouvir gemer meu nome de uma maneira tão
sensual que é capaz de me ter prontamente nu para lhe escutar
gritar seu gozo outra vez, mas com meu pau dentro dela. Portanto,
eu a coloco com as pernas em volta da minha cintura e a encosto
contra a primeira coisa que encontro. Guio meu membro para dentro
dela e meto com vontade em sua bocetinha gulosa, descontrolado e
cheio de necessidade.
Giovanna arranha minhas costas, gemendo alto com meu pau
atolado até o talo no interior do seu canal apertado. Seguro seu
traseiro para que ela não caia e acelero meus golpes, juntando
nossos corpos de uma maneira intensa.
Sinto ela pronta para explodir de novo, e isso se confirma com
sua seguinte fala.
— Henrique! Eu vou gozar. Acelere essa porra!
Giovanna pode ir de uma doce princesinha à filha de um
marinheiro desbocado em um piscar de olhos. Isso me deixa louco.
— Venha, boneca! Dê tudo para mim! — exigi, acelerando
minhas estocadas grosseiras e impiedosas.
Ela me dá um aperto da morte quando alcança seu ápice,
levando-me a segui-la para o penhasco do puro prazer.
— Fica cada vez melhor. — Sorri.
— Maravilhosa! É isso que você é, principessa. — Beijo seu
ombro.
Paraliso quando percebo a multidão de rostos lá embaixo
olhando para cima, mas não para qualquer lugar, e sim para onde
estamos. Muitas pessoas estão com seus celulares em mãos,
tirando fotos nossas completamente nus. E o pior: comigo ainda
dentro da minha mulher.
Porraaa! Giovanna vai me matar.
Pigarreio e a seguro para que não me jogue o primeiro objeto
que ver em sua frente.
— Amor, não surte! — pedi, mesmo sabendo que ela irá surtar.
E não será pouco.
— Por quê? — Levanta a cabeça para me encarar.
— As janelas não são de vidro fumê. — afirmei o óbvio.
— Eu sei. O que tem a ver? — Está totalmente inocente do
que se passa atrás dela.
— É que todos lá embaixo estão olhando para nós dois agora.
— soltei de uma vez.
Lentamente, ela vira o pescoço e abre a boca, soltando um
ganido sufocado.
— Eu vou te matar, Henrique! — Corre para se vestir.
— Não é grande coisa. Eu sou seu marido. — tentei justificar o
injustificável.
— NÃO É GRANDE COISA?! — gritou antes de respirar fundo
e tentar se controlar. — Amanhã, todos irão comentar sobre o que
viram e minha bunda estará estampada nas capas das revistas de
todo o país. Que vergonha, meu Deus! — Coloca a mão no rosto,
choramingando.
— Ah! Venha aqui, angelo mio! Não fique assim! Pense pelo
lado positivo: sua bunda é bonita e todos saberão quem é você.
Consequentemente, virão atrás das suas roupas. É marketing,
Giovanna.
Ela coloca as mãos na cintura e se apruma para uma briga. A
coisa vai ficar feia.
— É melhor correr, Henrique, ou o seu corpo estará
estampado ao lado da minha bunda bonita, porque irei te jogar pela
porra da janela.
E acham que duvido? O cacete! Saio há mais de mil por hora
da sua frente e vou para perto dos meus seguranças. Ela fica muito
volátil quando está nervosa e eu não vou esperar sua raiva passar,
ficando perto dela.
Todos os rostos se voltam para trás quando as portas são
abertas e nós nos preparamos para entrar. Vincent segura em meu
braço, em frente a porta da igreja. Hoje acontecerá a cerimônia do
meu casamento com o homem da minha vida. A minha barriga está
enorme dentro do meu vestido de noiva, à espera da nossa segunda
princesa, a Helena, que nascerá em poucas semanas.
Sorrio ao me lembrar da emoção que foi compartilhar a notícia
com meu mafioso favorito. O Marco vivia zombando de Henrique por
ter chorado no hospital quando quase morri, mas foi com ele
pegando a caixinha com o teste positivo dentro e a foto da minha
primeira ultrassom, que pude vê-lo, pela primeira vez, rendendo-se
às emoções.
Sei que ele ama Luna, mas qual homem não iria querer ter
seus próprios filhos? E nós estaremos completando nossa família
com mais uma menina.
“Eu nasci para ser cercado de belas mulheres.” — Esse foi o
comentário dele quando eu disse que iria ser outra menina.
Fiquei tão aliviada quando vi que isso não iria lhe fazer
diferença. Acredito que o amei um pouco mais nesse momento.
Observo a igreja lotada de figurões e suspiro, querendo que
tudo acabe depressa para eu dormir. A cerimônia é bem grande
para agradar todas as mammas e anciões. Por minha conta, eu teria
feito uma festa mais reservada, devido ao meu estado, só que meu
marido fez tanta questão de haver uma com todas as pompas, que
somente me calei e me deixei ser conduzida com o fluxo, aceitando
tudo que tinha direito, se isso significava agradá-lo. Aliás, é
impossível lhe dizer “não”, já que o homem sabe usar todas as
armas para me convencer de algo. Ele disse que “simples” e
“Giovanna” não combinam na mesma frase. Então, aqui estamos
nós, reforçando nossos votos e formando uma linda aliança.
Diferentemente da primeira vez, estou optando por ele e o
escolheria mil vezes se isso me fosse proposto.
— Ainda dá tempo de desistir. — Vincent sorri do seu jeito
sombrio.
— Eu não quero. — afirmei com sinceridade. — Acho que não
te agradeci como deveria.
— Pelo quê? — Encara-me.
— Por ter desistido de mim. — expliquei com seriedade.
Ele franze a testa, pensativo.
Há males que vêm para o bem.
— Eu estava errado sobre você. — admitiu quando a música
soou os primeiros acordes, dando-nos o sinal de que a cerimônia
iria começar.
— Sobre o quê?
— Você é a segunda mulher mais forte que conheci. —
respondeu sério.
— E a primeira? — indaguei curiosa.
— Talvez eu me case com ela em breve. — Um pequeno
sorriso repuxa seus lábios e eu sorrio, feliz com o elogio.
Viro-me para a frente, caminhando em passos lentos sobre o
tapete, como manda o figurino. Mas minha vontade é de levantar a
calda do vestido, sair correndo até meu amor e me jogar em seus
braços. Ele está tão perfeito, vestido em seu terno de 4 peças.
Quando o vi mais cedo, tive que me segurar para não propor uma
loucura para fugirmos dessa bagunça de festa.
O sorriso genuíno que ele me lança do altar é a coisa mais
perfeita que já vi em minha vida. Eu amo absolutamente tudo nesse
homem impossível; desde o seu jeito protetor até seus olhares
zangados quando algo o tira do sério.
Perto de ser entregue ao meu marido, desvio rapidamente
minha atenção para a Sam, que está segurando Luna, junto de
Maria. A senhora, na sua vez de entrar, acompanhou o Henrique,
fazendo a vez de sua mãe. Ao lado delas, Camillo vigia minha irmã
como um falcão, todo protetor. Samantha fez o cara durão cair
facilmente aos seus pés e eu não poderia estar mais feliz por ela.
Ao contrário do que pensei, meu marido não só aprovou o
relacionamento dos dois, como foi um incentivador, fazendo um
papel de pai para a Sam. Ele aceitou o compromisso deles e
ameaçou o Camillo de morte caso fizesse alguma coisa contra ela.
Até rio ao me lembrar da cara do coitado quando chamou o
Henrique de ingrato.
Eu amo a nossa família e tudo que ainda estamos construindo.
Tijolo por tijolo, ele derrubou as minhas defesas; e, degrau por
degrau, tornei-me a mulher que sempre sonhei ser ao seu lado. E é
isso que digo em frente às cento e cinquenta famílias que fazem
parte da nossa organização, selando, mais uma vez, a nossa
aliança de amor eterno para enquanto nós vivermos.
Olho minha mulher segurando Luna nos braços e desejo que,
um dia, seja assim com um bebê nosso. Ela está linda em seu
vestido branco rendado que a deixou com uma fisionomia bastante
pura. O que me faz querer tirá-la daqui, onde tem maldade
impregnada em cada pessoa.
Samantha é a coisa mais linda e preciosa que eu poderia ter
ganhado nesta vida. Ter tido o privilégio de ser seu escolhido e o
homem para quem ela entregou seu coração, corpo e alma
intocáveis, faz de mim um filho da puta sortudo. Custo acreditar que
fui presenteado com sua delicadeza e inocência.
Passei meses dançando à sua volta e me desvencilhando por
me achar indigno de uma mulher tão doce feito ela. Todavia, mais
tarde, caí rendido aos seus pés. Existe uma áurea nela que me
hipnotiza e me puxa para si como um imã. Eu sou incapaz de me
manter longe dela e muito menos de lhe negar algo, mesmo que ela
não me peça muito.
Nunca imaginei experimentar um sentimento tão forte feito o
amor, e hoje entendo o motivo pelo qual demorei tanto para
entender sua magnitude. É porque eu estava esperando pelo meu
doce querubim. Inconscientemente, buscava pela sua face e pelos
seus beijos, mas nunca a encontrava em outros corpos.
Sinceramente, achava que jamais iria encontrar.
Quando a vi pela primeira vez, fiquei tão deslumbrado e
desconsertado, que cogitei pedir transferência ao Henrique. Medo
foi o que senti quando descobri que, pela primeira vez, meu coração
tinha outra função além de bombear sangue pelo meu corpo. O
maldito acelerou e bateu tão forte, que imaginei estar tendo uma
taquicardia. Foi estranho, louco e surpreendente. Eu me senti vivo.
Muito mais do que quando mato ou torturo alguém.
E, que Dio me perdoe! Porque mesmo sendo indigno daquele
anjo, eu o peguei para mim e o amei tão desesperadamente quando
retribuiu minhas investidas. Eu me entreguei quando Sam esteve
em meus braços e olhando em meus olhos como se eu fosse o
único homem na face da terra a existir para ela.
— Logo será sua vez, angelo mio. — sussurrei em seu ouvido,
aproveitando que todos os olhos estavam voltados para a noiva.
Em troca, recebo um sorriso deslumbrante que costuma me
deixar de joelhos. Ele é como se dissesse que sou a porra do seu
salvador.
— Não vejo a hora. — Seus lindos olhos brilham de
admiração.
— Eu te amo! — Beijo sua nuca.
— Também te amo, Cam! — Sorri com toda sua meiguice.
Desejo que tudo termine logo para eu a ter somente para mim.
Nunca me canso dela, e acho difícil isso acontecer algum dia.
Suas pupilas se dilatam, entregando que ela está tão desejosa
quanto eu.
— Mais tarde. — prometi mais para mim mesmo do que para
ela. — Mais tarde te amarei e te venerarei, como deve ser.
Ela arfa, ficando vermelha, e eu sorrio.
Não há nada que eu não dê à Sam. Eu nunca tinha quebrado
nenhuma regra da máfia, mas por Samantha Vittieli quebrarei todas
se for preciso.
Giovanna grita alto, e a cada vez que ouço seu choro, quero
matar alguém dentro do hospital. Gosto de ouvir a dor nas vozes
dos homens que torturo, não na da minha esposa. Ela segura minha
mão com firmeza e se curva um pouco para a frente, fazendo força.
Eu queria tirar esse desconforto dela e pegar para mim, porque
aguentaria tudo por ela e faria qualquer coisa para dar um fim nesse
seu martírio. Até tentei convencê-la de fazer outra cirurgia, mas,
como é teimosa demais, quis ter todo o trabalho de um parto normal
dessa vez. Não consigo entender sua opção, sendo que tinha outra
menos sofrível. No entanto, quem sou eu para julgar suas escolhas?
Eu quero o seu melhor, e se para ela o melhor é trazer nossa
segunda filha pela vagina, tem o meu apoio.
— Estou vendo a cabeça da bebê. — a enfermeira avisou
sorrindo.
— Você falou isso meia hora atrás. — retruquei nervoso.
— Eu não sei se vou aguentar mais. — Giovanna confidenciou
em um fio de voz.
Ela está suada e com a expressão de muito cansada.
Também, pudera! Já tem quase doze horas de trabalho de parto.
— Falta pouco, senhora Cavallari. Só mais um pouquinho. — a
obstetra afirmou sorrindo.
Isso me irrita. Onde todo mundo acha graça nesses momentos
de sofrimento? Estão se divertindo com a dor da minha mulher?
Notando meu olhar duro, a médica disfarça com uma tosse e
fica séria.
— Vamos! Na próxima contração, empurre com toda a força
que tiver.
— O-okay. — gaguejou.
Eu beijo sua cabeça, tentando lhe passar conforto.
— Você está indo muito bem, boneca. — Ganho um sorriso
fraco seu em troca.
— Ai, meu Deus! Está vindo! — Geme forte e empurra mais
uma vez.
Vejo Helena escorregar para fora com um choro agudo,
deixando claro para todos que chegou neste mundo.
Sorrio emocionado quando a enfermeira me oferece uma
tesoura para cortar seu cordão umbilical. Depois, eles limpam a
pequena e a deitam em cima do peito de Giovanna. Eu toco a
bochecha rosada da minha mulher e beijo seus lábios.
— Obrigado, angelo mio! — sussurrei.
— Você está feliz com apenas duas meninas? — Olha-me
cautelosa.
— Está tudo perfeito. — confortei-a.
— Que bom! Porque eu não quero ficar tentando e tentando
até vir um menino.
Eu não preciso de um. Estou feliz por ter sido agraciado por
duas meninas saudáveis.
— Não se preocupe com isso, amor! — Acaricio os cabelos
fartos de Helena, que são tão escuros quanto os da irmã mais velha.
— Não é engraçado que nenhuma das duas tenha puxado o
tom dos meus cabelos? — Giovanna questionou, pensando o
mesmo que eu.
— Elas são lindas como você. Os olhos das duas sempre me
farão lembrar de você onde quer que esteja.
— Eu te amo! — murmurou.
— Também te amo, principessa!
Assim que somos transferidos para o quarto, Samantha coloca
a cabeça para dentro do cômodo e nos olha ansiosa.
— Podemos entrar? — perguntou receosa.
Ela é muito parecida com Giovanna. A única diferença está na
cor do cabelo. O seu brilha feito fios de ouro, de tão loiro.
— Sim. Venha conhecer a nova integrante da família! — eu a
incentivei a entrar.
Ela abre mais a porta e entra carregando Luna, sendo seguida
por Camillo. Assim que a pequena me vê, joga-se nos meus braços,
chupando seus dedinhos gordinhos. É a menina do papai. Por
incrível que pareça, ela é muito mais apegada a mim do que à
Giovanna. O que a faz ficar com ciúme às vezes.
— Veio conhecer sua irmãzinha, baby Luna? — Ela se remexe
em meus braços, olhando a irmã dormindo.
Eu a levo para perto da cama, e quando tento colocá-la ao
lado de Helena, ela estica um beicinho de choro e vira o rosto.
— Seu temperamento é igual ao de sua mãe, não é? –
brinquei, balançando-a para se acalmar.
— Pelo menos isso, tinha que puxar de mim. — Giovanna
provocou.
— Prevejo muitas confusões no futuro. — resmunguei, fazendo
Camillo rir.
— Eu espero ter os meus logo. — Sam ostenta um grande
sorriso ao seu lado. — Quero ter uns quatro. Você também,
Camillo? — perguntou docemente.
— Tudo que você quiser, minha linda. — Seus olhos brilham
de alegria.
Eu rio, percebendo que as mulheres Vittieli têm um charme
irresistível que nos deixa amarrados pelas bolas.
— Bom... Trate de encomendar logo! Vou precisar de mais
mãos para me ajudar aqui. — sugeri.
Logo em seguida, levo uma reprimenda da minha teimosa
esposa.
— Até parece! — Revira os olhos.
— Vou anotar todas as suas rebeldias e cobrar depois, amore
mio.
Ela faz uma careta engraçada.
— Não chegará perto da minha xana tão cedo.
— Sou paciente. Sei esperar.
— Promessas, promessas... — Ela ri da minha cara e eu
semicerro os olhos.
— Veremos! — Beijo seus lábios.
Sinto-me feliz e grato por tudo que conquistei. Mesmo não
merecendo, realizei o meu maior sonho. E entre todas as minhas
conquistas, com toda certeza, a maior delas foi construir a minha
própria família ao lado da mulher que amo.
(...)
(...)
Gianna Lourenço
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