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Manoel J. M. Pereira Filho (1); Marcus V. P. Freitas (2); Aarão F. Lima Neto (1);
Guilherme S. S. A. Melo (3); Mauricio P. Ferreira (4)
Resumo
Este trabalho apresenta os resultados de ensaios em lajes armadas à punção com treliças pré-fabricadas
desconectadas da armadura de flexão, desenvolvidas para otimizar o processo construtivo. As diretrizes
gerais para projeto, detalhamento e montagem desta armadura são apresentadas com base nas
recomendações apresentadas pelo ACI 318, Eurocode 2. Uma laje sem armadura de cisalhamento e uma
laje armada com conectores de punção foram testadas como referência para ensaios em duas lajes com os
módulos de treliça pré-fabricados como armadura de punção. A resposta carga-rotação e as cargas de
ruptura são apresentadas e discutidas em comparação com estimativas teóricas obtidas de acordo com as
normas de projeto. O perfil de tensão e distribuição de deformações na armadura flexão e de cisalhamento
também são apresentados e discutidos. A laje com treliça pré-fabricada inclinada registrou resposta e
resistência semelhantes em relação à laje com conectores de punção. Estes ensaios confirmam a eficácia
deste tipo de armadura de punção, visto que uma das lajes apresentava quase o dobro da resistência e
mais de três vezes a capacidade de deformação da laje de referência sem armadura de cisalhamento.
Palavra-Chave: Lajes lisas, Punção, Armadura de Cisalhamento, Barras treliçadas, Conectores de punção
Abstract
This paper presents the results of tests on slabs with punching shear reinforcement formed by prefabricated
truss assemblies disconnected from the flexural reinforcement, developed to optimize the construction
process. General guidelines for design, detailing, and assembly of this reinforcement are presented, based
on the recommendations presented by ACI 318, Eurocode 2. One slab without shear reinforcement and one
slab with stud rails were tested as a reference for tests on two slabs with the prefabricated truss modules as
punching shear reinforcement. The load-rotation response and the failure loads are presented and discussed
in comparison with theoretical estimates obtained following the design codes. The profile of stress and strain
distribution on the flexural and shear reinforcement are also presented and discussed. The slab with inclined
prefabricated truss bars registered similar response and resistance compared to the one with stud rails.
These tests confirm the effectiveness of this kind of punching shear reinforcement, as one of the slabs had
almost twice the strength and more than three times the deformation capacity of the reference slab without
shear reinforcement.
Keywords: Flat slabs, Punching shear, Shear reinforcement, Truss bars, Stud rails.
Este artigo apresenta resultados experimentais de uma série de testes em ligações laje-
pilar carregadas concentricamente para investigar o desempenho dos estribos treliçados
pré-fabricados mostrados na Figura 2 como armadura de cisalhamento. Foram realizados
quatro ensaios, sendo dois ensaios em lajes de referência: um sem armadura de
cisalhamento e outro com grande quantidade de Studs Rails como armadura de
cisalhamento distribuídos em arranjos radiais. As outras duas lajes ensaiadas tiveram os
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estribos treliçados pré-fabricados como armadura de combate à punção: uma com ângulo
de 90º entre o plano horizontal da laje e o eixo das treliças (α = 90º) e outra com ângulo
de 60º entre o plano horizontal e o eixo de barras de treliça (α = 60º). Este artigo descreve
e discute a resposta experimental dessas lajes e compara suas resistências com as
previsões teóricas obtidas seguindo as recomendações apresentadas pelo ACI 318
(2019), Eurocode 2 (2004), Eurocode 2 (2010), Eurocode 2 (2014) e fib Model Code 2010
(2013). O desempenho deste novo tipo de armadura de cisalhamento deve ser
investigado em ligações laje-pilar sob situações de carregamento excêntrico e cíclico
invertido.
a) Módulo com estribos verticais (α=90º) b) Módulo com estribos inclinados (α=60º)
Figura 2 – Módulos dos estribos treliçados pré-fabricados como armadura de cisalhamento
Na laje SR1 foram utilizados Studs Rails dispostos radialmente e feitos com vergalhões
de 16 mm. Em suas extremidades superiores, as cabeças utilizadas como ancoragem
foram forjadas com diâmetro de 40 mm e 10 mm de espessura. A relação entre o
diâmetro das cabeças e o diâmetro da haste foi de 2,5, valor padrão aplicado pelo
fornecedor brasileiro, que é menor que 3,0, relação usual no exterior. Na parte inferior, as
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barras foram soldadas a trilhos de aço de 33 mm de largura e 10 mm de espessura. A
Figura 6a apresenta o detalhamento da armadura de cisalhamento da laje SR1.
O concreto utilizado nas lajes foi feito com Cimento Portland Tipo IV (baixo calor de
hidratação), areia natural e agregado graúdo de basalto com tamanho máximo de 19 mm.
Para cada laje, seis corpos de prova de 100 x 200 mm foram usados para determinar a
resistência à tração e à compressão do concreto. Foram realizados ensaios em três
corpos de prova de 150 x 300 mm para obter o módulo de elasticidade do concreto para
cada laje. A Tabela 1 também resume as propriedades do concreto. A resistência à tração
de divisão (fct,sp) medida foi 16% acima do valor teórico esperado pelo EC2.
Contrariamente, o módulo de elasticidade do concreto (Ec) medido nestes ensaios
apresentou boa correlação com os valores teóricos esperados pelo EC2, considerando o
aumento de 20% dos agregados de basalto.
As deflexões foram medidas continuamente em 12 pontos ao longo dos eixos da laje por
meio de Transdutores de Deslocamento Vertical Linear, fixados em viga de aço apoiada
na laje. As deformações das armaduras de cisalhamento e de flexão foram medidas por
pares de extensômetros em barras selecionadas (ver Figura 7a e Figura 7b).
Deformações radiais e tangenciais na superfície de concreto também foram monitoradas
nas proximidades do pilar nos pontos mostrados na Figura 7c.
5 Resultados
5.1 Comportamento a flexão
A Figura 9 mostra a resposta carga-rotação das lajes ensaiadas, servindo de referência
para avaliar o desempenho da armadura de cisalhamento desenvolvida pelos autores em
termos de ductilidade e capacidade de carga. A rotação das lajes foi calculada como a
inclinação média obtida pela diferença entre os deslocamentos verticais medidos pelos
LVDTs adjacentes ao pilar e os LVDT’s adjacentes a aplicação de carga. A laje S0
rompeu repentinamente, por punção, com pequena capacidade de deformação antes e
depois do pico de carga. A laje SR1, com Studs Rails bem ancorados, apresentou o
melhor desempenho entre as lajes ensaiadas, atingindo 2,01 vezes a resistência da laje
de referência (S0) e apresentando boa ductilidade e resposta pós-pico. Ressalta-se que o
excelente resultado obtido com a laje SR1 provavelmente foi afetado pela melhoria dos
níveis de ancoragem alcançados ao avançar com os pinos através do cobrimento de
concreto.
A laje SW1, com estribos treliçados pré-fabricados verticais (α=90º), atingiu menores
níveis de resistência e sua ruptura foi mais frágil quando comparada às demais lajes com
armadura de cisalhamento. Ainda assim, o aumento da resistência foi relevante,
chegando a 1,64 vezes a resistência medida para a laje S0. Sua capacidade de rotação
antes da ruptura também foi menor que a observada para as demais lajes reforçadas ao
cisalhamento, sendo 37% e 31% menor que a medida para as lajes SR1 e SW2,
respectivamente. A inclinação dos estribos adotados na laje SW2 mostrou-se uma medida
eficiente para o dimensionamento laje-pilar, pois melhorou tanto a resistência quanto a
ductilidade quando seus resultados são comparados com os da laje SW1.
Para EC2, a tensão média desenvolvida nos três primeiros perímetros dos Studs ficou
ligeiramente abaixo do nível de tensão efetiva assumido por este código para a laje SR1.
A laje SW1 apresentou baixos níveis de tensão na armadura de cisalhamento (40% do
limite de escoamento nas duas primeiras camadas) e ficou bastante distante do nível de
tensão esperado pelo EC2 para lajes com estribos bem ancorados. Por outro lado, a laje
SW2 apresentou tensão média nas duas primeiras camadas de 60% da tensão de
escoamento do aço, próxima aos valores de EC2. Ainda assim, esses resultados
evidenciam a necessidade de ajustes nas equações EC2 para uso seguro dessas novas
armaduras de punção.
A Figura 12 mostra as tensões nos ganchos em U das lajes SW1 e SW2. Os ganchos em
U superiores (T1 e T2) foram acionados em um estágio de carga próximo à carga de
fissuração por flexão das lajes. O gancho em U T1 provavelmente foi atravessado pela
fissura de flexão que circunda o pilar, e os resultados não mostram necessariamente uma
contribuição desses ganchos em U para a ancoragem das treliças. O gancho em U T2
apresentou baixo nível de tensão, principalmente para a laje SW1.
a) SW1 b) SW2
Figura 12 – Tensões médias nas armaduras complementares U-hook
Figura 13 – Comparação entre os resultados experimentais e previsões teóricas dos códigos normativos
Embora as lajes não tenham sido serradas após os ensaios, os autores consideram que
todas falharam por punção. Os códigos forneceram previsões seguras de resistência para
todas as lajes testadas, incluindo as lajes com os estribos treliçados pré-fabricados
propostas, que não envolvem a armadura de flexão. A segurança das previsões ACI e
MC10 foi garantida pelas limitações conservadoras adotadas em suas equações para
estimar a resistência ao esmagamento da biela de concreto próximo ao pilar (VRmax), que
foram capazes de controlar as estimativas inseguras obtidas para o caso de ruptura por
punção dentro da região de cisalhamento reforçada (VRcs). Para EC2, as estimativas
foram do lado seguro para previsões relacionadas a VRcs devido à limitação considerada
no Anexo Britânico (VRcs < 1.5·VRc). Por fim, observa-se que a laje SW2 apresentou níveis
de incremento de resistência semelhantes aos observados para a laje SR1, confirmando a
relevância da armadura de punção desenvolvida pelos autores.
6 Conclusões
Este artigo apresenta resultados de uma série de quatro ensaios experimentais em
ligações laje-pilar realizados para avaliar o desempenho estrutural de um novo tipo de
armadura de cisalhamento. O comportamento e a resistência última das lajes nestes
ensaios foram discutidos e comparados com as previsões teóricas obtidas seguindo as
recomendações apresentadas pelo ACI 318 (2019), Eurocode 2 (2004), Eurocode 2
(2010), Eurocode 2 (2014). As principais conclusões são:
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• Estes testes confirmam a eficácia das barras pré-fabricadas de treliça
apresentadas neste trabalho para uso como armadura de combate a punção em
ligações laje-pilar.
• Os módulos dos estribos treliçados pré-fabricados com ângulo de 60º entre o plano
horizontal da laje e o eixo das treliças apresentaram melhor desempenho quando
comparados aos com ângulo de 90º, tanto em termos de aumento de resistência
quanto, principalmente, em termos de capacidade de deformação. Vale ressaltar
que esses ensaios foram realizados em lajes carregadas concentricamente. Outros
ensaios experimentais devem ser realizados para investigar o desempenho das
barras pré-fabricadas como armadura de punção em ligações laje-pilar sob
carregamento excêntrico e cíclico invertido.
• A laje SW2, com estribos treliçados pré-fabricados inclinados como armadura de
cisalhamento, apresentou desempenho semelhante à laje SR1, com Studs Rails
bem ancorados (suas extremidades foram ancoradas acima da zona de armadura
de flexão, invadindo a camada de cobertura de concreto).
• Os perímetros de armadura de cisalhamento distribuídos ao longo de uma distância
de 1,2d do pilar foram ativados antes da ruptura em todos os ensaios.
• As treliças pré-fabricadas com ângulo de 60º entre o plano horizontal da laje e o
eixo das treliças desenvolveram maiores deformações e tensões do que as
observadas para as treliças de 90º nas camadas ativadas.
• As lajes com estribos treliçados pré-fabricados desenvolveram níveis de tensão
menores do que a laje com Studs Rails, mostrando que a previsão do código de
projeto deve ser ajustada para seu uso seguro.
• Os ganchos em U posicionados nas barras longitudinais superior e inferior foram
acionados gradativamente ao longo dos ensaios, funcionando como reforço
complementar e auxiliando efetivamente na ancoragem dos estribos treliçados pré-
fabricados. Eles foram essenciais para evitar ou adiar falhas prematuras por
delaminação e permitiram incrementos de resistência de até 1,92.
• A previsão de resistência obtida usando os códigos de projeto apresentou
resultados seguros para todas as lajes. No entanto, pesquisas experimentais mais
extensas são necessárias para avaliar os ajustes necessários para que os estribos
treliçados pré-fabricados possam ser utilizados com segurança para o
dimensionamento das ligações laje-pilar.
8 Referências
YAMADA, T.; NANNI, A.; ENDO, K.. Punching shear resistance of flat slabs: Influence
of reinforcement type and ratio. ACI Structural Journal. 1992.
ELIGEHAUSEN, R.; VOCKE, H.; CLAUSS, A.; FURCHE, J.; BAUERMEISTER, U.. Neue
Durchstanzbewehrung für Elementdecken. Beton-Und Stahlbetonbau 2003.
FURCHE, J.; SIBURG, C.; BAUERMEISTER, U.. Highly effective lattice punching
shear reinforcement. American Concrete Institute, ACI Spececial Publication. 2017.
SCHMIDT, P.; KUERES, D.; HEGGER, J.. Punching shear behavior of reinforced
concrete flat slabs with a varying amount of shear reinforcement. Structural Concrete
2019.