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Lentes de Contato Rígidas

Conteudista: Prof.ª Adriana Diniz


Revisão Textual: Aline Gonçalves
Revisão Técnica: Prof.ª Alice Zaramella

Objetivo da Unidade:

Entender mais a fundo as camadas da córnea, suas atividades metabólicas e na


interação entre a lente de contato e a fisiologia ocular.

ʪ Contextualização

ʪ Material Teórico

ʪ Material Complementar

ʪ Referências

QUESTION B AN KS
TEMA 1 de 4

ʪ Contextualização

Não é raro o desinteresse de optometristas e técnicos em adaptar lentes de contato e


contatologia. Isso deve, provavelmente, a um olhar equivocado. Pense comigo: mesmo que o
profissional não se interesse sobre o assunto, é inegável que se deparará com inúmeros
usuários de lente de contato no dia a dia – além de clientes interessados em lentes de contato,
bem como outros com complicações ou alterações provenientes do seu uso.

O cotidiano da profissão requer que o optometrista esteja preparado para orientar corretamente
o paciente diante de certas complicações, sendo necessário as vezes encaminhá-lo aos devidos
profissionais (contatólogo ou oftalmologista).Geralmente, porém, as questões são mais
simplórias: “Poderei usar lentes de contato?”, “Minha dioptria é corrigível com lentes de
contato?”, “Ceratocone cega?”.

De modo geral, o profissional deve entender que mesmo não havendo interesse na área, é de sua
responsabilidade e competência o seu preparo ( técnico ) e o encaminhamento devido do
paciente.

Grosso modo, lentes de contato podem ser usadas por pessoas com olhos sadios e que tenham
motivação para o uso. Na prática não é simples assim. Exige-se uma avaliação criteriosa e
indagações específicas, com o objetivo de definir qual lente indicar e o tempo de uso possível.

Dados de 2000 estimavam que, no Brasil, 1.700.000 das pessoas eram usuárias de lentes de
contato. Porém, pesquisa na Unicamp demonstra que 50% dos adultos até 39 anos precisam de
correção visual – essa faixa etária é justamente a predominante entre os usuários de lentes de
contato no país. Significa isto que, mais de 54.000.000 pessoas podem ser futuras usuárias de
LC.
Outras pesquisas apontam que, entre os usuários de óculos, aproximadamente 41% relatam
inclinação ao uso de lentes de contato. Entre os usuários de LC é raro a inclinação ao uso de
óculos. Sendo assim, o potencial de mercado é extremamente significativo, em contrapartida, o
número de óticas especializadas nessa área é irrisório.

Existe um campo pouco explorado na contatologia pelos profissionais da classe e que vai além
do serviço funcional e básico da ametropia do paciente. Talvez seja a função de reabilitação visual
que mais enaltece a nossa profissão como contatólogo, haja visto que não raro óculos não
atinge a razoável acuidade visual. São pacientes portadores de ceratocone, astigmatismos
irregulares provocados por cirurgias corneais e pacientes com a presença de determinada
patologia para a qual somente as lentes de contato são indicadas para a correção visual.

Nosso objetivo aqui será instigar você a se tornar o contatólogo necessário para vida do
optometrista, que se torne um estudioso dessa arte, demonstrando as maravilhas que as lentes
podem realizar na melhoria visual de seus pacientes.

Bons estudos!
TEMA 2 de 4

ʪ Material Teórico

Considerações Fisiológicas do Metabolismo Corneano


com uso de Lentes de Contato
Existe interação entre lente de contato e córnea, alterando os processos fisiológicos naturais
deste tecido e, para boa adaptação, é necessário conhecer esse processo reativo.

A lente de contato, portanto, age como barreira ao oxigênio, acumulando produtos entre a
córnea e a lente. Quando não é bem higienizada e desinfetada será um grande vetor de bactérias
e germes, não raro produzindo reações alérgicas devido aos agentes químicos usados na
assepsia.

Para o sucesso na adaptação é importante indicar a melhor lente para cada paciente, reconhecer
possíveis alterações e estar ciente da individualidade dos casos.

Figura 1 Figura 2 Figura 3


Fonte: Reprodução Fonte: Reprodução Fonte: Reprodução
Fisiologia Corneana
A córnea humana faz parte da túnica fibrosa do olho. Ela não é uniformemente esférica,
centralmente é mais curva que em sua periferia. A córnea humana adulta mede de 11 a 12 mm na
horizontal e de 9 a 11 mm na vertical. Tem aproximadamente 500 μm de espessura em sua
porção central, que gradativamente aumenta em direção à periferia, onde apresenta cerca de 700
μm de espessura.

A formação da córnea se dá por fibras de colágeno dispostas em lâminas paralelas, e as camadas


que necessitam de maior quantidade de oxigênio para manter seu metabolismo são o epitélio e o
endotélio. O primeiro recebe oxigênio do ar atmosférico depositado na lágrima, que é
posteriormente enviado aos capilares do limbo, e o segundo recebe O2 do humor aquoso.

A córnea, segundo a maioria das literaturas publicadas antes de 2013, tem divisão morfológica de
apenas cinco camadas, porém, com a descoberta realizada pelo cientista e médico Dr.
Harminder Singh Dua, a córnea pode ser dividida em seis camadas distintas:
Figura 4 – Camadas da Córnea
Fonte: Reprodução
Epitélio
As células do epitélio corneano têm alta demanda em sua atividade mitótica e é caracterizada por
sua alta função regenerativa, com seu “turnover” ocorrendo a cada sete dias, tendo total
renovação do seu epitélio basal. Na região limbar, encontram-se suas células-tronco, que em
sua divisão celular dão origem às células basais. À medida que elas se dividem, ocorre migração
da periferia para o centro, e quando envelhecem descamam, dando lugar a uma nova célula. O
epitélio corneano é não queratinizado, é escamoso, estratificado, constituído por quatro a seis
camadasde células. Da espessura corneana total, cerca de 10% correspondem ao epitélio.
Morfologicamente, podemos dividi-lo em três categorias: células basais (profunda),
intermediárias (aladas) e superficiais (escamosa).

Figura 5 – Epitélio superficial e filme lacrimal


Fonte: Reprodução

As células intermediárias estão intimamente entrelaçadas e unem as camadas mais superficiais


às profundas. As células basais (mais profundas) são colunares com citoplasma que contém
grande quantidade de grânulos de glicogênio, o que representa uma reserva energética, que
pode ser usada, quando necessário, na cicatrização epitelial de um trauma corneano.

É interessante ressaltar que a fisiologia corneana em um usuário de lentes de contato é diferente


se comparada aos não usuários, pois a córnea de quem faz uso de lentes requer um tempo maior
no “turnover” das células epiteliais. Desta forma, o epitélio fica com células superficiais maiores
quando comparadas às do epitélio de uma pessoa que não usa lentes de contato.

Essa camada possui numerosas terminações nervosas livres que explicam sua sensibilidade
dolorosa, porém a presença da lente de contato diminui a sensibilidade corneana por processo
reversível.

Camada de Bowman
Esta camada tem espessura muito fina e é considerada uma condensação do estroma, formada
por pequenas fibras de colágeno e mucopolissacarídeos. Não tem capacidade de regeneração,
como o epitélio, e um trauma pode acarretar cicatriz permanente.

Estroma
O estroma corneano constitui cerca de 90 por cento da espessura corneana total e a sua
característica principal é a disposição lamelar de fibras de colágeno. Caracteriza-se por possuir
muitos ceratócitos que podem transformar-se em fibroblastos para reparação do tecido, pós-
traumatismos perfurantes ou edema persistente, porém este processo é danoso para a acuidade
visual, visto que decorrerá um leucoma cicatricial que poderá variar com a extensão e a
localização devido ao processo. Também podem ocorrer neovasos intraestromais por causa da
hipóxiacrônica naqueles que fazem uso contínuo das lentes de contato.

Camada de Dua
Esta camada, tão recentemente descoberta em 2013 pelo médico Dr. Harminder Singh Dua,
ainda não configura em nossos livros de fisiologia ocular. Situa-se entre o estroma corneano e a
membrana de Descemet, e, assim como ela, tem espessura muito fina. Segundo os
pesquisadores, a descoberta terá grande impacto sobre o avanço da compreensão de uma série
de doenças da córnea, incluindo a hidropsia aguda e distrofias da camada de Descemet. A
descoberta ajudará os cirurgiões a melhorarem as cirurgias e os transplantes de córnea, com
melhores resultados para os pacientes submetidos a esses procedimentos.

Camada de Descemet
É uma camada elástica e muito resistente a traumas, formada por filamentos de colágenos
consideravelmente finos. À medida que passam os anos, sua espessura aumenta à custa de sua
porção posterior.

Endotélio
A última camada da córnea atua contra as forças que tendem a introduzir água no estroma
corneano, mantendo a hidratação em níveis normais. A ausência dessa regulação por períodos
prolongados pode ocasionar perda de transparência da córnea. Suas principais funções são
habilidade de transporte de nutrientes do humor aquoso e a manutenção do estado de
turgescência para transparência da córnea. Ela apresenta importante função de manter a
transparência e espessura corneal por dois mecanismos: barreira e bomba endotelial.

A forma hexagonal das células produz um padrão mosaico, que pode ser observado à
microscopia especular.
Figura 6 – Média de células na córnea por idade
Fonte: Reprodução

Tabela 1

Idade Média Cel/mm2

10 – 19 2.900 – 3.500
Idade Média Cel/mm2

20 – 29 2.600 – 3.400

30 – 39 2.400 – 3.200

40 – 49 2.300 – 3.100

50 – 59 2.100 – 2.900

60 – 69 2.000 – 2.800

70 – 79 1.800 – 2.600

80 – 89 1.500 – 2.300

Suas células não se regeneram, e quando uma célula morre, as vizinhas aumentam de tamanho,
preenchendo o espaço deixado pela célula morta. Elas reagem com deslizamento, reagrupando e
se hipertrofiando. A ausência da densidade ocular pode comprometer a transparência da córnea
e levar a edema.

A avaliação e o estudo do endotélio corneal são realizados pela biomicroscopiana lâmpada de


fenda, paquimetria (mede a espessura da córnea) e microscopia especular, cada uma tem sua
indicação e modalidade na prática clínica. A paquimetria da córnea mostra de modo indireto a
função endotelial, porque esta reflete o estado de sua deturgescência. Sabemos que a média da
espessura corneal é de 500 μm, porém a paquimetria pode variar de acordo com o momento do
dia. Paciente com córnea sadia, ao acordar, pode apresentar espessura da córnea levemente
maior do que ao longo do dia. Isto ocorre porque, ao fechar a pálpebra, há perda do efeito de
evaporação e diminuição da atividade do metabolismo endotelial.
O desenvolvimento da microscopia especular facilitou a avaliação da variação da vitalidade
endotelial com a idade, após cirurgias intraoculares e nos usuários de lentes de contato,
promovendo grande avanço no estudo morfológico do endotélio. Esse monitoramento biológico
é importante, pois a córnea é uma estrutura anatômica com características de lente biológica e
transparente, esta característica tem relação intrínseca com suas células endoteliais.

Fisiologia do Filme Lacrimal


O filme lacrimal, com suas propriedades de lubrificação e nutrição, ajuda a regularizar a
superfície anterior da córnea com suas microvilosidades, melhorando as imperfeições que
podem provocar os pequenos astigmatismos.

Para uma distribuição da lágrima sobre a superfície ocular, é necessário o piscar, que contribui
com a integridade da córnea e conjuntiva. Um segundo após o piscara lágrima se distribui e
adquire forma característica, cuja mucina fica em contato com a superfície do epitélio da córnea;
a fase lipídica fica em contato com o ar; e a fase aquosa fica entre essas duas camadas.

O filme lacrimal também possui glândulas lacrimais acessórias, como Krause e Wolfring, que
contribuem com a camada aquosa. As glândulas de Krause se situam no estroma do fórnice
conjuntival, entre o lobo palpebral da glândula lacrimal e o tarso; e as glândulas lacrimais
acessórias de Wolfring situam-se nas proximidades dos bordos do tarso. Outras glândulas
acessórias contribuem para parte oleosa, como as de Meibomio, Zeiss e Moll. As células
caliciformes da conjuntiva e criptas de Henle são consideradas como as células superficiais da
camada de mucina, que se desprendem pelo processo de apoptose natural, participando da
camada aquosa. Acamada mucosa está intimamente relacionada com a superfície corneal por
meio do glicocálix ou glicocálice.

A camada lipídica retarda a evaporação da camada aquosa, o que previne pontos secos nos
intervalos do piscar. A camada aquosa é produzida primariamente pelas glândulas lacrimais
principais, situadas na região orbitária temporal superior.

A presença da lente de contato sobre o epitélio corneano reduz a quantidade de oxigênio


disponível para a córnea, e nesta situação a oxigenação corneana pode ser feita por meio da lente
e/ou pelo filme lacrimal. Quanto mais permeável ao oxigênio for o material da lente de contato,
maior será a facilidade de oxigenação da córnea através da lente.

Nas lentes rígidas, no momento de piscar, existe uma troca mecânica do filme lacrimal, que se
situa atrás da lente de contato. Esta troca é possível pela pressão das pálpebras sobre a lente
rígida, que, por sua vez, “expulsa” o filme lacrimal antigo que se situa atrás dela e, ao abrir os
olhos, novo filme lacrimal toma o lugar do antigo, carregando oxigênio para a córnea. Essa
“bomba lacrimal” permite a oxigenação, mesmo em lentes não permeáveis ao oxigênio.

Não podemos esquecer que a córnea deve “respirar”, e este processo inclui assimilação de O2 e

expulsão de dióxido de carbono. Os materiais gás permeáveis ao oxigênio, apesar de facilitar a


saída deste gás nocivo, pode levar ao acúmulo dele, produzindo diminuição do pH da córnea e
comprometendo sua integridade.

Terminologia e Materiais de Lentes de Contato Rígidas


Terminologia

AV: acuidade visual;

BUT: break up time;

CB: curva base;

CCA: curva central anterior;

CCP: curva central posterior;

D: dioptria;

DK: permeabilidade ao oxigênio por meio do material de lente de contato;

DK/L: transmissibilidade do material ao oxigênio em função da espessura;


DV: distância vértice;

FL: filme lacrimal;

HEMA: hidroxietil metacrilato;

K: medida ceratométrica mais plana da córnea;

LC: lentes de contato;

PMMA: polimetilmetacrilato;

PF: profundidade sagital;

RGP: rígida gás permeável;

TC: topografia computadorizada;

UC: uso contínuo;

UD: uso diário;

UF: uso flexível;

UO: uso ocasional;

UP: uso prolongado;

ZO: zona óptica;

ZOA: zona óptica anterior;

ZOP: zona óptica posterior;

Ø: diâmetro.
Materiais

PMMA: o polimetilmetacrilato resulta da combinação de unidades de monômeros de


metilmetacrilato (MMA) e vem sendo utilizado na fabricação de lentes de contato há
muitos anos. Apresentam ótima qualidade óptica e conservação, preço acessível,
simples e duráveis. A desvantagem do material é sua baixa (ou quase nenhuma)
permeabilidade aos gases;

Silicone: Material permeável ao oxigênio devido a aberturas nas cadeias dos


polímeros. Do copolímero metacrílico são manufaturadas as lentes siliconadas;

Fluor: da combinação do monômero de silicone foram acrescentadas combinações


de fluor carbono silicone acrilato, que veio a melhorar as lentes rígidas gás
permeáveis. A permeabilidade do oxigênio aumentou devido à habilidade de o fluor
dissolver moléculas de oxigênio;

Boston: os polímeros da Boston Polymer Technology Corporation® são uma


química polimérica original patenteada e é caracterizada pela alta transmissibilidade
ao oxigênio.

Técnicas de Adaptação
É fundamental que o adaptador realize testes com lentes de contato de prova ou lentes
diagnósticas, e para que o profissional possa atender as mais varia das curvaturas de seus
clientes. O primeiro parâmetro a ser determinado é a CCP (Curva Central Posterior) ou CB (Curva
Base), que pode ser expressa em dioptrias ou em milímetros de raio, e cada fabricante opta pela
sua própria forma. Ex.: 45.00 D ou 7.50 mm.

Nas adaptações, nós, profissionais, damos especial atenção à curva mais planada ceratometria,
que é o meridiano mais plano da córnea, conhecido como curva K. Se a escolha da CCP for
paralela ao meridiano mais plano da córnea, diz-se que a lente está sendo adaptada sobre a curva
K, mas poderá ser adaptada mais justa ou mais plana que K. Obtemos a melhor adaptação quando
a lente propicia certo livramento apical, sem acarretar estagnação lacrimal.
As técnicas de adaptação podem ser referidas como “filosofia de adaptação” e estão baseadas na
relação lente/córnea, como: em alinhamento apical (sobre K), com toque apical (mais plana que
K) ou livramento apical (mais justa que K). Esta relação interfere no menisco lacrimal, que
poderá ser mais negativo (mais plana que K) ou mais positivo (mais justa que K).

Tipo de lente (material e desenho): fabricante e tipo de DK;

Curva Base (CB): deve ser expresso em raio de milímetros e dioptria;

Dioptria: deve ser mencionada após a sobrerrefração com lente de prova;

Diâmetro: importante salientar que quando o profissional aumenta o diâmetro em


ajustes referentes à lente de prova, a profundidade sagital (que é a distância do
centro da superfície posterior e o centro plano que une as margens da lente)
também aumenta, alterando o menisco lacrimal e, consequentemente, a dioptria da
lente.

A regra geral para os atuais fabricantes de lentes de contato considera que os diâmetros maiores
são utilizados para córneas mais planas e, inversamente, nas córneas mais curvas são usados
diâmetros menores. Mas é bom lembrar que para cada modificação de 0,5 mm no diâmetro,
altera-se o raio da CB em 0.25 mm. Desta forma, notamos que temos duas variáveis para fazer
mudanças na adaptação de uma LC: CB e diâmetro.

O grau da primeira LC de prova deve ser escolhido o mais próximo possível da refração dos
óculos, abandona-se o componente cilíndrico quando presente e usa-se o esférico. Quando a
refração for maior que +/-5,00 D (alguns profissionais calculam a DV a partir de 4.50), um
ajuste no grau deve ser feito para compensar a distância ao vértice, que tem em média 12 mm. A
distância ao vértice é a distância do centro da face posterior da lente dos óculos ao vértice da
córnea, e os fornecedores de lentes disponibilizam gratuitamente as tabelas já calculadas.

A prescrição da dioptria da LC rígida pode ser feita pela refração sobre a lente de prova (sobre
refração), após cessar o lacrimejo. O componente cilíndrico não residual é opticamente
eliminado pela lente lacrimal formada entre a lente de contato esférica e a córnea.
O desenho da face posterior da LC e a superfície anterior da córnea criam a chamada relação
lente-córnea (L/C). Este espaço é preenchido pela lágrima, formando uma lente lacrimal
refrativa (ou menisco lacrimal) que interfere no grau final da LC e deve ser compensado. Quando
o profissional escolhe uma adaptação mais justa ou mais plana que K, forma-se uma lente
lacrimal de poder dióptrico positivo ou negativo, devendo este ser diminuído do grau dos óculos
na transposição para o grau da lente de contato. O valor da lente lacrimal é a diferença entre a
CCP da lente de contato e a leitura ceratométrica do meridiano mais plano da córnea (K), que
deve ser compensado no grau final da lente.

Quando o contatólogo se deparar com casos em que o astigmatismo da refração for maior que a
diferença dos meridianos corneais, o profissional adaptador deverá recorrer às lentes tóricas,
podendo ser de material gelatinoso ou rígido. Podemos sempre recorrer às lentes rígidas tóricas
quando a lente rígida esférica não proporcionar visão aceitável devido aos astigmatismos
residuais.

Adaptação de Lentes Rígidas Tóricas


O astigmatismo total do olho consiste na soma do astigmatismo das faces anterior e posterior
da córnea e do astigmatismo de cristalino (ou lenticular). Na adaptação de lente de contato
devem ser considerados os dois tipos de astigmatismo: corneano e residual. A ceratometria
mede o astigmatismo corneano, e a refração mede o astigmatismo total.

O astigmatismo residual se refere àquele que não é corrigido pela lente rígida esférica, e suas
causas podem ser devidas a: astigmatismo lenticular maior que o astigmatismo corneano;
diferenças no meridiano, opacidade ou inclinação do cristalino; variações do índice de refração
da córnea, do cristalino, corpo vítreo, posição excêntrica ou forma da fóvea. Este astigmatismo
não pode ser corrigido com lente rígida esférica.

Quando não conseguimos boa adaptação com lentes rígidas convencionais, seja porque o
astigmatismo residual é muito grande, seja porque há muita instabilidade da lente, podemos
utilizar lentes tóricas. Astigmatismos residuais maiores do que 0,75 D geralmente causam
diminuição da acuidade visual e desconforto, principalmente naqueles pacientes que
anteriormente utilizavam óculos, com boa visão.
Existem três tipos de lentes rígidas tóricas:

De face anterior: apresentam a toricidade na face anterior e necessitam de um


prisma de lastro para estabilização;

De face posterior: possui a curva base tórica e a face anterior esférica;

Bitóricas: usadas em casos de astigmatismo altos e quando a toricidade posterior da


lente não é suficiente para a sua correção total, ou quando a rígida de face anterior
ou posterior não proporcionar boa AV.

Avaliação da Lente Rígida Diagnóstica


O profissional deverá observar:

Posicionamento: considera-se posição ideal quando a borda da LC está localizada


no limbo superior ou próximo dele, permanecendo segura pela pálpebra superior
durante todo o ciclo do piscar. A adaptação de uma lente que se posicione levemente
superior ou centralizada, sem excesso de movimento induzido pela pálpebra, é
desejada;
Figura 7 – Posicionamento desejável da lente rígida
Fonte: Reprodução

Movimento: a lente deve apresentar certo movimento, se for muito pequeno, pode
prejudicar a troca lacrimal e ocasionar hipóxia, e se for muito excessivo, pode
ocasionar desconforto e embaçamento pela descentração da zona óptica;

Avaliação fluoresceínica: junto com a lâmpada de Burton ou de Fenda, é muito


importante para que o profissional diagnostique se a lente está justa ou frouxa;

Visão: deve alcançar a mesma qualidade da visão dos óculos, sendo necessário,
muitas vezes, algum afinamento, e a melhor forma de observar a AV do paciente é
na semana após a adaptação inicial, quando cessaram os lacrimejos iniciais
provocados pela presença da lente na córnea.
Saiba Mais
Em aula, você conseguirá visualizar uma córnea em uso de uma lente
frouxa e justa com auxílio da luz azul de cobalto e fluoresceína para
melhor assimilação.

Importante!
Mudanças no diâmetro da LC afetam o raio da CB; se aumentarmos o
diâmetro, a LC torna-se mais curva (mais apertada) porque provoca
aumento da profundidade sagital. Reduzindo-se o diâmetro da LC, sem
mudar o raio da CB, altera-se a profundidade sagital e a LC torna-se
mais plana (mais frouxa). Essa mudança no diâmetro da LC também
afeta a lente lacrimal e, consequentemente, altera o poder dióptrico da
LC.
Em Síntese
A adaptação de lentes rígidas requer mais atenção e cautela que as
lentes gelatinosas, pois elas podem ocasionar danos epiteliais
importantes. Os profissionais da área necessitam ter o aparelhamento
completo, bem como caixas de prova para viabilizar o sucesso na
adaptação.
TEMA 3 de 4

ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leitura

Adaptação de LC Rígidas Esféricas e Tóricas

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ACESSE
TEMA 4 de 4

ʪ Referências

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