Plano de Investimento em Sistemas Elétricos de

Potência – Programação Dinâmica

Maikel da Silveira Ramos, Paulo Henrique Engelmann de Oliveira
Universidade Federal de Santa Maria
maikeldsramos@gmail.com, pauloheo@gmail.com

 programação dinâmica: subestrutura ótima e superposição de

Resumo — A expansão dos sistemas elétricos para o subproblemas. As soluções encontradas podem servir como
atendimento energético e da demanda são necessários para evitar sub-soluções, figura 1, para um instante, como para problemas
a falta de energia, seja por falta de geração ou estrutural (linhas que exigem estudos de períodos e ações a serem realizadas ao
de transmissão) para escoamento do fluxo. É neste contexto que
será abordado o método da Programação Dinâmica, aplicando-se
longo deste e que se interligam através de sua operação.
para a definição do momento adequado para expansão e novas
obras em um sistema elétrico de potência – SEP – e seus
respectivos impactos financeiros. Este artigo apresenta um estudo
de caso que utiliza o método de Programação Dinâmica, aplicado
a resolução de problemas de planejamento e otimização no sistema
de distribuição, abordando aplicabilidade, restrições e vantagens
de seu uso, onde primeiramente se revisa o conceito de PD. Na
sequência desenvolve-se um estudo de caso específico, abordando
o planejamento de um sistema de distribuição primário com
geração distribuída, visando minimizar as perdas no sistema e
também dimensionar o despacho das unidades geradora. Por fim Figura 1. Componentes da Programação Dinâmica
são analisados os resultados obtidos.

Palavras Chaves - Expansão, programação dinâmica, sistema
elétrico de potência (SEP).
I. INTRODUÇÃO
Para garantir o fornecimento de energia elétrica e demanda
ao longo dos anos, as empresas do setor elétrico - geradoras,
transmissoras e distribuidoras - realizam estudos de previsão de
obras para suprir o crescimento de demanda e consumo através
de investimentos estratégicos, com o propósito de não
prejudicar sua receita e repassar estes investimentos em sua
integralidade à tarifa ao consumidor de forma adequada.
No contexto de aumento do consumo de energia elétrica, será
utilizado como exemplo um SEP de oito barras, para o qual
serão propostas ao longo de 05 anos a expansão de geração. O
momento ou ano da implantação de novas unidades geradoras
será definido através da Programação Dinâmica buscando a
maximização dos lucros, e o combinado mais adequado entre
os diferentes tipos de geração propostos.
II. A PROGRAMAÇÃO DINÂMICA
A Programação Dinâmica e seu método são aplicáveis a
problemas onde a solução inicia - se a partir da solução ótima
do problema existente. São duas caraterísticas fundamentais da
A programação dinâmica apresenta-se como alternativa
quando o tempo ou uma sequência de decisões é objeto do
estudo. Sendo o objetivo estabelecer uma trajetória de evolução
do sistema que otimiza uma medida de avaliação do sistema ou
uma função objetivo, como o custo total do investimento e
operação da rede por exemplo [3].
III. MÉTODO DE PROGAMAÇÃO DINÂMICA
APLICADO AO ESTUDO DE CASO
Para a análise da aplicação do método de programação
Dinâmica, será considerando a rede de distribuição primaria,
abordando um sistema elétrico hipotético, para realizar o estudo
de redução de perdas em sistemas elétricos, utilizou-se o
circuito da Figura 2 que representa um sistema com geração e
cargas distribuídas. O sistema é composto por linhas e
subestações atendidas em tensão de 138kV, é composto de uma
fonte/geração de energia ideal (infinita), com a implementação
de 3 tipos de obras que serão agregadas no sistema
considerando aspectos fundamentais de otimização com
objetivo de alcançar o maior benefício através da aplicação de
Programação Dinâmica que é capaz de relacionar conjunto de
soluções independentes formando uma solução ótima para um
determinado conjunto de ações dentro de um determinado
período [4]. Com esta relação entre custa das obras e retorno
anual de cada GD agregada a um Sistema Elétrico de Potência

Artigo desenvolvido como instrumento de avaliação da atividade

Otimização Aplicada a Sistemas Elétricos, sob a orientação do Professor Dr.
Daniel Bernardon.
pode-se definir que obra executar com o mínimo de riscos
associados. Este sistema foi modelado no software HOMER
para análise do despacho energético
e transitória. Neste caso, pretende-se focar basicamente em
critérios econômicos através de programação dinâmica para
obter a melhor relação de implementações de obras ao longo de
um determinado período.
Nas tabelas de I a IV são apresentados valores econômicos e
técnicos a serem utilizados na Programação Dinâmica, a fim de
determinar os anos referentes de execução das obras. Nestas
tabelas estão contidas as características de implantação de
geração hidrelétrica, termelétrica e eólica ao longo dos 05 anos
de prognóstico.
TABELA I
DADOS DOS CUSTOS DAS OBRAS

Nominal Custo Operação e Manutenção

Geração
[MW] Implementação em 5 anos

Hidro 8 R$ 25.000.000,00 R$ 250.000,00

Térmica 8 R$ 12.000.000,00 R$ 500.000,00
Eólica 8 R$ 28.000.000,00 R$ 750.000,00
Figura 2 – Sistema Elétrico de Potência objeto do estudo de caso. Total 24 R$ 65.000.000,00 R$ 1.500.000,00
Fonte: autores
A Erro! Fonte de referência não encontrada.3 apresenta o
sistema modelado no software HOMER para avaliar o despacho Para estabelecer a melhor relação de investimento por ano
energético de cada GD, sendo a carga representada por toda a Obra/ano é necessário acrescentar ao cálculo outros fatores
carga do sistema de 138kV estudado. importantes como o retorno que esta obra trará ao investidor
anualmente, ou no caso, quanto a concessionária deixaria de
Características da rede: pagar se implementasse tais obras objetivado a maximização
• Cargas concentradas nas barras de 23kV;
dos lucros.
• Linhas de subtransmissão de 138kV extensas, aumentando Na tabela I tem-se os valores do retorno anual de cada tipo
as perdas técnicas; de geração proposto considerando um fornecimento de 75% da
• Acentuada queda de tensão devido ao comprimento da capacidade de geração instalada, ou seja, 6MW.
linha.

TABELA II
RETORNO ANUAL COM O FORNECIMENTO DE 6MW

Potência Tarifa Média Retorno anual em

Geração
Fornecida R$/MWha Milhões de R$
Hidro (PCH) 6 MW 155 8,15
Térmica 6 MW 170 8,94
Eólica 6 MW 160 8,41

Considera-se para que a implementação de quaisquer uma

Figura 3 – Sistema Elétrico modelado no Homer, objeto do estudo de
caso.
Com a necessidade de obras para solucionar as restrições
sistêmicas ou aumentar a oferta de energia, partiu-se para uma
avaliação de otimização das obras necessárias.
Tecnicamente são levados em conta diversos critérios para a
conexão de GD´s, estes vão desde estudos envolvendo o fluxo
de potência resultante até os estudos de estabilidade mecânica
das 3 obras terão sua operação instalada de forma crescente da
seguinte forma. Ano 1: 33% de geração; Anos 2 e 3: 66% e nos
Anos 4 e 5: 100% de operação. Considerando a média de
geração de 6MW.
O Investimento também segue a mesma lógica de
parcelamento do investimento. Desta forma obtém-se a tabela
III que apresenta os custos de investimentos por ano e os
benefícios de cada obra.
 TABELA III
CUSTO E BENEFÍCIOS POR TIPO DE GERAÇÃO

Benefício em MM de R$
Investimento
Geração ANO
MM R$/Ano
1 2 3 4 5
Hidro-PCH 5,05 2,69 5,21 5,21 8,15 8,15
Térmica 2,5 2,95 5,72 5,72 8,94 8,94
Eólica 5,75 2,78 5,38 5,38 8,41 8,41

Na tabela IV observa-se o VP, estimando-se um retorno de

investimento de 3%:

TABELA IV
CUSTO E BENEFÍCIOS POR TIPO DE GERAÇÃO Figura 3 – Resultado da PD.
Benefício em Milhões de R$
Ao final das simulações, resulta através da PD a
Geração ANO maximização do benefício das obras em R$ 27 MM em 05 anos,
1 2 3 4 5 com a geração térmica executada no ano 01, a geração hídrica
no ano 02 e a geração eólica executada no ano referência 04.
Hidro (PCH) 26,35 23,74 18,84 14,09 6,92
Térmica 28,9 26,04 20,66 15,46 7,59
Eólica 27,2 24,51 19,45 14,55 7,15 IV. CONCLUSÃO
Investimento (MR$)
A utilização da Programação Dinâmica e seus conceitos é
Hidro (PCH) 22,98 18,08 13,33 8,74 4,29
uma importante ferramenta de apoio para tomada de decisões,
Térmica 11,38 8,95 6,6 4,33 2,13 no caso de de investimentos nos sistemas elétricos de potência
Eólica 26,16 20,59 15,18 9,95 4,89 que apresenta características de necessidade de expansão
através de uma matriz diversa de tipos de obras e benefícios.
Benefício Líquido (MR$)
Hidro (PCH) 3,37 5,66 5,51 5,36 2,63
Tomando o assunto de uma forma mais abrangente, pode-se
observar que a programação dinâmica com variáveis discretas
Térmica 17,52 17,09 14,06 11,13 5,47 consiste em montar a árvore de possibilidades e procurar nela
Eólica 1,03 3,92 4,27 4,6 2,26 um caminho mínimo, isto é, o algoritmo ótimo, baseia-se
no princípio da otimalidade de Bellman [4]. Tal
algoritmo é de complexidade exponencial, o que resulta em
Para a aplicação do método proposto, ressalta-se que o tempos de resolução do problema exponencialmente maiores
resultado final deve obrigatoriamente contar com a para quantidades maiores de entradas. O custo computacional
execução/implantação ao final dos 05 anos, e em estado para se montar a árvore das possibilidades é exponencial em
operacional a geração hídrica, térmica e eólica operando em função das variáveis de estado e estágios. Assim, o problema
conjunto. pode ter sua solução impraticável se houverem muitos estados
e estágios. Explorar métodos alternativos ou conjunto com
De posse dos dados contidos nas tabelas obteve-se o outras técnicas para a montagem desta árvore com redução das
“caminho” percorrido, além do ano de investimento e possibilidades a serem analisadas são melhorias possíveis de
implantação de cada geração através do Software Otimiza. serem exploradas para melhorar o algoritmo, principalmente
em casos onde o tempo de resposta é um fator importante na
resolução do problema.

REFERÊNCIAS

[1] ANEEL, Agência Nacional de Energia Eletrica, http://www.aneel.gov.br

[2] Métodos de Otimização Aplicados a Sistemas Elétricos de Potencia,

disponível em www.aneel.gov.br

[3] KAGAN, Nelson et al. Métodos de Otimização Aplicados a Sistemas

Elétricos de Potência, 2. ed. Blucher, 2011.
[4] Bertsekas, D. P. (2000), Dynamic Programming and Optimal Control
(2nd ed.), Athena Scientific. BELLMAN, Richard. “Princípio da
Otimidade”, Nyds, 1999.