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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS


CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

BRUNA SAMILLE DE JESUS ASSIS SAMPAIO

IMPACTO FINANCEIRO CAUSADO PELO FATOR DE POTÊNCIA:


UM ESTUDO DA MICRO USINA SOLAR NA INSTALAÇÃO
ELÉTRICA DA UFRB - CAMPUS CRUZ DAS ALMAS

Cruz das Almas


2022
BRUNA SAMILLE DE JESUS ASSIS SAMPAIO

IMPACTO FINANCEIRO CAUSADO PELO FATOR DE POTÊNCIA:


UM ESTUDO DA MICRO USINA SOLAR NA INSTALAÇÃO
ELÉTRICA DA UFRB - CAMPUS CRUZ DAS ALMAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
como requisito básico para a conclusão do curso
de Bacharelado em Ciências Exatas e
Tecnológicas.

Orientador: Prof. Dr. Acbal Rucas Andrade


Achy

Cruz das Almas


2022
S232d Sampaio, Bruna Samille de Jesus Assis.
Impacto Financeiro Causado Pelo Fator De Potência: Um Estudo Da
Micro Usina Solar Na Instalação Elétrica Da Ufrb - Campus Cruz Das
Almas / Bruna Samille de Jesus Assis Sampaio – Cruz das Almas, 2022.
54f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Exatas


e Tecnológicas) – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Curso
de Ciências Exatas e Tecnológicas, Cruz das Almas - BA, 20xx.
Orientador (a): Prof. Dr. Acbal Rucas Andrade Achy.

1. Fator de Potência. 2. Geração Distribuída. 3. Sistemas


Fotovoltaicos.
I. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. II. Título.

CDD21 ed.344

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária Prof.ª. Lídia Helena Leal Martini
Bibliotecária: Daniele S. S. Nascimento – CRB-5/1939do

LOCAL A SER INSERIDA A FICHA CATALOGRÁFICA, APÓS DEFESA E CORREÇÕES


FINAIS
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA MONOGRAFIA DE

BRUNA SAMILLE DE JESUS ASSIS SAMPAIO

APRESENTADA AO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BACHARELADO EM CIÊNCIAS


EXATAS E TECNOLÓGICAS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA
BAHIA, EM XX DE XXXX DE 20XX.

BANCA EXAMINADORA:

COLAR FOLHA ASSINADA PELOS MEMBROS DA BANCA


1

Na teoria da relatividade, não existe tempo absoluto único; em vez


disso, cada indivíduo tem sua própria medida de tempo, que depende
de onde ele se encontra e de como está se movendo.
Stephen Hawking
2

RESUMO

Desde o estabelecimento da resolução normativa N°482/2012 pela Agência Nacional de


Energia Elétrica, passou a ser permitida a conexão de micro e minigeradores no sistema de
distribuição de energia elétrica do Brasil. O que permite a injeção de potência ativa na rede
elétrica de uma UC, diminuindo assim o seu consumo ativo e consequentemente o custo da
conta de energia. Em contrapartida, para o bom funcionamento dos equipamentos inseridos
em um determinado sistema elétrico, uma quantidade de energia reativa é demandada pela
rede. Quanto maior a energia reativa utilizada, menor será o fator de potência. Para
consumidores do grupo A, fica definido pela ANEEL que um FP inferior a 0,92 tem por
consequência uma cobrança em relação ao excedente reativo. À vista disso, torna-se
fundamental discussões referente aos possíveis impactos sobre o FP que podem ser
ocasionados pela inserção de sistemas fotovoltaicos, e por conseguinte a sua influência na
viabilidade financeira dos projetos. Neste trabalho foi analisado a influência da instalação da
UESFV na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Como a usina ainda está em
processo de instalação e não há resultados tangíveis, foi feita uma simulação no software
PVSyst a partir das informações constantes no projeto fotovoltaico para auxiliar no
comparativo do FP com e sem a GD. Se observou durante o estudo, que o fator de potência
que já era inferior ao estabelecido durante o período analisado, após considerar a injeção de
potência ativa fornecida pela usina fotovoltaica seria ainda mais afetado. Uma vez que a
aquisição de geração distribuída visa principalmente a economia de energia ativa, cobranças
devido ao baixo FP pode influenciar negativamente a viabilidade financeira do projeto.
Devido a isto, há uma necessidade de analises posteriores sobre meios para correção deste
índice.

Palavras-chave: Fator de potência, geração distribuída, sistemas fotovoltaicos, viabilidade


financeira.
3

ABSTRACT

Since the establishment of the normative resolution, N°482/2012 by the Agência Nacional de
Energia Elétrica, the connection of micro and mini-generators in the electricity distribution
system in Brazil has been allowed. This allows the injection of active power into the power
grid of a UC, thus reducing its active consumption and consequently the cost of the energy
bill. By contrast, for the good functioning of equipment inserted in a given electrical system, a
quantity of reactive energy is demanded by the grid. The higher the reactive power used, the
lower the power factor. For group Consumers, it is defined by ANEEL that a PF below 0.92
results in a charge about the reactive surplus. Therefore, discussions regarding the possible
impacts on the PF that can be caused by the insertion of photo voltaic systems, and
consequently their influence on the financial viability of the projects, become fundamental. In
this work, the influence of the UESFV installation at the Federal Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia was evaluated. As the plant is still in the installation procedure and there
are no tangible results, a simulation was carried out in the PVSyst software based on the
information contained in the photo voltaic project to help compare the FP with and without
the DG. It was observed during the study that the power factor, which was already lower than
that established during the analyzed period, after considering the injection of active power
provided by the photo voltaic power plant, would be even more affected. Since the
procurement of distributed generation is mainly aimed at the active energy economy, charges
due to low FP can negatively influence the financial viability of the project. For this reason,
there is a need for further analysis of the means of correcting this index.

keywords: Power factor, distributed generation, photovoltaic systems, financial viability.


4

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Evolução da fonte solar fotovoltaica no Brasil 0


Figura 2 – Células de Silício mono e policristalino 0
Figura 3 – Painel Mono-Si 0
Figura 4 – Painel P-Si 0
Figura 5 – Modelo de sistema fotovoltaico On-grid 0
Figura 6 – Classificação de inversores por princípio de operação 0
Figura 7 – Potência monofásica decomposta em duas componentes 0
Figura 8 – Triângulo das potências 0
Figura 9 – Triângulo de potências, potência reativa indutiva e capacitiva 0
Figura 10 – Modelo clássico de compensação reativa 0
Figura 11 – Interface do software PVSyst 0
Figura 12 – Delimitação da área de intalação da UESFV 0
Figura 13 – Inserção dos dados do sistema fotovoltaico no PVSyst ® 6.88 0
Figura 14 – Consumo ativo e reativo fora de ponta da UFRB 0
Figura 15 – Média de geração diária gerada no PVSyst 0
5

LISTA DE TABELAS

Pág.
Tabela 1 – Relação de equipamentos disponíveis para instalação da UESFV 0

Tabela 2 – Informações sobre o consumo ativo e reativo sem GD 0

Tabela 3 – Informações geradas pela simulação no PVSyst 0

Tabela 4 – Estimativa do consumo ativo com a usina e analises dos custos 0


6

LISTA DE GRÁFICOS

Pág.
Gráfico 1 – Consumo reativo total calculado 0

Gráfico 2 – Fator de potência de janeiro de 2021 à junho de 2022 sem GD 0

Gráfico 3 – Fator de potência de janeiro de 2021 à junho de 2022 com GD 0

Gráfico 4 – Comparativo do custo do excedente reativo com e sem GD 0

Gráfico 5 – Perspectiba de Payback da UESFV 0


7

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABSOLAR Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento

CA Corrente alternada

CC Corrente contínua

𝐶𝑂2 Dióxido de carbono

CODI Comitê de Distribuição de Energia Elétrica

CSI Current source inverter

CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Elétrica

CRESESB Centro de Referência para Energia Solar e Eólica

FP Fator de potência

FV Fotovoltaica

Mono-Sí Sílicio Monocristalino

NASA National Aeronautics and Space Administration

PL Projeto de lei

PWM Pulse Width Modulation

P-Si Silício policristalino

REN Resolução normativa

SFCR Sistema conectado à rede de distribuição

SFI Sistema fotovoltaico isolado

SFV Sistema fotovoltaico


UC
Unidade consumidora

UESFV Usina de geração de energia solar fotovoltaica

UFRB Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

VSI Voltage Source Inverter


8

SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................................... 2
LISTA DE FIGURAS............................................................................................................... 4
LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. 5
LISTA DE GRÁFICOS ........................................................................................................... 6
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1
1.1. JUSTIFICATIVA DO TRABALHO .......................................................................... 2
1.2. OBJETIVOS ................................................................................................................. 3
1.3. ESTRUTURA DE TRABALHO ................................................................................. 3
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 4
2.1. GERAÇÃO DISTRIBUIDA E SUA SITUAÇÃO NORMATIVA NO BRASIL .... 4
2.2. ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA ..................................................................... 5
2.3. CONSTRUÇÃO DE PAINÉIS DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS ..................... 7
2.3.1. PAINEL SOLAR DE SILÍCIO MONOCRISTALINO ............................................ 7
2.3.2. PAINEL SOLAR DE SILÍCIO POLICRISTALINO ............................................... 8
2.3.3. PAINEL SOLAR DE FILME FINO........................................................................... 9
2.4. TIPOS DE INVERSORES........................................................................................... 9
2.5. CLASSIFICAÇÃO DE INVERSORES ................................................................... 11
2.5.1. INVERSORES COMUTADOS PELA REDE ......................................................... 11
2.5.2. INVERSORES AUTO-CONTROLADOS ............................................................... 12
2.6. POTENCIAS REAL, REATIVA E APARENTE.................................................... 12
2.6.1. POTÊNCIAS MONOFÁSICAS ................................................................................ 12
2.7. FATOR DE POTÊNCIA ........................................................................................... 16
2.7.1. CONCEITOS REFERENTE AO FP ........................................................................ 16
2.7.2. RESOLUÇÕES NORMATIVAS DO FP ................................................................. 17
2.7.3. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS POSSIBILIDADES DE CORREÇÃO
DO FP.......................................................................................................................................18
2.8. SIMULAÇÃO DA GERAÇÃO DE PROJETOS FV .............................................. 20
3. REVISÃO DO ESTADO DA ARTE............................................................................... 21
4. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................ 23
9

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 27


6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 36
7. TRABALHOS FUTUROS ............................................................................................... 37
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 38
1

1. INTRODUÇÃO

No ano de 2012 entrou em vigor a Resolução Normativa da Agência Nacional de


Energia Elétrica (ANEEL) nº 482/2012, a qual permite ao consumidor brasileiro a
geração própria de energia elétrica a partir de fontes renováveis e ainda o fornecimento do
eventual excedente para a rede de distribuição de sua localidade. Atualmente configura-se
como microgeração distribuída a central geradora com potência instalada até 75
quilowatts (kW) e minigeração distribuída aquela que possui potência acima de 75 kW e
menor ou igual a 5 megawatts (MW) para fontes renováveis, conectadas na rede de
distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras denominadas de UCs
(ANEEL,2022). Nesse tipo de sistema a energia ativa, medida em KWh, é injetada pela
Unidade Consumidora (UC) sendo cedida por meio de empréstimo gratuito para
distribuidora local, e logo após é compensada com o consumo de energia elétrica ativa
(REN ANEEL 687, 2015) podendo ser consumida no prazo de até sessenta (60) meses. A
liberação de projetos de Micro e Minigeração Distribuídas de Energia Elétrica trouxe
diversos benefícios nos quesitos financeiros e socioambientais contando com a marca de
10 gigawatts (GW) de potência instalada até 31/03/2022, quantitativo suficiente para
abastecer cerca de 5 milhões de unidades residenciais brasileiras aponta o CNN Brasil.
A energia solar teve grande evidência nos últimos anos quando se fala de fonte
renovável, com base nos dados divulgados pela Associação Brasileira de Energia Solar
Fotovoltaica (ABSOLAR, 2021), o crescimento substancial da implantação de projetos de
energia solar no Brasil possibilitou ao país alcançar a quarta colocação no ranking
mundial de nações que mais acrescentaram na matriz elétrica capacidade da fonte
fotovoltaica no ano de 2021. E uma das principais motivações para a instalação dos
painéis fotovoltaicos é a atratividade financeira, o uso desta fonte de energia traz reduções
de custos consideráveis para o consumidor que a utiliza, podendo garantir uma economia
de até 95% na conta de luz da pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado
segundo levantamento da ABSOLAR no ano de 2019.
Entretanto, outra consideração deve ser feita referente ao faturamento para
garantir a maior efetividade na economia dos consumidores. A REN Nº 414/2010 da
ANEEL estabelece condições gerais para o fornecimento de energia elétrica, segundo ela,
deverá ser cobrado o consumo e a demanda excedente das potências elétricas reativas,
solicitadas ao sistema elétrico pela parcela da carga instalada em operação na unidade
2

consumidora, durante um determinado intervalo de tempo especificado para o grupo A,


sempre que o fator de potência (FP) for inferior a 0,92 indutivo ou capacitivo (ANEEL,
2010). Configura-se como energia reativa segundo a Resolução Normativa ANEEL nº
418, de 23.11.2010 a energia que circula entre os campos elétricos e magnéticos de um
sistema de corrente alternada. Em face disso, faz-se necessário uma análise minuciosa em
relação a todos os fatores que compõem o valor final da fatura de energia.

1.1. JUSTIFICATIVA DO TRABALHO

Diante das regulamentações da ANEEL vigentes, a qual possibilita um sistema


de compensação da energia ativa por unidades consumidoras de micro e minigeração
distribuída (GD), tem-se na instalação de projetos de energia solar os benefícios
financeiros como um dos principais estímulos para a aquisição de equipamentos FV, em
razão que, quanto maior for a redução nas faturas da conta de luz, menor será o tempo de
retorno do investimento.
Os inversores fotovoltaicos que são responsáveis pela conversão de energia dos
painéis solares de corrente contínua (CC) para corrente alternada (CA) são normalmente
projetados para operar com fator de potência (FP) unitário gerando apenas energia ativa,
entretanto, a energia reativa continua sendo demandada na rede. Em detrimento da
redução de potência ativa e a manutenção do fornecimento da potência reativa ocorrerá
nos horários de geração uma redução do FP, resultando em multas e cobranças adicionais,
caso isso ocorra o investimento adicional necessário para correção do fator de potência
ocasionará nesses projetos impactos negativos em relação a sua viabilidade financeira.
Perante o exposto, este trabalho busca fazer um estudo dos impactos financeiros
avaliando a influência da cobrança de excedentes reativos, fazendo uma análise do fator
de potência na implantação do micro usina solar na Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia (UFRB), campus de Cruz das Almas.
Como o sistema fotovoltaico ainda está em processo de instalação, não há dados
reais para fazer o embasamento do estudo, devido a isto, será necessário a execução de
uma simulação a partir dos dados do projeto em andamento, e diante dos resultados
encontrados a partir da mesma em consonância com os dados das faturas de energia a
avaliação será ministrada.
3

1.2. OBJETIVOS

O presente trabalho tem o intuito de estudar e simular o impacto da instalação da usina


nas instalações elétricas da UFRB em relação ao fator de potência.
Os objetivos específicos são:
• Analisar a potência ativa, reativa e aparente no projeto em execução;
• Compreender as vantagens geradas pela instalação de projetos fotovoltaicos
simulando a geração de energia na UFRB;
• Conhecer as legislações vigentes referente ao fator de potência;
• Analisar a viabilidade financeira do projeto considerando as correções do FP e
métodos necessários para reduzir a cobrança geradas pela potência reativa;
• Entender o funcionamento de painéis e inversores fotovoltaicos;
• Propor soluções cabíveis no âmbito de prover meios para compensação do
consumo de energia reativa e evitar o faturamento sobre a mesma.

1.3. ESTRUTURA DE TRABALHO

O trabalho apresenta 7 capítulos, que estão organizados da seguinte forma:


Foi abordado no capítulo 1 a contextualização do tema proposto, juntamente com
a justificativa e exposição do objetivo geral e dos objetivos específicos;
O capítulo 2 contém informações que servirão como referência, possibilitando o
melhor entendimento dos conceitos abordados no trabalho acadêmico;
No capitulo 3 é exemplificado informações referentes a usina fotovoltaica
estudada, especificações técnicas dos materiais utilizados e do sistema elétrico da UFRB.
Além de um resumo de como foi feita a simulação e o comparativo dos dados do sistema
com e sem GD.
No capítulo 4 contém as discussões em relação aos resultados obtidos, feitas a
partir do estudo sobre impacto financeiro causado pela futura instalação da UESFV na
Universidade;
Os capítulos 5 e 6 abordam, respectivamente, a conclusão obtida através desse
estudo e sugestões para futuros trabalhos;
E, por fim, o capítulo 7 apresenta as referências bibliográficas utilizadas no
desenvolvimento da pesquisa.
4

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta aspectos relevantes sobre conceitos necessários para o


entendimento do fator de potência e da necessidade de sua análise. Levando em
consideração as normativas estabelecidas pela ANEEL no que se refere às condições para
a geração própria de energia elétrica. Será fundamentando sobre a influência da GD na
redução do FP e os seus impactos causados sob o faturamento nas unidades
prossumidoras, com o intuito de aplicar estes conceitos na simulação do projeto FV na
UFRB.

2.1. GERAÇÃO DISTRIBUIDA E SUA SITUAÇÃO NORMATIVA NO


BRASIL

A geração distribuída no Brasil foi formalmente instituída a partir da criação em


17 de abril de 2021 da REN 482/2012. Essa resolução estabeleceu condições gerais para
a micro e minigeração distribuída nos sistemas de distribuição de energia elétrica e o
sistema de compensação de energia elétrica (ANEEL, 2012). Ficou-se definido como
microgeração distribuída a central geradora com potência instalada menor ou igual a 100
kW e minigeração distribuída, com potência instalada superior a 100 kW e menor ou
igual a 1 MW. Em relação ao sistema de compensação, se disponibilizou um prazo de 36
(trinta e seis) meses para a consumo do crédito em quantidade de energia ativa.
Foi apenas em 2015, com a instituição da REN 687/2015 que foi apresentada
alterações significativas na REN 482/2012 atendendo reivindicações do setor. Dentre as
principais modificações se evidencia a mudança no enquadramento de micro e
minigeração distribuída, sendo estabelecida a microgeração a potência instalada igual ou
inferior a 75 kW, e minigeração com potências entre 75 kW e 3 MW para fontes hídricas
e 5 MW para demais fontes renováveis, como fonte eólica e solar fotovoltaica. Podemos
destacar também as seguintes alterações: criação das modalidades de autoconsumo
remoto e geração compartilhada – caracterizado pelo aproveitamento da energia
excedente por unidades consumidoras de titularidade de uma mesma Pessoa Jurídica e
Pessoa física, ou reunião de consumidores, dentro da mesma área de concessão ou
permissão, por meio de consórcio ou cooperativa, composta por pessoa física ou jurídica;
e ampliação da validade dos créditos de energia elétrica para 60 meses.
Em 2019 foi apresentado e aprovado na câmara de Deputados a PL 5.829,
que propôs a criação de um marco legal da geração distribuída no Brasil. Este projeto de
5

lei teve o intuito de gerar uma maior estabilidade para o setor de GD, visto que apenas a
resolução normativa não tinha força de lei para garantir uma segurança jurídica para
viabilizar grandes investimentos (CÂMARA, 2019).
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) publicou no final do ano de
2021 a Resolução Normativa n° 1.000, que consolidou as principais regras para a
prestação do serviço público de distribuição de energia elétrica. Trazendo inúmeras
facilidades para o consumidor. Alguns exemplos são: a troca de titularidade de unidade
consumidora (UC), que não possuía prazo, agora poderá ser feita em 3 dias úteis para
meio urbano, e 5 dias úteis para meio rural; e a unificação da etapa de vistoria e instalação
do sistema de medição. Haja vista que dentre a abrangência das alterações feitas pela
REN 1000/2021, nem todas foram aplicadas imediatamente pelas distribuidoras de
energia, algumas mudanças só serão implementadas a partir de janeiro de 2023.

2.2. ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

Em decorrência do efeito fotovoltaico, é obtida a energia solar fotovoltaica,


fenômeno que acontece em determinados materiais semicondutores através da incidência
da luz solar, onde os fótons da luz estimulam os elétrons a saltar para a camada de
condução, que perante circunstâncias favoráveis possibilita o surgimento de uma corrente
e tensão elétrica. A radiação oriunda do sol fornece energia necessária para o elétron
saltar para a banda de condução, e neste movimento entre a lacuna e a banda de condução
é que a energia elétrica é gerada e “coletada” pelos condutores da célula fotovoltaica
(FRAIDENRAICH e LYRA 1995).

Os conceitos referentes ao efeito fotovoltaico surgiram em 1839 com base nas


descobertas de Edmond Becquerel, que verificou o aparecimento de uma diferença de
potencial em uma célula eletroquímica provocada pela absorção de luz (Oliveira, 2018).
De acordo com uma carta de Willoughby Smith para Latimer Clark, em 4 de
fevereiro de 1873, a sua descoberta do efeito fotovoltaico no selênio, determinante para
construção da primeira célula fotovoltaica foi meramente acidental:
”Being desirous of obtaining a more suitable high resistance for
use at the Shore Station in connection with my system of testing and
signalling during the submersion of long submarine cables, I was induced
to experiment with bars of selenium - a known metal of very high
resistance. I obtained several bars, varying in length from 5 cm to 10 cm,
6

and of a diameter from 1.0 mm to 1.5 mm. Each bar was hermetically
sealed in a glass tube, and a platinum wire projected from each end for the
purpose of connection. (...) While investigating the cause of such great
differences in the resistance of the bars, it was found that the resistance
altered materially according to the intensity of light to which they were
subjected”. (HAWKS, 1976)
Ao decorrer dos anos aconteceram diversos avanços que possibilitaram a
evolução da energia solar. Em 1954, Russell Shoemaker Ohl anunciou a invenção da
primeira célula fotovoltaica durante uma reunião da National Academy of Sciences, dando
início à utilização dos painéis solares em 1958 (Portal Solar,2019), sendo ele um dos
percussores dos sistemas fotovoltaicos como conhecemos hoje.
Atualmente no Brasil a energia fotovoltaica teve um crescimento expressivo,
uma tecnologia que a pouco tempo atrás parecia distante da realidade de muitos
brasileiros, hoje se tornou viável para diversos consumidores. Iniciativas bancárias foram
criadas por empresas de grande porte como BNDES e Santander, com o objetivo de
apoiar a instalação da energia solar, fornecendo financiamento para pessoas físicas com
parcelas que muitas vezes se equiparam ao valor habitual da conta de luz, assim o
payback é ao fim deste período de pagamento. A ABSOLAR (2022) apresenta dados
recentes da evolução da fonte fotovoltaica no Brasil.

Figura 1 – Evolução da fonte solar fotovoltaica no Brasil

Fonte: ABSOLAR/ANEEL: Infográfico ABSOLAR (2022)


7

O infográfico (figura 1) acima mostra marcos alcançados no início do mês de


agosto de 2022 onde a fonte solar fotovoltaica se aproximou de 18 GW. Além disso,
informações apontam que houve R$90,9 bilhões em novos investimentos, cerca de 524
mil novos empregos criados e mais de 25,7 milhões de toneladas de 𝐶𝑂2 deixados de ser
produzidos, trazendo impactos ambientais positivos.

2.3. CONSTRUÇÃO DE PAINÉIS DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS

Apesar de anteriormente haver a fabricação de células fotovoltaicas utilizando


selênio, foi apenas em 1950 que elas foram desenvolvidas nos Laboratórios Bell
localizado nos Estados Unidos, baseada nos avanços tecnológicos na área dos
semicondutores, utilizando como material o silício cristalino (CRESESB/CEPEL, 2014).
Os painéis ou módulos fotovoltaicos são compostos por um conjunto dessas
células montadas sobre uma estrutura rígida e conectadas eletricamente normalmente em
série com a intenção de produzir maiores tensões (VILLALVA ,2012). Existe uma gama
de tecnologias fotovoltaicas atualmente comercializadas, sendo os mais comumente
utilizados os painéis confeccionados com células de silício monocristalino e silício
policristalino. Segundo o Canal Solar (2019), no ano de 2009 os módulos e células
fotovoltaicas produzidas destes materiais já correspondiam a aproximadamente 80% do
mercado global. Além disso, os painéis solares de filme fino também possuem grande
evidência no mercado solar.

Figura 2 - Células de Silício mono e policristalino

Fonte: Canal Solar: Silício mono ou policristalino: quem vence o duelo? (SOUZA, 2019)

2.3.1. PAINEL SOLAR DE SILÍCIO MONOCRISTALINO

Os painéis compostos de silício monocristalino (mono-si) possuem uma cor


uniforme e são produzidos a partir de um único cristal de silício ultrapuro, cortado em
lâminas que são tratadas e transformadas em células fotovoltaicas, normalmente possuem
8

suas laterais arredondadas para melhor aproveitamento do painel, sendo a tecnologia que
ocupa menos espaço (Portal Solar, 2020).

Figura 3 – Painel mono-si

Fonte: Portal solar – Tipos de painel solar fotovoltaico

Devido a pureza do material, são geradas maiores vibrações e uma sensibilidade


alta a temperatura. É considerada uma tecnologia antiga e de grande eficiência quando
comparada a outras comercialmente viáveis. Geralmente sua vida útil é maior que 30
anos, sendo assim os fornecedores normalmente optam por disponibilizar uma garantia
linear de 25 anos, entretanto, no ponto de vista financeiro estes painéis têm um maior
custo em comparação com tecnologias similares como as células produzidas a partir de
silício policristalino.

2.3.2. PAINEL SOLAR DE SILÍCIO POLICRISTALINO

Para confecção da célula policristalina (P-Si), o material composto por pequenos


cristais de silício com dimensões na ordem de centímetros é solidificado formando um
bloco, que é cortado em lâminas que posteriormente são utilizadas para fabricação das
células fotovoltaicas. A presença de interfaces entre vários cristais tem por consequência
a redução na sua eficiência (CRESESB/CEPEL, 2014),

Figura 4 – Painel p-si


9

Fonte: Portal solar – Tipos de painel solar fotovoltaico

Uma vantagem do painel produzido pela tecnologia policristalina é em razão que


a quantidade de silício residual gerado durante o corte destas células é menor quando
comparado ao Mono-Si, por consequência tendem a ter valores mais viáveis, mesmo
possuindo uma vida útil equivalente aos painéis com células monocristalinas (Portal
solar).

2.3.3. PAINEL SOLAR DE FILME FINO

A células fotovoltaicas de película fina (TFPV) são confeccionadas a partir do


depósito de uma ou várias camadas finas de um material fotovoltaico sobre um substrato,
podem ser construídas usando como material o silício amorfo, telureto de cádmio, cobre,
índio e gálio seleneto e células solares fotovoltaicas orgânicas. Possuem uma eficiência
média, normalmente com porcentagem abaixo da tecnologia policristalina.
As principais vantagens dos painéis construídos com estas células são mais
viáveis para produção em massa e possuem um custo baixo, entretanto, para instalação é
necessária uma maior quantidade de espaço e tendem a degradar mais rapidamente do que
os painéis de mono-si e p-si, possuindo consequentemente uma menor garantia.

2.4. TIPOS DE INVERSORES

O inversor é um dispositivo eletrônico responsável por converter uma fonte de


energia em corrente contínua (CC), proveniente de baterias, células de combustível ou
módulos fotovoltaicos para fornecer energia elétrica em corrente alternada (CA).
Em um sistema fotovoltaico este dispositivo pode ser dividido em duas
categorias ou tipo de implantação. O SFCR ou On-Grid é o sistema conectado à rede de
10

distribuição, e devido a isto, a potência gerada pode ser injetada diretamente na rede
elétrica. Uma das vantagens desse tipo de sistema é que em momentos onde não há a
produção suficiente de energia, como em dias do inverno com pouca irradiação solar pode
ser utilizada a energia da concessionária, já em caso de excesso de produção como
regulamenta a ANEEL é possível receber créditos de energia. No que tange os sistemas
fotovoltaicos isolados (SFI’s), são definidos como sistemas que necessitam da utilização
de baterias para viabilizar o armazenamento do excesso de energia, gerando assim altos
custos com equipamentos. A figura 5 abaixo apresenta uma esquematização da disposição
dos equipamentos em um SFCR

Figura 5 - Modelo de sistema fotovoltaico On-grid

Fonte: Incentive Solar - Geração distribuída fotovoltaica

Os primeiros inversores eram produzidos a partir de adaptações dos circuitos


existentes em eletrônica de potência, porém, com os avanços dos estudos atuais, nos
novos projetos de inversores os circuitos são produzidos levando em consideração a
complexidade do equipamento e as exigências estabelecidas, como consequência houve
uma diminuição no custo de produção e um crescimento considerável na eficiência de
conversão, chegando a 99% em dispositivos conectados à rede (CRESESB/CEPEL,
2014).
11

2.5. CLASSIFICAÇÃO DE INVERSORES

O inversor solar faz parte da família dos conversores estáticos, definidos como
circuitos eletrônicos responsáveis pelo controle do fluxo de potência de dois ou mais
sistemas elétricos. São considerados como circuitos não lineares, utilizam um sistema de
chaveamento com um conjunto de interruptores (tiristores, diodos, triacs MOSFETs,
IGBTs, GTOs), comutando em alta frequência segundo uma sequência determinada por
circuitos triacs MOSFETs, IGBTs, GTOs de comando (modulação) com intuito de gerar
uma forma de onda na saída conforme desejada, permitindo o processamento de energia
em sistemas de CC e CA (JR, 2019).
No que se refere ao princípio operacional dos inversores, conforme a figura 6 a
seguir, eles podem ser divididos em dois grupos: inversores comutados pela rede
(comutação natural) ou inversores auto-controlados (comutação forçada).

Figura 6 – Classificação de inversores por princípio de operação

Fonte: Manual de Engenharia para sistemas Fotovoltaicos (CRESESB/CEPEL, 2014)

2.5.1. INVERSORES COMUTADOS PELA REDE

Em síntese, este tipo de inversor possui o processo de inversão controlado pela


fase e frequência da rede de distribuição e é construído por pontes comutadas de
tiristores. Um par de tiristores recebe um impulso alternado sincronizado com a
frequência da rede.
12

Como esses equipamentos não possuem a capacidade de se auto desligar, a rede


faz uma intervenção para forçar este desligamento, este fenômeno se denomina estado de
bloqueio. É gerada por esse tipo de dispositivo uma onda quadrada com alto teor
harmônico, levando ao sistema um alto consumo de energia reativa (COSTA, 2010).
Estes inversores possuem alta eficiência, e um custo normalmente mais baixos que os
inversores auto-controlados da mesma potência e só podem ser utilizados em SFCR’s.

2.5.2. INVERSORES AUTO-CONTROLADOS

Nos inversores auto comutados, os elementos de chaveamento a partir de um


terminal de controle podem ser colocados a qualquer momento em um estado de
condução ou bloqueio. Este tipo de dispositivo opera com a estratégia de controle de
modulação por largura de pulso (PWM- Pulse Width Modulation), que permite o controle
sobre a forma de onda e o valor da tensão de saída. Normalmente comutam em alta
frequência com o sinal de saída senoidal, de baixo conteúdo harmônico e alto fator de
potência, podendo ser do tipo fonte de corrente (CSI – Current Source Inverter) ou fonte
de tensão (VSI – voltage source inverter).
O modelo VSI tem controle por corrente e tensão como pode ser visualizado na
figura 6, e é utilizado para conversão fotovoltaica. Em SFCRs devido a estabilidade
diante as perturbações da rede e a facilidade de controle do fator de potência é
comumente operado com controle por corrente, já os sistemas isolados geralmente
utilizam-se controle por tensão (CRESESB/CEPEL, 2014).

2.6. POTENCIAS REAL, REATIVA E APARENTE

Sempre que uma carga é conectada a um determinado circuito elétrico em corrente


alternada (CA), três tipos de potências elétricas precisam ser considerados: real, reativa e
aparente. Os conteúdos concernentes às mesmas estão intimamente relacionados à
temática do fator de potência, e devido a isso, é importante entender os conceitos
específicos deste assunto a fim de facilitar o entendimento subsequente.

2.6.1. POTÊNCIAS MONOFÁSICAS

A fórmula fundamental da potência transmitida pela central geradora é dada por:


P = VI (W) (2.1)
13

Onde,
V é a tensão em volts [V]
I é a corrente em amperes [A]
Iremos considerar um sistema no valor máximo de consumo, denominado de
carga pesada. Horário no qual as indústrias e comércios estão em pleno funcionamento e
há uma maior incidência na utilização de energia em residências. Neste período do dia a
natureza da carga é predominantemente indutiva, sendo a impedância da carga do tipo R,
L. Uma carga com natureza indutiva armazena uma parcela da energia gerada com um
elevado investimento, mas que não realiza trabalho útil. Para mostrar esse fato,
consideremos a tensão e a corrente senoidais (MOURA et al, 2018), dadas por:
𝑉(𝑡) = 𝑉𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡) (2.2)
𝐼(𝑡) = 𝐼𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 − 𝜃) (2.3)
Utilizando a equação 2.1 teremos que a potência transmitida será equivalente a:
𝑃(𝑡) = 𝑉𝑚 𝐼𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡)𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 − 𝜃) (2.4)
Mediante da utilização de identidades trigonométricas como:

1 1
(𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡))2 = − 2 cos(2𝜔𝑡) (2.5)
2

2𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡) cos(𝜔) = 𝑠𝑒𝑛(2𝜔𝑡) (2.6)

E artifícios matemáticos será obtida a seguinte expressão:

𝑃(𝑡) = 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑐𝑜𝑠𝜃(1 − 𝑐𝑜𝑠2 𝜔𝑡) − 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑠𝑒𝑛𝜃𝑠𝑒𝑛(2𝜔𝑡) (2.7)

Tendo assim, a potência decomposta em duas componentes.

𝑃1 (𝑡) = 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑐𝑜𝑠𝜃(1 − 𝑐𝑜𝑠2 𝜔𝑡) (2.8)

𝑃2 (𝑡) = − 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑠𝑒𝑛𝜃𝑠𝑒𝑛(2𝜔𝑡) (2.9)

A potência total P(t) é equivalente a soma de 𝑃1 (𝑡) com 𝑃2 (𝑡), conforme se visualiza na
figura a seguir.

Figura 7 - Potência monofásica decomposta em duas componentes


14

Fonte: Analises de circuitos em corrente alternada para sistemas de potência (MOURA, 2018)

Tanto 𝑃1 (𝑡) quanto 𝑃2 (𝑡) oscilam com frequência angular 2𝜔. A diferença entre
as potências se dá pois 𝑃1 (𝑡) oscila em torno do mesmo valor médio, se mantendo
sempre positiva, enquanto 𝑃2 (𝑡) possui o valor médio nulo. A potência total P(t) oscila
com frequência angular dupla, e durante certos períodos, a potência torna-se negativa.
Nestes intervalos, P(t) flui no sentido negativo. Portanto, a potência ativa ou real (P) é
definida como o valor médio de P(t).

1 𝜋
P = 𝜋 ∫0 [𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑐𝑜𝑠𝜃(1 − 𝑐𝑜𝑠2 𝜔𝑡) − 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑠𝑒𝑛𝜃𝑠𝑒𝑛(2𝜔𝑡)]𝑑𝑡 = 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑐𝑜𝑠𝜃(2.10)

Fisicamente, a potência ativa é definida como aquela que efetivamente realiza


trabalho, possuindo a capacidade de ser transformada em qualquer forma de energia útil.
Sendo responsável por gerar calor, movimento, luz e outros sem a necessidade de uma
transformação intermediária de energia. Sua unidade de medida é o Watt (W).
Analisando a potência reativa (Q), por definição ela é equivalente ao valor
máximo da componente de potência 𝑃2 , que caminha para trás e para frente no circuito
elétrico, resultando em média zero. Portanto, não realiza trabalho útil.
Q= 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑠𝑒𝑛 𝜃 (2.11)
Os conceitos tangentes a potência reativa estabelece-se, conforme FRANCHI
(2019) como: a energia intermediária necessária para gerar um campo magnético ou
elétrico entre os extremos da carga, possibilitando o funcionamento de equipamentos
elétricos como motores síncronos subexcitados, motores de indução, transformadores,
15

reatores, sendo exemplos esses de consumidores de energia reativa. A potência reativa


(Q), medida em kVAR (kilo Volt Ampere Reativo). A potência reativa está atrasada 90˚
em relação à potência ativa. Ela também oscila com frequência angular 2𝜔.

2.6.2. POTÊNCIA COMPLEXA


De acordo com MOURA et al em 2018, quando os circuitos elétricos são
analisados no domínio da frequência, usamos os fasores de tensão e corrente,
obtidos das equações 2.2 e 2.3.
𝑉 = 𝑉𝑒𝑓 𝑒 𝑗(−90˚) (2.12)
𝐼 = 𝐼𝑒𝑓 𝑒 𝑗(−θ−90˚) (2.13)
O conjugado da corrente é dado por:
𝐼 ∗ = 𝐼𝑒𝑓 𝑒 𝑗[θ+90˚] (2.14)

O produto VI* tem uma propriedade importante quando se utiliza a identidade de Euler.
𝑉𝐼 ∗ = 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑒 𝑗[−90˚+θ+90˚] = 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑒 𝑗θ = 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 (𝑐𝑜𝑠θ + jsenθ) (2.15)
𝑆 = 𝑉𝐼 ∗ = 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 𝑐𝑜𝑠θ + 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 jsenθ = P + jQ (2.16)
O modulo da potência complexa 𝑆 é definida como a potência aparente, ou seja, é
caracterizada pela soma vetorial da potência real com a potência reativa. Se entende a
mesma como a potência total consumida por um equipamento. Transformadores e
condutores são dimensionados de acordo com esta potência nominal aparente
representada pela equação 2.17 (FRANCHI,2019).
𝑆 = 𝑉𝑒𝑓 𝐼𝑒𝑓 (2.17)
Recorrentemente é utilizado o triângulo de potências, apresentado na figura 7,
para relacionar as potências ativa, reativa e aparente.

Figura 8 – Triângulo de potências

Fonte: Canal Solar: Controle do fator de potência dos inversores fotovoltaicos (PRYN, 2022)
16

Relembrando os conceitos fundamentais da trigonometria, temos as relações


entre os lados e os ângulos. O teorema de Pitágoras afirma que a hipotenusa (S) ao
quadrado representa o quadrado da soma dos quadrados do cateto oposto (Q) e o cateto
adjacente (P) (FRANCHI,2019), assim a potência aparente pode ser dada de mesmo
modo por:
𝑆 = √𝑃2 + 𝑄 2 (2.18)
Como a potência aparente depende dos valores da potência ativa e reativa, o
aumento da energia reativa em um sistema elétrico possuirá ligação direta com a potência
S, gerando assim um crescimento no resultado da soma vetorial

2.7. FATOR DE POTÊNCIA

O fator de potência é um índice que quando mal administrado traz consequências


consideráveis em um projeto fotovoltaico. Devido a isto, faz-se importante o
entendimento de seus conceitos e métodos de correção.

2.7.1. CONCEITOS REFERENTE AO FP

No ponto de vista eletroenergético e econômico o fator de potência é um índice


de grande relevância. O FP é monitorado pelos sistemas de medição das concessionárias
podendo gerar ônus, que acomete em impactos significativos no faturamento da conta de
energia das unidades prossumidoras. Define-se o FP como a razão entre a potência ativa e
a raiz quadrada da soma dos quadrados das potências ativa e reativa, consumidas em um
mesmo período de tempo especificado (ANEEL, 2010), dada pela equação a seguir.
𝑃 𝑃
𝐹𝑃 = |𝑆| = (2.19)
√𝑃 2 +𝑄 2

Onde:
P – é a potência ativa em [kW]
Q – é a potência reativa em [kVAr]
S – é a potência aparente em [kVA]
Essa relação é representada recorrentemente pelo triângulo de potências,
apresentado na figura 7, onde o FP corresponde ao cosseno do ângulo de defasagem entre
tensão e corrente (𝜑), formado entre o componente da potência ativa e o componente total
referente a potência aparente como é exemplificado na equação 2.20.
17

𝑃 𝑉∙𝐼∙𝑐𝑜𝑠𝜑
𝐹𝑃 = = = 𝑐𝑜𝑠𝜑 ≤ 1,0 (2.20)
|𝑆| 𝑉∙𝐼

A figura a seguir permite uma visualização mais detalhada sobre a equação 2.20.
estabelecendo os triângulos de potência para as impedâncias de natureza indutiva e
capacitiva.

Figura 9 – Triângulo de potências, potência reativa indutiva e capacitiva.

Fonte: Analises de circuitos em corrente alternada para sistemas de potência (MOURA, 2018)

Pode-se verificar na imagem que as potências reativas indutivas são positivas,


enquanto as potências reativas capacitivas são negativas. Logo, pelo domínio da
frequência concluímos, que os indutores absorvem potência reativa, enquanto os
capacitores geram potência reativa.

2.7.2. RESOLUÇÕES NORMATIVAS DO FP

Segundo a Resolução Normativa ANEEL Nº 569 de 23/07/2013 o fator de


potência indutivo ou capacitivo, possui como limite mínimo permitido para que não haja
repasses complementares nas unidades consumidoras do grupo A o valor de 0,92.
Sendo este grupo composto de unidades consumidoras com fornecimento em
tensão igual ou superior a 2,3 kV, ou atendidas a partir de sistema subterrâneo de
distribuição em tensão secundária, caracterizado pela tarifa binômia: consumo e demanda.
Esse grupo é subdividido em (ANEEL, 2010):
• Subgrupo A1 – tensão de fornecimento igual ou superior a 230 kV;
• Subgrupo A2 – tensão de fornecimento de 88 kV a 138 kV;
• Subgrupo A3 – tensão de fornecimento de 69 kV;
18

• Subgrupo A3a – tensão de fornecimento de 30 kV a 44 kV;


• Subgrupo A4 – tensão de fornecimento de 2,3 kV a 25 kV;
• Subgrupo AS – tensão de fornecimento inferior a 2,3 kV, a partir de sistema
subterrâneo de distribuição
Quando o valor do fator de potência decresce em decorrência de elevadas
quantidades de energia reativa, a consequência desta condição será o aumento na corrente
total a qual circula nas redes de distribuição das unidades prossumidoras e das
concessionárias de energia, causando sobrecargas nas linhas de transmissão e
distribuição, prejudicando a estabilidade e as condições de aproveitamento dos sistemas
elétricos (CODI, 2004). Mesmo que a energia ativa consumida se mantenha constante,
será cobrado um custo do consumo reativo excedente, derivado da diferença entre o valor
mínimo permitido e o valor calculado no ciclo.
O método de faturamento de energia reativa excedente com relação ao fator de
potência de referência consta na Resolução Normativa nº414/2010. o valor é apurado
conforme a seguinte equação (ANEEL,2010):
𝑓
𝐸𝑅𝐸 = [𝐸𝐸𝐴𝑀𝑇 ∙ ( 𝑓𝑅 − 1) ∙ 𝑉𝑅𝐸𝑅𝐸 ] (2.21)
𝑇

onde:
𝐸𝑅𝐸 = valor correspondente à energia elétrica reativa excedente à quantidade
permitida pelo fator de potência de referência “𝑓𝑅 ”, no período de faturamento, em Reais
(R$);
𝐸𝐸𝐴𝑀𝑇 = montante de energia elétrica ativa medida em cada intervalo “T” de 1
(uma) hora, durante o período de faturamento, em quilowatt-hora (kWh);
𝑓𝑅 = fator de potência de referência igual a 0,92;
𝑓𝑇 = fator de potência da unidade consumidora, calculado em cada intervalo
“T” de 1 (uma) hora, durante o período de faturamento, observadas as definições
dispostas nos incisos I e II do § 1o deste artigo;
𝑉𝑅𝐸𝑅𝐸 = valor de referência equivalente à tarifa de energia "TE" da bandeira
verde aplicável ao subgrupo B1, em Reais por quilowatt-hora (R$/kWh).

2.7.3. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS POSSIBILIDADES DE


CORREÇÃO DO FP

Tendo em vista a problemática exemplificada no tópico anterior, torna-se


pertinente a execução de análises de sistemas para correção do fator de potência, com o
19

intuito de manter este valor acima do mínimo permitido pela legislação vigorante,
impossibilitando assim as cobranças adicionais. Evidencia-se para estas correções blocos
significativos de cargas onde as características de operação acometem que a energia
reativa cause a diminuição do índice de FP (SILVA, 2009).
Os autores CODI (2004) e Cotrim (2008) abordam sobre possíveis meios para
adequação do fator de potência, há três métodos relevantes que possibilitam a correção do
FP:
• Aumento do consumo de energia ativa;
• Utilização de motores síncronos superexcitados;
• Utilização de bancos de capacitores
Levando em consideração aspectos como custo, dimensionamento e a facilidade
de instalação, usualmente recorre-se a utilização de sistemas de compensação de energia
reativa denominados de bancos de capacitores, ligados em paralelo (tipo shunt),
conectados no mesmo ponto de carga. A potência reativa dessa instalação pode ser
determinada com o auxílio das expressões utilizadas nas definições do triângulo das
potências, na prática, a energia reativa é fornecida pelos capacitores liberando parte da
capacidade do sistema elétrico e das instalações das unidades consumidoras. Segundo
(COTRIM, 2008), o modelo clássico de compensação reativa expressa na figura 10
representa uma potência reativa 𝑄1 consumida pela carga linear, a potência reativa
injetada pelo banco de capacitores 𝑄𝑐𝑎𝑝 e a potência reativa resultante 𝑄2 = (𝑄1 − 𝑄𝑐𝑎𝑝) .

Figura 10 - Modelo clássico de compensação reativa.

Fonte: Instalações elétricas: Modelo clássico de compensação reativa (COTRIM, 2008)


20

Diante desta situação, tem-se como objetivo que a potência reativa 𝑄1 seja maior
que 𝑄2 reduzindo assim a potência aparente de 𝑆1 para 𝑆2 e o ângulo de fase de 𝜑1 para
𝜑2 . Como consequência o fator de potência final 𝐹𝑃2 será maior que o original 𝐹𝑃1 , com
as expressões sendo definidas como:
𝑆1 potência aparente da compensação de reativos;
𝑆2 potência aparentes após a compensação de reativos;
𝜑1 e 𝜑2 ângulos de fase antes e depois da compensação de reativos.

2.8. SIMULAÇÃO DA GERAÇÃO DE PROJETOS FV

Uma simulação consiste em uma metodologia utilizada para representar certas


características e/ou comportamentos cruciais em um determinado sistema, possibilitando
o ajuste e a otimização de desempenho. Na hipótese de um estudo relativo à energia solar
fotovoltaica, projetistas utilizam softwares de simulação para dimensionar projetos FV,
viabilizando a determinação de questões como os impactos causados por sombreamento e
sujeira nos painéis, além de estimar a produção de energia considerando a eficiência de
cada equipamento do sistema fotovoltaico.
O PVSyst é um software que foi desenvolvido na Suíça pela Universidade de
Genebra, possui uma ampla gama de informações climáticas da NASA e Meteonorm e
dados técnicos completos de diversos fabricantes de módulos fotovoltaicos, inversores e
outros equipamentos. Devido à abrangência em funcionalidades, precisão nos resultados e
confiabilidade é considerado uma ótima opção de simulador. Com ele é possível realizar
tanto cálculos simples para estudos iniciais de um projeto quanto uma simulação mais
detalhada analisando uma diversidade de variantes de um projeto obtendo ao final
relatórios, tabelas e gráficos referentes ao projeto.

Figura 11 - Interface do software PVsyst


21

Fonte: Software Pvsyst: Descubra as principais características da Ferramenta de SFV’s (SOARES,2020)

A utilização do PVsyst auxilia na construção de projetos mais seguros,


minimizando erros e facilitando o entendimento de muitas variáveis. Pode ser usado em
todas as versões do sistema operacional Windows e denota pouco espaço de memória
RAM e disco rígido, sendo assim de fácil acesso.

3. REVISÃO DO ESTADO DA ARTE

Baseada nas normativas estabelecidas pela ANEEL e o crescimento da micro e


minigeração distribuída, avaliou-se a influência do fator de potência e o impacto da
cobrança de excedentes reativos sobre a viabilidade financeira utilizando dados de três
unidades prossumidoras da classe de tensão A4, sendo elas uma granja, uma
concessionária de veículos e um supermercado com plantas fotovoltaicas de 135 kW, 62
kW e 62 kW de potência instalada (TAVEIRA, 2019). No trabalho foi analisado cada
sistema individualmente e observou-se em todos os registros o baixo FP indutivo durante
os horários de geração. A autora buscou entender a causa de cada um desses registros
para assim estabelecer possíveis soluções de correção do FP com intuito de reduzir os
impactos no faturamento dos consumidores.
O fator de potência também foi um assunto abordado no Congresso Brasileiro de
Energia Solar. Gusman et al (2018) teve um artigo apresentado na sua VII edição
realizada em Gramado - RS no ano de 2018, onde foi observada as consequências de um
FP indutivo ou capacitivo inferior a 0,92. O objetivo do trabalho foi realizar um estudo de
caso para análise dos impactos na cobrança de energia reativa com e sem a utilização de
22

um SFCR instalado em uma empresa de processamento, beneficiamento e


comercialização de café localizada em Viçosa-MG. Os dados da demanda de potência
ativa e reativa foram coletados manualmente no mês de abril de 2017, ressaltando que a
empresa possui bancos de capacitores para correção do FP. Ao fim do estudo concluiu-se
que os impactos causados devido a potência reativa foram expressivos.
Como já foi abordado neste trabalho, a energia solar tem sido uma alternativa
não só para pessoas físicas como também para instituições jurídicas de poder público que
normalmente demandam uma alta quantidade de energia para suprir o funcionamento de
suas instalações. Porém a variação de potência ao decorrer do dia nos SFV’s traz os
impactos na geração distribuída dos sistemas de transmissão e distribuição de energia.
Vieira et al (2018) realizou um trabalho apresentando resultados da expansão da geração
solar fotovoltaica no sistema de distribuição de energia elétrica do Campus do Pici da
Universidade Federal do Ceará, analisando as perdas, variação de tensão e fator de
potência a partir de uma simulação utilizando o software ANAREDE, onde foi analisado
4 cenários criados a partir da avaliação de valores próximos e muito discrepantes de
geração e demanda de carga. Os resultados encontrados demonstraram os impactos
significativos que são obtidos com a redução do fator de potência.
Silva et al (2018) publicou um artigo onde a partir de uma simulação de três
configurações de rede no software SIMULINK®, observou-se como a presença de
sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede de baixa tensão influenciam na
percepção do fator de potência de uma unidade consumidora pela concessionária, e a
consequências disto na rede elétrica de distribuição.
O trabalho de Alves et al (2020) verificou as alterações no fator de potência
causadas pelo uso da GD levando em consideração a legislação vigente. O estudo foi
realizado coletando dados do consumo de dois dias, sendo um com geração superior à
carga e outro com geração inferior à carga do SFV no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC) no campus de Criciúma - SC. O sistema
tinha 73,28 kW de potência instalada e um banco de capacitores para fornecer energia
reativa. Concluiu-se que quando a geração é inferior ao consumo há uma alteração mais
significativa gerando um baixo FP, no caso da geração superior à carga não ocorre o
faturamento do excedente reativo.
Guerra (2021) fez estudos de métodos mais comuns de correção de fator de
potência em instalações elétricas e fontes CC/CA monofásicas, visando a obtenção de
23

parâmetros básicos para a melhor definição de usos e suas consequências de


implementação.
O trabalho de Marchi (2019) teve o objetivo de apresentar uma metodologia de
projeto e um estudo de viabilidade técnica e financeira da correção de fator de potência,
utilizando bancos de capacitores. Foi projetado um sistema de correção de potência
baseando-se em uma indústria do setor têxtil, porém como já existia um sistema instalado
os dados de consumo e medição de grandezas elétricas foram coletados a partir do
mesmo.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

A análise quali-quantitativa será executada através de revisões bibliográficas


acerca de sistemas fotovoltaicos de modo geral. Posteriormente, é preciso seguir as
seguintes etapas: verificação das informações gerais da unidade prossumidora, coleta de
informações sobre as coordenadas e área de instalação da usina de geração de energia
solar fotovoltaica (UESFV) em processo de execução na UFRB, coleta de dados referente
ao projeto do sistema fotovoltaico, simulação no PVSyst® versão 6.88, comparativo entre
antes da instalação com o que se é esperado em relação ao retorno financeiro para depois
que o SFV estiver em pleno funcionamento e a análise do fator de potência através dos
valores de potência ativa e reativa.
A UC utiliza padrão de entrada trifásico com tensão de fornecimento de 13.800
V e possui uma demanda contratada de 1.000 kW. A proteção geral da entrada é realizada
por disjuntor geral do tipo a vácuo, de média tensão, classe 17,5 kV, com corrente
nominal de 630A. A potência disponibilizada para UC é calculada de acordo com a
demanda contratada, como a unidade é do grupo A4.
O sistema fotovoltaico será instalado no Campus de Cruz das Almas/BA, e sua
localização referenciada a partir do 2º poste da via de acesso secundária, contado a partir
do portão que dá saída para o bairro da Tabela. É possível observar o local de instalação
na figura abaixo.

Figura 12 – Delimitação da área de instalação da UESFV


24

Fonte: Google Maps (2021)

A UESFV será instalada em solo, os módulos fotovoltaicos serão fixados sobre


estruturas metálicas bi poste, confeccionadas em aço galvanizado a fogo, resistente a
intempéries e agentes salinos fixadas ao solo, com capacidade para 20 unidades, presas
por chumbadores a placas de concreto ancoradas em solo. O espaço utilizado para sua
ocupação do sistema possui uma profundidade de 60m no sentido norte e 150m de largura
no sentido leste.
O SFV em questão detém uma potência nominal de 486,72 KW conectado à rede
de distribuição da COELBA, e contará 1352 módulos fotovoltaicos do fabricante
Canadian Solar modelo Poly 1.500V 360W, possuindo 144 células, além disso, terá um
conjunto de quatro inversores de potência de marca ABB, sendo dois de 175 kW e dois de
100 kW, de modelos PVS 100 kW TL SX2 FULL-380-6 MPPTWLAN; e PVS-175-TL-
SX2-FULL-12 MPPT. Cada painel possui dimensões de 2000 x 992 mm, e serão
colocados de modo que as mediatrizes menores fiquem alinhadas na direção leste-oeste, a
90º do norte magnético. Já as mediatrizes maiores serão inclinadas em um ângulo de 14º.
Esses equipamentos citados anteriormente e também os outros necessários para instalação
do projeto são relacionados abaixo, juntamente com suas respectivas quantidades.

Tabela 1 – Relação de equipamentos disponíveis para instalação da UESFV

Produto/especificação Unidade Quantidade

Sices Solar 2.0, perfil industrial Rooftop, peças com 6,30 metros un 598
Sices Solar 2.0, terminal final com 35mm un 896
Sices Solar 2.0, terminal intermediário com 35mm un 3808
Sices Solar, parafuso metálico autoperfurante, sextavado, AA 5,5 x 25 mm un 20000
Fita EPDM, band 30 x 3,2 mm, PU 8 m 992
Conectores macho/fêmea MC4, modelo WEID CABUR TE un 320
25

Cabo solar 6 mm2, tensão até 1800V, CC PT, padrão ABNT NBR 16612 m 3200
Cabo solar 6 mm2, tensão até 1800V, CC VM, padrão ABNT NBR 16612 m 3200
Inversor ABB PVS, 100kW, TL SX2 FULL – 380V – 6MPPT – WLAN un 2
Inversor ABB PVS, 175kW, TL-SX2-FULL – 12 MPPT un 2
Módulo Fotovoltaico Canadian, 144 células, 360 Wp, POLY 1500V F16 un 1352

Fonte: UFRB - ciman (2020)

Para realizar a simulação da UESFV na UFRB - Campus Cruz das Almas é


necessário adicionar os seguintes parâmetros de entrada no PVsyst® versão 6.88:
• Localidade da UESFV – o software permite salvar os dados
meteorológicos do espaço de instalação, neste caso obtido utilizando o
banco de dados da Meteonorm 7.2, sendo essa informação gerada a partir
das coordenadas referente a latitude e longitude da localidade, cujas no
SFV estudado está geolocalizada nas coordenadas 12º39’24,6” sul e
39º05’52,6” oeste. Ademais, retorna relatórios para cada mês do ano em
relação a irradiação global horizontal e difusa horizontal, temperatura,
velocidade do vento e entre outros.
• Especificação da matriz – a simulação do sistema fotovoltaico foi
dimensionada a partir da potência nominal do sistema.
• Inclinação do módulo solar e ângulo azimutal – apesar do PVsyst
possibilitar a comparação da irradiação incidida no módulo em diversos
ângulos, no caso do sistema analisado já foi concedido estes valores. O
maior valor de irradiação anual se dá com a inclinação de 14°, já o
ângulo azimutal selecionado é 0°, devido ao motivo que os painéis
ficarão fixados em direção ao norte geográfico.
• Especificação do sistema – é necessário informar algumas informações
referente ao sistema, para o SFV em questão foi selecionado o tipo do
módulo padrão, com tecnologia policristalina. Deve-se também
selecionar a disposição de montagem, no nosso caso a instalação em solo
(Ground based) e devido a isso ficará em uma posição mais livre para
ventilação.
A figura abaixo mostra parte do processo de execução da simulação, com os dados
sobre o projeto acima especificado.

Figura 13 - Inserção dos dados do sistema fotovoltaico no PVSyst® 6.88.


26

Fonte: Autoria própria (2022)

Neste trabalho, será estudado o fator de potência na unidade prossumidora da


UFRB sob duas perspectivas: no cenário 1 faremos uma análise das contas de energia ao
decorrer dos anos de 2021 e 2022. E baseando-se nestes dados, considerando a energia
ativa e reativa consumida mensalmente fora de ponta, ou seja, nos horários das 00:00h às
17:59h e das 21:00h as 23:59h. Utilizaremos de manipulações da equação 2.19, para obter
os valores mensais correspondentes ao FP dos últimos 18 meses sem geração distribuída.
No segundo cenário, valendo-se dos dados da simulação da UESFV, será usada
novamente na equação 2.19 para calcular os valores do FP após a instalação do sistema
fotovoltaico. Para isto, como a média do consumo reativo com e sem GD para cada mês
permanece constante, utilizaremos o valor do consumo reativo total calculado
anteriormente em relação aos 18 últimos meses e as informações do consumo ativo
mensal subtraindo a injeção de potência ativa disponibilizadas pelo PVsyst.
A Tabela 2 concentra os dados da variação de consumo ativo, reativo excedente,
os custos decorrentes do consumo reativo excedente, cobrados devido ao baixo fator de
potência registrado na UC.

Tabela 2 - Informações sobre o consumo ativo e reativo sem GD

Consumo reativo
Mês/Ano Consumo ativo Custo do Excedente Tarifa mensal
excedente

kWh kVARh R$ R$
jan/21 160.462,40 42.806,40 12.881,21 0,3021
fev/21 159.969,60 36.456,00 10.947,57 0,3014
mar/21 172.614,40 41.305,60 12411,67 0,3016
abr/21 160.876,80 44.296,00 13.309,58 0,3021
mai/21 150.830,40 46.704,00 13.832,68 0,3362
jun/21 135.867,20 48.507,20 14.569,02 0,3686
jul/21 135.900,80 49.996,80 14.922,50 0,4094
27

ago/21 139.832,00 46.827,20 14.043,48 0,4114


set/21 152.163,20 47.611,20 14.198,44 0,4715
out/21 162.321,60 46.625,60 14.174,75 0,4806
nov/21 151.289,60 45.438,40 13.764,78 0,4789
dez/21 156.262,40 44.464,00 13.437,80 0,4778
jan/22 160.272,00 42.280,00 12.211,54 0,4566
fev/22 158.054,40 38.068,80 11.246,72 0,4671
mar/22 186.849,60 39.614,40 11.765,07 0,4695
abr/22 182.716,80 37.385,60 11.695,98 0,3687
mai/22 199.931,20 38.628,80 13.799,16 0,3397
jun/22 171.337,60 42.716,80 15.019,44 0,3344

Fonte: Autoria

Esses dados serão utilizados para proceder as discussões referente ao nosso


estudo.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com o intuito de verificar a influência da geração fotovoltaica na redução do FP


na UESFV, serão analisadas a demanda de energia e o valor do excedente reativo antes e
após a instalação da usina FV. Utilizando dados da simulação e da fatura de energia dos
anos de 2021 e 2022 para encontrar os respectivos valores mensais do fator de potência.
A figura a seguir contém informações da UC sobre consumo ativo e reativo
excedente fora da ponta disposta em forma de gráfico, disponibilizada no site da
Neoenergia COELBA.

Figura 14 – Consumo ativo e reativo fora de ponta da UFRB.

Fonte: Neoenergia COELBA – Histórico de consumo, medição e faturamento.

Sabemos que um FP indutivo ou capacitivo abaixo do estabelecido pela


legislação gera cobrança em relação ao excedente reativo. Como em todas faturas da
UFRB – Cruz das almas consta o valor cobrado deste excedente, podendo ser observado
na tabela 2, deduzimos que em todos últimos meses o fator de potência foi inferior ao
28

estabelecido. Como não temos o valor do consumo reativo total, tornou-se pertinente
utilizar a equação 2.19, considerando o FP como 0,92 a fim de encontrar o consumo
reativo limite de cada mês para não ter havido cobranças. Após isto, foi somado o
resultado com o consumo excedente obtendo o valor da potência reativa total.
Exemplificado no gráfico 1 a seguir.

Gráfico 1 – Consumo reativo total calculado

Fonte: Autoria

Com a mesma equação utilizou-se os respectivos valores da potência ativa


disposta na tabela 2 e a reativa total calculada para obter o fator de potência medido em
cada um dos últimos 18 meses. A seguir (gráfico 2) podemos observar a variação do FP
calculado sem geração distribuída ao decorrer de 2021 e 2022.

Gráfico 2 - Fator de potência de janeiro de 2021 à junho de 2022 sem GD.


29

Fonte: Autoria

Observa-se que todos os valores encontrados foram inferiores a 0,86, sendo


consideravelmente abaixo do índice referencial de 0,92. O somatório dos custos reativos
fora da ponta ao longo dos meses especificados resulta em um gasto de R$ 238.231,39.
Analisando o custo mensal isoladamente, encontra-se que o valor cobrado pelo excedente
reativo varia entre 6,3% e 11% do valor total da fatura. É notório que mesmo sem a
geração distribuída, o fator de potência na UFRB já resulta em um impacto financeiro
significantemente negativo.
Apesar de considerarmos o consumo no período fora de ponta para calcular o
fator de potência, vale salientar que, ele não equivale exatamente ao horário de geração
fotovoltaica. Sendo em Cruz das Almas, devido as condições climáticas da região
Nordeste em torno de 6h às 17h. Não temos, portanto, como obter um valor exato do
consumo reativo durante este período do dia. Posto isto, os valores do FP encontrados a
partir da simulação são meramente para efeitos de estimação.
O sistema FV estudado será responsável por fornecer aproximadamente 40% do
consumo ativo do Campus de Cruz das almas. No intervalo de geração, a energia ativa
produzida pelos módulos FVs será responsável por reduzir a energia ativa fornecida pela
distribuidora de energia à UC. Diante dos dados da simulação, obtidos a partir a inserção
das informações do projeto fotovoltaico no PVsyst, estima-se uma geração de 768.757
kWh por ano. No gráfico abaixo é possível observar também a média de geração diária
dependendo do mês. No inverno como já é esperado, por possuir menos irradiação solar
os valores em kWh/dia estimados são inferiores.
30

Figura 15 – Média de geração diária mensal gerada no PVSyst

Fonte: Autoria

Na tabela 3 contém informações mensais sobre o sistema simulado, como: a


média de irradiação solar por metro quadrado no plano horizontal e no ângulo igual a
latitude; valores mais detalhados sobre a expectativa da média de geração diária em kWh;
e a estimativa de geração.

Tabela 3 – Informações geradas pela simulação no PVSyst

System System
Gl. Horiz Coll. Plane
output output

𝑘𝑊ℎ 𝑘𝑊ℎ 𝑘𝑊ℎ 𝑘𝑊ℎ


. 𝑑𝑖𝑎
𝑚2 𝑚2 𝑑𝑖𝑎

Jan 6,18 5,75 2378 73715


Fev 6,08 5,90 2438 68272
Mar 5,27 5,38 2224 68932
Abr 4,38 4,68 1935 58040
Mai 3,90 4,37 1806 55979
Jun 3,30 3,71 1534 46018
Jul 3,80 4,24 1751 54277
Ago 4,81 5,29 2189 67848
Set 4,73 4,93 2037 61118
Out 5,33 5,28 2182 67630
Nov 6,17 5,79 2394 71828
Dez 6,40 5,86 2423 75099
Ano 5,03 5,10 2106 768757

Fonte: Autoria
31

Destaca-se que a UESFV injetará somente potência ativa no sistema elétrico da


UC, em razão que não é perceptível para o sistema a injeção da potência reativa,
consequentemente, a sua média de consumo mensal permanecerá a mesma. Desta forma,
a estimativa do novo fator de potência após a instalação foi calculada utilizando a
equação 2.19, com potência ativa sendo os valores de consumo ativo mensal, apontado na
tabela 2 subtraindo a potência ativa simulada acima, a qual chamaremos de 𝑃𝑓 , e Q o
consumo reativo total conforme disposto no gráfico 1. A seguir, no gráfico 3 verifica-se
os resultados dos cálculos executados.

Gráfico 3 - Fator de potência de janeiro de 2021 à junho de 2022 com GD.

Fonte: Autoria

Observando o gráfico, é perceptível a diminuição do FP com a geração


distribuída. Os resultados do cálculo da grandeza adimensional variam entre 0,56 no mês
de agosto de 2021 à 0,76 em maio de 2022. Mesmo o maior dado encontrado para o fator
de potência ainda é altamente discrepante do índice referencial, gerando cobranças ainda
maiores referente ao excedente reativo para a unidade consumidora.
Com o intuito de verificar a viabilidade financeira, utilizaremos a equação 2.21
para mensurar o custo a qual será cobrado em decorrência da diminuição do FP causado
pela inserção da usina, fazendo uma projeção dos impactos no faturamento que poderão
ser ocasionados por estes. Realizaremos também uma análise ao prognóstico da economia
32

gerada pela diminuição do consumo ativo devido a injeção de potência ativa pela UESFV,
e a perspectiva do payback.
Ao decorrer do período ponderado, houve em alguns meses um acréscimo da
bandeira tarifária amarela e vermelha no custo de cada kWh consumido no mês. Como
precisa-se deste valor na bandeira tarifária verde para substituir na equação 2.21, iremos
considerar para os cálculos o 𝑉𝑅𝐸𝑅𝐸 como o preço cobrado no mês mais recente estudado
que esteja sem cobrança extra. Que se sucedeu em junho de 2022, a qual a tarifa de
energia para o consumo ativo fora de ponta foi de R$ 0,33440399. No gráfico 4 nota-se o
comparativo entre o custo do excedente reativo com e sem geração distribuída.

Gráfico 4 – Comparativo do custo do excedente reativo com e sem GD.

Fonte: Autoria

Observando a gráfico 4, percebe-se que mesmo com a potência ativa sendo


reduzida em uma taxa considerável, o custo do excedente estipulado permaneceu
semelhante ao cobrado pela concessionária de energia sem a geração distribuída. Por
exemplo, em agosto de 2021 o consumo ativo foi de 139.832,00 kWh e foi cobrado pelo
reativo excedente o valor de R$ 14.043,48. Com os dados da nossa simulação, nesse mês
seria gerada uma injeção 67.848,00 kWh, sendo assim, o nosso novo valor do consumo
ativo seria de 71.984,00 kWh. Mesmo com o consumo reduzido em quase 50%, o custo
cobrado pelo excedente reativo aumentaria para R$ 15.448,84. Nota-se também no
33

gráfico 4 que o único período que possuiu uma diferença de valor mais relevante foi em
maio e junho de 2022.
Para analisar a economia motivada pela UESFV, nos valeremos novamente da
𝑃𝑓 , que será multiplicado pela tarifa de energia de cada um dos meses estudados, que está
disposta na tabela 2. Por conseguinte, poderemos identificar qual seria a redução do custo
a respeito do consumo ativo caso tivesse ocorrido a instalação da usina fotovoltaica nos
meses estudados. A tabela 4 contém algumas informações, como a estimativa do consumo
ativo e do seu custo com a geração distribuída, o valor cobrado pelo consumo ativo sem
GD, e ainda a porcentagem de economia que poderia ser gerada mediante a instalação.

Tabela 4 – Estimativa do consumo ativo com a usina e analises dos custos.

Custo do Custo do
Consumo ativo Porcentagem de
Mês/Ano consumo ativo consumo ativo
com GD economia
com GD sem GD
kWh R$ R$ %
jan/21 86.747,40 26.203,83 48.470,96 45,94
fev/21 91.697,60 27.641,90 48.222,25 42,68
mar/21 103.682,40 31.274,29 52.066,62 39,93
abr/21 102.836,80 31.069,15 48.604,25 36,08
mai/21 94.851,40 31.887,48 50.706,70 37,11
jun/21 89.849,20 33.118,74 50.081,14 33,87
jul/21 81.623,80 33.416,74 55.637,72 39,94
ago/21 71.984,00 29.611,45 57.521,51 48,52
set/21 91.045,20 42.923,77 71.738,19 40,17
out/21 94.691,60 45.510,48 78.014,67 41,66
nov/21 79.461,60 38.055,08 72.454,35 47,48
dez/21 81.163,40 38.778,31 74.659,16 48,06
jan/22 86.557,00 39.522,73 73.181,68 45,99
fev/22 89.782,40 41.933,15 73.819,81 43,20
mar/22 117.917,60 55.364,23 87.728,92 36,89
abr/22 124.676,80 45.964,73 67.362,40 31,77
mai/22 143.952,20 48.907,63 67.926,45 28,00
jun/22 125.319,60 41.907,37 57.295,98 26,86

Fonte: Autoria

Como o esperado, percebe-se com as estimativas dos novos valores do custo de


consumo ativo com a GD apresentada tabela 4, que a inserção de potência ativa
possibilitaria uma economia em comparação com o valor que foi pago sem a GD,
variando entre 48,06% em dezembro de 2021 e 26,86% em junho de 2022. Na maioria
dos meses a economia gerada ultrapassou ou ficou aproximada ao esperado, normalmente
34

em maio e junho que é apresentada uma maior discrepância por ser um período com baixa
irradiação solar no Brasil.
Apesar da economia ativa simulada ter sido na maioria do período estudado
satisfatória, ainda assim é preocupante como a energia reativa demandada pelo sistema da
UFRB deixa um impacto financeiro nas faturas estudadas. Como já foi dito, mesmo com
uma diminuição considerável do consumo ativo pela rede, o custo do excedente reativo
permanece constante ou em alguns casos até aumenta.
Analisando novamente o mês de agosto de 2021, o custo ativo total com a GD a
partir das nossas analises seria equivalente a R$29.611,45, e o custo reativo R$
15.448,84. Ou seja, mediante nossas estimativas, o custo reativo iria se equipará a 52,17%
do custo ativo fora ponta demandado pela UFRB no Campus de Cruz das Almas durante
todo o mês analisado. Considerando novamente a tarifa por kWh como R$ 0,33440399,
caso o custo reativo fosse eliminado a partir da execução de analises de sistemas de
correção do FP como por exemplo o banco de capacitores, o valor economizado neste
mês seria suficiente para gerar 46.198,13kWh a mais pagando o mesmo valor na fatura.
O gráfico a seguir simula o payback do investimento, mesmo com a cobrança do
excedente, ainda assim, caso a média de economia gerada pelo seu funcionamento da
usina, se equipare ao somatório da economia estimada a partir dos dados da simulação
durante o ano de 2021, os resultados seriam satisfatórios.

Gráfico 5 – Perspectiva de Payback da UESFV

Fonte: Autoria
35

Nota-se que é esperado que o tempo de retorno para o sexto 6 anos, conseguindo
assim reaver a quantia investida pela universidade em equipamentos e mão de obra. O
cálculo referente ao valor poupado em 2021 foi feito somando a economia em R$
estimada pela injeção de potência ativa. Caso em algum dos meses houvesse um aumento
do custo cobrado pela energia reativa excedente em comparação aos dados sem a GD, a
sua diferença era subtraída dos dados mensais. O valor anual encontrado foi de R$
401.603,62, este valor foi somado de maneira acumulativa a partir da quantidade de anos
para construção do gráfico colocando como referência o custo do sistema fotovoltaico.
36

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dado o exposto, diante dos aspectos fundamentados, a instalação de usinas


fotovoltaicas acarretam em uma redução do FP devido a diminuição da injeção de
potência ativa no sistema elétrico das UCs. Por conseguinte, devido a conexão da geração
distribuída observa-se cobranças adicionais sobre excedentes reativos, diminuindo a
economia total esperada com o projeto.
Para clientes do grupo A, registros abaixo de 0,92 ocasionam em aplicação de
cobranças. Mesmo que o inversor gere apenas energia ativa, é necessário considerar essa
variável para o cálculo da viabilidade financeira do projeto. Tendo em vista a UESFV em
processo de instalação na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, em Cruz das
almas, tornou-se pertinente realizar um estudo sobre quais impactos que esta instalação
pode gerar, quando se analisa a injeção de potência ativa do sistema FV e a potência
reativa demandada pela instituição.
Em suma, sabe-se que o FP é calculado considerando apenas o consumo de
energia ativa e reativa de uma UC, sendo assim, quanto maior a energia ativa injetada
pelo sistema fotovoltaico, menor será a quantidade de kW fornecido pela distribuidora de
energia elétrica, e consequentemente o FP também será reduzido.
Diante dos dados das faturas de energia da UFRB, percebemos que sem a
instalação da usina fotovoltaica já é cobrado um custo alto devido ao FP inferior a 0,92.
Com a inserção da UESFV, mesmo com o consumo em kWh tendo sido em reduzido em
cerca de 40%, ainda assim as estimativas do valor cobrado referente ao excedente reativo
permanecem em geral igual ou superior ao valor cobrado sem a GD.
Uma consideração relevante é que, caso seja considerado o consumo
semanal isoladamente, como a UFRB exerce suas atividades acadêmicas e
administrativas majoritariamente em dias úteis, aos fins de semana o sistema FV
continuará fornecendo a mesma energia ativa, diminuindo ainda mais a energia a ser
recebida pela distribuidora de energia, assim o FP que já é consideravelmente inferior ao
necessário para evitar estas cobranças excedentes é ainda mais afetado.
Neto et al (2022) já havia executado um estudo considerando justamente os
impactos negativos que a alta demanda reativa estava causando no faturamento
universidade, analisando a viabilidade técnica para implementação de banco de
capacitores na sua rede de distribuição. Esses equipamentos, quando instalados, podem
37

fornecer energia reativa de acordo com a demanda da UC, controlando o fator de


potência, e eliminando as cobranças por excedentes reativos, sendo assim uma alternativa
viável para a correção. É importante ressaltar a urgência em buscar meios de suprir esta
demanda do reativo com o objetivo de eliminar as cobranças excedentes da fatura da
instituição.

7. TRABALHOS FUTUROS

Como a UESFV está em processo de instalação, por este motivo este trabalho
apresentou uma discussão mediante analises a partir da simulação e estimativas baseadas
em faturas antigas da UFRB – Campus Cruz das Almas sobre os impactos causados pela
diminuição no FP após a instalação do sistema fotovoltaico, todavia, existem estudos
pertinentes a serem executados, como:

a) Monitoramento da usina fotovoltaica após ela está em pleno funcionamento,


verificando a tendência do consumo e a variação do FP na instalação.
b) Avaliação das possibilidades para correção do FP na UFRB, analisando a
viabilidade financeira dos métodos, e a economia gerada pelos mesmos.
Estudos como esses visam contribuir para a melhoria do faturamento de energia
na UFRB, garantindo uma maior economia do que a esperada pela instalação da usina
fotovoltaica no atual cenário. O valor economizado poderia ser redirecionado para outras
dividas demandadas para o funcionamento da Universidade.
38

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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