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Importância da Estimação da Geração

Distribuída usando dados de Demanda Líquida

Vandrianne Gianne Leite Rodrigues


3°Período de 2022

16 de dezembro de 2022

Universidade Federal do Rio de Janeiro


PEE - Programa de Engenharia Elétrica
CPE763 - Redes Elétricas Inteligentes
Professor: Dr. Djalma M. Falcão
Sumário

1 Introdução 3

1.1 Definição do estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2 Geração Distribuída 5

2.1 Características gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

3 Importância dos dados 8

3.1 Estimação de Geração Distribuída . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

3.2 Medições proxy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

4 Simulações 12

5 Conclusões 17

6 Referências Bibliográficas 18

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1 Introdução

1.1 Definição do estudo

A principal dificuldade para as distribuidoras com o significativo crescimento de geração dis-


tribuída é a informação acerca do real valor da geração presente nos sistemas de distribuição.
Os projetos de geração solar fotovoltaica nas casas, residências e comércios normalmente são
no formato "atrás do medidor", BTM, ou seja, de propriedade do cliente e dentro de sua
unidade consumidora, UC, conforme ilustrado na figura 1. Esse modo de operação ocasiona
à distribuidora limitação no acesso às informações, sendo somente possível aquisitar os dados
de demanda líquida através dos medidores inteligentes. Durante todo o trabalho, trataremos
da demanda líquida como a diferença entre a geração do sistema fotovoltaico de uma UC e
o consumo/carga desta mesma unidade.

Figura 1: Painel solar fotovoltaico "através do medidor"[BTM]

No Brasil, o Operador Nacional do Sistema Elétrico, ONS, começa a ampliar seus estudos
sobre geração distribuída, com especial atenção à ausência dos dados diretos dessas gerações.
Não há como saber o valor necessário para suprir uma intermitência não planejada, como

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nuvens sobre os painés solares, por exemplo, além de não ser possível dimensionar o montante
de geração despachada centralizadamente necessário para suprir a totalidade das cargas no
caso de uma contingência ou até mesmo blecaute, quando os geradores distribuídos estão
desconectados. Essas premissas se fazem necessárias devido à grande adesão na utilização
de sistemas fotovoltaicos com mini e micro geração distribuída, conforme ilustrado na figura
2.

Figura 2: Número de consumidores com micro e mini geração distribuída

Muitos métodos e ferramentas estão em desenvolvimento para minimizar as dificuldades


encontradas com a inserção em massa de gerações renováveis nas redes de distribuição. Neste
trabalho, o foco será a importância da estimação da geração distribuída quando há apenas os
dados de demanda líquida, principalmente quando há ocorrências no sistema de distribuição.

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1.2 Objetivos

Pesquisa bibliográfica sobre possibilidades de estimação dos valores de geração distribuída,


foco em solar fotovoltaica instalada em residências, com dados de demanda líquida das
unidades consumidoras.

Como objetivo principal do trabalho serão realizadas simulações com um sistema teste
urbano retirado dos arquivos de exemplos do Simulight [1] para verificação das influências
na inserção da GD, principalmente no caso de ocorrências que desconectem as mesmas e
tenham que ter seus montantes supridos pela geração despachada centralizadamente pelo
ONS no sistema de transmissão.

2 Geração Distribuída

2.1 Características gerais

Com a crescente conscientização da população mundial sobre os efeitos nocivos da emissão


contínua de gases de efeito estufa, estamos vivenciando a implantação de inúmeras tecnologias
e ferramentas com o intuito de reduzir essas emissões. O sistema elétrico está inserido
nessa gama de mudanças e está, atualmente, em um momento extremamente importante, de
transição energética. Podemos observar na figura 3 que, no Brasil, o crescimento dos últimos
anos de mini e micro geração distribuída compõe uma curva exponencial. [2]

Nos sistemas de energia mundiais as fontes renováveis se encontram em constante cres-


cimento, tornando-se cada vez mais essenciais para as matrizes energéticas. Tratando-se
de geração distribuída, a geração de energia por meio de painéis solares fotovoltaicos está
sendo a campeã de crescimento e implantação. A queda no custo de aquisição dos próprios
painéis e a facilidade de implantação nos telhados das residências em geral podem ser fatores

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Figura 3: Capacidade instalada acumulada de geração distribuída no Brasil.

influenciadores para esta ascendência.

A figura 4 representa a participação dos diversos tipos de fonte presentes na geração


distribuída no Brasil. [2]

Um dos pontos positivos do uso de geração renovável é o menor impacto ambiental em


relação às usinas emissoras de gases, como térmicas a carvão, por exemplo. Entretanto, há
também a parte negativa, principalmente a intermitência e as mudanças gerais necessárias
nos sistemas de distribuição, originalmente não projetados para geração nos mesmos pontos
das cargas.

Se, por um lado, o ONS começa a se preocupar com a influência e o impacto da geração
distribuída nos sistemas de transmissão, as distribuidoras já tem esse sinal de alerta a alguns
anos. É fato que, a depender do local de conexão da geração distribuída, a distribuidora é
beneficiada, principalmente sendo um ponto de grande fluxo no alimentador, onde a implan-

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Figura 4: Participação em potência dos tipos de fontes na geração distribuída

tação da GD aliviaria o carregamento do circuito. Entretanto, sendo um alimentador longo


(principalmente em sistemas rurais) e a GD inserida no final deste alimentador, passaría-
mos do bônus para o ônus, em especial pelos prováveis problemas de sobretensão na rede,
impactando diretamente a qualidade da energia.

Os problemas de sobretensão e suas resoluções não serão aprofundados neste trabalho,


entretanto, é importante levarmos em consideração que a inserção dessas gerações de fontes
renováveis presentes ao longo dos sistemas de distribuição, causam consideráveis impactos e
alguns desafios técnicos.

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3 Importância dos dados

3.1 Estimação de Geração Distribuída

Com a crescente demanda por energia elétrica, fruto principalmente da digitalização mundial,
os sistemas fotovoltaicos estão sendo amplamente implementados. Entretanto, ainda há
consideráveis pontos a serem analisados e desafios a serem ultrapassados.

Um dos principais questionamentos sobre o tema é sobre o funcionamento dos inversores,


por onde os painéis solares são conectados à rede, em situações de contingência. Para
contingência podemos ter duas abrangências: sistêmica e local.

Uma contingência sistêmica pode ser relacionado a problemas no sistema de transmissão,


como blecautes ou perda da interligação entre subsistemas, que pode ocasionar subfrequência
no subsistema importador e sobrefrequência no subsistema exportador. Neste caso, como
as GDs se comportariam em ambos os cenários? No subsistema com subfrequência haveria
desconexão das GDs, agravando o problema?

Tomando como base esses conhecimentos e incertezas é que se faz necessário o conhe-
cimento das gerações diretas das GDs e não apenas da demanda líquida. Em situações de
contingência e com desconexão dessa geração há não somente a perda da injeção de potência,
mas também a inversão de fluxo e consumo da unidade consumidora anteriormente suprido
pela GD.

Como essas informações não chegam até as distribuidoras na maioria das vezes, uma outra
abordagem é colocada em prática. A estimação desta geração não é simples mas, para que
a segurança do sistema se mantenha dentro dos padrões e limites, seja pela necessidade de
ajustes nas proteções dos sistemas de distribuição ou pelos casos de contingência mencionados
anteriormente, é necessário que seja estudada.

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Na figura 5 [3] notamos que o parâmetro de entrada é a demanda líquida do cliente e
para que sejam fornecidas as estimações de geração e carga é necessário que o método de
desagregação passe pelo modelo físico e pelo modelo estatístico.

No modelo físico são estimados os parâmetros do sistema fotovoltaico e a geração solar,


foco deste trabalho. Os parâmetros mencionados são relacionados aos painéis solares, onde a
inclinação, orientação e tamanho dos mesmos normalmente não são conhecidos, mas podem
ser estimados com algumas técnicas. Após definida a estimação da geração solar fotovoltaica,
o modelo estatístico estima a carga consumida pelo cliente.

Figura 5: ainda nao sei

Os métodos para desagregação são divididos em três grandes categorias:

• Dependentes de imagens aéreas e de satélite;

• Dependentes de alguns locais com geração fotovoltaica medido separadamente em uma


área geográfica;

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• Aplicação de técnicas de separação de sinais.

Métodos que dependem de imagens aéreas e de satélite são utilizados para identificação
das unidades consumidoras que possuem sistema fotovoltaico e para estimar as caracterís-
ticas físicas dos painéis, como tamanho, inclinação e orientação. Um pouco positivo é o
fornecimento de uma estimativa aproximada da capacidade de produção de pico do sistema.
Entretanto, o ponto negativo é que esta é a única estimação possível de ser obtida com este
método.

Desagregação por aplicação de técnica de separação de sinais é uma excelente técnica


quando apenas os dados dos medidores inteligentes estão disponíveis, mas o lado negativo
é que somente é possível realizar a estimação a nível do alimentador e não é possível a
individualização a nível cliente. Diferentemente do que ocorre com o método dependente
de outros locais com geração fotovoltaica com medição separada em uma determinada área
geográfica, que possibilita estimar a geração por unidade consumidora.

O método que exemplificaremos neste trabalho foi desenvolvido em [4] e como caracterís-
ticas principais podemos citar:

• Nenhuma informação sobre os clientes foi disponibilizada, apenas a localização apro-


ximada (cidade ou distrito);

• Utilização de dados de medidores inteligentes;

• Irradiância solar, velocidade do vento e temperatura ambiente podem ser baixados por
meio de uma API - Application Programming Interface (Interface de Programação de
Aplicação);

• Características físicas dos painéis desconhecidas (tamanho, orientação, inclinação);

• Pelo menos uma instalação solar com medição separada na mesma localidade (cidade
ou distrito).

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3.2 Medições proxy

Parâmetros medidos em uma instalação solar podem ser chamadas de medições proxy. Essas
medições podem ser realizadas em um proxy real, onde há as medições de um painel real
instalado em algum ponto da cidade ou distrito, ou em um proxy sintético, onde não há
instalação real e os parâmetros físicos dos painés são escolhidos e definidos manualmente.

Conforme a figura 6 obtida em [4], é possível verificar que a geração solar fotovoltaica tem
a mesma forma para diferentes painéis instalados na mesma localidade, com a diferença da
amplitude das curvas, caracterizada pelo tamanho do painel. A curva mais escura é a média
de todas as outras.

Figura 6: Geração solar fotovoltaica de diferentes painéis e na mesma localidade

Em uma medição proxy na maioria das vezes não há o controle das características de
implantação dos sistemas que fornecem essas medidas e para sanar este problema é reali-
zada uma soma ponderada de várias outras medições proxy, chamada de modelo de mistura
solar. Com essa técnica ocorre um aumento da chance de obter medições proxy de sistemas
fotovoltaicos com características de implantação semelhante à unidade consumidora avaliada.

Pode ocorrer também uma ausência de medições proxy de um grande número de sistemas
fotovoltaicos vizinhos, quando da utilização apenas de medições proxy reais. Neste caso,
a combinação de medições proxy de sistemas reais com medições sintetizadas é uma ótima
opção.

Em [4] é realizada uma comparação de erro entre a utilização de 3 proxies reais, 1 proxy
real em conjunto com 1 proxy sintético, 1 proxy real em conjunto com 3 proxies sintéticos, e

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3 proxies sintéticos, indicados na figura 7. Ausgrid e Pecan são conjuntos de dados distintos
utilizados por Chen.

Figura 7: Métricas de Avaliação - erro

Ainda em [4], outra comparação é realizada para tempo de processamento computacional.


Com o método de desagregação utilizando 1 proxy real e 3 proxies sintéticos para desagregar
dados de 1 mês o tempo computacional necessário de processamento foi de 30 segundos,
enquanto que para efetuar a desagregação dos mesmos dados mas com a utilização do método
proposto por Kabir em [3], que não utiliza proxies, foi obtido um tempo de processamento
de 70 minutos.

4 Simulações

Para as simulações utilizaremos o Simulight, disponível na versão acadêmica em [1] e também


o arquivo urbano.fdx presente na mesma referência. O diagrama unifilar do sistema estudado
está representado na figura 8.

Nas simulações, consideraremos a unidade geradora no setor de 138 kV modelada como re-
ferência e barra infinita, de forma a representar o sistema de transmissão ou subtransmissão.
Os alimentadores, de 1 a 4, tem como tensão base 13,8 kV e possuem recursos para controle
de tensão em determinados pontos. Neste estudo, também será considerado a presença de
um produtor independente conectado ao alimentador 1.

O comprimento dos alimentadores é representado na tabela 1. A carga foi considerada

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Figura 8: Diagrama unifilar do sistema estudado

constante e somente serão realizadas análises de fluxo de potência. Não houve alteração na
geração do produtor independete durante as análises.

Alimentador Comprimento (km)

1 3
2 6
3 8
4 12

Tabela 1: Comprimento dos alimentadores

Cabe ressaltar que todos os bancos de capacitores estão ligados inicialmente e que os
limites de tensão indicados no PRODIST da ANEEL [5] , entre 0.93 pu e 1.05 pu, serão
desconsiderados para fins de estudo.

Utilizaremos a modelagem para geração solar fotovoltaica presente na biblioteca do pró-

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prio Simulight, chamada de PVD1. Todas as unidades serão consideradas com 2,5 MW de
injeção de potência e serão inseridas nos seguintes pontos dos alimentadores:

• Barra AL1.1

• Barra AL1.4

• Barra AL2.5

• Barra AL3.3

• Barra AL4.6

No caso base as tensões em pu estão de acordo com a figura 9 e a geração do sistema e do


produtor independente também estão representadas. Nesta análise conseguimos notar que
o menor valor de tensão é na Barra AL4.6 com 0.8526 pu, enquanto que o maior valor de
tensão é na Barra AP BT 02, do produtor independente, com valor de 0.9868 pu.

Ao incluirmos as gerações distribuídas, notamos um aumento do perfil de tensão. A tensão


da Barra AL4.6 anteriormente com 0.8526 pu, agora apresenta valor de 0.9125 pu. Na figura
10 a tensão da Barra AL4.6 está no mesmo ponto da Barra GD01, sendo este último indicado
na tabela. Já a Barra AP BT 02, do produtor independente, que apresentava valor de 0.9868
pu elevou para 0.9979 pu.

As gerações dos sistemas fotovoltaicos não aparecem indicadas nas Barras GDs devido
necessidade de criação de barras virtuais. Mas podemos observar as gerações e tensões
resultantes conforme a figura 11.

Considerando a geração da barra infinita como a geração despachada centralizadamente


no sistema de transmissão, observamos uma potência de 7.285 MW com a inserção das GDs e
uma potência de 20.284 MW para o sistema sem a GD. Um montante de geração considerável

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Figura 9: Caso base: tensões e gerações iniciais

quando pensamos numa operação em regime normal com as GDs em pleno funcionamento
e com posterior contingência destes sistemas. Neste cenário, a geração do sistema teria que
suprir aproximadamente 13 MW de geração.

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Figura 10: Caso com injeção de GD: perfil de tensão e gerações

Figura 11: Barras Virtuais com indicativo de geração das GDs

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5 Conclusões

De uma forma geral, para sanar os problemas citados ao longo do trabalho, o mais simples
e prático seria a aquisição dos valores da geração distribuída de forma direta, assim como
é disponibilizado para os proprietários de sistemas fotovoltaicos e exemplificado na figura
12. Essa sugestão implica em diversas mudanças na atual filosofia, então o indicado seria a
utilização de medições proxy reais combinadas com sintéticas para obtenção das estimações
das gerações solares.

Figura 12: Aquisição de geração distribuída de uma unidade consumidora com intervalo de
30 minutos

As diversas formas de estimação são válidas mas há ainda uma limitação computacional,
para armazenamento de dados, no caso de utilização de medições proxy, e para processamento
de algoritmos, considerando a não utilização dos proxies.

Os valores das gerações distribuída são muito importantes para a segurança do sistema
do sistema de distribuição e, pela sua atual magnitude, começam a impactar e preocupar
também a nível de transmissão.

Como trabalho futuro é sugerido que sejam utilizados dados reais públicos para fins aca-
dêmicos, de forma a reproduzir os artigos estudados.

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6 Referências Bibliográficas

[1] Simulight. Simulador para redes elétricas com geração distribuída. [Online]. Available:
http://www.coep.ufrj.br/~tarang/Simulight/index.htm

[2] EPE. Painel de dados de mini e micro geração distribuída. [Online]. Available:
http://shinyepe.brazilsouth.cloudapp.azure.com:3838/pdgd/

[3] F. Kabir, N. Yu, W. Yao, R. Yang, and Y. Zhang, “Estimation of behind-the-meter solar
generation by integrating physical with statistical models,” pp. 1–6, 2019.

[4] X. Chen, M. M. Haji, and O. Ardakanian, “A data-efficient approach to behind-the-meter


solar generation disaggregation,” arXiv preprint arXiv:2105.08122, 2021.

[5] ANEEL. Regras e procedimentos de distribuição. [Online]. Available: https:


//www.gov.br/aneel/pt-br/centrais-de-conteudos/procedimentos-regulatorios/prodist

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