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MULTI-CELULAR
1. Introdução
x3 T T
x1 x1 x3
x2 x2
2
i
1 n
k
3 j n-1
-1-
2. Expressão da
da circulação das tensões tangenciais
tangenciais
Figura 2 – Fluxo de corte num elemento infinitesimal ds, área inscrita na linha média da
célula j e fluxos nas suas paredes
Admitindo que a secção (i) exibe uma rotação φ em torno de um ponto O e (ii) não se
deforma no seu plano, pode afirmar-se que a célula j também roda φ em torno de O,
sendo o deslocamento na direcção s, de um ponto P arbitrário situado na linha média da
célula, dado por
us = r φ (2)
onde r é a distância de O à tangente à linha média em P (ver figura 2). Admitindo que o
deslocamento us é medido a partir de uma secção de referência (x3=0) onde a rotação φ
é nula, tem-se
φ = α x3 (3)
-2-
Introduzindo a expressão (3) em (2), e posteriormente na expressão (1), a distorção de
membrana passa a ser fornecida por
γ 3s = u3,s + r α (4)
Por outro lado, a distorção de membrana na superficie média da célula é dada por
σ 3s
γ 3s = (5)
G
e o fluxo de corte f numa parede da célula relaciona-se com a tensão tangencial σ3s
através de
f
σ 3s = (6)
e
f du
= 3 +r α (7)
Ge ds
f
∫ G e ds = ∫ du + ∫ r α ds
Γj Γj
3
Γj
(8)
∫ du
Γj
3 =0 (9)
Por outro lado, e observando a figura 2, pode afirmar-se que a área do triângulo (a
sombreado) cuja base é ds e cujo vértice é O pode ser obtida de
dA s = 21 r ds (10)
e, por isso,
r ds = 2 dA s (11)
-3-
∫ r α ds = α ∫ r ds = α × 2∫ dA
Γj Γj Γj
s = α × 2A m.j (12)
em que Am.j é a área total inscrita na linha média da célula j. Inserindo (9) e (12) em (8),
obtém-se a expressão geral
f
∫ G e ds = 2αA
Γj
m.j (13)
f
∫ e ds = 2GαA
Γj
m.j (14)
onde ejj, eji e ejk são as espessuras das três paredes da célula j, as quais se podem admitir
independentes da coordenada s (tal não se aplica a paredes com espessura variável).
Apesar de o fluxo de corte não ser igual nas diversas paredes que constituem a célula j,
afirma-se que o fluxo de corte é uniforme no domínio de cada parede – a variação de f(s)
ao longo da linha média Γ pode assemelhar-se a uma função constante por troços
(paredes). Como o fluxo de corte e a espessura são uniformes em cada parede, isto é,
não dependem da coordenada s, a expressão (15) simplifica-se, tal que
onde bjj, bji e bjk são as larguras das três paredes da célula j, medidas ao longo da sua
linha média (coordenada s). Introduzindo (16) em (14) obtém-se a expressão
-4-
bjj bji bji
fjj + fji + fjk = 2GαA m.j (17)
ejj eji ejk
M bjr
∑f
r =1
jr
ejr
= 2GαA m.j (18)
A expressão (18) tem como incógnita o fluxo de corte fjr em cada parede jr da célula j.
Seja na forma (13), (14) ou (18), a expressão de circulação de tensões tangenciais de
torção servirá, nas secções seguintes, para estabelecer os métodos dos fluxos (i) nas
paredes e (ii) nas células.
3. Método dos fluxos nas paredes e método dos fluxos nas células
Constata-se que, numa secção tubular multi-celular com n células e N nós1, existem
n+N-1 paredes e, consequentemente, n+N-1 incógnitas que são os fluxos nas paredes.
Desta forma, constata-se que o estabelecimento da equação (13) (ou (14), ou (18)) para
as n células de uma secção não é suficiente para a resolução do problema da torção,
pois o número de incógnitas (n+N-1, fluxos de corte nas paredes) é superior ao número
de equações (n, equações de circulação nas células).
Para a resolução deste problema, o equilíbrio de fluxos de corte nos vários nós da secção
também tem de ser satisfeito (ver figura 3). Assim, deve estabelecer-se uma equação de
equilíbrio de fluxo em cada um dos N nós da secção. Por exemplo, no nó ijk
representado na figura 3, a equação de equilíbrio de fluxos é dada por fk0+fjk=fi0+fji. No
entanto, verifica-se que a equação a estabelecer no último nó (independentemente da
ordem e numeração dos nós) é sempre dependente das restantes N-1 equações. Por isso,
apenas é efectivamente necessário estabelecer a equação de equilíbrio de fluxos em N-1
nós da secção. O sistema de dimensão n+N-1, formado pelas N-1 equações de
equilíbrio de fluxo nos nós e pelas n equações de circulação de tensões nas células,
permite obter as n+N-1 incógnitas (fluxos de corte nas paredes) e resolver o problema da
torção de secções multi-celulares. Este procedimento designa-se frequentemente por
“método dos fluxos nas paredes”.
No entanto, existe uma metodologia mais simples para resolver o problema da torção em
barras com secção multi-celular, na medida em que envolve um número de incógnitas
inferior. Em vez de considerar os fluxos nas paredes como incógnitas do problema, é
preferível adoptar como incógnita o fluxo em cada uma das células. O fluxo fj na célula j
está directamente associado à parcela do momento torsor T a que a célula j fica
submetida. Por exemplo, as células i, j e k analisadas anteriormente estão submetidas a
componentes Ti, Tj e Tk do momento torsor T aplicado à secção e, por isso, também
submetidas a fluxos de corte fi, fj e fk, como ilustra a figura 4. Desta forma, facilmente se
1
Entenda-se “nó” como um ponto comum a mais do que duas paredes (três ou mais). Um nó comum a
duas paredes não deve ser contabilizado na medida em que o fluxo que “entra” no nó por uma parede é
obviamente igual ao que “sai” do nó pela outra parede, não existindo nenhuma incógnita adicional.
-5-
constata que os fluxos nas paredes (fjj, fjk e fji) se relacionam com os fluxos nas células (fi, fj
e fk) através de fjj=fi (parede exterior), fjk=fj-fk (parede comum às células j e k) e fji=fj-fi
(parede comum às células j e i), sendo a expressão (17) dada por
nó ijk
fi0
fih
fk0 fi0
nó ijk
i
fk0
parede ji fji
fih k fjk
fji fkl
parede jk
fjk
j fkm
fj0
parede j0
Note-se que a expressão (19) foi escrita para a célula j. Como a secção multi-celular tem
n células, o problema da torção tem n incógnitas que correspondem aos fluxos de corte fj
(j=1...n) em cada célula. Para resolver este problema, ter-se-á apenas de estabelecer a
equação (19) para cada uma das n células, obtendo-se um sistema de n equações
algébricas com n incógnitas (fj, j=1…n). Este procedimento é designado de “método dos
fluxos nas células” e conduz a uma diminuição de N-1 incógnitas relativamente ao
“método dos fluxos nas paredes”, pois não requer de verificação do equilíbrio de fluxos
nos nós, a qual é automaticamente satisfeita.
fi
fi fi
Ti
fi
i fk fk
i
fi fk
fj Tk
fi
k fi fi fk k
fj
fj fk parede ji fj fk
parede jk
Tj
j
fk j fk
fj
fj
Figura
Figura 4 – Método dos fluxos nas células
-6-
4. Relação entre T e α, e constante de torção J
A aplicação do método dos fluxos nas células permite a determinação do fluxo nas
diversas células em função do ângulo de torção por unidade de comprimento α. Com o
objectivo de obter a relação entre o momento torsor T e α, atente-se na célula j
representada na figura 4(a). A parcela Tj do momento torsor T, a que a célula j está
submetida, é estaticamente equivalente ao momento provocado pela resultante fids (de
braço r), o qual deve ser integrado ao longo de toda a linha média da célula (ver figura
2), tal que
Tj = ∫ r fj ds (20)
Γj
Como o fluxo de corte na célula j (fj) é constante ao longo da sua linha média (não
depende de s), a expressão (20) simplifica-se
Tj = fj ∫ r ds = fj × 2A m.j (21)
Γj
onde se utilizou a expressão (12), sem α. Esta expressão assume a forma da 1ª fórmula
de Bredt (com fj=τje), deduzida no contexto da torção de barras tubulares mono-
celulares, e aqui aplicada à célula j.
Como o momento torsor T a que uma secção multi-celular está submetida corresponde à
soma de todas as contribuições Tj das n células da secção, obtém-se
n n
T= ∑
j=1
Tj = 2 ∑f A
j=1
j m.j (22)
Após a determinação dos fluxos de circulação em cada célula, a substituição de f1, ..., fn
na expressão (22) permite obter uma relação linear T=T(α) entre o momento torsor T
aplicado na secção e o ângulo de torção α da secção (por unidade de comprimento).
Alternativamente à utilização da expressão (22), também é possível obter relação T=T(α)
através de considerações de equilíbrio. Para tal, escolhe-se um ponto qualquer no plano
da secção e calcula-se o momento torsor provocado pelos diversos fluxos nas paredes
nesse ponto, tal que
n+N−1
T= ∑f b r
p =1
p p p (23)
-7-
equivalente ao momento torsor T, tendo ainda como elementos de redução duas forças
(resultantes) de intensidade nula (∑Fx1=0, ∑Fx2=0).
T
J= (24)
Gα
5. Exemplo ilustrativo
Tendo em vista ilustrar a aplicação de ambos os métodos (fluxos nas paredes e fluxos nas
células), considere-se a secção tubular com a geometria representada na figura 6, a qual tem
três células (n=3), quatro nós (N=4) e as seis paredes (n+N-1=6) com a mesma espessura
e. Admita-se a secção submetida a um momento torsor T positivo (aplicado no sentido anti-
horário) e determine-se a distribuição de fluxos de corte a que a secção fica submetida.
3a
Todas as
4a
paredes com
espessura e
4a a
Utilizando o método dos fluxos nas células, adoptou-se a numeração das células
representada na figura 6 bem como o sentido de circulação de fluxos aí mostrada,
tomando como incógnitas do problema os fluxos nas células 1, 2 e 3, isto é, f1, f2 e f3
(recorde-se que n=3).
f3
f3
f2
f2
2 3
f2 f3
f1 f1 f3
f1 1
f1 f3
-8-
Segundo o método dos fluxos nas células, a equação (12) pode ser escrita para cada uma das
células, tal que,
a + 4a a 4a
Célula 1: f1 + ( f1 − f3 ) + ( f1 − f2 ) = 2G ⋅ 4a2 ⋅ α
e e e
5a 4a 3a
Célula 2: f2 + ( f2 − f1) + ( f2 − f3 ) = 2G ⋅ 6a2 ⋅ α (25)
e e e
a + 4a + a 3a a
Célula 3: f3 + ( f3 − f2 ) + ( f3 − f1) = 2G ⋅ 4a2 ⋅ α
e e e
onde Am.1=Am.3=4a×a e Am.2=4a×3a/2. O sistema (25) pode ser dado na forma seguinte,
ou na forma matricial,
10 − 4 − 1 f1 4
− 4 12 − 3 f2 = 6 ⋅ 2Gαae (27)
− 1 − 3 10 f3 4
Atendendo a que numa parede comum a duas células existem dois fluxos com sentidos
inversos (ver figura 6), o fluxo resultante nessa parede corresponderá à diferença entre
estes. Obviamente que o sentido do fluxo resultante corresponderá aquele (dos dois
parcelares) que tiver maior valor absoluto. Assim, obtém-se a distribuição final de fluxos
de corte que se mostra na figura 7.
0.783
0.204
0.987
2 3
0.783
0.114
0.873 1 0.090
(×2Geaα)
0.873 A 0.783
-9-
No método dos fluxos nas paredes, adoptou-se a mesma numeração das células utilizada
anteriormente bem como o sentido de circulação (positivo) de fluxos nas paredes
exteriores da secção (ver figura 8). De acordo com a notação adoptada nestes
apontamentos, desigam-se essas paredes através do segundo índice 0. Por outro lado, os
sentidos dos fluxos nas paredes comuns a duas células (12, 13 e 23) são meramente
arbitrados. Utilizando o método dos fluxos nas paredes, tomam-se como incógnitas os
fluxos nas diversas paredes, isto é, f10, f20, f30, f12, f13 e f23. Recorde-se que n=3 e N=4,
obtendo-se no total n+N-1=6 incógnitas no problema.
f30
f23
f20
2 3
f30
1 4
f12 f13
f10 1
f10 f30
3
a qual se observa ser dependente das equações (30) pois resulta da sua soma. Assim, obtém-
se um sistema formado pelas 6 equações (expressões (29) e (30)) e por 6 incógnitas (f10, f20,
f30, f12, f13 e f23). No entanto, facilmente se mostra que este sistema se transforma num outro
sistema mais simples, com apenas 3 incógnitas. Por forma a ter como incógnitas os fluxos
nas paredes exteriores (f10, f20, f30), as expressões (30) podem ser rescritas na forma
- 10 -
f12 = f10 − f20
f23 = f20 − f30 (32)
f13 = f10 − f30
ou na forma matricial,
Notando que as paredes exteriores de cada uma das células só pertencem a essas
células, pode afirmar-se que os fluxos nessas paredes correspondem precisamente ao
fluxo na respectiva célula, isto é, f10=f1, f20=f2 e f30=f3. Claro que a introdução destas
relações no sistema (35) conduz exactamente ao sistema (27), obtido do método dos
fluxos nas células, e a solução de ambos os sistemas é igual. O fluxo em cada uma das
paredes comuns (12, 23 e 13) obtém-se da expressão (32), tal que
O valor positivo de f23 e f13 indica que os sentidos dos fluxos foram inicialmente bem
arbitrados. Por outro lado, o valor negativo de f12 indica que este fluxo tem sentido
contrário ao inicialmente arbitrado. Dito isto, a distribuição final de fluxos é também
aquela que se apresentou na figura 7. Em jeito de conclusão, e comparativamente ao
método dos fluxos nas paredes, pode afirmar-se que o método dos fluxos nas células
constitui um processo mais simples para obter a solução final.
Após determinada a distribuição de fluxos de corte nas diversas células (ou paredes),
determine-se a relação entre o momento torsor T e o ângulo de torção α da secção (por
unidade de comprimento). A expressão (22) permite obter,
- 11 -
n
T=2 ∑f A
j =1
j m.j =
Obviamente que qualquer ponto pode ser escolhido para efectuar este cálculo. No
entanto, convém referir que o melhor ponto será aquele pelo qual passe o maior número
possível de linhas de acção das resulatntes de fluxo nas paredes da secção. Refira-se
ainda que a distribuição de fluxos obtida anteriormente (figura 7) corresponde a duas
forças (resultantes) de intensidade nula (∑Fx1=0, ∑Fx2=0), sendo estaticamente
equivalente apenas a T.
Depois de obtida a expressão (38), que relaciona o momento torsor T com o ângulo de
torção α (por unidade de comprimento), pode finalmente ser determinada a constante de
torção J da secção introduzindo (38) (ou (37)) na expressão (24), tal que
50.184 Gea3 α
J= (39)
Gα
Agradecimentos
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