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LELLA MALTA

Copyright © 2021 Lella Malta

Capa: Gabriella Malta


Linha Visual e Diagramação: Gabriella Malta

Todos os direitos reservados.


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duzida em qualquer meio ou forma, seja ele impresso, digital, áudio ou
visual sem a expressa autorização da autora.

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Para vovô,
vovô que gentilmente
transmitiu-me o amor pelas palavras.
Por causa dele (e por ele), vivo este sonho.

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APRESENTAÇÃO
Em uma página em branco, é possível organizar emoções, cons-
truir uma identidade própria e alcançar o protagonismo que nos é
vetado constantemente.
A escrita é um antídoto para os nossos medos. Ao entender o nosso
mundo interior fazendo uso das palavras, abraçamos com generosidade
quem somos e tiramos o poder e a voz daquele crítico interno que não
nos permite ir além.
Escrever acaba por nutrir a reflexão sobre quem somos e como pode-
mos encarar a vida.
Não corra! É impossível fugir do que vem de dentro.
As palavras, sobre o outro ou sobre si mesma, ganham vida; perso-
nagens viram gente e enredos narram estórias que trazem cores vívidas
para nossa conturbada existência.
Ao escrever, ganhamos voz. Mostramos que não apenas reproduzimos
relatos apresentados por homens como universais, mas que somos agen-
tes históricas e heroínas sem capa — exaustas, mas ainda de pé.
Nossos textos — como nosso peito aguerrido e nosso ventre bendito —
têm o poder de acolher o mundo, criam e recriam a realidade. Falam de tan-
tas Marias, de tantas Joanas! Gritam sobre o cansaço sem ponto final, sobre
as muitas vírgulas explicativas que ousam definir nossa imensidão feminina.
As palavras, ainda que individuais, iniciam um traçar cujo ponto final
é o fortalecimento da consciência coletiva, expressada por ações de em-
poderamento das mulheres e o desenvolvimento da equidade de gênero.
Brotam do nosso peito para descobrir outras muitas por aí — ou apenas
para encontrar o nosso eu há tanto tempo perdido, processo que é força
motriz para grandes transformações.
Além de praticar a escrita, precisamos também ser representadas na-
quilo que lemos. O apagamento da escrita de mulheres é uma realidade
na literatura, afinal, escrever é marcar lugar na existência — e o mundo,
construído sobre tintas do patriarcado, não tem histórico de nos convi-
dar para passear em todos os seus campos.
Este livro é um convite para que você se entregue a cada página. A
escrita é só um amontoado de palavras se você não doa seu tempo, sua

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energia e suas emoções para o papel. Encare esta oportunidade como a
abertura de um canal de escuta consigo mesma.
Aconselho que a prática seja diária e que você reserve um tempo na
agenda — cerca de 15 minutos — e um horário— preferencialmente pela
manhã — em local sem distrações. Com este caderno e um lápis ou ca-
neta em mãos, permita que os pensamentos fluam sem julgamentos ou
amarras. Ou seja, questões gramaticais, ortográficas ou de coerência, de-
vem permanecer em segundo plano. 
As possibilidades das palavras se tornarem ponte para o agora, para
você e para o outro são infinitas, mas nos próximos 30 dias, darei uma
pequena amostra do que você pode encontrar por aí.
Por fim, ressalto a importância de reler todos os exercícios que foram
realizados — e até repeti-los de tempos em tempos. Esse processo de re-
visitação nos auxilia a relembrar e ressignificar experiências, fazer esco-
lhas mais assertivas e alinhadas com o nosso propósito de vida e ampliar
nossa visão geral de mundo — além de nos surpreender com a forma de
expressão escolhida anteriormente.

Lembre-se: o papel, como a gente, precisa mesmo é de vida!


A escrita liberta, cura e salva.

Com carinho,

Lella Malta

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DIA 1
QUAL É A SUA HISTÓRIA?
A sala está em total silêncio. Na cadeira à sua frente, diante de uma
mesa repleta de quinquilharias, um executivo de meia-idade, calvo e de
semblante fechado, aguarda a sua resposta.
Ele é todo confiança e não parece querer perder qualquer segundo do
seu dia com mais uma candidata ao emprego dos sonhos.
— Qual é mesmo a sua história? — ele repete, diante da hesitação que
você demonstra ter.
Você precisa se destacar, mostrar o seu potencial e conhecimento.
No entanto, você também quer ir além: deseja verdadeiramente en-
cantá-lo, afinal, histórias servem para isso, não é mesmo? Ademais, tudo
o que você viveu não tem como ser repetido ou comparado. Sua vida é
única como você!

Escreva abaixo a história que você gostaria de contar ao entrevista-


dor, capte sua atenção, gere uma conexão imediata, mantenha-o aberto,
atento e interessado. Use uma narrativa que mobilize o que você tem de
melhor como potencial para convencê-lo da sua importância em qual-
quer tipo de enredo — seja naquela empresa ou na vida!
Eu sei que você tem coisa boa demais guardadinha aí e que já é prota-
gonista da sua própria história. Manda ver!

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DIA 2
EXAUSTÃO
“Quando são levadas em conta as tarefas domésticas, as mulheres do
mundo inteiro acabam trabalhando o dobro de horas dos homens”

A frase do livro O Mito da Beleza, de Naomi Wolf, revela o nosso trá-


gico cenário.
A verdade é que estamos cansadas de usar o look cansaço, olheiras e
muito sono.
Ao longo do processo de emancipação feminino, vestimos a fantasia
de Supermulher e fomos levadas a acreditar que somos as melhores em
multitarefa.
Somos bombardeadas por atribuições profissionais, familiares e do-
mésticas e incentivadas ao acúmulo de papéis sociais constantemente.
Para ficar um pouquinho mais difícil, o sistema patriarcal ainda nos co-
bra que sejamos eternamente jovens e bonitas — dentro dos mais cruéis
padrões existentes.
O Carnaval já passou. Que tal deixar a fantasia em casa e assumir de
vez que está exausta?
Você não faz bem muita coisa ao mesmo tempo, ninguém faz — a não
ser ler um bom livro enquanto beberica uma tacinha de vinho.

Complete as seguintes frases:

Estou cansada de...

Eu não estaria tão cansada se...

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Eu trocaria a tarefa de ... por ....

Os sintomas do meu cansaço são...

Me sinto tão cansada que estou com dificuldade de...

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DIA 3
UNIVERSOS DE GENTE
Viajar requer mais do que um passaporte na mão, um voo comprado
ou uma mala a postos.
O abismo cultural não faz convite, ele nos obrigada a praticar
a empatia.
Não conhecemos fronteiras ao colocar o pé na estrada, mas pintamos
linhas grossas ao nos limitar de quem nos cerca.
O paradoxo é: somos globalizados, mas individualistas; cada vez mais
cosmopolitas, mas também egoístas.
Desejamos o mundo, mas temos verdadeiros universos de gente, bem
ao nosso lado, para desbravar.
Sem falar que a forma pela qual interpretamos o outro é um reflexo do
que somos, não é mesmo?

Se pudesse estar em qualquer outro lugar do mundo, onde você estaria


agora? Quem seria o seu acompanhante? O que vocês estariam fazendo?

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Agora pense em alguém que você definitivamente não se dá bem.
Transforme essa pessoa em um personagem e leve-a para passear com
você em algum lugar do mundo.

Onde vocês estão e o que fazem neste momento?

Qual é o propósito do personagem que lhe acompanha?

Quais são suas vulnerabilidades?

O que o faz pensar e agir daquela forma?

Cite uma característica positiva desse personagem.

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DIA 4
TEMPOS PANDÊMICOS
Os dias seguem em um misto de esgotamento e apatia. Numa inver-
são de prioridades, objetivos outros deram espaço apenas ao instinto ur-
gente de sobreviver diante do caos.
Carregamos nos ombros o isolamento, o distanciamento social e a
mudança brusca de nossas rotinas — fardo pesado para aqueles que já
escondem sob uma máscara tantos medos e inseguranças.
Mas a verdade é que a pandemia escancarou uma série de outras ques-
tões, entre elas a de que estamos cansados de não descansar. A vontade
de correr para o campo, distantes de tudo, numa reconexão com a natu-
reza, é um autoexílio sintomático de uma desconexão com nós mesmos.
Uma fuga que busca ao mesmo tempo romper com julgamentos e com
diferenças que simplesmente não admitimos mais tolerar, mas também
uma (re)descoberta de um eu sob um entulhamento de diferentes perso-
nagens que desfilamos socialmente.
A viagem como instrumento de aguçamento daquele eu, todavia, pode
se dar de outras maneiras. Uma delas a jornada interior, em que mãos, ao
contrário dos pés, podem ser pontes para o agora quando evidenciam o
poder terapêutico da escrita.
Não é apenas um elemento criativo. A escrita pode expressar emoções
reprimidas e fazer uso da catarse como ferramenta para uma mudança
terapêutica positiva, sobretudo em tempos pandêmicos. Ao organizar
ideias e pensamentos e mergulhar nas profundezas do nosso ser, ela é
capaz de revirar certezas, contribuir para o enfrentamento da ansiedade
e facilitar a dolorosa experiência do luto. É um recurso poderoso, mas
também simples e democrático, no longo e árduo processo que é o auto-
conhecimento.  Para a fadiga — pandêmica ou costumeira —, vá de papel
e lápis na mão. Acredite: as palavras podem provocar o tão sonhado des-
canso em nós mesmos.

Artigo de Lella Malta para o caderno de Política do Estadão (Estado de São Paulo)
Veiculado em 09 de junho de 2021.

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A pandemia nos trouxe um lembrete contundente de nossa finitu-
de. Conscientes de como somos efêmeros, mudamos nossa rotina brus-
camente, encaramos medidas de isolamento e convivemos diariamente
com o medo, a insegurança e a instabilidade. Ao pensar em tudo o que
passamos desde o início de 2020, cite 5 lições que você aprendeu ao en-
frentar tempos pandêmicos.

1.

2.

3.

4.

5.

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DIA 5
CARREIRA E EXPRESSÃO
Você sabia que sua carreira profissional pode expressar a sua me-
lhor versão?
O trabalho não é sofrimento ou prazer. Isso são consequências,
emoções ou resultados. Trabalho é energia — e energia que precisa ser
reposta em algum momento.
Como todo o nosso viver, o ambiente profissional também possui
pressões, tensões e tudo o que nos move, mas também pode ser fonte de
estímulo de recursos pessoais de autoconhecimento, desenvolvimento
de lideranças engajadoras, fonte de criatividade e de realização.

Responda:

Quais foram os motivos que me fizeram decidir pela minha carreira
profissional atual?

Minhas atividades profissionais me incomodam?

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Quais são minhas principais frustrações quando o assunto é trabalho?

Quais são as características de uma rotina profissional coerente com


as minhas habilidades como indivíduo?

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DIA 6
CARTA PARA O MEU EU CRIANÇA
Para o início deste exercício, é possível que você precise da ajuda de
um familiar que guarde uma caixa recheada de lembranças. Afinal, antes
de escrever, gostaria que você colasse abaixo uma foto do seu eu criança.

COLE AQUI A SUA FOTO

Agora você redigirá uma carta direcionada exatamente ao seu eu do


passado. Não esqueça de transmitir acolhimento, aceitação e compreen-
são. Seu eu do passado, como o seu eu do presente, precisa se sentir
abraçado e querido.

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Olhe para a foto anterior com carinho e leve em consideração alguns
direcionamentos:

Eu desejo que...
Eu reconheço que...
Eu demonstro gratidão por...
Eu perdoo você por...
Te peço um pouco de...
Eu aconselho que você...

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DIA 7
IMAGEM, AUTOACEITAÇÃO E SOFT SKILLS
O processo de autoconhecimento também passa pela autoaceitação
da nossa imagem.
Ao se olhar no espelho, se despindo da necessidade desenfreada de
se atingir padrões inalcançáveis impostos por uma sociedade doente e
aceitando nosso corpo com todas as suas curvas e marcas, acolhemos
parte do que somos com o carinho merecido.
Sim, o corpo é parte de um todo, não é tudo — independentemente da
estrutura, mobilidade, idade ou peso que tem.
Não conte calorias. Conte sorrisos, conte histórias.
Não colecione etiquetas. Pratique o desapego, invista da moda sus-
tentável, compre do pequeno.
Não incentive a competitividade feminina e fuja de comparações.
Somos únicas e muitas em uma só.
Somos lindas, inquietas, fortes, destemidas — e um corpo, mesmo tão
perfeito quanto aquele que nos veste, não é o bastante para definir a
complexidade do que somos.

Liste 10 características físicas positivas do seu corpo — vale ressaltar a


beleza dos seus cachos, o desenho do seu sorriso ou o formato do seu pé.

Agora liste 10 “presentes” que o seu corpo — e a sua mente — são capa-
zes de lhe ofertar, como escrever este exercício ou dançar um bom forró.

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Abaixo, marque um X nas habilidades que você já manja muito bem e
um coração naquelas que você ainda precisa desenvolver.

[ ] Comunicação eficaz
[ ] Escrita
[ ] Empatia
[ ] Colaboração
[ ] Organização e planejamento
[ ] Flexibilidade
[ ] Resiliência
[ ] Trabalhar sob pressão
[ ] Capacidade de resolver problemas
[ ] Pensamento criativo
[ ] Relacionamento interpessoal
[ ] Liderança
[ ] Inteligência emocional
[ ] Negociação
[ ] Ética
[ ] Autoconfiança

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DIA 8
O QUE ME IMPEDE DE IR ALÉM?
Medo, vergonha, procrastinação, falta de tempo para experimentar o
ócio criativo?

A resposta talvez não seja tão óbvia ou imediata, mas essa restrição
retarda o seu desenvolvimento — seja pessoal ou profissional — impe-
dindo que você execute aquilo que é verdadeiramente importante na sua
vida hoje.

Derrube os seus muros, garota!

A remoção de obstáculos é, acima de tudo, um método de redução do


esforço para maximizar o resultado que você deseja obter na sua vida.

Subtraindo dos seus dias aquilo que faz você desperdiçar tempo, ener-
gia e esforço em projetos sem tanta importância e relevância, você pro-
duzirá mais e melhor aquilo que é fundamental, que te faz feliz, realiza-
da e uma mulher cada vez mais completa.

Qual é o obstáculo que atualmente te impede de ir além? Que tal es-


crever um pouquinho sobre como ele está afastando você das suas metas?

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DIA 9
FAZENDO O IMPOSSÍVEL
Este livro já foi apenas um sonho.
Na verdade, viver para — e da — minha escrita era algo que pare-
cia impossível para a Lella de vinte e poucos anos.
Sempre fui uma sonhadora, mas depois dos trinta, resolvi também
ser uma grande executora dos meus planos. Enfrentei uma transição de
carreira, voltei a me dedicar aos estudos, me movimentei em direção ao
meu propósito.
O livro Alice Através do Espelho, de Lewis Carroll´s, narra a sur-
realista jornada de uma das heroínas mais amadas da literatura e nos
convida a viver dentro de um sonho fantasioso e irracional. Em um tre-
cho, a personagem principal diz para a Rainha Branca que “não se pode
acreditar em coisas impossíveis”. Como resposta, recebe um “ora, algu-
mas vezes cheguei a acreditar em até seis coisas impossíveis antes do
café da manhã”.
Fomos ensinadas a viver em uma realidade que consiste em criar
limites baseados no inconsciente coletivo — com todas as suas imagens
latentes (arquétipos) e imagens primordiais (que herdamos dos nossos
ancestrais). Não somos levadas a acreditar em coisas “impossíveis”.

Você está criando uma vida a fim de corresponder ao que todas as pes-
soas já estão fazendo, ao que é possível e não “fora da caixa”?

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O que você pode fazer hoje para criar mais para o agora e para o futuro?

Escreva 3 ações impossíveis de serem implementadas em sua rotina hoje.

Avalie a resposta da questão 3. É realmente verdade que essas ações


são impossíveis de serem implementadas? O que você teria que mudar,
escolher e instituir a fim de que isso apareça em sua vida?

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DIA 10
NARRATIVA
A arte de contar histórias, verídicas ou fictícias, acompanha a evolu-
ção da humanidade.
Desde os primórdios, desenvolvemos a capacidade de expressão que
desembocou na linguagem que nos diferencia de outras tantas espécies.
As pinturas rupestres não são representações visuais e simbólicas de um
recorte da realidade? A gente faz e conta história há muito tempo.
Para uma narrativa ter sentido, no entanto, precisamos estar atentas
aos seus elementos constitutivos.
Neste exercício, proponho que você se transforme em um desses ele-
mentos: a personagem. Contudo, uma personagem bem diferente de
quem você é hoje. Ela pode viver no passado, no futuro ou mesmo no
presente, mas em outro lugar. Nome, propósito e descrição física tam-
bém não corresponderão a sua realidade de hoje. Não seja quem você é,
mas quem, em algum momento, gostaria de ser.

Qual é o seu nome?

Onde e em qual momento da história você vive? Sua personagem pre-


cisa de um tempo e lugar para existir.

Qual é a sua origem — uma grande metrópole, uma vila alpina, um


grupo de refugiados?

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Quais são as suas características incomuns? Um jeito de tomar café di-
ferente, mechas de cabelo candy colors, uma cicatriz no couro cabeludo?

Descreva alguns dos seus aspectos físicos.

O que te move? Qual é o seu grande propósito nesta narrativa que


está escrevendo?

Quais são seus medos e suas grandes fraquezas?

Como seria o seu tão esperado final feliz?

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DIA 11
MOCINHAS VELHAS
Eu sempre li romances românticos. Românticos mesmo.
Mocinho, mocinha, um problema que demora um pouquinho para ser
resolvido e puft: mais um final feliz para me entreter em dias difíceis.
Lá pelos meus 20 e poucos anos, uma amiga me indicou alguns livros
da Rachel Gibson, uma escritora norte-americana que tinha tudo para ser
a minha nova autora favorita. Ao menos foi o que a tal amiga me disse.
Quatro livros integravam aquela série. O universo criado desenvolvia
a história de também quatro escritoras que eram melhores amigas. Capa
maneira, sinopses atrativas e... mocinhas velhas.
Deixei de lado por motivos óbvios. O que mocinhas velhas teriam como
propósito? Todas não deveriam estar vivendo os seus finais felizes com
uma carreira de sucesso, um príncipe encantado ao lado, uma casa dos
sonhos e algumas crianças adoráveis e bem-educadas? Pois é. Mocinhas
velhas não deveriam ser protagonistas de nenhum romance romântico.
No dia 19 de junho de 2021, completei 34 anos. Exatamente a idade
daquelas amigas escritoras da Rachel Gibson que eu considerava velhas
demais há algum tempo.
Meu significado de sucesso é outro, questiono o papel da maternida-
de e aprendi que príncipes encantados são homens de carne e osso que
também precisam de terapia e de alguns bons modos. Casa se tornou o
lugar onde eu posso verdadeiramente ser.
E hoje sou quando escrevo.
Que ironia do destino ter me tornado uma escritora exatamente como
aquelas mulheres dos livros da Rachel!
Estou envelhecendo sim, mas nunca me senti mais jovem — princi-
palmente por ter encontrado o meu lugar de voz, de protagonismo e de
empoderamento; por usar as minhas palavras para ser todas as minhas
muitas versões e ter a idade que eu bem entender.
Ao envelhecer, paradigmas que nos acompanharam durante toda a
vida em relação a identidade de gênero são ampliados ou mais facilmen-
te reproduzidos. O envelhecer de mulheres e homens não é o mesmo,

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afinal, sexo e idade são duas variáveis fundamentais para entendermos
os papéis e posições que os indivíduos ocupam na sociedade.
Sim, o processo do envelhecimento, que é natural e inevitável, traz
desafios para todos — adoecimento, solidão, perdas cada vez mais fre-
quentes —, mas para as mulheres é intensificado pelas cobranças sociais
relacionadas, sobretudo, aos padrões de beleza e de comportamento.

Você acredita que nossa sociedade estabeleça uma relação direta en-
tre beleza feminina e juventude?

Como você encara o processo de envelhecimento? Responda esta per-


gunta analisando cada uma das temáticas a seguir:

Sexualidade
Produtividade
Estética
Autoconhecimento
Morte

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DIA 12
DE VOLTA AOS TEMPOS DE ESCOLA
Certamente você se lembra daquele caderno de perguntas da escola
que era capaz de trazer à tona verdadeiras revelações da nossa infância
e adolescência. Em um brochura encapado, escrevíamos uma pergunta e
enumerávamos as linhas seguintes para que nossos colegas registrassem
as suas respostas.
O caderno circulava de cá para lá, de mão em mão, de carteira em car-
teira. Promovia intrigas, desavenças, romances e todo tipo de diversão.
Ainda me recordo da sensação de ter o coração disparado cada vez que
eu passava o meu caderno — que tinha uma infinidade de cores distintas
provenientes da minha extensa coleção de canetinhas — para o garoto
que eu estava de olho. Quando chegasse na página 15 e se deparasse com
a fatídica pergunta “você gosta de alguém?”, o que ele responderia? Mais
além, lá na página 20, o que ele escreveria ao ser indagado sobre o que
achava da dona daquele caderno? Vale adiantar que, naquela época, eu
não tinha qualquer sorte no amor.
É nesse clima nostálgico que proponho revivermos o caderno de per-
guntas neste exercício. Não responda como se ainda fosse uma criança
ou adolescente, mas como você é hoje: uma mulher dona do próprio na-
riz, linda de morrer e que adora escrever.

Qual é o seu nome?

Quando e onde nasceu?

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Qual é o seu signo?

O que você quer ser quando crescer?

Qual é a sua maior qualidade?

Qual é o seu maior defeito?

Qual é a sua cor favorita?

Qual foi o melhor momento da sua vida?

Você gosta mais do dia ou da noite?

Você gosta mais de doce ou de salgado?

Pratica esportes? Qual é o seu favorito?

Gosta de ler? Qual é o seu livro favorito?

O que você faz para melhorar o mundo?

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Qual foi o seu maior mico?

Você gosta de alguém?

Quem é o seu melhor amigo?

Você prefere campo ou praia?

Qual é a sua comida favorita?

Se pudesse ser outra pessoa, quem seria?

O que você acha sobre a dona deste caderno?


(no caso, você mesma!)

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DIA 13
RESGATANDO MULHERES
Uma das minhas bisavós era conhecida como Vovó Dina.
Nós, infelizmente, não nos conhecemos em vida, mas resgatei há pou-
co a sua história de força, que agora desejo compartilhar com você.
Bernardina Batista dos Santos nasceu em 19 de maio de 1905 e teve
dez filhos — todos com nomes de santos. Perdeu alguns para o tifo, ou-
tros para a gripe espanhola. Meu avô materno, no entanto, ainda está por
aqui: firme, forte e lindo.
Vó Dina era conhecida por todos como uma mulher de muita fé. Ben-
zedeira — ofício herdado de sua mãe Alexandrina—, aplicava seus co-
nhecimentos de cura para aliviar os males físicos e espirituais daqueles
que a procuravam, sobretudo de mulheres que não conseguiam engravi-
dar e buscavam realizar o sonho da maternidade.
Católica fervorosa, seu oratório era o lugar mais frequentado da casa.
Adorava fazer feijoada enquanto tomava goles de uma boa pinga. Na
sobremesa? Sempre ia de marmelada.
Por sentir muito frio nas orelhas, vivia desfilando por aí com touquinhas
na cabeça. Minha mãe diz que era a cena mais fofa do mundo vê-la assim!
Aos 78 anos, enquanto dormia tranquila, Papai do Céu a levou para os
seus braços, deixando na Terra um legado de fé, esperança e permanente
conexão com o divino e com a unidade familiar.

Vovó Dina, que a senhora sempre me benza.


E que Deus, por sua incessante intercessão, sempre me cure!

O exercício de hoje é um convite ao resgate da história de uma mulher


da sua família que já se foi. Escreva sobre essa pessoa e reconecte-se com
a sua ancestralidade.

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DIA 14
AUTOCUIDADO
O mundo continuará girando e girando com ou sem você. Por alguns
minutinhos, horas ou dias de afastamento da sua rotina louca e de dedi-
cação exclusiva para si mesma, ele não vai acabar. Pois é.
Para não surtar de vez, precisamos estabelecer uma rotina de auto-
cuidado — que é simplesmente o ato de adotar uma abordagem holística
à sua saúde e bem-estar, colocando-se em primeiro lugar e sendo gentil
consigo mesma. Dessa forma, o autocuidado não pode ser visto como
justificativa para uma relação contábil com a vida ou como mais uma
tarefa a ser ticada ao longo do dia.
Também não é um ato egoísta, não é frescura e nem sempre vai te
fazer gastar dinheirinhos.

Cite 5 práticas de autocuidado que já estão inseridas no seu dia a dia


e outras 5 que gostaria de adicionar para cada vez mais encontrar valor
nos momentos de pausa que geralmente são atropelados pelas deman-
das do mundo, do trabalho e da família.

- já INseridas - - quero adicionar -

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DIA 15
O QUE EU NUNCA DISSE
A psicanalista e autora francesa lacaniana Catherine Millot, certa
vez disse:

ESCREVE-SE O QUE NÃO PODE SER DITO

Concordo.
Para mim, escrever também é libertar a alma do que, por algum moti-
vo, não consigo verbalizar.
Você já deve ter percebido que a escrita é um recurso valioso para
desenvolvermos a auto-observação, ou seja, a capacidade de refletirmos
sobre um amplo espectro dos próprios sentimentos e experiências — in-
cluindo conceitos sobre si mesma, valores e objetivos —, seja no tempo
presente ou no passado remoto.
A escrita nasce de uma conversa interior, mas na hora que transfe-
rimos tudo para o papel, a mão parece escrever sozinha e ganhar total
autonomia. Registramos o que não é possível de ser dito, uma extensão
de tudo aquilo que colhemos no árduo processo de autoconhecimento.
Fazendo uso da catarse, desbloqueando memórias e abrindo alçapões
psicológicos sob os quais escondemos nossos problemas, purificamos e
oxigenamos nossas emoções, permitindo que estados mais saudáveis,
mais leves e relaxados ganhem espaço.

O exercício de hoje é um convite para que você escreva algo que nun-
ca conseguiu dizer em voz alta: um desejo, uma declaração de amor, uma
situação vergonhosa. Lembre-se que este espaço é de total acolhimento
e liberdade. Entregue-se!

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DIA 16
ONLINE
Na vida offline, ninguém é só bom ou ruim.
Trazemos em nossa essência como seres humanos o traço certeiro
da imperfeição.
Somos complexos até mesmo em nossas singularidades. Gigantes den-
tro de corpos que parecem ser pequenos demais para nossa imensidão.
Erramos, acertamos e seguimos, passo a passo, em direção ao ponto
final que a todos espera.
Estamos além da famosa dinâmica binária das redes sociais — curto
ou não, sigo ou não?
Somos um mosaico de pequenas partes coloridas.
Não somos esse ou aquele.
Não somos apenas um discurso, o que fazemos ou temos.
Não somos sempre, somos o enquanto.
Somos e vivemos a(na) intersecção.

Esqueça as redes sociais que você usa ou já usou.


Este é o momento perfeito para criarmos um universo virtual coman-
dado apenas por você mesma. Nele, parecer feliz não é obrigação, não
há cancelamento, algoritmos não têm poder algum e a realidade não é
maquiada por qualquer tipo de filtro. Você não se sente avaliada, julgada
ou constantemente vigiada e se relaciona apenas com quem te faz bem.

Como seria a sua biografia/descrição nesta rede social?

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Quem você faria questão de seguir, bater um papo e criar laços
de amizade?

Quem você jamais manteria contato?

Se tivesse que postar uma foto típica do seu dia a dia, sem qualquer
produção, como ela seria?

Em um vídeo aberto para todos os seus seguidores, o que você faria


questão de ensinar ou aconselhar?

Se tivesse que divulgar a notícia dos seus sonhos para os seus amigos,
qual seria?

Se pudesse criar um grupo para debater apenas uma temática especí-


fica, qual seria?

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Se tivesse a certeza de que qualquer pessoa viva neste mundo pudesse
ler sua mensagem privada, para quem e o que escreveria?

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DIA 17
DIÁRIO DA GRATIDÃO
Exercitar a gratidão é um caminho sem volta. Depois de inserirmos a prá-
tica no dia a dia e colhermos os seus muitos benefícios, como a redução das
emoções tóxicas e o aumento da felicidade, não largamos mais. Ao sermos gra-
tas, liberamos no organismo um neurotransmissor que gera ondas internas de
bem-estar e prazer chamado dopamina, que também atua no controle motor,
cognição e regulação de humor.
Vale ressaltar que a gratidão não está atrelada a um caráter espiritual, mas
deve ser vista, no sentido mais amplo, como um reconhecimento pelas dádivas
que nos são ofertadas diariamente.

Escreva abaixo 10 presentes pelos quais você é grata hoje. Esteja ciente de
suas emoções enquanto você “saboreia” cada um deles em sua imaginação.

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DIA 18
COMER, COMER
Há quem conte calorias.
Há quem controle o carboidrato.
Há quem demonize o pão, o leite, o grão de bico, o ovo e a minha escrita.
Há quem, por medo de engordar ainda “mais”, exagere na atividade física e
no jejum. Vômito, laxantes e diuréticos também valem.
Há quem faça a dieta da lua, do ovo, do abacaxi e do chá verde sem qualquer
acompanhamento profissional.
Há quem desconsidere o caráter ancestral, social, político e revolucionário
do alimento.
Há quem acredite que tudo pode estar envenenado, contaminado, estragado.
Há quem coma de forma incontrolável, mesmo sem estar de fato com fome.
Há também quem não come — por falta do pão, por sobra de pressão social
para entrar em um manequim 36.
Muitas são as dores que são levadas à mesa.
Que elas não sejam mudas — e que a comida seja sempre a nossa amiga.

Você come as suas emoções?

Quais pratos acessam suas memórias afetivas e te deixam emocionada?

Você sente culpa ou tristeza após comer?

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Como você descreveria a sua relação com a comida?

Se pudesse comer qualquer coisa, o que você comeria agora?

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DIA 19
LUTO
A vida se torna uma morte lenta, um padecimento indizível. O lamento perpé-
tuo de alguém que nada deseja, que pouco sente e que quase tudo negligencia.
Foi assim que descrevi a experiência do luto do personagem principal de
um dos meus romances, o  Qual é o nome da vez?.  Matt é um viúvo fechado
em uma casca dura e solitária, sem sonhos, sem alegria, sem vida. Por trás da
quase mudez e da cara fechada, o tal mocinho se esconde em uma rotina de
bebida além da conta, recusa de ajuda profissional e constantes crises de pâni-
co. Apresentar uma perda tão significativa sob a lente masculina, foi uma das
experiências mais lancinantes do meu processo de escrita. Vivi, de mãos dadas
com o meu personagem, cada resposta emocional ao fato de ver sua esposa
inexistir prematuramente.
Se o pesar da ficção grita tamanho desalento, ainda não pode ser comparado
ao luto da vida real: um processo natural que ocorre em reação a um rompi-
mento brusco de vínculo e que a grande maioria dos indivíduos terá que lidar
mais cedo ou mais tarde no decorrer da vida. Sem tempo de duração definido,
ele pode se estender por anos e levar ao adoecimento físico e mental, caso não
haja conscientização sobre a importância do acolhimento, da desconstrução da
interdição do luto e de sua naturalização. Esquivar-se da tristeza como meca-
nismo de fuga não liberta e não cura.
Durante os tempos pandêmicos, o processo se tornou ainda mais complexo
com força de fenômeno coletivo, afinal, a morte se fez cada vez mais próxima e
escancarada em uma emergência sanitária global.
A escrita terapêutica, por sua vez, pode auxiliar o enlutado a vivenciar sua
dor emocional e adaptar-se gradualmente em um novo contexto de vida de
ausência do ente querido. Não substitui o acompanhamento psicoterapêu-
tico ou psiquiátrico, mas é mais uma ferramenta a ser inserida no cotidiano
do indivíduo a fim de acalentar o sofrimento diante da perda e equilibrar seu
estado emocional.  
Um dos exercícios mais recomendados é o da escrita de uma carta para al-
guém que já se foi, registrando em um papel suas memórias, agradecimentos,
desculpas e qualquer palavra que deseja dizer hoje para a pessoa amada que já
não está presente. Que tal escrever a sua?

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DIA 20
FANTASMA DA PÁGINA EM BRANCO
Prazo editorial, cobrança dos leitores, problemas com construção de perso-
nagens... O bloqueio criativo, tão temido no mundo das palavras, drena a ener-
gia do escritor profissional e pode ser considerado o seu pior pesadelo.
No mundo da escrita terapêutica, no entanto, a página em branco não é um
fantasma, mas espaço de liberdade — e de muitas possibilidades.
O exercício de hoje não é guiado: escreva em uma página em branco.
Registre o que lhe vier à cabeça, seja lá o que for. Não se preocupe com esti-
lo, arte, coerência, questões gramaticais e julgamentos.
Dê passagem ao seu fluxo de pensamento.

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DIA 21
MONSTRO DE ESTIMAÇÃO
A escrita tem o poder de libertar os nossos monstros de estimação — aqueles
que estão nos armários mais profundos do nosso ser, escondidos nos vales do
inconsciente e revestindo com pesada armadura nossos corações.
Há quem cuide de um monstrinho chamado exaustão, há quem viva uma re-
lação de amor e ódio com um outro que se chama ansiedade. Tem monstro que
é gente, tem monstro que é medo, tem monstro que a gente sabe que existe,
mas nem conhece direito.

Diga aí, qual é o nome do seu monstro?

Que tal dar uma de Tarsila do Amaral, ou até de Frida Kahlo, e desenhar esse
terrível ser neste espaço abaixo?

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Onde o seu monstro vive?

Qual é o alimento preferido dele?

Como ele cresceu a ponto de ganhar tanto espaço em seu armário?

É preciso vencê-lo ou torná-lo um aliado?

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DIA 22
AUTORRESPONSABILIDADE
Melhor do que um mergulho em águas cristalinas, é aquele em si mes-
ma — sem volta e sem fim.
Refletindo sobre nossas crenças limitantes, sobre os padrões de vida
que reproduzimos e as escolhas que outrora fizemos.
Alinhando nossas decisões com o propósito que definimos, organi-
zando metas e sonhos, desenvolvendo novos hábitos e rotinas.
Reprogramando nossa mente a fim de controlar emoções positivas e
negativas.
Acolhendo tudo o que somos.
Tomando para si a responsabilidade de fazer, acontecer e ser feliz.

Quais são as maiores desculpas que conto para mim mesma?

Costumo assumir o papel de vítima ou vencedora diante da vida?

Prefiro me calar ou criticar as pessoas que estão ao meu redor?

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Costumo justificar os meus erros ou aprender com eles?

Minha rotina é movida pelo sentimento de culpa ou pela busca por


soluções para cada um dos meus problemas?

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DIA 23
MATERNIDADE
“Uma mulher espera mais substância de sua mãe do que
de seu pai, ele vindo em segundo.”
J. Lacan

“Não se pode compreender uma mulher, a não ser considerando-se


a fase de sua ligação pré-edípica à sua mãe.”
Freud

“Mães não têm tempo para o ensaio: estreiam a peça no susto.”


Cris Guerra

“A criança inscreve-se no destino reservado


pela mãe à sua falta como mulher”
Malvine Zalcberg

“A maternidade é uma dádiva maravilhosa, mas não


seja apenas definida por ela. Seja uma pessoa completa.
Vai ser bom para a sua filha.”
Chimamanda Ngozi Adichie

“O ideal materno oscila entre a mãe sacrificada, a serviço da


família e das crianças, e a superwoman capaz de conseguir tudo
conciliando trabalho e criação dos filhos.”
Esther Vivas

“Exploram as mulheres e elas se deixam explorar em nome do amor.”


Simone de Beauvoir

“Não há como ser uma mãe perfeita, há um milhão de


maneiras de ser uma boa mãe.”
Jill Churchill

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A relação entre mãe e filha é idealizada. Vivemos sob um contrato
implícito de que todas as filhas devem eterna gratidão às mães. Se es-
pera das mães, em contrapartida, dedicação exclusiva e uma espécie de
anulação do seu eu. Quando as exigências não são cumpridas, o conflito
é instalado — acompanhado de culpa e sofrimento.
Também há, no inconsciente coletivo, a difusão da maternidade com-
pulsória — a ideia de que a mulher jamais será completa se não puder ou
não desejar ser mãe.
Mães podem se sentir solitárias, obrigadas a amar a maternidade im-
posta, culpadas por sofrerem diante de uma realidade que pode tolher
sua individualidade e liberdade.
Filhas podem conviver com as dores de ter uma mãe narcisista, tó-
xica, ausente.
Até mesmo nas relações saudáveis, conflitos sempre estarão presentes.
Diante de tantos padrões inatingíveis, exigências e expectativas, o ob-
jetivo do exercício de hoje é explorar um pouco a questão da maternidade.

Toda mulher nasceu para ser mãe – verdade ou construção social?

Uma mulher sem filhos jamais será completa?

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O que eu gostaria de dizer para a minha mãe hoje?

Se eu tivesse a certeza de que minha mãe me dissesse a mais pura ver-


dade, sem qualquer tipo de filtro, o que eu perguntaria a ela?

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DIA 24
TEMPESTADE DE PALAVRAS
O exercício de hoje é quase um jogo, por isso, espero que você tam-
bém se divirta.
Vou oferecer uma palavra e você, permitindo que o pensamento corra
em seu fluxo natural, escreverá ao lado qualquer outra palavra que ve-
nha à sua mente.
Vamos lá?

MORTE
HOMEM
SEXO
CHUVA
SAUDADE
BALANÇA
PÁSSARO
DINHEIRO
VIAGEM
VESTIDO
ADEUS
CAMINHO

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CORAGEM
HONESTIDADE
CARREIRA
AGENDA
CRIANÇA
VERGONHA
ESCOLA
AMIZADE
SONHO
ORGULHO
MEDO
AZUL
INFINITO
RECOMEÇO
PRIMAVERA
SORRISO
SILÊNCIO
CASTIGO

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DIA 25
ROTINA
Outro dia fui fazer check up médico e dar aquela geral no coração.
Antes do teste ergométrico, ao preencher o meu perfil, a doutora in-
dagou: sua rotina é calma ou estressante? Pergunta rotineira nas avalia-
ções médicas, mas que me fez refletir sobre todas as mudanças vivencia-
das nos últimos tempos.
Respondi sem peso ou culpa:
— Ela é calma, doutora.
Eu nunca havia dado esta resposta tão libertadora antes. Por vezes,
em outra vida, cheguei até a estufar o peito para dizer o quanto meu
trabalho era duro e estressante — valorizando meu cansaço constante, a
falta de tempo na agenda, a lista de problemas a serem solucionados em
um curto espaço de tempo e toda a pressão que me consumia.
Pois é, vivemos em um mundo que parece enaltecer o estresse, já
percebeu?

Agora é a sua vez!

Minha rotina é calma ou estressante?

Eu romantizo o estresse, o cansaço e a produtividade em excesso?

Eu me considero uma pessoa plenamente saudável?

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Tenho cuidado da minha saúde?

Tenho tempo para dormir, descansar e experimentar o ócio criativo?

Se um exame pudesse captar todos os sentimentos que hoje enchem


o meu peito, o que ele encontraria?

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DIA 26
TESTAMENTO
Hoje é dia de elaborar o seu testamento.
Não é permitido, entretanto, que ele contenha bens ou posses.
Você registrará apenas 5 conselhos gerais que serão deixados para to-
dos aqueles que permanecerem vivos após a sua partida.
Pense sobre os ensinamentos que a vida lhe trouxe.
Não esqueça de ser empática e fazer uso de palavras construtivas.

1.

2.

3.

4.

5.

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DIA 27
LADRÕES DE ENERGIA
Você já parou para pensar que alguns hábitos interferem direta-
mente em sua energia vital e que as sensações de fracasso, desânimo
e desorganização podem desaparecer da sua rotina com algumas mu-
danças assertivas?
Abaixo você encontrará alguns dos drenos de vigor mais comuns. É
dia de escrever sobre eles!

Costumo reclamar muito e sobre quase tudo? Se sim, sobre o que mais
reclamo nos últimos dias?

Mantenho pensamentos obsessivos sobre determinados temas que


consomem a força que deveria ser utilizada em atitudes concretas? Se
sim, esses pensamentos estão ligados a quais temáticas?

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Costumo me comparar aos outros? Se sim, de que forma?

Estou endividada, com contas atrasadas? Se sim, como eu poderia so-


lucionar essa situação?

Na listinha de atitudes autodestrutivas abaixo, marque todas as alter-


nativas que estão presentes em sua vida neste momento:

( ) Procrastinação
( ) Abuso de álcool e/ou drogas
( ) Automutilação
( ) Compulsão alimentar
( ) Autossabotagem
( ) Isolamento social
( ) Compras por impulso
( ) Descaso com a saúde
( ) Dificuldade em falar não
( ) Desvalorização do sono

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DIA 28
A FORÇA DO PERDÃO
Todas nós temos um perdão guardado em algum lugar esperando o
dia perfeito para ser oferecido.
Bom, parece que esse dia chegou!
Perdoar não é esquecer, é ainda que mantendo o fato na memória,
sejamos capazes de não sofrer e olhar para o passado com objetividade
e clareza.
O processo exige um investimento interno e passa pelo avanço de
consciência por outras percepções, fazendo com que enxerguemos o
ocorrido de um outro modo. Para perdoar de verdade, é preciso olhar
para dentro, praticar o desapego gradual e contínuo daquilo que nos fez
sofrer e estar pronta para doar o seu direito de estar ressentida.
O perdão reestrutura o seu eu, fazendo com que emoções negativas
encontrem espaço de ressignificação e purificação.
Abraçamos o crescimento e a maturidade, impossibilitamos que uma
situação do passado diminua o impacto da felicidade no presente e sau-
damos uma vida mais leve, sadia e construída a partir de recomeços.
A carta de hoje será direcionada a alguém que você precisa perdoar.
Ainda que ela jamais seja fisicamente entregue, este exercício é prova de
que hoje você está abrindo mão da dor que sente, transformando-a em
algo positivo e construtivo.
Liberte-se!

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DIA 29
O MUNDO E EU
Somos seres sociais por natureza — mais felizes, mais leves e mais
completos quando temos uma poderosa e sólida rede de apoio.
Essa rede é formada por pessoas, grupos, comunidades e instituições
que sempre estão ali quando precisamos, a partir da convivência e de
trocas afetivas e sendo constituída por laços e vínculos de segurança
e confiança.
Nos retângulos abaixo, escreva o nome de 3 pessoas/grupos/comuni-
dades/instituições que fazem parte da sua rede de apoio, destacando nas
linhas correspondentes a importância de cada uma delas quando você se
sente vulnerável ou com dificuldade de encontrar alternativas para um
determinado problema.

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EU
DIA 30
FINAL FELIZ
Em um confortável banco de madeira, você observa o movimento das
folhas que balançam contra o vento. É um fim de tarde frio e silencioso.
Você está com 98 anos de idade e sabe que tem apenas mais alguns
dias de vida.
Em sua mente, uma retrospectiva é feita e toda a sua história aparece
diante dos seus olhos: seus muitos amores, sua família, seu trabalho,
todos os bons e maus momentos que lhe trouxeram até aqui.
Você pensa: nada poderia me amadurecer tanto quando o enfrenta-
mento da própria mortalidade!
Com este cenário em mente, complete as frases a seguir:

O meu final poderia ser mais feliz se...

Se pudesse nascer novamente, eu...

Eu gostaria de ter sido mais...

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Eu não deveria ter me preocupado tanto com...

Eu gostaria de ter tido mais coragem para...

Eu deveria ter passado mais tempo com...

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SOBRE A AUTORA

Lella Malta, desde sempre, ama as palavras. É única, mas muitas em


uma só: cientista social, escritora, preparadora literária e terapeuta de
escrita expressiva.
Atualmente se dedica ao estudo da Psicanálise e da Psicologia Positiva.
​É louca por literatura, viagens, gastronomia e vinhos.
​Usa a escrita para transformar vidas e acredita no poder das palavras
como instrumento terapêutico no processo de autoconhecimento.

Contato
Instagram @lellamalta
E-mail: oilellamalta@gmail.com

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