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CERATOCONE

ANATOMIA
Podemos dividir o olho humano em Segmento Anterior, composto
pelo primeiro terço mais superficial do olho, e o Segmento
Posterior, que diz respeito ao terço mais interno do olho. No
Segmento Anterior, encontram-se as seguintes estruturas:

• Córnea

• Íris

• Corpos Ciliares

• Cristalino

Dentro do Segmento Anterior também temos duas câmaras


repletas de líquido: a Câmara Anterior (entre a Córnea e a Íris) e a
Câmara Posterior (entre a Íris e a face anterior do Vítreo).
ECTASIAS CORNEANAS
Doenças que cursam com afinamento e protusão corneana. Elas podem
ser divididas em 3 grupos:
• Ceratocone.
• Degeneração Marginal Pelúcida.
• Ceratoglobo.
CERATOCONE
• Doença progressiva, na qual a córnea assume uma forma cônica,
secundária ao afinamento de seu estroma.
• Geralmente se manifesta durante a infância ou puberdade,
acometendo ambos os olhos de forma assimétrica.
• História familiar: fator de risco importante.
• Associação com doenças sistêmicas: Síndrome de Down, Turner,
Ehlers-Danlos , Marfan e Osteogênese imperfeita.
• Associação com desordens oculares: ceratoconjuntivite vernal, esclera
azul, aniridia, amaurose congênita de Leber e retinose pigmentar.
FISIOPATOLOGIA
O ceratocone é reconhecido
como doença multifatorial
com componentes
bioquímicos, biomecânicos,
genéticos e ambientais
envolvidos.
Apresentação Clínica
• Anamnese
Quadro clínico: Diminuição da visão progressiva e necessidade
de troca mais frequente dos óculos. Quando ocorre hidropsia
corneana aguda, pode haver lacrimejamento, fotofobia, olho
vermelho e dor, além de diminuição aguda da visão.

• Os principais sintomas do ceratocone são:


• –Troca frequente do grau dos óculos.
• –Visão de halos noturnos.
• –Fotofobia ou aversão à luz do sol
• –Maior fadiga visual nas atividades online
• –Coceira, vermelhidão e olho seco
• A falta de acompanhamento médico faz com que no Brasil o
ceratocone responsa por 7 em cada 10 transplantes de córnea.  O
problema é que o ceratocone pode ser confundido com
astigmatismo.”Os sintomas similares fazem muitos pacientes
chegarem ao consultório usando óculos para astigmatismo, mas na
reavaliação oftalmológica são diagnosticados com ceratocone, porque
os sintomas são similares”
Fatores de risco
• Coçar os olhos;
• História familiar de ceratocone;
• A alergia/atopia tem grande maioria dos estudos
demonstrando associação, com prevalência de 11
a 30%;
• Um estudo recente envolvendo a análise de 2051
casos de ceratocone identificou associação entre
ceratocone e tireoidite de Hashimoto;
• A incidência de IgE elevada foi de 52 a 59%;
• Estudos indicam que o ceratocone possa ter
relação com múltiplas doenças imunomediadas, o
que corrobora para a ideia de que a resposta
inflamatória sistêmica possa influenciar na doença.
Abordagem Diagnóstica
• Histórico: Avaliar se há mudança frequente no grau dos óculos, se o paciente tem
prurido ocular, alergias, histórico familiar de ectasia corneana, cirurgia refrativa
prévia e há quanto tempo tem diminuição da visão.
• Biomicroscopia sob lâmpada de fenda: Avaliar se há abaulamento e afinamento
corneano visíveis, anel de Fleischer e estrias de Vogt.
• Refração objetiva com retinoscópio: Procurar reflexo em tesoura ou em gota de óleo.
Abordagem Diagnóstica
• Topografia corneana e tomografia corneana: Podem ser usadas para avaliar tipo e regularidade do
astigmatismo, e se existe aumento de curvatura e localização. Sabe-se, porém, que a tomografia de
córnea é a melhor estratégia para diagnóstico precoce e acompanhamento desses pacientes, uma vez
que analisa não somente a córnea anterior mas também a curvatura e elevação da córnea posterior,
além de gerar um mapa paquimétrico.
• Tomografia de Córnea utiliza o equipamento Pentacam Oculyzer. Esse aparelho
mede por varredura cerca de 25 mil pontos diferentes na Córnea, faz a Paquimetria
da Córnea (medição de sua espessura em todas as regiões) e avalia a curvatura
interna da Córnea.
Acompanhamento
• Deve ser acompanhado a cada 3-12 meses, dependendo da
progressão. Em pacientes grávidas e crianças, a progressão da ectasia
pode ser acelerada.
Acompanhamento
• Nos casos de hidropsia aguda, examinar a cada 1-4 semanas,
dependendo do quadro até a resolução (que pode demorar meses).
TRATAMENTO
Objetivo: reabilitação visual e ou controle da progressão da ectasia
• Casos leves: correção satisfatória da ametropia —> óculos
• Com o avanço da doença: acuidade visual pode ser corrigida —>
lentes de contato
• A cirurgia deve ser considerada para evitar a progressão
• Enquanto o transplante de córnea seria no passado o único
procedimento cirúrgico para tto, há atualmente técnicas alternativas
como implantes de segmentos de anel intracorneanos, com
crosslinking e a ceratectomia fotoo-terapêutica (PTK).
LENTES DE CONTATO
• A maioria dos casos podem ser gerenciados conservadoramente por
um longo período de tempo.
• As lentes de córnea rígidas permeáveis a gás são as mais usadas.
• Sua estrutura rígida —> que as lágrimas se cometem atrás da lente —
> uma esférica no plano córnea.
• Neutraliza a irregularidade da córnea
• Em pacientes que a cicatriz é irregular ou elevada, o desgaste rígido
das lentes de contato a gás pode se tornar intolerável —> lentes
híbridas ou lentes esclerais.
• Observou-se acuidade visual com óculos boa em 10,4%; acuidade
visual satisfatória 50,3%; acuidade visual baixa em 29,7% e AV
muito baixa em 9,5%.
• Após a adaptação das lentes, apenas 0,3% se manteve com AV
muito baixa e 7,36 se mantiveram com AV baixa. Os olhos com AV
satisfatória ou boa somaram um percentual de 92,3% dos casos.
• Em uma série, a principal razão do fracasso do tto com lentes de
contato que resultou na necessidade de ceratoplastia foi acuidade
visual inadequada (43%), seguida de intolerância às lentes de
contato (32%), deslocamento frequente das lentes (17%) e
adelgaçamento periférico (12%)
DISCUSSÃO
• Adaptação de lentes de contato rígidas é a principal opção de
reabilitação visual quando os óculos não proporcionam mais uma AV
satisfatória
• As aberrações de ordem superior ou o astigmatismo irregular não
podem ser corrigidas com óculos
• A indicação de procedimento cirúrgico deve ser reservado apenas
para os casos de insucesso nas adaptações de lente de contato
CONCLUSÃO: adaptação de lente de contato mostrou-se eficaz em
proporcionar importante melhora da AV, sendo muito importante sua
prática e domínio pelo médico oftalmologista.
ANEL INTRAESTROMAL
• Há diferentes tipos de segmentos de anel instraestromal corneano
(ICRS), de vários tamanhos e espessuras de arcos variáveis.
• O anel de Ferrara, caracteriza-se por ser uma órtese que possui 2
segmentos semicirculares com arcos de vários comprimentos (90°,
120°, 140°, 150°, 160°, 180°, 210° e 32°) e uma secção triangular fixa:
AFR (base de 0,60mm, zona óptica de 5,0mm) e AFR6 (base de
0,80mm, zona óptica de 6,0mm).
• Feitos de PMMA com filtro de luz azul natural.
• Cada segmento possui um orifício de 0,20mm em cada extremidade
para facilitar sua implantação.
DISCUSSÃO:
Se tratando de benefícios da implantação de ICRS, situam-se:
• Uniformização da superfície da córnea
• Melhor tolerância a lente de contato
• Resultado em uma melhor qualidade visual
• Maior conforto do paciente
• Achatamento central da córnea
• Redução da magnitude do astigmatismo
Vantagens do anel de Ferrara:
• Melhora na AV pós cirúrgica
• Rapidez na recuperação pós procedimento
• Melhora ceratométrica, come edição das distorções topográficas corneanas
• Não apresenta rejeição
• Baixo risco de apresentar complicações
Foi realizado um estudo clínico transversal, em que foram
coletados dados do pré e pós OPE de pacientes diagnosticados
com ceratocone, o quais foram submetidos a implante de anel
intracorneano.
• Comparou-se a eficácia de 2 modelos de anel especificamente
em sua capacidade de reduzir a curvatura corneana.
• Grupo A, com seguimento de arco longo (300°-320° de arco) e
espessura de 250u: e grupo B, com 2 segmentos de arco
tradicional (155°ou 160°) e espessura de 250u.
RESULTADOS:
• A média da AVC no pré OPE: 20/59 no grupo e 20/102 no grupo B
• No pós OPE a medida da AVC: 20/30 no grupo A e 20/45 no grupo B
Pode-se concluir que o segmento de arco longo possui maior
capacidade de redução da ceratocometria média do que o uso de 2
segmentos de arco tradicional

Em relação a educação da redução do astigmatismo corneano, os 2


grupos apresentaram resultados similares.
CROSSLINKING
• Método cirúrgico com uso de riboflavina – UVA —> enrijecimento das
fibras de colágeno na córnea diminuindo sua mudança estrutural e
retardando a progressão da doença
• Padrão ouro
• Atua fortalecendo as ligações entre as fibras do colágeno do estroma
da córnea danificada, assim através da utilização de um
fotossensibilizador de riboflavina (Vit B12) com a radiação de luz UV é
aplicada no paciente gerando uma reação química que leva a uma
rigidez e aumenta a resistência biomecânica da córnea
CONCLUSÃO: conclui-se que o crosslinking é uma técnica
cirúrgica efetiva do tto do ceratocone comprovada através
de várias pesquisas e estudos sobre doenças da córnea
associadas ao ceratocone.
CONClUSÃO: observou-se que a AVSC, AVCC e o
astigmatismo apresentaram melhora significativa já no
primeiro mês, mantendo-se estável até o 6° mês.

A menor espessura corneana observada mantém-se


constante no pré e pós OPE.

Não ouve alteração significativa nos parâmetros


ceratométricos entre o período pré OPE e a avaliação
em 6 meses.

Os resultados do estudo revelaram que a técnica


epitelio-on de crosslinking foi segura e estatisticamente
eficaz no tto e estagnação da doença em pacientes com
ceratocone em progressão.
CERATOPLASTIA
• Aproximadamente 10-15% dos pacientes com ceratocone exigirão
ceratoplastia.
• Ceratoplastia penetrante é o procedimento mais utilizado
• Esse procedimento tem uma taxa de sucesso superior a 90% em
pacientes com ceratocone
• Estudos relataram AV 20/40 ou melhora em 80-90% dos pacientes
• Desses pacientes, 15% obtém essa AV sem correção, 40% com correção
de óculos e 26% com lente de contato
• A rejeição do enxerto foi relatada em 20-35% dos casos nos primeiros 12
meses após a cirurgia e está associada a suturas soltas e traumas.
Doença progressiva e avançada em que a correção visual não mais
pode ser atingida com óculos, lentes de contato, anel intraestromal e o
afinamento da córnea se torna excessivo, o TC se torna necessário.

O TC é classificado:
• Autólogo (córnea doada e olho receptor do mesmo indivíduo);
• Alógeno (córnea transportada entre indivíduos da mesma espécie);
TÉCNICA CIRÚRGICA:
• Lamelar (quando parte da espessura da córnea é substituída)
• Penetrante (substituição completa do tecido) e porção transplantada
• Parcial (quando há transferência de parte do diâmetro)
• Total (quando todo o diâmetro é utilizado)

COMPLICAÇÕES: rejeição do enxerto, danos intraocular, astigmatismo pós OPE


e recidiva do ceratocone.
Após o transplante, pode precisar usar correção visual por causa de erro
refrativo residual.
• Jacinto Santodomingo-Rubido, Gonzalo Carracedo, Asaki Suzaki,
Cesar Villa-Collar, Stephen J. Vincent, James S. Wolffsohn,
Keratoconus: An updated review, Contact Lens and Anterior Eye,
2022.

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