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BETÃO ARMADO
VÁLTER J. G. LÚCIO
Prof. Associado da Universidade Nova de Lisboa
Investigador do ICIST
1. INTRODUÇÃO
Neste documento apresentam-se alguns dos princípios por que se devem reger
a concepção e dimensionamento de ligações em estruturas pré-fabricadas para
edifícios. O assunto é bastante vasto, focando-se aqui apenas as ligações em
estruturas porticadas, ficando por tratar temas como as ligações em estruturas
de painéis, as ligações relativas aos pavimentos e aos painéis de fachada.
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3 a 6m
3a
3 a 6m 6m
3a
6m
3a
4m
3m
Nos edifícios de um só piso e cobertura ligeira, como são os casos (e), (f) e (g),
as acções gravíticas são pequenas, e a acção dos sismos é, em geral,
desprezável. A acção condicionante do dimensionamento da estrutura é
usualmente o vento. Neste caso o sistema estrutural é constituído por pilares
encastrados na base e asnas apoiadas nos pilares. Nos casos em que numa
direcção o vão é muito menor que na outra (casos (f) e (g)) existem vigas
longitudinais que, com os pilares, formam pórticos na direcção do menor vão. A
cobertura é constituída por chapas de fibrocimento ou metálicas, suportadas por
madres de betão armado pré-tensionado ou em aço, que transferem as acções
às asnas. Estas poderão ser pré-esforçadas para vãos de maiores dimensões. A
cobertura funciona como diafragma na distribuição das forças horizontais pelos
dois pórticos longitudinais e entre os pilares na direcção transversal.
10 a 20m
7.5 a 15m
3a
6m
7.5 a
15m
5a
3m 7m
2
10 a 15m
10 a
15m
5a
7m
10 a 30m 10 a 30m
6a
7m
3a 3a
6m 6m
6a
5a 7m
7m
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Este tipo de estruturas é bastante comum, sendo o maior mercado da indústria
de pré-fabricação de estruturas para edifícios. Existem vários sistemas |1|,
alguns patenteados, com larga experiência e comprovada eficácia.
Nos edifícios com vários pisos, como pode ser o caso dos edifícios de habitação
e de escritórios (b) e auto-silos (c), as acções gravíticas são importantes, sendo
os seus efeitos, ou o efeito da acção sísmica, dependendo do grau de
sismicidade do local, o que condiciona o dimensionamento da estrutura.
Nos edifícios com vários pisos e médios ou grandes vãos, como é o caso dos
auto-silos (c), e com elevadas cargas verticais, como é o caso dos armazéns (d),
na direcção do maior vão a acção condicionante no dimensionamento são as
cargas verticais, enquanto que nos menores vãos a acção condicionante é o
sismo.
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por exemplo: paredes resistentes e pórticos viga-pilar, que no conjunto se
possam complementar e transferir os esforços por redistribuição plástica
aquando da acção sísmica;
• proporcionar diafragmas rígidos nos pisos que possam distribuir as forças
pelos vários elementos verticais resistentes, conferindo ao piso um
comportamento de corpo rígido no seu plano e uma ligação eficaz das lajes
aos elementos verticais;
• conferir à estrutura capacidade de dissipar a energia desenvolvida pelo sismo,
através da deformação plástica em flexão, sem perda substancial da
resistência;
• as rótulas plásticas devem-se desenvolver em todos os pisos e
preferencialmente nas vigas e não nos elementos verticais, excepto na base
destes - “capacity design”.
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elementos verticais sem deformação considerável no seu plano, por forma a
garantirem o comportamento de diafragma rígido referido. É fundamental que
estes pavimentos possuam uma camada de betão complementar betonada em
obra e sejam convenientemente armados para exercerem eficazmente as
funções de diafragma rígido;
• quanto ao comportamento dos pilares, se estes forem executados num único
elemento pré-fabricado para toda a altura do edifício, o que é possível para
edifícios até 25m de altura, estes são mais eficientes que os pilares betonados
em obra. Os pilares betonados em obra têm juntas de betonagem
exactamente nos nós de ligação às vigas, por vezes pouco cuidadas,
congestionamentos de armaduras com deficiência de cintagem, exactamente
nas zonas críticas de formação de rótulas plásticas sob a acção do sismo. Nos
pilares pré-fabricados estes problemas podem ser facilmente evitados.
No entanto, a execução da ligação das vigas aos pilares parece ser, em termos
de comportamento às acções sísmicas, o “calcanhar de Aquiles” das estruturas
pré-fabricadas.
betonagem a
efectuar em obra
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criadas na estrutura algumas zonas sismo-resistentes, com pórticos dotados de
ligações viga-pilar especialmente desenhadas para esse fim.
PAREDES
RESISTENTES
PÓRTICOS
SISMO-RESISTENTES
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A) - Fabrico - a ligação deve ser simples e fácil de fabricar. O número de
acessórios e de especialidades utilizados no fabrico da ligação deve ser
reduzido.
A ligação deve ser concebida para ser estável durante o processo de montagem
de todos os elementos pré-fabricados, até ao seu fecho em obra, isto é, a
ligação deve resistir sem rotação, nem perda de suporte, às cargas excêntricas
aplicadas durante a montagem de todas as peças e durante as betonagens
executadas em obra.
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O comportamento da ligação sob as acções dos sismos, quando seja pertinente
considerá-las, pode condicionar a concepção das ligações. As ligações que
garantem a continuidade de esforços de flexão deverão ser projectadas de
acordo com o que foi especificado na secção anterior. Todas as ligações,
incluindo as que não foram concebidas para resistir à acção dos sismos, devem
ser estáveis para estas acções, isto é, não podem comprometer a estrutura por
derrubamento ou perda de suporte dos elementos ligados.
3. LIGAÇÃO PILAR-FUNDAÇÃO
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Figura 8 - ligações pilar-fundação mais correntes.
M’ = Fc (l – xV - x ) (1)
Este binário deve ser equilibrado pelo momento das forças aplicadas (M, N e V),
dado por
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Figura 9 – Modelo de escoras e tirantes para as forças internas no pilar.
V N
xV = e xN = (3)
b0.6f b0.6f
cd cd
Da mesma forma:
M′
l≥2 +x (5)
b0.6fcd V
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O pedestal deve ser armado para resistir à força Fc, aplicada pelo pilar no seu
topo, e transmiti-la para a base da fundação. O modelo de dimensionamento
destas armaduras e das armaduras da sapata, encontra-se esquematizado na
Figura 10. O modelo é baseado também no método das escoras e tirantes, e
assume-se que as tensões no solo têm uma distribuição plástica. Para uma
força axial excêntrica e=M/N, as tensões no solo distribuem-se numa área B(A-
2e), onde A e B são as dimensões em planta da sapata. Podem ocorrer duas
situações distintas: se e≥A/4 as tensões no solo situam-se em menos de metade
da base da sapata, caso contrário, isto é, se e<A/4 as tensões no solo são
distribuídas em mais de metade da base da sapata. Adiante são apresentados
exemplos destas duas situações.
Figura 10. Modelo de escoras e tirantes para uma sapata com pedestal (e ≥ A/4).
No modelo representado na figura 10, a escora horizontal no topo conduz as
forças Fc + V para o tirante T2 situado na zona superior das paredes do
pedestal. Este tirante puxa a força Fc para trás, para a parede oposta do
pedestal, para um nó onde um tirante vertical T3, e uma escora inclinada
conduzem a força para a base da sapata e para a força Fc aplicada na base do
pilar. A força axial do pilar é transferida para a base da sapata por uma escora
inclinada, cuja componente horizontal é equilibrada por um tirante T4,
constituindo a armadura inferior da sapata. Os tirantes T1, T2 e T7 constituem a
armadura das paredes do pedestal, distribuídas no topo da parede, numa altura
x, enquanto que T3 corresponde às armaduras concentradas nos cantos do
pedestal, as quais devem dobrar na base da sapata para transferir a força para
o tirante T4. Na base da sapata, o tirante T4 está distribuído na largura B e o
tirante T5 corresponde à armadura distribuída na largura (A-2e). Igual
quantidade de armadura deve ser colocada na restante largura da sapata (2e).
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Na Figura 11 representa-se uma sapata com cavidade mas sem pedestal. Neste
caso representou-se o modelo de escoras e tirantes para e<A/4. O raciocínio
para seguir o encaminhamento das forças neste caso é semelhante ao caso
anterior |9|.
Figura 11 - Modelo de escoras e tirantes para uma carga excêntrica numa sapata
com cavidade e sem pedestal (e < A/4).
Na Figura 12 representa-se o modelo de escoras e tirantes para uma sapata
com ligação ao pilar constituída por uma emenda da armadura do pilar com os
varões salientes da sapata. Neste tipo de ligação, os varões salientes da
fundação devem estar posicionados de forma rigorosa para não dificultar a
montagem do pilar. O posicionamento dos varões pode ser auxiliado com uma
chapa metálica colocada no topo da fundação, e furada para passagem dos
varões. No pilar são deixadas bainhas, ou furos, paralelos à armadura do pilar,
com o comprimento suficiente para garantir a emenda entre estes dois conjuntos
de varões. Uma vez posicionado o pilar as bainhas são injectadas com calda
não retráctil, ou com “grout”. Um outro tipo de ligação semelhante é o
representado na Figura 13, sendo que, neste caso, as armaduras vêm salientes
do pilar e penetram em furos deixados na fundação.
13
Figura 12 - Ligação pilar - fundação com armaduras salientes de fundação.
No segundo caso (Figura 13) a injecção dos furos é mais difícil de controlar que
no primeiro. Ambos os sistemas exigem o escoramento dos pilares até se atingir
a presa da calda da injecção dos furos. Os modelos de escoras e tirantes para o
dimensionamento das armaduras estão representados nas Figuras 12 e 13.
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é mais difícil resistir a momentos elevados que nas ligações com cavidade e
exige uma protecção eficaz das chapas metálicas contra a corrosão.
O apoio pode ser directo sobre a extremidade do pilar, como é o caso das asnas
de cobertura, ou em consolas curtas salientes do pilar. Este tipo de ligação pode
também ser realizado por encaixe de acessórios colocados na face do pilar.
Se a viga assenta sobre o pilar, ou sobre a consola curta, deve ser utilizada uma
base de argamassa, de neopren reforçado ou chapas de aço, por forma a obter
uma uniformização das tensões de compressão nas zonas de contacto.
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As dimensões das zonas de contacto da viga e do pilar devem ser projectadas
por forma a não serem sensíveis às tolerâncias de fabrico e de montagem, e a
pormenorização das armaduras deve evitar que as tensões de contacto sejam
transmitidas a zonas de betão não cintado, a bordos, cantos ou às zonas de
betão que constituem o recobrimento das armaduras, conduzindo
frequentemente a rotura frágil do apoio e perda de suporte. As armaduras
devem estar dimensionadas para forças horizontais normalmente de difícil
quantificação, como sejam as resultantes de assentamentos de apoio,
retracção, variações de temperatura, acção do sismo ou outras acções de
acidente.
a = a 1 + a2 + a3 + ∆a 2 + ∆a 2 (6)
2 3
a 3 +∆a3 a1 a 2+∆a2
a
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4.1.2 Consolas curtas
T1 = V a/z + H (10)
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A armadura do tirante T1 deve estar devidamente amarrada na extremidade da
consola, sendo a forma ideal o laço, podendo haver mais que uma camada de
armaduras (Figura 18).
Para evitar a rotura das extremidades das vigas, a armadura inferior deve ser
devidamente amarrada junto à extremidade. Na Figura 19 apresentam-se
algumas pormenorizações que devem ser utilizadas nestes casos.
(a) (a)
NÃO NÃO
(a) (a)
Figura 19 - Pormenores tipo nas extremidades de vigas: a) laços como reforço na
zona do apoio; b) laços em vigas com dente; c) rotura em pormenor errado ou
excesso de recobrimento; d) rotura por falta de amarração da armadura.
T1 = V x1/z1 + H (12)
onde z1 ≅ 0.8d1
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T2 = T3 z2/x2 (13)
e T4 = V (15)
Figura 20 - Modelo para viga indentada com armadura de suspensão vertical |8|.
T1 = V x1/z1 + H (15)
T2 = V + T1 z1z2/zx2 (16)
e T3 = T2 x2/z2 (17)
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T2i = V/senα (18)
A ligação nesta fase deve permitir uma montagem rápida, por forma a reduzir os
custos dos meios de suspensão, e ser pouco sensível a erros de
posicionamento dos pilares, dos apoios ou dos ferrolhos de ligação.
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Para garantir a rigidez e resistência à torção os apoios devem ser largos e ser
efectuada uma ligação com ferrolhos verticais, chumbados no apoio, que
atravessa a viga e são aparafusados a esta no seu topo com auxílio de uma
chapa metálica (ver Figura 15).
Nas ligações secas podemos distinguir dois tipos: ligações em pilares interiores,
em que a transferência dos momentos se faz não só das vigas para o pilar, mas
principalmente de viga para a viga do vão seguinte; e as ligações em pilares
extremos, onde a transferência dos momentos é efectuada totalmente entre a
viga e o pilar.
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forma que dispense a sua manutenção, nomeadamente, envolvendo as peças
metálicas com argamassa ou betão.
A ligação seca também pode ser efectuada com emendas mecânicas dos
varões de ligação da viga ao pilar |9|, em que os varões são roscados na
extremidade e são ligados com porcas, como se mostra na Figura 24. Este tipo
de ligação é eficiente desde que o sistema de emenda esteja devidamente
testado e certificado, e a operação de enroscamento em obra seja efectuada
com controlo de qualidade. Existem dois tipos de sistema de emendas
mecânicas: um em que são utilizados varões correntes, em cujas extremidades
são executadas as roscas (cónicas ou cilíndricas); e um outro, comercializado
pela Dywidag, pela VSL e pela Macalloy, em que as nervuras dos varões
constituem a rosca.
Quando as ligações são projectadas para funcionarem sob a acção dos sismos,
deve ser dada continuidade não só às armaduras superiores mas também às
armaduras inferiores, mesmo que, do cálculo não seja previsível a inversão dos
momentos flectores no apoio. Este facto constitui mais uma dificuldade na
execução das ligações secas, porque, enquanto que as armaduras superiores
da viga podem ser colocadas em obra, sendo betonadas posteriormente na
camada de betão complementar, as armaduras inferiores são betonadas em
fábrica.
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Chapa metálica
Chapa metálica
No ICIST está a ser estudada uma ligação com emendas mecânicas, em que as
armaduras superiores e inferiores são enroscadas em porcas deixadas na face
lateral do pilar. As armaduras inferiores são tornadas aderentes à viga apenas
após a operação de enroscamento no pilar, pelo que estas são introduzidas em
bainhas metálicas existentes na viga, que são posteriormente injectadas com
calda de cimento não retráctil. O sistema de emenda mecânica escolhido para
este estudo é o dos varões com nervuras em forma de rosca (Dywidag, VSL ou
Macalloy).
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armadura
superior com
emendas mecânicas continuidade
5. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
|6| Lúcio, V. J. G.; Silva, A. M. S.: “Design and detailing of footings for precast
concrete structures”, The second International Symposium on Prefabrication,
Helsínquia, 2000.
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|8| Schlaich, J; Shäfer, K.: “Design and detailing of structural concrete using
strut-and-tie models”, The structural Engineer - Vol. 69 nº 6/19, 1991.
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