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Adaptação de Lentes em Casos Especiais

Conteudista: Prof.ª Adriana Diniz


Revisão Textual: Aline Gonçalves
Revisão Técnica: Prof.ª Alice Zaramella

Objetivos da Unidade:

Auxiliar com casos excepcionais da contatologia, lembrando que é totalmente


possível fazer a correção visual em crianças, operados de miopia e presbitas.

ʪ Material Teórico

ʪ Material Complementar

ʪ Referências

QUESTION B AN KS
TEMA 1 de 3

ʪ Material Teórico

Princípios da Ceratometria e Topogra a Corneana


O optometrista que adapta lentes de contato precisa conhecer não somente os tecidos
oculares e os materiais de LC, mas a geometria da córnea na qual a lente se apoiará.

Figura 1
Fonte: Getty Images

A curvatura anterior da córnea não é absolutamente esférica, ela é mais curvada na área
central e, à medida que nos aproximamos da periferia, ela diminui a curvatura.

O ceratômetro persiste como o instrumento mais frequentemente utilizado para análise da


curvatura corneana, sendo usado até os dias atuais.
Figura 2 – Ceratômetro da Bausch-Lomb
Fonte: Divulgação

Em determinadas córneas onde normalmente aferimos astigmatismos muito irregulares, é


necessário girar o “canhão” do ceratômetro para conseguir aferir os meridianos e obter a
ceratometria correta. Após o alinhamento e a focalização das imagens, caso os sinais não
estejam alinhados, veri que o eixo do astigmatismo por meio da rotação do ceratômetro, até
que os sinais (+) dos dois círculos inferiores estejam no mesmo plano, conforme ilustrado na
Figura a seguir:
Figura 3 – Alinhamento do eixo horizontal com a rotação
do ceratômetro
Fonte: Adaptada de MOREIRA, 2007, p. 21

O mecanismo de funcionamento do ceratômetro pode ser explicado pelo fato de o tamanho da


imagem determinar a curvatura corneana. Assim, quanto menor for o tamanho do círculo
re etido, mais curva será a córnea e vice-versa.

A ceratometria afere a curvatura da área central anterior da córnea em dois meridianos


primários, perpendiculares entre si, um vertical e outro horizontal. O meridiano mais plano
está sempre localizado 90° distante do meridiano mais curvo. Essas medidas são expressas
em dioptrias ou milímetros de raio, e geralmente anotamos a medida mais plana em primeiro
lugar, que é o parâmetro mais importante para adaptação.

Exemplo: Horizontal = 45,00 D a 180° Vertical = 46,00 D a 90°.

A diferença no poder dióptrico entre os dois meridianos (horizontal e vertical) é a quantidade


de astigmatismo corneano presente. No astigmatismo a favor da regra, o poder no meridiano
vertical é maior do que no meridiano horizontal. No astigmatismo contra a regra, o poder no
meridiano horizontal é maior do que no meridiano vertical.
Figura 4
Fonte: Getty Images

A ceratometria é um método preciso para a medida do contorno corneano, porém ela fornece
dados limitados a uma área central aproximada de 3 mm. Como alguns portadores de
ceratocone, por exemplo, apresentam medidas muito curvas, podem estar além das aferições
proporcionadas pelo ceratômetro. Nessas ocasiões, para auxílio do pro ssional, contamos
com a topogra a corneal que afere, em média, dependendo do aparelho, quase a total
extensão da córnea.

Nos casos de ceratocone incipiente, a distorção das miras na ceratometria tem mais
importância do que os seus valores numéricos. Nesses casos, indicamos o exame de
topogra a para melhor determinar um diagnóstico de possível ceratocone, degeneração
marginal ou algum astigmatismo irregular, pois os dados obtidos com a ceratometria se
tornam de pouca utilidade.
Figura 5 – Topógrafo demonstrando assimetria corneana
Fonte: Reprodução

Com a melhoria dos aparelhos tecnológicos ao nosso dispor, a possibilidade de análises


quantitativas da topogra a da córnea com auxílio de instrumentos computadorizados virou
realidade desde a década de 1990, e hoje em dia as imagens são processadas com precisão, o
que facilitou a aferição de córneas irregulares e, consequentemente, o trabalho do pro ssional
adaptador, inclusive no acompanhamento da progressão do ceratocone e no diagnóstico de
ceratocones incipientes.

A topogra a é útil para acompanhar a progressão do ceratocone e para diagnóstico de


ceratocones incipientes. Os dados topográ cos são apresentados como um mapa de cores
fáceis de interpretar visualmente na maioria dos casos. Os diferentes valores dióptricos da
córnea são atribuídos a uma cor especí ca (código de cores), as cores chamadas de frio (azul
e azul claro) representam zonas de menor poder dióptrico; cores quentes (vermelho e laranja)
representam áreas de maior potência. Os encontrados na porção média do espectro (verde e
amarelo) pertencem a áreas com raios de curvatura médios.

Em casos de difícil adaptação, como são os de ceratocone ou após ceratotomia radial e


cirurgias refrativas atuais, a adaptação de lentes de contato antes do topógrafo cava limitada
às técnicas de tentativa e erro.
A topogra a oferece um importante recurso de avaliação em córneas proladas, em que a
curvatura central é maior que a periférica, e nas obladas, cuja curvatura central é menor que a
periférica, como pode ocorrer após cirurgias refrativas.

Dentre todas as vantagens de adaptação com o uso do topógrafo corneal, existe a


possibilidade de obtermos mapas diferenciais que auxiliam no estudo e no controle de
alterações em pacientes com redução de acuidade visual devido à deformação corneal induzida
por lente de contato. Alterações topográ cas podem ocorrer secundariamente ao uso de
lentes de contato duras ou gelatinosas, chamamos de “corneal warpage”. Esta complicação
pode ocorrer quando a lente de contato interfere nas atividades siológicas normais da córnea
ou por forças mecânicas resultantes da pressão exercida pelas pálpebras sobre as lentes e
transferida para a córnea. Algumas alterações oculares que são desenvolvidas por lentes de
contato com superfície imperfeita, com depósitos, deformadas e com prazo de validade
vencido são mais bem avaliadas com a topogra a corneal de controle.

Adaptação de Lentes na Presbiopia


Na atualidade, as pessoas que apresentam a presbiopia estão mais ativas pro ssionalmente e
muitas não querem os óculos como método de correção visual. A adaptação de lente de
contato em presbita pode exigir mais tempo, porém podemos obter sucesso com a seleção dos
usuários adequados.

As lentes podem ser gelatinosas ou rígidas, porém o maior universo no mercado atual, em se
tratando de lentes multifocais, ainda é o das lentes hidrofílicas.

A correção da presbiopia com lentes de contato pode ser:

LC para correção de longe e óculos com complemento da visão de perto (OC com
AD);

Compensação Refrativa: em que adaptamos um par de lentes com grau levemente


mais fraco que o necessário em míopes e mais forte em hipermetropes. Esta
técnica é bem aceita em jovens presbitas;
Técnica de Monovisão: na qual adaptamos o olho dominante com lentemonofocal
(esférica ou tórica) para longe, e, no olho não dominante, acorreção monofocal
para perto. Esta técnica pode ser melhorada como auxílio da sobrerrefração, em
que mediamos a dioptria para que não descompense a estereopsia do usuário.

Na técnica da monovisão modi cada, nós podemos corrigir o olho dominante para longe com
lente monofocal, e o olho não dominante com lente bifocal ou multifocal, e vice-versa.

Monovisão
A técnica de monovisão como correção visual foi criada pelo oftalmologista Dr. Westsmith, em
1959, e na verdade é um nome inadequado, porque apesar de o paciente car com a visão
central do olho corrigido para perto parcialmente turva, ele tem boa visão periférica,
conservando uma binocularidade importante. Com ambos os olhos, o usuário, geralmente,
tem boa acuidade visual para longe e perto, uma estereopsia aceitável e um melhor campo de
visão do que com os óculos.

É preciso uma anamnese apurada, principalmente em relação aos hábitos e à pro ssão, e
compreender como isto afeta a visão de perto. Avaliar refração, dominância, rima e tônus
palpebral, ceratometria e lme lacrimal é fundamental, além de muitos casos nos quais ela
não proporcionará a mesma qualidade de visão que os óculos. Não são bons candidatos os
pacientes amblíopes e com anormalidades no segmento anterior. Os emetropes, em geral,
também não são, mas como “cada caso é um caso”, às vezes nos surpreendemos pela
motivação do usuário.

Muitos pro ssionais se preocupam com a perda da estereopsia provocada pela anisometropia
que afeta a visão binocular, e muito provavelmente este seja o motivo de muitos usuários não
se adaptarem bem ao método. Na monovisão, corrigimos o olho dominante para longe e o não
dominante para perto, mas existem usuários que relatam distúrbios em sua sensação de
profundidade; nestes casos, o pro ssional adaptador poderá fazer pequenos ajustes com
auxílio da sobrerrefração.
Bifocais/Multifocais
Os desenhos existentes nas lentes RGP podem ser com visão alternante ou concêntrica:

Figura 6 – Desenho de lentes


Fonte: Reprodução

Adaptação de Lentes em Crianças


A adaptação de lentes de contato em crianças é uma área com muitas dúvidas e di culdades.
Existe a di culdade em se lidar com crianças (as perdas de lentes são maiores), as limitações
do exame oftalmológico e a necessidade da ajuda dos pais.
Figura 7 – Criança manuseando lente
Fonte: Getty Images
A correção óptica na infância é feita preferencialmente com óculos, pois estes não requerem
cuidados especiais, são cômodos para os familiares e geralmente bem aceitos pelas crianças.
Entretanto, existem condições nas quais só as lentes de contato conseguem melhorar a
acuidade visual ou possibilitar a visão binocular. As principais indicações para uso de LC em
crianças são: afacia, anisometropia, astigmatismo irregular (decorrente, frequentemente, de
traumas corneanos), alta miopia, alta hipermetropia, ceratocone, aniridia, albinismo,
subluxação do cristalino (ou ectopia lentis) e alguns casos de ambliopia e nistagmo. A escolha
da lente pode ser feita entre rígidas ou gelatinosas, dependendo de cada caso.

Figura 8 – Criança usando LC RGP com boa AV em AO


Fonte: Adaptada de doi.org

A técnica de adaptação dependerá da idade da criança e da lente a ser usada. Quando não é
possível obter a ceratometria, podemos utilizar o método da tentativa e erro com o uso de
várias lentes de teste até que se conclua qual a melhor para aquele caso. Adaptações muito
planas ou muito apertadas devem ser evitadas; alguns autores apertam a lente até que
apareçam algumas bolhas, e fazem o pedido de 0,50 ou 1,0 dioptria mais plana do que a lente
testada.

Um cuidado especial deve ser tomado com a sobrerrefração, pois a dioptria da criança muda
rapidamente na infância. Além disso, é comum adicionar ao grau nal da lente valores entre +
1,00 e + 3,00 dioptrias para favorecer a visão de perto, já que o universo dessas crianças é
muito próximo. Em casos de afacia monocular, o ideal é manter tratamento junto a um
pro ssional especializado em Ortóptica, a m de evitar a ambliopia que é muito comum
nesses casos.

As lentes podem ser indicadas para casos com:

Afacia: quando a criança portadora de catarata congênita é submetida a cirurgia de


catarata, é necessária uma pronta correção óptica para evitar a visão subnormal ou
a ambliopia. O prognóstico visual dessas crianças é muito afetado quando não são
operadas até o 4º mês de vida. Nas afacias monoculares, utilizar lentes de contato
é a melhor opção, já que o uso de óculos é, a princípio, contraindicado devido à
aniseiconia gerada pela anisometropia;

Anisometropia: a diferença de dioptrias de um olho para outro pode ocasionara


ambliopia se não detectada a tempo. A correção óptica mais indicada dependerá
principalmente do tipo de anisometropia;

Alta Miopia Bilateral: neste caso, os pacientes se bene ciam do uso das LC, pois
elas aumentam a imagem retiniana, o que melhora a AV, também eliminando os
efeitos prismáticos e as aberrações dos óculos;

Ambliopia de Desuso: os pacientes amblíopes por estrabismo ou anisometropia


necessitam de oclusão para recuperação visual, e muitas crianças não toleram bem
os óculos com lentes opaci cadas ou oclusores adaptados às lentes dos óculos.
Nesses casos, podemos usar as lentes ltrantes com pupilas pretas, que
obstruirão a visão do olho a ser ocluído. As lentes ltrantestambém podem ser
usadas em casos de leucomas ou para diminuir a fotofobia nos casos de albinismo
ou aniridia;

Astigmatismo Irregular ou Ceratocone: as crianças com córneas irregulares ou


ceratocone podem apresentar melhora visual com lentes RGP, onde serão
neutralizadas as imperfeições corneanas, melhorando a AV;

Abrasão Corneana ou Pós-operatório: as crianças têm a mesma indicação que os


adultos no uso de lentes terapêuticas: em casos nos quais é necessário reepitelizar
a córnea por alguma abrasão ou erosão recorrente, no pós-operatório em que há
pontos não sepultados, ou para proteger a córnea, quando existirem deformidades
palpebrais ou problemas de lubri cação;

Nistagmo: a lente é indicada na presença de grande nistagmo, em que os óculos


podem proporcionar visão de ciente, porque o eixo visual está somente
intermitentemente alinhado com o centro ótico da lente, induzindo a distorções e
efeitos prismáticos. A LC se movimentará com o eixo visual, reduzindo esses
efeitos.

Ortoqueratologia
A técnica da Ortoqueratologia (Orto K) é um método não cirúrgico para melhorara visão. O
objetivo é a redução ou eliminação do poder refrativo pelo uso de lentes de contato RGP de
geometria inversa, durante o sono, promovendo um Warpage programado. Este é um processo
executado há mais de 50 anos, porém somente com o advento de novos materiais e desenhos
que esta técnica se encontra realmente em evidência, inclusive como método de controle da
miopia.

Apesar de o FDA (Food and Drug Administration) ter aprovado a Orto K como uso diurno em
1994, só foi aceita como uso noturno em 2002. Em 2000, durante Congresso Educativo para
Optometristas em Toronto, foi formada a Academia Americana de Ortoqueratologia, que tem
por objetivo apoiar e promover informações cientí cas sobre a Orto K, e, a partir de 2007, um
estudo conseguiu provar diferença estatisticamente signi cativa em crianças de Hong Kong,
que não exibiram alteração na prescrição geral de suas miopias no uso desta técnica.

Tabela 1 – Magnitude da Refração em Função da Idade, de acordo com Rose eld

Criança míope até 6 anos Terá crescimento da miopia até


14 anos
Criança hipermetrope Permanecerá hipermetrope após
superior e +1.50 até 6 anos 14 anos

Criança hipermetrope entre


Provável emetrope aos 14 anos
+0.50 e +1.25

Seguramente se tornará míope


Criança emetrope até +0.50
aos 14 anos

Fonte: Adaptada de upcommons.upc.edu

Cientistas comprovaram, por meio de estudos, que o olho, quando em estado de acomodação,
sofre compressão prolongada, que produz alongamento da câmara vítrea, de maneira a
aumentar a longitude axial do globo, incrementando a miopia. Outro motivo para o
crescimento da miopia é que nos óculos a correção da imagem está optimizada para fóvea,
sendo a retina periférica prejudicada com a formação de imagens hipermetropicamente
desfocadas, o que contribui, também, para o crescimento axial do globo.

Como a miopia é uma condição que está associada a várias outras patologias, como: glaucoma,
catarata, descolamento de retina, neovascularização coroideia e degeneração macular miópica,
consideramos hoje em dia que ela seja a principal causa da perda visual para longe, afetando
quase 30% da população mundial.
Figura 9
Fonte: Getty Images

A Orto K usa lente com curva reversa, que cria um gradiente de pressão negativo sob as lentes,
permitindo movimento de uido intracelular e de células epiteliais para remodelamento
corneano. Ocorre um aplanamento central baseado nas forças hidráulicas do lme lacrimal e
da força palpebral exercida sobre a geometria da lente durante o sono. O volume do epitélio
não se altera, porém ocorre deslocamento de uido celular da área central para área para
central.

A ortoqueratologia é alternativa atrativa não somente para controle de miopia, como também
para os usuários de lentes RGP, em função da ausência de ciscos durante o uso diurno, porém
é importante uma seleção criteriosa dos candidatos para ter sucesso na adaptação. Muito se
tem alterado nos achados bibliográ cos em relação à faixa etária para o início da adaptação
em crianças, e o que era tido como ideal aos 12 anos, já é considerado usual a partir dos
primeiros anos de vida. A indicação dióptrica é de -6.00 esférico com -1.75 cilíndrico, mas há
casos bem-sucedidos de -10.00 dioptrias esféricas.

A loso a de adaptação da ortoqueratologia é baseada na altura sagital ideal para remodelar a


córnea, e hoje em dia existem alguns fabricantes com diversos desenhos especiais de lentes
que contêm as mais variadas técnicas de estabilização à escolha do pro ssional adaptador.

Figura 10
Fonte: Getty Images

É imprescindível que o pro ssional explique que essa adaptação é dinâmica e que a córnea
pode reagir diferentemente do esperado quando o assunto é remodelação, podendo o usuário
ter que realizar mais visitas de controle do que o esperado inicialmente.

Figura 11 – Áreas de toque para alinhamento periférico e


padrão uoresceínico na Orto K
Fonte: Reprodução

Adaptação de Lentes em Pós-cirurgias


As adaptações de lentes pós-cirurgias são tidas como especiais dentro da contatologia, em
função da alteração estrutural da córnea, o que di culta a estabilidade das lentes no olho.

Abordaremos quais os melhores tipos de lentes de contato para as cirurgias refrativas e as


ceratoplastias penetrantes, que são aos transplantes de córnea.

Cirurgias Refrativas
As alterações corneais provocadas pelas primeiras cirurgias refrativas foram completamente
diferentes das técnicas de cirurgia atuais. A ceratotomia radial (CR) não é mais utilizada, pois
suas complicações muitas vezes inviabilizavam os pacientes de uma correção visual com
óculos e, nestes casos, a LC era a única opção de melhorar a visão. Não se sabe ao certo se as
alterações ectásicas ou o aparecimento de ceratocone após essas cirurgias foram em função
de condição predisponente do paciente ou resultante da espessura corneal pós-cirurgia que
sucumbiu à pressão intraocular, porém essas complicações foram decisivas para a sua
suspensão.
Figura 12 – Incisões provenientes de ceratotomia radial
Fonte: GHANEM; GHANEM; KARA-JOSÉ, 2010

A adaptação de LC pós-RK é um desa o para a maioria dos pro ssionais porque, além dos
problemas técnicos em relação aos desenhos disponíveis para adaptação dessas lentes, a
hiperplasia na margem da ferida, que interfere na arquitetura normal do estroma, eleva o grau
de di culdade na adaptação. Essas córneas são mais suscetíveis à neovascularização
(inviabilizando o uso de lentes gelatinosas), aerosões epiteliais e às infecções. Com
frequência, as incisões violam a integridade endotelial, aumentando ainda mais a importância
de adaptar uma LC que permita boa oxigenação da córnea. Com o m da ceratotomia radial,
surgiram novas técnicas cirúrgicas usadas para correção de vícios de refração que utilizam o
excimer laser, são as cirurgias fotorrefrativas, que incluem a PRK (Photorefractive Keratectomy) e
o LASIK (Laser in Situ Keratomileusis).
As complicações ópticas mais encontradas pós-cirurgia eram: hipocorreção, hipercorreção e
astigmatismo induzido (regular ou irregular), que podem resultar em anisometropia e
consequente aniseiconia; nesses casos, o efeito prismático ocasionado pela correção com OC
não ocorre com as LC. Deslumbramentos (glare), brilhos e halos com pouca luminosidade em
função do aumento da pupila invadir a área dos cortes. O astigmatismo irregular é provocado
por diferenças na cicatrização das várias incisões.

Segundo Anderson et al. (2004), por meio de estudo que envolveu testes laboratoriais e
análises matemáticas para determinar as propriedades e a topogra a do material da córnea,
existem fatores além da genética que in uenciam no equilíbrio da dinâmica corneana; os
fatores extracorneanos são: a pressão intraocular e atmosférica, tensão exercida pelas
pálpebras e pelos músculos extraoculares, além da tensão exercida pelo músculo ciliare
trauma. Já os fatores intracorneanos são o entrecruzamento, a densidade, a distribuição e
orientação das bras de colágeno (lamelas), a espessura e a hidratação estromal e o seu
controle pelo endotélio. A pressão intraocular é fator de importância, pois exerce força
contínua na face interna da córnea. Existem relatos mais recentes que sugerem aumento da
pressão intraocular relacionado com o desenvolvimento de ectasia após LASIK.

A sugestão de adaptação de lentes de contato para RK não incluem as gelatinosas por risco de
infecções e neovascularização, porém, em se tratando das cirurgias a laser, as hidrofílicas
podem ser inseridas quando não se alcança resultado satisfatório com as RGP. As LC RGP de
curva secundária inversa raramente são necessárias para adaptar pós-PRK porque a passagem
da zona operada para a córnea normal não é abrupta. As principais opções de LC pós-cirurgia
são: RGP de alta permeabilidade aos gases; Sistema Piggyback ou a cavaleiro; Híbridas (tipo
Softperm); RGP com desenhos de curvas reversas ou asféricas de grande diâmetro. A loso a
de adaptação pode variar dependendo da conduta clínica que o pro ssional se sentir mais à
vontade, porém as caixas de prova com desenho especiais são muito importantes para um
sucesso nessa adaptação delicada.

Cirurgia de Transplante
A adaptação de lentes de contato pós-transplante de córnea está incluída nas adaptações
especiais, e por ser mais trabalhosa, requer caixas de provas com desenhos de lentes
especiais, além de muita prática por parte do pro ssional adaptador.
Figura 14
Fonte: Getty Images

O procedimento em si frequentemente pode causar defeitos refrativos, como altos graus de


astigmatismo, irregularidade ou anisometropia, que podem di cultar a restauração de uma
visão satisfatória, fazendo com que aproximadamente 10% a 30% dos pacientes submetidos à
ceratoplastia penetrante necessitem de lentes de contato para obtenção de uma boa visão.
Esta porcentagem é ainda maior quando a doença que determinou a cirurgia é o ceratocone,
possivelmente porque essas córneas, antes do transplante, já apresentam grande
deformidade.

Figura 15 – Ceratoplastia de Córnea


Fonte: Reprodução

Com a evolução das técnicas de transplante, mais cirurgias lamelares são realizadas em todo o
mundo e a segurança desse procedimento tem aumentado.

A técnica da cirurgia lamelar tem mostrado menos complicações, uma vez que a integridade
do globo do paciente é preservada. A primeira opção após a cirurgia é o uso de óculos,
considerando o risco maior de complicações com as lentes de contato. Porém as lentes são
indicações importantes em astigmatismos irregulares ou quando a visão é ruim com óculos.

Os critérios de adaptação se assemelham aos do paciente pós-cirurgias refrativas. As


hidrofílicas podem ser usadas nos casos de córneas mais regulares ou de intolerância pelas
lentes rígidas, entretanto, a possibilidade de ocorrer edema de córnea e neovascularização é
mais alta, por isso devem ser evitadas. As mais indicadas são as RGP de alto DK, com
diâmetros maiores para facilitar a centragem. É aceitável que a lente que em posição
ligeiramente superior ou inferior, nasal ou temporal, em decorrência do astigmatismo corneal.

Figura 16
Fonte: Getty Images

Não existe regra de nida, e nesses casos a topogra a corneana é ferramenta útil, porém
fornecerá apenas os parâmetros da primeira lente a ser testada, e o padrão uoresceínico
determinará a melhor escolha. A distribuição de uoresceína nessas adaptações não tem
padrão de nido. O importante é que não haja toque excessivo, nem retenção de lágrima sob a
lente de contato. O pro ssional deve centrar a lente o máximo que a situação permitir e dispor
de lente que proporcione boa acuidade visual ao usuário. Nesses casos, não se pode ser muito
exigente quanto ao padrão da adaptação, pois, muitas vezes, as córneas são deformadas e as
di culdades são maiores do que se trabalhar com olhos que nunca foram submetidos a
procedimentos cirúrgicos.

Em se tratando de LC, as alterações endoteliais podem ocorrer como efeito deletério,


principalmente de usuários que não seguem as orientações do pro ssional. Córneas utilizadas
em transplante apresentam perda “natural” de células endoteliais com a cirurgia (até 8%,
aproximadamente), não sendo incomuns os pleomor smose polimegatismos. Sendo assim, é
muito importante e prudente prevenir a hipóxia crônica nesses usuários de lentes de contato
com auxílio de avaliação médica para quanti car as células endoteliais a intervalos regulares.

A adaptação de lentes esclerais modernas ainda é um método relativamente novo, porém tem
sido proveitosa em casos especiais, o que a torna uma modalidade com alto potencial. Alguns
anos atrás, em todo o mundo, só alguns adaptadores especializados eram capazes de adaptar
lentes esclerais com sucesso, e só alguns fabricantes as produziam. Atualmente, muitos
fabricantes de lentes de contato têm desenhos de lentes esclerais ou semiesclerais, e a
melhora no processo de fabricação permitiu a criação de novos desenhos a custo menor com
materiais de alto DK. Apesar de existirem lentes esclerais para essas córneas e por estarmos
engatinhando nesta área, ainda não se tem muito material publicado a respeito, mas
esperamos que em breve essa realidade mude e que essas lentes também possam levar os
benefícios para as córneas tão necessitadas de desenhos para essa nalidade especí ca.
Figura 17 – Lente escleral em córnea transplantada
Fonte: Reprodução

Em Síntese
Nesta unidade, você pôde aprender que é muito importante que o
pro ssional tenha caixas de provas com desenhos variados para que
possa atender a diversidade das córneas após as cirurgias ou os casos
especiais da contatologia.
TEMA 2 de 3

ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta


Unidade:

Leitura

Técnicas para Facilitar o Diagnóstico da Topogra a da


Córnea in Vivo

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ACESSE

Validade da Topogra a de Córnea na Cirurgia Refrativa com


Excimer Laser

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ACESSE
Novos Conceitos em Modelamento Corneano

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ACESSE

Adaptação de Lentes de Contato na Presbiopia Monovisão

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ACESSE

Lentes de Contato: Adaptação de Lentes de Contato em Bebê

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ACESSE

Uso da Topogra a de Córnea na Adaptação de Lente de


Contato Rígida Gás-permeável em Pacientes Portadores de
Ceratocone: Descrição de Técnica e Resultados Preliminares

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ACESSE
Fibrose Subepitelial Pós-hidrópsia Aguda Induzida por
Ceratotomia Radial

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ACESSE
TEMA 3 de 3

ʪ Referências

ALMEIDA, H.; KARA-JUNIOR, N. Análise Crítica das Diferentes Fontes de Dados sobre
Transplante de Córnea no Brasil. 2018. Disponível em:
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