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Resumo
A resistência à punção de lajes lisas de concreto armado com armadura de cisalhamento está relacionada à
contribuição das armaduras transversais na absorção de esforços tangenciais próximos à ligação laje-pilar.
Dependendo das necessidades de cada situação, as armaduras de cisalhamento podem ser dispostas de
diversas formas no plano da laje, gerando assim diferentes arranjos, tais como: arranjo radial, arranjo em cruz
e arranjo em grade. Os principais parâmetros relacionados ao arranjo são: espaçamento radial entre camadas
de barras transversais, espaçamento entre a primeira camada e a face do pilar, espaçamento circunferencial
entre barras transversais de uma mesma camada, taxa de armadura por camada, extensão da zona armada
ao cisalhamento, entre outros. A maioria dos modelos de cálculo considera apenas os espaçamentos radial
e circunferencial na resistência à punção de lajes lisas. Este trabalho avalia a influência do arranjo das
armaduras na resistência à punção a partir de resultados experimentais de diversos autores. É apresentado
um banco de dados com 108 lajes com pilares de seção transversal circular e quadrada submetidas à ruptura
simétrica por punção, com altura útil variável de 80 a 313 mm e taxa de armadura de cisalhamento de 0,005
a 1,6%. São analisadas as influências dos parâmetros acima, na carga e modo de ruptura e a contribuição da
armadura na resistência à punção. São verificadas as limitações das recomendações normativas Eurocode 2
(2004), ACI 2011 e Model Code 2010 (2011) para cálculo da resistência à punção e modo de ruptura.
Palavra-Chave: Concreto armado, Lajes lisas, Punção, Armadura de cisalhamento.
Abstract
The punching shear strength of RC flat slabs with shear reinforcement depends on the contribution of this
reinforcement to hold tangential stresses near slab-column connection. According to each particular situation,
the shear reinforcement could be placed on different arrangement, like radial, cross, and grid arrangement.
The main technical features involved are: radial spacing, distance from column face to innermost elements,
circumferential spacing, ratio of shear reinforcement per layer, and distance from column face to outermost
elements. Most of design models take into account only radial and circumferential spacings to estimate
punching shear strength. This paper evaluate the influence of the shear reinforcement arrangement in the
punching resistance of flat slabs based on experiments of many authors. A database with 108 slabs with
square/circular columns, subjected to punching and loaded symmetrically, effective depth varying from 80 to
313 mm and ratio of shear reinforcement from 0.005 to 1.6 %. The influence of foregoing technical features
on ultimate load, failure mode, and contribution of shear reinforcement on punching strength. The limitation of
design codes Eurocode 2 (2010), ACI 318 (2011), and FIB Model Code 2010(2011) for calculation of punching
shear strength are shown.
Keywords: Reinforced concrete, Flat slabs, Punching shear, Shear reinforcement.
O uso de vários tipos de estribos também é comum para combater os efeitos de punção, e
no meio científico tem sido feitos ensaios com estribos fechados (Figura 1b), estribos
abertos (Figura 1c), estribos em pente (Figura 1d) e estribos inclinados (Figura 1e). De
modo geral estribos fechados e estribos pente são de difícil utilização devido complicações
durante a etapa de armação. Estribos abertos, apresentam uma execução relativamente
mais simples em relação aos estribos anteriores. Pesquisas brasileiras como as de MELO
et al. (2000), ANDRADE (2000) e TRAUTWEIN (2001) desenvolveram um tipo de estribo
aberto com ângulos de inclinação de 45º e 60º, estes estribos quando inclinados a 60º
mostraram ter grande eficiência, porém pouco utilizado por questões construtivas.
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Estribos pré-fabricados foram desenvolvidos por CHANA (1993). Eles são módulos de
estribos soldados em uma armadura em forma de aro colocados em torno do pilar. Com
esse sistema buscou-se resolver muitos dos problemas construtivos apresentados pelos
estribos, embora ainda houvesse a necessidade de maior empenho na mão-de-obra para
envolver as armaduras de cisalhamento nas armaduras de flexão superiores. Para evitar
esses eventuais problemas construtivos observados nos estribos convencionais, BEUTEL
e HEGGER (2000) desenvolveram dois tipos de estribos com boas condições de
ancoragem (envolvendo a armadura superior) e de fácil montagem, um tipo não envolvendo
a armadura inferior e outro envolvendo a armadura superior. Porém, assim como CHANA
(1993), sua fabricação tem a necessidade de acrescentar a atividade de soldagem.
Os três últimos tipos de arranjo descritos acima se caracterizam por causar menos
interferências na montagem das armaduras, quando comparados ao primeiro tipo, porém,
estudos relacionados à influência do tipo de arranjo das armaduras na resistência à punção
ainda são escassos.
a) b)
c) d)
Figura 2 - Arranjos possíveis de armaduras de cisalhamento: a) arranjo radial; b) arranjo em cruz; c) arranjo
em grade; d) arranjo circunferencial
Onde:
200
k é a parcela do efeito de escala obtida através de k =1+√ ≤ 2, d em mm;
d
ρ é a media da taxa de armadura nas duas direções calculado por 𝜌 = √𝜌x ∙ 𝜌y ≤ 0,02,
onde ρx e ρy são as taxas de armadura de flexão da laje nos sentidos x e y, levando em
consideração apenas uma faixa de laje igual à base do pilar mais 3d para cada lado.
fc é resistência à compressão do concreto;
u1 é o perímetro de controle afastado em 2d do pilar;
d é a altura útil da laje.
vmin é a tensão resistente mínima para o caso de taxas de armadura de flexão muito
2
baixas. Obtida através de vmin =0,035∙k 3 ∙√fc
Para lajes armadas a punção, a NBR verifica três modos de ruptura. Para o cálculo com
plano de ruptura dentro da região das armaduras (VRcs) utiliza-se a Equação 6, porem com
fyw,ef não superando 345 MPa para conectores e não superando 287,5 MPa para estribos.
Para o cálculo com o plano ruptura fora da região das armaduras (VRout) é feito de acordo
com a Equação 7, porem o perímetro de controle afastado em 2d da última camada de
armaduras, como ilustra a Figura 5. E na verificação ao esmagamento da biela comprimida
(VRmax), o cálculo é feito por analogia ao esmagamento de bielas em vigas de acordo com
a Equação 5.
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VRmax = 0,378∙fc ∙ υ ∙ u0 ∙ d Equação 5
Figura 5 – Perímetro de controle fora da região das armaduras segundo a NBR 6118
3 Resultados experimentais
São avaliados os resultados de 37 lajes de nove autores diferentes submetidas ao
puncionamento simétrico e armadas ao cisalhamento com armaduras do tipo double
headed studs, das quais 18 possuem armaduras em arranjo radial e 19, em arranjo em
cruz. A análise é feita apenas com lajes em que a superfície de ruptura se formou dentro
da região das armaduras transversais. Não foram considerados os casos em que houve
deformação plástica excessiva, que evidencia ruptura por flexão.
Uma adequada avaliação do aumento da resistência à punção deve ser feita considerando
valores de Vc baseados não em cálculos teóricos, mas experimentos em lajes sem
armadura, além de que a contribuição real do aço deve ser obtida instrumentando-se
adequadamente a maior quantidade de barras transversais possível.
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Observa-se que arranjos em cruz tendem a proporcionar resultados menos seguros em
comparação a lajes armadas com armadura de cisalhamento disposta radialmente.
Novamente, considera-se um valor constante para a contribuição do concreto. Desta vez,
desconsidera-se uma possível redistribuição dos esforços internos na laje devido à
concentração das armaduras ao longo de faixas ortogonais, no arranjo em cruz. Ao invés
disto, considera-se em todos os casos que as tensões de cisalhamento se distribuem ao
longo de sucessivos contornos delineados unicamente em função da seção transversal do
pilar.
2,5 1,5
2,0
1,0
VExp / VR,cs
VExp / VR,c
1,5
1,0
0,5
0,5 cruz cruz
radial radial
0,0 0,0
1,0 1,5 2,0 2,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
VR,cs / VR,c VR,s / VR,c
a) b)
Figura 6 – Relação entre o incremento de resistência calculada e o incremento de carga
experimental
4 Conclusão
Neste trabalho foi observada uma diferença entre os resultados de lajes submetidas ao
puncionamento simétrico e armadas com armaduras de cisalhamento disposta nos dois
tipos arranjo mais usuais. Quando comparado às previsões de resistência à punção do
Eurocode 2 (2010), armaduras dispostas em arranjo cruciforme tendem a proporcionar
resultados menos seguros em relação a armaduras dispostas radialmente. Para ambos os
arranjos, o aumento da resistência com a adição de armadura de cisalhamento tende a ser
menos efetivo conforme o aumento da taxa desta armadura. Estimativas de resistência
mais seguras podem ser feitas se consideradas as influências do arranjo e da taxa de
armadura transversal nas parcelas de contribuição do concreto e do aço. Modelos de
cálculo atuais, como os do Eurocode 2 (2010) e da NBR 6118 (2014), que consideram a
contribuição do concreto constante e a do aço diretamente proporcional à área de aço entre
determinados perímetros concêntricos ao pilar, tendem fornecer previsões inseguras a
partir de determinados incrementos de carga com a adição de armadura, bem como para
armaduras dispostas em cruz.
6 Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto de Estruturas
de Concreto. Rio de Janeiro, 2014.
BEUTEL, R., Punching of Flat Slabs with Shear Reinforcement at Inner Columns, Germany,
2002, 267 pp. (em Alemão).
BIRKLE, G., Punching of Flat Slabs: The Influence of Slab Thickness and Stud Layout. PhD
Thesis. Department of Civil Engineering, University of Calgary, Calgary, Canadá, 2004, 152
pp.
REGAN, P. E., Report on tests of reinforced concrete flat slabs with double-headed studs.
Correspondência pessoal com o autor.
STEIN, T.; GHALI, A.; DILGER, W., Distinction between Punching and Flexural Failure
Modes of Flat Plates. ACI Structural Journal, V. 104, No. 3, May-June 2007, pp. 357-365.
VOLLUM, R. L., ABDEL FATTAH, T., EDER, M., ELGHAZOULI, A. Y., Design of ACI type
punching shear reinforcement to Eurocode 2, Magazine of Concrete Research, 2010, V.62,
pp 3-16.