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ESTRUTURAS DE BETÃO

FOLHAS DE APOIO ÀS AULAS

Corpo Docente:

José Noronha da Camara

António Costa

João F. Almeida

Jorge Alfaiate

Ano Lectivo

2018/2019

ESTRUTURAS DE BETÃO

FOLHAS DE APOIO ÀS AULAS

Corpo Docente:

José Noronha da Camara

António Costa

João F. Almeida

Eduardo Júlio

Jorge Alfaiate

Ano Lectivo 2017/2018

Introdução

Estas folhas de apoio às aulas têm como objectivo facilitar o seu

acompanhamento, contando, no essencial, de apontamentos de síntese que não

dispensam a consulta de outros apontamentos das disciplinas de Estruturas de Betão I

e II e da bibliografia proposta, onde deve ser realçado o recente livro sobre Estruturas

de Betão da autoria do Prof. Júlio Appleton.

Estes apontamentos resultaram da experiência de ensino e de textos anteriores das

disciplinas de Betão Estrutural para os quais contribuíram os docentes que as

leccionaram, sob a orientação do Prof. Júlio Appleton, que foi, nesta escola, desde o

início dos anos 80 até ao ano lectivo 2010/2011, o responsável por esta área da

engenharia de estruturas. Durante o ano lectivo 2003/2004 o Prof. Júlio Appleton, com

a colaboração da Engª Carla Marchão, organizou a 1ª versão destas folhas de apoio

às aulas. A estas, foram sendo introduzidas ao longo destes últimos anos várias

contribuições, mais directamente, dos Profs. António Costa e João Almeida e José

Camara.

Neste ano lectivo de 2016/2017, assiste-se a uma adaptação dos curricula destas

duas disciplinas, em linha com um realinhamento das matérias a ensinar na fileira das

disciplinas de engenharia estrutural. Assim, a unidade curricular de Estruturas de

Betão I, terá um âmbito mais generalista do que teve até ao presente, cobrindo um

maior leque de tópicos, sendo que nas Estruturas de Betão II os alunos terão

oportunidade de aprofundar com outro detalhe as matérias em causa. Resulta desta

situação que estas folhas de apoio não têm o mesmo encadeamento das matérias a

serem expostas em cada uma das disciplinas, exigindo, da parte dos alunos, um mais

apertado acompanhamento da exposição das matérias.

Relativamente ao essencial do ensino do betão estrutural é importante realçar que se

pretende transmitir o conhecimento sobre as características do comportamento

estrutural e fundamentação dos modelos de cálculo, aspectos que se repercutem

depois, naturalmente, nas prescrições normativas, com algumas variações.

Ao longo destes últimos anos têm sido referidas na disciplina, em geral, as normas

europeias (Eurocódigos), já aprovados na versão definitiva (EN). Refira-se que, no

entanto, não houve ainda uma aprovação formal, sendo possível utilizar, no âmbito

profissional, em alternativa, a regulamentação nacional (REBAP Regulamento de

Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado) ou a regulamentação europeia

(Eurocódigo 2 Projecto de Estruturas de Betão).

Como atrás mencionado esta disciplina está integrada na área da engenharia de

estruturas, e portanto é fundamental que os alunos tenham uma boa percepção do

estruturas isostáticas. As matérias tratadas na Resistência dos Materiais, referentes ao

comportamento de peças lineares em tracção, flexão, esforço transverso, torção e em

zonas onde a hipótese de Bernoulli não é válida (Princípio de Saint-Venant), são uma

base fundamental. É também importante relembrar o comportamento elástico-plástico

das estruturas, para se poder compreender a influência das características do

comportamento não linear dos materiais na resposta das estruturas.

Finalmente refira-se a relevância dos Teoremas Limite da Teoria da Plasticidade,

Estático e Cinemático, principalmente o Estático, para a boa compreensão das

metodologias de dimensionamento e verificação da segurança das estruturas das

Estruturas de Betão.

IST, Setembro de 2016

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO AO COMPORTAMENTO DO BETÃO ESTRUTURAL 1

1.1. Elemento de betão sem inclusão de armaduras 1

1.2. Elemento de betão armado 4

1.2.1 Cálculo das tensões numa secção após fendilhação 5

1.2.2 Cálculo do momento de cedência da secção 9

1.3. Diferença do comportamento secção/estrutura 10

2 CONCEITO DE SEGURANÇA NO DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS 11

2.1 Objectivos de segurança na engenharia estrutural em geral 12

2.2 Filosofia adoptada na verificação da segurança em relação aos Estados Limites Últimos

13

2.3 Filosofia adoptada na verificação da segurança em relação aos Estados Limites de

Utilização 16

3 MATERIAIS 23

3.1 Caracterização dos betões 23

3.1.1 Tensões de rotura do betão 24

3.1.2 Módulo de elasticidade do betão 24

3.1.3 Valor característico da tensão de rotura do betão à compressão fc 24

3.2 Caracterização das armaduras 25

3.2.1 Classificação das armaduras para betão armado 25

4 VERIFICAÇÕES DE SEGURANÇA À ROTURA POR FLEXÃO 26

4.1 Relações tensão-extensão dos materiais para verificação da segurança aos E.L. Últimos

27

4.1.1 Betão 27

4.1.2 AÇO 27

4.2 Análise da secção. Método Geral 29

4.3 Método do diagrama rectangular 30

4.3.1 Cálculo de MRD 30

4.4 Resistência à flexão simples com o aumento de armaduras 38

4.5 Dimensionamento à Flexão Simples Grandezas Adimensionais 40

4.5.1 Método GeraL 40

4.5.1.1 Grandezas adimensionais 41

4.5.2 Método do Diagrama Rectangular Simplificado 42

4.5.2.1 Grandezas adimensionais 42

4.5.3 Utilização de Tabelas 42

4.5.3.1 Determinação da capacidade resistente (Análise) 43

4.5.3.2 Dimensionamento de armaduras 43

4.6 Estimativa do Momento Resistente 44

4.7 Parâmetros que influenciam o valor do Momento Resistente 47

4.8 Dimensionamento de secções com outras formas 48

4.8.1 Largura efectiva de uma secção em T 48

4.8.1.1 Avaliação da largura efectiva 49

4.8.2 50

4.8.3 Simplificação de secções para efeitos de dimensionamento à flexão simples 52

5 DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS GERAIS 56

5.1 Recobrimento das armaduras 57

5.2 Distância livre entre armaduras (s) 57

5.3 Agrupamentos de armaduras 58

5.4 Dobragem de varões 59

5.5 Posicionamento das armaduras 59

5.6 Princípios a ter em atenção na pormenorização das armaduras 60

5.7 Disposições construtivas em vigas Armaduras longitudinais de flexão 60

5.7.1 Quantidades mínima e máxima de armadura 60

5.7.2 Armadura longitudinal superior nos apoios de extremidade 61

6 INTRODUÇÃO AO COMPORTAMENTO NÃO LINEAR DE ESTRUTURAS DE BETÃO

61

6.1 Análise Elástica seguida de Redistribuição de Esforços 62

6.2 Aplicação directa do cálculo plástico (Teorema estático) 66

6.3 Exemplos de Aplicação Prática da Não Linearidade na Verificação da Segurança das

Estruturas 67

7 ESFORÇO TRANSVERSO E TORÇÃO 71

7.1 Comportamento elástico e modelo de comportamento na rotura ao Esforço Transverso 71

7.2 Possíveis modos de rotura e verificações de segurança correspondentes 78

7.3 Influência do esforço transverso nas compressões e tracções da flexão 84

7.3.1 Rotura por arrancamento da armadura longitudinal no apoio de extremidade 85

7.3.2 Armadura longitudinal no vão 86

7.3.3 Apoio de continuidade 87

7.4 Disposições das armaduras transversais 88

7.5 Espaçamento entre estribos e sua pormenorização 88

7.6 Amarração de Armaduras 93

7.6.1 Comprimento de amarração 93

7.6.2 Comprimento de emenda 96

7.7 Armadura de Ligação Banzo-Alma 108

7.8 Armadura de suspensão 110

7.8.1 Carga distribuída aplicada na parte inferior da viga 110

7.8.2 Apoios indirectos 111

7.9 Transmissão de Cargas concentradas próximas dos apoios 118

7.10 Armadura Inclinada 122

7.11 Secções com Largura Variável 123

7.12 Forças de Desvio 123

7.13 Torção 125

7.13.1 Torção de equilíbrio 125

7.13.2 Torção de compatibilidade 126

7.13.3 Torção analisada como esforço transverso 127

7.13.4 Dimensionamento das paredes sujeitas a um esforço transverso 130

7.14 Efeito conjunto Torção / Esforço Transverso 134

7.15 Disposições construtivas relativas a armaduras de torção 134

7.15.1 Armadura transversal 134

7.15.2 Armadura longitudinal 135

7.16 Dimensionamento Conjunto da Secção 135

8 DURABILIDADE DE ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO E PRÉ-ESFORÇADO 140

8.1 Introdução 140

8.2 Mecanismos de Deterioração 140

8.2.1 Deterioração por Corrosão das Armaduras 141

8.3 Deterioração do betão 148

8.4 Ambiente de Exposição 152

8.5 Período de Iniciação e Período de Propagação 156

8.6 - Metodologia para a Garantia da Durabilidade 158

8.7 Outros aspectos importantes para a garantia da durabilidade das construções 162

9 VERIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM SERVIÇO (ESTADOS LIMITES DE

UTILIZAÇÃO SLS) 165

9.1 Introdução 165

9.2 Verificação aos Estados Limites de Utilização 166

9.3 Acções 166

9.4 Materiais 167

9.4.1 Propriedades dos materiais para verificação da segurança aos estados limites de

utilização 167

9.4.2 Efeitos diferidos no tempo do betão 169

9.4.2.1 Fluência 169

9.4.2.2 Retracção 171

9.5 Estado Limite de Abertura de Fendas 173

9.5.1 Mecanismo da fendilhação E ABERTURA DE FENDAS 173

9.6 Cálculo de tensões com base na secção fendilhada e sua limitação 184

9.6.1 Limitação das tensões em serviço 185

9.7 Armadura mínima 189

9.7.1 Tracção 189

9.7.2 Flexão 191

9.8 Limites admissíveis de fendilhação relativos ao aspecto e à durabilidade 200

9.9 Controlo da fendilhação sem cálculo directo (EC2) 200

9.10 Estado Limite de Deformação 202

9.10.1 Limites de Deformação 203

9.10.2 - Questões na Avaliação e na Limitação da deformação 204

9.10.3 - Avaliação directa da deformação 208

9.10.3.1 - Cálculo da curvatura em estado I 208

9.10.3.2 - Cálculo da curvatura em estado II 209

9.10.4 Cálculo das deformações 210

9.10.4.1 Método Bilinear 211

10 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS DE

ELEMENTOS COM ESFORÇO AXIAL NÃO DESPREZÁVEL 219

10.1 Flexão Composta e Desviada 219

10.2 Resistência à flexão composta 219

10.2.1 Diagramas de deformações na rotura 219

10.2.2 Determinação dos esforços resistentes 220

10.3 Flexão Desviada 223

10.3.1 Rotura convencional 224

10.3.2 Determinação dos esforços resistentes 224

10.4 Disposições construtivas de pilares 227

10.4.1 Armadura longitudinal 227

10.4.2 Armadura longitudinal 228

10.4.3 Armadura transversal 228

11 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DE PILARES ISOLADOS AOS ESTADOS LIMITE

ÚLTIMOS 235

11.1 Comportamento de elementos esbeltos 235

11.2 Esbelteza 235

11.3 Imperfeições geométricas 236

11.3.1 Excentricidade inicial 237

11.4 Importância dos Efeitos de 2ª ordem e tipos de rotura associados 238

11.5 Consideração dos efeitos de 2ª ordem 240

11.5.1 Métodos de análise simplificados 241

11.5.2 Método da curvatura nominal 243

11.5.3 Método da rigidez nominal 249

11.6 Dispensa da verificação da segurança ao estado limite último de encurvadura 250

12 ESTRUTURAS EM PÓRTICO 259

12.1 Classificação das estruturas 259

12.2 Comprimento de encurvadura 260

12.3 Efeitos das imperfeições geométricas em estruturas porticadas ou mistas 262

12.4 Efeitos de segunda ordem em pórticos 262

12.4.1 Verificação da segurança de pórticos contraventados 263

12.4.2 Consideração dos efeitos de 2ª ordem em pórticos não contraventados 264

Bibliografia de referência 272

13. ELEMENTOS PRÉ-ESFORÇADOS 275

13.1. Introdução 275

13.2. Técnicas e sistemas de pré-esforço 277

13.2.1. Pré-esforço por pré-tensão 277

13.2.2. Pré-esforço por pós-tensão 278

13.3. Componentes de um sistema de pré-esforço 279

13.3.1. Armaduras de pré-esforço 279

13.3.2. Ancoragens de pré-esforço 282

13.3.3. Bainhas de pré-esforço 283

13.3.4. Sistemas de Injecção 284

13.4. Efeitos do Pré-Esforço 284

13.4.1. Fundamentação da utilização de aços de alta resistência para aplicação do pré-esforço286

13.4.2. Comparação entre o comportamento em serviço e capacidade resistente de estruturas

de betão armado e de betão pré-esforçado 287

13.5. Pré-dimensionamento de um elemento pré-esforçado 292

13.5.1. Pré-dimensionamento da secção 292

13.5.2. Traçado do cabo 292

13.5.3. Pré-dimensionamento da força de pré-esforço útil 293

13.6. Valor da força de pré-esforço. Definição dos cabos 294

13.6.1. Força máxima de tensionamento 294

13.6.2. Perdas de pré-esforço 295

13.6.3. definição dos cabos 295

13.7. Características dos traçados parabólicos 302

13.7.1. Equação da parábola 302

13.7.2. Determinação do ponto de inflexão entre dois troços parabólicos 302

13.7.3. Determinação do ponto de concordância troço parabólico troço recto 303

13.8. Cargas equivalentes de pré-esforço 303

13.8.1. Acções exercidas sobre o cabo 303

13.8.2. Acções exercidas sobre o betão 303

13.8.3. Determinação das cargas equivalentes 304

13.9. Verificação da Segurança aos Estados Limite Últimos 311

13.9.1. Estado limite último de flexão 311

13.9.2. Estado limite último de esforço transverso 313

13.10. Pré-esforço em vigas com secção variável 319

13.11. Efeito do pré-esforço em estruturas hiperestáticas 320

13.12. Perdas de pré-esforço 328

13.12.1. Perdas por Atrito 328

13.12.2. Perdas por reentrada das cunhas (ou dos cabos) 329

13.12.3. Perdas por deformação instantânea do betão 330

13.12.4. Cálculo do alongamento teórico dos cabos de pré-esforço 330

13.12.5. Perdas por retracção do betão 334

13.12.6. Perdas por fluência do betão 335

13.12.7. Perdas por relaxação da armadura 335

13.13. Verificação da segurança nas zonas das ancoragens 337

13.13.1. Verificação da segurança ao esmagamento do betão 337

13.13.2. Dimensionamento das Armaduras de Reforço na Zona das Ancoragens 338

14. LAJES DE BETÃO ARMADO 347

14.1. Classificação de lajes 347

14.1.1. Tipo de Apoios 347

14.1.2. Constituição 349

14.1.3. Modo de flexão dominante 349

14.1.4. Modo de fabrico 349

14.2. Pré-dimensionamento 349

14.3. Verificação da Segurança 350

14.3.1. Estados Limites Últimos 350

14.3.2. Estados Limites de Utilização 352

14.3.3. Deformação 354

14.4. Disposições Construtivas Gerais 357

14.4.1. Recobrimento das armaduras 357

14.4.2. Distâncias entre armaduras 357

14.4.3. Quantidades mínima e máxima de armadura 357

14.4.4. Posicionamento das armaduras 358

14.5. Medições e Orçamentos 359

14.6. Lajes vigadas armadas numa direcção 359

14.6.1. Definição 359

14.6.2. Pré-dimensionamento 360

14.6.3. Pormenorização de armaduras 360

14.7. Lajes vigadas armadas em duas direcções 367

14.7.1. Métodos de Análise e Dimensionamento 367

14.7.2. Método das bandas 380

14.8. Pré-dimensionamento 391

14.9. Pormenorização de Armaduras 391

14.9.1. Disposição de armaduras 391

14.9.2. Exemplos da disposição das armaduras principais e de distribuição 391

14.10. Armaduras de Canto 396

14.11. Sistemas de Painéis Contínuos de Lajes Compatibilização de esforços nos apoios de

continuidade 398

14.12. Alternância de Sobrecargas 399

14.13. Comparação dos Esforços dos Modelos Elástico e Plástico 411

14.14. Aberturas em Lajes 416

14.15. Discussão do modelo de cálculo de lajes com geometrias diversas 419

14.16. Pormenorização com malhas electrossoldadas 423

14.16.1. Representação gráfica das malhas 423

14.16.2. Exemplo de aplicação de malhas electrossoldadas 423

14.17. Lajes Fungiformes 425

14.17.1. Tipos de lajes fungiformes 426

14.17.2. Principais características do comportamento para acções verticais 427

14.17.3. Análise qualitativa dos esforços numa laje fungiforme 427

14.17.4. Concepção e pré-dimensionamento de lajes fungiformes 432

14.17.5. Modelos de análise e dimensionamento de lajes fungiformes 432

14.18. Estado Limite Último de Punçoamento 449

14.18.1. Mecanismos de rotura de punçoamento 449

14.18.2. Mecanismos de resistência ao punçoamento 449

14.18.3. Verificação da segurança ao punçoamento 450

14.18.4. Cálculo do esforço de corte solicitante 450

14.18.5. Perímetro básico de controlo 451

14.18.6. Resistência ao punçoamento de lajes sem armadura específica de punçoamento 452

14.18.7. Verificação ao punçoamento em lajes com capiteis 452

14.18.8. Armaduras de punçoamento 453

14.18.9. Valor de cálculo do máximo esforço de corte 455

14.18.10. Punçoamento excêntrico 456

14.19. Lajes fungiformes aligeiradas 466

14.20. Pré-esforço em lajes 469

15. FUNDAÇÕES 472

15.1. Tipos de Fundações 474

15.2. Dimensionamento de Fundações 475

15.2.1 Fundações directas (sapatas) 475

15.2.2 Maciços de encabeçamento de estacas 490

Bibliografia de referência 495

Estruturas de Betão I

1 Introdução ao Comportamento do Betão Estrutural

Nesta introdução ao comportamento do betão armado resume-se de uma forma

simplificada, mas muito abrangente, as principais características do seu funcionamento

em flexão. É importante que, desde logo, se compreenda o essencial das características

da resposta do betão estrutural e se as enquadre na base do aprendido anteriormente no

curso, em particular, na disciplina de Resistência de Materiais.

Iremos começar por discutir o comportamento de uma peça de betão simples e, depois

introduzir as armaduras em aço, que vêm dar conteúdo e eficiência a este material

compósito que, durante o Seculo XX e até à actualidade, tem sido o responsável pelo

desenvolvimento das infra-estruturas que sustentam todo o nosso modo de organização

da sociedade.

Comecemos por referir algumas notações correntes na engenharia de estruturas, em

geral, e no betão estrutural, em particular, que são internacionalmente aceites.

Notações:

f resistência do material

fc tensão de rotura do betão à compressão

fck tensão característica de rotura do betão à compressão

fct tensão de rotura do betão à tracção

Ec módulo de elasticidade do betão

fy tensão de cedência do aço

fyk tensão característica de cedência do aço

fu tensão de rotura do aço

Es módulo de elasticidade do aço

1.1. ELEMENTO DE BETÃO SEM INCLUSÃO DE ARMADURAS

Considere-se a viga de betão simples ilustrada na figura seguinte, bem como os

diagramas de esforços correspondentes a uma carga pontual genérica P aplicada a meio

vão.

Estruturas de Betão I

0.50

0.20

5.00

P/2 P/2

DEV
P/2

(+)

(-) P/2

DMF

(+)

PL/4

Como se sabe, o maior momento flector ocorre a meio vão, estando, na hipótese de

comportamento elástico, esta secção sujeita ao seguinte diagrama de tensões normais:

2
M y M

Tensões: s = Ic ; smáx = W
c

h/2

G M I
em que W c = y (módulo de flexão)

máx
h/2

3 2

bh 2 bh
y 1
Para uma secção rectangular, W c = 12 h = 6

Para um determinado nível de carga P ocorrerá uma fenda, com início na região mais

traccionada da peça, ou seja na parte inferior da secção de meio vão (por ser a secção

submetida a um momento flector maior) e, na sequência, a rotura da viga. De facto, a

partir do início da formação da fenda deixa de ser possível existir uma distribuição de

tensões na secção que equilibre o momento aplicado.

Na figura seguinte podem observar-se os diagramas momentos-curvaturas e carga-

deslocamento que ilustram o comportamento desta viga, desde o início do carregamento

até à rotura, verificando-se que esta é frágil.

Estruturas de Betão I

a) Diagrama momento-curvatura b) Diagrama carga-deslocamento

M P

EI (rigidez de flexão)

1/ R

Este comportamento resulta da lei de comportamento do material betão:

(20 a 80 MPa) Índice c

fc

Ec ( 30 GPa) fc tensão de rotura do betão à compressão

fct tensão de rotura do betão à tracção

Ec módulo de elasticidade do betão

f ct (2 a 5 MPa)

Através da análise da relação constitutiva do betão pode concluir-se que este é um

material que possui um bom comportamento e resistência à compressão, com uma

para níveis de tensões baixos a médios, e uma baixa resistência

à tracção (da ordem de 1/10 a 1/15 da resistência à compressão). Esta última

característica é responsável pela rotura do betão simples, como ilustrado no exemplo

anterior, e pela formação de fendas no betão armado, como se irá estudar na disciplina.

Cálculo do momento de fendilhação

Admita-se que: fct = 2.0 MPa

E, como,

M M v bh2

= W = I e Wc = 6 (para uma secção rectangular)


c c

O momento de fendilhação pode ser avaliado pela expressão:

0.20 0.502

Mcr = fct W c = 2 103 6 = 16.7 kNm

A carga P, que está associada ao momento de fendilhação, pode ser estimada, para

aquela estrutura e carregamento, através da seguinte relação:

PL 4Mcr 4 16.7
Mcr = 4 P= L = 5 = 13.4 kN

Estruturas de Betão I

Conclusão: Uma viga de betão simples não explora, minimamente, a capacidade

resistente do material em compressão, pois a máxima tensão que se pode

mobilizar é igual, ou da mesma ordem de grandeza, da resistência à tracção.

O comportamento fica, assim, associado a uma baixa capacidade de carga,

condicionada pelo aparecimento de uma fenda, e, na sequência, uma rotura

frágil.

Solução: Introduzir um material com boa resistência à tracção nas regiões onde é

necessário, ou seja, nas zonas traccionadas das peças. Ao se adoptar aí

armaduras de aço explora-se muito melhor a capacidade resistente do

elemento de betão, pois passa a haver a possibilidade de equilibrar

compressões mais elevadas no betão através das tracções que passam a se

poder mobilizar nas armaduras. Além disso, por via da ductilidade associada ao

aço, temos também um comportamento dúctil na rotura. Tem-se, assim, o

Betão Estrutural (betão + armaduras de aço).

Esta análise realizada para um elemento de betão simples submetido à flexão

pode, e deve, ser equacionada, pelos alunos, para a situação mais simples da

Resistência dos Materiais que é a de um tirante (esforço axial simples).

1.2. ELEMENTO DE BETÃO ARMADO

Analisemos, então as principais características do comportamento do betão armado

resultante da introdução das armaduras de aço nas peças de betão.

O aço é um material dúctil com uma boa resistência à tracção, mas também à

compressão (ver figura seguinte). Por outro lado, a sua disposição em varões permite um

bom envolvimento pelo betão e, consequentemente, condições para uma boa aderência

entre os materiais.

fu
(200 a 800 MPa) fy

Índice y

Es ( 200 GPa)

+ -

2.5 a 10% fy fy

fy

Com a introdução destas armaduras no betão obtém-se um comportamento conjunto com

boa ligação e extremamente eficiente em termos da resposta estrutural. De facto, com o

aparecimento de fendas nalgumas secções de betão, as tracções passam, no essencial,

Estruturas de Betão I

para as armaduras, o que permite garantir o equilíbrio da secção para um nível de cargas

muito superior. Este aspecto será, desde já, clarificado no parágrafo 1.3.

Entretanto, é importante desde já percepcionar as características globais da resposta,

que é claramente não linear, de um elemento de betão armado. Nas figuras seguintes

podem observar-se diagramas tipo, de momentos-curvaturas médias e carga-

deslocamento, respectivamente, para elementos e estruturas de betão armado, desde o

fendilhação

início do carregamento até à rotura. Verifica-se que, com o início das fendas (1), há

alguma perda de rigidez mas que a capacidade resistente máxima só se atinge para

cargas superiores depois de verificada a cedência das armaduras (2) e explorada,

depois, a ductilidade (3). A cedência da armadura corresponde a se atingir o momento

de cedência da secção, sendo que, a partir daí, o momento na secção só pode aumentar

devido a um incremento residual da tensão do aço entre o valor de cedência e o último,

ou um ligeiro aumento do braço devido a uma acomodação das compressões mais junto

às fibras extremas da secção. Entretanto o elemento de betão armado pode continuar a

aumentar a curvatura, com um comportamento característico de um material dúctil.

Ao longo desta disciplina analisar-se-ão estas características do comportamento e o seu

enquadramento nas disposições regulamentares para assegurar os níveis de segurança

e de qualidade de comportamento necessários.

a) Diagrama momento-curvatura b) Diagrama carga-deslocamento

M I
(2)
Çade
II
(3)
P
(2) (3)

(1) - fendilhação do betão


(1)

(1)
EIa (2) - cedência das armaduras

(3) - rotura

1/ R

ÊÊÀei PYE

1.2.1 CÁLCULO DAS TENSÕES NUMA SECÇÃO APÓS FENDILHAÇÃO

Na sequência, analisa-se, primeiro, um conceito importante no betão estrutural que é o

de que as quantidades de aço devem assegurar, pelo menos, a substituição das tracções

que se libertam a quando da abertura de uma fenda, e depois, a avaliação de tensões

numa secção fendilhada. Também nesta análise é importante que o aluno faça o

paralelo com a situação equivalente da tracção simples.

Para se compreender estes aspectos do comportamento comecemos por analisar a

resposta à flexão de uma secção de betão armado, tomando-se o exemplo seguinte:

Estruturas de Betão I

Admita-se:

As = 10.0 cm

d 0.50 1 distaimiadafibr gpeiora.ca


d = 0.45 m (altura útil da armadura)

Esamamas

Ec = 30 GPa

Es = 200 GPa

0.20

(i) Avaliação simplificada da quantidade de armadura mínima necessária para

substituir o papel das tracções no betão quando se forma uma fenda (Análise em

Estado não fendilhado - Estado I desprezando as armaduras, como é razoável,

em geral, em termos práticos)

A força de tracção disponibilizada pelas armaduras deve ser superior à força de

tracção no betão que se liberta quando se forma a fenda, tal que, de uma forma

simplificada (admitindo fct = 2MPa e fy = 400 MPa):


istoe gmeasarma
dma
foi u.ee

me e deveser
superior

no botão

Fc aoesforçosolicitado

h 1
Fs Fct As, min fy b 2 2 fct

0.5 3 1 4 2

h/2 As, min 0.2 4 2 10 3 10 = 1.25 cm


Fct 400 10

b f ct

(antes de fendilhar) (Refira-se que no exemplo apresentado a armadura admitida é

2 2

superior a este valor, pois: As = 10cm >> 1.25cm )

Vejamos, agora, a avaliação da distribuição de tensões numa secção fendilhada

(denominada por Estado II) de acordo com as hipóteses usualmente admitidas.

(ii) Cálculo do estado de tensão nas secções, após a fendilhação do betão

Hipóteses consideradas para o denominado Estado II

O betão não resiste à tracção

As secções mantêm-se planas após a fendilhação

c c

(Fc)

x
(-)

LN

d
z M cr

(+)
s (Fs)
s

Estruturas de Betão I

Cálculo da posição da linha neutra

Através da determinação do centro de gravidade da secção homogeneizada,

homogeneização

Ai xi bx x/2 + As Es/Ec d Es x Es
x= = x bx + As = bx + As d

Ai bx + As Es/Ec Ec 2 Ec

Es bx2 Es bx2 Es

bx2 + As Ec x = 2 + As Ec d = As (d - x)
2 Ec

(equação que traduz a igualdade de momentos estáticos)

Para a secção em estudo,

0.2x2 -4 200

2 = 10 10 x 30 (0.45 - x) 0.1x2 + 6.67 10-3x - 0.03 = 0 x = 0.143 m

LN

x 0.143

z (braço das forças resultantes) = d - 3 = 0.45 - 3 = 0.40 m braço da Fresuitante

Avaliemos, agora para o momento de fendilhação, anteriormente estimado (parágrafo

1.1) a distribuição de tensões na secção, após fendilhação:

Cálculo da tensão no betão ( c)

Mcr 16.7

Por equilíbrio: Mcr = Fs z = Fc z =16.7 kNm Fc = z = 0.40 = 41.8 kN


E

x b Es = 2Fc 2 41.8
F terça

Fc =
c 2

2 c
bx = 0.20 0.143 = 2923 kN/m 2.9 MPa

botão

Cálculo da tensão nas armaduras ( s)

E fiel 8kWF = As
Fs
ss = A =
41.8
= 41800 kN/m2 = 41.8 MPa
10 10-4
E
s s

vai
s

Cálculo das extensões máxima no betão e nas armaduras ( c e s)

3,5 10 se 3,5 da
c 2923

= E = = 0.097 10-3
c
c 30 106

=E
41800
10 10 3 e 10
s

= =

s
Es 200 106 0 E

c x d-x 0.45 - 0.143


ou = s = c= 0.097 10-3 =

s d-x x 0.143

Estruturas de Betão I

c = 0.1
E 3,5 0 -2.9

0.143
(-)

LN

M = 16.7 kNm

(+)
41.8

s = 0.2
Era

[MPa]

Verifica-se que, para a quantidade de armadura da secção (10 cm2), bastante superior à

po mínima estimada (1.25cm2), o nível de tensões nas armaduras (41.8 MPa), depois de se
formar a fenda, é muito inferior ao da cedência característica (400MPa), ou seja, há,

neste caso uma reserva muito grande até se atingir a cedência.

Avaliemos agora, para este exemplo, as curvaturas das secções depois e antes da

fendilhação.

Cálculo da curvatura em Estado II

1 c + s 0.1 10-3 + 0.2 10-3


R = d = 0.45 = 6.67 10-4 m-1

Curvatura em Estado I, sem considerar as armaduras:

2.0 c

(-)

c 2.0
= E = = 6.67 10-5

c
c 30 103

M = 16.7 kNm

(+)

1 2 6.67 10-5
2.0 c = =2.67 10-4 m-1

R 0.5

[MPa]

Verifica-se, assim, que, para esta secção e com esta armadura, se verifica uma perda de

1/RII

rigidez considerável quando se perde a participação do betão traccionado, de: 1/R 2.5
I

. Refira-se que este valor seria maior ou menor consoante a quantidade de armadura

adoptada fosse, respectivamente, inferior ou superior aos 10 cm2 considerados.

Estas curvaturas podem ser directamente calculadas dividindo o momento pelas

rigidezes homogeneizadas, se for o caso, nos referidos Estados I e II, tal que:

1 M
Estado I sem considerar as armaduras: R = E I

c c c

1 M
Estado I com consideração das armaduras: =

R Ec I

Estruturas de Betão I

1 M

Estado II: =

R Ec I

M II
Ec I

Ec I

Ec I

1 /R

Ic, I e I , são, respectivamente, a inércia de secção só de betão, de betão e armaduras

homogeneizada no betão em situação não fendilhada (valor de I Ic) e fendilhada (I )

sem considerar o betão à tracção.

1.2.2 CÁLCULO DO MOMENTO DE CEDÊNCIA DA SECÇÃO

Em estado II (secção fendilhada sem participação de betão à tracção) a linha neutra e a

rigidez da secção é única, como avaliada anteriormente. Assim, a um acréscimo do

momento flector irá somente corresponder um aumento de curvatura com consequente

aumento de tensões, i.e., com o braço entre as resultantes das forças de compressão e

tracção a se manter constante.

c c1 c2

(-)

LN

(+)

s
s1 s2

M1 M2 M1

A continuação da aplicação do momento M conduz, portanto, ao aumento das tensões

nas fibras, proporcionalmente ao momento. No entanto, para níveis superiores de carga,

pode o betão entrar numa região de comportamento com alguma não linearidade.

c1 c2

Fc Fc

LN LN

z1 M1 z2 M2

M1 M2

F s1 F s2

A variação do braço é, no entanto, pouco significativa (z1 z2), pelo que a avaliação do

momento de cedência se pode fazer tomando para a força F a força correspondente à

cedência das armaduras, tal que:

My z Fy com Fy = Asfsy

Estruturas de Betão I

Em que z é o braço atrás determinado.

Cálculo do momento de cedência da secção

s = fy = 400 MPa Fy = 400 103 10 10-4 = 400 kN

z = 0.40m My = 0.4 400 = 160 kNm

Verifica-se que, para esta secção, a diferença entre os momentos de fendilhação e de

cedência é significativa, de 16.7 kNm para 160 kNm, o que mostra bem o papel das

armaduras.

1.3. DIFERENÇA DO COMPORTAMENTO SECÇÃO/ESTRUTURA

As estruturas são compostas por inúmeras secções sendo que só algumas fendilham.

Nestas secções há uma perda brusca de rigidez (aumento de deformação significativo),

como mostra o gráfico a), corresponde à passagem do Estado I ao II. No entanto,

considerando o comportamento médio de um elemento estrutural (como o representado

na direita da figura), vai-se verificar uma diminuição mais gradual da rigidez média

(gráfico b)). A razão é simples: em termos médios teremos secções efectivamente

fendilhadas, mas entre estas haverá outras com o betão traccionado, portanto menos

deformáveis.

a) Secção b) Elemento

I I
II M II

(2) (3) My (2) (3)


My

(1) (1) R
Mcr Mcr

M M

1 /R

Este efeito de atenuação da importância da perda de rigidez, a quando da fendilhação, é

ainda mais notório, quando se analisa a resposta da estrutura no seu conjunto. De facto,

ao nível da deformação global da estrutura, não se chega a notar um aumento pontual da

deformação. Verifica-se, isso sim, uma diminuição da rigidez para cargas superiores ás

do início do processo de formação de fendas (zona do diagrama carga-deslocamento de

(1) para (2)) ver figura seguinte. Nesta relação, a perda de rigidez por abertura de

fendas numa ou noutra secção, dilui-se em termos da resposta global, mas, mesmo

assim, com implicações na deformação da viga.

10

Estruturas de Betão I

(2) (3)

(1)

Para níveis de carga superiores a zona da viga passível de ter fendas é aquela em que

os esforços sejam superiores aos de início da fendilhação, como se mostra na figura

seguinte.

Região onde ocorre

DMF fendilhação para Pmáx

Mcr

Mmáx

Refira-se que, como referido anteriormente, à medida que se verifica o incremento de

carga as tensões nos materiais aumentam até que se atinge, em princípio na secção

mais esforçada, a cedência do aço, ou seja o momento de cedência - (ponto (2) dos

diagramas). Este nível d , à capacidade máxima da

secção, verificando-se, a partir daí, só um ligeiro aumento até ao momento último,

associado a um grande aumento de deformações. É a zona de comportamento associada

à exploração da capacidade última da secção à flexão, que se verifica, em geral, com

desenvolvimento de uma resposta dúctil. Evidentemente que, em estruturas hiperstáticas,

as zonas principais das estruturas não entram, em geral, simultaneamente em cedência.

Assim, a partir do seu início numa determinada secção, há lugar, ainda, para incrementos

de carga até se mobilizar a capacidade máxima da estrutura.

2 Conceito de Segurança no Dimensionamento de Estruturas

O conceito de segurança a exigir às estruturas não é obviamente específico ao betão

estrutural, sendo aplicado a estruturas construídas em qualquer material, em particular às

estruturas metálicas e/ou mistas (betão/aço). Na sequência, apresenta-se um resumo dos

princípios fundamentais das metodologias de verificação da segurança que reputamos

essencial, nesta fase da aprendizagem dos alunos, para se compreender o

11

Estruturas de Betão I

enquadramento das preocupações dos engenheiros na concepção e projecto das

Estruturas de Betão.

2.1 OBJECTIVOS DE SEGURANÇA NA ENGENHARIA ESTRUTURAL EM GERAL

Há dois objectivos fundamentais a considerar pelos engenheiros de estruturas para

assegurar, à sociedade em geral, um nível de segurança adequado às construções.

Seguidamente referem-se esses dois objectivos gerais, particularizando-se, para cada

um deles, o tipo de verificações em causa.

1) Garantir um bom comportamento das estruturas em situação de serviço, ou seja,

na sua utilização corrente

Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos Estados

Limite de Utilização:

Limitar a deformação (Para as estruturas, em geral, e não só de betão)

De acordo com as recomendações mais recentes, e para o caso de pisos de edifícios, a

deformação final ou o incremento de deformação após a execução de paredes de

alvenaria, deve ser limitada, para as acções com carácter de permanência,

respectivamente, a:

L L

serviço admissível
250 ou 500

Trata-se no primeiro caso de uma questão de aspecto e funcionalidade e no segundo

caso para evitar fendas nas alvenarias que não conseguem, a partir de um certo ponto,

acompanhar a deformação da sua base de suporte sem fendilharem.

Limitar o nível de tensões máximas no betão e no aço

Segundo as disposições regulamentares mais recentes o nível máximo das tensões no

aço e no betão deve ser limitado, em serviço. Estes limites dependem do tipo e nível das

acções, como se verificará no curso.

Controlar as aberturas de fendas (Aspecto claramente específico ás

estruturas de betão armado):

serviço admissível (0.2 a 0.4mm)

Sendo a existência de fendas uma situação normal no Betão Armado, há que limitar a

sua abertura, em geral, para um nível de acções com carácter de permanência. Esta

necessidade advém, de razões de aceitabilidade estética e, em ambientes mais

agressivos, para não serem veículo de um processo mais rápido de degradação do betão

estrutural (questão de durabilidade, como se verá no curso).

12

Estruturas de Betão I

Garantir um adequado comportamento dinâmico (estruturas em geral)

Este aspecto da verificação do comportamento em serviço das estruturas, só será

analisado na disciplina de uma forma indirecta, devendo ser aprofundado posteriormente

no curso. No fundo trata-se de controlar as frequências próprias de vibração das

estruturas, de tal forma a evitar situações de ressonância com a frequência das acções.

Exemplo: Nas pontes de peões verificar que a frequência principal de vibração vertical da

estrutura não se aproxima da frequência da excitação, neste caso, as cadências dos

passos dos utilizadores.

2) Assegurar um nível de segurança adequado em relação a determinadas

situações de rotura (rotura local ou global da estrutura)

Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos Estados

Limite Últimos

Para além de assegurar um comportamento adequado da estrutura nas condições da sua

utilização, o engenheiro de estruturas tem de, com um nível de confiança muitíssimo

superior, poder garantir que não há possibilidade de qualquer tipo de rotura, seja

localizada, por falta de capacidade resistente, como numa peça linear, por:

Tracção ou Compressão

Flexão

Esforço Transverso

Torção

Qualquer combinação destas

Zonas particulares de apoios e/ou introdução de cargas

Seja global, por perda de equilíbrio conjunto da estrutura, como o derrubamento de

um muro de suporte.

As características de comportamento do betão estrutural, próximo da rotura, e as

hipóteses admitidas para avaliação das capacidades resistentes dos elementos

estruturais, acima referidas, e das estruturas, no seu conjunto, serão analisadas nos

Capítulos seguintes.

2.2 FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS

LIMITES ÚLTIMOS

Para garantir o objectivo acima enunciado, da não rotura, a regulamentação das

estruturas, em geral, tem vindo a introduzir, a partir dos anos 60, uma filosofia de

segurança que, tendo em conta a variabilidade das características dos materiais, do

13

Estruturas de Betão I

valor das acções e da avaliação da resposta estrutural, assegura uma probabilidade de

rotura de 1 x 10-5, ou seja, quase nula.

Este formato baseia-se, de uma forma simplificada, na avaliação de valores

característicos para os materiais e acções, e ainda à adopção de coeficientes parciais de

segurança adequadamente definidos. Vejamos, então, com algum pormenor, essa

valoração.

1) Definição de valores característicos para:

Valores das acções Ssk (95% de probabilidade de não serem excedidos)

Resistências dos materiais SRk (95% de probabilidade de serem superiores).

2) Adopção de coeficientes de segurança parciais que:

Majorem as cargas, consoante o tipo de acção:

Acções permanentes: valor aproximadamente constante durante a vida útil

da estrutura (ex: peso próprio, equipamentos fixos, etc.)

= 1.0 ou 1.35 (consoante a acção for ou não favorável)


g

Acções variáveis: variam durante a vida útil da estrutura (ex: sobrecarga,

vento, sismo, variação de temperatura, etc.)

q = 0.0 ou 1.5 (consoante a acção for ou não desfavorável)

Acções acidentais: muito fraca probabilidade de ocorrência durante a vida

útil da estrutura (ex: explosões, choques, incêndios, etc.) = 1.0


a

Minorem as resistências dos diferentes tipos de materiais:

Armaduras ( = 1.15)
s

Betão ( c = 1.5)

fyk fck

Exemplo: fyd = ; fcd =


s c

3) Estabelecimento de combinações de acções, conforme especificado no RSA

Exemplo: Ssd = gSg + q (Sq + 0iSqi) ( 0i 1 coeficiente de combinação da

acção variável i)

Sq acção variável de base

Sqi restantes acções variáveis

4) A avaliação dos efeitos das acções na estrutura é usualmente realizada com base

numa análise elástica linear da mesma, mas com as eventuais/necessárias adaptações

14

Estruturas de Betão I

para ter em conta, nas estruturas hiperstáticas, o efeito do comportamento não linear do

betão estrutural (como constatado nos parágrafos anteriores).

Com base nos modelos estruturais adoptados há, então, que avaliar os efeitos das

acções. Tem-se, por exemplo, para a flexão, os denominados momentos de cálculo ou

dimensionamento, que, para o caso de uma única carga variável, corresponde a:

Msd = g Mg + qMq

5) A avaliação das capacidades resistentes (forças ou esforços) depende da geometria do

elemento, das características dos materiais e do tipo de esforço.

Por exemplo para o momento resistente, como vimos anteriormente, teremos, de uma

fyk
forma simplificada, : MRd = As z.

1.15

No Capítulo seguinte a avaliação deste valor será detalhadamente apresentada.

6) Verificação da condição de segurança geral: SSd SRd

Exemplo para os momentos: Msd MRd

No caso do exemplo anterior, e considerando só a sobrecarga ( q = 1.5), tem-se

(tomando o braço de forças, z, avaliado para o comportamento elástico):

PL 5 400

M= 4 Msd = 1.5 P 4 MRd = 10 10-4 1.15 103 0.40

Donde resulta, como valor de carga que pode ser aplicada à estrutura, com um nível de

segurança adequado em relação à rotura por flexão (ou seja, verifica a segurança ao

Estado Limite Último de Flexão):

P 74.2 kN

O procedimento de verificação da segurança acima resumido pode ser ilustrado com

base nos diagramas de distribuição probabilística dos efeitos das acções e da avaliação

das resistências, como indicado na figura seguinte. A partir de valores característicos,

superiores e inferiores, respectivamente para as acções e materiais, majoram-se e

minoram-se esses valores, com coeficientes parciais de segurança, para só depois

estabelecer a condição de segurança.

Percebe-se que a margem de segurança disponível que se obtém com este

procedimento é muito grande. Repare-se na diferença entre os valores médios

expectáveis das acções e das resistências. No entanto, a justificação da garantia da

probabilidade de não rotura ser de 1 x 10-5,como acima referida, está fora do âmbito

destas folhas, e desta disciplina.

15

Estruturas de Betão I

Ssm Ssk Ssd SRd SRk SRm

Acções ou efeitos das acções Resistência

2.3 FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS

LIMITES DE UTILIZAÇÃO

Para assegurar o comportamento adequado nas condições de serviço, pretende-se

avaliar, agora, tão bem quanto possível, a resposta efectiva da estrutura quando em

utilização. Com esse objectivo faz sentido tomar valores de acções que se esperam

efectivamente actuem a estrutura (e não valores característicos superiores e/ou

majorados) e valores médios para o comportamento dos materiais (certamente que não

valores característicos inferiores e/ou minorados).

Esta formulação conduz a que a probabilidade de serem excedidos os valores

admissíveis seja da ordem de 1 x 10-1.

Vejamos então, em termos práticos, com que bases se fazem estas verificações:

1) Definição dos valores da acção que actuam na estrutura adoptando, por um lado, para

os pesos próprios dos materiais estruturais e/ou de outros revestimentos utilizados

densidades médias e, por outro lado, valores de sobrecargas com probabilidades reais de

virem a actuar as estruturas (percentagens mais pequenas do valor característico têm

mais probabilidade de ocorrerem).

2) Estabelecimento de combinações de acções, conforme preconizado no RSA:

Combinação quase permanente de acções: Estado limite de longa duração (

Ya 50% do tempo de vida da estrutura) Scqp = G + 2iQi

Combinação frequente acções: Estado limite de curta duração ( 5% do tempo

de vida da estrutura) Sfreq = G + 1 Q+ 2iQi

Combinação característica: Estado limite de muito curta duração (algumas

horas no período de vida da estrutura) Sraro = G + Q + 1iQi

( 2 < 1 < 1.0)

Q acção variável de base

Qi restantes acções variáveis

16

Estruturas de Betão I

3) A avaliação dos efeitos das acções deve ser realizada considerando, em geral, as

propriedades médias dos materiais por forma a estimar o comportamento previsível. É

importante referir que, para o efeito de cargas exteriores a hipótese de comportamento

linear é razoável e usual, para a obtenção de esforços, mas já não é para avaliação das

deformações, a menos que, convenientemente, corrigidas. Por outro lado, devido a

deformações impostas à estrutura, a grandeza dos esforços depende fortemente da

rigidez da estrutura, e, então, a rigidez elástica deve ser diminuída, logo na avaliação de

esforços.

É, portanto, necessário considerar, de uma forma simplificada, os efeitos da fendilhação

(perda de rigidez) e da fluência do betão nas características da resposta e na forma de

avaliar os efeitos das acções. Estes assuntos irão os alunos analisar ao longo do curso.

4) Posteriormente há que fazer as verificações de segurança, atrás mencionadas, como a

limitação da deformação, o controlo do nível de tensões nos materiais e o controlo das

aberturas de fendas. Estas verificações são estabelecidas nos regulamentos, para certas

combinações de acções. Refira-se que um certo limite é dependente da duração de

tempo em que possa subsistir.

Por exemplo, para o caso da deformação, é importante garantir a sua limitação para a

situação quase-permanente, mas não para a eventualidade de, numa ou várias situações

na vida da estrutura, se ter uma sobrecarga maior. Assim:

combinação quase permanente admissível

Por outro lado, uma abertura de fendas máxima de 0.5 mm pode ser considerada

aceitável para a combinação característica de acções, pois só acontece muito

esporadicamente, mas não para uma situação com carácter de permanência, em que se

aponta na regulamentação para um limite de 0.3 mm.

17

Estruturas de Betão I

EXERCÍCIO 1

Considere a estrutura de um piso estrutural, que será tomado como referência nos

capítulos seguintes, a construir com os materiais indicados e as acções previstas

referidas, e que se representa na planta seguinte:

Materiais: C25/30, A400

4.00 4.00 4.00 4.00

Acções:

Peso próprio

Revestimento=2.0 kN/m

Sobrecarga = 3.0 kN/m


2

10.00 S2

Coeficientes de majoração:

G = Q = 1.5

Coeficientes de combinação:

S1 = 0.4 ; = 0.2
1 2

3.00

Secção da viga: 0.30 0.85 m


2

Espessura da laje: 0.15m

a) Determinar, para as secções S1 e S2 da viga, os valores dos esforços, para a

verificação da segurança à rotura.

b) Calcular, para as mesmas secções, os esforços para as combinações em serviço, rara,

frequente e quase-permanente.

18

Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO

No processo de verificação da segurança de uma estrutura é fundamental encontrar um

modelo de análise da estrutura, que nunca deve ser confundido, com a própria estrutura.

Trata-se, no essencial, de um modelo da estrutura que serve de base para a análise,

dimensionamento e verificação de segurança, neste caso da viga central em causa.

1. Modelo de cálculo:

Modelo para o cálculo da viga Corte transversal à viga

rev, q
g, q

0.15

S2 S1

0.70
10.00 3.00

0.30

4.00

Comentários ao modelo de cálculo, escolhido, com algumas simplificações:

Consideram-se as vigas sem continuidade na ligação aos pilares;

Considera-se que as lajes descarregam apenas nas vigas transversais.

2. Cálculo das acções na viga

2.1. Carga permanente

Peso próprio

pp = betão Área = [4 0.15 + (0.85 - 0.15) 0.30] 25 = 20.3kN/m

Revestimento

rev = 2.0 4.0 = 8.0kN/m

cp = pp + rev = 20.3 + 8.0 = 28.3kN/m

2.2. Sobrecarga

sc = 3.0 4.0 = 12.0kN/m

19

Estruturas de Betão I

3. Diagrama de esforços para uma carga unitária (poder-se-ia considerar logo à partida

considerar o valor das cargas)

p=1 kN/m

S2 S1

10.00 3.00

RA RB

DEV

[kN] 4.55 3.0

(+) (+)

(-)

5.45

DMF 4.5

[kNm]

(-)

(+)

10.25

(i) Cálculo das reacções de apoio

13

MA = 0 10 RB- 1.0 13 2 =0 RB = 8.45kN

F=0 RA + RB = 13 RA = 13 - 8.45 = 4.55kN

(ii) Cálculo do momento flector a ½ vão

MB = - 1 3 2 = - 4.5kN/m

pL2/8

102 4.5

M½vão = 1 8 - 2 = 10.25kNm L/2 L/2

(iii) Cálculo do momento flector máximo

4.55 + 5.45 10.0

4.55 = x x = 4.55m

4.55 4.55

Mmáx = = 10.35kNm
2

M½vão Mmáx

20

Estruturas de Betão I

ALÍNEA A)

Secção S1 Secção S2

MS1
G = - 4.5 28.3 = - 127.35 kNm MS2
G = 10.25 28.3 = 290.1 kNm

MS1
Q = - 4.5 12.0 = - 54 kNm MS2
Q = 10.25 12.0 = 123.0 kNm

VS1
G = - 5.45 28.3 = 154.2 kN

VS1

Q = - 5.45 12.0 = 65.4 kN

Valores de cálculo dos esforços

MS1
sd = 1.5 (MS1G + MS1Q) = 1.5 (-127.35 - 54) = -272.0 kNm

MS2
sd = 1.5 (MS2G + MS2Q) = 1.5 (290.1 + 123) = 619.7 kNm

VS1
Sd = 1.5 (VS1G + VS1Q) = 1.5 (-154.2 - 65.4) = -329.4 kN

Consideração de alternância de sobrecarga

A sobrecarga, sendo uma acção variável, pode actuar em qualquer tramo. Assim, para

cada caso, há que verificar a hipótese de carga mais desfavorável.

Chama-se, desde já a atenção, para que na consola e sobre o apoio adjacente, os

esforços só dependem das cargas na própria consola e, portanto, os valores máximos

são os avaliados anteriormente.

Por outro lado, se se considerar apenas a actuação da sobrecarga no tramo apoiado, o

momento flector obtido a meio vão desse tramo será superior ao calculado considerando

a sobrecarga a actuar em toda a viga (calculo anterior).

Deste modo,

12 102

MS2
Q = = 150 kNm ; MS2
G = 10.25 28.3 = 290.1 kNm
8

MS2
sd = 1.5 (290.1 + 150) = 660.2kNm

21

Estruturas de Betão I

Refira-se que, sendo a viga isostática, a distribuição de esforços para uma qualquer

combinação de acções é única. Ora isto é diferente do que acontece nas estruturas

hiperstáticas onde são possíveis distribuições de esforços distintas que equilibram as

mesmas acções... e que são compatíveis com o comportamento, efectivamente não

linear, dos materiais.

Alínea b)

Secção S1

Mc rara = MG + MQ = -127.35 - 54 = - 181.4kNm

Mcfreq = MG + 1 MQ = -127.35 - 0.4 54 = -149.0kNm

Mcqp = MG + 2 MQ = -127.35 - 0.2 54 = 138.2kNm

Vc rara = VG + VQ = 154.2 + 65.4 = 219.6kN

Vcfreq = VG + 1 VQ = 154.2 + 0.4 65.4 = 180.36kN

Vcqp = VG + 2 VQ = 154.2 + 0.2 65.4 = 167.3kN

Secção S2

Mc rara = MG + MQ = 290.1 + 123.0 = 413.1kNm

Mcfreq = MG + 1 MQ = 290.1 + 0.4 123 = 339.3kNm

Mcqp = MG + 2 MQ = 290.1 + 0.2 123 = 314.7kNm

Verifica-se também que o nível de esforços considerados para a verificação da

segurança à rotura são significativamente superiores aos correspondentes das

combinações de acções em serviço, e que estes últimos são tão menores, quão a

probabilidade de ocorrência seja maior.

22

Estruturas de Betão I

3 Materiais

3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS BETÕES

O betão tem como referido anteriormente, e os alunos certamente saberão nesta fase do

curso, um comportamento não linear. Ou seja, tem uma relação tensão-extensão que não

segue a lei de Hook, em particular para tensões mais elevadas. Como se verá na

sequência, até certos níveis limitados de tensão, é razoável admitir o comportamento

como linear.

Os betões são, em termos regulamentares, classificados por classes de resistência,

como certamente analisaram na disciplina de materiais.

As classes de resistência estão definidas de acordo com os valores característicos de

tensão de rotura à compressão aos 28 dias de idade, referidos a provetes cúbicos ou

provetes cilíndricos, apesar destes últimos serem aqueles que se consideram como

referência na avaliação da segurança estrutural.

No quadro seguinte apresentam-se, para as várias classes de resistência do betão, os

valores característicos e de cálculo das tensões de rotura à compressão (fck e fcd), bem

como o valor médio da tensão de rotura à tracção (fctm) e módulo de elasticidade aos 28

dias (Ec, 28).

B15 B20 B25 B30 B35 B40 B45 B50 B55

Classe

C12/15 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60

cub. 15 20 25 30 37 45 50 55 60

fck

cil. 12 16 20 25 30 35 40 45 50

[MPa]

fcd

8.0 10.7 13.3 16.7 20.0 23.3 26.7 30.0 33.3

[MPa]

fctm

1.6 1.9 2.2 2.6 2.9 3.2 3.5 3.8 4.1


[MPa]

Ec,28

27.0 29 30 31 33 34 35 36 37

[GPa]

23

Estruturas de Betão I

3.1.1 TENSÕES DE ROTURA DO BETÃO

A partir dos valores característicos das tensões de rotura à compressão ou à tracção,

definem-se os valores denominados de dimensionamento ou de cálculo à rotura:

fcil.
ck fctk

fcd = g , fctd = com c = 1.5 (fcil.


ck ck )
0.8 fcubos
c c

O valor médio da tensão de rotura do betão à tracção pode ser estimado pela expressão:

fctm = 0.30 f2/3


ck

Nota: o valor de fcd é definido a partir da resistência em cilindros, dado que estes provetes são

mais representativos da resistência do betão em peças longas.

3.1.2 MÓDULO DE ELASTICIDADE DO BETÃO

Na análise de estruturas é usual admitir um comportamento elástico, como atrás já

referido, considerando-se, em geral, o módulo de elasticidade secante do betão aos 28

dias de idade. Este módulo de elasticidade, tal como a figura seguinte indica, encontra-se

definido para c = 0 e c = 0.4 fck. Refira-se a propósito, que este tipo de hipótese é

adoptada, na prática da engenharia, com muita frequência, considerando-se,

posteriormente, formas mais ou menos directas de ter em consideração o efectivo

comportamento não linear do betão armado, quer em condições de serviço, quer, por

maioria de razão, próximo da rotura.

Ec

fcm

0.4 fck

3.1.3 VALOR CARACTERÍSTICO DA TENSÃO DE ROTURA DO BETÃO À COMPRESSÃO FC

A partir de um certo número de resultados de ensaios, é possível avaliar o valor

característico do betão.

Assim:

fck = fcm - l Sn , Sn desvio padrão das resistências das amostras

24

Estruturas de Betão I

parâmetro que depende do número de ensaios

n 6 10 15

1.87 1.62 1.48

3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS ARMADURAS

As armaduras a utilizar no betão estrutural podem dividir-se em:

armaduras para betão armado

armaduras de pré-esforço

As primeiras são também denominadas de armaduras passivas, pois só são solicitadas

em resposta a acções exteriores.

As armaduras de pré-esforço são compostas por aços com capacidade resistente da

ordem de 3 a 4 vezes superiores às passivas e são chamadas de activas, pois são

traccionadas antes da actuação das solicitações exteriores.

Nestes elementos referem-se unicamente as primeiras pois o pré-esforço é introduzido

na disciplina de Estruturas de Betão II.

3.2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ARMADURAS PARA BETÃO ARMADO

Os aços são classificados tendo em consideração o processo de fabrico, a rugosidade da

superfície e a sua capacidade resistente. Assim temos:

processo de fabrico

aço natural (laminado a quente) (N)

aço endurecido a frio (E)

aderência

alta aderência (superfície rugosa ou nervurada) (R)

aderência normal (superfície lisa) (L)

resistência

(A235), A400, A500

O aço A235 foi utilizado na construção em Portugal, em geral com varões lisos, mas já

não é produzido actualmente.

As armaduras designam-se, assim, com a seguinte simbologia base:

25

Estruturas de Betão I

Designação das armaduras: A500 N R SD

fyk aderência

processo de fabrico ductilidade especial

Os aços de dureza natural A400 NR e A500 NR produzidos em Portugal, apresentam

apenas duas famílias de nervuras ver figura abaixo. Nos aços A400 todas as nervuras

de uma família são paralelas ao passo que no A500 as nervuras têm alternadamente

inclinações diferentes, pelo menos de um dos lados.

A diferenciação, entre aços com ductilidade especial (SD), recomendados em zonas

sísmicas, e os correntes, é ilustrada na figura, sendo que, no essencial, os SD tem as

mesmas nervuras nas duas faces.

Tipo A400NR Tipo A500NR

Tipo A400NR SD Tipo A500NR SD

Identificação do tipo de aço

Os aços endurecidos a frio (E) são produzidos por laminagem com impressão de um

perfil nervurado, constituído por três famílias de nervuras dispostas em 3 planos.

4 Verificações de Segurança à Rotura por Flexão

Para a avaliação das capacidades resistentes das secções de betão à flexão, no âmbito

da filosofia de segurança em relação à rotura, começa-se por mostrar como se

caracterizam os comportamentos dos materiais a adoptar naquela avaliação.

Posteriormente, e a partir de hipóteses admitidas para a deformação da secção na rotura,

mostra-se como se avaliam os esforços resistentes de flexão.

26

Estruturas de Betão I

4.1 RELAÇÕES TENSÃO-EXTENSÃO DOS MATERIAIS PARA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS

E.L. ÚLTIMOS

4.1.1 BETÃO

A partir da relação tensão-extensão característica do betão, referida anteriormente, é

definida uma relação simplificada, com base numa parábola e num rectângulo com um

valor máximo de resistência, o qual é obtido do valor característico, pela aplicação do

correspondente coeficiente parcial de segurança de 1.5.

c fck

fcd = gc , c = 1.5 0.8 1.0

f ck

para 0 c c2

f cd = fcd para
c c2 c cu2

Para as classes de resistência até C50/60,

c2 cu2

2.0 3.5

c2 cu2 c

(Diagrama parábola rectângulo)

Para uma definição analítica detalhada destas curvas pode ser consultada bibliografia

referida para a disciplina.

Na avaliação do valor de fcd, para além do coeficiente parcial de segurança, aparece o

coeficiente . Este parâmetro tem em consideração a diminuição da tensão de rotura do

betão quando sujeito a tensões elevadas prolongadas. De facto, se o betão for solicitado

com constância, durante um certo período de tempo, a uma tensão um pouco inferior à

máxima (entre 85% a 100% de fc) acaba por atingir a rotura. De acordo, por exemplo,

com o REBAP, a tensão máxima no betão está limitada a 0.85 fcd, ou seja considerando

= 0.85. No entanto, o EC-2 propõe, para casos correntes, 1.0 fcd, pois nas condições de

carregamento com persistência o betão estará, em geral, solicitado a níveis de tensões

bem inferiores às acima referidas, tendo-se considerado demasiado penalizante tomar

esse efeito na verificação da segurança à rotura. Na disciplina, e na prática da

engenharia em geral no futuro, tenderá a utilizar-se a hipótese proposta no EC2. No

entanto, e para já, o mais importante é perceber a razão do sentido físico deste

coeficiente.

4.1.2 AÇO

Para a verificação da segurança aos E.L. Últimos pode ser considerada uma das duas

relações constitutivas indicadas pelo EC-2, e presentes na figura seguinte, i.e.,

27

Estruturas de Betão I

considerando ou não (hipótese muitas vezes admitida como simplificação) algum

incremento de resistência a partir da cedência, quantificado pelo coeficiente k.

s
fyk
2 fyd = g , s = 1.15

k f yk s

f yk k f yd

ud = 0.9 uk

f yd
fyk fyd

Classe yd
-3
1 [MPa] [MPa] [ 10 ]

A235 235 205 1.025


Es =200 GPa

A400 400 348 1.74

A500 500 435 2.175

yd ud uk s

O valor da extensão máxima convencional do aço, ud (igual a 90% do valor característico

uk), a considerar depende da classe de ductilidade das armaduras. No quadro seguinte

são indicados os valores característicos das extensões últimas, para as diferentes

classes de ductilidade, que são da ordem dos 25 a 75 muito superiores aos do

betão de 3.5

Classe de
A B C
ductilidade

1.15

k 1.05 1.08
<1.35

uk [%] 2.5 5.0 7.5

Refira-

dimensionamento, ud, valor claramente inferior aos acima referidos. No entanto, uma vez

que para este valor de extensão, o aço se encontra bem na cedência, as repercursões

em termos da avaliação das capacidades resistentes à flexão, são praticamente nulas,

como se verá no sub-capítulo seguinte.

Em Portugal os aços são denominados por NR, ER ou NR SD, como referido em 3.2.1,

onde é explicada a simbologia e a forma como se pode proceder à sua identificação

superficial. Para a construção corrente é normal utilizarem-se ferros NR, sendo em zonas

de maior sismicidade, a utilização de aços SD fundamental. Estas classificações actuais

dos aços em Portugal, correspondem às características de ductilidade das classes B

(NR) e C (NR SD) definidas no EC2 e acima mencionadas.

28

Estruturas de Betão I

4.2 ANÁLISE DA SECÇÃO. MÉTODO GERAL

Definidas as características dos materiais, a capacidade resistente à flexão simples, mas

também à tracção e compressão isoladas e/ou estas em sobreposição com a flexão,

resultam do estabelecimento das condições de equilíbrio e do estabelecimento das

condições de deformação da secção e das condições limite. No que se segue vai se

analisar a situação de flexão simples mas é importante que os alunos estabeleçam, por

si, as situações de tracção e compressão simples. A flexão composta será tratada

posteriormente no curso.

Hipóteses adoptadas na rotura convencional de dimensionamento

1- Apesar da complexidade do estado de deformação do betão armado, próximo da

rotura, a Hipótese de Bernoulli é considerada.

2- A situação última limite é atingida, quando se verifica uma das extensões últimas

seguintes:

- - ima de encurtamento no betão)


c

- = (Deformação máxima de alongamento nas armaduras)

s ud

3- A participação do betão à tracção não é considerada:

- c = 0 se c> 0 o betão à tracção tem tensão nula

Fc

(-)
x

LN

z MRd

(+)
Fs

s ud

Com base nas relações constitutivas dos materiais e das hipóteses anteriores,

estabelecem-se as equações de equilíbrio na secção. Assim, se as expressarmos em

função das resultantes das tensões de tracção e compressão, tem-se:

Equações de Equilíbrio (sendo Fs e Fc as resultantes das tensões de tracção e

compressão, respectivamente.):

Equilíbrio axial (Esforço axial nulo): Fs = Fc

Equilíbrio de momentos: MRd = Fs z

29

Estruturas de Betão I

4.3 MÉTODO DO DIAGRAMA RECTANGULAR

Neste método simplifica-se a forma de distribuição das compressões no betão e

despreza-se a participação do aço à compressão, o que permite resolver as equações

anteriores, de forma simples.

c f cd f cd c

(-) 0.8x f cd
x

Deste modo,

c f cd

(-)
Fc 0.4x
x 0.8x

LN

d
z = d - 0.4x

(+)
Fs

4.3.1 CÁLCULO DE MRD

Se forem conhecidos a geometria da secção, a quantidade de armadura e as resistências

dos materiais, a avaliação da capacidade resistente segue os seguintes passos (trata-se

um problema dito de análise pois a secção e armaduras estão totalmente definidas):

i) Admitir que s = fyd ( s yd), ou seja, que as armaduras estão em cedência

ii) Determinar posição da linha neutra

Por equilíbrio axial, Fc = Fs fcd Ac (x) = As fyd x=?

iii) Calcular o momento resistente

Por equilíbrio de momentos, MRd = As fyd (d - 0.4x)

iv) Verificar hipótese inicialmente admitida: s yd

c
Rotura convencional: c s = ud

(-)
x

A partir da posição da linha neutra anteriormente calculada, se

admitirmos que a rotura se dá pelo betão, obtém-se a extensão


(+)

ao nível da armadura. s

Se s yd a hipótese considerada inicialmente, de admitir o aço em cedência

está correcta.

30

Estruturas de Betão I

Se s < yd Fs < As fyd, trata-se de uma situação não desejável pois nem se estaria

a tirar partido da resistência máxima do aço.

A posição da Linha Neutra para essa situação limite pode ser avaliada para os aços A400

e A500 por:

Posição da LN para c s = yd (início da cedência do aço)

A400:
c yd

x d
(-) =
3.5 3.5 + 1.74 x = 0.67 d

d
A500: yd

(+) x d

= x = 0.62 d
s= yd
3.5 3.5 + 2.175

Deste modo, se x 0.67 d no caso de se utilizar aço A400, ou se x 0.62 d no caso de

se utilizar aço A500, pode se concluir, desde logo, que o aço está em cedência.

Por outro lado, conhecida a posição da Linha Neutra, é possível confirmar se a rotura

convencional se dá pelo betão. Exemplifica-se, seguidamente, para aços das classes B

(NR) e C (NR SD).

Para um aço de Classe C: Posição da LN para c = ud = 0.9 =

(-)
x

x d

d = x = 0.05 d
3.5 71

(+)

ud

Deste modo,

c
se x < 0.05 d (situação pouco corrente) (rotura pela armadura)

s = ud

se x > 0.05 d (rotura pelo betão)


s < ud

Se tratasse de um aço de Classe B ter-se-ia para este limite x = 0.072 d

Constata-se, assim, que, para uma grande gama de possíveis posições da Linha Neutra,

a rotura convencional dá-se pelo betão e o aço está em cedência. Esta diferenciação

(rotura convencional pelo aço ou betão), nem é importante pois de qualquer maneira a

capacidade máxima resistente do aço é explorada.

31

Estruturas de Betão I

No entanto, é importante no dimensionamento das secções de betão armado controlar

melhor a posição da Linha Neutra por uma razão essencial: Um elemento de betão

armado deve apresentar ductilidade em situação de rotura, i.e., deve poder evidenciar

deformações apreciáveis por cedência das armaduras, sem perda de capacidade

resistente. Esta característica é fundamental nas estruturas e, para tal, é importante

assegurar valores x/d limitados, pois verifica-se, experimentalmente, que aquele é um

parâmetro que influencia directamente a ductilidade do elemento.

A Ductilidade ou Capacidade de Deformação Plástica das Secções é medida pela relação

(1/R)u/(1/R)y, i.e., a relação entre as curvaturas última e de cedência, como ilustrado na

figura seguinte.

MRd

As4 (x4; s4 ;menor ductilidade) cx


As3 (x3; s3)

As2 (x2; s2) (-)


x
1

(2) As1 (x1; ;maior ductilidade) R


(1) s1

As1 < As2< As3 < As4 (+)

As s

(1 / R) y (1 /R) u (1 / R) 1 cx

=-
(1) =
s syd R x

(2) Rotura da secção por esmagamento do betão comprimido c ) ou

menos correntemente, por deformação de armaduras c ud )

Para garantir um nível mínimo de ductilidade disponível deve procurar garantir-se que,

pelo menos, x 0.4 a 0.5 d, portanto com x/d claramente na zona de cedência do aço.

É importante referir que no dimensionamento à rotura dos elementos estruturais se deve

sempre avaliar as vertentes de resistência e de ductilidade.

A situação mais corrente com que o engenheiro se defronta na prática, depois de ter feita

a análise estrutural, ter avaliado a distribuição de esforços actuantes, ter definido uma

geometria para a secção e escolhido os materiais, é a de querer avaliar a quantidade de

armadura a considerar para verificar a segurança (trata-se um problema dito de

dimensionamento).

Dimensionamento das armaduras:

Dados: geometria da secção, fcd, fyd, Msd

32

Estruturas de Betão I

f cd

Fc

x 0.8x

LN

d Msd
z

As Fs

i) Admitir que s = fyd ( s yd), ou seja, que as armaduras estão em cedência

ii) Determinar posição da linha neutra

Por equilíbrio de momentos, Msd = Fc z = fcd b 0.8 x (d - 0.4x) x = ... Fc = ...

iii) Calcular a área de armadura necessária

Por equilíbrio axial, Fc = Fs fcd b 0.8x = As fyd As= ?

iv) Verificar hipótese inicialmente admitida: s y

33

Estruturas de Betão I

Exercício 2

Considere a viga representada na figura seguinte e adopte G = Q = 1.5

0.55

3 20

0.30

5.00

Materiais: C25/30 (fcd = 16.7MPa)

A400 (fyd = 348MPa)

Calcule a máxima sobrecarga q que pode actuar com segurança sobre a viga.

Resolução

Método do diagrama rectangular simplificado

0.85 fcd

Fc 0.4x

x 0.8x

LN

d M Rd
z

Fs

1. Cálculo do MRd

Equações de equilíbrio (flexão simples)

F=0 Fc = Fs (1)

M=0 MRd = Fs z = Fs (d - 0.4x) (2)

(Este exercício está resolvido com = 0.85)

Fc = 0.8x b 0.85 fcd = 0.8x 0.30 0.85 16.7 103 = 3406.8x

Fs = As fyd = 9.42 10-4 348 103 = 327.8kN (As(3 20) = 9.42cm2)

327.8

(1) Fc = Fs x = 3406.8 = 0.096m z = d - 0.4x = 0.55 - 0.4 0.096 = 0.51m

34

Estruturas de Betão I

(2) MRd = Fs z = 327.8 0.51 = 167.2kNm

Verificação da hipótese de cedência do aço ( s yd)

c es

(-) 0.454 = 0.096 s yd


0.096

fyd 348
0.55 eyd = e =

s 200 103
0.454

(+)

s
x 0.096

d = 0.55 = 0.175

Ductilidade da secção (como critério mínimo é desejável que x/d ~ (0.4 a 0.5) ou,

equivalentemente, s >

3. Cálculo da sobrecarga máxima (Msd MRd)

psd L2 8 167.7
Msd = 8 167.7kNm psd 52 = 53.7kN/m

53.7
psd = 1.5 (g + q) q = 1.5 - 0.30 0.60 25 = 31.3kN/m

35

Estruturas de Betão I

Exercício 3 (mesma base do exercício 1)

Considere a mesma estrutura de piso e considere os cálculos já realizados:

Materiais: C25/30, A400

4.00 4.00 4.00 4.00

Acções:

Peso próprio 435

Revestimento = 2.0kN/m2

1,5

S2 Sobrecarga = 3.0kN/m2
10.00

Coeficientes de majoração:

G = Q = 1.5

S1
Coeficientes de combinação:

1 = 0.4 ; 2 = 0.2

3.00

Secção da viga: 0.30 0.85m2

Espessura da laje: 0.15m

a) Determine as armaduras necessárias para garantir o Estado Limite Último de flexão da

viga (Secções S1 e S2)

a.1) utilizando o método do diagrama rectangular simplificado

a.2) Fs z

a.3) com recurso a tabelas

a.4) pormenorize as armaduras de flexão

36

Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DA ALÍNEA A):

1. Modelo de cálculo:

g, q

S2 S1
0.85

10.00 3.00

0.30

2. Envolvente do diagrama de esforços

DMF 272.0

[kNm]
S2 (-)

S1
(+)

660.2

ALÍNEA A.1)

+ = 660.2 kNm)
Secção S2 (Msd

0.85 f cd

x 0.8x
Fc

LN

0.80
z M sd

As Fs

0.30

Resolução com = 0.85:

Fc = 0.85 fcd 0.8x b = 0.85 16.7 103 0.8x 0.3 = 3406.8x

Fs = As fyd = As 348 103

Equilíbrio de momentos:

MAS = Msd 3406.8x (0.8 - 0.4x) = 660.2 x = 0.282m

Fc = 3406.8 0.282 = 960.7kN

Equilíbrio de forças:

960.7

Fs = Fc As 348 103 = 960.7 As = 104 = 27.6 cm2

348 103

Verificação da hipótese de cedência do aço

37

Estruturas de Betão I

c Admitindo que c

(-) 0.282

c 0.282

= 0.518 s yd
s

0.518

(+) x

s d = 0.35

A armadura está em cedência e a secção tem um nível de ductilidade aceitável.

- = 272.0 kNm)
Secção S1 (Msd

0.30

As Fs

0.80 M sd

LN

x Fc

0.8x

0.85 f cd

Equilíbrio de momentos:

MAS = Msd 3406.8x (0.8 - 0.4x) = 272.0 x = 0.105m Fc = 357.7kN

Então x/d = 0.13 Bom em termos de ductilidade disponível

Equilíbrio de forças

357.7

Fs = Fc As 348 103 = 357.7 As = 104 = 10.28cm2

348 103

Verificação da hipótese de cedência do aço

s 0.695
Admitindo que c -se: = 0.105 s yd

4.4 RESISTÊNCIA À FLEXÃO SIMPLES COM O AUMENTO DE ARMADURAS

Na figura seguinte apresentam-se os diagramas de deformação de uma secção de betão

armado, para quatro áreas de armadura distintas (área de armadura crescente).

38

Estruturas de Betão I

M Rd,1 M Rd,2 M Rd,3 M Rd,4

c c c c

(-)

x1 (-) x2 (-)
x3
(-)

x4

M Rd

As
(+) (+) (+)
(+)
s s s s

(As muito pequeno) (As maior) (...) (...)

1 2 3 4

Apresentam-se, em seguida, as relações constitutivas do aço e do betão, com indicação

qualitativa da evolução das tensões e extensões dos dois materiais, com a variação da

armadura.

c s

2 3 e 4 3 1 e 2
f cd f syd

c syd ud s

Conforme se pode observar na figura seguinte, para baixos níveis de armadura, existe

proporcionalidade entre a área de armadura e o momento resistente da secção. À medida

que a quantidade de armadura aumenta, esta relação deixa de ser linear, ou seja, o

aumento da armadura traduz-se em acréscimos menores de momento resistente. Este

comportamento deve-se à sucessiva diminuição do braço do binário (z) com o aumento

da área de armadura, até que a armadura deixa de poder estar em cedência (caso 4) e,

portanto, o aumento de armadura perde toda a eficiência.

M Rd

M4

M3

M2

M1

As
1 2 3 4

39

Estruturas de Betão I

4.5 DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO SIMPLES GRANDEZAS ADIMENSIONAIS

4.5.1 MÉTODO GERAL

c c
Fc = fcd b x

d2 As2
s2 Fs2
Fc x
(-)

x
Fs2 = s2 As2

LN

d M Fs1 = s1 As1

(+)
Fs1

As1 s1

dA
c c y dA

y fcd =
Ac
; x=

bx c dA

coeficiente que define a relação da resultante das tensões de compressão no betão

pela força de uma compressão uniforme com fcd, em toda a zona comprimida.

coeficiente que define a posição da resultante das tensões de compressão no betão,

função de x.

Equações de Equilíbrio

Equilíbrio axial: Fc = Fs fcd bx + s2 As2 = s1 As1 (1)

Equilíbrio de momentos: MAs = M M= fcd b x (d - x) + s2 As2 (d - d2) (2)

(Equações não lineares)

Cálculo por iterações

x
i) Fixar c
d = 0.5)

ii) Calcular as forças axiais F

Se |Fc + Fs2| > Fs1 c

(-)
x

a LN tem de subir para diminuir FC, tendo uma das

extensões, c ou s, o valor máximo e, a outra, um d

valor igual ou inferior ao limite. (+)

s ud

É necessário diminuir o valor de x até que F = 0

40

Estruturas de Betão I

Se |Fc + Fs2| < Fs1 c

(-) x

(a LN tem de baixar para aumentar Fc)

(+)

É necessário aumentar o valor de x até que F = 0.

ii) Calcular MRd

Definida a posição da LN e o diagrama de extensão, calculam-se as tensões e o valor

de MRd

Nota: Este é um processo de cálculo moroso. Na prática recorre-se a programas de

cálculo automático ou a tabelas de cálculo.

Para elaborar tabelas é necessário trabalhar com grandezas adimensionais, por

forma a que sejam aplicáveis a secções com qualquer geometria.

4.5.1.1 Grandezas adimensionais

Equações de Equilíbrio

fcd bx = s1 As1 - s2 As2 (1)

M= fcd b x (d - x) + s2 As2 (d - d2) (2)

Substituindo (1) em (2),

M= s1 As1 (d - x) - s2 As2 (d - x) + s2 As2 (d - d2)

= s1 As1 (d - x) + s2 As2 ( x - d2) (3)

Considerando As2 = As1 e s = fyd, a equação (3) toma a forma

x x d2

M = As1fyd d 1 - d + As1fyd d d - d

Transformando esta equação numa forma adimensional (dividindo todos os termos por

b d2fcd), resulta

M As1 fyd x As1 fyd x d2


= 1- + -

b d2 fcd b d fcd d b d fcd d d

d2
= (1 - k) + k-

Definem-se, assim, os parâmetros , w e k, de uso corrente na concepção e

dimensionamento de estruturas de betão:

41

Estruturas de Betão I

= (Momento flector reduzido);


b d2 fcd

As1 fyd

= bdf (Percentagem mecânica de armadura)


cd

k= (Posição da L. Neutra adimensional)


d

4.5.2 MÉTODO DO DIAGRAMA RECTANGULAR SIMPLIFICADO

4.5.2.1 Grandezas adimensionais

Fc 0.4x

x
(-) 0.8x

LN

d MRd

(+)
Fs

As s

MRd = Fs z = Fs (d - 0.4x)

Admitindo que o aço está na cedência, MRd = As fyd (d - 0.4x)

Transformando a equação anterior numa forma adimensional, resulta

MRd As fyd x As fyd x

b d2 fcd = b d fcd 1 - 0.4 d = b d fcd 1 - 0.4 d Rd = (1 - 0.4k)

MRd x

Rd = b d2 f (momento flector reduzido); k = d


cd

As fyd

= bd fcd (percentagem mecânica de armadura)

As fyd

Fc = Fs 0.8 (kd) b fcd=Asfyd k = 1.47 b d = 1.47 ( = 0.85)085).85)


fcd

Visto que Rd = (1 - 0.4k) e substituindo o resultado anterior, obtém-se a seguinte

expressão para cálculo do momento flector reduzido em função da percentagem

mecânica de armadura:

Rd = (1 - 0.588 )

4.5.3 UTILIZAÇÃO DE TABELAS

As tabelas podem ser utilizadas para:

i) Determinar o momento resistente de uma secção, dadas as armaduras;

42

Estruturas de Betão I

ii) Determinar as armaduras, dado o momento solicitante

4.5.3.1 Determinação da capacidade resistente (Análise)

Tabelas

Dado As1 e As2 determina-se e MRd = b d2fcd

( , )

4.5.3.2 Dimensionamento de armaduras

Msd Tabelas fcd


Dado Msd determina-se =b d2 f 1 As1 = 1 bd f As2 = As1

cd ( , ) yd

Refira-se que as tabelas da disciplina foram desenvolvidas para = 0.85

Notas:

(i) No dimensionamento de uma secção, a posição da L.N. deve ser controlada por forma

a que se tenha a garantia de um nível de ductilidade adequado.

Caso isso não aconteça, será conveniente dispor de armaduras de compressão

específicas ou modificar a secção da viga (aumentar a altura é mais eficiente que adaptar

a largura, no entanto, na prática do projecto, a altura está muitas vezes mais

condicionada).

(ii) Numa viga, existe, de qualquer forma, sempre armadura de compressão, por razões

construtivas, em geral, com um nível não inferior a = 0.1.

Directamente através dos valores adimensionais do momento ( ), e não considerando o

papel da armadura de compressão, é possível ter, para uma dada secção, uma noção do

nível de esforço actuante e da potencial ductilidade.

Momento elevado k próximo de 0.668 (A400) s próximo de yd

0.30 (secção pouco dúctil)

Momento médio k < 0.5 (secção dúctil, dimensionamento adequado)

0.10 a 0.25

Momento pequeno

IMPORTANTE: Estes valores devem ser tomados como referência para um

dimensionamento adequado e não como imposições regulamentares ou outras. Por

exemplo, é possível ter valores de mais elevados e ter-se, ainda, um nível de

ductilidade adequado, com utilização de armadura de compressão.

43

Estruturas de Betão I

No quadro seguinte, e para a flexão simples, apresentam-se as relações de

dimensionamento - relativas à aplicação do REBAP ( = 0.85) e do EC2 ( = 1) com

relações constitutivas dos aços de acordo com as Classes A, B e C.

0,35

0,30

0,25

0,20

EC2 - k=1,00
0,15

EC2 - Classe A - k=1,05

0,10
EC2 - Classe B - k=1,08

EC2 - Classe C - k=1,15

0,05
EC2 - Classe C - k=1,35

REBAP

0,00

0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45

Verifica-se que as diferenças nos valores resistentes são pouco significativas, sendo a

maior entre o REBAP (linha inferior) e o EC2, tomando a classe de aço C com k = 1.35

(linha superior).

As diferenças mais importantes são devidas à consideração do aumento da resistência

do aço para além da cedência (coeficiente k). Refira-se que na prática seria sempre

desajustado tomar para o aço C um valor superior a k = 1.15 pois, havendo a

possibilidade deste variar entre 1.15 e 1.35, ter-se-ia que tomar, sempre, o menor.

O facto de se adoptar para o betão o coeficiente 0,85 (em vez do 1), só tem influência

relevante para esforços elevados, pois aí começa a ter alguma influência a diminuição do

braço das forças, devido ao aumento da zona das compressões.

4.6 ESTIMATIVA DO MOMENTO RESISTENTE

Fc

z M

Fs

As

44

Estruturas de Betão I

Para momentos de ordem de grandeza pequena a média verifica-se que, para secções

rectangulares, é razoável admitir, de umas forma simplificada: z 0.9 d.

M = Fs z Asfyd 0.9 d As = 0.9 d f


yd

De facto, pela observação das tabelas de flexão simples (pág. 9), com = 0, verifica-se

que:

para = 0.15, z (1 - 0.4 k) d = (1 - 0.4 x 0.247) d = 0.9 d

para < 0.15, z > 0.9 d, portanto a hipótese anterior é conservadora para o

dimensionamento da armadura.

para > 0.15, z < 0.9 d, então a hipótese referida, com pouca armadura de

compressão, pode ser menos conservadora. No entanto, mesmo para um valor de

da ordem de 0.25 e para um = 0.4 tem-se também k = 0.247, e, por

conseguinte, z 0.9 d.

CONCLUSÃO IMPORTANTE:

Verifica-se, assim, que dentro da gama de valores de momentos, correntemente

recomendados e utilizados na prática, esta hipótese simplificativa permite uma rápida e

eficiente estimativa dos momentos flectores resistentes.

Para a resolução de problemas em geral e para a prática de projecto, formas simples de

avaliação e controlo de resultados são de inestimável valor.

45

Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 3 (CONT.)

ALÍNEA A.2)

Fs = As fyd M

M 0.9 d fyd As As =
z 0.9d 0.9 d fyd

660.2

+ = 660.2kNm
Msd As = 104 = 26.34cm2
0.9 0.8 348 103

- = 272.0kNm 272.0

Msd As = 104 = 10.86cm2


0.9 0.8 348 103

ALÍNEA A.3)

Secção S2 (Msd = 660.2 kNm)

Msd 660.2
m= = = 0.206 = 0.241; k = 0.351

b d2 fcd 0.3 0.82 16.7 103

fcd 16.7

As = bd = 0.241 0.30 0.80 104 = 27.76 cm2


fyd 348

- = 272.0 kNm)
Secção S1 (Msd

272.0

= = 0.085 = 0.091; k = 0.163


0.3 0.82 16.7 103

fcd 16.7
As = bd f = 0.091 0.30 0.80 348 104 = 10.48cm2

yd

É importante comparar os resultados obtidos pelos dois métodos, e perceber,

como referido no texto, que se for limitado, é razoável assumir a metodologia

simplificada.

46

Estruturas de Betão I

4.7 PARÂMETROS QUE INFLUENCIAM O VALOR DO MOMENTO RESISTENTE

Armadura de tracção

Fc
2Fc

M Rd
z <z

As Fs 2As 2Fs

O momento resistente é quase proporcional à área de armadura, para momentos não

muito elevados. Para momentos elevados, a variação é menos significativa.

Armadura de compressão

F s2 Fc

Fc As2

M Rd z
z

As1 F s1 F s1
As1

A influência da armadura de compressão no valor do momento resistente, apenas é

importante para esforços elevados. Para o nível de esforços usuais, a variação é pouco

significativa.

Largura da secção

Fc

Fc

M Rd
z z

As Fs As Fs

A influência da largura da secção no valor do momento resistente, apenas é importante

para esforços elevados. Para esforços habituais, em que geralmente a área comprimida é

limitada, a variação é pouco significativa.

47

Estruturas de Betão I

Classe do betão

Fc
Fc

M Rd z

As Fs As Fs

A influência do aumento da classe do betão tem uma influência equivalente à dos

parâmetros anteriores, largura da secção e/ou armadura de compressão, portanto só se

torna importante para esforços mais significativos, aliás de uma forma equivalente ao

facto de se considerar ou não o coeficiente = 0.85.

4.8 DIMENSIONAMENTO DE SECÇÕES COM OUTRAS FORMAS

4.8.1 LARGURA EFECTIVA DE UMA SECÇÃO EM T

No dimensionamento de vigas com banzos ou com ligação a lajes, pode tirar-se partido

da existência dos banzos, principalmente se se situarem na zona comprimida da secção.

hf

d0

b1 bw b2

Neste caso, a distribuição de tensões no banzo não é uniforme: as zonas laterais

deformam-se menos que a zona central da alma (devido à deformação por corte) efeito

Simplificadamente, considera-se uma largura efectiva (bef) onde se admite que a

distribuição de tensões é uniforme

Fc

b ef

x,max

48

Estruturas de Betão I

4.8.1.1 Avaliação da largura efectiva

(i) Banzo comprimido

bef

bef1 bef2

hf

b1 b1 bw b2 b2

Para o caso genérico apresentado na figura anterior, a largura efectiva pode ser obtida

através da expressão:

bef = befi + bw b

Temos, assim, a largura da alma e um valor complementar de cada lado, tal que:

befi = 0.2 bi + 0.1 L0 0.2 L0, com befi b

L0 representa a distância entre pontos de momento flector nulo e pode ser

avaliado por:

L1 L2 L3

L0 L1+0.15L2 0.7 L2 0.15(L2+L3) 0.85 L3

Evidentemente que, em termos práticos é possível simplificar esta avaliação, desde que

se estime um valor inferior, pois é conservativo e pouco significativo em termos do

resultado.

(ii) Banzo traccionado

No caso de se tratar de um banzo traccionado, é proposto tomar, para além da alma da

viga, uma largura função da espessura do banzo dada por 4hf (hf espessura do banzo)

em que as armaduras de tracção podem ser distribuídas. No entanto, se for possível, em

termos de pormenorização, uma solução com todas as armaduras de cálculo na largura

da alma é preferível. De qualquer maneira, deve se procurar sempre ter pelo menos, 50 a

60 % da armadura de cálculo na alma.

49

Estruturas de Betão I

4.8.2 DIMENSIONAMENTO DE SECÇÕES EM POR TABELAS

Esta metodologia verifica-se ser, em geral, um pouco fastidiosa, pois exige a consulta de

várias tabelas e realização de interpolações, podendo em geral ser evitada, em particular

se se verificar que a Linha Neutra se encontra no banzo comprimido.

Exemplo com indicação do processo de interpolação:

b hf

=5 ; = 0.125
bw d

hf/d = 0.10 1

b a

bw = 4 2

hf/d = 0.15

hf/d = 0.10

b b

bw = 6 4
hf/d = 0.15

Casos particulares:

Dado que se considera que o betão não resiste à tracção, o dimensionamento de uma

nos seguintes casos:

(i) se a linha neutra estiver no banzo, caso este esteja comprimido (acontece na

generalidade dos casos) secção rectangular de largura bef;

b ef b ef

LN
Fc
LN
Fc

M M

As Fs As Fs

bw

(ii) se a linha neutra estiver na alma e o banzo estiver traccionado secção rectangular

de largura bw

50

Estruturas de Betão I

b ef

Fs Fs

As As

M M
LN LN

Fc Fc

bw bw

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 3 ALÍNEA A3 CONSIDERANDO A SECÇÃO EM T

Dimensionamento das armaduras considerando a contribuição da laje à compressão

b ef hf = 0.15 m

hf h = 0.85m

bw = 0.30m

bw

bef = befi + bw = 1.22 2 + 0.30 = 2.74 m

3.7
bef1 = 0.2 b1 + 0.1 L0 = 0.2 + 0.1 0.85 10 = 1.22 m 1.7m

0.2 L0 = 0.2 0.85 10 = 1.7 m

Hipóteses para o dimensionamento da secção, para momentos positivos:

(i) Se a L.N. estiver no banzo da secção, o dimensionamento pode ser efectuado como

se a secção fosse rectangular, de largura bef.

(ii) Se a L.N. estiver na alma da secção, o dimensionamento deverá de ser efectuado

rectangular simplificado).

Para verificar se a L.N. está no banzo,

660.2

MSd = 660.2kNm = = 0.023 k = 0.076


2.74 0.82 16.7 103

x=k d = 0.076 0.8 = 0.06 m 0.15 m a LN está claramente no banzo

fcd 16.7

= 0.023 = 0.024 As = b d f = 0.024 2.74 0.8 348 104 = 24.77cm2


yd

51

Estruturas de Betão I

É importante comparar este resultado com o obtido anteriormente e verificar que neste

caso se obteve um valor inferior, em aproximadamente 10%, em relação ao da

consideração da viga rectangular. Isto deve-se ao facto de neste caso se poder dispor de

um braço maior. Note-se, que a hipótese de considerar a secção como rectangular, é

conservativa em termos de verificação da segurança.

4.8.3 SIMPLIFICAÇÃO DE SECÇÕES PARA EFEITOS DE DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO SIMPLES

1) Secção real

b b

2bw
bw

b' b'

2) Secção real

bw 2bw

b b

3) Secção real

bw bw

b
b

52

Estruturas de Betão I

Secções a considerar no dimensionamento à flexão

1)

M M

2bw

b' b

b'

(se a LN estiver no banzo) (se a LN estiver no banzo)

Nota: Se a LN estiver na alma da secção, o dimensionamento poderá ser efectuado com

base numa secção em T (considerando a existência do banzo que estiver comprimido, e

desprezando o banzo traccionado)

2) e 3)

bw

M M

b bw b

(se a LN estiver na alma) (se a LN estiver no banzo)

(se a LN estiver na alma) (se a LN estiver no banzo)

53

Estruturas de Betão I

Exercício 4

Considere a estrutura da figura seguinte:

sc

cp

S2 S1

3.50 10.00 3.50

0.20 0.20

Materiais: C20/25, A400

Acções: pp + revest. = 20.0 kN/m

1.00
sobrecarga = 40.0 kN/m

0.15 Coeficientes de majoração: G = Q = 1.5

1.00

a) Determine as armaduras necessárias para garantir o Estado Limite Último de flexão da

viga (secções S1 e S2)

b) Pormenorize as armaduras de flexão.

54

Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 4

ALÍNEA A)

1. Esforços de dimensionamento

p sd

3.50 10.00 3.50

DMF 551.3 551.3

[kNm]
(-) (-)

(+)

573.8

psd = 1.5 (20 + 40) = 90 kN/m

psd L12 90 3.52


MsdS1 = - =- = -551.3 kNm

2 2

psd L22 90 102


MsdS2 = 8 - Msd
S1
= 8 - 551.3 = 573.8 kNm

2. Determinação das armaduras (E.L.U. flexão)

+ = 573.8 kNm)
Secção S2 (Msd

0.20 0.20

LN LN

M sd
1.00 1.00

0.40

Msd 573.8

= bd2 f = = 0.120 = 0.131


cd 0.40 0.952 13.3 103

fcd 13.3

As = bd f = 0.131 0.40 0.95 348.0 104 = 19.03 cm2


yd

55

Estruturas de Betão I

- = 551.3 kNm)
Secção S1 (Msd

Hipótese: a LN encontra-se no banzo da secção

M sd 1.00

LN LN

1.00 1.00

Msd 551.3

= = = 0.046 k = 0.112
bd2 fcd 1.0 0.952 13.3 103

k= d x = k d = 0.112 0.95 = 0.106 LN está no banzo

= 0.046 w = 0.048

fcd 13.3

As = bd f = 0.048 1. 0 0.95 348.0 104 = 17.42cm2


yd

5 Disposições Construtivas Gerais

As disposições das armaduras nas peças de betão armado são de extrema importância

quer para a boa resposta estrutural do betão estrutural, quer para assegurar que durante

a construção, em particular no processo de betonagem, se assegura o posicionamento

previsto para os ferros. Referimos agora, e na sequência as bases relativas a estas

disposições.

Poderemos, talvez, diferenciar entre armaduras principais e secundárias, mas é acima de

tudo preciso compreender que o importante é a eficiência final do conjunto.

Armaduras principais: Asseguram a resistência do elemento estrutural relativamente à

segurança à rotura (não só de flexão, como vimos anteriormente, mas também a outros

efeitos) e contribuem para assegurar um comportamento adequado nas condições de

serviço, como vamos ver noutro Capítulo do curso.

Armaduras secundárias: Têm como função ajudar a rigidificar as malhas de

armaduras, para a sua colocação em obra, assegurando o posicionamento correcto e

estável das armaduras durante a betonagem.

56

Estruturas de Betão I

est = 6 ou 8 mm (o diâmetro de 6 é muito pouco

utilizado em obras de média ou alta dimensão)

10 a 12 mm (para vigas mais importantes)

h d
long = 12 a 16 mm (para vigas menos solicitadas)

= 20 a 25 mm (para vigas mais robustas)

c recobrimento

s c

Obtém-se como estimativa da altura útil:

long
Altura útil: d = h - c - est -

5.1 RECOBRIMENTO DAS ARMADURAS

O recobrimento das armaduras desempenha as seguintes funções:

(i) mecânica: Destina-se a garantir que há betão suficiente a envolver a armadura, e

assim garantir a sua aderência por forma a que se verifique uma eficiente transmissão de

forças entre o betão e o aço (c ou eq)

(ii) durabilidade: protecção contra a entrada dos agentes agressivos e consequentemente

dificultando que o processo de corrosão das armaduras se possa verificar (recobrimento

definido em função da agressividade do ambiente de exposição e da compacidade do

betão)

Estes aspectos são mencionados e analisados no capítulo referente à durabilidade do

betão armado.

5.2 DISTÂNCIA LIVRE ENTRE ARMADURAS (S)

A distância livre entre armaduras deve ser suficiente para permitir realizar a betonagem

em boas condições, assegurando-lhes um bom envolvimento pelo betão e as necessárias

condições de aderência e protecção.

No caso de armaduras para betão armado, temos, em termos regulamentares os

seguintes valores:

smin = { maior, eq maior, (dg + 5 mm), 2 cm}

onde dg representa a máxima dimensão dos inertes.

No entanto, se estes são valores mínimos, deve-se projectar, pretendendo

espaçamentos com folga em relação a estes.

57

Estruturas de Betão I

A distância livre entre uma camada de armaduras longitudinais numa viga, igualmente

espaçadas, pode ser calculada pela expressão:

b - 2c - 2 est - n long

s= n-1 ,n número de varões

É necessário, na pormenorização garantir que a distância entre varões assegura o

espaço necessário para introdução do vibrador do betão (aconselhável: 4 a 5 cm

junto à face inferior e 7 a 10 cm junto à face superior). Nalguns casos, em particular na

face superior é normal que não se adoptem espaçamentos iguais entre ferros para

assegurar este objectivo.

Nas figuras seguintes apresentam-se dois exemplos de pormenorização de uma viga que

dá apoio na parte superior a uma laje, nas zonas mais solicitadas à tracção nas faces

inferiores (vão) e superiores (apoio).

5.3 AGRUPAMENTOS DE ARMADURAS

Os agrupamentos de armaduras devem ser evitados sempre que possível, dado que

prejudicam a aderência aço/betão. No entanto, se essa for a forma de garantir uma malha

muito apertada de ferros é, sem dúvida, uma solução justificável.

Regulamentarmente definem-se algumas restrições aos agrupamentos. Assim:

O agrupamento de varões com diâmetros diferentes pode ser adoptado desde que o

quociente dos diâmetros não exceda o valor 1.7.

Relativamente ao número máximo de varões que é possível agrupar, temos:

- Para o caso de armaduras verticais comprimidas ou numa zona de emenda de varões,

n 4

- Em todos os restantes casos, n 3

Em qualquer direcção não pode haver mais que 2 varões em contacto.

O diâmetro equivalente de um agrupamento pode ser calculado pela expressão

eq = i 55mm

Exemplos:

58

Estruturas de Betão I

(mais indicado) (aceitável) (desaconselhável)

Evidentemente que soluções que incluam varões isolados e outros agrupados são

possíveis, tentando sempre seguir as indicações gerais referidas, em especial, não

dificultar a betonagem e o bom envolvimento das armaduras pelo betão.

5.4 DOBRAGEM DE VARÕES

Em muitas situações as armaduras têm de ser dobradas, como as armaduras

longitudinais nas extremidades das vigas e, em geral, as armaduras transversais.

Condições a satisfazer:

- Não afectar a resistência do aço;

- Não provocar o esmagamento ou fendilhação do betão quando a armadura for

traccionada.

O diâmetro mínimo de dobragem para não afectar a resistência do aço depende, no

essencial, do diâmetro do varão e são indicados no quadro seguinte do EC2. Estes

valores são considerados mínimos havendo que ter precauções complementares no que

diz respeito ao risco de esmagamento e de fendilhação inconveniente do betão, em

particular se as dobragens se verificarem junto à superfície da peça, como indicado com

detalhe, por exemplo, no EC2.

Quadro Diâmetro mínimo do mandril a fim de evitar danificar a armadura

Diâmetro mínimo do mandril para

Diâmetro do varão
cotovelos, ganchos e laços

16 mm 4

> 16 mm 7

5.5 POSICIONAMENTO DAS ARMADURAS

O posicionamento das armaduras, antes da betonagem, é assegurado pelos seguintes

elementos:

Espaçadores garantem o recobrimento das armaduras

59

Estruturas de Betão I

Cavaletes garantem o correcto posicionamento das armaduras superiores nas lajes

Varões construtivos (armaduras secundárias) Colocados de tantos em tantos

metros (dependente da rigidez do ferro em causa) garantem o espaçamento vertical

dos varões longitudinais principais, durante a betonagem.

5.6 PRINCÍPIOS A TER EM ATENÇÃO NA PORMENORIZAÇÃO DAS ARMADURAS

A escolha do tipo de pormenorização no que respeita ao número de varões e diâmetros a

adoptar deve ter em atenção os seguintes factores, que apontam, eventualmente para

opções contraditórias:

- custo da mão de obra menor número de varões

- facilidade de betonagem menor número de varões

- liberdade de dispensa maior número de varões

- mais eficiente limitação da fendilhação maior número de varões

Na pormenorização das armaduras longitudinais das vigas só os três primeiros aspectos

são significativos, havendo que ganhar experiência e ter bom senso nas escolhas, sendo

certo que não há que procurar a solução óptima, mas sim uma BOA SOLUÇÃO.

5.7 DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS EM VIGAS ARMADURAS LONGITUDINAIS DE FLEXÃO

5.7.1 QUANTIDADES MÍNIMA E MÁXIMA DE ARMADURA

A quantidade mínima de armadura a adoptar numa viga, neste caso definida no EC2, é

dada pela seguinte expressão:

fctm

As,min = 0.26 f bt d
yk

onde bt é definida, como sendo a largura média da zona traccionada em flexão.

60

Estruturas de Betão I

Esta quantidade de armadura tem a ver com a necessidade de assegurar um mínimo de

robustez aos elementos de betão armado, em especial garantir, com uma certa reserva,

que, ao se dar a fendilhação, a quantidade de armadura é suficiente para reter as

tracções que se libertam do betão sem cedência do aço, garantindo um

comportamento dúctil.

Chama-se, desde já a atenção para que, numa viga em T, com banzo traccionado é mais

prático separar, por um lado, a alma, com a sua largura, bw, ou, se esta for variável, com

seu valor médio, para aplicar a expressão anterior e, por outro lado, os banzos, como

elementos traccionados, com uma armadura mínima, a distribuir nas duas faces do

banzo, tal que;

As fsy k > Ac,banzo fctm, ou seja As,min = Ac,banzo fctm/fsyk

A questão da armadura mínima, como forma de controlar a fendilhação, em termos do

comportamento em serviço, para situações de efeitos de deformações impostas, será

retomado no Capítulo referente ao comportamento em serviço.

A quantidade máxima de armadura a adoptar, fora das secções de emenda, é dada em

termos regulamentares por:

As,máx = 0.04 Ac

onde Ac representa a área da secção de betão.

No entanto, em termos práticos, esta limitação tem pouca relevância, pois os critérios

de dimensionamento à rotura atrás apresentados, com limitação dos valores de momento

reduzido e posição da linha neutra (garantia de ductilidade) conduzem a quantidades de

armadura bastante inferiores.

5.7.2 ARMADURA LONGITUDINAL SUPERIOR NOS APOIOS DE EXTREMIDADE

Sempre que existir ligação monolítica entre uma viga e um pilar de extremidade, e caso

esta ligação não tenha sido considerada no modelo de cálculo, deverá adoptar-se uma

armadura superior dimensionada, pelo menos, para um momento flector igual a 15% do

momento flector máximo no vão.

Deste modo,

As,apoio = máx {As,min, 0.15 As,vão}

6 Introdução ao Comportamento Não Linear de Estruturas de Betão

Como referido e ilustrado no Capítulo 1, o comportamento do betão armado é não linear

desde o início da fendilhação, que se verifica para níveis de carga relativamente

61

Estruturas de Betão I

reduzidos. Verificou-se que o betão estrutural tem um comportamento dividido, no

essencial, em 3 fases, antes da fendilhação, no processo de fendilhação antes da

cedência do aço e daí até à rotura. Da hipótese de admitir, em estruturas hiperstáticas, o

comportamento linear dos materiais na avaliação da distribuição de esforços resulta,

, para o nível de acções de serviço, e, por maioria de

razão, próximo da rotura.

Para analisar os efeitos da acção de cargas, o fundamental no desenvolvimento do

projecto de estruturas é tomar uma solução de distribuição de esforços equilibrada (o

que, naturalmente, é respeitado pela solução elástica). Assim, pode ter-se como

referência a solução de distribuição elástica, mas podemos tomar uma outra, dentro de

limites bastante folgados, como se verá (mantendo sempre o equilíbrio). De facto, na

fase próxima do esgotamento da capacidade resistente, a distribuição de esforços

depende é da distribuição das resistências, ou seja, no caso do betão armado, da

distribuição das armaduras adoptadas no projecto. A distribuição de esforços adapta-se

às resistências disponíveis, desde que haja ductilidade disponível nas zonas mais

esforçadas, ou, o que é equivalente, essas zonas tenham capacidade de deformação

plástica. E o betão armado é dimensionado, como se analisou no capítulo 3, para isso

mesmo.

Por outro lado, mesmo em condições de serviço, é natural haver, devido às perdas de

rigidez por fendilhação, variações dos valores de momentos, por exemplo numa viga

contínua, entre o vão e apoio, de mais ou menos 10%, tomando-se, no entanto, por

simplicidade, em projecto, a distribuição elástica.

Para os efeitos de deformações impostas, por exemplo, variações de temperatura ou

assentamentos diferenciais de apoios, a perda de rigidez associada à não linearidade do

comportamento (fendilhação e fluência para efeitos demorados no tempo) faz diminuir

claramente os esforços em condições de serviço.

Próximo da rotura, e se houver ductilidade disponível, o que será o caso se os elementos

forem bem dimensionados, os esforços podem quase se anular.

No que se segue analisa-se, para o caso de cargas verticais, como e quando se pode

ter em conta o comportamento não linear do betão estrutural, na definição da distribuição

de esforços para o dimensionamento à rotura.

6.1 ANÁLISE ELÁSTICA SEGUIDA DE REDISTRIBUIÇÃO DE ESFORÇOS

Como acima referido, a partir da distribuição elástica é possível, e por vezes mesmo

aconselhável, tomar para o dimensionamento da estrutura uma outra, respeitando, na

mesma, o equilíbrio.

62

Estruturas de Betão I

Na figura seguinte esquematiza- ,

para uma dada combinação de acções, parte dos esforços do apoio para o vão,

respeitando sempre o equilíbrio. Resulta, neste caso, uma menor necessidade de

armaduras sobre o apoio e um aumento no vão. Esta opção pode ser muito útil na região

do apoio, pois:

Pode melhorar as condições de ductilidade.

Pode facilitar a pormenorização de armaduras.

Li Li+1

MEL

DMF

MELR = MEL

M = MEL - MEL = MEL(1 - autoequilibrado

Refira-se que, apesar de ser em geral menos interesante, é também possível considerar

a redistribuição de esforços em sentido contrario, do vão para o apoio.

Em termos regulamentares são referidas, em geral, algunas limitações, tais como:

li

Para 0.5 li+1 2

xu

0.44 + k2 d para fck 50 MPa k2 = 1.25

0.7 para os aços das classes B e C, correspondentes aos aços NR e NR SD

0,4411,25

utilizados em Portugal.

Verifica-se, assim, como ilustrado na figura seguinte, que esta possibilidade depende da

posição da Linha Neutra na rotura, que, com vimos no Capítulo 3, é o parâmetro indirecto

principal de medida da ductilidade, ou da capacidade de deformação plástica disponível.

63

Estruturas de Betão I

1.0

0.208 0.448 xu/d

Na figura abaixo ilustra-se, para uma viga contínua, como a redistribuição de esforços é

implementada, sendo equivalente a somar um diagrama de esforços auto-equilibrado.

MEL

(-) (-)

(+) (+) (+)

nri

p.la Mrd (+)

PÉ MITEMRI rirá MratePÉ


µ
= MELR

(-) (-)

(+) (+) (+)

Enrdt

Refira-se que para uma viga bi-encastrada, a aplicação de uma redistribuição de = 0.75

corresponde a passar os momentos no apoio e vão de, respectivamente, (pl2/12) e

(pl2/24) (metade do anterior), para valores iguais no vão e apoio de (pl2/16) !! O aluno

deve analisar esta afirmação, de uma forma simples, verificando, por exemplo, que, em

ambos os casos a soma, em módulo, dos esforços no apoio e vão é igual a (pl2/8). Isto

mostra o relativamente largo espectro de possibilidades que são possíveis, para a

distribuição dos momentos de dimensionamento, e consequentemente de armaduras no

betão armado. Dito isto, é importante mencionar que esta possibilidade não sendo,

evidentemente, obrigatória, constitui uma opção de projecto, com eventuais vantagens

como anteriormente salientado.

A justificação desta possibilidade, pode ser compreendida, de uma forma simplificada,

se se tomar a distribuição elástica e se considerar uma rótula na secção a partir da qual

se quer redistribuir os esforços. Então, aplicando aí o valor do momento a redistribuir,

obtém-se o valor da rotação plástica necessária, rqd (ver a figura abaixo).

64

Estruturas de Betão I

2 M
rqd =

3EI

Assim, esta rotação tem de ser inferior à capacidade de rotação plástica da zona, neste

caso sobre o apoio, por sua vez dependente, como salientado, principalmente da posição

da Linha Neutra na rotura:

rqd < adm

O valor da capacidade de rotação plástica adm não é facilmente quantificável. Na figura

do EC2 abaixo representada, são indicados esses valores em função de xu/d, e das

características do aço e betão. Estes valores são em geral conservativos, sendo

resultantes das campanhas experimentais realizados ao longo das últimas décadas e de

análises numéricas com modelos não lineares.

65

Estruturas de Betão I


(mrad)
pl,d


35

30

C 50/60

25


20 Classe C

C 90/105

15

Classe B

10
C 50/60


5 C 90/105

0

0 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45

(xu/d)


Os valores de redistribuição possível (coeficiente atrás indicado) estão calibrados

de forma a respeitar estes procedimentos de verificação da capacidade de rotação


disponível, pelo que podem ser implementados sem este tipo de avaliação directa.

6.2 APLICAÇÃO DIRECTA DO CÁLCULO PLÁSTICO (TEOREMA ESTÁTICO)



TRI Terem daregião
A regulamentação de estruturas de betão permite igualmente a utilização directainferior

do

Analógica

teorema estático da teoria da Plasticidade, que assegura que: comAEG


i) considerando uma distribuição de esforços em equilíbrio com as cargas de

dimensionamento; Considerando
que há equilibrio dasforçasexternas

com as tensõesinternas

ii) e que, em nenhuma zona, a capacidade resistente seja ultrapassada, a carga de


rotura é superior à considerada. e
ai EEiEEAIEEmeite.EEootmaMohncont
µ


Evidentemente que este teorema é extremamente eficiente e útil, mas deve ser usado

com alguma precaução nas estruturas de betão, uma vez que:
com
cuidado

agates

a. como anteriormente analisado, a ductilidade das secções de betão armado é


limitada;

b.
YR
como se discutirá posteriormente, para
das 3.57o
afastamentos muito importantes em


relação à solução elástica, é importante verificar o impacto deste procedimento

sobre o comportamento em serviço, em particular no controlo da abertura de



fendas.


No entanto, dentro da gama de variações de momentos analisada, havendo o cuidado de

assegurar no dimensionamento uma boa ductilidade, como vimos neste Capítulo 6, os


princípios baseados na Teoria da Plasticidade podem ser considerados.


66

Estruturas de Betão I

6.3 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO PRÁTICA DA NÃO LINEARIDADE NA VERIFICAÇÃO DA

SEGURANÇA DAS ESTRUTURAS

A alternância de sobrecargas deve ser considerada na verificação da segurança,

sempre que exista a possibilidade desse tipo de carregamentos. A consideração da

alternância de sobrecargas implica aumento dos esforços máximos nas zonas do vão e

apoio e, consequentemente, nas quantidades máximas de armaduras.

No entanto, no caso de estruturas hiperstáticas, a consideração de comportamento

elástico na estrutura para cada combinação de acções é claramente uma hipótese

bastante conservativa. Como ilustrado na figura seguinte, no segundo caso de carga o

momento elástico do vão mais carregado é maior e o do apoio menor, quando

comparados com o primeiro (HC1). No entanto, como indicado na figura, se para o

segundo caso de carga se aplicar uma redistribuição do vão para o apoio, obtém-se uma

envolvente de esforços em que os esforços máximos no vão mais carregado e apoio são

coincidentes com os do 1º caso de carga. Assim considerando a redistribuição de

esforços, neste caso para uma das combinações de acções, verifica-se que a alternância

das sobrecargas afecta a envolvente de esforços ao longo do vão, mas não os valores

máximos no vão e apoio, valores estes que condicionam as quantidades máximas de

armaduras a adoptar.

1) Hipótese de carga 1 (HC1) 2) Hipótese de carga 2 (HC2)

sc sc

cp cp

L L L L

pl 2 /8

DMEL DMEL PL
M
HC2

pl 2 /8 HC1

HC2
EL

DMELR HC1, HC2 HC1

HC2

pl 2 /8

De referir dois aspectos em relação a este exemplo:

Se se considerasse um 3º caso de carga, carregando só o 2º vão com a sobrecarga,

o procedimento seria equivalente obtendo-se uma envolvente simétrica.

67

Estruturas de Betão I

Haveria, neste exemplo, a possibilidade de, em alternativa à redistribuição adoptada

no 2º caso de carga do vão para o apoio, redistribuir os momentos de cada um dos

casos de carga, fixando, por exemplo, um valor intermédio. Neste caso diminuía-se o

nível de redistribuição para cada um dos casos de carga e obtinha-se uma solução

de dimensionamento, talvez mais razoável.

A conclusão seria, sempre, que a consideração da alternância afectaria a

envolvente de esforços (nas zonas intermédias das vigas) mas não os valores

máximos no apoio e no vão, para além do necessário para garantir o equilíbrio para

cada combinação de acções.

Esta conclusão é muito importante e é a justificação pela qual, em muitas situações

práticas de projecto, em que se modela com base no comportamento elástico, se

dispensa a consideração explícita da alternância das sobrecargas. Esta conclusão é, em

muitos casos, aplicada directamente quando o nível das sobrecargas é pouco importante

face ao das cargas permanentes. No entanto, mesmo se este não for o caso, a

possibilidade de redistribuição de esforços nas estruturas de betão permite sempre

encontrar uma envolvente com menores valores máximos de esforços no vão e apoio e

que garantem, na mesma, o equilíbrio das cargas, para cada combinação de carga. Se

não se tirar partido desta possibilidade está a se assumir uma opção conservativa.

Refira-se, por último, que, para cargas verticais, a distribuição de esforços para

verificação da segurança aos Estados Limites de Utilização deve ser a distribuição

elástica. Nestas condições, há que verificar se o nível de tensões nas armaduras em

serviço é aceitável, na zona onde foi aplicada a redistribuição no dimensionamento à

rotura, em termos do controlo da fendilhação, como atrás mencionado e se discute com

mais detalhe no Capítulo correspondente.

Para a determinação da carga última de uma estrutura existente os princípios da

Teoria da Plasticidade são particularmente úteis. Nesses casos, as capacidades

resistentes e as características de ductilidade são avaliadas com base na caracterização

possível dos materiais e quantidades de armadura presentes. A partir destes valores

pode ser estimada a máxima carga que pode ser suportada pela viga, como

esquematizado na figura seguinte.

68

Estruturas de Betão I

pRd = ?

L L

DMF -
MRd

(-)

(+)

+
2 MRd

pRd L /8

Para a avaliação da capacidade última admite-se que, na rotura, é mobilizada, em cada

tramo, a capacidade resistente máxima das secções de vão e apoio. Então, por simples

equilíbrio, pode determinar-se a carga última, tal que:

-
MRd
l2 +

PRd 8 2 + MRd

Rigorosamente (porque o momento máximo não ocorre a

meio vão) pRd seria obtido das equações:

l MRd
x = 2 - pl

+ -M- x
MRd

Rd l
PRd =

Lx x2

2 - 2

Será, evidentemente, necessário verificar se, a redistribuição em relação à solução

elástica, é razoável para a ductilidade disponível na estrutura existente.

Apresenta-se, para terminar, um problema semelhante para duas cargas concentradas

aplicadas nos meios vãos das vigas.

PRd PRd

L/2 L/2

L L

DMF MRd

(-)

(+)

+ +

MRd MRd

69

Estruturas de Betão I

Neste caso a carga P resistente de dimensionamento, PRd, seria obtida a partir da

expressão:

l MRd +
PRd 4 = 2 + MRd

70

Estruturas de Betão I

7 ESFORÇO TRANSVERSO E TORÇÃO

Apresenta-se, seguidamente, as principais características do comportamento de vigas de

betão armado quando submetidas, ao esforço transverso, à torção em zonas correntes,

introduzindo- de Descontinuidade) associadas. Mostra-se,

neste capítulo, como se desenvolve o processo de fendilhação e explica-se o

encaminhamento das cargas ao longo das vigas, em situações próximas à rotura. O

modelo base adoptado para o dimensionamento ao Estado Limite Último é apresentado e

são derivadas as expressões que constituem as verificações de segurança

correspondentes. Os aspectos referentes à pormenorização das vigas, que derivam desta

formulação geral e outros, como os da suspensão de cargas, zonas de ligação banzo-

alma, cargas próximas dos apoios, são igualmente apresentados neste capítulo.

Tratando-se estas notas de um elemento de estudo também utilizado na exposição das

aulas do curso, com o objectivo de melhorar a sua apresentação, várias das figuras

incluídas ao longo do texto são, em particular, directamente reproduzidas dos

documentos (ver Referências):

Muttoni, A., Schwartz, J., Thürlimann, B. 1998

Birkhäuser, Basel.

fib, 1999 fib

7.1 COMPORTAMENTO ELÁSTICO E MODELO DE COMPORTAMENTO NA ROTURA AO ESFORÇO

TRANSVERSO

Numa viga simplesmente apoiada submetida a duas cargas concentradas, com

comportamento elástico, definem-se trajectórias principais de tensão, de tracção e

compressão, como indicado na figura seguinte.

trajectórias das compressões principais

trajectórias das tracções principais

Elemento A Quando t = fct, inicia-se a fendilhação por esforço transverso

71

Estruturas de Betão I

Se, na zona de corte junto aos apoios, se tomar um elemento A, verifica-se que o Estado

de tensão é o que está representado, com as direcções principais de tensão inclinadas. É

natural que, ao se atingir, na direcção das tracções principais, o valor da resistência do

betão, fct, surjam fendas inclinadas em relação ao eixo. A fendilhação que se desenvolve

terá um andamento aproximado ao desenhado no esquema seguinte com as fendas a se

formarem, no essencial, perpendicularmente às direcções de tracção, quer na zona de

flexão pura quer na de flexão/corte.

Flexão + Flexão Flexão +

Esforço transverso Esforço transverso

Com o aumento da carga, a fendilhação desenvolve-se, prolongando-se as fendas até

próximo da zona comprimida. Verifica-

encaminhamento das tracções inclinadas de acordo com o comportamento elástico.

Nestas condições, se forem dispostos, na zona de corte, armaduras transversais

verticais (estribos) as tracções são re-encaminhadas nessa direcção. Podemos então

compreender, neste caso, a transmissão de tensões ou forças na viga, entre a carga

aplicada e a reacção de apoio, como representado no esquema seguinte. Verifica-se que

se formam dois campos de tensões de compressão, em forma de leque, ligados por

campos de tensões de tracção verticais, correspondentes aos estribos colocados entre

as carga e a reacção de apoio. A carga aplicada transmite-se, assim, à parte inferior da

viga, sendo posteriormente transferida à parte superior por tracções nos estribos e,

finalmente, é encaminhada para o apoio por compressões inclinadas que se concentram

na largura do apoio.

72

Estruturas de Betão I

É de referir que este tipo de mecanismo de transmissão de carga em elementos de betão

armado submetidos à flexão com esforço transverso havia sido compreendido, por Ritter

e Morsch, desde os primeiros ensaios experimentais com o betão armado, como

identificado nas imagens abaixo reproduzidas, datadas do final e princípio dos séculos

XIX e XX, respectivamente.

Ritter (1899)

Mörsch (1909, 1922)

Na figura que se segue, também dessa época, mostram-se modelos curiosos de

avaliação da distribuição das forças no betão e armaduras (nessa altura lisas e portanto

sempre terminadas em gancho), numa zona fendilhada de betão armado junto a um

apoio. Refira-se que, neste caso, as armaduras transversais não eram estribos mas sim

parte da armadura longitudinal que era dobrada a 45º, quando deixava de ser necessária

73

Estruturas de Betão I

para a flexão. Até aos anos 60/70, era corrente repartir as necessidades de armadura

para o esforço transverso entre estribos e armaduras longitudinais dobradas.

Mörsch (1922)

Se admitirmos, como representado na figura seguinte (a) que a inclinação das

compressões se mantém constante ( ), podemos interpretar e compreender o esquema

de transmissão das cargas ao longo da viga, com a representação dos campos de

tensões. Notem-se os campos de compressão em leque, atrás referidos, junto ás

reacções dos apoios, e os campos de tensão paralelos, com inclinação , na zona

corrente da viga. Saliente-se que os campos de compressões incluem uma zona de

betão com várias fendas e os de tracção um conjunto de estribos, o que se pode

compreender ao analisar em conjunto os dois esquemas (a) e (b).

a)

b)

Este modelo contínuo de transmissão de tensões poderá também representar-se por

um modelo discreto, constituído pelas resultantes dos campos de tensões, assim

equivalente a uma treliça, onde as armaduras transversais e longitudinais funcionam

como tirantes e o betão comprimido entre fendas inclinadas como escora ou biela, com

74

Estruturas de Betão I

resultante igual ao campo de compressões que representa (ver figura seguinte). Neste

modelo, também as acções aplicadas nos nós correspondem à resultante das cargas

distribuídas na zona de influência respectiva.

z cotg z cotg z cotg

bielas comprimidas (resultante da zona de compressões correspondente)

tirantes (resultante das forças de tracção nos estribos no comprimento


z cotg )

Assim, neste modelo de treliça, cada barra vertical e inclinada representa,

respectivamente, a resultante de um campo de tensões de tracções e compressões,

numa largura de z cotg (ver figura seguinte). Por outro lado, refira-se que as barras

comprimidos por flexão.

(1) Campo de tracções verticais (2) Campo de compressões inclinadas

z cotg z cotg

estribos verticais (ou inclinados) bielas inclinadas

(1) Campo de tracções e compressões paralelas ao eixo

compressão

tracção

Com base nesta modelação ver-se à que é possível relacionar os esforços (M e V) com

as tensões nos diferentes elementos, ou seja, nas armaduras transversais, armaduras

longitudinais e bielas comprimidas (inclinadas ou longitudinais). Antes porém convém

chamar a atenção que este modelo, com origem, como se viu, nos primórdios do betão

armado, sendo estaticamente válido e representando as características principais do

75

Estruturas de Betão I

comportamento, só corresponde a uma aproximação da modelação da resposta do betão

armado.

A figura seguinte, sintetiza os resultados de inúmeros ensaios experimentais de medição

das capacidades resistentes ao esforço transverso, obtidos por diferentes investigadores.

Indica-se a relação experimental entre o valor de esforço transverso último (apresentado

Vu

numa forma adimensional, v = ) e a quantidade de estribos (representada nas


b z fc

Asw fy
ordenadas pela percentagem mecânica, w = s b . f ).

Estes parâmetros adimensionais são, para o caso do esforço transverso, equiparáveis

aos correspondentes à flexão e, como se verá adiante, o nível de esforço transverso

máximo de dimensionamento, para uma dada geometria e betão, corresponde

aproximadamente a vRd = 0.30.

A análise da figura permite salientar, em particular, como a aplicação do modelo base de

Mörsh ( = 45º) conduz a resultados significativamente conservativos face ao verificado

experimentalmente.

- adaptado de Schlaich, J., Schafer, K., Jennewein, M. (1987): Toward a consistent design for structural

concrete. PCI Journ., V32, Nº3, 75-150

76

Estruturas de Betão I

Compreende-se então que, não sendo um problema simples, ao longo destes anos

tenham sido propostos diferentes modelos para uma mais fiável avaliação. No entanto,

um bom modelo, para aplicação prática, deve ser sempre simples e de fácil compreensão

física.

Uma das questões relevantes que se coloca é a influência que o corte entre os

agregados ao longo das fendas inclinadas tem na influência na inclinação das

compressões na alma da viga, que não são as mesmas das fendas principais, como se

realça seguidamente. O escorregamento (com atrito) entre o betão nas faces das fendas

gera tensões de corte e compressão, que induzem no betão entre fendas um estado de

principais na alma, verificando-se assim não existir coincidência entre as inclinações das

fendas e das compressões principais.

ATRITO ENTRE AGREGADOS (Décadas de 80 / 90)

A INCLINAÇÃO DO CAMPO DE COMPRESSÕES ( r)

O modelo proposto presentemente no EC2 permite ao projectista a escolha do ângulo

de inclinação das compressões, desde que cotg se situe entre 1 ( = 45 ) e 2.5 (

= 22 ). Uma vez tomada a opção, em todo o processo de dimensionamento, que se

apresenta seguidamente, há que ser consistente com essa escolha. Esta liberdade

baseia-se no método estático da Teoria da Plasticidade, segundo o qual, se se adoptar

77

Estruturas de Betão I

uma solução equilibrada em que a resistência não seja ultrapassada em nenhum

elemento a capacidade resistente da peça é superior ou igual à considerada. A limitação

imposta tem a ver com a maior ou menor capacidade de adaptação da distribuição de

tensões às resistências disponíveis. Na disciplina propõe-se que se adopte, em geral, um

valor intermédio, por exemplo 30º. Por outro lado, sugere-se a consideração de valores

superiores para níveis elevados de esforço transverso e/ou em caso da presença de um

esforço axial de tracção, e inferiores nas hipótese contrárias (níveis mais reduzidos de

esforço transverso ou existência de esforço axial de compressão).

7.2 POSSÍVEIS MODOS DE ROTURA E VERIFICAÇÕES DE SEGURANÇA CORRESPONDENTES

Com base no modelo de campos de tensões, com um ângulo de inclinação das

compressões constante, ou do seu modelo simplificado de treliça, vamos analisar,

seguidamente, os possíveis modos de rotura e avaliar as capacidades resistentes

correspondentes.

Nas figuras seguintes ilustra-se:

(i) A rotura do campo de tracções vertical, ou seja dos estribos.

(ii) A rotura por esgotamento da resistência das compressões do campo comprimido

de tensões.

(i) Rotura dos estribos (ii) Rotura por esmagamento do betão (nas

bielas comprimidas)

Há ainda que considerar, como veremos à frente em 7.3.1:

(ii) Rotura por arrancamento da armadura inferior do apoio (amarração insuficiente)

ou rotura da armadura (armadura insuficiente)

O esquema seguinte mostra as zonas onde se pode verificar a rotura, ou seja, as

tracções nas armaduras transversais, as tensões principais de compressão no betão

(é interessante notar também o pormenor do desvio das tensões do banzo superior para

78

Estruturas de Betão I

as biela inclinadas da alma) e, ainda, da força necessária na armadura longitudinal

inferior no apoio de extremidade.

A rotura pelos estribos ocorrerá se a força resultante da capacidade resistente à

tracção do conjunto dos estribos, colocados no comprimento z cotg fôr insuficiente para

transmitir a carga do banzo inferior ao superior.

- ensaios, Kaufmann, W., Marti, P. 1996 -

Swiss Federal Institute of Technology Zurich, Zurich.

Ora, a força a que este conjunto de estribos está sujeita é igual ao esforço transverso da

viga, avaliado a uma certa distância do apoio, Vsd (x), como indicado nos esquemas

seguintes, para um apoio de extremidade e outro de continuidade.

79

Estruturas de Betão I

cargas que se transmitem


cargas que se transmitem

directamente para o apoio directamente para o apoio

b z cotg z cotg b

DEVsd Vsd(x)

Vsd(x)

zona do diagrama de esforço transverso que interessa


para efeitos de dimensionamento da armadura transversal

Assim, e como claramente apresentado no esquema seguinte, a força de tracção, Fs,

avaliado à distância x do apoio. Então, a quantidade de armadura necessária vezes a

tensão de dimensionamento do aço, fyd, terá de ser superior àquela força. Se dividirmos a

área desses estribos pelo comprimento z cotg , obtém-se a quantidade de armadura,

Asw, por cada alinhamento de estribos com afastamento s, dada por Asw/s.

Fs Vsd Asw fyd Vsd (x)

Vsd (x)

Asw Vsd (x) Asw Vsd (x)

s fyd z cotg s z cotg fyd

Asw
b

x = 2 + z cotg ; z 0.9d

b z cotg

Asw

s - área de aço por unidade de comprimento (armadura distribuída por m).

Vsd (x)

- força vertical por unidade de comprimento.


z cotg

Assim, definido o valor de , passa a se poder estabelecer uma relação directa entre o

esforço transverso resistente e a quantidade de armadura transversal, como proposto no

Eurocódigo 2.

80

Estruturas de Betão I

EUROCÓDIGO 2:

O valor do esforço transverso resistente, condicionado pelas armaduras transversais é

dado pela expressão (1) tal que:

Asw Asw Vsd


VRd,s = s z fywd cotg (1)

s z cotg fywd

onde fywd representa o valor de cálculo da tensão de cedência da armadura de esforço

transverso.

Por outro lado, a capacidade resistente deste sistema de transmissão de forças pode,

também, ser condicionada pela capacidade resistente do betão à compressão na

zona da alma, ou seja, no campo de tensões com a inclinação, . A avaliação do nível da

tensão de compressão no campo paralelo de tensões pode ser deduzido como se segue,

a partir da força Fc, cuja componente vertical é igual a Vsd.

ensaios, Kaufmann, W., Marti, P. 1996 -

Federal Institute of Technology Zurich, Zurich.

Fc

Fc Vsd

Fs

Vsd Vsd

sen = F Fc =
c sen

b z cotg Fc

c = b a
w

sen = a = (z cotg ) sen = z cos = z cos

z cotg

Vsd Vsd (x)


c = c =

sen bw z cos 0.9d bw sen cos

Refira-se que, como também ilustra a fotografia anterior, devido ao estado de tensão e

deformação mais favorável que ocorre na região do apoio, a eventual rotura do betão à

mas sim no campo paralelo

adjacente, como indicado no esquema seguinte.

81

Estruturas de Betão I

Rotura

z cotg

É assim oportuno relembrar, sumariamente, a influência dos estados multi-axiais de

tensão sobre o comportamento de regiões comprimidas de betão.

O estabelecimento da classe de resistência de um betão é efectuado a partir dos

resultados de ensaios à compressão uniaxial. No entanto, como se ilustra na figura

seguinte, em situações em que ocorra compressão transversal, por efeito de

confinamento ou cintagem, verifica-se um aumento da resistência à compressão, e,

sobretudo da ductilidade da região confinada.

Por outro lado, se existir tracção na direcção transversal às compressões, com

fendilhação como indicado no esquema seguinte, situação que ocorre nas almas das

vigas com fendilhação inclinada, verifica-se uma redução da capacidade resistente à

compressão. É este outro efeito que está representado no elemento de betão armado

abaixo indicado e nas relações tensão/extensão do betão, no caso de existir ou não, a

referida tracção transversal, com fendilhação associada. Esta redução da resistência à

compressão depende essencialmente do valor da extensão transversal, principalmente

relacionada com a abertura das fendas diagonais.

82

Estruturas de Betão I

De forma simplificada, estes efeitos são considerados na EN1992 através da verificação:

fck

c 0.6 1 - f
250 cd

Assim, definido o modelo de cálculo e o ângulo , passa a se poder estabelecer uma

relação directa entre o esforço transverso resistente e a compressão máxima admissível

na alma, como proposto no Eurocódigo 2.

EUROCÓDIGO 2

O valor do esforço transverso resistente, condicionado pela resistência do betão na alma,

é dado pela expressão (2) tal que:

fcd
VRd,max = cw bw z 1 (2)

cotg + tg

fck
onde cw = 1 para estruturas sem pré-esforço e 1 = 0.6 1 - 250

Então, esta expressão pode ser escrita na forma:

fck fcd VRd,max (cotg + tg ) fck


VRd,max = bw z 0.6 1 - 250 z bw = 0.6 1 - 250 fcd

cotg + tg

VRd,max fck

= 0.6 1 - 250 fcd, equivalente às deduções acima descritas.


z bw sen cos

Refira-se que o máximo valor de Vrd se verifica para o caso do ângulo ser de 45º, e que

neste caso o valor reduzido de esforço transverso, já atrás referido, é dado por

Vrd

vrd = e toma no máximo um valor de 0.3.


bwdfcd

Este pode então ser considerado como o maior valor de esforço transverso reduzido que

pode ser resistido para uma dada secção e resistência de betão, independentemente da

quantidade de armadura.

83

Estruturas de Betão I

Finalmente, nas zonas dos apoios, haverá que verificar a adequabilidade das suas

dimensões, para o que, de forma simplificada, também a EN1992 indica os seguintes

valores limites de tensões resistentes, respectivamente para os casos de apoios sem e

com continuidade:

c -fck/250) fcd c -fck/250) fcd

7.3 Influência do esforço transverso nas compressões e tracções da flexão

Numa zona intermédia da viga, se consideramos a actuar os esforços M e V, a resultante

das tensões axiais têm naturalmente de ser nula, pois não há esforço axial. Deste modo,

para equilibrar a componente horizontal da força inclinada na biela, Fc, e acima avaliada,

têm d

viga. Estas provocam, assim, uma variação nas compressões e tracções devidas ao

momento flector, M. Este efeito pode ser compreendido pelo esquema abaixo indicado.

V cotg

Vsd Fc

Fc
Vsd

FT

V cotg

V
FV = Fc cos = cos = V cotg

T sen

A componente horizontal das compressões inclinadas no betão impõe, por equilíbrio

axial, a necessidade de uma força de tracção, FV


T
, que se distribui igualmente pelos

banzos comprimido e traccionado, por forma a não alterar o momento aplicado à secção.

Considerando a sobreposição dos efeitos de flexão e esforço transverso, verifica-se

então, como abaixo esquematizado, que haverá no banzo traccionado um incremento de

tracção e no comprimido um alívio das compressões. Refira-se que na zona de momento

84

Estruturas de Betão I

nulo de uma viga, com esforço transverso diferente de zero, geram-se tracções

superiores e inferiores.

FM FV FM FV

V V

M + = M

FM FV FM FV

M V

FM = z ; FV = 2 cotg

Este efeito deve ser considerado na pormenorização das armaduras, como se verá na

análise da dispensa longitudinal das armaduras de flexão.

7.3.1 Rotura por arrancamento da armadura longitudinal no apoio de extremidade

Analisemos, agora, o sistema de transmissão de forças junto ao apoio simples, referindo-

nos às figuras seguintes, com representação dos campos de tensões ou só das suas

resultantes. Verifica-se que, por um simples equilíbrio de nó de treliça, se gera uma

tracção na armadura longitudinal, FT, dependente da reacção do apoio e da inclinação da

resultante do campo de tensões em leque, 1

85

Estruturas de Betão I

b z cotg

b + z cotg
2 2

Fc R

R = Fc sen 1 Fc =

sen 1
1

FT

cos 1
R FT = Fc cos 1 FT = R = R cotg 1

sen 1

b z

2 + 2 cotg b
cotg 1 = z = 0.5 z + 0.5 cotg

Como FT depende da largura do apoio, pode tomar-se por simplificação:

R
1) 1 = 0.5 cotg FT = cotg

2) z 2b

b
1 =0.5 2b+ 0.5 cotg = 0.25 + 0.5 cotg FT =R (0.25 + 0.5 cotg )

Aproximadamente, e de uma forma conservativa, poderá em geral considerar-se:

T = 1.20 R ( 1 40 )

Refira-se que a área de armadura longitudinal inferior a adoptar nestes apoios sem

continuidade deverá ser sempre, pelo menos, 25% da área de armadura adoptada na

zona do meio vão.

7.3.2 Armadura longitudinal no vão

Considera-se, agora, a análise da situação corrente de uma viga simplesmente apoiada,

como a representada na figura seguinte, e com base no modelo acima descrito, definem-

se os diagramas da força de tracção na armadura longitudinal.

86

Estruturas de Betão I

M
FT

M/z +

FT

V/2 cotg
=

M+V

FT

M/z + V/2 cotg

Verifica-se que a variação da força de tracção ao longo do vão tem uma menor variação

ao longo do vão não sendo nula junto ao apoio (ver §1.2.4) e que na zona do vão não é

afectada em relação à da flexão, no vão central.

Em termos práticos, verifica-se, ser mais conveniente, para determinar a tracção

necessária em vez de somar as duas forças, avaliar a distância, x (ver esquema a

seguir), segundo o eixo longitudinal, processo que se denomina de translacção do

diagrama de momentos.

d M 1 dM V
= dx z = z dx = z

V/2 cotg
por outro lado, tg = x

flexão
As
V 1 V z

2 cotg x =z x = 2 cotg

M/z

V/2 cotg

x necessária
As

Refira-se que a análise da dispensa de armadura longitudinal será, na prática, efectuada,

não a partir do diagrama de momentos flectores, mas deste, depois de efectuada esta

translacção, no valor dez/2 cotg .

7.3.3 Apoio de continuidade

A análise da zona de um apoio de continuidade é extremamente interessante pois, trata-

se de uma região com momento flector e esforço transverso significativos, à esquerda e

direita.

87

Estruturas de Betão I

Geram-se dois campos de tensão em leque a partir do apoio, verificando-se que, com

base no modelo de escoras e tirantes, a tracção superior tem tendência a formar um

patamar constante, com valor dependente só do momento flector (ver figura em baixo).

De facto a influência do esforço transverso, ou seja da inclinação das compressões na

força de tracção, só se faz sentir a uma certa distância do apoio, não influenciando o

valor máximo de força de tracção devida à flexão, mas tão só alargando essa zona.

FT = const.

M +V
cotg

z z 2

M -V
1 1 cotg

z 2

z cotg b z cotg

DFT

V
cotg

M/z

Define-se assim, também na zona de momento negativos, um diagrama de flexão com

translacção, a partir do qual deve ser definida a dispensa de armaduras.

7.4 Disposições das armaduras transversais

A área mínima de armadura transversal, que se justifica pela mesma razão da flexão,

pode ser quantificada através da imposição de uma percentagem de armadura, dada, no

EC2, por:

0.08 fck

w,min = fyk

A percentagem geométrica de armadura transversal é definida através da expressão:

Asw

w,min =
s bw

7.5 Espaçamento entre estribos e sua pormenorização

Por forma a evitar que a fenda se forme entre estribos, o espaçamento máximo entre

estribos deverá respeitar a condição:

s 0.75 d (1 + cotg ),

onde d representa a altura útil do elemento e a eventual inclinação da armadura

transversal.

88

Estruturas de Betão I

Usualmente utilizam-se espaçamentos entre 0.075 e 0.30 m (ou, preferencialmente, para

vigas correntes, entre 0.10 e 0.25 m), não devendo ultrapassar-se, em geral, 0.5 d.

A armadura transversal é em geral, formada por um ou mais estribos, cada um com dois

ramos, que deverão em princípio, serem fechados. O EC2 abre, no entanto, a

possibilidade a outras hipóteses.

O espaçamento transversal entre ramos de estribos deve ser tal que:

st 0.75 d 600 mm

Assim para vigas largas, com mais de 60 cm, ou menos largas mas pouco altas, é, por

razões de eficiência na transmissão das compressões das bielas aos estribos verticais,

necessário ter mais do que um estribo (2 ramos) ver figura seguinte.

Verifica-se que as tensões de compressão tendem a se apoiar nos cantos dos estribos

(onde também existem ferros longitudinais) e que, como se percebe, não devem estar

muito afastados para uma maior uniformidade da transmissão de forças.

89

Estruturas de Betão I

EXERCÍCIO 5

Considere a estrutura da figura seguinte:

q = 12kN/m

g = 25kN/m

0.60

0.30

5.00

Materiais: C25/30, A400NR

Responda ás seguintes questões, tentando compreender e interpretar as implicações de

adoptar diferentes ângulos de inclinação das bielas de compressão:

a) Calcule as armaduras transversais admitindo, para inclinação das bielas de

compressão, ângulos de 30 e 45 .

b) Verifique, para ambas as situações, a tensão máxima de compressão nas bielas.

c) Calcule, para ambas as situações, os efeitos na armadura longitudinal.

d) Pormenorize a armadura longitudinal ao longo da viga.

90

Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 5

ALÍNEA A)

1. Determinação dos esforços

psd = g g+ q q = 1.5 (12 + 25) = 55.5 kN/m

pL2 55.5 52
Msd = 8 = 8 = 173.4kNm

55.5 5
Vsd = 2 = 138.8 kN

2. Cálculo das armaduras transversais para = 30

z cotg = 0.9 d cotg = 0.9 0.55 cotg 30 = 0.87m

Vsd (z cotg ) = 138.8 - 0.87 55.5 = 90.5kN

Asw Vsd 90.5


= 104 = 3.0 cm2/m

s z cotg fyd 0.87 348 103

3. Cálculo das armaduras transversais para = 45

z cotg = 0.9 0.55 cotg 45 = 0.5m

Vsd (z cotg ) = 138.8 - 0.5 55.5 = 111.1kN

Asw 111.1 2

s = 348 103 0.5 = 6.39cm /m

ALÍNEA B)

i) = 30

Vsd 90.5

c = = = 1393kN/m2
0.9 d bw sen cos 0.3 0.5 sen 30 cos 30

ii) = 45

111.1

c = = 1481kN/m2
0.3 0.5 sen 45 cos 45

fck 25

c 0.6 1 - 250 fcd = 0.6 1 - 250 16.7 103 = 9018 kN/m2

ALÍNEA C)

1. Armadura no apoio de extremidade

i) Considerando um apoio pontual

91

Estruturas de Betão I

b=0 Fs = cotg
2

138.8

= 30 Fs = cotg 30 = 120.2kN
2

138.8
= 45 Fs = 2 cotg 45 = 69.4kN

ii) Considerando a largura do apoio

Fs = 1.2 R = 1.2 138.8 = 166.6kN

Fs 166.6
As fyd = 348 103 104 = 4.79cm2

Comentário: menor maior área de armadura nos apoios

2. Cálculo do comprimento de translacção

z 0.5
= 30 x = 2 cotg = 2 cotg 30 = 0.43m

z 0.5
= 45 x = 2 cotg = 2 cotg 45 = 0.25m

Comentário: menor maior comprimento de translacção

92

Estruturas de Betão I

7.6 Amarração de Armaduras

7.6.1 Comprimento de amarração

Considere-se um varão de aço embebido, num determinado comprimento, no interior de

um bloco de betão, conforme ilustrado na figura seguinte e admita-se uma tensão de

corte entre o betão e o aço, com distribuição constante.

f bd

Fs = As sd

lb,rqd

fbd tensão de aderência de cálculo (b- bond ; d- design)

Nestas condições é possível definir o valor do comprimento necessário lb,rqd para que,

quando o varão for submetido a uma força de tracção, não haja escorregamento entre os

dois materiais. Deste modo,

FRc Fs Ac fbd Fs ,

onde Ac = lb e representa a área de betão em contacto com a armadura.

Ac fbd Fs lb,rqd fbd = As sd lb,rqd fbd = sd


4

De onde resulta

sd

lb,rqd = (Comprimento de amarração base)


4 fbd

O valor da tensão de aderência (fbd) pode ser calculado, segundo o EC2, através da

seguinte expressão:

fbd = 2.25 1 2 fctd

onde,

fctd representa o valor de dimensionamento da resistência do betão à tracção;

1 é um coeficiente que depende da qualidade da aderência e da posição do varão

durante a betonagem ( 1 = 1.0 para boas condições de aderência; 1 = 0.7 para

outras condições de aderência);

2 é um coeficiente que depende do diâmetro do varão ( 2 = 1.0 para 32 mm; 2 =

(132 - ) / 100 para 32 mm).

93

Estruturas de Betão I

Os varões dizem-se em condições de boa aderência se verificarem uma das seguintes

condições:

formem com a horizontal um ângulo entre 45º e 90º;

estejam integrados em elementos com espessura (na direcção da betonagem)

inferior ou igual a 25 cm;

quando a espessura excede 25 cm, os varões estão em boas condições de

aderência se se situarem na metade inferior do elemento ou a mais de 30 cm da

sua face superior.

O comprimento de amarração necessário lbd pode ser avaliado através da expressão:

lbd = 1 2 3 4 5 lb,rqd lb,min

onde,

1 é um coeficiente que tem em conta a forma do varão na zona da amarração;

2 é um coeficiente que tem em conta o recobrimento do varão;

3 é um coeficiente que tem em consideração o efeito do cintagem das armaduras

transversais à amarração;

4 é um coeficiente que tem em consideração o efeito de varões transversais soldados

ao longo do comprimento de amarração;

5 é um coeficiente que tem em consideração o efeito favorável da existência de

tensões de compressão transversais ao plano de escorregamento, ao longo do

comprimento de amarração.

Sendo clara a influência de todos estes factores no comprimento de amarração, na

prática tomam-se, em geral, opções simplificativas que devem ser conservativas.

De qualquer forma, há que assegurar, um comprimento de amarração mínimo lb,min, tal

que:

varões traccionados: lb,min = máx {0.3 lb,rqd; 10 ; 100 mm}

varões comprimidos: lb,min = máx {0.6 lb,rqd; 10 ; 100 mm}

Simplificadamente, e para varões traccionados com amarrações curvas tem-se lb,eq = 1

lb,rqd = 0.7 lb,rqd

ou

94

Estruturas de Betão I

lb,eq

lb,eq

( 90 )

Esta redução é válida se a distância livre entre varões e/ou o recobrimento na direcção

perpendicular à amarração forem superiores a 3 .

Por exemplo para varões comprimidos ou traccionados com barras transversais soldadas

(situação não muito corrente) o EC2 propõe:

lb,eq = 4 lb,rqd= 0.7 lb,rqd

t 0.6 5

lb,eq

Para se ter uma rápida avaliação dos comprimentos de amarração é extremamente útil

ter o multiplicador do diâmetro tal que: lb = k como expresso na tabela seguinte, sem

considerar os coeficientes , e admitindo s = fyd.

VALORES DE k = lb / para s = fyd

C20/25 C25 C30 C35 C40 C45 C50

=1 39 32 29 26 23 22 20
1

A400
= 0.7 55 46 41 38 33 30 28

1 =1 48 40 36 33 30 27 25

A500
= 0.7 69 57 52 47 43 38 36

Exemplifica-se seguidamente a avaliação do comprimento de amarração necessário de

um varão 16 solicitado por uma força de 45kN.

95

Estruturas de Betão I

Materiais: C25/30

lb,rqd

A400NR

45 kN

1.8

fbd = 2.25 1 2 fctd = 2.25 1.0 1.0 1.5 = 2.7 MPa

sd 223.9

lbd = lb,rqd = 4 f = 4 2.7 = 20.7 = 0.33 m


bd

Este valor é inferior ao da tabela pois o nível de tensão é menor que fyd.

45

= = 223.9 MPa
sd
2.01 10-4

7.6.2 Comprimento de emenda

As emendas dos varões das armaduras ordinárias devem, se possível, ser evitadas e

caso sejam necessárias, devem ser efectuadas em zonas em que os varões estejam

sujeitos a tensões pouco elevadas.

As emendas de varões podem ser realizadas por sobreposição, por soldadura, ou por

meio de dispositivos mecânicos especiais (acopladores, por exemplo).

As emendas por sobreposição devem satisfazer os seguintes critérios:

Não localizar as emendas nas zonas de maiores esforços;

Procurar manter a simetria;

A distância livre entre armaduras não deve ser superior a 4 ou 50 mm, caso

contrário o comprimento de emenda deve ser acrescido de (s 4 );

A distância longitudinal entre duas emendas adjacentes não deverá ser inferior a 0.3

l0;

No caso de duas emendas adjacentes, a distância livre entre varões não deve ser

inferior a 2 ou 20 mm;

A percentagem de varões a emendar numa mesma secção transversal pode ser de

100% caso os varões estejam dispostos numa única camada, ou de 50% se os

varões estiverem dispostos em várias camadas.

96

Estruturas de Betão I

O comprimento de emenda (l0) deve ser calculado, de acordo com o EC2, com a

expressão:

l0

l0 = 1 2 3 5 6 lb,rqd l0,min

onde os coeficientes , são os definidos anteriormente e 6 é um coeficiente que tem em

conta a relação entre a secção dos varões emendados e a secção total dos varões

existentes na mesma secção transversal.

Normalmente há que considerar valores mínimos do comprimento de emenda, que o

EC2 define como sendo l0,min = max {0.3 6 lb,rqd;15 ;200mm}

Para que duas emendas possam ser consideradas em secções diferentes há que

respeitar as seguintes indicações:

0.65 l0 0.65 l0

Nas zonas de emendas geram-se tensões de tracção na direcção transversal que podem

recomendar a disposição de armaduras específicas se aquelas forem elevadas. Nesse

sentido as necessidades de reforço na zona da emenda (dispensável no caso 20 mm

ou se a percentagem de varões emendados seja inferior ou igual a 25%) é dada, no EC2,

por:

a) Armadura em tracção

97

Estruturas de Betão I

a) Armaduras em tracção

b) Armadura em compressão
a) Armaduras em tracção

b) Armaduras em compressão

b) Armaduras em compressão

98

Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 5 (CONT.)

Materiais: C25/30, A400NR

q = 12kN/m

g = 25kN/m

0.60

0.30

5.00

ALÍNEA D)

1. Cálculo da armadura necessária a meio vão

Msd 173.4

Msd = 173.4kNm = bd2 f = 2 3 = 0.114 = 0.124


cd 0.3 0.55 16.7 10

fcd

As = bd = 9.84cm2
fyd

Adoptam-se 2 16 + 2 20 (10.3cm2)

Visto que Aapoio 4.79cm2 , é possível dispensar 2 16

2. Cálculo do MRd correspondente a 2 20 (6.28cm2)

As fyd 6.28 10-4 348


= bd = = 0.079 = 0.075

fcd 0.3 0.55 16.7

MRd = b d2 fcd = 0.075 0.3 0.552 16.7 103 = 113.7kNm

3. Determinação da secção de dispensa de armadura

55.5 kN/m x2
M(x) = 138.8 x - 55.5 2 =

= 138.8 x - 27.75x2

138.8 kN 138.8 kN

Msd = MRd 138x - 27.75x2 = 113.7


x

x = 3.97m x = 1.03m

DMF

(+)

M(x)

1.8
fbd = 2.25 1 2 fctd = 2.25 1.0 1.0 = 2.7 MPa

1.5

99

Estruturas de Betão I

6.28 sd 0.016 212.2


sd = 348 = 212.2MPa lbd= = =19.6 = 0.31m

10.3 4 fbd 4 2.7

z
aL = 2 cotg = 0.43m

Secções de dispensa de armadura:

x1 = 1.03 - aL - Lb.net = 1.03 - 0.43 - 0.31 = 0.29 m

x2 = 3.97 + aL + Lb.net = 3.97 + 0.43 + 0.31 = 4.71m

100

Estruturas de Betão I

EXERCÍCIO 6

Para a estrutura já analisada no Exercício 1 determine:

a) As armaduras transversais necessárias ao longo da viga

b) A distribuição de armaduras longitudinais ao longo da viga

c) Pormenorize as armaduras na viga

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 6

ALÍNEA A)

1. Determinação do esforço transverso solicitante

p=1 kN/m

10.00 3.00

DEV

[kN] 4.55 3.0

(+) (+)

(-)

5.45

Considerando alternância de sobrecarga,

p=1 kN/m

DEV 5.0
[kN]

(+)

(-)

5.0

p=1 kN/m

DEV 3.0

[kN] (+)
( )

0.45

A
Vsd = 1.5 (28.25 4.55) + 1.5 (12 5) = 282.8kN

VB.esq
sd
= 1.5 (28.25 5.45) + 1.5 (12 5.45) = 392.0kN

101

Estruturas de Betão I

VB.dir
sd
= 1.5 (28.25 + 12) 3 = 181.1kN

i) Envolvente do diagrama de esforço transverso

282.8 282.8
329.0
181.1 181.1

(+) (+)

(-)

329.0

ii) Determinação de Vsd (z cotg )

Considerando = 30 ,

d = 0.80m ; z 0.9 d = 0.72 m

z cotg = 0.72 cotg 30 = 1.25 m

Vsd,A (z cotg ) = 282.8 - 60.4 1.25 = 207.3 kN

Vsd,B esq (z cotg ) = 329 - 60.4 1.25 = 253.5 kN

Vsd,B dir (z cotg ) = 181.1 - 60.4 1.25 = 105.6 kN

2. Verificação das compressões

i) Bielas comprimidas

máx Vsd (zcotg ) 253.5


= = = 2710.3kN/m2 2.7MPa

c
zbw sen cos 0.72 0.30 sen 30 cos30

máx fck 25

c 0.6 1 - 250 fcd = 0.6 1 - 250 16.7 103 = 9018 kN/m2

ii) Apoio

c = A 0.85 fcd
ap

B
Rsd = 329.0 + 181.1 = 510.1kN

510.1
c = = 5667.8kN/m2 5.7MPa

0.3 0.3

0.85 fcd = 0.85 16.7 = 14.2MPa

3. Cálculo da armadura transversal nos apoios

i) Apoio A

Asw Vsd (z cotg ) 207.3


= = 104 = 4.78cm2/m

s z cotg fyd 0.72 cotg 30 348 103

102

Estruturas de Betão I

ii) Apoio B (esq.)

Asw 253.5

= 104 = 5.84cm2/m
s 0.72 cotg 30 348 103

iii) Apoio B (dir.)

Asw 105.6

= 104 = 2.43cm2/m
s 0.72 cotg 30 348 103

iv) Cálculo da armadura mínima

0.08 fck 0.08 25


w,min = = = 0.001

fyk 400

Asw 1 Asw
w,min = 0.001 s bw = 0.001 s = 0.0010 0.30 104 = 3.0cm2/m

min min

(adoptam-se estribos 8//0.25)

4. Determinação da zona da viga em que se adopta (Asw/s)min

i) Cálculo de VRd, min

Estribos 8//0.25 4.02 cm2/m

Asw

VRd= z cotg fyd = 4.02 10-4 0.72 cotg 30 348 103 = 174.5kN
s

329.0
282.8

1 181.1

60.4
174.5

x1 x2

282.8 - 174.5 329 - 174.5

x1 = = 1.79m ; x2 = = 2.56m
60.4 60.4

ALÍNEA B)

Aapoio 4 16 + 2 12; Avão 6 25

s s

1. Cálculo do comprimento de translacção

z 0.72
aL = cotg = cotg 30 = 0.62m

2 2

2. Armadura inferior

i) Plano de dispensas: 6 25 4 25 2 25

103

Estruturas de Betão I

ii) Capacidade resistente da viga após as dispensas

2
Armadura As [cm ] MRd [kNm]

4 25 19.63 0.170 0.154 493.8

9.82 0.085 0.080 256.5


2 25

x4

x3
x2 272.0

x1

256.5
256.5

493.8 493.8

660.2

iii) Cálculo das coordenadas x

Carregamento correspondente ao máximo momento no vão

sc=12.0 kN/m

cp=28.3 kN/m

10.00 3.00

282.8 kN

DMF

[kNm] (-)

(+)

60.4 kN/m

M(x) x2

M(x) = 282.8 x - 60.4 x - 30.2x2

x 2 = 282.8

282.8 kN

104

Estruturas de Betão I

MSd = 493.8kNm 282.8 x - 30.2 x2 = 493.8 x3 = 7.04m x2 = 2.32m

MSd = 256.5kNm 282.8 x - 30.2 x2 = 256.5 x4 = 8.35m x1 = 1.02m

iv) Cálculo dos comprimentos para dispensa da armadura

Dispensa de 6 25 4 25

x2 2 aL - Lb.net = 2.32 - 0.62 - 0.54 = 1.16 m

x3 3 + aL + Lb.net = 7.04 + 0.62 + 0.54 = 8.20 m

1.8
fbd = 2.25 1 2 fctd = 2.25 1.0 1.0 1.5 = 2.7 MPa

4 sd 0.025 232
sd =6 348 = 232 MPa lbd= 4 f = 4 2.7 = 0.54 m

bd

Dispensa de 4 25 2 25

x1 1 - aL - Lb.net = 1.02 - 0.62 - 0.40 = 0.0 m

x4 4 + aL + Lb.net = 8.35 + 0.62 + 0.40 = 9.37 m

2 sd 0.025 174
sd =4 348 = 174 MPa lbd= 4 f = 4 2.7 = 0.40m

bd

v) Verificação da armadura no apoio

1) Considerando pilares 0.30 0.30 [m2]:

b 0.30
FT = Rcotg 1 =R 0.5 z +0.5 cotg = 282.8 0.5 0.72 + 0.5 cotg 30 = 303.8kN

303.8
As = 104 = 8.73cm2 < As (4 25) = 19.63cm2

348 103

2) Considerando indirectamente a dimensão do pilar

FT = 1.2 R = 1.2 282.8 = 339.4 kN As = 9.75cm2 < 19.63cm2

3) Considerando um apoio pontual

R 282.8
FT = 2 cotg 1 = 2 cotg 30 = 244.9kN As = 7.04cm2 < 19.63cm2

3. Armadura superior

i) Plano de dispensas: 4 16 + 2 12 4 16 2 16

ii) Capacidade resistente da viga após as dispensas

105

Estruturas de Betão I

2
Armadura As [cm ] MRd [kNm]

4 16 8.04 0.070 0.066 211.6

2 16 4.02 0.035 0.034 109.0

272.0

211.6 211.6

109.0 109.0

x2 x1

x4 x3

iii) Cálculo das coordenadas x

Carregamento correspondente ao máximo momento negativo no apoio e no vão à

esquerda do apoio:

sc=12.0 kN/m

cp=28.3 kN/m

pconsola = 60.4kN/m

sd

pvão
sd
= 1.5 28.25 = 42.4kN/m

Vdir = 3.0 (12 + 28.25) 1.5 = 181.1kN

sd

Vesq
sd
= (5.45 28.25 + 0.45 12.0) 1.5 = 239.0kN

Consola

60.4 kN/m x
272 kNm

Msd(x) = 60.4 x 2 - 181.1 x + 272.0 = 30.2x2 -

Msd(x)

181.1x + 272.0

181.1 kN

Msd = 211.6kNm 30.2 x12 - 181.1x1 + 272.0 = 211.6 x1 = 0.35m

Msd = 109.0kNm 30.2 x32 - 181.1x3 + 272.0 = 109.0 x3 = 1.10m

Vão

42.4 kN/m x
272 kNm Msd(x) = 42.4 x 2 239.0 x + 272.0 =

Msd(x)

21.2x2 - 239x + 272.0

239.0 kN

106

Estruturas de Betão I

Msd = 211.6kNm 21.2 x22 - 239 x2 + 272.0 = 211.6 x2 = 0.26m

Msd = 109.0kNm 21.2 x42 - 239 x4 + 272.0 = 109.0 x4 = 0.73m

Msd = 0 21.2 x52 - 239 x5 + 272.0 = 0 x5 = 1.28 m

4) Cálculo dos comprimentos para dispensa da armadura

Dispensa de 4 16 + 2 12 4 16

x1 1 + aL + Lb.net = 0.35 + 0.62 + 0.43 = 1.40 m

x2 2 + aL + Lb.net = 0.26 + 0.62 + 0.43 = 1.31 m

1.8

fbd = 2.25 1 2 fctd = 2.25 0.7 1.0 1.5 = 1.89 MPa

8.04 sd 0.012 271.6

sd = 348 = 271.6MPa lbd = 4 f =


8.04+2.26 bd 4 1.89 = 0.43m

Dispensa de 4 16 2 16

x3 3 + aL + Lb.net = 1.10 + 0.62 + 0.36 = 2.08 m

x4 4 + aL + Lb.net = 0.73 + 0.62 + 0.36 = 1.71 m

x5

2 sd 0.016 174

= 4 348 = 174 MPa lbd= 4 f =


sd
bd 4 1.89 = 0.37m

Lb,min = 10 = 0.16 m

107

Estruturas de Betão I

7.7 ARMADURA DE LIGAÇÃO BANZO-ALMA

Como referido na flexão de secções em T as compressões no banzo distribuem-se neste,

não ficando limitadas à alma. O sistema base de resistência ao esforço transverso

desenvolve-se na alma, que distribui, então, as compressões (ou tracções se se tratar de

um banzo traccionado) para os banzos.

A compreensão deste mecanismo não é imediata e para a facilitar é fundamental a

representação gráfica como a que se reproduz na figura seguinte, com indicação dos

campos de tensões nos planos da alma e dos banzos e respectivas forças resultantes.

Na figura está representado um modelo em que, numa análise a partir da reacção de

apoio, se verifica que as tensões na alma do campo em leque ao atingirem o banzo

dispersam neste, para um e outro lado, gerando tracções de equilíbrio transversais no

banzo, numa zona já mais afastada do apoio. Tal verifica-se, depois, para os restantes

campos paralelos de tensões, obtendo-se a distribuição de compressões no banzo da

zona do vão, prevista na flexão.

108

Estruturas de Betão I

Se se definirem dois ângulos para as treliças da alma e do banzo, 1 e 2,

respectivamente, é possível avaliar as forças em causa a partir de um campo de tensões

paralelo na alma como apresentado de seguida.

Fc'
1
tg

z co f c'

fc

z 1

Fc
1

tg
z co

Onde,

fc representa as forças distribuídas nas bielas comprimidas da alma

fc representa as forças distribuídas nas bielas comprimidas do banzo

Fc e Fc

Em planta, a avaliação da força FT pode ser estimada como se apresenta de seguida:

z cotg 1 Fc sen
FT = Fc'
2

sen 2 = 2 cos 1 =
cos 2

Fc' Fc

2 = 2 tg 2 cos 1
FT

Fc cos 1

FT Asf FT Fc sen 1

Asf = f s = z cotg =
syd 1 fyd 2 z cotg 2 fyd

V Asf V

Como Fc = =
sen 1 s 2 z cotg 2 fyd

Considerando que 1 = 2, a armadura de ligação banzo-alma deve ser igual ou superior

Asf 1 Asw
a metade da armadura de esforço transverso s = 2 s .

A este propósito, no que se refere em particular aos campos de compressões nos banzos

( 2

cotg 2 2

banzos traccionados.

109

Estruturas de Betão I

Refira-se que, em geral, numa viga pertencente a uma laje vigada, a armadura da laje é

normalmente suficiente para absorver as forças de tracção na ligação banzo-alma, pelo

que não se justifica a determinação de armadura específica, nesses casos.

7.8 ARMADURA DE SUSPENSÃO

Analisámos a transmissão de forças ao longo das vigas de betão armado, em situações

próximas da rotura para as situações em que a carga é transmitida ao banzo superior da

viga, como são as situações correntes. No entanto, há casos em que tal não se verifica

havendo que prevêr mecanismos de transmissão de carga adequados e dimensionar as

armaduras correspondentes.

São, por exemplo, os dois casos que vamos analisar, a saber:

A situação de uma transmissão contínua da carga à parte inferior da viga, como por

exemplo de uma viga invertida, com a laje apoiada no banzo inferior.

As situações de apoio de uma viga noutra, denominadas de apoios indirectos, em

que a carga é transmitida pela biela comprimida da viga secundária, à parte inferior

da viga principal.

7.8.1 CARGA DISTRIBUÍDA APLICADA NA PARTE INFERIOR DA VIGA

Como se esquematiza nas secções transversais abaixo indicadas a laje apoia-se na parte

inferior da viga pelo que tem de ser transmitida para a face superior da através de uma

o da

viga para a carga distribuída transmitida pela laje, psd/m. No fundo a armadura deve ser

dimensionada para absorver a carga suspensa por metro, tal que:

psd/m

As/m > f
yd

Para a aplicação de carga excêntrica é judicioso admitir a suspensão só com um ramo.

110

Estruturas de Betão I

Naturalmente, que a quantidade de armadura necessária para transmitir a carga ao

banzo superior tem de ser adicionada à de esforço transverso (correspondente ao

processo de transmissão das cargas do banzo superior da viga aos seus apoios).

7.8.2 APOIOS INDIRECTOS

Denomina-se por apoio indirecto de uma viga a situação desta se apoiar através da

ligação a outra viga, em vez de directamente sobre um dispositivo de apoio ou pilar.

Nestes casos, numa viga de betão armada com fendilhação desenvolvida, temos que:

1- A carga da viga I (ver esquemas seguintes) é transmitida pelas bielas comprimidas

à parte inferior da viga principal (viga II neste esquema).

2- A partir daí a carga é suspensa para o banzo superior da viga II, através de estribos

a colocar na região de ligação das vigas.

3-

apoios da viga principal (II), seguindo o modelo geral de esforço transverso.

111

Estruturas de Betão I

Representa-se na figura seguinte o modelo de cálculo, para o caso de duas vigas. Refira-

se que, no caso geral de uma grelha, a armadura de suspensão é calculada para a

diferença de esforço transverso à esquerda e direita das vigas, havendo que identificar

qual é a principal.

P
1

1 2 A viga transmite as cargas à viga

através das bielas comprimidas.

h1 h2 A carga transmitida à viga principal terá de

ser transmitida para a face superior através

de estribos de suspensão As = f
yd

112

Estruturas de Betão I

Como indicado nas figuras anteriores (ver pormenor em planta), a armadura de

suspensão deve preferencialmente localizar-se na região de ligação das vigas. No

entanto, caso necessário, poderá alargar-se ligeiramente a zona de distribuição desta

armaduras, como se esquematiza na figura seguinte.

h1/2

h1/3

h2/2

h2/3

113

Estruturas de Betão I

EXERCÍCIO 7

Considere a estrutura da figura seguinte:

sc

cp

S2 S1

3.50 10.00 3.50

0.20 0.20

Materiais: C20/25, A400

Acções: pp + revest. = 20.0 kN/m

1.00

sobrecarga = 40.0 kN/m

0.15 Coeficientes de majoração: G = Q = 1.5

1.00

a) Para a estrutura já analisada no Exercício 4, verifique a segurança ao Estado Limite

Último de Esforço Transverso e pormenorize as armaduras transversais na secção.

114

Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 7

ALÍNEA A)

1. Verificação da segurança ao E.L.U. de Esforço Transverso

i) Determinação de Vsd

psd = 1.5 (20 + 40) = 90kN/m

DET 450.0 315.0


[kN]

(+) (-)

(-) (+)

315.0 450.0

= 30º z cotg = 0.9 0.95 cotg 30 = 1.48m

Vsd, dir (z cotg ) = 450 - 1.48 90 = 316.8.5kN

Vsd, esq (z cotg ) = 315 - 1.48 90 = 181.8kN

ii) Verificação das compressões na alma

Vsd (z cotg ) 316.8

sc = = = 2139.2kN/m2
z bw sen cos 0.9 0.95 0.40 sen 30 cos 30

fck 20

c 0.6 1 - 250 fcd = 0.6 1 - 250 13.3 103 = 7342 kN/m2

iii) Cálculo da armadura transversal junto aos apoios

Asw Vsd (z cotg )

=
s z fyd cotg

Asw 316.8

= 104 = 6.15cm2/m
s dir 1.48 348 103

Asw 181.8

= 104 = 3.53cm2/m
s esq 1.48 348 103

2. Cálculo da armadura de suspensão

Nota: Admite-se que a sobrecarga está a actuar no banzo inferior

115

Estruturas de Betão I

cp* = cp ppalmas= 20 - (0.20 1.0 2) 25 = 10kN/m

Força de suspensão: Fs = 1.5 (10 + 40) = 75.0kN/m

cp*+sc As 75.0
= 104 = 2.16cm2/m

s suspensão 348 103

(a adicionar à armadura de esforço transverso)

As dir Asw As

s TOT = s + s = 6.15 + 2.16 = 8.31cm2/m


dir susp

As esq Asw As

s TOT = s esq
+ s susp
= 3.53 + 2.16 = 5.69m

3. Cálculo da armadura transversal mínima

0.08 fck 0.08 20


w,min = fyk = 400 = 0.0009

Asw 1 Asw
w,min=0.0009
s bw=0.0009 s = 0.0009 0.40 104=3.6cm2/m

min min

4. Cálculo da armadura de ligação banzo-alma

Asf Vsd

s = 2 z cotg 2 fsyd

Asf 1 Asw
1 = 2 =

s 2 s

As dir 6.15 As esq 3.53

= = 3.08cm2/m ; = = 1.77cm2/m
s 2 s 2

5. Armadura transversal de flexão no banzo

cp* + sc = 10 + 40 = 50 kN/m

cp*+sc psd = 1.5 50 / 0.6 = 125.0 kN/m2

0.80

116

Estruturas de Betão I

pL2 125 0.802

12 = 12 = 6.7kN/m

0.80

Msd 6.7

= b d2 f = 2 = 0.035 = 0.037
pL2/12 cd 1.0 0.12 13.3 103

pL2/24 fcd 13.3

As= bd = 0.037 1.0 0.12 104 = 1.70cm2/m


fyd 348

3.08

(AsTOT/ramo)dir = 2 + 1.70 = 3.24cm2/m

1.77

(AsTOT/ramo)esq = 2 + 1.70 = 2.59cm2/m

117

118

apenas ser considerada a parcela F1, dada por,

Para o dimensionamento das armaduras transversais correspondente à carga F, pode


z/2 < a < 2 z


(considerar a totalidade do esforço transverso para o dimensionamento da armadura).


A carga é totalmente transmitida segundo o modelo geral de esforço transverso

a>2z

armadura transversal).

A carga é transmitida directamente para o apoio (não sendo necessário acréscimo de

a < z/2

1999, SETO, London): fib Recommendations for P indicações

Com base no modelo apresentado, podem em geral considerar-se as seguintes


a
F1 F2

- 1926.76
- 1670.92

- 2275.69
- 2275.69
- 2651.64

- 1536.53
- 1495.45

- 143.56

- 33.77
- 1545.64

- 21.30
- 1745.48

22.54
- 102.61
- 1562.04

- 15.25
- 1866.68
- 1597.75

- 2213.15
- 2213.15
- 2605.36

- 137.52
- 1456.92
- 1413.97

- 35.61
- 1469.42

- 23.23

11.73
- 1681.53

- 106.40
- 1488.42

- 17.17
- 1808.81
- 1526.69

- 134.52

- 2151.41
- 2151.41
- 2559.22
- 1379.22
- 1334.43

- 37.56
- 1395.24

- 0.15
- 25.22
- 1619.96

- 110.24
- 1416.96

- 133.95
- 1457.89

- 19.19
- 1753.22

- 2090.52
- 2090.52
- 1303.59
- 1257.00

- 2513.13

- 39.61
- 1323.27

- 13.05
- 27.28
- 135.31
- 1560.91
- 1347.81

- 114.12
- 1391.50

1533.68 1532.64 1531.55


- 21.33
- 1699.98

1530.40 1529.19
- 1181.90

1527.91 1526.58
- 1230.22

1525.19

- 2030.51
1523.73 1522.21
- 2030.51

1519.03 1510.95
- 2467.04

1502.82 1494.64 1486.43 1478.17 1469.87 1461.53 1453.14


- 41.76

1522.91
1444.71
1506.60 1514.78
1436.25
- 1253.65

- 26.94

1490.10 1498.37
1427.74
1473.43 1481.78
1419.19
1465.05
1410.60
1456.64
1401.97
1448.20
- 138.17

1439.73
1393.30
- 29.40

1431.25
- 1504.49
- 1281.13

1384.59
1422.74
- 118.06

1373.72
- 1327.69

1405.71 1414.23
- 1109.33

1361.19
- 23.59
- 1649.12
- 1159.25

1348.63
1397.18

- 1971.42
1388.66
1336.06
- 1971.42

- 8.53

1380.14
- 2420.86

1323.48
1362.97
1343.16 1310.87
1323.51 1298.25 1285.61
- 44.00

1272.95
- 41.80

1304.05
- 1186.55

1260.27
1284.80
1247.58
1265.79
- 142.18

1234.86
1222.12
- 1217.09

1247.05
- 31.59
- 1450.81
- 1039.50

1209.36
- 1266.61

- 122.04

1228.59
- 1090.87

1196.57
5.22

1210.46
- 25.99
- 1600.67

1183.77

- 1913.29
1170.95
1192.67
- 1913.29
- 2374.52

1175.26 1156.40
1141.51
- 57.60

1126.57
- 46.31
- 1122.11

1158.25
1111.59
- 147.04

1141.67
1096.56
- 1155.83

1081.49
- 972.61

1125.54
- 33.84

18.14
- 1399.97
- 1025.22

- 1208.42

- 126.08

1109.89 1066.37
1051.21
- 1554.66

- 28.54

- 1856.16
1094.76
1036.01
- 1856.16
- 2327.96

1020.76
- 74.34

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- 1060.48

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- 152.55

1066.11
990.12
- 908.86

974.74
30.29

1047.83
- 1097.51
- 962.46

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959.32
- 1352.05
- 1153.28

- 130.18

1025.92
943.85
- 31.24
- 1511.08

- 1800.06
1004.73
928.34
- 1800.06

- 92.00
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- 1001.82

984.31 912.59
- 158.54

- 51.12

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- 848.44

41.78

964.74
872.21
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- 1101.34

- 38.57

851.81
- 1307.12

946.08
- 134.33

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- 34.12
- 1469.90

- 110.58

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928.40
- 1745.03

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- 2233.90
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- 164.87

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- 53.57

52.69
- 846.15

768.65
- 990.33

896.28
1347.52 1345.88 1344.16 1342.36 1340.49 747.46
- 1052.77

1338.54
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- 138.55

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1303.16
- 1691.11

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1205.87
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- 40.43
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- 1586.69

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- 1536.27

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