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Universidade Metodista de Angola

Faculdade de Engenharia e Arquitetura


Curso de Engenharia Civil

Betão Armado e Pré -


Esforçado
Capitulo 1 – Introdução ao Comportamento das
Estruturas de Betão Armado

Professor: Mauro M. Manuel

Luanda, Março 2021


1 – INTRODUÇÃO
Ao nível granular o betão é constituído por elementos com
diferentes propriedades. Devido a esta heterogeneidade
desenvolvem-se microfendas, preponderantemente nas
interfaces entre os inertes e a ligante de cimento,
originando-se uma microestrutura anisotrópica com micro
zonas de dano mais intenso que acabam por degenerar em
bandas de fendilhação. A fendilhação é, consequentemente,
uma das principais fontes da não linearidade apresentada
pelas estruturas de betão.
1- Comportamento do Betão Estrutural
Notações
f – resistência do material
fc – tensão de rotura do betão à compressão
fct - tensão de rotura do betão à tracção
Ec – módulo de elasticidade do betão
fy – tensão de cedência do aço
fu – tensão de rotura do aço
Es – módulo de elasticidade do aço

1.0 ELEMENTO DE BETÃO SEM INCLUSÃO


DE ARMADURAS

Considere-se a viga de betão simples ilustrada


na figura ao lado, bem como os
diagramas de esforços correspondentes a uma
carga pontual genérica P aplicada a
meio vão.
1 – Comportamento do Betão Estrutural
Como se pode verificar, o maior momento flector ocorre a meio vão, estando
esta secção sujeita ao seguinte diagrama de tensões normais:

Para um determinado nível de carga P ocorrerá a fendilhação da secção de


meio vão (por ser a secção mais esforçada) e, consequentemente a rotura da
viga.
1– Comportamento do Betão Estrutural
Na figura seguinte podem observar-se os diagramas momentos-curvaturas e
cargadeslocamento que ilustram o comportamento da viga de betão simples
desde o início do carregamento até à rotura (rotura frágil).

Este comportamento resulta da lei de comportamento do material betão:


1– Comportamento do Betão Estrutural
Através da análise da relação constitutiva do betão pode concluir-se que este é
um material que possui uma boa resistência à compressão e uma baixa
resistência àtracção (da ordem de 1/10 a 1/15 da resistência à compressão).

A carga P que provoca o início da fendilhação está associada ao momento de


fendilhação podendo ser calculada através da seguinte relação:
1– Comportamento do Betão Estrutural
Conclusão: Uma viga de betão simples não explora a capacidade resistente do
material em compressão, e está associada a uma baixa capacidade de carga
(condicionada pela fendilhação) e a uma rotura frágil.

Solução: Introduzir um material com boa resistência à tracção nas regiões onde
é necessário Betão armado (betão +armadura)
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO
Armadura: material dúctil com bom comportamento quer à tracção quer à
compressão.

A introdução deste elemento no betão permite melhorar consideravelmente o


comportamento deste material, dado que, após a fendilhação, as tensões de
tracção passam a ser resistidas pela armadura.
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO
Na figura seguinte podem observar-se os diagramas momentos-curvaturas e
carga deslocamento que ilustram o comportamento da viga de betão armado
desde o início do carregamento até à rotura.
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO
CÁLCULO DAS TENSÕES NUMA SECÇÃO APÓS FENDILHAÇÃO
Considere-se a seguinte secção de betão armado.

(i) Cálculo da quantidade mínima de armadura a adoptar por forma a resistir às


tensões de tracção, após a fendilhação do betão.
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO
(ii) Cálculo do estado de tensão na secção imediatamente após a fendilhação do betão
Hipóteses consideradas:
− O betão não resiste à tracção
− As secções mantêm-se planas após a fendilhação

Cálculo da posição da linha neutra


Através da determinação do centro de gravidade da secção homogeneizada,
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO

Para a secção em estudo,


2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO

1.4. CÁLCULO DO MOMENTO DE CEDÊNCIA DA SECÇÃO


Em estado II (estado fendilhado) a linha neutra é invariável, pelo que, a um acréscimo do
momento flector irá somente corresponder um aumento de curvatura com consequente
aumento de tensões.
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO

1.4. CÁLCULO DO MOMENTO DE CEDÊNCIA DA SECÇÃO


Em estado II (estado fendilhado) a linha neutra é invariável, pelo que, a um acréscimo do
momento flector irá somente corresponder um aumento de curvatura com consequente
aumento de tensões.
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO
A continuação da aplicação da carga P conduz ao aumento das tensões nas
fibras (para a região de comportamento não linear).
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO
DIFERENÇA DO COMPORTAMENTO SECÇÃO / ESTRUTURA

As estruturas são compostas por inúmeras secções pelo que, o efeito da


fendilhação em algumas secções (perda de rigidez brusca nessas secções), vai
conduzir a uma diminuição gradual de rigidez da estrutura.
2 – ELEMENTO DE BETÃO ARMADO
DETERMINAÇÃO DA REGIÃO ONDE OCORRE FENDILHAÇÃO NUMA VIGA
PARA UM DETERMINADO CARREGAMENTO
3 – O Conceito de Segurança no Dimensionamento de
Estruturas
3.1. OBJECTIVOS DE SEGURANÇA NA ENGENHARIA ESTRUTURAL EM
GERAL
1) Garantir um bom comportamento das estruturas em situação corrente de serviço
Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos
Estados Limite de Utilização:
Limitar a deformação (estruturas em geral)

Controlar os níveis de fendilhação (estruturas de betão armado em particular)

Garantir um adequado comportamento dinâmico (estruturas em geral)


(ex: controlo de frequências próprias de vibração)
3 – O Conceito de Segurança no Dimensionamento de
Estruturas
2) Assegurar um nível de segurança adequado em relação a determinadas
situações de rotura (rotura local ou global da estrutura)
Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos
Estados Limite Últimos
Flexão
Esforço transverso
Encurvadura
Equilíbrio

3.2 FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO


AOS ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS
1) Definição de valores característicos para:

valores das acções SSK (95% de probabilidade de não serem excedidos)


resistências dos materiais SRK (95% de probabilidade de serem superiores).
3 – O Conceito de Segurança no Dimensionamento de
Estruturas
2) Adopção de coeficientes de segurança parciais que:
majorem as cargas, consoante o tipo de acção:
• Acções permanentes: valor aproximadamente constante durante a vida útil da
estrutura (ex: peso próprio, equipamentos fixos, etc.)
= 1.0 ou 1.35 (consoante a acção for ou não favorável)

• Acções variáveis: variam durante a vida útil da estrutura (ex: sobrecarga, vento,
sismo, variação de temperatura, etc.)
= 0.0 ou 1.5 (consoante a acção for ou não desfavorável)

• Acções acidentais: muito fraca probabilidade de ocorrência durante a


vida útil da estrutura (ex: explosões, choques, incêndios, etc.) = 1.0
minorem as resistências dos diferentes tipos de materiais:
3 – O Conceito de Segurança no Dimensionamento de
Estruturas
3) Estabelecimento de combinações de acções, conforme especificado
no RSA

Sq – acção variável de base


Sqi – restantes acções variáveis
4) Avaliação dos efeitos estruturais das acções na estrutura, usualmente
com base numa análise elástica linear da mesma, e obtenção de esforços
de cálculo

5) Avaliação das resistências de cálculo e capacidades resistentes


(forças ou esforços)
3 – O Conceito de Segurança no Dimensionamento de
Estruturas
6) Verificação da condição de segurança

Relação que estabelece a condição de segurança

De acordo com esta formulação, a probabilidade de ruína de uma estrutura,


projectada e construída de acordo com os requisitos regulamentares, deverá ser
inferior a
3 – O Conceito de Segurança no Dimensionamento de
Estruturas
3.3 FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS
ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO
1) Definição dos valores da acção que actuam na estrutura
2) Estabelecimento de combinações de acções, conforme preconizado no RSA:
- Combinação quase permanente de acções: Estado limite de longa duração
(≥ 50% do tempo de vida da estrutura)

- Combinação frequente acções: Estado limite de curta duração (≥ 5% do


tempo de vida da estrutura)

Combinação característica: Estado limite de muito curta duração (algumas horas no período
de vida da estrutura)

Q – acção variável de base


Qi – restantes acções variáveis

3) Avaliação dos efeitos estruturais das acções, considerando em geral uma análise elástica
linear e as propriedades médias dos materiais por forma a estimar o comportamento
previsível. Em geral é, portanto, necessário considerar, de uma forma simplificada, os efeitos
da fendilhação (perda de rigidez) e da fluência do betão nas características da resposta e na
forma de avaliar os efeitos das acções.
3 – O Conceito de Segurança no Dimensionamento de
Estruturas
4) Verificar a condição de segurança

Esta formulação conduz a que a probabilidade de serem excedidos valores


admissíveis seja da ordem de 10 −1 .

Posteriormente há que fazer as verificações de segurança, atrás mencionadas, como a


limitação da deformação, o controlo do nível de tensões nos materiais e o controlo das
aberturas de fendas. Estas verificações são estabelecidas nos regulamentos, para certas
combinações de acções. Refira-se que um certo limite é dependente da duração de tempo
em que possa subsistir.
Por outro lado, uma abertura de fendas máxima de 0.5 mm pode ser considerada aceitável
para a combinação característica de acções, pois só acontece muito esporadicamente, mas
não para uma situação com carácter de permanência, em que se aponta na regulamentação
para um limite de 0.3 mm.
4 – MATERIAIS

4.1. Caracterização dos Betões

Os betões são classificados por classes de resistência.


As classes de resistência estão definidas de acordo com os valores característicos de tensão
de rotura à compressão aos 28 dias de idade, referidos a provetes cúbicos ou provetes
cilíndricos.
No quadro seguinte apresentam-se, para as várias classes de resistência do betão, os
valores característicos e de cálculo das tensões de rotura à compressão (fck e fcd), bem como
o valor médio da tensão de rotura à tracção (fctm) e módulo de elasticidade aos 28 dias
(Ec,28)
4 – MATERIAIS

4.1.1. Tensões de rotura do betão


A partir dos valores característicos das tensões de rotura à compressão ou à tracção,
definem-se os valores de cálculo:

O valor médio da tensão de rotura do betão à tracção é dado pela expressão:

Nota: o valor de fcd é definido a partir da resistência em cilindros, dado que estes provetes
são mais representativos da resistência do betão em peças longas.
4 – MATERIAIS
4.1.2. Módulo de elasticidade do betão
Com vista ao tratamento de problemas estruturais que envolvem deformação em regime de
funcionamento praticamente elástico, considera-se um módulo de elasticidade secante do
betão aos 28 dias de idade. Este módulo de elasticidade, tal como a figura seguinte indica,
encontra-se definido para
(Verificação da segurança aos estados limites de utilização)
4 – MATERIAIS
4.1.3. Determinação do valor característico da tensão de rotura do betão à compressão
fck a partir do ensaio de um conjunto de provetes.

4.2. CARACTERIZAÇÃO DAS ARMADURAS


As armaduras classificam-se em:
armaduras para betão armado
armaduras de pré-esforço
3.2.1. Classificação das armaduras para betão armado
processo de fabrico
• aço natural (laminado a quente) (N)
• aço endurecido a frio (E)
aderência
• alta aderência (superfície rugosa ou nervurada) (R)
• aderência normal (superfície lisa) (L)
resistência
• (A235), A400, A500
5 – EXERCÍCIO 1.1
Considere a estrutura da figura seguinte:
Materiais: C25/30, A400
Acções:
Peso próprio
Revestimento=2.0 kN/m2
Sobrecarga = 3.0 kN/m2
Coeficientes de majoração

Coeficientes de combinação:

Secção da viga: 0.30×0.85 m2


Espessura da laje: 0.15m

a) Determine, para as secções S1 e S2 da viga, os valores de cálculo dos esforços.


b) Calcule, para as mesmas secções, os esforços para as combinações rara,
frequente e quase-permanente.
Obrigado.

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