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Marangon
Mecânica dos Solos II - Edição 2018
pr
Figura 7.2 - Imagem esquemática de uma sapata e esforços atuantes na estrutura e no solo
Então, pode-se definir “Capacidade de Carga dos Solos” como “a tensão que
provoca a ruptura do maciço de solo em que a fundação está assente, apoiada, embutida”.
As Figura 7.3 ilustra imagens de fundações superficiais ou diretas, do tipo sapata,
sendo construídas para receber pilares de alguma edificação, a fim de transmitir ao solo,
através da área da sua base, uma tensão que deve ser menor que a máxima possível que
suporta o solo, no caso, aquela que corresponde à sua capacidade de carga (pr). Ressalta-
se que na determinação da capacidade de carga devem-se considerar duas condições
fundamentais de comportamento (ou restrições): ruptura e deformação.
Figura 7.3 – Aspecto da parte superior de sapatas em construção. A foto da direita refere-se
a obra em frente do galpão de laboratório da Civil (UFJF), após reaterro de parte da cava
No caso de fundações diretas tanto se pode trabalhar com carga Q como tensões
(pressões) médias p, sendo a tensão média que atua no solo (base de contato) igual a:
Q Q
p= =
área base BxL
* Capacidade de carga de ruptura (ou limite) – Qr: é a carga limite (ou máxima) a
partir da qual a fundação provoca a ruptura do terreno e se desloca sensivelmente (ruptura
“generalizada”), ou se desloca excessivamente (ruptura “localizada”), o que pode provocar
a ruína da superestrutura.
Figura 7.5 – Curva carga-recalque de uma fundação (solo com ruptura do tipo generalizada)
Coeficiente de segurança
Não é simples a escolha do adequado coeficiente de segurança nos cálculos de
Mecânica dos Solos. Na literatura técnica encontram-se numerosas regras particulares à
natureza de cada obra. Para um estudo moderno do assunto vejam-se os “critérios” de
Brinch Hansen, como mencionado pelo Professor Dirceu de Alencar Velloso em uma
conferência. Um estudo abrangente do assunto é apresentado pelo Prof. A. J. da Costa
Nunes em Acidente de Fundações e Obras de Terra (Conferência na Sociedade Mineira de
Engenheiros – 1979).
Tendo em vista que os dados básicos necessários para o projeto e execução de uma
fundação provêm de fontes as mais diversas, a escolha do coeficiente de segurança é de
grande responsabilidade. A Tabela 7.1 resume os principais fatores que influenciam na
escolha, e a Tabela 7.2 apresenta valores sugeridos de fatores de segurança a considerar.
Figura 7.6 – Acidentes de fundação: (a) ruptura do terreno (Caputo e Caputo, 2017);
(b) recalques excessivos em condomínio residencial (s/ref.)
Para deduzi-la, considera-se inicialmente um solo não coesivo sob uma “fundação
corrida”, ou seja, uma fundação com forma retangular alongada - de dimensão transversal
muito menor que sua dimensão longitudinal, considerada infinita para efeito de cálculo,
conforme ilustrado na Figura 7.7 (como será inicialmente também considerado por
Terzaghi na sua teoria).
' ' = '.tg 2 . 45º − = tg 4 . 45º −
2 2
(estabelecidos os “estados de Rankine”)
Figura 7.8 – Dedução da fórmula de Rankine: tensões atuantes no sistema
Ativo Passivo
Figura 7.9 – Inclinação dos planos de ruptura para estados de tensões ativo e passivo
Daí: p r = .h.tg 4 . 45º + = .h.K p2 tensão limite de ruptura de Rankine
2
Solos coesivos
Pela aplicação do teorema dos estados correspondentes de Caquot, pode-se
generalizar esta fórmula aos solos coesivos. Com efeito, substituindo Pr por:
c c
pr + e .h por .h + ter-se-á:
tg tg
c c 2
pr + = .h + .K p , ou
tg tg
p r = .h.K 2p +
c
tg
(
. K 2p − 1 )
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O que se observa é que ao apoiar uma placa rígida sobre um solo e sobre ela aplicar
uma carga (Q, por exemplo), o solo de apoio, de base, irá sofrer deformações até o
momento em que irá entrar em colapso, por cisalhamento. Isto ocorre quando das tensões
cisalhantes atuantes no solo superam os valores máximos de tensão que o solo suporta.
Caso em que o nível de tensões ultrapassa a condição de sua envoltória de resistência. A
Figura 7.10 mostra uma experiência realizada em laboratório, em modelo reduzido, em que
o “solo” aqui representado por “canudos” de plástico se movimentam uns sobre os outros
na medida em que há um aumento da carga sobre a placa que representa uma sapata.
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Além dos dois critérios de ruptura – frágil e plástica, referidos também como
“generalizada” (curva C1) e “localizada” (curva C2), respectivamente, conforme ilustrado
na Figura 7.4, tem-se mencionado outro tipo de ruptura, que ocorre por puncionamento. A
teoria de Terzaghi parte de considerações semelhantes às de Prandtl, relativas à ruptura
plástica dos metais por puncionamento. Terzaghi aplicou-os ao cálculo da capacidade de
carga de um solo homogêneo que suporta uma fundação corrida e superficial.
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Figura 7.14 – Valores dos fatores de capacidade de carga - Nc, Nq e N (Terzaghi e Peck, 1967)
Tabela 7.3 – Valores dos fatores de capacidade de carga - Nc, Nq e N (Terzaghi e Peck, 1967)
0º 5º 10º 15º 20º 22,5º 25º 27,5º 30º 32,5º 35º 37,5º 40º 42,5º
Nc 5,1 6,5 8,3 11,0 14,8 17,5 20,7 24,9 30,1 37,0 46,1 58,4 75,3 99,2
Nq 1,0 1,6 2,5 3,9 6,4 8,2 10,7 13,9 18,4 24,6 33,3 45,8 64,2 91,9
N 0,0 0,3 0,7 1,6 3,5 5,0 7,2 10,4 15,2 22,5 33,9 54,5 81,8 131,7
Conclui-se então que os valores N’ podem também ser obtidos entrando-se com ’
nas linhas cheias ou diretamente com nas linhas tracejadas. Recomenda-se a segunda
opção por não haver necessidade do cálculo prévio de ’.
Ainda se tratando de “ruptura localizada”, deve-se adotar o valor de c’ para a
coesão, como abaixo:
2
c' = .c
3
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sobrecarg a
coesão atrito
p r = c.N c + 1 .b.N + 2 .h.N q
Ocorrência do N.A.
No caso de ocorrer nível d’água abaixo, e coincidente com a cota de assentamento
de uma fundação superficial, considerando que o cálculo da capacidade de carga do solo
considera o estado de tensões efetivas, deve-se usar o peso específico de solo submerso na
parcela referente ao atrito na base, o que implicará na redução do valor da capacidade de
carga do solo, como esperado.
No caso de fundações superficiais ou diretas com outras geometrias para a sua base
(Figura 7.17), diferentes daquela que serviu para a dedução da expressão final para a
capacidade de carga de Terzaghi, é introduzido um fator multiplicador em cada uma das
três parcelas da equação.
Pela fórmula de Terzaghi tem-se, para carga vertical centrada e fundação corrida, a
capacidade de carga dos solos dada pela expressão:
p r = c.N c + .b.N + .h.N q
As Tabelas 7.5 e 7.6, publicadas pela Enga. Maria José Porto, em Prospecção
Geotécnica do Subsolo (1979), apresentam relações entre o índice NSPT com taxas
admissíveis para solos argilosos e arenosos. Estas relações podem servir como uma
referência para uso em anteprojeto os estudos preliminares de fundações.
Tabela 7.5 - Relações entre SPT com as taxas admissíveis para solos argilosos (Porto, 1979)
Argila NO de Golpes Tensões Admissíveis( Kg /cm2 )
SPT Sapata Quadrada Sapata Contínua
Muito Mole 2 < 0,30 < 0,20
Mole 3-4 0,33 - 0,60 0,22 - 0,45
Média 5 -8 0,60 - 1,20 0,45 - 0,90
Rija 9 - 15 1,20 - 2,40 0,90 - 1,80
Muito Rija 16 - 10 2,40 - 4,80 1,60 - 3,60
Dura > 30 > 4,80 > 3,60
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Tabela 7.6 - Relações entre SPT com as taxas admissíveis para solos arenosos (Porto, 1979)
Areia No de golpes SPT Tesão Admissível
(Kg/cm2)
Fofa 4 < 1,0
Pouco Compacta 5 - 10 1,0 - 2,0
Medianamente Compacta 11 - 30 2,0 - 4,0
Compacta 31 - 50 4,0 - 6,0
Muito Compacta > 50 > 6,0
Camada de argila
Camada de areia
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1º EXERCÍCIO
Determine a capacidade de carga para uma sapata corrida, assente no horizonte de areia
(para a mínima escavação), com 2,0 m de largura (em seguida será feito o cálculo
considerando a hipótese dos materiais de subsolo ocorrem em posição inversa).
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2º EXERCÍCIO
Determine a capacidade de carga para o exemplo anterior considerando um NA na base
da camada de areia (na cota de assentamento).
3º EXERCÍCIO
Dimensione esta sapata corrida para o valor da capacidade de carga (taxa admissível )
calculado no exemplo anterior, para suportar 30tf (por metro linear).
F F
= Anec = F – Força - carregamento na fundação (fornecido = 30 t/m)
A
- tensão admissível (cálculo anterior = 4,13 kgf/cm²)
p
Só que = r e pr = f (b) (pela teoria de Terzaghi)
FS
dimensão da Fundação
- Desta forma faz-se necessário arbitra um valor esperado para “b” e calcular o valor de
F
- A partir de , calcula-se a área necessária Anec = e b
- Obtido o valor de “b”, se diferente do “b” anteriormente arbitrado no cálculo da taxa ,
F
recalcular o valor de pr e com este novo “b” e depois a nova área A = e b até
convergir o valor.
b) areia
a) argila
4º EXERCÍCIO
Determine a capacidade de carga do solo com os dados apresentados no 1º exercício
5º EXERCÍCIO
Refaça o exercício anterior (40) para argila com N-SPT = 12, no nível da sapata
N = 12 consistência “rija”
Parâmetros adotado 1,9 tf/m³
c adotado 5,0 kgf/cm2 = 5,0 tf/m²
6º EXERCÍCIO
Qual a dimensão que deve ter uma sapata quadrada para suportar uma carga centrada de
10,5 t, a uma profundidade de 1,5 m, em uma argila que se pode adotar coesão de 50 kPa.
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Argila
Parâmetros φ = 0 (desprezado)
= 1,8 t/m³ (Valor adotado)
c = 50 kPa = 5,0 t/m²
0
qr = 1,3 . c . Nc + . h . Nq + 0,8 . . b . N
qr = 1,3 x 5 x 5,14 + 1,8 x 1,5 x 1 + 0 Sc = 1,3
qr = 33,41 + 2,7 = 36,11 t/m² Sq = 1,0
= 3,61 kgf/cm² S = 0,8
pr 3,61
= = = 1,20kgf / cm 2 (Valores “empíricos” para argilas: 1,0 a 1,5 Kgf/cm²)
FS 3
Cálculo da área necessária e de “L”
F F 10500 kg
= A= A= = 8750 cm 2
A 1,20 kgf / cm 2
Fim
M. Marangon, 21/11/2018
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