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COMPORTAMENTO SÍSMICO DE ESTRUTURAS PRÉ-FABRICADAS EM

BETÃO ARMADO

Curso IST – Out. 2000

LIGAÇÕES EM ESTRUTURAS PRÉ-FABRICADAS


PARA EDIFÍCIOS

VÁLTER J. G. LÚCIO
Prof. Associado da Universidade Nova de Lisboa
Investigador do ICIST

1. INTRODUÇÃO

Neste documento apresentam-se alguns dos princípios por que se devem reger
a concepção e dimensionamento de ligações em estruturas pré-fabricadas para
edifícios. O assunto é bastante vasto, focando-se aqui apenas as ligações em
estruturas porticadas, ficando por tratar temas como as ligações em estruturas
de painéis, as ligações relativas aos pavimentos e aos painéis de fachada.

No capítulo 2 referem-se os tipos estruturais e a sua concepção para as acções


verticais e para as acções horizontais, definindo assim os tipos de ligações e as
acções a que estão sujeitas. Descrevem-se também as exigências funcionais
das ligações, o que permite definir os princípios que condicionam a sua
concepção.

Nos capítulos seguintes descrevem-se a ligação pilar-fundação, a ligação


simples viga-pilar, e a ligação viga-pilar com transmissão de momentos.

2. CONCEPÇÃO DE ESTRUTURAS PRÉ-FABRICADAS

Podemos definir sete tipos de estruturas pré-fabricadas mais correntes


(Figuras 1 a 3): moradias de um só piso, com vãos de 3 a 6 metros e altura
entre pisos de 3m; edifícios de habitação ou escritório com 2 a 5 pisos (ou mais),
com vão de 3 a 6 metros e altura entre pisos de 3 a 4 m; auto-silos com 2 a 4
pisos, com vãos de 7.5 a 15 m e altura entre pisos de 3m; grandes armazéns
com 2 a 4 pisos, com vãos de 10 a 20 m numa direcção e 3 a 6 m na direcção
ortogonal, e altura entre pisos de 5 a 7 m; grandes áreas comerciais de um
único piso de 5 a 7 m de altura e 10 a 15 m de vão; naves industriais ou
agrícolas, ou pequenos armazéns de um único piso com 5 a 7 m de altura e
vãos de 10 a 30m numa direcção e 3 a 6m na direcção ortogonal; edifícios
mistos com um piso geral para armazém ou indústria, e um segundo piso, de
menor pé direito e numa zona restrita, para escritórios.

1
3 a 6m

3a
3 a 6m 6m

3a
6m
3a
4m

3m

(a) MORADIAS (b) HABITAÇÃO E ESCRITÓRIOS


Figura 1 - Tipos de estruturas pré-fabricadas: habitação e escritórios.

2.1 Edifícios de um só piso

Nos edifícios de um só piso e cobertura ligeira, como são os casos (e), (f) e (g),
as acções gravíticas são pequenas, e a acção dos sismos é, em geral,
desprezável. A acção condicionante do dimensionamento da estrutura é
usualmente o vento. Neste caso o sistema estrutural é constituído por pilares
encastrados na base e asnas apoiadas nos pilares. Nos casos em que numa
direcção o vão é muito menor que na outra (casos (f) e (g)) existem vigas
longitudinais que, com os pilares, formam pórticos na direcção do menor vão. A
cobertura é constituída por chapas de fibrocimento ou metálicas, suportadas por
madres de betão armado pré-tensionado ou em aço, que transferem as acções
às asnas. Estas poderão ser pré-esforçadas para vãos de maiores dimensões. A
cobertura funciona como diafragma na distribuição das forças horizontais pelos
dois pórticos longitudinais e entre os pilares na direcção transversal.
10 a 20m

7.5 a 15m
3a
6m

7.5 a
15m

5a
3m 7m

(c) AUTO-SILOS (d) ARMAZÉNS

Figura 2 - Tipos de estruturas pré-fabricadas: auto-silos e armazéns de vários


pisos.

2
10 a 15m

10 a
15m

5a
7m

(e) GRANDES ÁREAS COMERCIAIS

10 a 30m 10 a 30m

6a
7m
3a 3a
6m 6m

6a
5a 7m
7m

(f) PAVILHÕES INDUSTRIAIS (g) MISTOS


E AGRÍCOLAS, E ARMAZÉNS INDUSTRIAIS/ESCRITÓRIOS

Figura 3 - Tipos de estruturas pré-fabricadas: grandes áreas de um só piso.

As ligações neste tipo de estruturas são:


a) ligação pilar-fundação - ligação com encastramento total do pilar na
fundação, uma vez que o esforço principal na ligação é o momento devido à
acção do vento nas fachadas;
b) ligação de continuidade entre as vigas longitudinais e os pilares,
dimensionada para pequenos esforços de flexão e normalmente executada
com betonagem em obra da extremidade superior do pilar;
c) ligação entre a asna e o pilar, sem capacidade de transmissão de momentos,
constituída por aparafusamento de ferrolhos salientes da cabeça do pilar ou
por betonagem de armaduras salientes da cabeça do pilar e das
extremidades da asna;
d) ligação das madres às asnas, usualmente com chapas metálicas
aparafusadas à asna.

Existem outros sistemas em que é dada continuidade na ligação asna-pilar,


formando pórticos transversais, aumentando a hiperstatia do conjunto e
reduzindo os esforços nas fundações.

3
Este tipo de estruturas é bastante comum, sendo o maior mercado da indústria
de pré-fabricação de estruturas para edifícios. Existem vários sistemas |1|,
alguns patenteados, com larga experiência e comprovada eficácia.

2.2 Edifícios de vários pisos

Nos edifícios com vários pisos, como pode ser o caso dos edifícios de habitação
e de escritórios (b) e auto-silos (c), as acções gravíticas são importantes, sendo
os seus efeitos, ou o efeito da acção sísmica, dependendo do grau de
sismicidade do local, o que condiciona o dimensionamento da estrutura.

Nos edifícios com vários pisos e médios ou grandes vãos, como é o caso dos
auto-silos (c), e com elevadas cargas verticais, como é o caso dos armazéns (d),
na direcção do maior vão a acção condicionante no dimensionamento são as
cargas verticais, enquanto que nos menores vãos a acção condicionante é o
sismo.

Os pavimentos podem ser compostos por elementos pré-fabricados,


solidarizados por uma camada de betão complementar moldada em obra. A
escolha da solução pré-fabricada será função das cargas, do vão a vencer e do
escoramento a utilizar, ou não, na fase de betonagem. O escoramento deverá,
sempre que possível, ser evitado, obtendo-se assim uma solução com reduzidos
custos indirectos e enormes vantagens para o andamento da obra.

Os pavimentos mais correntes são:


• lajes com pré-lajes de betão armado ou pré-tensionado, e betão
complementar;
• lajes com pranchas alveoladas de betão pré-tensionado e betão
complementar;
• lajes com pré-lajes em U invertido ou em TT de betão armado ou
pré-tensionado, com betão complementar.

Quando a concepção e o dimensionamento das estruturas são condicionados


pela acção dos sismos, tal como nas estruturas de betão moldado em obra, as
estruturas pré-fabricadas devem ser projectadas obedecendo aos seguintes
critérios |2|:
• regularidade em planta, evitando geometrias com o centro de rigidez distante
do centro de massa, garantindo uma ligação eficiente entre corpos ou
utilizando juntas para dividir a estrutura em corpos consistentes;
• regularidade em altura, evitando variações bruscas de rigidez em altura e
garantindo a continuidade dos elementos verticais, pilares e paredes
resistentes, até às fundações;
• evitar o “soft floor” - piso com maior pé-direito e/ou sem paredes divisórias,
que conduz a um mecanismo de rotura constituído por rótulas plásticas
exclusivamente nos pilares desse piso (Figura 4);
• evitar pilares curtos - na base dos edifícios como forma de os elevar do nível
térreo, na intersecção das rampas de acesso de veículos em auto-silos, nas
zonas dos patins intermédios das escadas, etc. Em caso de sismo estes
pilares têm rotura frágil por esforço transverso;
• promover a redundância estrutural, isto é, proporcionar mais do que um
sistema sismo-resistente evitando a dependência a um único sistema, como

4
por exemplo: paredes resistentes e pórticos viga-pilar, que no conjunto se
possam complementar e transferir os esforços por redistribuição plástica
aquando da acção sísmica;
• proporcionar diafragmas rígidos nos pisos que possam distribuir as forças
pelos vários elementos verticais resistentes, conferindo ao piso um
comportamento de corpo rígido no seu plano e uma ligação eficaz das lajes
aos elementos verticais;
• conferir à estrutura capacidade de dissipar a energia desenvolvida pelo sismo,
através da deformação plástica em flexão, sem perda substancial da
resistência;
• as rótulas plásticas devem-se desenvolver em todos os pisos e
preferencialmente nas vigas e não nos elementos verticais, excepto na base
destes - “capacity design”.

SIM NÃO NÃO


DEFORMAÇÃO DEFORMAÇÃO DEFORMAÇÃO PLÁSTICA
PLÁSTICA NAS VIGAS PLÁSTICA NOS NUM SÓ PISO
"CAPACITY DESIGN" PILARES "SOFT STOREY"

Figura 4 - “Capacity Design”

As estruturas pré-fabricadas têm algumas particularidades em relação a estes


critérios de concepção que importa realçar:
• devido a uma maior preocupação de uniformização das peças pré-fabricadas,
as estruturas pré-fabricadas são, em geral, mais regulares, quer em planta,
quer em altura;
• no caso de auto-silos, a estrutura das rampas deve ser independente da
estrutura do edifício por forma a evitar pilares curtos, mais sensíveis à acção
dos sismos;
• a redundância estrutural nem sempre é considerada no projecto de edifícios
pré-fabricados com vários pisos. Cometem-se por vezes erros ao considerar
para edifícios de vários pisos as regras utilizadas para pavilhões industriais de
um único piso. Nos edifícios de um piso a redundância é insipiente e resume-
se à (reduzida) função de diafragma da cobertura e ao funcionamento, nem
sempre eficaz, dos pórticos longitudinais. Nestes edifícios a acção do sismo
não é, em geral, importante, pelo que a concepção adoptada é suficiente para
as acções a que está sujeito. Nos edifícios com vários pisos será necessário
considerar, tal como nas estruturas betonadas em obra, paredes resistentes
e/ou ligações viga-pilar rígidas, isto é, que possuam resistência à flexão e
permitam a dissipação de energia por deformação plástica sem perda
substancial de resistência.
• os pavimentos pré-fabricados devem ser eficientemente ligados às vigas e às
paredes resistentes, e terem capacidade para transferirem as forças entre os

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elementos verticais sem deformação considerável no seu plano, por forma a
garantirem o comportamento de diafragma rígido referido. É fundamental que
estes pavimentos possuam uma camada de betão complementar betonada em
obra e sejam convenientemente armados para exercerem eficazmente as
funções de diafragma rígido;
• quanto ao comportamento dos pilares, se estes forem executados num único
elemento pré-fabricado para toda a altura do edifício, o que é possível para
edifícios até 25m de altura, estes são mais eficientes que os pilares betonados
em obra. Os pilares betonados em obra têm juntas de betonagem
exactamente nos nós de ligação às vigas, por vezes pouco cuidadas,
congestionamentos de armaduras com deficiência de cintagem, exactamente
nas zonas críticas de formação de rótulas plásticas sob a acção do sismo. Nos
pilares pré-fabricados estes problemas podem ser facilmente evitados.

No entanto, a execução da ligação das vigas aos pilares parece ser, em termos
de comportamento às acções sísmicas, o “calcanhar de Aquiles” das estruturas
pré-fabricadas.

As ligações viga-pilar, em termos de comportamento sob as acções sísmicas,


podem ser classificadas em três tipos |2|:
• sistema emulativo - as ligações situam-se longe das zonas críticas onde se
formam as rótulas plásticas de flexão (Figura 5). Neste caso a ligação viga-
pilar não influencia o comportamento da estrutura ao sismo.

betonagem a
efectuar em obra

Figura 5 - Sistema emulativo para pequenos vãos.


• ligações sobredimensionadas - neste sistema, tanto o pilar como a viga
deverão ser sobredimensionados perto da zona crítica (zona de formação das
rótulas plásticas) por forma a que a potencial deformação plástica se dê na
viga mas longe da ligação.
• sistemas dissipativos - as ligações, dentro da zona crítica da ligação viga-pilar,
são especialmente desenhadas para, através da deformação plástica,
garantirem um comportamento dúctil global da estrutura, com dissipação de
energia.

Por razões de produção e transporte, os sistemas emulativos nem sempre são


viáveis. Os sistemas com ligação sobredimensionada são normalmente
dispendiosos e arquitectonicamente inaceitáveis, pelo que nos resta
implementar soluções de ligações dissipativas.

Embora não esquecendo o princípio da redundância estrutural, não é necessário


que toda a estrutura participe igualmente na resistência ao sismo podem ser

6
criadas na estrutura algumas zonas sismo-resistentes, com pórticos dotados de
ligações viga-pilar especialmente desenhadas para esse fim.

PAREDES
RESISTENTES

PÓRTICOS
SISMO-RESISTENTES

Figura 6 - Estrutura com zonas sismo-resistentes.

Devem ser tomados especiais cuidados para evitar a possibilidade de perda de


suporte |3| das vigas e das lajes, isto é, o deslocamento relativo destes
elementos em relação ao seu apoio e posterior queda pode ser evitado com
pormenorização eficaz das zonas de apoio, com utilização de ligações
resistentes ao corte a forças horizontais, tal como ferrolhos verticais. Os apoios
devem ser dimensionados para forças horizontais |4| resultantes de acções
normalmente não consideradas nos cálculos (retracção do betão, variações de
temperatura, excentricidades devido a imperfeições geométricas e à deformação
elástica e inelástica da estrutura).

LIGAÇÃO VIGA-PILAR LIGAÇÃO LAJE-VIGA

Figura 7 - Perda de suporte.

Outro problema inerente às estruturas pré-fabricadas é o colapso progressivo, o


qual pode ser causado por falta de redundância estrutural.

2.3 Exigências funcionais das ligações

Podemos enumerar as exigências funcionais de uma ligação, como se segue. A


ligação é tanto mais eficaz quanto melhor corresponder a essas exigências.

7
A) - Fabrico - a ligação deve ser simples e fácil de fabricar. O número de
acessórios e de especialidades utilizados no fabrico da ligação deve ser
reduzido.

B) - Transporte - a ligação não deve condicionar os meios e o custo do


transporte dos elementos pré-fabricados, assim como não deve ser sensível a
acidentes que ocorram durante a carga, o transporte e a descarga da fábrica
para a obra.

C) - Montagem - a ligação deve facilitar a montagem, permitindo custos


reduzidos dos meios de elevação (gruas) e de escoramento.

A ligação deve ser concebida para ser estável durante o processo de montagem
de todos os elementos pré-fabricados, até ao seu fecho em obra, isto é, a
ligação deve resistir sem rotação, nem perda de suporte, às cargas excêntricas
aplicadas durante a montagem de todas as peças e durante as betonagens
executadas em obra.

D) - Execução - a execução, ou fecho da ligação, em obra deve compreender


um número reduzido de operações e de diferentes especialidades. Deve ser
simples e económica.

Deve dar-se preferência a operações simples, como encaixe, aparafusamento,


e, eventualmente, betonagens ou injecções de argamassas ou caldas em que
não sejam necessárias cofragens complexas e em que seja possível controlar a
qualidade final do produto aplicado, garantindo vibração e cura eficientes, purga
nas injecções, a eficiente ligação entre betões de diferentes idades. Nesta fase
deve-se ter em consideração que as condições de trabalho em obra são mais
complexas que em fábrica, sendo mais difícil obter em obra o mesmo nível de
qualidade que em fábrica. Por esta razão, é importante utilizar, também em
obra, mão-de-obra especializada.

E) - Durabilidade - Os materiais e os processos utilizados nas ligações devem


ser estáveis com o tempo, e manterem as suas propriedades mecânicas e o seu
aspecto sem alteração ao longo da vida útil da obra.

Quando se empregam acessórios metálicos, estes devem estar devidamente


protegidos contra a corrosão.

F) - Estabilidade ao fogo - Os acessórios que garantem a segurança das


ligações devem ter capacidade de resistir à acção do fogo sem conduzirem ao
colapso prematuro da estrutura. Estes acessórios também não devem ser
sensíveis a temperaturas elevadas, que ocasionalmente possam ocorrer durante
a utilização da estrutura (as resinas epoxídicas, por exemplo, liquefazem-se a
cerca de 70ºC).

G) - Comportamento estrutural - As ligações devem resistir com segurança às


cargas que lhes são aplicadas, garantindo a segurança aos estados limites
últimos de tracção, de compressão e de corte, e ao derrubamento ou perda de
suporte dos elementos que ligam. Por outro lado, deve ser verificada a
segurança aos estados limites de utilização, tais como a abertura de fendas nas
juntas da ligação entre materiais, fendas devido a elevadas tensões de
compressão, ou deformações e deslocamentos, que possam comprometer a
funcionalidade ou o aspecto da estrutura.

8
O comportamento da ligação sob as acções dos sismos, quando seja pertinente
considerá-las, pode condicionar a concepção das ligações. As ligações que
garantem a continuidade de esforços de flexão deverão ser projectadas de
acordo com o que foi especificado na secção anterior. Todas as ligações,
incluindo as que não foram concebidas para resistir à acção dos sismos, devem
ser estáveis para estas acções, isto é, não podem comprometer a estrutura por
derrubamento ou perda de suporte dos elementos ligados.

H) - Estética - Uma das vantagens das estruturas pré-fabricadas é a economia


conseguida nos acabamentos dos edifícios devido à qualidade das superfícies
cofradas. As ligações devem respeitar esta vantagem sobre as estruturas
betonadas em obra. O fecho de ligação não deve danificar as superfícies
executadas em fábrica com escorrimentos de caldas, ou com betonagens
parciais que criam superfícies com textura diversa da produzida em fábrica. As
ligações devem ter formas elegantes e que respeitem a arquitectura projectada.

I) - Economia - O custo das ligações não deve comprometer a concorrência da


estrutura pré-fabricada, em relação a outras soluções.

3. LIGAÇÃO PILAR-FUNDAÇÃO

As ligações pilar-fundação mais correntes são dos tipos indicados na Figura 8. O


primeiro e segundo exemplos ((a) e (b)) correspondem a pilares encastrados
numa cavidade executada na fundação (sapata ou maciço de encabeçamento
de estacas), com posterior betonagem do espaço livre entre a superfície interior
da cavidade e as faces laterais do pilar. No terceiro e quarto casos, (c) e (d),
existem armaduras salientes do pilar ou da fundação, respectivamente, que são
introduzidas em aberturas e posteriormente seladas por injecção de uma
argamassa ou calda apropriada. O quinto e último tipo indicado corresponde a
uma ligação semelhante às ligações utilizadas em estruturas metálicas,
constituída por ferrolhos salientes da fundação que são aparafusados a uma
chapa a qual vem soldada às armaduras na base do pilar.

Nos parágrafos seguintes são descritos os sistemas de ligação do pilar à


fundação. Para o dimensionamento da fundação em si podem ser consultadas
as referências |5| e |6|.

3.1 Fundações com cavidade

Este tipo de fundação permite um bom encastramento do pilar na fundação,


sendo simples e económica a sua execução.

A sapata pode ser pré-fabricada ou moldada no local, sendo a cavidade


executada com as superfícies laterais ligeiramente inclinadas para facilitar a
descofragem. A extremidade inferior do pilar é colocada na cavidade e nivelado
com calces de chapa de aço colocados no fundo desta. O pilar é aprumado com
o auxílio de cunhas que são posicionadas entre as faces laterais do pilar e a
cavidade. A cavidade é então preenchida com argamassa ou betão não
rectrácteis.

9
Figura 8 - ligações pilar-fundação mais correntes.

A cavidade garante o encastramento do pilar e a sua altura deve ser calculada


para esse fim, como se descreve adiante.

O betão abaixo da extremidade do pilar é responsável pela resistência da


fundação ao punçoamento. A altura da fundação tem duas parcelas, tendo a
finalidade de garantir o encastramento do pilar e a outra a de garantir a
resistência ao punçoamento. Em edifícios com um número elevado de pisos, em
que a força de punçoamento é grande, como são os casos (e), (f) e (g) da
Figura 3, este tipo de fundação é demasiado dispendioso em volume de betão,
pois a altura total da fundação torna-se demasiado grande.

Se se desprezar o atrito entre as faces do pilar e a fundação |6|, o momento de


encastramento é transferido por um binário de forças Fc (Figura 9) e uma força
vertical excêntrica na base do pilar (N). O modelo de escoras e tirantes |5|
representado na Figura 9 pode ser utilizado para verificar as forças internas no
pilar nomeadamente, para dimensionar as armaduras transversais na zona
encastrada do pilar.

O binário das forças Fc é:

M’ = Fc (l – xV - x ) (1)

Este binário deve ser equilibrado pelo momento das forças aplicadas (M, N e V),
dado por

M’ = M + V xV/2 - N (a – xN)/2 (2)

Nestas expressões l é a profundidade da cavidade, x, xV e xN são as dimensões


dos blocos de tensões de Fc, V e N, respectivamente. Estas dimensões podem
ser estimadas considerando uma tensão útil de resistência à compressão do
betão de preenchimento da cavidade de 0.6 fcd. O valor da resistência à
compressão do betão (fcd) é aqui reduzido em 40% para ter em consideração a
eventual menor qualidade de compactação deste betão devido ao espaço
reduzido entre as faces da cavidade e do pilar.

10
Figura 9 – Modelo de escoras e tirantes para as forças internas no pilar.

Os valores de xV e xN podem ser obtidos das expressões seguintes, onde b é a


largura do pilar.

V N
xV = e xN = (3)
b0.6f b0.6f
cd cd

Da mesma forma:

Fc = 0.6 fcd b x (4)

Substituindo Fc na expressão (1) somos conduzidos a uma equação do 2º grau,


cujas raízes são reais se

M′
l≥2 +x (5)
b0.6fcd V

Esta expressão representa o menor valor admissível para a profundidade da


cavidade, cuja espessura das paredes não deve ser inferior a l /2. O Eurocódigo
2 |3| especifica l ≥1.2a, em que a é a espessura do pilar. Sendo l o valor
mínimo da profundidade da cavidade, condicionado pelas tensões no betão que
envolve o pilar, importa agora verificar a resistência ao esforço transverso do
pilar situado dentro da fundação.

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O pedestal deve ser armado para resistir à força Fc, aplicada pelo pilar no seu
topo, e transmiti-la para a base da fundação. O modelo de dimensionamento
destas armaduras e das armaduras da sapata, encontra-se esquematizado na
Figura 10. O modelo é baseado também no método das escoras e tirantes, e
assume-se que as tensões no solo têm uma distribuição plástica. Para uma
força axial excêntrica e=M/N, as tensões no solo distribuem-se numa área B(A-
2e), onde A e B são as dimensões em planta da sapata. Podem ocorrer duas
situações distintas: se e≥A/4 as tensões no solo situam-se em menos de metade
da base da sapata, caso contrário, isto é, se e<A/4 as tensões no solo são
distribuídas em mais de metade da base da sapata. Adiante são apresentados
exemplos destas duas situações.

Figura 10. Modelo de escoras e tirantes para uma sapata com pedestal (e ≥ A/4).
No modelo representado na figura 10, a escora horizontal no topo conduz as
forças Fc + V para o tirante T2 situado na zona superior das paredes do
pedestal. Este tirante puxa a força Fc para trás, para a parede oposta do
pedestal, para um nó onde um tirante vertical T3, e uma escora inclinada
conduzem a força para a base da sapata e para a força Fc aplicada na base do
pilar. A força axial do pilar é transferida para a base da sapata por uma escora
inclinada, cuja componente horizontal é equilibrada por um tirante T4,
constituindo a armadura inferior da sapata. Os tirantes T1, T2 e T7 constituem a
armadura das paredes do pedestal, distribuídas no topo da parede, numa altura
x, enquanto que T3 corresponde às armaduras concentradas nos cantos do
pedestal, as quais devem dobrar na base da sapata para transferir a força para
o tirante T4. Na base da sapata, o tirante T4 está distribuído na largura B e o
tirante T5 corresponde à armadura distribuída na largura (A-2e). Igual
quantidade de armadura deve ser colocada na restante largura da sapata (2e).

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Na Figura 11 representa-se uma sapata com cavidade mas sem pedestal. Neste
caso representou-se o modelo de escoras e tirantes para e<A/4. O raciocínio
para seguir o encaminhamento das forças neste caso é semelhante ao caso
anterior |9|.

Figura 11 - Modelo de escoras e tirantes para uma carga excêntrica numa sapata
com cavidade e sem pedestal (e < A/4).
Na Figura 12 representa-se o modelo de escoras e tirantes para uma sapata
com ligação ao pilar constituída por uma emenda da armadura do pilar com os
varões salientes da sapata. Neste tipo de ligação, os varões salientes da
fundação devem estar posicionados de forma rigorosa para não dificultar a
montagem do pilar. O posicionamento dos varões pode ser auxiliado com uma
chapa metálica colocada no topo da fundação, e furada para passagem dos
varões. No pilar são deixadas bainhas, ou furos, paralelos à armadura do pilar,
com o comprimento suficiente para garantir a emenda entre estes dois conjuntos
de varões. Uma vez posicionado o pilar as bainhas são injectadas com calda
não retráctil, ou com “grout”. Um outro tipo de ligação semelhante é o
representado na Figura 13, sendo que, neste caso, as armaduras vêm salientes
do pilar e penetram em furos deixados na fundação.

13
Figura 12 - Ligação pilar - fundação com armaduras salientes de fundação.

A ligação indicada na Figura 12 tem o inconveniente de causar um grande


congestionamento de armaduras na base do pilar, e de ser bastante sensível a
eventuais erros de posicionamento das armaduras salientes da fundação.

Figura 13 - Ligação pilar-fundação com armaduras salientes do pilar.

No segundo caso (Figura 13) a injecção dos furos é mais difícil de controlar que
no primeiro. Ambos os sistemas exigem o escoramento dos pilares até se atingir
a presa da calda da injecção dos furos. Os modelos de escoras e tirantes para o
dimensionamento das armaduras estão representados nas Figuras 12 e 13.

Figura 14 - Ligação pilar - fundação por aparafusamento em ferrolhos salientes na


fundação.

Na Figura 14 representa-se uma ligação por aparafusamento de uma chapa


soldada base do pilar a chumbadouros salientes da fundação. Este sistema é
fácil de montar, e tem um bom comportamento às acções sísmicas. No entanto,

14
é mais difícil resistir a momentos elevados que nas ligações com cavidade e
exige uma protecção eficaz das chapas metálicas contra a corrosão.

4. LIGAÇÃO VIGA - PILAR

Como foi referido podemos classificar as ligações viga-pilar em ligações sem


transmissão de momentos, em que a viga apoia no pilar com liberdade de
rotação, e ligações com continuidade de momentos entre a viga e o pilar.

4.1 Ligação sem transmissão de momentos.

As ligações viga-pilar sem continuidade de momentos devem ser dimensionadas


para as seguintes acções:
• corte no apoio;
• tracção;
• rotação por torção;
• perda de suporte durante a montagem, para acções de acidente e para a
acção sísmica.

O apoio pode ser directo sobre a extremidade do pilar, como é o caso das asnas
de cobertura, ou em consolas curtas salientes do pilar. Este tipo de ligação pode
também ser realizado por encaixe de acessórios colocados na face do pilar.

Se a viga assenta sobre o pilar, ou sobre a consola curta, deve ser utilizada uma
base de argamassa, de neopren reforçado ou chapas de aço, por forma a obter
uma uniformização das tensões de compressão nas zonas de contacto.

As zonas da ligação, tanto da viga como do pilar, devem ser dimensionadas


para as acções de corte e de tracção referidas. As acções de torção são
normalmente absorvidas por ferrolhos salientes do pilar, que atravessam a viga
e são aparafusados na extremidade.

Figura 15 - Exemplo de apoio na fase de montagem.

15
As dimensões das zonas de contacto da viga e do pilar devem ser projectadas
por forma a não serem sensíveis às tolerâncias de fabrico e de montagem, e a
pormenorização das armaduras deve evitar que as tensões de contacto sejam
transmitidas a zonas de betão não cintado, a bordos, cantos ou às zonas de
betão que constituem o recobrimento das armaduras, conduzindo
frequentemente a rotura frágil do apoio e perda de suporte. As armaduras
devem estar dimensionadas para forças horizontais normalmente de difícil
quantificação, como sejam as resultantes de assentamentos de apoio,
retracção, variações de temperatura, acção do sismo ou outras acções de
acidente.

4.1.1 Dimensão do apoio

O comprimento nominal de um apoio |7| de largura b1 é dado por:

a = a 1 + a2 + a3 + ∆a 2 + ∆a 2 (6)
2 3

onde (ver Figura 14): a1 é a largura da base de apoio; a2 e a3 são as distâncias


da base de apoio às extremidades do pilar e da viga, respectivamente; ∆a2 e ∆a3
são as tolerâncias relativas à distância entre pilares e de comprimento da viga,
respectivamente. A dimensão a1 deve ser determinada em função da resistência
do material do apoio (fbed) e das características dos dois betões (fcd)

FEd ≤ a1 b1 fRd (7)

com fRd = fbed ≤ 0.85 fcd (8)

ou, em ligações secas fRd = 0.4 fcd (9)

a 3 +∆a3 a1 a 2+∆a2
a

Figura 16 – Dimensões dos apoios.

FEd/a1b1fcd ≤0.15 0.15-0.4 >0.4


a1 (mm) 90 110 140
a2 ≥C30/37 10 15 25
(mm) <C30/37 20 25 35
a3 (mm) c+r
∆a3 (mm) 10≤ l /1200≤30
c -recobrimento das armaduras, r -raio de dobragem das
armaduras longitudinais, l -vão livre entre faces dos apoios.

16
4.1.2 Consolas curtas

O dimensionamento das consolas curtas pode ser efectuado utilizando o método


das escoras e tirantes ilustrado na Figura 17 |5|.

Figura 17 – Modelo de escoras e tirantes para a consola curta.

No dimensionamento das armaduras deve ser considerada uma força horizontal


mínima H ≥ 0.2 V, para ter em conta eventuais acções não contabilizadas |4|.
Considerando o equilíbrio das forças nas escoras e no tirante obtém-se:

T1 = V a/z + H (10)

com z=d-x2 /2, e a=e+c H/V + x1/2, sendo x1=V/b0.85fcd e x2 =(T1-H)/b0.85fcd ,


onde b é a largura da consola. Para efeitos de cálculo convém arbitrar um valor
inicial de z=0.8d para estimar x2, e, por iterações, chegar ao valor correcto de z.

Figura 18 - Armadura principal em laço.

No EC2 |4| recomenda-se a utilização de estribos horizontais sempre que


h ≥ 0.30m e horizontais, ou inclinados, sempre que T1 ≥ bh 0.4fcd. A área destes
estribos deve ser no mínimo 40% da área da armadura principal. Em |5|
apresentam-se outros modelos para quantificar esta armadura.

17
A armadura do tirante T1 deve estar devidamente amarrada na extremidade da
consola, sendo a forma ideal o laço, podendo haver mais que uma camada de
armaduras (Figura 18).

4.1.3 Extremidades das vigas

Para evitar a rotura das extremidades das vigas, a armadura inferior deve ser
devidamente amarrada junto à extremidade. Na Figura 19 apresentam-se
algumas pormenorizações que devem ser utilizadas nestes casos.

No exemplo ilustrado na Figura 19 (a) a armadura sobre o apoio deve ser


dimensionada por uma força

FEd = VEd (cotgθ-cotgα)/2+H (11)

onde VEd é o valor do esforço transverso no apoio, H a força horizontal


(H ≥ 0.2VEd), θ o ângulo das bielas de betão com o eixo da viga utilizado na
verificação ao esforço transverso da viga, e α a inclinação das armaduras
transversais com a horizontal. Nas vigas com dente (Figura 19 (b)) o
dimensionamento das armaduras pode ser efectuado com um dos modelos
apresentados nas Figuras 20 a 23.

(a) (a)

NÃO NÃO
(a) (a)
Figura 19 - Pormenores tipo nas extremidades de vigas: a) laços como reforço na
zona do apoio; b) laços em vigas com dente; c) rotura em pormenor errado ou
excesso de recobrimento; d) rotura por falta de amarração da armadura.

No modelo da Figura 20 as armaduras correspondentes aos tirantes podem ser


quantificadas com as seguintes forças:

T1 = V x1/z1 + H (12)

onde z1 ≅ 0.8d1

18
T2 = T3 z2/x2 (13)

T3 = (T1 z1 + V x2)/ z (14)

e T4 = V (15)

Figura 20 - Modelo para viga indentada com armadura de suspensão vertical |8|.

No modelo da Figura 21 as expressões para o cálculo da tirante são as


seguintes:

T1 = V x1/z1 + H (15)

T2 = V + T1 z1z2/zx2 (16)

e T3 = T2 x2/z2 (17)

Figura 21 - Modelo para viga indentada alternativo ao anterior |9|.

O modelo da Figura 22 pressupõe a utilização de varões inclinados, transferindo


as forças verticais para o apoio de forma mais directa. É sem dúvida o modelo
mais económico mas incapaz de resistir a forças horizontais, pelo que não deve
ser utilizado da forma representada na figura. As forças nos tirantes deste
modelo são:

19
T2i = V/senα (18)

T3 = V (cotg α + cotg θ) (19)

Figura 22 - Modelo para viga indentada com armadura inclinada.

Se os esforços forem elevados, pode-se recorrer ao modelo da Figura 23, que


resulta da sobreposição dos modelos anteriores.

Figura 23 – Modelo misto para viga indentada |9|.

4.2 Ligação com transmissão de momentos.

As ligações viga-pilar têm de ser projectadas para duas situações distintas: na


base de montagem a ligação deve garantir a segurança da estrutura, em geral
sem transmissão de momentos flectores, mas com resistência e rigidez aos
momentos torsores para garantir a estabilidade durante a montagem das
pré-lajes às pranchas alveoladas e durante a betonagem do betão
complementar.

A ligação nesta fase deve permitir uma montagem rápida, por forma a reduzir os
custos dos meios de suspensão, e ser pouco sensível a erros de
posicionamento dos pilares, dos apoios ou dos ferrolhos de ligação.

20
Para garantir a rigidez e resistência à torção os apoios devem ser largos e ser
efectuada uma ligação com ferrolhos verticais, chumbados no apoio, que
atravessa a viga e são aparafusados a esta no seu topo com auxílio de uma
chapa metálica (ver Figura 15).

Em resumo, as ligações de continuidade devem ser projectadas para as acções


na fase construtiva com os mesmos critérios que as ligações sem continuidade
de momentos. Os apoios referidos em 4.1.1 são em geral executados em seco,
isto é, o betão da viga fica em contacto directo com o betão do pilar.

Se a estrutura se localizar numa zona em que a acção sísmica seja relevante, e


esta condicionar o dimensionamento da ligação, a ligação deve ser
dimensionada segundo um dos três seguintes critérios, referidos na secção 2.2.:
sistema emulativo, ligação sobredimensionada, ou sistema dissipativo.

Existem basicamente dois tipos de ligação viga-pilar com continuidade: a ligação


húmida, que é executada com a betonagem em obra do nó; e as ligações
secas, em que, a haver betonagem em obra, ela se resume à camada de betão
complementar da laje e do banzo superior, onde se situam as armaduras
superiores da viga.

As ligações húmidas podem ser executadas fabricando a viga com as


armaduras nos extremos salientes, sendo em obra introduzidas dentro dos nós,
deixados também por betonar nos pilares. Uma vez montada a viga, e colocada
uma cofragem, os nós são betonados. Os pilares podem ser fabricados em
troços correspondentes aos pisos ou serem executados por inteiro, sendo
rigidificados na zona dos nós com perfis metálicos colocados no seu interior
para efeitos de transporte e de montagem.

Um outro sistema de ligação húmida consiste em fabricar a extremidade da viga


pré-fabricada como uma cofragem de betão, em forma de U, a qual é armada e
betonada em obra.

Estes sistemas têm um comportamento aos sismos semelhante ao das


estruturas monolíticas, pelo que se podem considerar sistemas dissipativos se
as armaduras forem dimensionadas para esse objectivo. No entanto, o facto de
existirem juntas de betonagem nos nós dos pilares, aliás à semelhança do que
acontece nas estruturas moldadas em obra, pode colocar algumas reservas em
relação ao critério do “capacity design” (pilar forte-viga fraca) se estas juntas não
forem eficientemente executadas. As ligações húmidas têm a desvantagem de
terem finalização complexa, com várias operações morosas e por vezes
delicadas.

Nas ligações secas podemos distinguir dois tipos: ligações em pilares interiores,
em que a transferência dos momentos se faz não só das vigas para o pilar, mas
principalmente de viga para a viga do vão seguinte; e as ligações em pilares
extremos, onde a transferência dos momentos é efectuada totalmente entre a
viga e o pilar.

As ligações viga-pilar podem ser efectuadas por soldadura em obra das


armaduras da viga às armaduras do pilar, com o auxílio de chapas ou de perfis
metálicos. Estas soldaduras devem ser executadas com um controlo de
qualidade rigoroso, caso contrário é posta em causa a sua funcionalidade. Os
elementos metálicos devem ser devidamente protegidos contra a corrosão, de

21
forma que dispense a sua manutenção, nomeadamente, envolvendo as peças
metálicas com argamassa ou betão.

Figura 24 – Emenda mecânica de varões.

A ligação seca também pode ser efectuada com emendas mecânicas dos
varões de ligação da viga ao pilar |9|, em que os varões são roscados na
extremidade e são ligados com porcas, como se mostra na Figura 24. Este tipo
de ligação é eficiente desde que o sistema de emenda esteja devidamente
testado e certificado, e a operação de enroscamento em obra seja efectuada
com controlo de qualidade. Existem dois tipos de sistema de emendas
mecânicas: um em que são utilizados varões correntes, em cujas extremidades
são executadas as roscas (cónicas ou cilíndricas); e um outro, comercializado
pela Dywidag, pela VSL e pela Macalloy, em que as nervuras dos varões
constituem a rosca.

No caso de pilares interiores, a continuidade das armaduras superiores de vão


para vão, pode ser conseguida também por atravessamento do pilar em furos
previamente executados em fábrica. Estes furos devem ser posteriormente
injectados com calda de cimento não retráctil para garantir a aderência dos
varões ao betão do pilar.

Nas ligações secas é, em geral, necessário efectuar em obra a betonagem da


camada de betão complementar, onde também se situam as armaduras
superiores da viga. Havendo necessidade, por razões de montagem, de deixar
um intervalo entre a face extrema da viga e a face lateral do pilar, esta junta
deve ser posteriormente injectada com calda ou argamassa não retráctil.

Quando as ligações são projectadas para funcionarem sob a acção dos sismos,
deve ser dada continuidade não só às armaduras superiores mas também às
armaduras inferiores, mesmo que, do cálculo não seja previsível a inversão dos
momentos flectores no apoio. Este facto constitui mais uma dificuldade na
execução das ligações secas, porque, enquanto que as armaduras superiores
da viga podem ser colocadas em obra, sendo betonadas posteriormente na
camada de betão complementar, as armaduras inferiores são betonadas em
fábrica.

As ligações viga-pilar deverão preferencialmente ser do tipo dissipativo para a


acção sísmica, carecendo de ensaios de laboratório para ser classificadas como
tal. No entanto, certos tipos de ligação, devido à fiabilidade do seu processo de
execução e dos materiais que utilizam, merecem ser consideradas como
dissipativas. Em Portugal foi já ensaiado no ICIST um tipo de ligação dissipativa
|10|. Nesta ligação (Figura 26) a emenda das armaduras é efectuada com
recurso a chapas metálicas soldadas às armaduras, tanto na face superior como
na inferior da viga. As chapas metálicas são dimensionadas para dissipar a
energia fornecida pela acção sísmica, através da sua deformação plástica.

22
Chapa metálica

Chapa metálica

Figura 26 – Ligação dissipativa com chapas soldadas |10|.

Um outro sistema também já ensaiado, foi desenvolvido na Califórnia, EUA |11|


pela Dywidag. Neste sistema a ligação das armaduras ao pilar é efectuada por
aparafusamento, estando embebidos no pilar conectores com capacidade de
deformação plástica (Figura 27).

Figura 27 - Sistema Dywidag |12|.

No ICIST está a ser estudada uma ligação com emendas mecânicas, em que as
armaduras superiores e inferiores são enroscadas em porcas deixadas na face
lateral do pilar. As armaduras inferiores são tornadas aderentes à viga apenas
após a operação de enroscamento no pilar, pelo que estas são introduzidas em
bainhas metálicas existentes na viga, que são posteriormente injectadas com
calda de cimento não retráctil. O sistema de emenda mecânica escolhido para
este estudo é o dos varões com nervuras em forma de rosca (Dywidag, VSL ou
Macalloy).

23
armadura
superior com
emendas mecânicas continuidade

emendas mecânicas bainha para injectar


armadura armadura
com calda
inferior sem inferior com
continuidade continuidade

Figura 28 – Ligação em estudo no ICIST.

5. CONCLUSÕES

A concepção das ligações em estruturas pré-fabricadas tem como factores


fundamentais o seu comportamento às acções verticais e aos sismos, a
simplicidade de fabrico e de execução, a durabilidade e a facilidade e segurança
na montagem. A imagem negativa que as estruturas pré-fabricadas possuem,
devido ao seu comportamento às acções sísmicas, aos acidentes em fase de
montagem e à durabilidade das ligações, deve ser combatida com cuidado
acrescido na concepção e pormenorização das ligações.

REFERÊNCIAS

|1| FIP: “Planning and Design Handbook on Precast Building Structures”,


Fédération Internacionale de la Précontrainte, Londres, 1994.

|2| CEN: “Eurocódigo 8: Projecto de Estruturas em Regiões Sísmicas - Parte 1.1:


Acções Sísmicas e Requisitos Gerais para Estruturas, Parte 1.2: Regras Gerais
para Edifícios e Parte 1.3: Regras Específicas para Edifícios de Diferentes
Materiais”, Comité Europeu de Normalização, ENV 1998-1-1, 2 e 3:1993.

|3| CEN: “Eurocódigo 2: Projecto de Estruturas de Betão - Parte 1.3: Estruturas


Pré-fabricadas de Betão”, Comité Europeu de Normalização, ENV 1993-1-1:
1994.

|4| CEN: “Eurocódigo 2: Projecto de Estruturas de Betão - Parte 1: Regras


Gerais e Regras para Edifícios”, Comité Europeu de Normalização, ENV 1992 -
1: 1991.

|5| Silva, A.M.S.; “Ligações entre elementos pré-fabricados de betão”;


Dissertação de Mestrado, Instituto Superior Técnico, Lisboa, 1998.

|6| Lúcio, V. J. G.; Silva, A. M. S.: “Design and detailing of footings for precast
concrete structures”, The second International Symposium on Prefabrication,
Helsínquia, 2000.

|7| CEN/TC250/SC2; “First draftof the Eurocode 2: Design of concrete structures


– Part 1: General rules and rules for buildings”, Dez. 1999.

24
|8| Schlaich, J; Shäfer, K.: “Design and detailing of structural concrete using
strut-and-tie models”, The structural Engineer - Vol. 69 nº 6/19, 1991.

|9| Lúcio, V. J. G.; Santiago, A.: “Solução pré-fabricada para um edifício de


grandes vãos”, Congresso de Betão Estrutural 96, Lisboa, 1996.

|10| Proença, J. M.: “Comportamento sísmico de estruturas pré-fabricadas -


Desenvolvimento de um sistema recticulado contínuo”, Tese de Doutoramento
em Engenharia Civil, IST, Lisboa, 1996.

|11| Englekirk, R. E.: “Development and testing of a ductile connector for


assembling precast concrete beams and columns”, PCI Journal, V 40 nº 2, 1995.

|12| ICBO Evaluation Service, Inc.: “Dywidag ductile connector”, Evaluation


Report ER-5118, California, 1998.

LISBOA, OUTUBRO DE 2000

25

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