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Prótese Ocular

Distintos Tipos de Próteses Oculares

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Esp. Karen Lobianco de Moura

Revisão Textual:
Aline Gonçalves
Distintos Tipos de Próteses Oculares

• Introdução;
• Prótese Ocular de Recobrimento ou (Concha em Calotas);
• Anamnese, Avaliação (Física) e Medidas para Confecção
da Prótese Ocular;
• Aspectos Psicológicos Relacionados aos Portadores de
Lesões Oculares.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Conhecer os diferentes tipos de próteses oculares para uma melhor adaptação;
• Aprender a avaliar a cavidade para receber a prótese;
• Fazer a medida da íris;
• Entender o processo psicológico pelo qual o paciente está passando, bem como a perda, o
luto e o novo processo de adaptação.
UNIDADE Distintos Tipos de Próteses Oculares

Introdução
A perda de um olho pode gerar graves transtornos físicos e psicológicos, pois
afeta diretamente o comportamento e a autoestima do indivíduo.

Figura 1 – Diferentes tipos de próteses oculares


Fonte: Getty Images

As próteses oculares apresentam um efeito muito positivo nos dias de hoje, e tudo
isso devemos aos avanços tecnológicos que conseguem chegar quase a uma cópia
fiel do olho sadio, amenizando os problemas daqueles que enfrentam a perda ocular.

O avanço tecnológico nos apresentou as próteses personalizadas, pois, segundo­


Kramer de Oliveira (1960), as próteses se classificavam em olhos industrializados,
sendo considerados os menos indicados porque eram fornecidos os olhos que t­ inham
em estoque, não respeitando medidas, cavidade a receber a prótese ou até mesmo
características do indivíduo. Já os olhos individualizados são confeccionados por
meio da moldagem, o que faz com que não se perca detalhe algum ou caracterização
da estrutura.

A prótese ocular tem uma responsabilidade muito grande na vida do indivíduo,


pois atua diretamente na reabilitação e na melhora da estética, pois, sem olho, a face
ganha um aspecto fora da normalidade, passando a incomodar o indivíduo pelos
olhares dispensados.

As próteses devem ser indicadas de acordo com cada caso apresentado pelo
paciente, devido a suas variações e às cavidades formadas pelas distintas cirurgias.

Segundo Marcks & Zugsmith (1946), existe, essencialmente, quatro tipos de


cavidades anoftálmicas que passaram por procedimentos cirúrgicos da retirada do
globo ocular.
• Cavidade formada pela enucleação, sem implante orbitário (esfera de Muller),
onde a mobilidade da prótese torna-se menor;

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Cavidade enucleada sem implante orbitário, disponível em: https://bit.ly/2IivBwY

• Cavidade formada pela enucleação com implante orbitário (esfera de Muller),


colocada na cavidade dentro da cápsula de tenon (intracapsular), de tântalo,
ouro, plástico, cartilagem preservada etc. A mobilidade da prótese é considera-
da regular;

Cavidade enucleada com implante orbitário, disponível em: https://bit.ly/3pbKZvI

• Cavidade formada pela evisceração, quando é retirado o conteúdo bulbar, re-


movendo a córnea, fechando a esclera sem o implante orbitário (esfera de
Muller) e a conjuntiva como cobertura. Os movimentos horizontal e vertical
são existentes, havendo mais ação dos músculos oblíquos, uma vez que eles se
mantêm preservados;

Cavidade eviscerada com prótese ocular adaptada, disponível em: https://bit.ly/32uVUqH

• Cavidade formada pela evisceração dos conteúdos oculares, com implante esfé-
rico, seguindo o fechamento da esclera, conjuntiva. A mobilidade chega a atingir
50% do movimento do olho normal;

Cavidade formada pela evisceração apresentando a mobilidade normal.


Disponível em: https://bit.ly/3n9ccO0

• Globo ocular atrofiado, quando acontece apenas a atrofia e não a perda total
ocular, podendo a causa ser congênita ou por traumas; é possível a confecção
de uma prótese ocular bem mais fina, denominada concha ou prótese de reco-
brimento, que apresenta um movimento superior às próteses oculares normais;

Prótese de recobrimento, disponível em: https://bit.ly/3n902EJ

Presentemente, nota-se uma preocupação dos cirurgiões quanto à remoção do


globo ocular, não apenas pelo estado emocional e psíquico que causa ao pacien-
te, mas também pensando na preservação do globo ocular com a finalidade de
manter o máximo de movimento. Portanto, atualmente, os cirurgiões removem
todo o globo ocular apenas em extrema necessidade, preferindo mantê-lo ainda
que atrofiado.

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Prótese Ocular de Recobrimento


ou (Concha em Calotas)
Indicada em casos nos quais a perda ocular não é total ou nas atrofias oculares;
a esclera é confeccionada de acordo com a cor do olho sadio do paciente, quando
há perda do globo ocular, e nas atrofias pode ser confeccionada em resina inco-
lor, pois, mesmo com a atrofia, se observa uma esclera preservada dispensando a
­caracterização. A mobilidade é superior a uma prótese ocular total, pois acompanha
o movimento do olho atrofiado.

Prótese Ocular parte anterior (concha), disponível em: https://bit.ly/3nb1h6a


Prótese Ocular l posterior (concha), disponível em: https://bit.ly/3le4O37

Vantagens das próteses oculares de recobrimento


confeccionadas com resina incolor sobre as caracterizadas
• Menor tempo para a confecção;
• Não há necessidade de caracterização, pois conta com a realidade do paciente,
quando se encontra preservado;
• Não sofre alterações na coloração com o tempo de uso;
• Não sofre irritações, pois não é utilizada, em sua confecção, pigmentação;
• A prótese é bem natural, pois permite, pela transparência, visualizar as altera-
ções da esclera, até mesmo no simples ato de chorar;
• Permite ao paciente maior controle da prótese.

Prótese ocular oca


Feita em resina acrílica, exibe maior amplitude que a prótese maciça, oferecendo
o conforto devido à leveza da prótese, não causando deformidade na região anoftál-
mica. Devido à leveza da prótese, há pouca possibilidade de se deslocar para baixo,
evitando a ptose da pálpebra inferior; já no que diz respeito à estética, a prótese oca
se mantém na posição normal, ou seja, no mesmo nível do olho sadio do paciente.
A prótese bem adaptada impede o lacrimejamento, a irritação na cavidade anoftál-
mica por meio da formação de muco e da constante contaminação.

Prótese Ocular Oca parte anterior e posterior, disponível em: https://bit.ly/2IlRlHW

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Vantagens das próteses oculares ocas em relação às próteses maciças
• Relação peso e espessura quanto ao tamanho da cavidade anoftálmica; quanto
maior a cavidade, maior será o tamanho e a espessura entre as próteses;
• Sendo a prótese oca mais leve, é menor a possibilidade de deslocamento para a
pálpebra inferior, evitando uma ptose;
• Pela leveza, esteticamente, a prótese oca mantém o alinhamento, posicionando-
-se alinhada ao olho sadio;
• Mantém o contato com o coto muscular, melhorando, consequentemente,
a movimentação;
• Evita o lacrimejamento (epífora) constante;
• A boa adaptação evita irritações, formação de muco e contaminações.

Prótese ocular de reembasamento


Prótese em resina acrílica. Esta técnica visa melhorar a prótese recém-produzida,
em uso por algum tempo, ou até mesmo realizar o procedimento para a reposição.
Consiste em usar a prótese de uso do paciente como molde.

Próteses confeccionadas a partir de um molde, disponível em: https://bit.ly/3phiw83

Prótese ocular de contato


Prótese em resina acrílica incolor indicada em casos de perda da visão com atrofia
do globo ocular, diminuição do diâmetro da íris, sem alterações na coloração da íris
e da esclera. Embora seja muito rara a procura por esse tipo de prótese, o resultado
é muito bom, pois devolve o tamanho normal da íris, restaura o contorno palpebral
sofrido pela atrofia, e a motilidade do globo ocular atrofiado com o uso da prótese
assemelha-se muito ao do olho sadio. Na literatura especializada não há muitos regis-
tros de procura dessas próteses, por acharem que, para esse tipo de correção, não
existe serviço especializado e que pode ser camuflado pelo uso de óculos.

Prótese Ocular de Contato, disponível em: https://bit.ly/35e9twI

Prótese com caixa de prova


Nessa técnica usa-se uma caixa de prova de prótese ocular, para que se teste no
indivíduo a que melhor se adapta na cavidade. Após a adaptação, são feitos os ajus-
tes finais; caso a prótese da caixa de prova não esteja na caracterização adequada
com o olho sadio, servirá para o procedimento de reembasamento.

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Figura 2 – Caixa de prova de prótese ocular


Fonte: Getty Images

Prótese Oculopalpebral
Diferentemente das demais, essa prótese oculopalpebral (bléfaro ocular) é uma
prótese externa feita em materiais diferenciados, como silicone e resinas, e tem como
finalidade restaurar a face, substituindo as pálpebras. Indica-se essa prótese na im-
possibilidade da reconstrução da pálpebra e quando são perdas totais.

Prótese Ocular Óculo Palpebral, disponível em: https://bit.ly/32v0aXd


Caracterização da Prótese Óculo Palpebral, disponível em: https://bit.ly/3pfsnLg
O antes e o depois da adaptação da prótese óculo palpebral.
Disponível em: https://bit.ly/35dYi6X
Prótese Óculo Pálpebral, disponível em: https://bit.ly/3eJgcBN

Anamnese, Avaliação (Física) e Medidas


para Confecção da Prótese Ocular
A anamnese busca extrair cuidadosamente o máximo de informações clínicas
pregressas e atuais do paciente.

Inicialmente, anotam-se dados pessoais como: nome, idade, sexo, endereço e tele-
fone; em seguida, prossegue-se com as principais informações que dizem respeito às

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lesões, etiologia da lesão, se já foi removido o globo ocular, a causa (acidental, pato-
lógica ou congênita), tempo da perda, tipo de cirurgia usada na remoção (enucleação,
evisceração ou exenteração), se foi necessária intervenção plástica. É importante,
­ainda, registrar o estado geral do paciente, bem como se a cavidade orbitária se en-
contra em condições de receber a prótese, o estado psíquico frente à perda, se revol-
tado, sensível, triste, consciente etc. E outras informações que se fizerem necessárias
como as demais, para que se iniciem os trabalhos.

Munidos das informações necessárias, partimos para o exame físico, no qual se


observam as condições da cavidade quanto a infecções, tonicidade das pálpebras, as
condições de secreção e drenagem da lágrima.

Frente a uma cavidade em condições de receber a prótese ocular, iniciamos as


observações quanto à cor da íris e da esclera, medida da íris (DHVI), fenda palpebral,
os detalhes, como sinais e caracterização dos vasos. Todas essas informações são
anexadas à ficha do paciente, juntamente com fotos, se necessário, para realização
da pintura da íris, caso esta não seja realizada com a presença do paciente.

Avaliação da cavidade orbitária, disponível em: https://bit.ly/2GMB9iI


Avaliação para as medidas, disponível em: https://bit.ly/3eLvMN9

Aspectos Psicológicos Relacionados


aos Portadores de Lesões Oculares
O ser humano procura, dentro de suas possibilidades, manter-se sempre em um
estado de equilíbrio, tudo que possa levá-lo a sair desse equilíbrio, temporária ou
permanentemente, pode gerar consequências relevantes ou não. Torna-se difícil ima-
ginar quando esse desequilíbrio se apresenta de ordem física.

Qualquer perda faz com que o indivíduo se sinta desamparado, ainda mais quando­
a perda é visível a todos.

A perda da visão, não menos que qualquer outra, interfere por completo na vida
do ser humano, pois a visão é um dos órgãos responsáveis por manter esse equi-
líbrio, uma vez que, por meio da face (rosto), juntamente com outros órgãos que a
compõem, o indivíduo se expressa das mais variadas formas, como: triste, alegre,
surpreso, zangado e outros. A face, com o complemento dos demais órgãos, como a
visão, que a compõem, possibilita ao indivíduo comunicar-se com o mundo.

Perder um órgão que contribui para que o ser humano expresse quase todos os
sentimentos é sentir-se totalmente em luto, sofrido, desamparado do seu próprio eu,
pois ali se foi também sua comunicação com o mundo, que, por muitas vezes, é a
única quando se trata de um indivíduo tímido. As perdas não param por aí, temos

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também o isolamento do mundo, da família, baixa autoestima, levando, muitas vezes,


a distúrbios mentais, pois a impossibilidade de adentrar ao mundo se faz presente.

Nesse momento, é de extrema importância uma ajuda profissional juntamente


com a família, pois a finalidade é resgatar a identidade do paciente, reintegrando-o
à sociedade; os olhos atuam de forma total na psicodinâmica do indivíduo no rela-
cionamento humano.

O profissional (psicólogo) irá ajudá-lo a entender o problema e, mais do que isso,


a como prosseguir em sua nova fase, mostrando novas possibilidades, a evolução em
cada etapa, apoiando e orientando a família, pois o processo será cercado de altos e
baixos, mas tudo terá sempre como foco a recuperação do paciente.

Por meio da atuação do psicólogo, que também pode orientar quanto ao manu-
seio e treinamento do paciente com a prótese ocular, o indivíduo consegue reaver
não apenas a função estética, como também promover a sustentação da tonicidade
muscular, proteger a cavidade contra detritos e poeiras, impedir atrofia das pálpe-
bras, manter a função lacrimal, promover a autoestima e o convívio em seu meio,
reintegrando-o à sociedade, pois os olhos atuam de forma total na psicodinâmica do
indivíduo no relacionamento humano.

Sobre as lesões oculares, vemos avançar estudos diariamente. Cabe ao profis-


sional saber trabalhar de forma interdisciplinar para que o indivíduo sinta-se capaz
de se reintegrar em seu meio, evoluindo a cada dia, pois a finalidade da prótese é
o resgate do indivíduo em seu próprio eu e a promoção da interação com o mundo
que o cerca.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Prótese bucomaxilofacial
REZENDE, J. R. V. Prótese ocular. ln: REZENDE, J. R. V. et al. Prótese
bucomaxilofacial. São Paulo: Sarvier, 1986. p. 31- 40.

 Vídeos
Enucleação devido a glaucoma crônico
Enucleação e evisceração são cirurgias para remover o olho, geralmente, em casos
de acidente grave, olho cego doloroso ou tumor ocular. O vídeo apresenta a cirurgia
de enucleação, na qual o globo ocular é removido, sendo preservado os músculos
que movem o olho.
https://youtu.be/TF_hhK-RlSY
Evisceration Eye Surgery – Vision Eye Centre
Nesse vídeo, a cirurgia a ser demonstrada será a evisceração que remove o
conteúdo do globo ocular preservando a esclera ou o branco do olho, a conjuntiva,
os músculos que movem o olho e todas as outras estruturas da órbita. Para repor o
volume perdido, o implante orbitário deve ser colocado cirurgicamente.
https://youtu.be/tu6IU3Ra3eM

 Leitura
Imagem corporal em indivíduos amputados
ALBUQUERQUE, L.; FALKENBACH, A. P. Imagem corporal em indivíduos am-
putados. Artigo Revista digital Efdeportes, Buenos Aires, v. 131, p. 1-2, abr. 2009.
https://bit.ly/3kcLJNx
Reintegração corporal em pacientes amputados e a dor-fantasma
BENEDETTO, K. M. de; FORGIONE, M. C. R.; ALVES, V. L. R. Reintegração
corporal em pacientes amputados e a dor-fantasma. Artigo Revista ACTA
Fisiatrica. São Paulo, v. 2, n. 9, p. 85-89, 27/09/2002.
https://bit.ly/35dTpuN

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Referências
FONSECA, E. P. da et al. Prótese Ocular. São Paulo: Panamed Editorial, 1987.

MORONI, P. et al. Reabilitação buco-facial: cirurgia e prótese. São Paulo: Panamed­,


1982.

REZENDE, J. R. V. de. Fundamentos da prótese buco maxilo facial. São Paulo:


Sarvier, 1997.

MARCKS, K. M.; ZUGGSMITH, G. S. Plastic repair of deformities of the


­socket and minor defects about the orbit. Arch. Ophthal., 36:55-69, july 1946.

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