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O Texto Literário
na Sala de Aula
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1. OBJETIVOS
• Refletir sobre os usos que se faz do texto literário no con-
texto escolar.
• Desenvolver um olhar crítico para com os textos escola-
res.
• Repensar práticas escolares de ensino da literatura já cris-
talizadas pelo seu uso.
2. CONTEÚDOS
• A leitura do texto literário na sala de aula.
• O texto como pretexto para o ensino de valores, vocabu-
lário, norma culta e outros fatores a ele estranhos.
• O texto e seu contexto de produção.
56 © Metodologia do Ensino: Literatura
Marisa Lajolo
Marisa Philbert Lajolo nasceu em São Paulo e viveu muito tempo na cidade
de Santos. Em 1967, concluiu o bacharelado e a licenciatura em Letras na
Universidade de São Paulo. Na mesma instituição, no Departamento de Teo-
ria Literária e Literatura Comparada, defendeu, em 1975, sua dissertação de
Mestrado, intitulada "Teoria Literária e Ensino de Literatura" e, em 1980, sua
tese de Doutorado, com o tema "Usos e abusos da literatura na escola"; ambas
com a orientação de Antonio Candido. Realizou também um Pós-Doutorado na
Brown University, em Providence (Long Island), em 1990, e várias pesquisas
na Biblioteca Nacional de Lisboa, na Biblioteca Saint Genevieve – Paris e na
John Carter Brown University. Desde 1979 atua como docente na Universidade
Estadual de Campinas, instituição com a qual mantém hoje um vínculo como
professora colaboradora voluntária. Atualmente é docente da Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Em 2009, foi premiada com o Prêmio Jabuti, por sua
produção na área de Teoria e Crítica Literária. Além deste, a escritora recebeu
inúmeros outros prêmios.
Marisa Lajolo é autora de vários livros voltados para o ensino da literatura, a
formação de leitores e a literatura infanto-juvenil, dentre os quais podemos ci-
tar: Do mundo da leitura para a leitura do mundo (1994); A formação da leitura
no Brasil (1996); A leitura rarefeita (2002), em coautoria com Regina Zilberman
e Monteiro Lobato livro a livro (2008), escrito em parceria com João Luis Cec-
cantini.
© U2 – O Texto Literário na Sala de Aula 57
Guaraciaba Micheletti
Guaraciaba Micheletti é graduada em Letras, pela Universidade de São Paulo, desde
1972. Também na USP, no Departamento de Teoria Literária e Literatura Compara-
da, sob a orientação de Davi Arrigucci Junior, desenvolveu sua pesquisa de Mestrado
(1983), intitulada "Na confluência das formas: estudo de uma narrativa compósita"; A
pedra do reino, de Ariano Suassuna, e de Doutorado (1992), esta sob o tema "A poe-
sia, o mar, a mulher: um só Vinícius", sobre a poesia de Vinícius de Moraes. Em 2000,
passou a integrar o corpo docente da Universidade de São Paulo, para a qual, mes-
mo depois de aposentada, continua a prestar serviços como colaboradora, orientando
pesquisas de Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Filologia e
Língua Portuguesa. Atualmente, é professora titular da Universidade Cruzeiro do Sul,
onde coordena o curso de Pós-Graduação em Linguística.
É autora de vários artigos e livros, dentre os quais destacamos A poesia, o mar e
a mulher: um só Vinícius (1994), Na confluência das formas: o discurso polifônico
de Quaderna/Suassuna (1997), Leitura e construção do real (2000), em parceria
com Letícia Paula de Freitas Peres e Ana Elvira Luciano Gebara.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, debruçamo-nos sobre os conceitos de
metodologia, de ensino e de literatura. Vimos que a metodologia
indica um caminho de ação; que o ensino é indissociável da apren-
dizagem e que o professor é um mediador entre o aluno e o co-
7. TEXTO E CONTEXTO
Diferentemente de Marisa Lajolo, Guaraciaba Micheletti de-
fende que o texto, no contexto escolar, é sempre pretexto para o
ensino de algo que está além dele – sua inclusão no sistema de
ensino tem sempre alguma intenção:
Ter consciência da intencionalidade do texto é o primeiro dever de
todo e qualquer professor. É preciso ter presente que um texto é um
tecido em que se entrecruzam ideologias, sentimentos, culturas. Na
escolha do professor também se cruzam aspectos diferentes: o pro-
fessor, quando seleciona um texto, parte de um objetivo de ensino,
mas para a formulação desse objetivo concorrem não só os pressu-
postos da escola, de uma filosofia de ensino, mas também traços de
sua formação pessoal e profissional (MICHELETTI, 1992, p. 2).
Lajolo revisitada
Vinte e seis anos após a escrita de "O texto não é pretexto",
Marisa Lajolo procede a uma revisitação de seu texto, amplian-
do-o com a experiência acumulada nesse tempo em que muitos
acontecimentos vieram alterar o campo de estudos sobre a leitura:
cursos, teses, ensaios, congressos, pesquisas – muito se produziu,
entre 1982 e 2008, sobre essa questão.
Nesse novo texto, intitulado "O texto não é pretexto. Será
que não é mesmo?", Lajolo (2009, p. 99) retoma, não sem espan-
to, as convicções - por vezes demasiadamente assertivas – de seu
texto anterior.
Sua revisão inicia por uma explicação dos termos do título:
texto significa, etimologicamente, "tecido", e pretexto é, na ori-
gem, "aquilo que se tece antes", ou seja, que se tece para encobrir
algo que está numa camada inferior.
Em seguida, a autora questiona sua proposição antiga de
que o texto se constitui numa instância que promove a comuni-
cação entre o leitor e o escritor. Mais acertadamente, na mesma
linha de raciocínio de Guaraciaba Micheletti, Marisa Lajolo recon-
sidera essa questão, e afirma:
Hoje, não acredito mais na autonomia do texto, nem na solidão,
nem no caráter individual da escrita e da leitura. Aprendi que no
texto inscrevem-se elementos que vêm de fora dele e que os su-
jeitos que se encontram no texto – autor e leitor – não são pura
8. TEXTOS COMPLEMENTARES
Como textos complementares a esta unidade, sugerimos as
seguintes leituras:
• LAJOLO, Marisa (Org.). Leitura em crise na escola: as al-
ternativas do professor. 10. ed. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1991.
• Este livro encontra-se atualmente esgotado, mas você
pode encontrá-lo com facilidade nas bibliotecas e nos se-
bos (se quiser, procure-o na Estante Virtual, portal que
reúne grande número de sebos on-line - <http://www.
estantevirtual.com.br>). Trata-se de um livro que reúne
artigos importantes sobre o ensino de língua e literatura,
bem como sobre a formação do leitor.
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
As questões a seguir procuram abordar os tópicos que es-
tudamos nesta unidade. Elas estão aqui dispostas para que você
faça a sua autoavaliação. Se você tiver dificuldades, reveja o que
foi estudado anteriormente; caso a dificuldade persista, recorra ao
seu tutor: ele estará pronto e disponível para ajudar você.
1) Em seu texto "O texto não é pretexto", Marisa Lajolo afirma:
O texto não é pretexto para nada. Ou melhor, não deve ser. Um
texto existe apenas na medida em que se constitui ponto de en-
contro entre dois sujeitos: o que escreve e o que lê; escritor e leitor,
reunidos pelo ato radicalmente solitário da leitura, contrapartida
do igualmente solitário ato de escritura.
No entanto, sua presença na escola cumpre funções várias e nem
sempre confessáveis, frequentemente discutíveis, só às vezes inte-
ressantes (LAJOLO, 1991, p. 52).
Anos mais tarde, a autora revê essa posição e conclui que o texto não é, mesmo,
pretexto para nada – mas com outra justificativa. Como você explica essa mu-
dança, no primeiro texto e no segundo, no embasamento da mesma afirmativa?
10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, refletimos sobre a didatização do texto lite-
rário. A discussão sobre tomar a literatura como pretexto para a
aprendizagem de outros saberes também foi retomada, tanto por
nós, quanto pelos próprios autores que a produziram.
11. E-REFERÊNCIAS
CEIA, Carlos. Intriga. In: ______ (Org.). E-dicionário de termos literários. [199-]. Disponível
em: <http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_content&view=frontpage&Item
id=1>. Acesso em: 10 ago. 2010.
HOLANDA, Chico Buarque de. Até o fim. 1978. Disponível em: <http://www.chicobuarque.
com.br/letras/ateofim_78.htm>. Acesso em: 12 ago. 2010.
LAJOLO, Marisa Philbert. O texto não é pretexto. Será que não é mesmo ?. In: ZILBERMAN,
Regina; ROSING, Tania (Orgs.). Escola e Leitura: velha crise - novas alternativas. São
Paulo: Global, 2009.
MICHELETTI, Guaraciaba; PERES, Letícia Paula de Freitas; GEBARA, Ana Elvira Luciano.
Leitura e construção do real. São Paulo: Cortez, 2000.
MICHELETTI, Guaraciaba. Na confluência das formas: o discurso polifônico de Quaderna,
de Ariano Suassuna. São Paulo: Leia Cliper, 1997.
_______. A poesia, o mar e a mulher: um só Vinícius. São Paulo: Escuta, 1994.
_______. O texto e a escola. São Paulo, 1992. Texto inédito; cópia gentilmente cedida
pela autora.
PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.