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ESTUDO EXPERIMENTAL DE VIGAS DE CONCRETO PROTENDIDO

COM CORDOALHA ADERENTE E NÃO ADERENTE


Pedro Amaro Baccarin1,
Mauricio dos Santos Sgarbi Goulart2, Fábio Albino de Souza3,
1
Evehx Engenharia / Protensão / pedro@evehx.com
2
Sigma 1 / Projetos / mauricio.sgarbi@sigma1.eng.br
3
Unicamp / IDD/ EBPX / Departamento de Estruturas – DES / fabio@ebpx.com.br
Resumo
O concreto protendido é uma forma de utilização da peça estrutural de concreto e aço,
diferenciando-se do concreto armado convencional pela inserção de forças normais na
estrutura. Para isto, submete-se cordoalhas de aço à tração, alongando-as. Este, ainda na fase
elástica, tende a voltar a seu estado inicial, transferindo os esforços para a estrutura,
resultando em forças de compresão. Para as aplicações de protensão em concreto, podemos
evidenciar três tipos: protensão com aderência inicial, protensão com aderência posterior e
protensão não aderente. Quando avaliados os tipos de protensão, conclui-se que essas
aplicações podem interferir em fatores como a forma e motivo da fissura e o momento de
ocorrência destas. Isso ocorre pela existência ou não de aderência da armadura ativa que trará
diferentes tipos de propagação de fissuras. O estudo avalia o quanto a protensão não aderente
e a aderente influenciam no comportamento de vigas expostas a cargas. Para isto, foram
executados ensaios de flexão de 4 pontos. No ensaio analisou-se o deslocamento da flecha, a
deformação das barras passivas através de strain gage e o aparecimento das fissuras conforme
a carga aplicada. Os resultados mostraram que o sistema aderente tem maior capacidade de
resistir a fissuração que o sistema não aderente, mesmo com a equivalência das cargas
resultantes de protensão aplicadas em ambos os sistemas. Por outro lado, o sistema não
aderente, teve um comportamento constante e crescente após a fissuração, resistindo a cargas
mais elevadas antes de seu colapso quando comparado ao sistema aderente, além da
capacidade de reduzir sua flecha resultante a aproximadamente zero quando removido o
carregamento.
Palavras-chave: Sistema de Protensão, Protensão aderente, Protensão não Aderente ,

Abstract
Prestressed concrete is a way to use the structure made of concrete and steel, diverging from
reinforced concrete due to the insertion of a compressive strength. To achieve this, the steel
wire rope is subjected to traction which causes a deformation. During the elastic phase, the
steel tends to return to its initial state, transferring the forces to the structure, resulting in
compression. Prestressed concrete could be divided into three types: prestressing with initial
adhesion, prestressing with subsequent adhesion and non-adherent prestressing. When
considering the types of prestressing, it may be concluded that these applications interfere in
factors such as shape, cause and timing of crack. It occurs due to the existence, or not, of
active steel adhesion that would bring different types of crack propagation. This study aims to
evaluate the interaction between non-adhesion and adhesion prestressing with the behavior of
beams submitted to a load application. In order to achieve this goal, it was executed a four
point bending test. During the test, it was analyzed the displacement of maximum deflection,
the deformation of passive steel and the appearance of cracks according to the load applied.
The results showed that the adherent system has a higher capacity of resisting to crack than
the non-adherent system, even with equivalent loads resulting from prestressing applied at
both systems. On the other hand, the non-adherent system had a steady and growing behavior
resisting toheavier loads after its cracking, besides the capacity of reducing its resultant
deflection to approximately zero when the load applied is removed.
Keywords: Prestressing System, adherent Prestressing, not Adherent Prestressing
1 Introdução

No Brasil o concreto trata-se do material na construção civil mais utilizado sendo o concreto
armado sua principal aplicação. Com a urbanização e a necessidade de vencer vãos grandes
foram desenvolvidos novos métodos construtivos e novas tecnologias para viabilizar projetos
ousados, proporcionando um menor prazo de execução e custos mais baixos. Dentre as
propostas de solução de engenharia o concreto protendido surgiu como uma tecnologia
inovadora e eficiente.
Segundo BUCHAIM (2007), o ato de protensão se dá pelo fato de se esticar a armadura
contra a própria peça de correto, com o intuito de comprimir a zona tracionada. A protensão
na construção civil atualmente, se dá por cabos de aço (cordoalhas) que são tracionados e
ancorados na estrutura. Este processo faz com que os cabos apliquem esforços normais na
estrutura, que quando bem posicionados combatem com mais eficiência os esforços de tração
da mesma.
Com o intuito de minimizar perda de carga na aplicação da protensão, facilitar a aplicação do
sistema, tornar possível a aplicação de cargas elevadas, agilizar a execução, entre outros fins
foram desenvolvidos diferentes métodos de protensão, com diferentes vantagens construtivas
para atender objetivos específicos. Porém em muitos casos esses métodos aparecem como
solução para mesmo fim, o que gera uma certa dúvida: Qual seria o mais eficiente e viável?
Podemos distinguir a protensão quanto a aderência e sua forma de execução. Existem três
tipos de protensão: Pré-tração com aderência inicial, na qual a aderência entre o aço e o
concreto é dada no lançamento do concreto, após o tracionamento do cabo; Pós-tração com
aderência posterior, onde a protensão e a aderência é dada após a cura parcial ou integral do
peça, com o tracionamento dos cabos e subsequente, a injeção de graute em uma bainha que
envolve os cabos; pós-tração não aderênte, onde não existe aderência entre o cabo e o
concreto, existindo transferência da força normal através das ancoragens. Nesta o
tracionamento do cabo é feito após a cura parcial ou total da estrutura, quando houver
condições de resistência do concreto para resistir a carga de compressão que agirá no
elemento estrutural.
O objetivo do trabalho é caracterizar as diferenças de comportamento entre vigas de concreto
protendido. A comparação se dará para vigas pré-tracionadas (com aderência inicial) e vigas
pós-tracionadas (sem aderência, com o uso de cordoalha engraxada). Os dados, para análise e
comparação, foram obtidos através de ensaios realizados no Laboratório de Engenharia Civil,
do Centro Universitário FEI.

2 Metodologia
2.1 Parâmetro Fixados
A princípio, foi executada uma viga de concreto armado, devidamente instrumentada, em
caráter experimental. Esta teve a finalidade de validar as ideias e procedimentos, como o de
instrumentação dos strain gages, exemplificado no item 2.2., posicionamento do relógio
comparador, o uso da aquisição de dados do leitor, a aplicação da carga, evitando possíveis
erros de procedimento na execução das vigas de estudo. Além de validar de forma
comparativa se a protensão se fez eficiente nas demais vigas. Após esta fase de validação de
procedimentos, executaram-se mais quatro vigas, sendo elas:
Duas vigas pré-tracionadas com cordoalha aderentes;
Duas vigas pós-tracionadas com cordoalha não aderentes.
Com a limitação da quantidade de vigas a serem confeccionadas, subdividiu-se a execução em
duas partes. Foi concretado um par de vigas, para a primeira etapa de ensaios e outro par de
vigas para a segunda etapa. Sendo cada etapa composta por uma viga pré-tracionada e uma
pós-tracionada.
Para possibilitar a comparação entre os métodos optou-se pela fixação de alguns parâmetros e
estes são:
Dimensão das vigas: 210x28x10 (cm)
Armadura passiva: 4 barras de 6.3mm para a armadura CA-50 e 10 estribos de 5 mm CA-60 a
cada 20 cm.
Bitola da armadura ativa: 12,7 mm
Cobrimento da armadura passiva: 2 cm
Cobrimento da armadura ativa: 4 cm
Carga final de protensão: 67 KN
Concreto: Resistencia a compressão 35 Mpa e slump teste de 170 mm (+/-20). A dosagem do
mesmo consta na Tabela 01:

Tabela 01 - Dosagem do concreto.


Traço do concreto
Materiais Especificação Massa Massa (Kg) Volume (L)
Específica
(g/cm³)
Cimento CP V 2,96 47,2 16,0
Areia Fina 2,65 70,8 26,7
Pedra Brita 0 2,70 118,0 43,7
Aditivo Plastificante 1,10 0,4 0,3
Água Potável 1,00 23,6 23,6
Totais: 260,1 110,3

2.2 Instrumentação dos strain gages


Foram instalados strain gages nas armaduras passivas das vigas. Inicialmente, na primeira
etapa de execução das vigas, instrumentou-se apenas uma das barras longitudinais positivas,
no centro do vão da viga. Entretanto, pela fragilidade do strain gage, o equipamento foi
danificado em ambas as vigas. Possivelmente, os strain gages foram danificados no momento
da concretagem. Visto isso, no segundo conjunto de vigas, optou-se pela aparelhagem nas
duas barras de armaduras passivas inferiores. Outros cuidados, como a utilização de resina e
fitas para a proteção do equipamento, o devido cuidado no transporte e alocação das
armaduras, e a atenção especial no momento da concretagem e vibração, foram cruciais para a
preservação do equipamento. É ilustrado na figura 01 o resultado final deste procedimento.

Figura 01 - Strain Gage – (Autores (2016))

O procedimento para a instrumentação das barras inicia-se pela regularização da superfície.


Para isto, fez-se uso de esmerilhadeira de mão. Em seguida, deu-se acabamento à superfície
com lixa #200. Com a superfície preparada e limpa com acetona, executou-se a colagem do
strain gage na barra, com o auxílio de pinça, cola de secagem rápida e ativador de pega. Neste
momento, houve a devida atenção para o direcionamento do strain gage, visto que este só
executa leitura unidirecional. O equipamento ficou direcionado em concordância com o
sentido longitudinal da barra. Após a colagem, instalou-se um terminal na barra, com a
finalidade de evitar o rompimento do strain gage com possíveis puxões no fio. Os polos do
strain gage foram soldados aos terminais e estes soldados aos fios. Para a segurança do
conjunto, aplicou-se resina em torno do equipamento, posteriormente revestiu-se o conjunto
com fita isolante.

2.3 Concreto
O concreto teve o agregado de diâmetro máximo estipulado como brita 0 (12,5mm). Além de
um slump capaz de executar uma fácil concretagem por meio de vibração, sem acarretar
segregação entre as fases do concreto. Foi definido um slump teste de 170 mm (+/-20). Pode-
se visualizar na figura 02 os materiais e equipamentos utilizados para a concretagem.

Figura 02 – Material e equipamentos para a concretagem – (Autores (2016))

Na segunda etapa de execução das vigas, simultaneamente, foram concretados 20 corpos de


prova, sendo 10 de cada tipo de viga. Os corpos de prova foram rompidos a 1, 3, 5, 7 e 10
dias, sendo 2 corpos de prova por dia de ruptura. Durante a moldagem das vigas tomou-se
bastante cuidado para não encostar o vibrador nos cabos para não ocasionar bolhas próximo
dos mesmos, como a NBR 6118 ressalta.

2.4 Execução da pré-tração


Na figura 03 pode-se observar o sistema preparado para a concretagem da viga pré-
tracionada. Nela observam-se também detalhes da cabeceira ativa.
Figura 03 – Sistema de Protensão – (Autores (2016))

Inicialmente fez-se a alocação do conjunto que envolvia as fôrmas, a armadura passiva e o


cabo, na pista de protensão. Com o sistema preparado, o cabo foi tracionado gradualmente. O
cabo é esticado de acordo com a abertura do macaco, que empurra a cabeceira móvel, da qual
o mesmo é fixado. Após o tracionamento, e com a movimentação da cabeceira móvel, surge
um espaço vazio entre a cabeceira móvel e a célula de carga. Este espaço foi preenchido com
chapas metálicas de 2 mm de espessura, recompondo o contato direto entre o conjunto
cabeceira ativa fixa, apoios (cilindros metálicos), célula de carga, chapas e cabeceira móvel.
Liberou-se a pressão do macaco, transferindo-se diretamente a carga para as células de carga.
Fez-se a leitura da força aplicada através strain indicator and recorder (aparelho para medição
e leitura de carga). A carga desejada foi atingida pela repetição do processo citado. Ou seja,
executava-se a tração do cabo, preenchia-se o vazio do sistema, liberava-se a pressão do
macaco e lia-se a carga aplicada, caso não obtida a carga desejada, repetia-se o procedimento
até que a força requerida fosse aferida.
Com a cordoalha tracionada, executou-se a concretagem da viga. A viga manteve-se no
sistema durante sete dias, tempo necessário para a obtenção de 70% da resistência
característica do concreto. Na data adequada, fez-se pequeno tracionamento, a fim de se
retirar os apoios (cilindros metálicos), e liberou-se a pressão de óleo do macaco aos poucos.
Após atingida a resistência necessária e as cordoalhas soltas das ancoragens, o esforço de
protensão é transferido para a peça, como relatado por LEONHARDT (1983).

2.5 Execução da pós-tração


As perdas imediatas podem ser caracterizadas em três tipos: perdas por atrito, por
acomodação nas ancoragens e por encurtamento elástico do concreto, como citado por PFEIL
(1988). Por serem vigas curtas, as perdas por atrito e encurtamento do concreto foram
desprezadas. Na primeira amostra, com a intenção de se aplicar a mesma carga de protensão
que na viga pré-tracionada, adotou-se para definir a perda de carga devido a acomodação da
cunha o escorregamento de 5 mm, como especificado pelo fornecedor. Lembrando que no
sistema pré-tracionado não se fez necessária a utilização de ancoragens, pois a carga de
protensão foi transferida para a viga através da aderência da cordoalha com o concreto. A
partir da deformação de 5 mm utilizou-se o método de cálculo especificado na NBR 6118
para definir a perda imediata devido ao escorregamento da cunha e acomodação da
ancoragem.
A parcela A×δ corresponde à deformação no aço de protensão ocasionado pelo
escorregamento da cunha e acomodação da ancoragem, que implica na diminuição da força F,
como afirmado por VERÍSSIMO et al. (1998).
Em função desta perda, aplicou-se a carga de aproximadamente 97 KN na cordoalha,
acreditando que após as perdas a carga final de protensão seria de 67 KN, carga utilizada na
pré-tração. No entanto, durante a análise dos dados da amostra 1 percebeu-se que havia um
superdimensionamento da perda por escorregamento da cunha, ou seja, observou-se que o
escorregamento e acomodação da ancoragem não são da ordem de 5mm, o que resultaria na
não fixação da variável “carga resultante de protensão”.
Fez-se necessário então a obtenção desta perda de forma experimental. Para isso utilizou-se
um macaco hidráulico com dois cilindros junto a cabeceira móvel para realização da
protensão e duas células de carga junto a uma placa metálica para análise da carga que estava
atuando na cordoalha após a acomodação da cunha como ilustrado na figura 04.

Figura 04 - Teste de perda de carga – (Autores (2016))

O procedimento se baseou na aplicação da carga de protensão através do macaco hidráulico,


em seguida era realizada a leitura do manômetro do mesmo e foi feito o encunhamento. A
carga do macaco era liberada e transferia para a ancoragem, fazendo com que as células de
carga fossem solicitadas. A carga transferida para as células foi lida e subtraída da carga
obtida inicialmente pelo manômetro.
Após repetir esse procedimento várias vezes tendo praticamente o mesmo resultado, chegou-
se à conclusão que a perda de protensão na ancoragem seria de 11 KN. A partir disso,
estipulou-se que a carga a ser aplicada nos cabos seria de 78 KN, com isso ter-se-ia uma carga
final de protensão de aproximadamente 67 KN.
Com estas correções nos acréscimos de carga por perda de protensão devido ao
escorregamento da cunha chegou-se a resultados mais confiáveis na amostra 2, o que fez com
que fosse possível comparar os dois métodos de protensão de forma mais eficiente.

2.6 Estrutura de ensaio de flexão 4 pontos


O ensaio foi realizado com o posicionamento dos equipamentos como demonstrado na figura
05. O ponto de distribuição (nº 1) transfere a carga aplicada pelo macaco hidráulico (nº 2)
através do deslocamento de seu pistão, para a viga a ser ensaiada (nº 3). Com este
deslocamento a célula de carga (nº 4) e o strain gage (fixado na barra longitudinal passiva
inferior) são solicitados, gerando assim a carga aplicada na viga e deformação da barra no
sistema de aquisição de dados (nº 5). Com a flexão da viga a haste do relógio comparador (nº
6) é deslocada gerando assim a leitura da flecha no seu mostrador.
Os esforços foram transferidos através do aparato de reação (nº 7), que conta com um sistema
de sustentação de barras de reação. Estas barras de reação estão da extremidade do macaco até
a parte inferior da viga de reação (nº 8), transferindo assim a carga para os apoios (nº 9).

Figura 05 - Estrutura de ensaio de flexão 4 pontos – (Autores (2016))

2.7 Leitura da flecha


Com o auxílio do relógio comparador analisou-se a flecha gerada conforme a carga aplicada
(de 2 em 2 KN), sendo assim possível avaliar graficamente carga (KN) / flecha (mm). Além
de avaliar a flecha residual após a retirada da carga aplicada.

2.8 Deformação das barras passivas


Com a finalidade de avaliar as deformações atingidas nas barras passivas durante a realização
dos ensaios foi instalado o strain gage, que mediu a deformação simultaneamente a aplicação
das cargas. Os dados foram obtidos e salvos por meio do sistema de aquisição de dados,
sendo assim possível analisar graficamente a carga por deformação das barras.
2.9 Análise de desenvolvimento das fissuras
Com o objetivo de avaliar a quantidade, tipo, tamanho, e distribuição das fissuras com os
diferentes métodos construtivos aplicados, foram feitas as marcações das fissuras nas vigas
em suas respectivas cargas, de 2 em 2 KN. Esse procedimento está ilustrado na figura 06.
Após a marcação das vigas, elas foram transferidas para um modelo visual de mapeamento,
proporcionando maior visualização e organização dos dados.

Figura 06 - Análise de desenvolvimento das fissuras – (Autores (2016))

3 Resultados
3.1 Cargas e flechas das vigas pré-tracionadas
Os resultados de deslocamento da flecha por carga aplicada encontrados por meio da
aparelhagem para as vigas pré-tracionadas podem sem visualizados na figura 07.

Figura 07 – Deslocamento (mm) x Carga (KN) das vigas pré-tracionadas – (Autores


(2016))
3.2 Cargas, deformações e flechas das vigas pós-tracionadas
Os resultados de deslocamento da flecha por carga aplicada encontrados por meio da
aparelhagem para as vigas pré-tracionadas podem sem visualizados na figura 08.

Figura 08 - Deslocamento (mm) x Carga (KN) das vigas pós-tracionadas – (Autores


(2016))
3.3 Fissuração
Vigas pré-tracionadas
Na amostra 1 as fissuras ocorreram de forma assimétrica. As primeiras trincas aconteceram na
carga de 38 KN, carga final analisada foi de 60 KN e ocorreram 6 fissuras, sendo que as
maiores aconteceram entre o apoio e o centro da viga e sua angulação foi aproximadamente
45°. A primeira abertura aconteceu no centro da viga com angulação de 90°.
Na amostra 2 as fissuras também ocorreram de forma assimétricas. As primeiras trincas
aconteceram na carga de 46 KN, carga final analisada foi de 60 KN e ocorreram 6 fissuras
sendo que as maiores tiveram o mesmo comportamento da amostra 1. A primeira abertura
coincidiu com a maior trinca. Podemos visualizar esse comportamento da figura 9.
Após a remoção da carga de ensaio de ambas as amostras as trincas se mantiveram abertas.

Viga de concreto armado

1200 kgf 1400 kgf 1600 kgf 1800 kgf 2000 kgf
2200 kgf 2600 kgf 2800 kgf
Viga pós-tracionada

2800 kgf 3000 kgf 3400 kgf 3800 kgf 4000 kgf
4200 kgf 4400 kgf 4600 kgf 5000 kgf 5600 kgf
6000 kgf 6200 kgf 6400 kgf 7000 kgf

Viga pré-tracionada

4600 kgf 4800kgf 5000 kgf 5400 kgf 5800 kgf

Figura 09 – Mapeamento de fissuras da amostra 2 – (Autores (2016))

Vigas pós-tracionadas
Na amostra 1 as fissuras ocorreram de forma simétrica. As primeiras trincas aconteceram
próximo ao centro da viga, na carga de 32 KN, com angulação aproximada a 90°, sendo as
mesmas as mais relevantes. A carga final analisada foi de 80 KN e ocorreram 8 fissuras. Na
carga de 58 KN ocorreu uma abertura com angulação aproximada a 45° entre o apoio e o
centro da viga.
Na amostra 2 as fissuras também ocorreram de forma simétrica. As primeiras trincas
aconteceram também próximo ao centro da viga na carga de 28 KN, com angulação próxima
a 90°, sendo as mesmas as mais relevantes. A carga final analisada foi de 80 KN e ocorreram
8 fissuras. Pode-se visualizar esse comportamento na figura 9.
Após a remoção da carga de ensaio de ambas as amostras as trincas tenderam a se fechar.
Para a amostra 2, ao chegar na carga de 80 KN o concreto apresentou uma ruptura por
esmagamento, como ilustrado na figura 10, com isto o ensaio foi interrompido.

4 Discussão dos resultados


4.1 Avaliação da flecha, carga e deformação das vigas pré-tracionadas
Nas amostras de concreto pré-tracionadas foi possível avaliar que as mesmas se comportaram
igualmente em quase todo o período de ensaio, porém a partir da carga de 57,5 KN nota-se
uma diferença relevante no deslocamento da flecha, pois neste momento houve a possível
perda de carga de protensão devido o início da fissuração, o que ocasionou redução de seu
desemprenho, como exibido na figura 07.

4.2 Avaliação da flecha, carga e deformação das vigas pós-tracionadas


Para as amostras pós-tracionadas pode-se perceber uma pequena diferença no decorrer do
ensaio a partir da carga de 65 KN, tendo nesse ponto um início da separação das curvas
exibidas na figura 08. Esta diferença foi gerada uma vez que na primeira amostra utilizou-se
uma carga de protensão superior a carga da amostra 2. Sendo assim a amostra 1 apresentou
uma relação carga por flecha maior que a amostra 2.
4.3 Analise comparativa da flecha, carga e deformação entre as vigas pré-tracionadas e
pós-tracionadas
Na comparação entre os dois métodos de protensão pode-se notar quatro pontos relevantes. O
primeiro seria a diferença nas cargas pico analisadas, na amostra pós-tracionada foi obtido
cargas consideravelmente mais elevadas do que a pré-tracionada.
A segunda diferença relevante foi a flecha após a liberação do carregamento, as amostras pré-
tracionadas tiveram maior flecha residual, em razão da perda de carga de protensão após o
início da formação de fissuras. Já as amostras pós-tracionadas apresentaram flechas residuais
muito baixas, mesmo sendo as amostras que mais foram solicitadas. A carga de protensão das
mesmas estava concentrada nas ancoragens e não distribuída na aderência da cordoalha com o
concreto e o atrito entre cabo e bainha é baixo devido a graxa.

Figura 10 - Ruptura por esmagamento – (Autores (2016))

A terceira observação é o fato das vigas pré-tracionadas apresentaram flechas inferiores as


vigas pós-tracionadas até a carga de 48 KN, que foi próximo a carga de início de fissuração da
amostra 2 da viga pré-tracionada, onde ocorreu a intersecção das curvas ilustradas na figura
11.

Figura 11 – Deslocamento x Carga – (Autores (2016))

O quarto ponto surgiu da análise da deformação da armadura passiva através da utilização dos
strain gage. A partir da carga de 21 KN, a viga pós-tracionada teve uma relação carga por
deformação mais elevada que a viga pré-tracionada, desempenhando deslocamentos maiores
que a amostra pré-tracionada quando considerado o mesmo carregamento a partir da carga
citada. Este fato pode ser notado na figura 12

Figura 12 - Carga x micro deformação – (Autores (2016))

4.4 Discussão dos resultados de fissuração


As vigas pós-tracionada tiveram maior pico de carga analisada, porém as fissuras iniciais nas
vigas pré-tracionadas aconteceram em cargas mais elevadas. Por outro lado, as vigas pós-
tracionadas tiveram um desempenho superior após o aparecimento das fissuras quanto
avaliado a deformação, simetria das fissuras e o deslocamento da flecha, tanto que mesmo
após a realização dos ensaios, as fissuras das mesmas tenderam a fechar com a liberação da
carga.
Quando analisado o número de fissuras ocorridas nas vigas pode-se observar que o número de
fissuras nas vigas pós-tracionadas foi superior. Algum dos fatores que justificam esse ponto é
o fato da mesma ter sido exposta a cargas superiores, a deslocamentos de flecha maiores e ter
tido um comportamento simétrico, distribuindo assim suas fissuras de maneira mais uniforme.

5 Conclusão

Segundo TAKEYA (2001) quando se tem uma quantidade pequena de amostras tomadas
como parâmetro os resultados podem ser avaliados através do “bom senso”, ou seja, em
função das condições que os ensaios foram realizados, pois não há dados suficientes para
realizar uma análise estatística. Com isto, conclui-se que os sistemas e modos de protensão
influem de formas distintas no comportamento das estruturas. O grau de atrito entre os cabos
e o concreto e a existência ou não de ancoragens junto a extremidade do cabo são fatores que
influenciam muito no comportamento mecânico de estruturas quando expostas a
carregamentos.
As comparações entre os sistemas protendidos expuseram que a pré-tração apresentou carga
superior e deformações inferiores antes do inicio da fissuração, quando comparado ao método
de pós-tração. Esta afirmativa é compreendida pelo fato de a aderência atuar de forma a
agregar consideravelmente o seu desempenho.
Embora a pós-tração tenha menor capacidade de resistir às fissuras iniciais, conta com a
existência da bainha a graxa revestindo a cordoalha, tendo assim a capacidade de reduzir a sua
flecha resultante a praticamente zero quando o carregamento é removido devido a força de
protensão está concentrada nas ancoragens e o baixo atrito entre bainha e cordoalha.
Visto que o trabalho se fundamentou em um número reduzido de amostras indica-se que
ensaios com número superior de amostras sejam executados. A finalidade dos ensaios seria a
validação dos resultados obtidos e aprimoramento da metodologia de ensaio, fazendo assim
com que as analises sejam ainda mais confiáveis.
Como sugestão de estudos futuros, sugerem-se temas como ensaio com diferentes
posicionamentos de cordoalhas (parabólico e retilíneo) para avaliar também a contribuição da
protensão para o cisalhamento e utilização de estação total para mapeamento de flecha em
ensaio de flexão com 4 pontos.

5.1 Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de estruturas


de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

BUCHAIM, Roberto. Concreto protendido: Tração Axial, Flexão Simples e Força Cortante.
Editora da Universidade Estadual de Londrina, 2007.

LEONHARDT, Fritz. Bridges: aesthetics and design. London, The Architectural Press, 1982.

PFEIL, W.. Concreto Protendido, Livros Técnicos e Científicos. Rio de Janeiro, 1988.

TAKEYA, Toshiaki. Análise experimental de estruturas. notas de aula. Escola de Engenharia


de São Carlos. Universidade de São Paulo. São Carlos, 2001.

VERÍSSIMO, Gustavo de Souza, et al.. Concreto Protendido: Perdas de Protensão. Centro de


Ciências Exatas e Tecnológicas. Universidade Federal de Viçosa – UFV, 1998.

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