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AULA 1

INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS
DE GERAÇÃO

Prof. Guilherme Steilein


CONVERSA INICIAL
Caro aluno, seja bem-vindo à sua primeira aula de Integração de Sistemas
de Geração. Nela, abordaremos a evolução do Sistema Elétrico Brasileiro com
ênfase nos sistemas de geração de energia elétrica. Você conhecerá a estrutura
organizacional do setor elétrico, composta por diversos agentes e empresas
reguladoras. Analisaremos a situação atual do SIN (Sistema Interligado Nacional)
e dos Sistemas Isolados no norte do país. Por fim, veremos as conexões do Brasil
com os demais países da América do Sul e os sistemas de transmissão vigentes
na América do Norte e na Europa. Neste contexto, a ideia é que, ao final da aula,
você tenha uma boa noção da matriz energética brasileira e de como acontece a
integração dos sistemas de geração.

CONTEXTUALIZANDO

A energia elétrica desempenha um papel fundamental na vida moderna. Ao


lado de transporte, telecomunicações, saúde e saneamento, compõe a
infraestrutura mínima necessária para integração no sistema socioeconômico
vigente, portanto, a geração e a integração dos sistemas de geração,
principalmente com as novas tecnologias de geração distribuída, ganharam um
enfoque especial nos últimos anos. Porém, antes de mergulharmos nas novas
tecnologia, vamos, nesta primeira aula, entender um pouco mais sobre a origem
e o atual funcionamento do Sistema Interligado Nacional.

TEMA 1 – ORIGEM DO SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO

O desenvolvimento do setor elétrico brasileiro pode ser dividido em cinco


períodos. O primeiro deles se inicia no século XIX (a chegada da empresa
canadense Light ao país, em 1889, construindo sua primeira usina em 1901), e
termina no início da década de 1930, tendo como principal fonte energética o
carvão vegetal.
No Paraná, o primeiro esforço para a eletrificação ocorreu em 9 de
setembro de 1890, quando o presidente da Intendência Municipal de Curitiba, Dr.
Vicente Machado, assinou contrato com a Companhia de Água e Luz do Estado
de São Paulo para iluminar a cidade com "uma força iluminativa de quatro mil
velas" (Copel, 2016). Baseada nesse contrato e com uma concessão de 20 anos,
a Companhia instalou a primeira usina elétrica do Paraná num terreno próximo à

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antiga estação ferroviária, localizada atrás do então Congresso Estadual (atual
Câmara Municipal de Curitiba). A usina começou a funcionar oficialmente em 12
de outubro de 1892, sob a direção do engenheiro Leopoldo Starck, seu construtor.
Duas unidades a vapor fabricadas em Budapeste produziam 4.270 HP de força,
consumindo 200 metros cúbicos de lenha por dia.
O segundo período estendeu-se de 1930 a 1945, e foi caracterizado pela
aceleração do processo de industrialização. Na era Vargas, o Estado promoveu
uma maior regulação do setor, por exemplo, promulgando o Código de Águas
(1934) que transmitiu à União a propriedade das quedas d’água e a exclusividade
de outorga das concessões para aproveitamento hidráulico, e a criação, em março
de 1939, do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), que tinha
como finalidade estudar o problema da exploração e utilização da energia elétrica
no país.
O terceiro período iniciou-se no pós-guerra e se estendeu até o final da
década de 1970, sendo caracterizado pela forte presença do Estado no setor
elétrico, principalmente por meio da criação de empresas estatais em todos os
segmentos da indústria, tais como a Chesf (Companhia Hidrelétrica do São
Francisco), em 1945, Furnas, em 1957, Ministério de Minas e Energia (MME), em
1960, Eletrobras, em 1962, e o Departamento Nacional de Águas e Energia
Elétrica (DNAEE), em 1979. Para se ter uma ideia do nível de investimentos
realizados nesta época, a potência instalada no país passou de 1.300 MW para
30.000 MW em pouco mais de 20 anos.
O quarto período iniciou-se na década de 1980, com a inauguração da
hidrelétrica Itaipu Binacional (Brasil e Paraguai), em 1984, e foi marcado pela crise
da dívida externa brasileira, que resultou em altos cortes de gastos e
investimentos pelo governo. As tarifas de energia, que eram iguais para todo o
país, foram mantidas artificialmente baixas como medida de contenção da
inflação, não garantindo às empresas do setor uma remuneração suficiente para
o seu equilíbrio econômico.
Nesse contexto, iniciou-se o quinto período do desenvolvimento da
indústria de eletricidade no Brasil, que perdura até os dias atuais. Em meados da
década de 1990, a partir de um projeto de reestruturação do setor elétrico,
denominado RESEB, o Ministério de Minas e Energia preparou as mudanças
institucionais e operacionais que culminaram no atual modelo do setor. Este foi
baseado no consenso político-econômico do “estado regulador”, o qual deveria
direcionar as políticas de desenvolvimento, bem como regular o setor, sem se
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postar como executor em última instância. Assim, muitas empresas foram
privatizadas e autarquias de caráter público e independente foram criadas, como
é o caso da própria agência reguladora, a Aneel (Abradee).
Uma das principais alterações promovidas em 2004 foi a substituição do
critério utilizado para concessão de novos empreendimentos de geração.
Passaram a vencer os leilões do investidor que oferecesse o menor preço para a
venda da produção das futuras usinas. Além disso, o novo modelo instituiu dois
ambientes para a celebração de contratos de compra e venda de energia: o
Ambiente de Contratação Regulada (ACR), exclusivo para geradoras e
distribuidoras, e o Ambiente de Contratação Livre (ACL), do qual participam
geradoras, comercializadoras, importadores, exportadores e consumidores livres.

TEMA 2 – ESTRUTURA INSTITUCIONAL DO SETOR

Em 2004, com a implantação do Novo Modelo do Setor Elétrico, o Governo


Federal, por meio das leis n. 10.847/2004 e n. 10.848/2004, manteve a formulação
de políticas para o setor de energia elétrica como atribuição do Poder Executivo
Federal, por meio do Ministério de Minas e Energia (MME) e com assessoramento
do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e do Congresso Nacional.
Os instrumentos legais criaram novos agentes. Um deles é a Empresa de
Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao MME, cuja função consiste em realizar
os estudos necessários ao planejamento da expansão do sistema elétrico. Outro
deles é a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que abriga a
negociação da energia no mercado livre (Aneel, 2008).
O novo modelo preservou a Aneel, agência reguladora, e o Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por coordenar e supervisionar a
operação centralizada do sistema interligado brasileiro. Para acompanhar e
avaliar permanentemente a continuidade e a segurança do suprimento
eletroenergético em todo o território nacional, além de sugerir das ações
necessárias, foi instituído o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE),
também ligado ao MME (Aneel, 2008).
O ONS, entidade também autônoma que substituiu o GCOI (Grupo de
Controle das Operações Integradas, subordinado à Eletrobrás), é responsável
pela coordenação da operação das usinas e redes de transmissão do Sistema
Interligado Nacional (SIN). Para tanto, realiza estudos e projeções com base em

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dados históricos, presentes e futuros da oferta de energia elétrica e do mercado
consumidor (Aneel, 2008).
Para decidir quais usinas devem ser despachadas, opera o Newave,
programa computacional que, com base em projeções, elabora cenários para a
oferta de energia elétrica. O mesmo programa é utilizado pela Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para definir os preços a serem
praticados nas operações de curto prazo do mercado livre (Aneel, 2008).
As figuras 1, 2 e 3 a seguir, apresentam a hierarquia do setor elétrico
brasileiro moderno, mostrando a relação entre os diversos agentes que planejam,
operam e controlam o sistema de forma integrado sob supervisão do estado.

Figura 1 – Organograma da estrutura do setor elétrico brasileiro

Fonte: Aneel / Energia Elétrica – Geração, Transmissão e Sistemas Interligados (2008).

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Figura 2 – Estrutura do sistema elétrico brasileiro

Fonte: Aneel / Energia Elétrica – Geração, Transmissão e Sistemas Interligados (2008).

Figura 3 – Estrutura do sistema elétrico brasileiro

Fonte: MME - ABCE / Energia Elétrica – Geração, Transmissão e Sistemas Interligados (2016).

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2.1 Sistema dos leilões e mercado livre

Do Ambiente de Contratação Regulada (ACR) participam, na parte


compradora, apenas as distribuidoras, para as quais essa passou a ser a única
forma de contratar grande volume de suprimento a longo prazo. As vendedoras
da energia elétrica são as geradoras. O início da entrega é previsto para ocorrer
um, três ou cinco anos após a data de realização do leilão (que são chamados,
respectivamente, de A-1, A-3 e A-5) (Aneel, 2008).
O MME determina a data dos leilões, realizados pela Aneel e pela CCEE.
Por meio de portaria, fixa o preço teto para o MWh a ser ofertado, de acordo com
a fonte da energia: térmica ou hídrica. Como as geradoras entram em “pool” (ou
seja, a oferta não é individualizada), a prioridade é dada ao vendedor que pratica
o menor preço. Os valores máximos devem ser iguais ou inferiores ao preço teto
(Aneel, 2008).
Os leilões dividem-se em duas modalidades principais: energia existente e
energia nova. A primeira corresponde à produção das usinas já em operação e os
volumes contratados são entregues em um prazo menor (A-1). A segunda, à
produção de empreendimentos em processo de leilão das concessões e de usinas
já outorgadas pela Aneel que estão em fase de planejamento ou construção.
Neste caso, o prazo de entrega, geralmente, é de três a cinco anos (A-3 e A-5).
Além deles, há os leilões de ajuste e os de reserva. Nos primeiros, as
distribuidoras complementam o volume necessário ao atendimento do mercado
(visto que as compras de longo prazo são realizadas com base em projeções),
desde que ele não supere 1% do volume total. Nos leilões de reserva, o objeto de
contratação é a produção de usinas que entrarão em operação apenas em caso
de escassez da produção das usinas convencionais (basicamente hidrelétricas)
(Aneel, 2008).
Entre 2004 e 2008, a CCEE organizou mais de 20 leilões por delegação e
sob coordenação da Aneel. Dois deles, pelo menos, foram significativos pela
contribuição à diversificação e à simultânea “limpeza” (aumento da participação
de fontes renováveis) da matriz nacional. O primeiro, em 2007, foi exclusivo para
fontes alternativas. Nele, foi ofertada a produção de pequenas centrais
hidrelétricas (PCHs) e termelétricas movidas a bagaço de cana e a biomassa
proveniente de criadouro avícola. No outro, realizado em 2008 e caracterizado
como o primeiro leilão de energia de reserva, foi contratada exclusivamente a
energia elétrica produzida a partir da biomassa. A maior parte das usinas

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participantes será movida a bagaço de cana (apenas uma é abastecida por capim
elefante).
Como são realizados com antecedência de vários anos, esses leilões são,
também, indicadores do cenário da oferta e da procura a médio e longo prazos.
Para a EPE, eles fornecem variáveis necessárias à elaboração do planejamento.
Para os investidores em geração e para as distribuidoras, proporcionam maior
segurança em cálculos, como fluxo de caixa futuro, por permitir a visualização de,
respectivamente, receitas de vendas e custos de suprimento ao longo do tempo.
Segundo o governo, o mecanismo de colocação prioritária da energia ofertada
pelo menor preço também garante a modicidade tarifária (Aneel, 2008).
No mercado livre, ou ACL, vendedores e compradores negociam entre si
as cláusulas dos contratos, como preço, prazo e condições de entrega. Da parte
vendedora, participam as geradoras enquadradas como PIE (produtores
independentes de energia). A parte compradora é constituída por consumidores
com demanda superior a 0,5 MW que adquirem a energia elétrica para uso
próprio. As transações geralmente são intermediadas pelas empresas
comercializadoras, também constituídas na década de 90, e que têm por função
favorecer o contato entre as duas pontas e dar liquidez a esse mercado (Aneel,
2008).

2.2 Operações de curto prazo

Os contratos têm prazos que podem chegar a vários anos. O comprador,


portanto, baseia-se em projeções de consumo. O vendedor, nas projeções do
volume que produzirá – e que variam de acordo com as determinações do ONS.
Assim, nas duas pontas podem ocorrer diferenças entre o volume contratado e
aquele efetivamente movimentado. O acerto dessa diferença é realizado por meio
de operações de curto prazo no mercado “spot”, abrigado pela CCEE, e têm por
objetivo fazer com que, a cada mês, as partes “zerem” as suas posições por meio
da compra ou da venda da energia elétrica. Os preços são fornecidos pelo
programa Newave e variam para cada uma das regiões que compõem o SIN, de
acordo com a disponibilidade de energia elétrica (Aneel, 2008).
Além de abrigar essas operações, a CCEE também se responsabiliza pela
sua liquidação financeira. Esta é a sua função original (Aneel, 2008).

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Nos últimos anos, a entidade passou a abrigar a operacionalização de parte
dos leilões de venda da energia que, junto às licitações para construção e
operação de linhas de transmissão, são atribuição da Aneel.

Figura 4 – Leilão de Energia na BM&FBovespa

Fonte: LUZ- BM&FBOVESPA.

TEMA 3 – SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL

O atual Sistema Interligado Nacional (SIN) apresenta um desafio


permanente no sentido de promover a expansão da infraestrutura energética de
forma sustentável para garantir o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.
Segundo dados do IBGE, MME e ANEEL (2014), a população brasileira,
atualmente em 204 milhões de pessoas, tem um consumo médio per capita de
2,061kWh/hab.ano. Para atender esta demanda, são necessários mais de 89,2
mil quilômetros nas tensões de 230, 345, 440, 500 e 750 kV (também chamada
rede básica que, além das grandes linhas entre uma região e outra, é composta
pelos ativos de conexão das usinas e aqueles necessários às interligações
internacionais) (MME, 2016). Além disso, abriga 96,6% de toda a capacidade de
produção de energia elétrica do país – oriunda de fontes internas ou de
importações, principalmente do Paraguai, por conta do controle compartilhado da

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usina hidrelétrica de Itaipu, com uma capacidade instalada de 134 GW e uma
oferta de eletricidade de 624,3 TWh.

Figura 5 – Sistema Interligado Nacional

Fonte: <http://www.ons.org.br/conheca_sistema/mapas_sin.aspx>

A Capacidade Instalada de Geração está distribuída da seguinte forma


entre as diversas fontes:

Tabela 1 – Capacidade Instalada (MW) pelo tipo de fonte

FONTE CAPACIDADE INSTALADA (MW) Nº USINAS %


HIDRO 94.234 1.225 64,56%
TÉRMICA 42.446 2.911 29,08%
EÓLICA 9.265 379 6,35%
SOLAR 23 40 0,02%
TOTAL: 145.968 4.555 100,00%
Fonte: Banco de Informação de Geração (BIG) ANEEL (2016).

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Do total de 29,08% da energia térmica produzida, ainda podemos subdividi-
la pela origem dos combustíveis e classificá-los entre não-renováveis e renováveis
(MME, 2016).

Gráfico 1 – Combustíveis das usinas termelétricas

Gás Natural
(13.036 MW)
Biomassa
8%5% (11.554 MW)
31%
Petróleo
29% (12.254 MW)
Carvão
27% (3.612 MW)
Nuclear
(1.990 MW)

Fonte: Banco de Informação de Geração (BIG) ANEEL (2016).

A Figura 6, a seguir, apresenta o centro regional de operação sudeste do


ONS. No monitor grande, podem ser observadas, entre outras, a curva de carga,
as linhas operando, a frequência de geração etc. O ONS trabalha 24 horas por
dia, 365 dias por ano.

Figura 6 – Centro Regional Sudeste do ONS

Fonte: ONS.

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TEMA 4 – OS SISTEMAS ISOLADOS

Os Sistemas Isolados (estabelecidos pela Lei n. 12.111, de 9 de dezembro


de 2009, que dispõe sobre o serviço de energia elétrica nesses sistemas, pelo
Decreto n. 7246, de 28 de julho de 2010, e pela Resolução Normativa Aneel
n. 427, de 22 de fevereiro de 2011) são predominantemente abastecidos por
usinas térmicas movidas a óleo diesel e óleo combustível – embora também
abriguem Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), Centrais Geradoras
Hidrelétricas (CGH) e termelétricas movidas a biomassa (Aneel, 2008).
Estão localizados principalmente na região Norte: nos Estados de
Amazonas, Amapá, Roraima e na Ilha de Fernando de Noronha. Os Estados de
Acre e de Rondônia se interligaram ao SIN em 2009, quando entrou em operação
a linha Jauru-Samuel, ligando, assim, Rio Branco (AC) até Vilhena (RO) com uma
extensão total de 947 km. Em junho de 2013, o Ibama assinou as licenças de
operação das linhas de transmissão da interligação Tucuruí-Manaus-Macapá,
conectando as capitais Manaus e Macapá ao SIN (Aneel, 2008).

Figura 7 – Conexão do sistema isolado Acre-Rondônia ao SIN

Fonte: ONS (2008).

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Eles são assim denominados por não estarem interligados ao SIN e por
não permitirem o intercâmbio de energia elétrica com outras regiões, em função
das peculiaridades geográficas da região em que estão instalados. Apesar de
estarem localizados em 45% da área territorial brasileira, com cerca de 1,2 milhão
de consumidores, os sistemas isolados respondem apenas por 3,4% da energia
elétrica produzida no país (2010). Após a interligação do Acre de Rondônia, o
mercado dos sistemas isolados alcançou, no primeiro semestre de 2010, 1,6% do
total do mercado nacional. Em 2013, com a interligação de Manaus e Macapá ao
SIN, chegou a menos de 1% de participação.
A capital de Roraima, Boa Vista, e seus arredores são, na verdade,
abastecidos pela Venezuela. De características predominantemente térmicas, os
Sistemas Isolados apresentam custos de geração superiores ao SIN. Além disso,
as dificuldades de logística e de abastecimento dessas localidades pressionam o
frete dos combustíveis (com destaque para o óleo diesel). Para assegurar os
benefícios usufruídos pelos consumidores do SIN à população atendida por esses
sistemas, o Governo Federal criou a Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis
(CCC), encargo setorial que subsidia a compra do óleo diesel e óleo combustível
usado na geração de energia por usinas termelétricas que atendem às áreas
isoladas (cobrado nas tarifas de distribuição e de uso do sistema de transmissão
e distribuição – TUST e TUSD). Essa conta é paga por todos os consumidores de
energia elétrica do país. Em 2008, o valor da CCC foi de 3 bilhões de reais. Os
recursos da CCC são administrados pela Eletrobras, e os valores (recolhidos
mensalmente nas contas de luz pelas distribuidoras de energia elétrica) são
fixados pela Aneel (Reis, 2011).
A Diretoria de Geração da Eletrobras é responsável pela coordenação do
Grupo Técnico Operacional da Região Norte (GTON), criado por meio da Portaria
MINFRA n. 895, de 29 de novembro de 1990. “Esse órgão colegiado é
responsável pelo planejamento e acompanhamento da operação dos sistemas
isolados, visando assegurar a esses consumidores, não contemplados com as
vantagens oferecidas pelo Sistema Interligado, o fornecimento de energia elétrica
em condições adequadas de segurança e qualidade” (Brasil, 1990).
O GTON é composto por uma Secretaria Executiva (SGTON) e cinco
Comitês Técnicos: Planejamento (CTP), Operação (CTO), Distribuição (CTD),
Mercado (CTM) e Financeiro (CTF), todos coordenados pela Eletrobras. Também
conta com o apoio do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Eletrobras Cepel)
em projetos pesquisa e desenvolvimento (Eletrobras).
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TEMA 5 – SISTEMAS INTERLIGADOS INTERNACIONAIS

Devido às suas características regionais e ao seu tamanho continental, o


Brasil tem diversas interligações elétricas com os países da América do Sul, os
quais são destacados abaixo (Reis, 2011):
1. Com o Paraguai – por meio de quatro linhas de Transmissão em 500 kV
que interligam a usina de Itaipu, à subestação Margem Direita (Paraguai) e
à subestação Foz do Iguaçu (PR, Brasil).
2. Com o Uruguai – por meio da estação conversora de frequência de Rivera
(Uruguai), com capacidade de 70 MW e uma linha de transmissão em
230/150 kV, ligando-a à subestação Livramento, em Sant’Ana do
Livramento (RS, Brasil). Entrou em operação em 2001 mediante acordo
entre a uruguaia UTE e a Eletrosul. Não entrou em operação comercial
ainda, embora já tenha sido usada para atender demandas emergenciais
em ambos os países.
3. Com a Argentina – por meio da estação conversora de frequência de
Uruguaiana (RS, Brasil), inaugurada em 1994, com capacidade de 50 MW
e uma linha de transmissão em 132 kV, ligando-a ao Paso de los Libres
(Argentina). Não se encontra em operação comercial e foi usada para
atendimentos emergenciais em ambos os países.
4. Com a Venezuela – por meio de uma interligação entre o complexo
hidrelétrico de Guri/Macágua e Boa Vista, em uma extensão total de 676
km, tendo sido inaugurada em 2001. Uma linha de transmissão de 400 kV,
sob a responsabilidade da empresa venezuelana Edelca – Electrificación
del Caroní C. A.). Compõe o trecho dentro do território venezuelano entre
as SE´s de Macágua e Las Claritas, passando, em seguida, para 230 kV,
até alcançar a fronteira com o Brasil, perto da cidade de Santa Elena de
Uairén. O trecho brasileiro tem 191 km de extensão a partir da fronteira até
Boa Vista, por uma linha de 230 kV, estando sob responsabilidade da
Eletronorte.

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Figura 8 – Intercâmbio Energético do Brasil com os países da América do Sul

Fonte: Aneel / Energia Elétrica – Geração, Transmissão e Sistemas Interligados (2008).

5.1 Sistemas Interligados na América do Norte e Europa

No mundo todo, há dois modelos para estruturação da transmissão: um


operador independente do sistema (ISO) e um operador do sistema. O ISO atua
sem fins lucrativos, é independente e usa preços que levam à eficiência da rede
por meio de preços nodais. No segundo caso, o operador atua ligado a uma
empresa de transmissão, em um modelo chamado de Transco. Ambos
apresentam vantagens e desvantagens. Apesar do modelo ISO parecer ideal,
existem críticas que alegam ser uma estrutura governamental complexa,
envolvendo diretores independentes e um comitê de interessados. Algumas
vezes, um operador do sistema pode ter atuação regional, como no caso dos
Estados Unidos, que contam com três grandes redes, podendo, desse modo, ser
apenas um operador ou a combinação deste com uma empresa de transmissão
(Reis, 2011).
Nos Estados Unidos, a maior Transco é a ITC Transmission, fundada em
2003. A ITC consiste em três companhias: ITC Transmission; METC (Michigan
Electric Transmission Company; e ITC Midwest. Em 2009, a AEP (American
Electric Power Company) anuncionou a formação de uma nova Transco para
cobrir, pelo menos, 11 estados. Existem também as RTOs (Regional Transmission
Organizations), entidades independentes sem relação com qualquer outra
organização do mercado, administrando a rede de transmissão em uma área

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regional. Há dez RTOs na América do Norte que servem a 2/3 dos consumidores
de eletricidade nos Estados Unidos e a 50% no Canadá (Reis, 2011).
Na Europa, temos o ENTSO-E (The European Network of Transmission
System Operators for Electricity), a associação dos operadores de transmissão,
composto por 41 operadores de 34 países, com 800 GW de capacidade de
geração e 3.200 TWh de consumo de eletricidade (2012). Devido à crescente
demanda por energia elétrica na Europa, o ENTSO-E foi criado em 2008, em
Bruxelas, na Bélgica. Completamente operacional desde 2009, ele gerencia 305
mil quilômetros de linhas de transmissão para 535 milhões de clientes. Não há
uma agência reguladora geral para o ENTSO-E. Uma agência independente de
cada Estado-membro coopera com o ERGEG (European Regulator´s Group for
Eletricity and Gas). O ENTSO-E incorpora as cinco maiores organizações de
operadores de transmissão, UCTE, Nordel, UKTSOA, Baltso e ATSOI (Reis,
2011).

FINALIZANDO

Como vimos nesta primeira aula, o Sistema Elétrico Brasileiro tem


dimensões continentais, com uma extensão territorial de mais de 4.000 km, que
impõe diversos desafios para a Integração dos Sistemas de Geração. Alguns
exemplos são: a distância entre a fonte de energia e o consumidor, e até mesmo
o tipo de relevo e a disponibilidade da fonte (queda d´água, carvão, gás natural,
radiação solar), entre outros. Por isso, a partir da próxima aula, aprofundaremos
os conhecimentos nos principais tipos de energia, com um enfoque especial para
as novas fontes limpas e renováveis.

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REFERÊNCIAS

ABRADEE – Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica. Visão


geral do setor. Disponível em: <http://www.abradee.com.br/setor-eletrico/visao-
geral-do-setor>. Acesso em: 16 set. 2017.

BRASIL. Decreto n. 7.246, de 28 de julho de 2010. Diário Oficial da União,


Brasília, DF, 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7246.htm>.
Acesso em: 16 set. 2017.

______. Lei n. 10.847, de 15 de março de 2004. Diário Oficial da União, Brasília,


DF, 2004. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/lei200410847.pdf>.
Acesso em: 16 set. 2017.

______. Lei n. 10.848, de 15 de março de 2004. Diário Oficial da União, Brasília,


DF, 2004. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2004/Lei/L10.848.htm>. Acesso em: 16 set. 2017.

______. Lei n. 12.111, de 9 de dezembro de 2009. Diário Oficial da União,


Brasília, DF, 2009. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12111.htm>.
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______. Portaria n. 895, de 29 de novembro de 1990. Diário Oficial da União,


Brasília, DF, 1990. Disponível em:
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ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Atlas da Energia Elétrica do


Brasil. Brasília, DF: Aneel, 2008. Disponível em:
<http://www2.aneel.gov.br/arquivos/pdf/atlas3ed.pdf>. Acesso em: 16 set. 2017.

______. Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução Normativa n. 427, de


22 de fevereiro de 2011. Brasília, DF, 2011. Disponível em:
<http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2011427.pdf>. Acesso em: 16 set. 2017.

017
COPEL – Companhia Paranaense de Energia. História da energia no Paraná.
Disponível em:
<http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%
2Fpagcopel2.nsf%2F0%2F938F473DCEED50010325740C004A947F>. Acesso
em: 16 set. 2017.

Ministério de Minas e Energia. Disponível em: <http://www.mme.gov.br/>. Acesso


em: 19 set. 2017.

REIS, L. B. dos. Geração de energia elétrica. 2. ed. rev. e atual. Barueri, SP:
Manoele, 2011.

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