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PONTES

Augusto Bopsin
Borges
UNIDADE 4
Dimensionamento da
infraestrutura de pontes
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir filosofia de cálculo para consideração das ações nas fundações.


 Relacionar métodos de projeto e considerações específicas para fun-
dações de pontes.
 Calcular esforços resistentes para fundações rasas e profundas.

Introdução
O que muitas vezes nos surpreende e nos deixa apreensivos quando
lidamos com fundações e estudamos o assunto é a aparente subjetividade
e o empirismo com que os métodos de dimensionamento nos são apre-
sentados, ainda que tudo possa sempre ser mais racional e aprofundado.
Chama-se a atenção para essa realidade porque, por trás do aparente
empirismo dominante com que muitas vezes nos confrontamos no es-
tudo de fundações, está o fato de que os métodos que tradicionalmente
são ensinados são fortemente baseados em resultados de performance
de fundações em provas de carga e na experiência de profissionais e
acadêmicos da área. Assim, esses resultados e experiências tornam-se
ferramentas extremamente úteis– não precisamos reinventar a roda.
No dimensionamento de fundações, especificamente para pontes,
continuam válidos os conceitos e métodos tradicionais, sendo que alguns
serão invocados aqui. Porém, chama-se a atenção para as considerações
“empíricas” com as quais muitas vezes nos deparamos. Em fundações de
pontes, é necessário um maior emprego desse tipo de julgamento de
engenharia por parte do projetista e da equipe técnica envolvida.
2 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

Neste capítulo, você vai estudar essas particularidades, bem como o


dimensionamento de fundações rasas e profundas, pontos que tornam
as fundações de pontes um tema diferenciado. Você também vai estudar
a filosofia de cálculo para a consideração das ações nas fundações e
vai relacionar métodos de projeto e considerações específicas para as
fundações de pontes.

Generalidades
No Brasil, o projeto e a execução de fundações de qualquer tipo são norma-
lizados pela NBR 6122, devendo ainda os sistemas de fundações em pontes
satisfazerem a norma DNIT 121/2009 – ES. Essa última é uma especificação
de serviço do órgão federal responsável diretamente por sistemas viários que,
apesar de não fornecer praticamente nenhum critério de projeto específico,
dá orientações sobre o aceite ou não de obras de fundações e sobre critérios
específicos para os materiais e métodos construtivos utilizados (escavações,
consumo de cimento, concretagem, etc.) (BRASIL, 2009). A norma do DNIT
estabelece que são aceitos sistemas de fundações para pontes compostos de
blocos, sapatas e radiers, estacas (de madeira, aço, pré-moldadas de concreto,
escavadas moldadas in loco, injetadas de pequeno diâmetro), tubulões e caixões.
Fundações de pontes são fundações como quaisquer outras; a diferença
principal está nos fatores adicionais a serem considerados. As principais
considerações para fundações de pontes (Figura 1), além das considerações
padrão de projeto para fundações usuais, são:

 erosão generalizada ou localizada na base de pilares, que pode erodir


a camada de suporte de fundações superficiais e expor estacas e/ou
grupos de estacas;
 possibilidade de cargas laterais nas estacas, por carregamentos assi-
métricos em fundações próximas a aterros de aproximação de ponte; e
 recalques excessivos, tanto nas fundações dos pilares das pontes quanto
nos aterros de aproximação.

Tais fatores, se não adequadamente avaliados e prevenidos, podem com-


prometer tanto o desempenho estrutural quanto as condições de serviço da
ponte. Este capítulo focará a atenção na capacidade de carga das fundações
e na escolha da fundação adequada.
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 3

Fundo Inicial

Recalque no Nível de Cheia


encontro

Nível Normal

Δh
Carregamento
lateral
Nível de Cheia Erosão total no encontro

Erosão localizada
Erosão localizada em
em Fundo Final
sapata
estacas
Erosão generalizada
devido à cheia

Figura 1. Fatores específicos a serem considerados no dimensionamento de fundações


para pontes.
Fonte: Adaptada de Cardoso (2008).

Os métodos tradicionalmente utilizados no dimensionamento de fundações continuam


válidos para fundações de pontes, e alguns serão apresentados a seguir. O que diferencia
as fundações de pontes de fundações usuais de residências e edifícios de uso geral
são os fenômenos específicos que merecem nossa atenção, como: cargas laterais nas
estacas por carregamento assimétrico, erosão localizada nas vizinhanças dos pilares e
recalques excessivos, tanto nas fundações quanto em aterros de aproximação.

Definição da filosofia de cálculo para


consideração das ações nas fundações
De acordo com a norma NBR 6122 para o projeto e execução de fundações,
há duas abordagens possíveis para a consideração dos esforços nas fundações
– para o projeto das mesmas –, devido às ações e suas combinações de carga,
provenientes da superestrutura. Segundo a norma, cabe ao projetista da supe-
restrutura (da ponte em si) fornecer o conjunto de esforços (combinações de
carga) para verificação dos estados-limites últimos (ELU) e dos estados-limites
de serviço (ELS). As duas filosofias de projeto que a norma possibilita, para
consideração dos esforços para o projeto de fundações, são:
4 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

 Projeto de fundações em termos de fator de segurança global:forma


clássica por meio da qual, historicamente, tem-se elaborado projetos
de fundações.
 Projeto de fundações em termos de valores de projeto (fatores de
segurança parciais): baseia-se na mesma filosofia de cálculo do projeto
estrutural. Ou seja, para essa modalidade tem-se que as ações de projeto
devem ser menores ou iguais à carga resistente de projeto (Sd ≤ Rd).

Do cálculo estrutural da superestrutura da ponte, tradicionalmente realizado


segundo a filosofia de cálculo em termos de coeficientes de segurança parciais,
resultam ações e combinações de carga calculadas que já consideram majoração
das ações e minoração da resistência dos materiais da superestrutura. Cabe
ao engenheiro estrutural, a critério do engenheiro responsável pelo projeto de
fundações, informar as combinações críticas de carga em termos de valores
de projeto (aqueles que usualmente são acompanhados do subscrito d) ou
valores dos coeficientes pelos quais devem ser divididas as ações de projeto
para, em cada caso, reduzi-las às solicitações características.
A tendência é que cada vez mais se adote, em projetos de fundações, a
filosofia de cálculo em termos de fatores de segurança parciais e valores de
projeto, como se reflete nas últimas edições das principais normas ao redor
do mundo. Porém, no Brasil, é ainda praticamente unânime a utilização de
fatores de segurança global, tanto por motivos históricos como por uma possível
falta de respaldo de norma para as inúmeras situações de projeto possíveis.
Normalmente, mas não por regra, o projeto estrutural dos elementos de
fundação é realizado pelo projetista da superestrutura e segue as diretrizes
correntes para o dimensionamento de estruturas de concreto, madeira ou aço,
devendo atender, respectivamente, às normas NBR 6118, NBR 7190 e NBR
8800, bem como algumas diretrizes específicas listadas na NBR 6122.
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 5

Tradicionalmente, os projetos de fundações e demais projetos geotécnicos são realiza-


dos com fator de segurança global (FSglobal), pois as cargas de ruptura são deduzidas
por meio de análise limite ou de resultados de inúmeros ensaios e provas de carga.
Nessa filosofia, para equilibrar o sistema, são utilizadas as cargas que efetivamente
atuam. Na análise limite, por exemplo, observando a ruptura do solo sob uma sapata
ou uma ruptura de talude, supõe-se um mecanismo de ruptura que seja parecido
com o real e calcula-se, para aquele mecanismo de ruptura específico, a mobilização
de esforços que equilibra o sistema, conforme afirma Salençon (2013).
Algumas perguntas surgem instantaneamente: esse mecanismo, ou seja, o formato
geométrico suposto para a ruptura, corresponde à realidade em todos os casos pos-
síveis? Se não corresponde totalmente, pelo menos aproximadamente? O quanto a
situação real se desvia da situação idealizada e calculada? Ainda, toda fundação vai
romper, como romperam as inúmeras outras semelhantes nas provas de carga?
Imagino que a resposta seja quase intuitiva para você: “depende”. Depende da
heterogeneidade do solo, depende do tipo de solo, se está seco ou se está saturado,
depende das configurações do terreno. Enfim, depende de muitas variáveis, e não
poucas vezes a situação real desvia consideravelmente do mecanismo suposto. Na
realidade, somos incapazes de modelar todos os fatores que influenciam na ruptura
real. Ao longo dos anos e com a experiência acumulada, porém, conseguimos contornar
esse desvio entre o real e o idealizado e ter segurança contra a ruptura, minorando
a resistência à ruptura, que calculamos por meio de um fator de segurança global
adequado. A menor resistência entre essa resistência minorada por FSglobal e o limite
de carga para recalque admissível leva o codinome de resistência admissível, e
comparamos esse valor com as ações características (Sk≤Radm).

Verificações de projeto requeridas


A NBR 6122 traz as verificações necessárias para o ELU e o ELS. Em resumo,
qualquer sistema de fundações deve possuir os requisitos listados a seguir.

Segurança à ruptura do solo ou rocha de fundação

Requer-se que as tensões atuantes, transmitidas pela superestrutura às fun-


dações, não excedam os esforços resistentes admissíveis no solo de fundação.
Lembre-se que valores admissíveis são aqueles nos quais a resistência do
solo já foi minorada por fator de segurança global e/ou já está limitada por
consideração dos recalques admissíveis para a estrutura.
6 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

Se os pilares estão sobre fundações superficiais (sapatas e blocos), a norma


NBR 6122 recomenda fator de segurança (FS) parcial de 2,15 ou FSglobal de
3,00 para a pressão da sapata no solo. Quando há duas ou mais provas de
carga realizadas ainda na fase de projeto, permite-se a redução do FSparcial para
1,40 e do FSglobal para 2,00, considerando-se os resultados das mesmas. Para o
caso de os pilares estarem sobre fundações profundas (estacas ou tubulões),
a resistência característica de estacas por métodos semi-empíricos pode ser
determinada por

Rc, k = Min [(Rc, cal ) med / ξ 1; (Rc, cal )min / ξ2] (1)

em que Rc,k é a resistência característica a ser adotada, (Rc,cal)med é a resistência


característica calculada com base nos valores médios dos parâmetros do solo,
(R c,cal)min é a resistência característica calculada com base nos valores mínimos
dos mesmos e ξ1 e ξ2 são fatores de minoração da resistência (Tabela 1).

Tabela 1. Valores de norma para os fatores ξ1 e ξ2

na 1 2 3 4 5 6 ≥ 10

ξ1b 1,42 1,35 1,33 1,31 1,29 1,27 1,27

ξ2c 1,42 1,27 1,23 1,20 1,15 1,13 1,11


a
n é o número de perfis de ensaios por região representativa do terreno.
b,c
valores podem ser multiplicados por 0,9 caso haja ensaios complementares a SPTs.

Fonte: Adaptado de NBR 6122 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).

Pode haver a impressão de que os valores calculados de Rc,k na Equação 1 já contêm


fatores de segurança pelo uso de ξ1 e ξ2. Na verdade, Rck é a resistência característica,
devendo ainda ser minorada por fator de segurança global de, no mínimo, 1,4. A
NBR 6122 traz ainda critérios para o cálculo de Rck de estacas e tubulões, obtido por
provas de carga executadas na fase de projeto, possibilitando menor FS e, portanto,
maior economia.
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 7

A resistência admissível (Radm), tanto em fundações profundas quanto


superficiais, é determinada não apenas pela segurança contra ruptura por
esgotamento da capacidade de carga do terreno, mas também em função de
condições de serviço, como recalque tolerável (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).

Integridade estrutural do(s) elemento(s) de fundação

Elementos de fundação são enterrados, e, por essa razão, garante-se a integri-


dade dos elementos com uma execução exemplar dos mesmos, com armaduras
locadas corretamente e muita atenção na concretagem. Como recomendação
prática, pode-se requerer para o concreto fresco não bombeado um slump
mínimo de 12 ± 2 cm, para qualquer elemento de fundação superficial ou
profunda, e de 20 ± 2 cm, para concreto bombeado. Em fundações profun-
das, deve-se atentar particularmente para a limpeza de pontas de estacas e
– principalmente – de tubulões. Particularmente para tubulões, que trabalham
principalmente por ponta, deve-se prever no alargamento da base calcanhares
mínimos de 20 cm (Figura 9a, mais adiante), para garantir que o concreto e
a pasta cimentícia não segreguem dos agregados e cubram completamente
toda a área de sua base.
A verificação da integridade estrutural de elementos de fundação é pres-
crita de forma genérica pela NBR 6122 para todas as fundações, tamanha a
importância do tema. A “estrangulação” do fuste é um problema frequente,
principalmente em estacas escavadas, prejudicando ou até mesmo impedindo a
transmissão da carga a ser resistida ao elemento de fundação na sua inteireza.

Segurança contra tombamento e deslizamento do conjunto da


ponte

Aplica-se principalmente para fundações superficiais. Em um corte transversal


da seção de uma ponte, deve-se garantir o equilíbrio tanto quanto à translação
horizontal (deslizamento) quanto ao giro da ponte (tombamento). Quando a
verificação das solicitações for realizada considerando-se as ações do vento
como variável principal, como é o caso de pontes, os valores de tensão ad-
missível de sapatas e tubulões e de cargas admissíveis em estacas podem ser
majorados em até 30%; nesse caso, deve ser feita a verificação estrutural do
elemento de fundação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI-
CAS, 2010). A Figura 2 ilustra as ações do vento e as reações nas fundações
para essa consideração.
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Ação do
vento

Direção Direção
do fluxo do fluxo

Figura 2. Verificação de segurança contra tombamento e deslizamento.

Recalques nos elementos de fundação que não comprometam a


segurança estrutural da ponte, sua aparência e seu uso

Recalques excessivos, especialmente em pontes, são um grande problema.


Na realidade, os recalques diferenciais são especialmente críticos, pois geram
fissuras mesmo em níveis relativamente pequenos de recalques, dependendo da
tecnologia construtiva da ponte e sua concepção estrutural.Além dos cuidados
gerais acima comentados, sistemas de fundações de pontes requerem cuidados
específicos adicionais, alguns dos quais serão estudados em detalhes mais
adiante. Gusmão Filho (2003) resume os requisitos para as fundações de pontes:

 Execução segura do elemento de fundação, atentando para procedi-


mentos de escavações, construção de ensecadeiras, rebaixamento do
nível de água e sistemas de tubulões a ar comprimido.
 Assentamento das fundações (se fundações diretas), em cota inferior
à cota de erosão máxima, junto aos pilares da ponte, e consideração da
possibilidade de erosão parcial do solo no comprimento das estacas,
verificando-as quanto à possibilidade de flambagem e prevendo, se
metálicas, espessura de sacrifício pela potencial oxidação no caso de
variação do nível de água e exposição das estacas.
 Segurança contra cargas laterais oriundas de carregamentos assi-
métricos, especialmente na fundação dos encontros e próximos a eles
(efeito Tschebotarioff).
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 9

Ademais, uma questão importante é a variação estratigráfica presente


nos solos em leitos de rios e localidades adjacentes. Ao longo das eras, rios
mudam seu traçado, sua velocidade de escoamento, sua inclinação e assim
por diante. Esse fato resulta em perfis estratigráficos muito variáveis, com
alternância entre solos arenosos (transportados por velocidades de fluxo
relativamente altas) e solos argilosos (frutos de sedimentação de finos por
baixa velocidade de fluxo).

Relação de métodos de projeto e considerações


de projeto específicas para pontes

Consideração da erosão
Sendo ou não construída uma ponte sobre um rio, o leito de um rio passa por
transformações constantes devido às cheias e secas, que transportam volumes
de água com velocidades diferentes em períodos diferentes. As variações de
velocidade de escoamento e nível de água de um rio permitem o carreamento
de sedimentos para outra localidade, erodindo o leito do rio, ou ainda transpor-
tando e sedimentando mais material. Tal processo é natural, mas no que tange
às fundações de pontes,deve ser bem tipificado. Uma vez que se espera que
as fundações estejam assentes sobre solo competente, naturalmente espera-se
também que o solo de suporte não seja erodido pela variação natural do leito
do rio. Devemos então nos certificar, em primeiro lugar, que qualquer sistema
de fundações de pontes esteja assente abaixo da cota de erosão geral máxima
ou erosão generalizada máxima que pode ocorrer.
Como estudo preliminar, Gusmão Filho (2003) sugere que se pode estimar
a erosão generalizada a partir da equação

eg = Ky – y

em que y é a profundidade média do rio em enchentes, provinda de estudo


hidrológico, e K é um fator de majoração para estimativa da erosão, conforme
esquema ilustrado na Figura 3. A dá sugestões da literatura para valores do
fator K.
10 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

Nível de água estimado na enchente

Leito natural nas águas baixas


Ky
Máximo erosão

Figura 3. Erosão geral.


Fonte: Gusmão Filho (2003, p. 89).

Tabela 2. Fatores de majoração para determinação da máxima profundidade de erosão


generalizada

Locação Fator multiplicativo

Trecho reto de rio 1,25 (ou 1,50)

Trecho moderadamente curvo de rio 1,50

Trecho severamente curvo de rio 1,75

Trecho de curva de rio em ângulo reto 2,00

Fonte: Adaptado de Lacey (1958).

Junto aos pilares de pontes, devido ao escoamento turbulento do rio in-


duzido pelos pilares como obstáculos, desenvolve-se a erosão localizada e
progressiva (Figura 4a, b, c e d). Qualquer elemento de fundação deve ter sua
capacidade resistente considerada abaixo da cota dada pela soma da erosão
generalizada e da erosão localizada, segundo May, Ackers e Kirby (2002).
Há vários métodos hidráulicos para determinação da erosão generalizada
e da erosão localizada, cabendo um estudo hidrológico completo para a de-
terminação dessas profundidades. Cabe ressaltar, porém, que como pilares
de pontes transmitem cargas de magnitude maior que as usuais de edifícios
de uso geral, é comum os encontros de pilares com sapatas ou blocos terem
dimensões alargadas com relação às seções dos pilares. Além disso, quando o
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 11

sistema de fundações é composto por fundações em estacas ou tubulões, grupos


de estacas ou tubulões são agrupados por um bloco também de dimensões
maiores que os pilares. Deve-se prever a possibilidade de que a seção do bloco
ou grupo de estacas seja progressivamente exposta ao escoamento. Para esse
caso, considera-se para o cálculo da erosão localizada a maior dimensão entre
o bloco e o pilar, o que pode resultar em maior profundidade de erosão total.
As Figuras 4c e 4d mostram como, com o passar do tempo, a soma da
erosão generalizada e localizada pode vir a provocar falta de suporte para a
estrutura e possível ruína da ponte, principalmente para fundações superfi-
ciais. Tal fato contribui para que fundações de pontes sejam, normalmente,
profundas, dado que, por mais que existam estudos hidrológicos suficiente-
mente confiáveis quanto à determinação da profundidade total de erosão, há
casos históricos nos quais, mesmo com estudos criteriosos realizados, pontes
ruíram por conta da erosão e da consequente falta de capacidade de suporte
de fundações superficiais.

Turbilhão

(a) (b)

Turbilhão
Turbilhão

(c) (d)

Figura 4. Erosão localizada junto às fundações de pontes.


Fonte: Gusmão Filho (2003, p. 112).

Carregamento assimétrico (efeito Tschebotarioff)


As margens de rios são, frequentemente, fruto de subsequentes períodos de
inundações e secas sucessivas, quando a água pode se depositar nesses locais e
permitir a sedimentação de material mais fino em suspensão. Por esse motivo,
é frequente que os encontros de ponte sejam formados por depósitos de argilas
moles, altamente compressíveis que, para a construção de pontes, são aterrados
12 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

de forma a proporcionar o greide necessário para a entrada e a saída da ponte.


Esses aterros sobre margens, com subsolo de camadas de argila mole, são
muitas vezes um ponto crítico no projeto global da ponte, pois além de serem
em si uma sobrecarga que causa carregamento assimétrico, sofrem muitas
vezes grandes recalques, produzindo os conhecidos desníveis que motoristas
experimentam ao trafegar nas entradas e saídas de pontes. Esses aterros são
alvo de projetos específicos.
Uma consequência direta da sobrecarga assimétrica e dos recalques nos
aterros de encontro nas fundações de pontes sobre estaqueamentos é o carre-
gamento lateral induzido. Tais carregamentos laterais devem ser diretamente
considerados nas verificações estruturais de estacas sujeitas aos mesmos. Por
essa razão, a seção transversal de estacas de encontro de pontes e viadutos é,
muitas vezes, maior que a seção de estacas de edifícios convencionais, não
necessariamente devido ao carregamento vertical a ser suportado, mas para
que possa resistir a tais esforços assimétricos. As Figuras 5a e 5b mostram o
efeito Tschebotarioff em muros de arrimos sobre estacas, típico de encontro
de pontes, e o acréscimo assimétrico de carregamento lateral diretamente no
estaqueamento, respectivamente.

Aterro

Aterro

Argila Mole ∆h Argila Mole

(a) (b)

Figura 5. Exemplos do efeito Tschebotarioff.


Fonte: Adaptada de Velloso e Lopes (2010, p. 469).

Esse carregamento assimétrico é chamado de efeito Tschebotarioff jus-


tamente porque Tschebotarioff (1962) foi o primeiro a descrever e abordar
metodologicamente o caso. Por seu método, pode-se estimar o momento
fletor ao qual as estacas estarão sujeitas, a partir de um carregamento lateral
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 13

triangular nas estacas com valor máximo ph no centro da camada compressível


(Figura 6). O valor de ph (TSCHEBOTARIOFF, 1967) pode ser calculado por:

Ph = DKγH

em que K é o coeficiente de empuxo para um depósito argiloso normalmente


adensado (em torno de 0,45) e γH é a sobrecarga devido ao aterro de altura H.

H

ph

Figura 6. Carregamento lateral assimétrico.

As estacas, portanto, podem ser estruturalmente dimensionadas para o mo-


mento fletor máximo, como vigas engastadas no bloco e rotuladas na sua ponta,
com vão igual à espessura da camada de argila mole. Embora normalmente não
seja o caso para fundações de encontros de ponte em estacas, estacas muito
esbeltas (trilhos e perfis I, por exemplo), que atravessam grandes espessuras
de argila mole, devem ser verificadas estruturalmente quanto à possibilidade
de flambagem, considerando-se a contenção lateral do solo. Da Costa (2016)
exemplifica o cálculo completo por um método existente específico, mas há
outros métodos na literatura, conforme Velloso e Lopes (2010). É uma situação
rara, mas de simples avaliação e prevenção.
14 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

Capacidade de carga de fundações superficiais


O projeto de fundações superficiais, segundo a NBR 6122, é realizado de tal
forma que as ações características e suas combinações não sejam superiores
à pressão admissível no solo de fundação.Essa pressão admissível, integrada
à área de contato da fundação com o solo, fornece a capacidade de carga da
fundação superficial e pode ser determinada a partir das seguintes aborda-
gens:

a) por métodos teóricos;


b) por meio de prova de carga sobre placa;
c) por métodos semi-empíricos;
d) por métodos empíricos.

No Brasil, é comum estimar-se a pressão admissível com base em correla-


ções com ensaios SPT. Tal prática é a base de praticamente todos os métodos
empíricos e semi-empíricos para determinação de capacidade de carga tanto
de fundações superficiais como de fundações profundas.
A versão da NBR 6122 de 1996 trazia no seu texto uma versão da Tabela 3,
com valores básicos para estimativa das pressões admissíveis nas fundações
em contato direto com o solo. Tais valores são considerados apenas como
uma ordem de grandeza para a etapa de concepção das fundações de pontes.
Quando da etapa de projeto executivo, estudos mais detalhados devem ser
realizados e, preferivelmente, em número exigido por norma, levando-se em
conta os resultados de provas de carga executados ainda na etapa de concepção
do projeto. Para o projeto final, deve-se avaliar criteriosamente a capacidade
de carga e os parâmetros de resistência do solo utilizados, solicitando ensaios
de campo e/ou laboratório que tragam informações adicionais e mais ade-
quadas à situação da obra do que as sondagens de simples reconhecimento.
Essas solicitações devem ser feitas sempre que necessário, como para o caso
de argilas moles, ensaios de piezocone (CPTu) e de palheta. Ainda, pode-se
solicitar a coleta de amostras indeformadas de solo para a realização de ensaios
de laboratório, como cisalhamento direto, compressão simples, triaxial tipo
UU e ensaios oedométricos, para estimativa de recalques. A capacidade de
carga deve ser avaliada sempre por diferentes métodos, levando-se em conta o
contexto de formulação dos mesmos e sua aplicabilidade. Deve-se ter sempre
em mente que o solo não é um material industrializado, como o concreto ou
o aço de construção, e apresenta complexidades que não somos capazes de
prever sem investigações geotécnicas abrangentes.
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 15

Tabela 3. Pressões admissíveis básicas (qadm)

Descrição NSPT Valores


(MPa)

Rocha sã, maciça, sem laminação – 3,0


ou sinal de decomposição

Rochas laminadas, com pequenas – 1,5


fissuras, estratificadas

Solos granulares concrecionados – 1,0


– conglomerados

Solos pedregulhosos compactos – 0,6


a muito compactos

Solos pedregulhososfofos – 0,3

Areias muito compactas NSPT> 40 0,5

Areias compactas 19 ≤NSPT≤ 40 0,4

Areias medianamente compactas 9 ≤NSPT< 19 0,2

Areias argilosas muito compactas NSPT> 40 0,4

Areias argilosas compactas 19 ≤NSPT≤ 40 0,3

Areias argilosas medianamente compactas 9 ≤NSPT< 19 0,15

Areias silto-argilosas muito compactas NSPT> 40 0,4

Areias silto-argilosas compactas 19 ≤NSPT≤ 40 0,3

Areias silto-argilosas medianamente compactas 9 ≤NSPT< 19 0,15

Argilas duras 20 ≤NSPT< 50 0,3

Argilas rijas 11 ≤NSPT< 20 0,2

Argilas médias 6 ≤NSPT< 10 0,1

Argilas arenosas duras 20 ≤NSPT< 50 0,4

Argilas arenosas rijas 11 ≤NSPT< 20 0,3

Argilas areno-siltosas rijas 11 ≤NSPT< 20 0,3

(Continua)
16 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

(Continuação)

Tabela 3. Pressões admissíveis básicas (qadm)

Descrição NSPT Valores


(MPa)

Argilas arenosas médias 6 ≤NSPT< 10 0,15

Argilas siltosas duras 20 ≤NSPT< 50 0,4

Argilas areno-siltosas rijas 11 ≤NSPT< 20 0,3

Argilas siltosas médias 6 ≤NSPT< 10 0,15

Siltes duros (muito compactos) 20 ≤NSPT< 50 0,3

Siltes rijos (compactos) 11 ≤NSPT<20 0,2

Siltes médios (medianamente compactos) 6 ≤NSPT<10 0,1

Siltes arenosos muito compactos NSPT> 40 0,4

Siltes arenosos compactos 19 ≤NSPT≤ 40 0,3

Siltes arenosos medianamentecompactos 9 ≤NSPT< 19 0,15

Siltes argilosos duros 20 ≤NSPT< 50 0,3

Siltes argilosos rijos 11 ≤NSPT< 20 0,2

Siltes argilosos médios 6 ≤NSPT< 10 0,1

Fonte: Adaptado de NBR 6122 (ABNT, 1996), ampliada por Berberian (2010).

Métodos empíricos, como o baseado na Tabela 3, são normalmente excessivamente


seguros e, portanto, resultam normalmente em fundações superdimensionadas e
caras. Tais métodos são muito úteis na estimativa direta da capacidade de carga por
meio da classificação do solo e de ensaios SPT, porém não devem ser considerados
como absolutos e nem como objetos de projeto final. Sua coerência deve sempre
ser colocada à prova em comparação com outros métodos, como métodos teóricos
para capacidade de carga (por exemplo, método teórico de Terzaghi [1943] e, quando
possível, em análises numéricas adequadas.
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 17

Capacidade de carga de fundações profundas


Fundações profundas são fundações que transmitem as cargas para o solo de
fundação por meio de atrito lateral e resistência de ponta. Sua capacidade de
carga última (Rult) é calculada pela soma destas duas componentes:

Rult = R P + R L

em que R P é a resistência mobilizada na ponta da fundação e R L é a re-


sistência lateral, mobilizada por atrito. O cálculo dessas componentes, para
quaisquer fundações profundas em estacas (cravada, escavada, injetada,
prensada), pode ser realizado por meio de métodos semi-empíricos, como
o método de Décourt e Quaresma. Para tubulões, na prática de engenharia,
é usual desprezar qualquer resistência mobilizada no fuste e se considerar
apenas a resistência de ponta. Tendo em vista que a magnitude de cargas
transmitidas a fundações em pontes é elevada, geralmente há necessidade de
grupos de tubulões ou estacas para suporte de cada um dos pilares. Porém,
mesmo que estejam em grupo, o dimensionamento da carga última de cada
estaca ou tubulão é calculado individualmente. A NBR 6122 prescreve que
a carga admissível de um grupo de estacas ou tubulões, porém, não pode ser
maior que a carga admissível de uma sapata hipotética de mesmo contorno
que o do grupo, assentada a uma profundidade acima da ponta das estacas
ou tubulões igual a 1/3 do comprimento de penetração na camada de suporte
(Figura 7). Atendidas essas condições, o espaçamento mínimo entre estacas
ou tubulões deve considerar o modo como a carga é transmitida ao solo de
fundação e o efeito da instalação das estacas adjacentes do mesmo grupo.

Corte A-A
f
f/3

A A

f = embutimento na camada de suporte Contorno da sapata hipotética

Figura 7. Grupo de elementos de fundação profunda.


Fonte: NBR 6122 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, p. 29)..
18 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

Cálculo dos esforços resistentes para fundações


rasas e profundas
Para fundações de pontes, sejam elas fundações rasas ou profundas, deve-
-se considerar para o cálculo dos esforços resistentes as combinações de
carga provindas do dimensionamento da superestrutura. A norma NBR 6122
prescreve que a segurança das fundações deve contemplar verificações dos
estados-limites últimos e verificações dos estados-limites de serviço, além
de outras solicitações conhecidas e previsíveis e da sensibilidade da estrutura
a recalques.

Sapatas e blocos
Para o cálculo da capacidade de carga de sapatas e blocos, ou seja, de seus
esforços resistentes, pode ser utilizada a formulação teórica proposta por
Terzaghi (1943), pela qual pode ser determinada a pressão última do solo por
meio da equação

qult = c′ · Nc· Sc + γ · D · Nq · Sq + ½ · γP·B·Nγ·Sγ

em que c′ é o intercepto coesivo efetivo do solo; γP é o peso específico


médio entre a profundidade da base da fundação e uma vez a dimensão da
seção da mesma; γ é o peso específico médio do solo entre a superfície e a
profundidade da base da fundação; Nc, Nq e Nγ são fatores de capacidade de
carga adimensionais e função do ângulo de atrito (Tabela 4) e Sc, Sq e Sγ são
fatores que consideram o formato da fundação superficial (Tabela5). Demais
parâmetros geométricos são mostrados na Figura 8. Devido às hipóteses
assumidas (estado plano de deformações), Terzaghi (1943) sugere ainda a
adoção de valores reduzidos de c′ e ϕ′, tomando c* = 2/3c′ e tan(ϕ*) = 2/3
tan(ϕ′). Quando o solo é de baixa resistência, substituem-se Nc, Nq e Nγpor
N′c, N′q e N′γ(Tabela 4).
As dimensões da base da fundação superficial (sapata, caixão ou bloco)
ou, mais precisamente, a área resistente necessária em contato com o solo,
pode ser calculada de forma que

A = Sk /qadm

em que A é a área resistente necessária, qadm é a pressão admissível (qadm =


qult / FSglobal) e Sk são as ações a serem resistidas.
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 19

A principal diferença entre sapatas e blocos é que sapatas são dimensio-


nadas em concreto armado, de forma que as tensões de tração resultantes são
resistidas pela armadura, enquanto blocos são dimensionados de forma que as
tensões de tração sejam resistidas pelo concreto. Segundo a NBR 6122 blocos
de fundação devem ser dimensionados de forma que o ângulo β (Figura 9b)
satisfaça à desigualdade

(tan β) / β ≥ qadm / fct + 1

para a qual, na ausência de ensaios de tração no concreto, pode-se utilizar


fct = 0,084 e fck2/3 ≤ 0,8 MPa (valores de fck em megapascal). β é expresso em
radianos e o fck máximo do concreto para projeto é de 20 MPa. A norma NBR
6122 prescreve que a altura máxima para tubulões a céu aberto seja menor
que 1,80 m (tubulões a céu aberto somente em solo coesivo e acima do nível
de água), e até 3,00 m para tubulões a ar comprimido, com medidas de esta-
bilização, caso necessário.

Tabela 4. Fatores adimensionais de capacidade de carga

Φ(°) Nc Nq Nγ N´c N´q N´γ

0 5,7 1,0 0,0 5,7 1,0 0,0

5 7,3 1,6 0,5 6,7 1,4 0,2

10 9,6 2,7 1,2 8,0 1,9 0,5

15 12,9 4,4 2,5 9,7 2,7 0,9

20 17,7 7,4 5,0 11,8 3,9 1,7

25 25,1 12,7 9,7 14,8 5,6 3,2

30 37,2 22,5 19,7 19,0 8,3 5,7

35 57,8 41,4 42,4 25,2 12,6 10,1

40 95,7 81,3 100,4 34,9 20,5 18,8

45 172,3 173,3 297,5 51,2 35,1 37,7

Fonte: Adaptada de Terzaghi (1943).


20 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

Tabela 5. Fatores de forma para formulação teórica de Terzaghi para capacidade de carga
de fundações superficiais

Forma da Fatores de forma


fundação
Sc Sq Sγ

Corrida 1,0 1,0 1,0

Quadrada 1,3 0,8 1,0

Circular 1,3 0,6 1,0

Retangular 1,1 0,9 1,0

Fonte: Adaptada de Terzaghi (1943).

N.T.

Solo
D
•D

Figura 8. Fundação superficial idealizada.

 
20 cm
(a) (b)

Figura 9. Ângulo β nos (a) tubulões e (b) blocos.


Fonte: NBR 6122 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 21

Estacas
Para o cálculo da capacidade de carga de estacas, ou seja, de seus esforços
resistentes, pode ser utilizado o método Décourt e Quaresma (DÉCOURT,
QUARESMA, 1978, 1982; DÉCOURT, 1982), baseado em ensaios SPT. Pelo
método, é possível calcular a resistência última (Rult) de uma estaca, em [tf],
por meioda seguinte relação:

em que R P é a resistência de ponta [tf],R L é a resistência lateral [tf], C[tf/m2]


é um coeficiente empírico cujos valores são fornecidos na Tabela 6, NP é o
valor NSPT, considerando um diâmetro de estaca acima e abaixo da sua ponta,
AP [m2] é a área da ponta da estaca, U [m] é o perímetro do fuste da estaca, L
[m] é o comprimento total da estaca e é a média dos valores NSPT ao longo
do fuste (se NSPT <3, considerar NSPT = 3; se NSPT> 50, considerar NSPT = 50).
Por consideração de momentos na cabeça das estacas, sugere-se que estacas
em pontes sejam agrupadas em estaqueamentos de, no mínimo, quatro estacas.

Tabela 6. Valores de C

Tipo de solo Estacas escavadas Demais estacas

C[tf/m ]
2

Argilas 10 12

Solo argiloso residual 12 20

Solo arenoso residual 14 25

Areias 20 40

Fonte: Adaptada de Décourt e Quaresma (1978); Décourt (1986).

Para a carga admissível, considerando-se evitar recalques excessivos,


variações devidas aos parâmetros do solo, formulação adotada e segurança
com relação à carga de trabalho, Décourt e Quaresma (1978) sugerem FSglobal
de 4,0 para R P e 1,3 para R L , ou seja:

Radm = R P / 4,0 + R L / 1,3


22 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

Para estacas escavadas como uso de lama bentonítica, o autor sugere a


desconsideração da resistência de ponta. A Radm calculada com os FSglobal do
método deve ser comparada com a Radm com fatores da NBR 6122, tomando-se
a menor dentre essas duas.
Uma vez calculada a capacidade de carga de uma estaca isoladamente,
calcula-se quantas são as estacas necessárias para prover carga resistente
admissível, de modo que

n = Sk / Radm

Dessa forma, podemos calcular o número n de estacas (com o diâmetro e


profundidade escolhidos) que comporá o estaqueamento.

Tubulões
Para o cálculo da capacidade de carga de tubulões, ou seja, de seus esforços
resistentes, podem ser utilizados também métodos semi-empíricos estatísticos
ou métodos empíricos, como o da NBR 6122. Opta-se por fundações profun-
das tipo tubulão quando o solo competente, capaz de fornecer capacidade de
carga compatível com as cargas a serem resistidas, está a profundidades que
exigem fundações profundas. Tubulões geralmente fornecem alta capacidade
de carga e, por isso, são e, principalmente no passado, eram muito utilizados
em fundações de pontes.
As dimensões da base do tubulão ou, mais precisamente, a área resistente
necessária em contato com o solo, pode ser calculada de forma que

A = qadm / Sk

em que A é a área resistente necessária, qadm é a pressão admissível (qadm =


qult / FSglobal) e Sk são as ações a serem resistidas.
Tubulões normalmente são armados apenas na sua ligação com o bloco
de coroamento (trecho inicial de 3 m com As,mín = 0,005 ∙ Afuste), de forma a
prover confinamento adequado na transmissão da carga. O fuste mínimo do
tubulão – não encamisado – é dimensionado de tal forma que seja possível a
descida de operários para o alargamento da base e que a tensão no concreto,
no fuste, não ultrapasse 5,0 MP. Considera-se fck = 20 MPa como valor máximo
de projeto para resistência característica do concreto, independentemente de
terem sidos utilizados concretos de maior resistência.
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 23

Há casos onde um único tubulão resiste às ações de um único pilar e é


ligado diretamente ao pilar, sem bloco de coroamento. Quando esse foro caso,
o comprimento acima da superfície do solo será dimensionado normalmente
como pilar.
Opta-se por tubulões quando solo competente não está disponível a peque-
nas profundidades. Para que o custo e o risco adicional por conta da execução
do tubulão sejam minimamente justificáveis, deve-se assentar a base do tubulão
em solos com NSPT não menores que 15 golpes.Um esquema típico de um
tubulão a ar comprimido pode ser visto na Figura 10. A inclinação da base do
tubulão é calculada de forma análoga ao cálculo para blocos (Figura 9a). Para
descida de operários para escavação e alargamento da base, recomenda-se,
como boa prática, diâmetro do fuste mínimo de 70 cm.

“Cachimbo” para
colocar armação

Porta de entrada
de operários
Guincho Manômetro

Registros
Balde

Ar comprimido

“Cachimbo” de “Cachimbo” de
saída de terra concretagem

Anel

NA

20 cm d ≥ 70 cm

Tubulão

Armação

“Faca” Câmara de
trabalho

Vista geral Seção transversal

Figura 10. Esquema de tubulão a ar comprimido.


Fonte: Alonso (2010).
24 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

Apesar de tubulões serem capazes de prover altas capacidades de carga, sua execução é
ainda hoje praticamente “artesanal”. Operários ou máquinas escavam o fuste do tubulão,
mas para o alargamento de sua base e garantia de qualidade na sua execução e limpeza,
ainda hoje é necessário que eles desçam e realizem o procedimento manualmente.
Tubulões submersos, utilizados quando se deve executar tubulões dentro de rios e
em locais com nível freático próximo à superfície, são executados, igualmente, com
descida de operários para a escavação da base. Para tanto, trabalha-se com tubulões
a ar comprimido, nos quais gera-se pressão suficiente para equilibrar a pressão
hidrostática no fundo da escavação, a fim de não permitir a entrada de água. Esse
tipo de tubulão requer utilização de camisas de aço ou anéis de concreto ao longo
do seu fuste, propriamente dimensionados (considerando-se como 1,5 a pressão de
trabalho, desprezando empuxos externos de solo e água).
Obviamente este é um serviço com altíssimos riscos e fatal em caso de acidentes, motivo
pelo qual tubulões têm sido cada vez menos utilizados e até mesmo abolidos em certas
regiões. Quando utilizado, a descompressão da campânula deve ser realizada de forma
gradual, para evitar que o operário sofra de embolia gasosa, decorrente da expansão
do ar em seus pulmões pela variação instantânea de pressão (como ocorre como
mergulhador que sobe de grandes profundidades à superfície de forma muito rápida).
Na teoria, o engenheiro responsável pela execução das fundações deve sempre descer
no tubulão para conferência do mesmo e liberação da concretagem. Você topa esse
tipo de “engenharia raiz”?
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 25

1. Um pilar de seção quadrada, 60 a base do seu tubulão, levando


x 60 cm, descarrega sobre uma em conta o ensaio SPT abaixo?
sapata apoiada sobre o solo, cuja
tensão de ruptura é 3 kg/cm2,
uma carga vertical de projeto de
3.500 kN. Qual a dimensão ótima
para o lado de uma sapata de
base quadrada para esse caso?
Considere que a tensão de ruptura
foi determinada por meio de
métodos semi-empíricos, que a
abordagem de cálculo da fundação
é em termos de valores admissíveis
e que o projetista estrutural
forneceu o coeficiente de 1,65 para
a conversão das ações de projeto
em ações características. Considere
também que, nesse nível de carga,
o recalque da fundação é tolerável.
Por motivos construtivos, o
lado da base da sapata deve ser
expresso com precisão de 5 cm.
a) 2,70 m. Desconsidere qualquer
b) 3,45 m. carregamento assimétrico e
c) 4,65 m. considere que, no perfil do
d) 5,95 m. ensaio SPT apresentado, os
e) 7,60 m. valores de NSPT correspondem a
2. Você deve dimensionar as profundidades de cota cheia (1m,
fundações para um pilar circular 2m, 3m, ...). No boletim de ensaio,
de um encontro de ponte com em profundidades maiores que
seção transversal de área igual a 20m,se considera que foi alcançado
0,385 m2, que transmite uma carga o impenetrável à percussão.
vertical característica de 900 kN. a) 17 m.
Para tanto, você decidiu que uma b) 18 m.
opção viável seria um tubulão único c) 19 m.
suportando toda a carga do pilar. d) 20 m.
Para evitar recalques excessivos, a e) 21 m.
melhor profundidade para assentar 3. Para uma carga vertical característica
de 900 kN (mesma ação do
26 Dimensionamento da infraestrutura de pontes

exercício anterior), qual deve ser característica de 900 kN, perfil de


o diâmetro do fuste do tubulão solo conforme o boletim de ensaio
para respeitar, respectivamente, fornecido, com uso de estacas
os requisitos de norma e o cravadas de seção quadrada
diâmetro mínimo prático para (16 x 16) até a profundidade de
possibilitar a descida de operários 20 m, o estaqueamento deverá
para alargamento da base? ser composto por, no mínimo,
(valores com precisão de 5 cm). qual número de estacas?
a) 47 cm e 50 cm. Utilize o método semi-
b) 48 cm e 50 cm. empírico de determinação de
c) 48 cm e 70 cm. capacidade de carga de Décourt
d) 50 cm e 50 cm. e Quaresma, considerando solo
e) 50 cm e 70 cm. inteiramente argiloso, e despreze
4. Considerando que a tensão considerações de atrito negativo.
admissível da camada de suporte
da base do tubulão seja de 0,4 MPa,
que o concreto utilizado possua fck
= 35 MPa e que deve ser suportada
uma carga vertical característica de
900 kN, qual é o diâmetro necessário
para a base alargada do tubulão de
base circular, que estará em contato
com o solo? Qual é a dimensão
mínima do calcanhar do tubulão?
Qual é a altura da base escavada a) 1 estaca.
(definida pelo valor do ângulo β)? b) 2 estacas.
Considere o ângulo β com c) 3 estacas.
precisão de 0,5° e a altura d) 4 estacas.
com precisão de 5 cm. e) 5 estacas.
5. Caso você opte solucionar as
fundações para uma carga vertical
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 27

ALONSO, U. R. Exercícios de fundações. São Paulo: Blücher, 2010.


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: projetos de estruturas
de concreto: procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro, 1996.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: projeto e execução de
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madeira. Rio de Janeiro, 1997.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8800: projeto de estruturas
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BERBERIAN, D. Engenharia de fundações. Brasilia: UnB/Infrasolo-Geotechpress, 2010. v. 1.
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DÉCOURT, L. Prediction of the bearing capacity of piles based exclusively on N values
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DÉCOURT, L. Previsão da capacidade de estacas com base nos ensaios SPT e CPT. Divisão
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DÉCOURT, L; QUARESMA, A. R. Capacidade de carga de estacas a partir de valores
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DÉCOURT, L.; QUARESMA, A. R. Como calcular (rapidamente) a capacidade de carga
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GUSMÃO FILHO, J. A. Fundações para pontes: hidráulica e geotécnica. Recife: Ed.
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MAY, R. W. P., ACKERS, J. C., KIRBY, A. M. Manual on scour at bridge and other hydraulic
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Leituras recomendadas
CHEN, W. F.; DUAN, L. Bridge engineering: substructure design. Boca Raton: CRC Press,
2003.
FALCONI, F. et al. (Ed.). Fundações: teoria e prática. São Paulo: PINI, 1998.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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