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Augusto Bopsin
Borges
UNIDADE 4
Dimensionamento da
infraestrutura de pontes
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O que muitas vezes nos surpreende e nos deixa apreensivos quando
lidamos com fundações e estudamos o assunto é a aparente subjetividade
e o empirismo com que os métodos de dimensionamento nos são apre-
sentados, ainda que tudo possa sempre ser mais racional e aprofundado.
Chama-se a atenção para essa realidade porque, por trás do aparente
empirismo dominante com que muitas vezes nos confrontamos no es-
tudo de fundações, está o fato de que os métodos que tradicionalmente
são ensinados são fortemente baseados em resultados de performance
de fundações em provas de carga e na experiência de profissionais e
acadêmicos da área. Assim, esses resultados e experiências tornam-se
ferramentas extremamente úteis– não precisamos reinventar a roda.
No dimensionamento de fundações, especificamente para pontes,
continuam válidos os conceitos e métodos tradicionais, sendo que alguns
serão invocados aqui. Porém, chama-se a atenção para as considerações
“empíricas” com as quais muitas vezes nos deparamos. Em fundações de
pontes, é necessário um maior emprego desse tipo de julgamento de
engenharia por parte do projetista e da equipe técnica envolvida.
2 Dimensionamento da infraestrutura de pontes
Generalidades
No Brasil, o projeto e a execução de fundações de qualquer tipo são norma-
lizados pela NBR 6122, devendo ainda os sistemas de fundações em pontes
satisfazerem a norma DNIT 121/2009 – ES. Essa última é uma especificação
de serviço do órgão federal responsável diretamente por sistemas viários que,
apesar de não fornecer praticamente nenhum critério de projeto específico,
dá orientações sobre o aceite ou não de obras de fundações e sobre critérios
específicos para os materiais e métodos construtivos utilizados (escavações,
consumo de cimento, concretagem, etc.) (BRASIL, 2009). A norma do DNIT
estabelece que são aceitos sistemas de fundações para pontes compostos de
blocos, sapatas e radiers, estacas (de madeira, aço, pré-moldadas de concreto,
escavadas moldadas in loco, injetadas de pequeno diâmetro), tubulões e caixões.
Fundações de pontes são fundações como quaisquer outras; a diferença
principal está nos fatores adicionais a serem considerados. As principais
considerações para fundações de pontes (Figura 1), além das considerações
padrão de projeto para fundações usuais, são:
Fundo Inicial
Nível Normal
Δh
Carregamento
lateral
Nível de Cheia Erosão total no encontro
Erosão localizada
Erosão localizada em
em Fundo Final
sapata
estacas
Erosão generalizada
devido à cheia
Rc, k = Min [(Rc, cal ) med / ξ 1; (Rc, cal )min / ξ2] (1)
na 1 2 3 4 5 6 ≥ 10
Ação do
vento
Direção Direção
do fluxo do fluxo
Consideração da erosão
Sendo ou não construída uma ponte sobre um rio, o leito de um rio passa por
transformações constantes devido às cheias e secas, que transportam volumes
de água com velocidades diferentes em períodos diferentes. As variações de
velocidade de escoamento e nível de água de um rio permitem o carreamento
de sedimentos para outra localidade, erodindo o leito do rio, ou ainda transpor-
tando e sedimentando mais material. Tal processo é natural, mas no que tange
às fundações de pontes,deve ser bem tipificado. Uma vez que se espera que
as fundações estejam assentes sobre solo competente, naturalmente espera-se
também que o solo de suporte não seja erodido pela variação natural do leito
do rio. Devemos então nos certificar, em primeiro lugar, que qualquer sistema
de fundações de pontes esteja assente abaixo da cota de erosão geral máxima
ou erosão generalizada máxima que pode ocorrer.
Como estudo preliminar, Gusmão Filho (2003) sugere que se pode estimar
a erosão generalizada a partir da equação
eg = Ky – y
Turbilhão
(a) (b)
Turbilhão
Turbilhão
(c) (d)
Aterro
Aterro
(a) (b)
Ph = DKγH
H
ph
(Continua)
16 Dimensionamento da infraestrutura de pontes
(Continuação)
Fonte: Adaptado de NBR 6122 (ABNT, 1996), ampliada por Berberian (2010).
Rult = R P + R L
Corte A-A
f
f/3
A A
Sapatas e blocos
Para o cálculo da capacidade de carga de sapatas e blocos, ou seja, de seus
esforços resistentes, pode ser utilizada a formulação teórica proposta por
Terzaghi (1943), pela qual pode ser determinada a pressão última do solo por
meio da equação
A = Sk /qadm
Tabela 5. Fatores de forma para formulação teórica de Terzaghi para capacidade de carga
de fundações superficiais
N.T.
Solo
D
•D
20 cm
(a) (b)
Estacas
Para o cálculo da capacidade de carga de estacas, ou seja, de seus esforços
resistentes, pode ser utilizado o método Décourt e Quaresma (DÉCOURT,
QUARESMA, 1978, 1982; DÉCOURT, 1982), baseado em ensaios SPT. Pelo
método, é possível calcular a resistência última (Rult) de uma estaca, em [tf],
por meioda seguinte relação:
Tabela 6. Valores de C
C[tf/m ]
2
Argilas 10 12
Areias 20 40
n = Sk / Radm
Tubulões
Para o cálculo da capacidade de carga de tubulões, ou seja, de seus esforços
resistentes, podem ser utilizados também métodos semi-empíricos estatísticos
ou métodos empíricos, como o da NBR 6122. Opta-se por fundações profun-
das tipo tubulão quando o solo competente, capaz de fornecer capacidade de
carga compatível com as cargas a serem resistidas, está a profundidades que
exigem fundações profundas. Tubulões geralmente fornecem alta capacidade
de carga e, por isso, são e, principalmente no passado, eram muito utilizados
em fundações de pontes.
As dimensões da base do tubulão ou, mais precisamente, a área resistente
necessária em contato com o solo, pode ser calculada de forma que
A = qadm / Sk
“Cachimbo” para
colocar armação
Porta de entrada
de operários
Guincho Manômetro
Registros
Balde
Ar comprimido
“Cachimbo” de “Cachimbo” de
saída de terra concretagem
Anel
NA
20 cm d ≥ 70 cm
Tubulão
Armação
“Faca” Câmara de
trabalho
Apesar de tubulões serem capazes de prover altas capacidades de carga, sua execução é
ainda hoje praticamente “artesanal”. Operários ou máquinas escavam o fuste do tubulão,
mas para o alargamento de sua base e garantia de qualidade na sua execução e limpeza,
ainda hoje é necessário que eles desçam e realizem o procedimento manualmente.
Tubulões submersos, utilizados quando se deve executar tubulões dentro de rios e
em locais com nível freático próximo à superfície, são executados, igualmente, com
descida de operários para a escavação da base. Para tanto, trabalha-se com tubulões
a ar comprimido, nos quais gera-se pressão suficiente para equilibrar a pressão
hidrostática no fundo da escavação, a fim de não permitir a entrada de água. Esse
tipo de tubulão requer utilização de camisas de aço ou anéis de concreto ao longo
do seu fuste, propriamente dimensionados (considerando-se como 1,5 a pressão de
trabalho, desprezando empuxos externos de solo e água).
Obviamente este é um serviço com altíssimos riscos e fatal em caso de acidentes, motivo
pelo qual tubulões têm sido cada vez menos utilizados e até mesmo abolidos em certas
regiões. Quando utilizado, a descompressão da campânula deve ser realizada de forma
gradual, para evitar que o operário sofra de embolia gasosa, decorrente da expansão
do ar em seus pulmões pela variação instantânea de pressão (como ocorre como
mergulhador que sobe de grandes profundidades à superfície de forma muito rápida).
Na teoria, o engenheiro responsável pela execução das fundações deve sempre descer
no tubulão para conferência do mesmo e liberação da concretagem. Você topa esse
tipo de “engenharia raiz”?
Dimensionamento da infraestrutura de pontes 25
TERZAGHI, K. Theoretical soil mechanics. New York: John Wiley & Sons, 1943.
TSCHEBOTARIOFF, G. P. Earth ressure, retaining walls and sheet piling. General Report
- Division 4. In: PAN-AMERICAN CSMFE, 3., 1967, Caracas. Proceeding ... Caracas, 1967.
v. 3, p. 301-322.
TSCHEBOTARIOFF, G. P. Retaining structures. In: LEONARDS, G. A. (Ed.). Foundation
engineering. New York: McGraw-Hill, 1962.
VELLOSO, D. A.; LOPES, F. R. Fundações. São Paulo: Oficina de Textos, 2010.
Leituras recomendadas
CHEN, W. F.; DUAN, L. Bridge engineering: substructure design. Boca Raton: CRC Press,
2003.
FALCONI, F. et al. (Ed.). Fundações: teoria e prática. São Paulo: PINI, 1998.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.