Você está na página 1de 10

Influência do Arranjo das Armaduras de Cisalhamento na Resistência à

Punção de Lajes Lisas de Concreto Armado


Influence of the Shear Reinforcement Arrangement in the Punching Resistance of
Reinforced Concrete Flat Slabs

Rafael N. M. Barros (1); Manoel J. M. Pereira Filho (1);


Marcelo R. Teixeira (2); Aarao F. Lima Neto (2); Maurício P. Ferreira (3)

(1) Mestrando em Engenharia Civil, Universidade Federal do Pará


(2) Professor, Faculdade de Engenharia Civil, CAMTUC, Universidade Federal do Pará
(3) Professor, Instituto de Tecnologia, Universidade Federal do Pará, e-mail: mpina@ufpa.br
Rua Augusto Corrêa, Número 01. Guamá – Belém – Pará. CEP: 66075-970

Resumo
A resistência à punção de lajes lisas de concreto armado com armadura de cisalhamento está relacionada à
contribuição das armaduras transversais na absorção de esforços tangenciais próximos à ligação laje-pilar.
Dependendo das necessidades de cada situação, as armaduras de cisalhamento podem ser dispostas de
diversas formas no plano da laje, gerando assim diferentes arranjos, tais como: arranjo radial, arranjo em cruz
e arranjo em grade. Os principais parâmetros relacionados ao arranjo são: espaçamento radial entre camadas
de barras transversais, espaçamento entre a primeira camada e a face do pilar, espaçamento circunferencial
entre barras transversais de uma mesma camada, taxa de armadura por camada, extensão da zona armada
ao cisalhamento, entre outros. A maioria dos modelos de cálculo considera apenas os espaçamentos radial
e circunferencial na resistência à punção de lajes lisas. Este trabalho avalia a influência do arranjo das
armaduras na resistência à punção a partir de resultados experimentais de diversos autores. É apresentado
um banco de dados com 108 lajes com pilares de seção transversal circular e quadrada submetidas à ruptura
simétrica por punção, com altura útil variável de 80 a 313 mm e taxa de armadura de cisalhamento de 0,005
a 1,6%. São analisadas as influências dos parâmetros acima, na carga e modo de ruptura e a contribuição da
armadura na resistência à punção. São verificadas as limitações das recomendações normativas Eurocode 2
(2004), ACI 2011 e Model Code 2010 (2011) para cálculo da resistência à punção e modo de ruptura.
Palavra-Chave: Concreto armado, Lajes lisas, Punção, Armadura de cisalhamento.

Abstract
The punching shear strength of RC flat slabs with shear reinforcement depends on the contribution of this
reinforcement to hold tangential stresses near slab-column connection. According to each particular situation,
the shear reinforcement could be placed on different arrangement, like radial, cross, and grid arrangement.
The main technical features involved are: radial spacing, distance from column face to innermost elements,
circumferential spacing, ratio of shear reinforcement per layer, and distance from column face to outermost
elements. Most of design models take into account only radial and circumferential spacings to estimate
punching shear strength. This paper evaluate the influence of the shear reinforcement arrangement in the
punching resistance of flat slabs based on experiments of many authors. A database with 108 slabs with
square/circular columns, subjected to punching and loaded symmetrically, effective depth varying from 80 to
313 mm and ratio of shear reinforcement from 0.005 to 1.6 %. The influence of foregoing technical features
on ultimate load, failure mode, and contribution of shear reinforcement on punching strength. The limitation of
design codes Eurocode 2 (2010), ACI 318 (2011), and FIB Model Code 2010(2011) for calculation of punching
shear strength are shown.
Keywords: Reinforced concrete, Flat slabs, Punching shear, Shear reinforcement.

ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 1


1 Introdução
O modo mais eficiente para aumentar a ductilidade e a capacidade resistente de uma laje
lisa é através do uso de armaduras de combate à punção. Pesquisas como as de GOMES
(1991), OLIVEIRA et al. (2000) e BROMS (2000) mostraram que o uso de armaduras de
cisalhamento pode ser extremamente eficiente no combate à punção, podendo até mesmo
mudar o modo de ruptura para flexão.

O efeito da adição de armaduras de combate ao cisalhamento em lajes lisas de concreto


foi testado pela primeira vez por GRAF (1933), que usou barras dobradas como armadura.
Conforme dito anteriormente, Elstner e Hognestad testaram algumas lajes com armadura
de cisalhamento, mas os resultados obtidos não foram animadores. Eles observaram que
o uso deste tipo de armadura poderia aumentar em no máximo 30% a capacidade resistente
das lajes e os levou a propor que uma ruptura por punção deveria ser evitada durante o
dimensionamento de uma laje lisa através de alterações em alguns parâmetros, como a
espessura da laje, a resistência à compressão do concreto e a dimensão do pilar, uma vez
que tentar isso através do uso de armaduras de cisalhamento poderia ser impraticável.

ANDERSON (1963) deu prosseguimento à pesquisa de Kinnunen e testou lajes com


armadura de cisalhamento. Suas lajes indicaram um determinado ganho de resistência com
o uso destas armaduras, se comparadas às lajes de Kinnunen, mas não o suficiente a ponto
de fazê-lo considerar o seu efeito de forma mais otimista na teoria que desenvolveu para
estimar a resistência à punção de lajes com armaduras de cisalhamento. BROMS (2005)
ressalta que as conclusões equivocadas quanto ao uso de armaduras de cisalhamento no
combate à punção, principalmente as feitas por Elstner e Hognestad, influenciaram
significativamente as pesquisas seguintes.

2 Arranjos de armaduras de cisalhamento no plano


2.1 Tipos de armadura
As primeiras armaduras para punção testadas por GRAF (1938), ELSTNER e
HOGNESTAD (1956) e ANDERSON (1963) foram barras dobradas (Figura 1a). Essas
armaduras podem ser eficientes se corretamente dimensionadas, porém podem gerar
problemas construtivos quando for necessário o uso de várias camadas de armadura para
evitar a ruptura fora da região das armaduras.

O uso de vários tipos de estribos também é comum para combater os efeitos de punção, e
no meio científico tem sido feitos ensaios com estribos fechados (Figura 1b), estribos
abertos (Figura 1c), estribos em pente (Figura 1d) e estribos inclinados (Figura 1e). De
modo geral estribos fechados e estribos pente são de difícil utilização devido complicações
durante a etapa de armação. Estribos abertos, apresentam uma execução relativamente
mais simples em relação aos estribos anteriores. Pesquisas brasileiras como as de MELO
et al. (2000), ANDRADE (2000) e TRAUTWEIN (2001) desenvolveram um tipo de estribo
aberto com ângulos de inclinação de 45º e 60º, estes estribos quando inclinados a 60º
mostraram ter grande eficiência, porém pouco utilizado por questões construtivas.
ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 2
Estribos pré-fabricados foram desenvolvidos por CHANA (1993). Eles são módulos de
estribos soldados em uma armadura em forma de aro colocados em torno do pilar. Com
esse sistema buscou-se resolver muitos dos problemas construtivos apresentados pelos
estribos, embora ainda houvesse a necessidade de maior empenho na mão-de-obra para
envolver as armaduras de cisalhamento nas armaduras de flexão superiores. Para evitar
esses eventuais problemas construtivos observados nos estribos convencionais, BEUTEL
e HEGGER (2000) desenvolveram dois tipos de estribos com boas condições de
ancoragem (envolvendo a armadura superior) e de fácil montagem, um tipo não envolvendo
a armadura inferior e outro envolvendo a armadura superior. Porém, assim como CHANA
(1993), sua fabricação tem a necessidade de acrescentar a atividade de soldagem.

a) Barras dobradas b) Estribos fechados

c) Estribos abertos d) Estribos em pente

e) Estribos inclinados f) Studs rails

g) Double headed studs


Figura 1 – Tipos de Armaduras de Cisalhamento

ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 3


Armadura com cabeças de ancoragem são muito utilizadas, devido sua industrialização que
resulta em um maior controle de qualidade. A armadura tipo studs rail (Figura 1f),
desenvolvidos na Universidade de Calgary, consiste em barras soldadas em tiras de aço
com cabeça de ancoragem na extremidade, são muito eficientes e de fácil montagem in
loco. A armadura tipo double headed studs (Figura 1g), embora menos eficiente que os
studs rails como observado nos ensaios de REGAN e SAMADIAN (2001), são mais
utilizados, pois sua montagem é mais simples, podendo ser colocado após a montagem
das armaduras de flexão, ao contrário dos studs rails. GOMES e REGAN (1999) utilizaram
fatias de perfis I metálicos para utilizar como armaduras de combate a punção, que se
demonstraram muito eficientes, alcançando acréscimos de resistência de
aproximadamente 100% em relação à laje de referência e com ruptura fora da região das
armaduras.

2.2 Tipos de arranjo


O arranjo das armaduras de cisalhamento no plano pode ser dividido, basicamente, em
quatro tipo: radial, em grade, circunferencial e em cruz, conforme a Figura 2. As principais
diferenças técnicas entre os diferentes arranjos são o espaçamento entre a primeira
camada de armadura e a face do pilar (s0), o espaçamento entre camadas sucessivas (sr),
espaçamento circunferencial entre barras transversais de mesma camada (s c) e taxa de
armadura transversal por camada (ρwi).

Nos arranjos radiais a armadura de cisalhamento é disposta ao longo de linhas radiais em


direção ao centro do pilar, geralmente em perímetros circunferenciais com espaçamento
radial constante, com o objetivo de acompanhar a distribuição radialmente simétrica das
tensões de cisalhamento. Nos casos mais usuais, em que as extremidades da armadura
de cisalhamento se encontram ao mesmo nível ou externas às camadas de armadura
longitudinal, este tipo de arranjo pode gerar interferências entre as montagens das
armaduras longitudinal e transversal. Este problema é resolvido afastando-se as barras
longitudinais ou as barras transversais conforme o necessário para a montagem. As
alterações no espaçamento entre as barras longitudinais e na posição das barras
transversais modificam as taxas de armadura longitudinal e transversal efetivas na
resistência à flexão e à punção, respectivamente. Os efeitos destas modificações não serão
avaliados neste trabalho.

O arranjo em cruz se assemelha ao arranjo radial quanto ao espaçamento constante entre


camadas circunferenciais, porém, as linhas de armadura, ao invés de radiais se dispõem
em apenas duas direções ortogonais e não se estendem muito além de faixas delimitadas
pelas faces do pilar. Conforme as camadas de armadura se afastam das faces do pilar, o
espaçamento circunferencial tende a aumentar e nestes trechos, desde que cortados pela
superfície de ruptura diagonal na punção, a resistência é garantida apenas pelo concreto.

Os arranjos em grade e circunferencial são semelhantes quanto ao espaçamento entre


camadas constante e ao fato de as armaduras se disporem ao longo de linhas ortogonais.
A diferença entre eles é que no arranjo em grade o espaçamento entre as barras

ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 4


transversais de uma mesma camada é constante ao longo de uma mesma direção, o que
garante um alinhamento entre as seções destas barras em ambas as direções ortogonais,
enquanto que no arranjo circunferencial o espaçamento anterior não é constante e as
seções não necessariamente ficam alinhadas.

Os três últimos tipos de arranjo descritos acima se caracterizam por causar menos
interferências na montagem das armaduras, quando comparados ao primeiro tipo, porém,
estudos relacionados à influência do tipo de arranjo das armaduras na resistência à punção
ainda são escassos.

a) b)

c) d)
Figura 2 - Arranjos possíveis de armaduras de cisalhamento: a) arranjo radial; b) arranjo em cruz; c) arranjo
em grade; d) arranjo circunferencial

2.3 Recomendações normativas


2.3.2 Eurocode 2 (2010)
O Eurocode, igualmente ao ACI, prevê a resistência à punção aplicando uma tensão
resistente em uma área determinada a partir de um perímetro de controle, porem esse
perímetro é posicionado ao fim da fissura de punção, considerando o ângulo de 26,6º, ou
seja, com um afastamento de 2d em relação ao pilar, como exemplificado na Figura 3.

ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 5


Figura 3 – Perímetro de controle segundo Eurocode 2

Para encontrar a tensão resistente, o Eurocode utiliza a mesma recomendação empírica


para prever a resistência de vigas, a qual considera efeitos de escala e taxa de armadura
de flexão, além da resistência a compressão do concreto utilizada pelo ACI. A resistência
à punção sem armaduras de cisalhamento pode ser obtida através da Equação 1.
1
VRc =0,18∙k∙(100∙ρ∙fc )3 ∙u1 ∙d ≥ vmin ∙ b0,EC ∙d Equação 1

Onde:
200
k é a parcela do efeito de escala obtida através de k =1+√ ≤ 2, d em mm;
d
ρ é a media da taxa de armadura nas duas direções calculado por 𝜌 = √𝜌x ∙ 𝜌y ≤ 0,02,
onde ρx e ρy são as taxas de armadura de flexão da laje nos sentidos x e y, levando em
consideração apenas uma faixa de laje igual à base do pilar mais 3d para cada lado.
fc é resistência à compressão do concreto;
u1 é o perímetro de controle afastado em 2d do pilar;
d é a altura útil da laje.
vmin é a tensão resistente mínima para o caso de taxas de armadura de flexão muito
2
baixas. Obtida através de vmin =0,035∙k 3 ∙√fc

No dimensionamento de lajes com armaduras de combates a punção o Eurocode, assim


como o ACI, também estabelece a verificação de três modos de ruptura. Na verificação da
ruptura com a superfície da fissura cortando a região das armaduras (VRcs) a norma
recomenda que some 75% da resistência à punção sem armadura com a resultante do aço
dentro da área de influência do perímetro de controle. Na verificação da ruptura fora da
região das armaduras (VRout) é recomendado o uso da tensão resistente à punção fora em
um perímetro afastado em 1,5d da região das armaduras, como ilustra a Figura 2. E para
ruptura pelo esmagamento da biela (VRmax), o Eurocode utiliza a mesma recomendação
para o esmagamento de bielas em vigas, porem com a área limitada ao perímetro do pilar.

ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 6


1,5∙d
VRcs =0,75∙VRc +Asw ∙fyw,ef ∙ ( ) Equação 2
sr
1
VRout =0,18∙k∙(100∙ρ∙fc )3 ∙uout ∙d Equação 3
VRmax = 0,4∙fc ∙ υ ∙ u0 ∙ d Equação 4
Onde:
Asw é a área de aço da secção transversal de um perímetro de armaduras;
fyw,ef é a tensão de efetiva na armadura de cisalhamento, a qual deve ser calculada através
fyw,ef =1,15∙(250+0,25∙d)≤fyw , em MPa e o d em mm;
sr é o espaçamento entre os perímetros de armadura;
uout,EC é o perímetro de controle afastado a 1,5d da região das armaduras, como mostra a
Figura 4;
ν é o fator de redução da eficiência da resistência à compressão do concreto da biela devida
a localização em uma zona fissurada devida a tensões de tração lateral. Dado por υ=0,6∙ (1-
fc
);
250
u0 é o perímetro do pilar.

Figura 4 – Perímetro de controle fora da região das armaduras segundo o Eurocode 2

2.3.3 NBR 6118 (2014)


Igualmente ao Eurocode, a NBR 6118 tem suas recomendações à punção baseadas no
CEB-FIP MC 90 (1993). Assim, para a verificação da resistência de lajes sem armadura de
combate à punção (VRc) se dá pela Equação 5, porém sem as limitações para a taxa de
armadura de flexão e para o efeito de escala.

Para lajes armadas a punção, a NBR verifica três modos de ruptura. Para o cálculo com
plano de ruptura dentro da região das armaduras (VRcs) utiliza-se a Equação 6, porem com
fyw,ef não superando 345 MPa para conectores e não superando 287,5 MPa para estribos.
Para o cálculo com o plano ruptura fora da região das armaduras (VRout) é feito de acordo
com a Equação 7, porem o perímetro de controle afastado em 2d da última camada de
armaduras, como ilustra a Figura 5. E na verificação ao esmagamento da biela comprimida
(VRmax), o cálculo é feito por analogia ao esmagamento de bielas em vigas de acordo com
a Equação 5.
ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 7
VRmax = 0,378∙fc ∙ υ ∙ u0 ∙ d Equação 5

Figura 5 – Perímetro de controle fora da região das armaduras segundo a NBR 6118

3 Resultados experimentais
São avaliados os resultados de 37 lajes de nove autores diferentes submetidas ao
puncionamento simétrico e armadas ao cisalhamento com armaduras do tipo double
headed studs, das quais 18 possuem armaduras em arranjo radial e 19, em arranjo em
cruz. A análise é feita apenas com lajes em que a superfície de ruptura se formou dentro
da região das armaduras transversais. Não foram considerados os casos em que houve
deformação plástica excessiva, que evidencia ruptura por flexão.

A influência do arranjo é feita relacionando-se o acréscimo de resistência calculado devido


à adição de armadura de cisalhamento ao acréscimo de resistência real, obtido em ensaio.
Os cálculos são feitos segundo as recomendações da norma Eurocode 2 (2010). Na Figura
6. a relação entre resultados calculados e resultados experimentais é apresentada de duas
maneiras: na primeira, compara-se a eficácia da estimativa do acréscimo de resistência
devido à adição de armadura de cisalhamento conforme o aumento de resistência desejado
(Figura ... a)); a outra maneira, avalia a resistência última calculada em função unicamente
da adição de armadura de cisalhamento (Figura ... b)). Os dois gráficos evidenciam a
diminuição da eficácia das estimativas do Eurocode 2 conforme o acréscimo de resistência
desejado, relativamente a lajes sem armadura. Como o modelo de cálculo utilizado
considera um valor fixo para a contribuição do concreto (75% da resistência de uma laje
sem armadura de cisalhamento), afirmar que a contribuição da armadura de cisalhamento
diminui com o aumento de sua taxa, a partir dos gráficos abaixo, pode ser equivocado, visto
que não se está considerando a hipótese de uma possível diminuição de contribuição do
concreto conforme o aumento da taxa de armadura de cisalhamento. Aliás, a contribuição
do concreto sugerida não se baseia em nenhum modelo físico ou mecânico.

Uma adequada avaliação do aumento da resistência à punção deve ser feita considerando
valores de Vc baseados não em cálculos teóricos, mas experimentos em lajes sem
armadura, além de que a contribuição real do aço deve ser obtida instrumentando-se
adequadamente a maior quantidade de barras transversais possível.
ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 8
Observa-se que arranjos em cruz tendem a proporcionar resultados menos seguros em
comparação a lajes armadas com armadura de cisalhamento disposta radialmente.
Novamente, considera-se um valor constante para a contribuição do concreto. Desta vez,
desconsidera-se uma possível redistribuição dos esforços internos na laje devido à
concentração das armaduras ao longo de faixas ortogonais, no arranjo em cruz. Ao invés
disto, considera-se em todos os casos que as tensões de cisalhamento se distribuem ao
longo de sucessivos contornos delineados unicamente em função da seção transversal do
pilar.

2,5 1,5

2,0
1,0
VExp / VR,cs
VExp / VR,c

1,5

1,0
0,5
0,5 cruz cruz
radial radial
0,0 0,0
1,0 1,5 2,0 2,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
VR,cs / VR,c VR,s / VR,c
a) b)
Figura 6 – Relação entre o incremento de resistência calculada e o incremento de carga
experimental

4 Conclusão
Neste trabalho foi observada uma diferença entre os resultados de lajes submetidas ao
puncionamento simétrico e armadas com armaduras de cisalhamento disposta nos dois
tipos arranjo mais usuais. Quando comparado às previsões de resistência à punção do
Eurocode 2 (2010), armaduras dispostas em arranjo cruciforme tendem a proporcionar
resultados menos seguros em relação a armaduras dispostas radialmente. Para ambos os
arranjos, o aumento da resistência com a adição de armadura de cisalhamento tende a ser
menos efetivo conforme o aumento da taxa desta armadura. Estimativas de resistência
mais seguras podem ser feitas se consideradas as influências do arranjo e da taxa de
armadura transversal nas parcelas de contribuição do concreto e do aço. Modelos de
cálculo atuais, como os do Eurocode 2 (2010) e da NBR 6118 (2014), que consideram a
contribuição do concreto constante e a do aço diretamente proporcional à área de aço entre
determinados perímetros concêntricos ao pilar, tendem fornecer previsões inseguras a
partir de determinados incrementos de carga com a adição de armadura, bem como para
armaduras dispostas em cruz.

ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 9


5 Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer pelo apoio a esta e a outras pesquisas à: Universidade
Federal do Pará; ao Núcleo de Desenvolvimento Amazônico em Engenharia (NDAE); ao
Campus de Tucuruí; à Eletronorte; e às Agências de fomento CNPq, CAPES e FAPESPA.

6 Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto de Estruturas
de Concreto. Rio de Janeiro, 2014.

BEUTEL, R., Punching of Flat Slabs with Shear Reinforcement at Inner Columns, Germany,
2002, 267 pp. (em Alemão).

BIRKLE, G., Punching of Flat Slabs: The Influence of Slab Thickness and Stud Layout. PhD
Thesis. Department of Civil Engineering, University of Calgary, Calgary, Canadá, 2004, 152
pp.

GOMES, R. B. e REGAN, P. E., Punching Resistance of RC Flat Slabs with Shear


Reinforcement. Journal of Structural Engineering, 1999, 684-692.

MARZOUK, H.; HUSSEIN, A., Experimental Investigation on the Behavior of High-Strength


Concrete Slabs. ACI Structural Journal, V. 88, No. 6, Nov.-Dec. 1991, pp. 701-713.

REGAN, P. E., SAMADIAN, F., Shear Reinforcement against Punching in Reinforced


Concrete Flat Slabs, The Structural Engineer, V. 79, No. 10, May 2001, pp. 24-31.

REGAN, P. E., Report on tests of reinforced concrete flat slabs with double-headed studs.
Correspondência pessoal com o autor.

STEIN, T.; GHALI, A.; DILGER, W., Distinction between Punching and Flexural Failure
Modes of Flat Plates. ACI Structural Journal, V. 104, No. 3, May-June 2007, pp. 357-365.

VOLLUM, R. L., ABDEL FATTAH, T., EDER, M., ELGHAZOULI, A. Y., Design of ACI type
punching shear reinforcement to Eurocode 2, Magazine of Concrete Research, 2010, V.62,
pp 3-16.

ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 10

Você também pode gostar