Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CAPÍTULO 13
Vida afetiva:
A IMPORTÂNCIA DA VIDA AFETIVA
Porque ela é parte integrante de nossa subjetividade. Nossas expressões não podem
ser compreendidas, se não considerarmos os afetos que as acompanham; mesmo os
pensamentos, as fantasias - aquilo que fica contido em nós - só têm sentido se sabemos o
afeto que os acompanham. Por exemplo, aquela idéia de que o melhor amigo irá se sair mal
em uma competição, só adquire sentido quando descobrimos que sua origem está na inveja
que se tem dele. O Psicólogo, em seu trabalho, não pode deixar de lado esse aspecto
constitutivo da subjetividade - a vida afetiva - e estudar apenas a vida cognitiva e racional
dos indivíduos. Agindo, assim, certamente não irá compreendê-los em sua totalidade.
Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim.
Pense em quantas vezes você já programou uma forma de agir e, na hora "H",
comportou-se completamente diferente. Por exemplo, uma jovem soube algo de seu
namorado que a aborreceu, mas
ela racionalmente resolveu não criar caso e pensou: "Quando ele chegar, vou ser carinhosa
e não vou deixar transparecer que me aborreci" e, de repente, quando o tem à sua frente,
ela se vê esbravejando, agredindo, enciumada. Seus afetos a traíram. Foi difícil ou, no caso,
impossível contê-los. Tanto nesse exemplo, como em muitas situações de vida, não há a
mediação do pensamento - são os afetos que determinam nosso comportamento. É nesta
circunstância que se ouve aquela frase tão corriqueira: "Como ele é impulsivo!".
Por isso, os afetos são importantes para os psicólogos.
Marx afirmou "que o homem se define no mundo objetivo não somente em
pensamento, senão com todos os sentidos (...). Sentidos que se afirmam, como forças
essenciais humanas (...). Não só os cinco sentidos, mas os sentidos espirituais (amor,
vontade...)".
Os afetos
AS EMOÇÕES
OS SENTIMENTOS
Saber e compreender o mundo que nos rodeia é fundamental para que possamos
estar nele. A apreensão do real é feita de modo sensível e reflexivo e, portanto, realizada
pelo pensar, sentir, sonhar, imaginar.
Para finalizar este CAPÍTULO - o poeta não poderia estar ausente! - escolhemos o
trecho de uma poesia cujos versos destacam a importância da vida afetiva:
O que pode o sentimento não pode o saber
nem o mais claro proceder
nem o mais amplo pensamento.
Só o amor com sua ciência
nos torna tão inocentes.
Texto Complementar:
O ENAMORAMENTO
Quando nos enamoramos, por muito tempo continuamos a dizer a nós mesmos
que não o estamos.
Passado o momento em que se revelou o acontecimento extraordinário, retornamos
à vida quotidiana e pensamos que tudo foi passageiro. Mas, para nosso espanto, esse
momento nos volta à mente, nos cria um desejo, uma ânsia que só se aplacam quando
revemos a pessoa amada ou escutamos sua voz. Mas tudo volta logo a desaparecer, e
dizemos a nós mesmos que foi apenas uma exaltação que não tem importância alguma.
Talvez haja um pouco de verdade nisso, pois no começo não se distingue bem se é
realmente um enamoramento ou se tudo não passa de uma reestruturação radical do
mundo social em que vivemos, e que faz parte orgânica de todos nós. Mas se esse desejo
reaparece, e torna a reaparecer e se impõe, então estamos verdadeiramente enamorados. O
enamoramento é um processo no qual a outra pessoa, aquela que encontramos e que nos
correspondeu, se nos impõe como o objeto pleno do desejo. Esse acontecimento nos
impõe a reorganização de tudo, e esse fato obriga-nos a repensar tudo, especialmente o
nosso passado. Na realidade, não é um repensar, mas um refazer. É, com efeito, um
renascimento. O estado nascente (do enamoramento ou dos movimentos sociais) tem a
extraordinária propriedade de refazer o passado. Na vida quotidiana, não podemos refazer
o passado. Nosso passado existe com suas desilusões, suas recordações, suas amarguras.
(...) As pessoas enamoradas (e muitas vezes ambas conjuntamente) revêem o passado e se
dão conta de que o que aconteceu foi assim porque, naquele momento, fizeram opções,
que elas quiseram e agora não querem mais. O passado não é negado nem oculto, é privado
de valor. É verdade que amei e odiei meu marido, mas não o odeio mais; enganei-me, mas
posso mudar. Então o passado se configura como pré-história, e a verdadeira história
começa agora. Desse modo terminam o ressentimento, o rancor e o desejo de vingança.
Não se pode odiar o que não tem mais valor nem importância. Essa experiência muitas
vezes provoca nos enamorados uma angústia, uma inquietação. A pessoa amada fala na
minha frente sobre o seu passado, sobre seus amores e sobre a pessoa com quem se casou
ou com quem vive. De início fala com rancor, num desabafo; depois, pouco a pouco, quase
com ternura. Diz: “Ele foi mau para mim, mas me ama; gosto dele, não quero fazê-lo
sofrer, gostaria que fosse feliz". Essas palavras indicam um distanciamento que existe
apenas porque não há mais tensão, nem medo, nem vingança. Mas podem ser interpretadas
como um amor que persiste e que, por vezes, provoca ciúme.
A pessoa enamorada pode até relacionar-se com o marido (ou com a mulher), se
este não cria obstáculo, sem rancor, com afeto. Seu passado adquiriu outro significado à luz
de seu novo amor. No fundo, pode até continuar gostando do marido ou da mulher
justamente por estar apaixonada. A alegria desse amor a torna dócil, meiga, boa. É
geralmente a outra pessoa enamorada que não aceita esse fato, que não acredita nele, que
deseja a pessoa amada somente para si. Como cada um dos dois almeja essa exclusividade e
essa certeza, ambos se vêem obrigados muitas vezes a se magoarem mais do que cada um
desejaria. (...)
Francesco Alberoni.Enamoramento e amor.Trad.Ary Gonzales Gaivão.Rio de Janeiro, Rocco,
1986 p.18-9
Atividades complementares:
1. Descreva para seus colegas um momento de emoção que você viveu, procurando
completar a descrição com as reações orgânicas que você sentiu.
2. Qual a importância das emoções e sentimentos na nossa vida? Falem de situações que
vocês viveram.
3. Discutam a influência da socialização na expressão dos afetos. Vocês conhecem alguma
cultura em que as pessoas expressem diferentemente de nós os seus afetos?
4. Escolham uma emoção ou um sentimento e pronunciem-se sobre:
-O que aquele afeto significa para você;
-Quando e como você o sente?
5. Debatam se os nossos sentimentos e as nossas emoções são sentidos da mesma forma
por todos nós. As pessoas sentem emoções sempre da mesma forma?
6. De acordo com o texto complementar, respondam: que é enamoramento e o que
acontece quando nos enamoramos?
7. Discutam um filme visto por vocês e que os tenha emocionado. Falem sobre a emoção
sentida e suas causas.