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Impacto da Evolução do Perfil do Preço Horário nos Contratos de Energia

Considerando Diferentes Empreendimentos de Geração Eólica e Solar no


Brasil

Lucas Soares1, André Castro2, Rafael Pereira3, Levi Távora

PEA - Universidade de São Paulo1, Delta Energia2, Qair Brasil3

lucasaraujovga@hotmail.com1, andre.castro@deltaeam.com.br2,
r.pereira@qair.energy3, levifft@hotmail.com

Resumo: Neste artigo, é apresentado o impacto do preço horário em projetos eólicos


e fotovoltaicos considerando um cenário de expansão do sistema elétrico, com grande
inserção de renováveis, principalmente fontes fotovoltaicas através de usinas
centralizadas e geração distribuída. A transformação da curva típica de carga líquida,
considerando a geração das fontes renováveis, implica em inclinação negativa no
período da manhã e inclinação positiva de maior intensidade no fim da tarde,
coincidente com o instante em que o sol se põe e a produção fotovoltaica é reduzida.
Dessa forma, esta tendência indica como o perfil do preço horário provavelmente
evoluirá ao longo do tempo, acompanhando a carga líquida. Os resultados
demonstram expressiva mudança nos riscos de exposição na contabilização mensal
na CCEE, o que irá impactar diretamente nos preços praticados no mercado.

Palavras-Chave: Energia renovável, preços horários, comercialização de energia,


riscos energéticos, fontes intermitentes.

Abstract: This paper, evaluate the impact of the hourly price on wind and photovoltaic
projects, considering a scenario of expansion of the electrical system with a large
insertion of renewable sources, mainly photovoltaic sources, through centralized plants
and distributed generation. The transformation of the typical net load curve,
considering the generation of renewable sources, implies a negative ramp at the
morning and a positive ramp of greater intensity at late afternoon, coinciding with the
sunsets and photovoltaic production is reduced. Thus, this trend shows how the hourly
price profile will likely evolve over time, following the net charge. The results
demonstrate a significant change in exposure risks in the monthly accounting at CCEE,
which will directly impact market prices.

Keywords: Renewable energy; hourly prices, power trading, energy risk, intermittent
power sources.

1. INTRODUÇÃO

A implementação do preço horário, que entrou em vigência em janeiro de 2021,


já vem acarretando impactos significativos na formação do preço e na
comercialização, pois permite uma representação explícita e mais detalhada das
restrições operativas associadas à geração hidráulica e térmica bem como do impacto
temporal da variabilidade das fontes intermitentes.

O Brasil figura entre os países com maior capacidade instalada (19 GW) em
usinas eólicas e está em uma trajetória ascendente dos investimentos em usinas
fotovoltaicas (9,7 GW) também. Este crescimento tem sido impulsionado por um forte
interesse dos investidores às características dos ventos na região Nordeste e Sul,
visto por muitos especialistas como um dos melhores do mundo para a produção de
eletricidade a partir da cinética dos ventos. O mesmo acontece para as fontes solares,
considerando a elevada irradiação solar observada no território brasileiro. Junto a
ascensão destas fontes, que representam 12% da matriz energética nacional, o país
concentra na fonte hídrica, a maior participação na sua matriz energética, com 58,8 %
de participação e fontes térmicas (biomassa, gás natural, carvão, óleo e nuclear com
25,4% [1]. Neste contexto, é de essencial importância o entendimento de como o
preço horário afetará a dinâmica do mercado e suas tendências, assim como a
mensuração dos possíveis riscos aos quais os empreendedores estão ou estarão
expostos ao atuarem tanto no Ambiente de Contratação Livre (ACL) quanto no
Ambiente de Contratação Regulado (ACR), este último ao longo do tempo tem tido
menos interessados.

No ACL os contratos são negociados bilateralmente, onde os acordos sobre a


forma de entrega da energia são discutidos entre as partes. Neste tipo de acordo não
há uma determinação única sobre o tempo de contrato, preço, sazonalização e
modulação, os agentes precificam a energia de acordo com os riscos alocados de
cada parte. Por outro lado, no ACR, as mudanças nas regras de contratação de
energia eólica e solar apresentadas para o leilão de energia nova mais recente (34º
LEN), realizado em 08/07/2021, trazem uma percepção de risco bastante distinta,
onde, dentro de um período de 20 anos, os agentes vencedores do certame, por sua
conta em risco, terão que entregar energia firme conforme perfil de carga de cada
distribuidora que será a contraparte, tanto a sazonalização quanto a modulação
seguirão a carga cativa, ficando as diferenças para serem valoradas no Mercado de
Curto Prazo (MCP) [2].

No mercado de energia elétrica do Brasil a Câmara de Comercialização de


Energia Elétrica - CCEE é responsável por realizar a contabilização de todos os
contratos físicos relacionados com a comercialização de energia. Em vez de um
sistema de oferta e demanda como existe em outros países, através de mercados
spot para contratos físicos, o preço de curto prazo da energia é determinado por
modelos computacionais de otimização, definindo o Custo Marginal de Operação
(CMO) do sistema elétrico, que é a base para a divulgação do Preço de Liquidação
de Diferenças (PLD). As propriedades físicas e financeiras são precificadas no mesmo
contrato, então nosso desenho de mercado é bem diferente da maioria dos mercados
livres de energia dos países com mercados mais maduros, o que resulta em maior
complexidade para elaboração da modelagem financeira apropriada, dado que é
necessário considerar estas características únicas para precificar o risco
adequadamente.

Até o mês de dezembro de 2020 o PLD era divulgado pelas revisões semanais,
mas como parte de uma agenda de modernização da área financeira do setor elétrico,
agora existem dados intraday do PLD com granularidade horária. Neste contexto, este
artigo propõe avaliar fatores que são importantes, tais como sazonalização e
modulação e proporcionar o entendimento dos riscos e impactos na contratação de
empreendimentos eólicos e solares para possíveis cenários futuros, levando em
consideração a expansão ainda maior das renováveis até 2035 e os contratos de
longo prazo característicos do mercado livre e do mercado regulado.
2. FORMAÇÃO DO PREÇO HORÁRIO

Desde a concepção do mercado atacadista de energia elétrica, estava prevista


a utilização dos modelos computacionais de otimização eletroenergética
desenvolvidos, tanto para o planejamento da operação centralizada pelo Operador
Nacional do Sistema (ONS) quanto para a formação de preço do MCP na CCEE [3].
A cadeia completa dos otimizadores inclui a utilização dos modelos NEWAVE,
DECOMP e DESSEM pelo ONS para planejamento e programação centralizada da
operação hidrotérmica, nos horizontes de médio, curto e curtíssimo prazo,
abrangendo um largo espectro de atividades e informações, desde o planejamento
plurianual até a programação diária das unidades geradoras, por meio de uma
estratégia que minimiza o valor esperado do custo total de operação ao longo de todo
o horizonte de simulação. Dessa forma, o preço de curto prazo resultante do despacho
comercial apurado pela CCEE refletiria a operação de curtíssimo prazo definida pelo
despacho técnico e econômico e a única diferença esperada seria em decorrência das
restrições de transmissão internas ao submercados, portanto ainda não
representadas no despacho comercial, e que seriam cobertas, assim como o unit
commitment das térmicas, via Encargos de Serviços do Sistema (ESS).

O modelo DESSEM tem um período de programação de até 2 semanas e


integra-se à cadeia de modelos desenvolvidos pelo Centro de Pesquisas de Energia
Elétrica (CEPEL) [4]. Ao final do horizonte de estudo, pode-se acoplar a Função de
Custo Futuro (FCF) produzida pelo modelo de planejamento de curto prazo,
DECOMP. Este, por sua vez leva em consideração no cálculo da política de operação
de curto prazo uma FCF fornecida pelo modelo de planejamento de médio prazo,
NEWAVE. A Figura 1 apresenta as características da modelagem feita pela cadeia de
modelos desenvolvidos pelo CEPEL.
Figura 1: Cadeia de modelos desenvolvidos para o planejamento e operação do SIN. Fonte: [4].

A complexidade do DESSEM cresce na medida que a granularidade dos


elementos trazidos pelos modelos satélites aumenta. Estes modelos satélites são os
programas que definirão os insumos necessários para a montagem dos dados de
entrada para execução diária do DESSEM, que tem origem no processo de previsão
de carga, previsão de geração eólica, previsão de geração solar e previsão de vazões,
assim como o caso base da rede elétrica em regime permanente. A Figura 2 ilustra o
fluxo de dados até a montagem final do deck de entrada do modelo DESSEM.

Figura 2: Modelos satélites que servem de entrada para o DESSEM Fonte: Próprio Autor.
O DESSEM é um programa que exige um processamento demorado, contudo
traz resultados significativos para aproximar a operação e os custos ao mercado,
como o despacho de cada unidade geradora para o próximo dia (com ou sem a rede
elétrica) os custos marginais de energia em base de meia hora (por barra ou
submercado), a operação horária dos reservatórios (com destaque para os de
regularização diária), os fluxos nas linhas e injeções nas barras da rede elétrica, além
do status de todas as restrições de segurança. Entretanto, sabe-se que para formação
do PLD não é utilizada a rede elétrica completa, bem como os custos marginais são
discretizados de forma horária e por submercado.

3. METODOLOGIA
3.1. ELABORAÇÃO DA PROJEÇÃO DE PREÇOS DE LONGO PRAZO

O papel do preço horário é dar credibilidade ao sinal econômico de energia


elétrica, de forma permitir uma representação explícita e mais detalhada das
restrições operativa, conforme apresentado no item 2. A mudança na matriz elétrica
brasileira com a entrada cada vez maior das fontes renováveis de “custo marginal
zero” pode alterar substancialmente o sinal de preço ao longo da curva de carga diária.
O artigo adotou uma metodologia para projeção do perfil de preço, carga líquida e os
requisitos de flexibilidade operativa em escala horária do Sistema Interligado Nacional
- SIN são considerados para o horizonte de estudo, que inicia em um perfil de
referência do preço horário sombra de 2019 e segue com uma tendência evolutiva
para os anos de 2025, 2030 e 2035. Esta projeção foi parte de um estudo da
consultoria PSR [5]. Com base neste estudo, a Figura 3 apresenta as premissas que
foram adotas na expansão da matriz elétrica.
Figura 3: Expansão da matriz elétrica para 2035. Fonte: [5].

A transformação da curva típica de carga líquida, considerando a geração das


fontes eólicas e solares fotovoltaicas, implica em inclinação negativa no período da
manhã e inclinação positiva de maior intensidade no fim da tarde, coincidente com o
instante em que o sol se põe e a produção fotovoltaica é reduzida. Dessa forma, esta
tendência mostra como o perfil do preço spot horário provavelmente evoluirá ao longo
do tempo, acompanhando a carga líquida. Nos dias de semana, espera-se que os
preços aumentem à noite, já que a produção solar diminui rapidamente, e em termos
mensais, projeta-se que o aumento da participação eólica na matriz diminua os preços
no segundo semestre. Para este estudo, foi considerado a curva do PLD no Nordeste
que teve sua média de R$ 227,85/MWh para 2019, R$ 136,61/MWh para 2025, R$
278,70/MWh para 2030 e R$ 246,90/MWh para 2035. A Figura 4 e 5 ilustram a
evolução do perfil da curva horária do PLD que será considerada neste estudo, tanto
na modulação quanto na sazonalização, respectivamente.
1,3

1,2

1,1
P.U.

0,9

0,8

0,7
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

2019 pu 2025 pu 2030 pu 2035 pu

Figura 4: Perfil da curva de preço horário no submercado Nordeste. Fonte: [5].

2,2

1,8

1,4
P.U.

0,6

0,2

2019 pu 2025 pu 2030 pu 2035 pu

Figura 5: Perfil sazonal da curva de preço no submercado Nordeste. Fonte: [5].

3.2. METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO SOBRE OS EMPREENDIMENTOS


DE GERAÇÃO

Para apresentar de forma bem objetiva o impacto da transformação do perfil do


PLD horário nos agentes de geração, neste trabalho foi realizada uma avaliação de
risco de exposição financeira no MCP considerando perfis específicos de geração de
projetos eólicos e solares de diferentes regiões do nordeste brasileiro. Foram
analisados os projetos eólicos do litoral do Ceará (Eólico 1) e do interior da Bahia
(Eólico 2), com diferentes curvas de geração mensal e horária. Também foi
considerado um projeto solar típico no Nordeste. A Figura 6 e 7 apresentam a curva
de geração dos projetos eólicos e o projeto solar durante o dia, respectivamente. A
Figura 8 demonstra o comportamento da geração durante o ano.

1,4
1,3
1,2
1,1
P.U.

1
0,9
0,8
0,7
0,6
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Eólico 1 Eólico 2

Figura 6: Comportamento da curva de geração Eólica durante o dia. Fonte: Próprio autor.

4,0

3,0
P.U.

2,0

1,0

0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Solar

Figura 7: Comportamento da curva de geração Solar durante o dia. Fonte: Próprio autor.

1,4

1,2
P.U.

0,8

0,6

Eólico 1 Eólica 2 Solar

Figura 8: Comportamento da curva de geração Solar durante o ano. Fonte: Próprio autor.
Foi aplicado um conceito de negociação padrão de mercado em cada um
destes projetos, de forma a confrontar os dados de geração contra contratos de venda,
em proporções diferentes, porém com a média sempre igual, ou seja, unitária (em
p.u.). Considerou-se contratos no mercado livre e em leilões no ambiente regulado. O
“prêmio de risco”, nome atribuído ao custo da exposição no MCP, é baseado na
diferença do montante ofertado e o montante a ser entregue para cada hora do mês
e para cada tipo de contrato [6]. Baseado nas estruturas das regras de
comercialização no mercado de energia elétrica brasileiro, o balanço horário
contabilizado a cada mês compara recursos versus requisitos, onde os recursos são
definidos como a geração própria mais contratos de compra e os requisitos como o
consumo próprio e os contratos de venda. Através das equações 1 e 2 consegue-se
chegar no valor do prêmio pelo risco de exposição no MCP por mês e por ano,
considerando a geração total da usina no período de um mês e um ano,
respectivamente.

∑𝑁
ℎ=1(𝐺ℎ −𝐶ℎ )∗𝑃𝐿𝐷ℎ
𝑃𝑟ê𝑚𝑖𝑜𝑚 = [R$/MWh] (1)
𝐺𝑒𝑟𝑎çã𝑜𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙𝑚

∑12
𝑚=1(𝑃𝑟ê𝑚𝑖𝑜𝑚 ∗𝑁𝑚 )
𝑃𝑟ê𝑚𝑖𝑜𝑎 = [R$/MWh] (2)
𝐺𝑒𝑟𝑎çã𝑜𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙𝑎

Sendo Gh a geração da usina, Ch os contratos para diferentes tipos de entrega, PLDh


é o preço da liquidação das diferenças para cada hora do mês, Nm o número total de
horas do mês “m” e “a” é o ano de referência.

Para análise do impacto em contratos bilaterais, foi avaliado três tipos de


entrega, conforme apresentado na tabela 1, onde CG é a Curva de Geração típica da
usina e flat é o tipo de entrega constante.

Tabela 1: Tipo de entrega do contrato.

Contrato ACL
Projeto
Sazonalização Modulação
flat flat
Eólico/Solar flat CG
CG flat
Para as análises em contratos de leilões regulados, foi considerado a premissa
que vinha sendo discutida em Consulta Pública da ANEEL como alternativa para o
34ª Leilão de Energia Nova (A-4 de 2021) [2]. Onde para fontes de geração eólica e
solar os contratos comprometem o vendedor com a obrigação de entrega
sazonalizada conforme a carga das distribuidoras e modulação flat. O perfil sazonal
de carga das distribuidoras foi avaliado considerando cada região geográfica
brasileira, consolidados pelo SIMPLES/EPE.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após execução de todos os cálculos, os resultados foram separados entre


avaliações nos contratos no ACL e no ACR. No total, foram estudados os cenários de
4 anos diferentes, 3 diferentes tipos de contratos no ACL e 5 para o ACR e 8760
balanços horários para cada ano, o que chegou a gerar para cada projeto mais 105
mil dados para ACL e mais de 175 mil para o ACR. De maneira geral, os prêmios
apurados demonstraram forte mudança nos riscos de exposição negativa na
liquidação no MCP.

4.1. IMPACTOS EM CONTRATOS NO ACL

Conforme mudança no perfil da curva de preço ao longo dos anos, os diferentes


projetos eólicos se alternam na posição de credor ou devedor na contabilização da
CCEE. As Figuras 9 e 10 apresentam os resultados até 2035 considerando os
contratos no ACL para os projetos Eólico 1 e Eólico 2, respectivamente.

14
12
10
8
6
R$/MWh

4
2
0
-2
-4
2019 2025 2030 2035
flat-flat flat-CG CG-flat

Figura 9: Prêmio pelo risco de exposição no MCP do projeto eólico 1 considerando contratos no ACL.
3

0
R$/MWh

-1

-2

-3

-4

-5
2019 2025 2030 2035
flat-flat flat-CG CG-flat

Figura 10: Prêmio pelo risco de exposição no MCP do projeto eólico 2 considerando contratos no
ACL.

Os projetos localizados no litoral do Ceará que possuem curva de geração


predominantemente diurna passam a ter exposições negativas no cenário de 2035 e
o caso contrário ocorre em projetos no interior da Bahia.

Em relação ao projeto solar analisado, a curva horária de 2019 beneficia o


projeto, principalmente quando considerado o tipo de entrega mais negociado no
mercado livre que é a flat. A Figura 11 apresenta os resultados para o projeto solar no
ACL.

10

-5
R$/MWh

-10

-15

-20

-25

-30
2019 2025 2030 2035
flat-flat flat-CG CG-flat

Figura 11: Prêmio pelo risco de exposição no MCP do projeto solar considerando contratos no ACL.
Entretanto, com a evolução apresentada neste trabalho os projetos solares no
mercado livre vão de uma exposição positiva de cerca de R$ 8,00/MWh na média de
2019 para uma exposição negativa de quase R$ 27,00/MWh na média de 2035.

4.2. IMPACTOS EM CONTRATOS NO ACR

Para os contratos no ACR os impactos tiveram efeitos muito parecidos, o que


impacta diretamente nos preços praticados no momento da oferta a ser realizada em
leilões. As Figuras 12 e 13 apresentam os resultados para os projetos eólicos, já a
Figura 14 ilustra os resultados para o projeto solar.

14

12

10

8
R$/MWh

-2
2019 2025 2030 2035
Sudeste Sul Nordeste Norte Centro-Oeste

Figura 12: Prêmio pelo risco de exposição no MCP do projeto eólico 1 considerando contratos no
ACR.

-2
R$/MWh

-4

-6

-8

-10
2019 2025 2030 2035
Sudeste Sul Nordeste Norte Centro-Oeste

Figura 13: Prêmio pelo risco de exposição no MCP do projeto eólico 2 considerando contratos no
ACR.
10
5
0
-5
R$/MWh

-10
-15
-20
-25
-30
2019 2025 2030 2035
Sudeste Sul Nordeste Norte Centro-Oeste

Figura 14: Prêmio pelo risco de exposição no MCP do projeto solar considerando contratos no ACR.

Para avaliação do impacto na venda em leilões regulados, houve diminuição


na exposição positiva para o projeto eólico 1, porém não foi verificado riscos de
exposição negativa significativa. No projeto eólico 2 houve a inversão da posição de
exposição no MCP. Mais uma vez as análises apresentaram forte risco de exposição
negativa para o projeto solar.

4.3. ANÁLISE QUALITATIVA SOBRE MITIGAÇÕES

Contudo, pode-se analisar antecipadamente formas de mitigações de riscos


levando em conta os novos cenários de expansão do sistema elétrico. Tais mitigações
podem ser desenvolvidas seguindo as alterações na modelagem financeira, até
aspectos técnicos como projetos híbridos e sistemas de armazenamento para
complementariedade da geração.

A modelagem financeira tem um aspecto mais reativo, ou seja, tem-se


consciência do risco e, assim, é incorporado tal exposição para dentro do modelo
econômico-financeiro que viabilizará ou não o projeto. Existe um contraponto onde,
uma vez inserido na modelagem, tal risco alterará a precificação de contratos, se o
preço de mercado não corresponder da mesma maneira haverá grandes chances de
o projeto não ser viável.
Para mitigações técnicas sobre os projetos, tanto os empreendimentos híbridos
(eólica e solar) quanto sistemas de armazenamento junto a usina têm o objetivo de
trazer complementariedade na curva de geração. No caso de usinas híbridas eólica e
solar apresentam, adicionalmente, variabilidade de geração em tempos curtos, com
flutuações intra-horárias e até mesmo de segundos, no caso de fotovoltaicas. Em
alguns casos, quando há geração entre fontes, seria possível mitigar tal ociosidade.
Um exemplo dessa complementariedade ocorre em algumas regiões como do projeto
eólico dois na Bahia, onde existe predominância de ventos noturnos. Com isso, a
pouca injeção na rede no período diurno, abrindo espaço para que usinas fotovoltaicas
preencham uma eventual ociosidade da rede com sua geração diurna. No caso do
projeto eólico 1, no Ceará, a solução híbrida não seria adequada, dentro do contexto
deste estudo. Dessa forma, em um cenário de amadurecimento sobre inserção de
baterias e boas práticas regulatórias, analisar métodos sobre sistemas de
armazenamento seria mais apropriado, podendo ser determinantes até em usinas já
existentes.

5. CONCLUSÕES

A artigo buscou conduzir o entendimento dos riscos do preço horário no


mercado de curto prazo de forma aplicada. Foram apresentados os impactos do preço
horário em projetos eólicos e fotovoltaicos brasileiros, considerando um cenário de
expansão do sistema com grande inserção de fontes renováveis, principalmente a
fonte fotovoltaica através de usinas centralizadas e geração distribuída.

O cenário considerado permite o empreendedor a direcionar suas análises e,


principalmente, mensurar seus riscos. Tanto no Plano Nacional de Expansão 2029
quanto o 2030 da Empresa de Pesquisa Energética - EPE ajudam a consolidar tal
premissa, onde a dificuldade de construção de novas usinas hidráulicas faz com que
a contribuição deste tipo de fonte regularizada diminua bastante.

A previsibilidade da receita com a geração eólica e solar é desafiadora, já que


sua produção depende de um fenômeno meteorológico, e seu despacho é sempre
prioritário. Com a operacionalização do PLD horário como nova plataforma de preços
na CCEE, as incertezas nas receitas aumentam, isto pode acontecer tanto em
contratos no ACR quanto no ACL com maior e menor impacto dependendo do padrão
contratual. As medidas de mercado para mitigação dos riscos no SIN disponíveis
ainda possuem baixa liquidez, entretanto, já existem algumas soluções de produtos
para modulação, principalmente vindo de comercializadoras de energia.

Por outro lado, mitigações mais estruturais são vistas com bons olhos pelos
empreendedores, mesmo com suas complexidades, dado que a expansão do sistema
trará novos riscos.

6. REFERÊNCIAS

[1] Sistema de Informações de Geração da ANEEL (SIGA). Agência Nacional de


Energia Elétrica. Disponível em:
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiNjc4OGYyYjQtYWM2ZC00YjllLWJlYm
EtYzdkNTQ1MTc1NjM2IiwidCI6IjQwZDZmOWI4LWVjYTctNDZhMi05MmQ0L
WVhNGU5YzAxNzBlMSIsImMiOjR9
[2] ANEEL. CP 004/2021: Aprimoramento do Edital dos Leilões de Geração nº
6/2021-ANEEL (Leilão A-3, de 2021) e nº 7/2021-ANEEL (Leilão A-4, de
2021). Disponível em: https://www.aneel.gov.br/consultas-
publicas?p_auth=sIhEnSgF&p_p_id=participacaopublica_WAR_participacaop
ublicaportlet&p_p_lifecycle=1&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_col_i
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opublicaportlet_ideParticipacaoPublica=3506&_participacaopublica_WAR_par
ticipacaopublicaportlet_javax.portlet.action=visualizarParticipacaoPublica
[3] A. Castro. D. Souza. J. C. Mello, et all. Impacto nos contratos futuros de
empreendimentos eólicos no mercado livre de energia quando da
implementação do preço horário. XXV SNPTEE. Belo Horizonte, 2019.
[4] Centro de Pesquisas de Energia Elétrica - CEPEL. Manual do Usuário do
modelo DESSEM versão 16.7. Programação Diária da Operação de Sistemas
Hidrotérmicos.
[5] PSR. Análise do impacto do preço horário no setor eólico e ações para
mitigação dos riscos. Análise quantitavivas. Preparado para ABEEólica.
Janeiro, 2021.
[6] Câmara de Comecialização de Energia Elétrica. Regras de comercialização.
Disponível em:
https://www.ccee.org.br/portal/faces/oquefazemos_menu_lateral/regras?_afrL
oop=21103529125476&_adf.ctrl-
state=zaq2wcstc_54#!%40%40%3F_afrLoop%3D21103529125476%26_adf.c
trl-state%3Dzaq2wcstc_58 .
[7] EPE, “Usinas Híbridas - Uma análise qualitativa de temas regulatórios e
comerciais relevantes ao planejamento” (nº EPEDEE-NT-011/2018-r0).
[8] Volt Robotics. Contribuição à Tomada de Subsídios ANEEL 011/2020:
Inserção de Sistemas de Armazenamento no Setor Elétrico Brasileiro.
Preparado para ABEEólica. Março, 2021.

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