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Universidade do Contestado-UNC

Curso: Optmometria

Disciplina: Exames especiais

Alunas: Amanda B. Martins; Killani Grosskopf, Kissila Paes e Maira Sehn

EXAME ESPECIAL DE BIOMETRIA

Canoinhas, 5 de junho de 2023


EXAME ESPECIAL DE BIOMETRIA

Segundo Allemann; Monteiro (2001), a biometria ocular é um procedimento


que utiliza técnicas de medição para obter informações precisas sobre a curvatura
da córnea e o comprimento axial do olho humano. A curvatura da córnea refere-se à
curvatura da parte frontal e transparente do olho, assim como, o comprimento axial
é a medida do eixo do olho desde a córnea até a retina.

Esses parâmetros são importantes para a avaliação da refração ocular, ou


seja, a capacidade do olho focalizar a luz corretamente na retina, auxiliando no
diagnóstico de condições como o astigmatismo, hipermetropia e miopia. É um
exame frequentemente utilizado como parte de exames pré-operatórios para
cirurgias refrativas, como a cirurgia a laser, ou utilizado para calcular o poder de
lentes intraoculares a serem implantadas durante cirurgias de catarata, tumores,
atrofia e lesões em geral. Possibilitando que o profissional personalize o tratamento
de acordo com as características individuais de cada paciente.

Durante a avaliação é usado um equipamento conhecido como biômetro ou


biômetro óptico, o paciente ficará posicionado em frente ao aparelho e uma série de
feixes de luz ou ondas sonoras direcionada aos olhos. Através da interação
luminosa ou sonora com as estruturas oculares, o biômetro é capaz de calcular a
curvatura corneal e o comprimento axial do olho.

Conforme Poderoso (2011), a biometria ocular é um exame rápido, indolor e


não invasivo, além de não requisitar nenhum preparo especial antes da realização
do mesmo, com exceção para aqueles pacientes que utilizam lentes de contato
neste caso recomenda-se retirá-las com três dias de antecedência. Existem vários
tipos de equipamentos utilizados, cada um deles tem suas vantagens e é escolhido
com base nas necessidades específicas de cada paciente e pelas preferências do
examinador. Os principais tipos de biometria são:
 BIÔMETRO ÓPTICO DE IMAGEM PARCIAL (PCI): utiliza a interferometria
de coerência parcial para medir o comprimento axial do olho, podendo medir
também a profundidades da câmara anterior e as curvas ceratométricas. Ele
emite um feixe de luz infravermelha que incide sobre a superfície anterior da
córnea e sobre o epitélio pigmentado da retina, eliminando a influência dos
movimentos longitudinais do olho. Como o paciente mantém o olhar fixo a
uma mira, a mensuração é realizada até a área macular através do tempo
que leva para o sinal refletido retornar. Segundo o artigo “Biometria Óptica”
de Eliana Louza Monteiro e Norma Allemann, publicado em 2006, é o tipo
que possui maior precisão na mensuração do comprimento axial,
principalmente em olhos com miopia extrema portadores de estafilomas e
olhos preenchidos por substâncias substitutas do corpo vítreo. Além de
possuir um índice que mensura a qualidade da medida tomada, denomidado
SNR (signal-to-noise-ratio), que torna o exame impossível se o índice for
menor que 1,6, resultado duvidoso quando estiver entre 1,6 e 2,0 e confiável
se estiver acima de 2,0. O texto ainda permite compreender como é feita as
outras duas aferições: a curvatura corneana é determinada pela medida das
distâncias entre as imagens da luz refletida sobre a superfície da córnea,
semelhante ao ceratômetro convencional. A profundidade da câmara anterior
é determinada pela distância entre o cristalino e a córnea através de uma
fenda de luz lateral. Sua principal vantagem é o conforto para o examinador e
paciente, as medidas são realizadas sem o contato direto no olho evitando
lesões corneanas, contaminações e elimina a aplanação inadvertida da
superfície da córnea que poderia alterar a determinação do comprimento
axial e consequentemente o resultado refracional. Por outro lado, necessita
da colaboração do paciente se tornando difícil em pacientes pouco
colaborativos, como crianças, pacientes com retardo neuro-psico-motor ou
pouco colaborativos, de pacientes com baixa acuidade visual devido a
problemas vítreos-retinianos, ambliopia ou em pacientes com nistagmo ou
estrabismo.

 BIÔMETRO DE INTERFEROMETRIA DE COERÊNCIA ÓPTICA (OCT):


utiliza a técnica da interferometria de coerência óptica para medir a curvatura
corneal e o comprimento axial. O OCT é capaz de produzir imagens em alta
resolução das estruturas oculares, permitindo uma avaliação detalhada a
partir da emissão de um feixe de luz infravermelha de baixa coerência. Parte
dessa luz é refletida pelas estruturas do globo ocular, enquanto outra parte é
dispersa ou absorvida. O sistema registra o tempo de atraso e a intensidade
dos feixes refletidos e gera imagens de alta resolução das camadas internas
do olho.

 BIÔMETRO DE IMERSÃO: nesse caso o paciente mergulha o olho em um


meio líquido, geralmente em água, enquanto o exame é realizado. Esse
processo ajuda a criar um ambiente óptico uniforme e facilita a precisa
medição, pois o líquido atua como um meio de indexação. É particularmente
útil em situações em que há irregularidades na superfície corneana, como em
córneas com cicatrizes, pós-cirúrgicas ou em pacientes com doenças
corneanas específicas.

 BIÔMETRO DE ULTRASSOM: conforme o artigo “BIOMETRIA


ULTRASSONOGRÁFICA BIDIMENSIONAL EM TEMPO REAL DE BULBO
OCULAR DE GATOS DOMÉSTICOS” essa é uma técnica utilizada em
exames de olhos humanos desde 1850, utilizando ondas sonoras de alta
frequência para medir o comprimento axial do olho. O som é propagado
através de um cristal cerâmico chamado piezoelétrico, com frequências que
variam de 2 a 10 milhões de ciclos por segundos (CARTEE et al., 1993),
relacionando a frequência a estrutura a ser observada. A imagem é formada
por ecos que são decodificados por meio de um aparelho computadorizado.
Esses ecos são refletidos por objetos sólidos e interfaces entre tecidos, os
quais possuem impedâncias acústicas diferentes (MILLER & CARTEE,
1985). O texto ainda traz a informação que existem dois tipos principais de
procedimentos ultrassonográficos: o unidimensional e o bidimensional em
tempo real. E recentemente, tem se utilizado imagens tridimensionais que
permitem maior precisão. O transdutor de ultrassom, é colocado em contato
com a superfície externa do olho geralmente com a ajuda de um gel de
acoplamento, emite as ondas sonoras e registra a intensidade e o tempo que
leva para o sinal refletido retornar, a partir do qual o comprimento axial é
calculado. É particularmente útil em situações em que há opacidades
corneanas, como cicatrizes ou edema, que podem afetar a medição óptica.
Entretanto, requer contato direto com o olho, o que pode causar desconforto
em alguns pacientes e necessita maiores cuidados na aplicação. Se destaca
principalmente em olhos com cataratas mais densas ou em pacientes que
não colaboram à fixação.

Em geral, a biometria ocular segue um passo a passo semelhante, que pode


variar ligeiramente dependendo do tipo de biômetro utilizado e do objetivo específico
do exame. Podemos resumir ligeiramente como:

1. Preparação do paciente: o paciente é posicionado de forma adequada para


o exame, sentado ou deitado em uma posição confortável. É importante garantir que
o paciente esteja relaxado e confortável durante todo o processo para que haja
colaboração e precisão.

2. Explicação do procedimento: o profissional de saúde responsável pelo


exame explica ao paciente o que será realizado, fornecendo informações sobre o
propósito do exame, os equipamentos utilizados e o que o paciente pode esperar
durante a realização.

3. Medição da refração ocular: em alguns casos pode ser necessário medir a


refração ocular para determinar a correção óptica adequada. Isso é feito utilizando-
se um equipamento chamado refrator ou auto refrator, no qual o paciente olha
através de uma série de lentes e o equipamento calcula o grau de correção
necessário.

4. Preparação do equipamento: o equipamento específico de biometria ocular


escolhido deve ser preparado e configurado de acordo com as necessidades do
exame. Isso pode envolver a calibração do equipamento, ajuste de parâmetros e
preparação de sondas ou transdutores.

5. Realização do exame: o exame propriamente dito é realizado. Isso pode


incluir diferentes etapas, dependendo do tipo de biômetro utilizado. Por exemplo, em
biômetros ópticos de imagem parcial (PCI) ou de interferometria de coerência óptica
(OCT), o paciente fixa o olhar em um ponto específico enquanto o feixe de luz é
direcionado para o olho. No caso do biômetro de imersão, o olho do paciente é
suavemente mergulhado em um meio líquido, como já explicado acima. Durante o
exame, são realizadas as medições necessárias, como a obtenção do comprimento
axial, a avaliação da curvatura corneana ou outras medidas específicas dependendo
do objetivo do exame.

6. Avaliação e interpretação dos resultados: Os resultados obtidos durante o


exame são avaliados e interpretados pelo profissional de saúde. Esses resultados
são utilizados para auxiliar no diagnóstico, planejamento cirúrgico ou para monitorar
a saúde ocular do paciente ao longo do tempo. É importante destacar que cada tipo
de biometria ocular pode ter suas particularidades e variações no passo a passo.
Portanto, é sempre necessário seguir as instruções específicas do profissional de
saúde responsável pelo exame.

Com bases nesses dados e para complementar com um caso clínico sobre
biometria, através de pesquisas, encontramos o artigo intitulado “Biometria no
crescimento do olho de alta miopia na infância, publicado nos Arquivos Brasileiros
de Oftalmologia em 2013. O estudo foi realizado no Setor de Ultrassonografia
Ocular do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo, a
partir de uma amostra de 11 olhos de crianças, com idades entre5 e 12 anos, todas
portadoras de altas miopias. O objetivo da pesquisa foi determinar se o crescimento
do globo ocular é significante nesta população pediátrica, assim como avaliar a
espessura do cristalino, profundidade da câmara anterior, curvatura corneana e
achados fundoscópicos durante o acompanhamento em um período de nove meses.

O artigo relaciona o comprimento axial do globo ocular com a faixa etária em


crianças normais, relatando que os achados na literatura divergem quanto às
medidas de comprimento axial pelos métodos óptico e ultrassônico e por conta do
primeiro possuir maior reprodutibilidade sugere-se que seja utilizado como padrão
para avaliar as medidas.

Como método utilizou-se o seguinte padrão: o comprimento axial dos olhos


foi avaliado através de biômetros ópticos e ultrassônico, a refração foi realizada em
todos os casos sob o uso de ciclopégicos utilizando auto-refrator para estática e
refratômetro para a avaliação subjetiva, a acuidade visual foi tomada com a tabela
de Snellen, a retinografia foi realizada com retinógrafos Topcon e as ceratometrias
com a utilização de ceratômetros manuais. Para facilitar a análise de todos os
dados, os pesquisadores utilizaram sistemas e estabeleceram correlações
estatísticas.

Após a realização de todos as avaliações foi possível concluir que o


crescimento dos olhos foi estatisticamente significante, com um aumento do erro
refrativo superior a –0,50 D em cinco dos onze olhos examinados. Comparando as
avaliações ao final do período, observou-se um crescimento médio de 0,17mm no
tipo óptica e 0,22mm na ultrassônica. A espessura do cristalino, a profundidade da
câmara anterior e a ceratometria média não apresentaram alterações significativas,
assim como não teve alterações fundoscópicas em nenhum dos onze olhos.

Com a análise de todos esses dados, também fornecidos em gráficos e


tabelas que estão disponibilizados a seguir, os autores da pesquisa concluíram que
o crescimento do globo ocular foi estatisticamente significante mesmo que no curto
espaço de tempo, sugerindo que esse é o principal fator responsável pelas
variações refracionais nesta amostra.
O artigo "Biometria Ultrassonográfica Bidimensional em Tempo Real de Bulbo
Ocular de Gatos Domésticos" apresenta uma técnica inovadora para a avaliação da
saúde ocular de felinos. A biometria ultrassonográfica bidimensional em tempo real
permite a medição do diâmetro axial e da espessura da retina, além de outras
estruturas oculares, de forma segura e eficaz.

A pesquisa foi realizada em gatos domésticos, uma espécie de animal que


muitas vezes sofre com problemas oftalmológicos como catarata, glaucoma, entre
outros. A biometria ultrassonográfica bidimensional em tempo real se mostrou capaz
de proporcionar informações precisas sobre o estado das estruturas oculares
desses animais, permitindo um diagnóstico mais rápido e preciso.

Além disso, a técnica utilizada no estudo apresenta vantagens como a


ausência de radiação ionizante, o que torna o exame mais seguro tanto para os
animais quanto para os profissionais que o realizam. A biometria ultrassonográfica
bidimensional em tempo real também é uma alternativa mais acessível
financeiramente em comparação com outras técnicas de diagnóstico ocular.

Em resumo, o estudo apresentado no artigo demonstra a eficácia da


biometria ultrassonográfica bidimensional em tempo real como uma ferramenta de
diagnóstico ocular em gatos domésticos. A técnica pode ajudar os médicos
veterinários a identificar problemas oftalmológicos de forma mais precoce e precisa,
melhorando assim a qualidade de vida dos animais.

O artigo "Espessura Corneana Central e Suas Correlações com Outros


Dados Biométricos Oculares em Pacientes com Glaucoma Congênito" aborda a
relação entre a espessura corneana central (ECC) e outras medidas biométricas
oculares em pacientes diagnosticados com glaucoma congênito. O glaucoma
congênito é uma doença ocular rara que se manifesta desde o nascimento ou nos
primeiros anos de vida, resultando em danos progressivos no nervo óptico e perda
gradual da visão.

A pesquisa é baseada em um estudo observacional realizado em um grupo


de pacientes com glaucoma congênito, com o objetivo de analisar a associação
entre a ECC e outras características oculares importantes, como pressão intraocular
(PIO), comprimento axial (CA) e espessura do disco óptico (EDO). A ECC é uma
medida crítica que afeta a precisão da tonometria e a interpretação dos valores de
PIO, enquanto o CA e a EDO são fatores que podem influenciar a progressão do
glaucoma.

Os pesquisadores coletaram dados de uma amostra de pacientes com


glaucoma congênito, medindo a ECC usando paquimetria ultrassônica, bem como
obtendo informações sobre a PIO, CA e EDO. Os resultados foram analisados
estatisticamente para identificar quaisquer correlações significativas entre essas
variáveis.

Os resultados do estudo revelaram uma correlação positiva significativa entre


a ECC e a PIO, indicando que pacientes com uma ECC mais espessa tendiam a ter
uma PIO mais elevada. Além disso, houve uma correlação negativa significativa
entre a ECC e o CA, sugerindo que uma ECC mais fina estava associada a um CA
maior. No entanto, não foi encontrada uma correlação significativa entre a ECC e a
EDO.

Esses achados destacam a importância da medição precisa da ECC em


pacientes com glaucoma congênito, uma vez que ela pode influenciar a
interpretação da PIO, um fator crucial no diagnóstico e monitoramento da doença.
Além disso, a associação entre a ECC e o CA ressalta a necessidade de considerar
a espessura corneana ao avaliar a progressão do glaucoma e planejar intervenções
terapêuticas.

Embora o estudo forneça insights valiosos sobre as correlações entre a ECC


e outras medidas biométricas oculares em pacientes com glaucoma congênito, é
importante notar algumas limitações. A pesquisa foi baseada em uma amostra
relativamente pequena de pacientes, o que pode limitar a generalização dos
resultados para a população em geral. Além disso, o estudo se concentrou
principalmente em correlações, não estabelecendo uma relação causal direta entre
a ECC e as características oculares analisadas.

Em resumo, o artigo aborda a importância da espessura corneana central


como um fator que influencia a pressão intraocular e o comprimento axial em
pacientes com glaucoma congênito. Esses achados ressaltam a necessidade de
considerar a medição da ECC ao avaliar e gerenciará pacientes com essa condição.
Futuras pesquisas e estudos com uma amostra maior e abrangendo outras variáveis
podem fornecer mais informações sobre a relação entre a ECC e outros dados
biométricos oculares, auxiliando no aprimoramento do diagnóstico e tratamento do
glaucoma congênito.
REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Ferreira Gentil et al. Biometria Ultrassonagáfica Bidimensional


em tempo real do globo ocular de cães. Ciência Rural, V.30, n 3.
https://www.scielo.br/j/cr/a/XqBHyQQ999ZTmkTWJWXswLB/?format=pdf&lang=pt

MENDES, Henrique Márcio et al. Espessura corneana e suas correlações com


outros dados biométricos oculares em pacientes portadores de glaucomas
congênito. Arq Bras Oftalmol. 2011; 74(2):85-7.
https://www.scielo.br/j/abo/a/X3zLGT6KbngSMFGVfzVf7xf/?lang=pt&format=html

MONTEIRO, E. L., & ALLEMANN, N. Biometria óptica. Arquivos Brasileiros De


Oftalmologia, 2001. 64(4), 367–370. https://doi.org/10.1590/S0004-
27492001000400018

SÁNCHEZ, C. J. O Essencial em Biometria – Uma resposta apropriada para cada


caso - 2ª Ed. 2013 Caballero.

PODEROSO, Evangelista Rosana. Manual de processos de trabalho da


oftalmologia. 1 edição. Unicamp, Campinas- SP, 2011.

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