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Resistência ao Cisalhamento de Elementos de Concreto Armado com

Estribos Treliçados Pré-Fabricados


Shear Strength of Reinforced Concrete Members with Pre-Fabricated Truss Bars

Luamim Tapajós (1); Luiz Henrique Santos (2); Jayana Espírito Santo (2);
Manoel Pereira Filho (3); Aarão Lima Neto (3); Maurício Ferreira (4)

(1) Professor MSc., Engenharia Civil, Universidade Federal do Oeste do Pará – Campus Itaituba
(2) Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal do Oste do Pará – Campus Itaituba
(3) Professor DSc., Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal do Pará – CAMTUC
(4) Professor DSc., Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal do Pará
Rua Universitária, S/N, Universidade Federal do Oeste do Pará, Itaituba-PA.

Resumo
Uma das alternativas mais viáveis para garantir o aumento da resistência ao cisalhamento em elementos de
concreto armado é a utilização de armadura transversal. No entanto, em alguns casos as tensões
cisalhantes são muito elevadas, necessitando de altas taxas de armadura de cisalhamento para garantir o
bom desempenho estrutural. Nesses casos, aumenta a dificuldade de execução das armaduras, por conta
do conflito de posições das barras de flexão e cisalhamento. Diante desse cenário, a utilização de armadura
de cisalhamento interna pode ser uma solução para esses problemas construtivos, por não ocupar a mesma
posição que a armadura de flexão, uma vez que uma não se envolve na outra para garantir sua ancoragem.
Assim, este trabalho investiga experimentalmente o desempenho de Estribos Treliçados Pré-Fabricados
como armadura de cisalhamento interna, avaliando o seu comportamento ao monitorar deslocamentos e
deformações nos espécimes, bem como comparando suas resistências máximas com as previsões de
resistências teóricas estimadas pela NBR 6118 (2014), por meio do ensaio em 4 vigas faixa de concreto
armado. Ao comparar as resistências experimentais desses elementos com as teóricas estimadas pela NBR
6118 (2014), foram observados valores aproximados, com certo nível de segurança, bem como constatou-
se comportamento dúctil nas peças ensaiadas. Diante disso, concluiu-se pela possibilidade de
dimensionamento estrutural do elemento pelo documento brasileiro adotado neste trabalho, bem como a
utilização dos Estribos Treliçados Pré-Fabricados como armadura de cisalhamento.
Palavra-Chave: Concreto Armado, Cisalhamento, Armadura Transversal, Estribos Treliçados Pré-Fabricado.

Abstract
One of the most feasible alternatives to ensure the increase of shear strength in reinforced concrete
elements is the use of transverse reinforcement. However, in some cases shear stresses are very high,
requiring high rates of shear reinforcement to ensure good structural performance. In these cases, increases
the difficulty of the execution of the reinforcement, due to clash of flexure and shear rebar. Considering this
scenario, the use of unconnected shear reinforcement can be a solution to these constructive problems,
since it does not occupy the same position as the flexural reinforcement, because one does not envelop the
other to ensure its anchorage. Thus, this paper investigates experimentally the performance of Pre-
Fabricated Truss Bars as unconnected shear reinforcement, evaluating its behavior by monitoring
displacements and deformations of the specimens, as well as comparing its maximum strengths with the
theoretical resistance predictions estimated by NBR 6118 (2014), by means of the test in 4 reinforced
concrete wide beams. When comparing the experimental resistances of these elements with the theoretical
ones estimated by NBR 6118 (2014), approximate values were observed, with a certain level of safety, as
well as a ductile behavior in the specimens tested.
Keywords: Reinforced Concrete, Shear, Transverse Reinforcement, Pre-Fabricated Truss Bars.

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1 Introdução
Elementos de concreto armado sob ação do cisalhamento estão suscetíveis a romper de
maneira frágil, devido à característica desse tipo de ruptura. Diante disso, diversos
autores sugerem que a utilização de armadura transversal é a forma mais viável de
garantir o aumento da resistência ao cisalhamento e ductilidade.

No entanto, em alguns casos, onde a solicitação por cisalhamento é bastante elevada,


como mostra a Figura 1, e exige altas taxas de armadura transversal, pode haver a
dificuldade na armação do elemento de concreto, devido ao conflito entre as armaduras
de flexão e cisalhamento, por conta da necessidade, no caso de estribos, de envolver as
barras longitudinais, ou pelo posicionamento em altura acima das barras de flexão, no
caso de studs. Diante disso, FERREIRA et al. (2016) propuseram os estribos treliçados
pré-fabricados. Essa armadura de cisalhamento é posicionada entre as barras de flexão
na parte superior e inferior da peça, assim, não ocorre conflito entre armadura de flexão e
cisalhamento, a própria armadura auxilia no posicionamento da armadura longitudinal e
ainda é possível realizar sua pré-fabricação, pois independe do posicionamento do reforço
de flexão. A Figura 2 mostra a comparação da seção transversal de elementos de
concreto armado com diferentes tipos de armadura de cisalhamento.

a) Vigas faixa

b) Tabuleiro de ponte

c) Galeria subterrânea
Figura 1 – Estruturas sujeitas à ruptura por cisalhamento

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a) Armadura de flexão b) Estribos fechados

c) Estribos fechados d) Estribos contínuos

e) Stud rail f) Estribo treliçado pré-fabricado


Figura 2 – Tipos de armaduras de cisalhamento

Este artigo tem como objetivo apresentar o processo de fabricação e montagem dos
estribos treliçados pré-fabricados, a fim de estudar o seu uso como armadura de
cisalhamento. Para isso, será analisado experimentalmente o comportamento de
elementos de concreto armados transversalmente com esse tipo de armadura, por meio
do ensaio em 4 espécimes. Além da análise do comportamento das peças, também serão
comparadas as resistências últimas obtidas nos ensaios com as estimativas teóricas de
resistência máxima, obtidas seguindo as recomendações da NBR 6118 (2014).

2 Revisão Bibliográfica
2.1 Estribos treliçados pré-fabricados
FERREIRA et al. (2016) apresentaram os estribos treliçados pré-fabricados como
alternativa para armar transversalmente elementos de concreto armado, evitando o
conflito de posição entre armaduras de flexão e cisalhamento. Além dessa finalidade,
esse tipo de armadura transversal permite a sua pré-fabricação, uma vez que o seu
posicionamento independe do posicionamento das barras longitudinais, pois esses
estribos se posicionam entre as armaduras positiva e negativa de flexão. A ideia de
industrialização é pertinente, uma vez que é possível se fabricar treliças contínuas, com
cortes nas dimensões desejadas a serem feitos na própria obra. Autores como PARK et
al. (2007), TAPAN (2014), FURCHE e BAUERMEISTER (2014) e EOM et al. (2017)
realizaram pesquisas com o propósito de se investigar armaduras desse tipo.

Essa armadura de cisalhamento é fabricada como uma treliça e, vista da seção


transversal, possui a forma de um “W”, por esse motivo foi nomeada, inicialmente, de
“Estribo W”. Em sua fabricação, os estribos treliçados possuem barras soldadas nas
extremidades superior e inferior, segundo as recomendações da NBR 6118 (2014), com o
intuito de facilitar o posicionamento e montagem, bem como garantir melhor ancoragem
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da peça no concreto. Além disso, pelo fato de poder ser pré-fabricado, o estribo treliçado
pode ser montado em formato de módulos, para facilitar seu posicionamento e agilizar o
processo de montagem no canteiro de obras. A Figura 3a mostra um único estribo
treliçado, enquanto que a Figura 3b mostra o módulo de estribos treliçados.

a) Estribo treliçado individual b) Módulo de estribos treliçados


Figura 3 – Estribos treliçados pré-fabricados

O processo de instalação dos estribos treliçados pré-fabricados é mostrado na Figura 4.


Primeiramente se posiciona a armadura de flexão inferior sobre os espaçadores, para
garantir o cobrimento normativo das barras, no segundo momento, coloca-se os estribos
treliçados sobre a armadura de flexão e por fim se apoia a armadura longitudinal sobre os
estribos.

Figura 4 – Sistema de instalação dos estribos treliçados pré-fabricados

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2.2 Influência da ancoragem da armadura transversal na resistência ao
cisalhamento de elementos de concreto armado
A eficácia da armadura de cisalhamento está relacionada à máxima tensão desenvolvida
na barra vertical. Diferentemente de um ensaio de tração em uma barra de aço, as
condições em que a armadura se encontra torna mais difícil que se desenvolvam níveis
de tensão equivalentes à necessária para ruptura do aço, pois a armadura tracionada está
sujeita ao limite de resistência de ancoragem no concreto. Basicamente, a ancoragem de
armaduras embutidas no concreto é garantida pela aderência entre o concreto e a
superfície da barra e por mecanismos de ancoragem nas extremidades da barra.

Assim, apesar das vantagens construtivas observadas ao se utilizar armaduras de


cisalhamento que não se ancoram à armadura de flexão, como é o caso dos estribos
treliçados, essa ancoragem deficiente pode prejudicar o comportamento de desempenho
de um elemento de concreto armado, como apontaram os estudos de REGAN (2000) e
BEUTEL e HEGGER (2002), que investigaram o comportamento de arrancamento de
barras de aço embutidas em blocos de concreto, simulando o comportamento de
armaduras de cisalhamento com diferentes tipos de ancoragem, o primeiro autor realizou
um estudo experimental e os outros realizaram modelagens computacionais para chegar
a essas conclusões.

Para ilustrar o comportamento de armaduras transversais em vigas de concreto armado, a


Figura 5 mostra um trecho de viga sob ação de momento fletor e cisalhamento, sendo que
após a fissura inclinada cruzar as barras verticais, a mesma é solicitada, para os casos 1
e 2, que são armaduras que se conectam à barra de flexão, a mesma transfere parte dos
esforços para essa armadura, enquanto que para a situação 3, que a armadura é
desconectada, a mesma é solicitada, mas não transfere os esforços à armadura
longitudinal, favorecendo a formação de uma fissura horizontal por delaminação.

Figura 5 – Desempenho da ancoragem de armaduras de cisalhamento


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Rupturas por delaminação foram observadas por alguns autores que utilizaram armaduras
transversais não ancoradas na armadura de flexão, ou seja, com as mesmas condições
de ancoragem mostrada em 3 na Figura 5, como YAMADA et al. (1992), GOMES e
ANDRADE (2000) e REGAN e SAMADIAN (2001), sendo que os trabalhos desses
pesquisadores envolveram ensaios em lajes lisas submetidas à punção.

Contudo, TRAUTWEIN et al. (2011) também ensaiaram lajes lisas utilizando armaduras
desconectadas às barras de flexão, verificando a possibilidade de controlar a delaminação
por meio do uso de uma armadura complementar, que possibilitou a transferência dos
esforços para a armadura de flexão. Além desses autores CALDENTEY et al. (2013)
realizaram ensaios em lajes lisas, comparando o desempenho de estribos fechados
envolvendo ou não a armadura de flexão, e concluíram que o desempenho das duas
situações foi similar. Destaca-se ainda o trabalho de PARK et al. (2007), que testaram
treliças como armaduras de cisalhamento internas em lajes e não se verificou
delaminação em nenhum dos seus espécimes.

2.3 Recomendações da NBR 6118 (2014)


A NBR 6118 (2014) traz recomendações quanto à ancoragem de armaduras de
cisalhamento em elementos de concreto armado. No caso de estribos, o documento
brasileiro recomenda que os mesmos envolvam as barras de flexão, conforme é mostrado
na Figura 6. No entanto, para os casos em que os estribos não estejam ancorados na
armadura longitudinal, a norma brasileira permite que a ancoragem dos mesmos se dê
pela soldagem de barras longitudinais a esses estribos, desde que a resistência da solda
seja maior que a tensão de escoamento da armadura transversal.

Figura 6 – Recomendações da NBR 6118 (2014) quanto à ancoragem de estribos

Quanto ao cálculo da resistência ao cisalhamento de elementos de concreto armado, a


NBR 6118 (2014) apresenta dois modelos. O modelo I considera que a resistência ao
cisalhamento de vigas armadas transversalmente (VR,csI) é dada pela somatória de uma
parcela de contribuição do concreto (VR,cI) e outra do aço (VR,sI), como mostra a Equação
1, bem como esse modelo assume que a inclinação da biela é igual a 45°. A contribuição
do concreto é calculada pela equação 2, que estima a resistência ao cisalhamento de
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uma viga sem armadura transversal, e leva em conta apenas a resistência à tração do
concreto. A parcela contribuinte da armadura de cisalhamento é calculada pela Equação
3, sendo que a resistência máxima ao cisalhamento (VR,max I) de uma viga é limitada pela
Equação 4, que estima a ruptura da biela comprimida.

VR,cs I  VR,c I  VR,s I (Equação 1)

VR,c I  0.6  fctk ,inf  bw  d (Equação 2)

VR,s I   sw   0.9  d  f yw  ( sin  cos  )


A
(Equação 3)
 s 

VR,max I = 0.27   1  c   fc  bw  d   cot   1 


f
(Equação 4)
 250 

Onde:
f ctk ,inf  0.7  f ct ,m ;
fct,m é a resistência média à tração do concreto, calculada por fct ,m  0.3  fc 2 3 , para
concretos com resistência à compressão de até 50 MPa;
fyw é a tensão de escoamento da armadura transversal, limitada a 500 MPa.
bw é a largura da viga;
d é a altura útil da viga;
s é o espaçamento entre as camadas de armadura transversal;
Asw é a área de aço de uma camada de armadura transversal;
α é o ângulo de inclinação da armadura transversal em relação à longitudinal;
fc é a resistência à compressão do concreto.

O modelo II da NBR 6118 (2014) considera, assim como o modelo I, que a resistência ao
cisalhamento de vigas armadas transversalmente (VR,csII) é dada pela contribuição do
concreto (VR,cII) e da armadura transversal (VR,sII), conforme a Equação 5. Além disso, o
modelo II ainda considera os efeitos da fissuração diagonal, que na prática reduz a
inclinação da biela e, por consequência, a contribuição do concreto. Nesse modelo, a
norma brasileira permite a variação do ângulo de inclinação da biela entre 30° e 45°,
desde que o valor da contribuição do concreto seja calculado pela Equação 6. A
contribuição das armaduras transversais é calculada pela Equação 7 e a resistência
máxima ao cisalhamento (VR,max II) pela Equação 8.

VRcs, II  VR,c II  VR,s II (Equação 5)

VR ,max II  V
VR ,c II  VR ,c I   VR ,c I (Equação 6)
VR ,max II  VR ,c I

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Asw
VR,s II   0.9  d  f yw  (cotg   cotg  )  sin  (Equação 7)
s

VR,max II  0.54   1  c  fc  bw  d sin 2   cot   cot  


f
(Equação 8)
 250 

Onde θ é o ângulo de inclinação da biela, podendo variar entre 30° e 45° para o modelo II.

3 Programa Experimental
Com o intuito de investigar o desempenho da utilização dos estribos treliçados pré-
fabricados como armadura de cisalhamento, este trabalho realizou um programa
experimental envolvendo o ensaio em 4 vigas faixa de concreto armado, moldadas com
os referidos estribos como armadura transversal. Essa série de ensaios foi realizada no
Laboratório de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará no Campus de Tucuruí.
Todas as peças foram dimensionadas para romper por cisalhamento.

A armadura de cisalhamento utilizada em todas as vigas foi o estribo treliçado pré-


fabricado, conforme mostra a Figura 7a, com duas pernas verticais e cinco inclinadas a
60°, totalizando uma área de aço por camada equivalente a 124,3 mm². Esses estribos
foram dobrados seguindo as recomendações da NBR 6118 (2014), bem como foram
soldadas barras de 8 mm de diâmetro nas extremidades superior e inferior do estribo, de
acordo com a norma brasileira, além disso, foram inseridas barras de 5 mm de diâmetro
entre todas as dobras dos estribos, com o objetivo de facilitar a montagem em módulo,
como mostra a Figura 7b. Nas vigas do tipo W, foram utilizados somente os estribos
treliçados, já nas vigas do tipo Wc, além dos estribos, foram utilizadas, também,
armaduras complementares (Figura 7c), que tem o objetivo de evitar a delaminação. Essa
armadura complementar foi fabricada com barras com 6,3 mm de diâmetro e é instalada
na armadura de flexão na direção da armadura de cisalhamento, possibilitando a
transferência de esforços absorvidas pela armadura transversal para a longitudinal, bem
como costurando as fissuras de delaminação.

a) Estribo treliçado individual b) Estribos treliçados em c) Armadura


módulo complementar
Figura 7 – Armadura de cisalhamento utilizada
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Todas as vigas possuíam a mesma geometria: 2100 mm de comprimento, 500 mm de
altura e 210 mm de altura. A relação entre o vão de cisalhamento e a altura útil (a/d) foi
fixada em 3,5, uma vez que, para valores a partir de 3, a influência do efeito arco é menos
significativa, como abordam FISKER e HAGSTEN (2016), assim, possibilita uma melhor
visualização das armaduras transversais sendo solicitadas, pois as tensões cisalhantes
serão distribuídas pelo mecanismo de treliça. A armadura de flexão foi mantida constante,
de modo que não interferisse na análise da resistência ao cisalhamento, pois esta
contribui para isso com o efeito pino. A Tabela 1 apresenta as principais características
das vigas ensaiadas e a Figura 8 mostra as variáveis envolvidas.

Tabela 1 – Características das vigas ensaiadas


Viga d (mm) a (mm) a/d fc (MPa) ρl (%) ρw (%) s (mm) Φw (mm) Asw (mm²)
W-3.5-0.17 178 620 3,48 23,5 2,45 0,17 150 5.0 124,3
Wc-3.5-0.17 173 620 3,58 23,5 2,54 0,17 150 5.0 124,3
W-3.5-0.25 175 620 3,54 23,5 2,51 0,25 100 5.0 124,3
Wc-3.5-0.25 175 620 3,54 23,5 2,51 0,25 100 5.0 124,3
Obs.: bw = 500 mm; h = 210 mm; As = 2198 mm²; fys = 558 MPa; Es = 182 GPa; Φf = 20.0 mm; nf = 7; Φf’ = 6.3
mm; nf’ = 6; α = 90°; fyw = 676 MPa; Ew = 202 GPa.

Figura 8 – Variáveis dos ensaios

Conforme a Tabela 1, as vigas possuíam a mesma área de aço transversal por camada,
porém variou-se o espaçamento entre 100 e 150 mm, para proporcionar uma mudança na
taxa de armadura transversal, a fim de observar o comportamento em duas taxas
diferentes, bem como se variou a presença ou não de armadura complementar para
controle da delaminação. Para melhor visualização, a Figura 9 mostra as seções
transversais e as vistas laterais das vigas ensaiadas.

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Figura 9 – Instrumentação das vigas ensaiadas

Na Figura 9, também é mostrada a instrumentação das vigas ensaiadas. Em cada barra


instrumentada, foram instalados dois extensômetros de resistência elétrica (EER), para
uma melhor leitura dos resultados. Instrumentou-se a armadura de flexão, com o objetivo
de verificar se ocorreria ou não o seu escoamento, uma vez que se desejava obter uma
ruptura por cisalhamento, assim como se instrumentou a superfície de concreto. Quanto
às armaduras transversais, foram monitoradas todas contidas no vão de cisalhamento, de
modo que pudesse ser avaliado o nível de desenvolvimento de tensões por camada ao
longo do vão. Em todas as camadas de armadura de cisalhamento, optou-se por analisar
as barras da extremidade, como mostra sua seção transversal, sendo que em uma das
camadas no meio do vão, além da barra de extremidade, também se monitorou uma barra
no meio da seção que era inclinada, para possibilitar uma comparação entre as barras
verticais e inclinadas.

O sistema de ensaio deste trabalho é mostrado na Figura 10. Para realização dos
ensaios, utilizou-se um sistema de chapas para posicionamento das vigas em cima de
apoios de primeiro e segundo gênero, bem como para aplicação da carga utilizou-se uma
prensa hidráulica com capacidade de até 300 toneladas. O carregamento foi realizado em
passos de carga, possibilitando a análise do desenvolvimento das fissuras. O registro do
carregamento, deformações e deslocamentos foi feito de maneira contínua, com o auxílio
de uma célula de carga, extensômetros de resistência elétrica (EER) e transdutor de
deslocamento linear variável (LVDT) conectados a um sistema de aquisição de dados.

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Figura 10 – sistema de ensaio

4 Resultados e discussões
Todas as vigas ensaiadas tiveram seu modo de ruptura associado ao cisalhamento, como
mostra a Figura 11, inclusive com o grau de inclinação semelhante. Além da fissura
principal de cisalhamento, observou-se nas peças testadas o desenvolvimento de uma
fissura horizontal paralela à armadura de flexão, característica de delaminação, sendo
que nas vigas com armaduras complementares o desenvolvimento dessas fissuras foi
menor. Com base nessa superfície, acredita-se que as armaduras complementares
contribuíram para a costura da fissura de delaminação.

Figura 11 – Superfície de ruptura das vigas ensaiadas

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Quanto ao comportamento das peças, a Figura 12 mostra o gráfico de resposta da
deflexão medida no meio do vão da viga em função do cortante atuante. Devido à leitura
constante realizada com a célula de carga e o LVDT, foi possível obter o comportamento
da estrutura após atingir a resistência máxima. Essa leitura é fundamental para observar
se o elemento de concreto possui um comportamento dúctil ou frágil após a ruptura.
Verificou-se que as vigas com armadura complementar apresentaram maior rigidez e
ductilidade que as que estavam armadas somente com os estribos treliçados, bem como
apresentaram maior resistência. Comparando as vigas W-3.5-0.17 e W-3.5-0.25, analisa-
se que, mesmo com taxas de armadura transversal diferentes, seus comportamentos e
resistências foram similares, é possível que isso ocorra devido a um limite imposto pelo
efeito de delaminação, uma vez que essas vigas não possuíam armadura complementar.
Já ao se comparar as vigas Wc-3.50.017 e Wc-3.5-0.25, observou-se que a com menor
taxa de armadura de cisalhamento atingiu maior capacidade resistente, acredita-se que
isso ocorreu devido à dispersão de resultados, ou até mesmo por melhor eficiência da
armadura complementar para menores taxas de armadura transversal. De maneira geral,
antes de atingir a carga máxima, as vigas apresentaram comportamento semelhante, isso
justifica a importância de se monitorar continuamente as leituras, pois o comportamento
pós-pico das peças é diferente.

Figura 12 – Cortante x deslocamento

A Figura 13 mostra o gráfico das leituras da deformação nas armaduras de flexão em


função do cortante atuante. Observa-se que todas as vigas, com exceção da Wc-3.5-0.17,
não atingiram a deformação de escoamento da armadura longitudinal, afastando a
hipótese de ruptura por flexão. Em relação à viga Wc-3.5-0.17, mesmo com a armadura
de flexão escoando, pela análise da superfície de ruptura percebe-se que a mesma falhou
por cisalhamento, no entanto, devido ao alto nível de carregamento resistido, levou ao
escoamento da barra longitudinal. De maneira geral, para os mesmos níveis de
carregamento, as deformações de todas as peças foram similares.

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Figura 13 – Cortante x deformação de flexão

A Figura 14 mostra a leitura da deformação nas armaduras de cisalhamento em função do


cortante atuante. Percebe-se que de todas as vigas ensaiadas, apenas a Wc-3.5-0.17
atingiu a deformação de escoamento em uma de suas barras. Esse comportamento
mostra que os estribos treliçados apresentam dificuldade de desenvolver toda a sua
capacidade resistente, provavelmente por conta da ancoragem. Analisando as vigas W-
3.5-0.17 e Wc-3.5-0.17, que possuem a mesma taxa de armadura transversal, verifica-se
que houve um melhor desenvolvimento das tensões na armadura transversal, justificando
o aumento de resistência. Já para as vigas W-3.5-0.25 e Wc-3.5-0.25, apesar do aumento
de resistência na peça com armadura complementar, as deformações na armadura de
cisalhamento foram menores para o mesmo nível de carregamento. Essa análise pode
fortalecer a chance de que a delaminação limita a resistência da peça, mesmo com
armadura complementar para determinada taxa de armadura.

a) W-3.5-0.17 b) Wc-3.5-0.17

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c) W-3.5-0.25 d) Wc-3.5-0.25
Figura 14 – Cortante x deformação de cisalhamento

Para melhor visualização das resistências últimas obtidas pelas vigas, a Tabela 2
apresenta seus resultados, comparando-os com as resistências teóricas obtidas seguindo
as recomendações da NBR 6118 (2014), tanto para o modelo I quanto para o modelo II.
Percebe-se que todos os resultados foram a favor da segurança, com exceção da viga W-
3.5-0.25 pelo Modelo II da norma brasileira. Observou-se que o modelo I foi mais
conservador que o Modelo II, uma vez que o primeiro considera o ângulo de inclinação da
biela como 45°, enquanto que o segundo permite uma variação até os 30°, com isso, mais
camadas de armadura transversal são estimadas para contribuir na resistência ao
cisalhamento, por isso, o modelo II apresentou mais proximidade com os resultados
experimentais.

Tabela 2 – Resistência ao cisalhamento das vigas


Viga Vu (kN) VNBR-I (kN) VNBR-II (kN) Vu/VNBR-I Vu/VNBR-II
W-3.5-0.17 200 158 183 1,27 1,09
Wc-3.5-0.17 249 154 178 1,62 1,40
W-3.5-0.25 195 188 225 1,04 0,87
Wc-3.5-0.25 229 188 225 1,22 1,02
Média 1,28 1,09
D.P. 0,24 0,22
COV (%) 19 20

5 Conclusão
Este artigo abordou a utilização dos estribos treliçados pré-fabricados como armadura de
cisalhamento em elementos de concreto armado, apresentando o processo de fabricação
e montagem na obra. Para entendimento da proposta, também foi tratado o tema da
influência da ancoragem da armadura transversal na resistência ao cisalhamento e as
recomendações da NBR 6118 (2014) para características dos estribos e estimativa da
resistência de elementos de concreto sob ação do cisalhamento.

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Observou-se que, como outros autores também evidenciaram, devido à ancoragem
deficiente, o efeito de delaminação esteve presente nas vigas ensaiadas, sendo que nas
vigas que possuíam armadura complementar esse efeito foi mais controlado, tanto pelo
desenvolvimento da fissura, quanto pelas respostas de deslocamento e deformação e na
resistência máxima atingida. Assim é possível afirmar que a armadura complementar
contribui para um melhor desempenho ao cisalhamento desses elementos.

Em relação ao desempenho dos estribos treliçados pré-fabricados como armadura de


cisalhamento, avaliados de acordo com a NBR 6118 (2014), verificou-se que essa
armadura atende aos requisitos de ancoragem, mesmo sem se envolver às barras de
flexão, devido às barras soldadas em suas extremidades. Quanto à resistência,
constatou-se uma boa margem de segurança, com exceção da viga W-3.5-0.25, que
falhou prematuramente por delaminação, atingindo apenas 87% da resistência estimada
pelo Modelo II da norma brasileira. No entanto, a viga com mesma taxa de armadura, mas
com acréscimo da armadura complementar, atingiu resistência 2% acima da prevista pelo
mesmo modelo.

De modo geral, com base nos resultados obtidos neste trabalho, é possível adotar a
armadura de cisalhamento proposta neste trabalho, com o seu dimensionamento sendo
feito pela NBR 6118 (2014), respeitando a utilização da armadura complementar para
dimensionamento feito pelo Modelo II, enquanto que para o Modelo I todas as vigas
estiveram dentro de uma faixa de segurança. Vale ressaltar que este estudo abrangeu
apenas alguns ensaios em determinadas faixas de taxas de armadura transversal, mais
ensaios devem ser realizados para obter uma conclusão mais eficaz sobre o tema.

6 Agradecimentos
Os autores agradecem pelo apoio a esta e a outras pesquisas à Universidade Federal do
Pará; ao Núcleo de Modelagem Estrutural Aplicada (NUMEA); ao Núcleo de
Desenvolvimento Amazônico em Engenharia (NDAE); ao Campus de Tucuruí; à
Universidade Federal do Oeste do Pará; ao Campus de Itaituba; à Eletronorte; e às
Agências de fomento CNPq, CAPES e FAPESPA.

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