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TORÇÃO DE BARRAS COM SECÇÃO MULTI-

MULTI-CELULAR

Nuno Miguel R. P. Silvestre

Lisboa, 24 de Novembro de 2009

1. Introdução

Estes apontamentos sobre a torção de barras com secção multi-celular servem de


complemento às folhas da disciplina de Resistência de Materiais 2, relativas ao capítulo
de Torção de Peças Lineares. Como se abordou anteriormente (ver folhas da disciplina), o
problema da torção de uma barra com secção de parede fina fechada (ou tubular) pode
ser resolvido com base na teoria de Bredt. A aplicação desta teoria a barras com secção
mono-celular, isto é, com apenas uma célula fechada, mostrou que o problema da
torção é estaticamente determinado pois o fluxo de corte e as tensões tangenciais são
independentes das propriedades elásticas do material. Tal não é o caso de barras com
secção contendo mais de uma célula com paredes comuns. Neste caso, constata-se que
a torção de uma secção com mais de uma célula fechada (secção multi-celular – figura
1) constitui um problema estaticamente indeterminado pois o cálculo do fluxo de corte
passa a depender das propriedades materiais que a constituem. A solução do problema
da torção de barras com secção multi-celular pode ser obtida através de dois métodos
que se distinguem pelas incógnitas consideradas no problema. Num método, as
incógnitas correspondem aos fluxos de corte em cada parede da secção enquanto no
outro método as incógnitas são os fluxos de corte em cada célula da secção. Em seguida,
deduz-se a expressão de circulação de tensões numa célula e, posteriormente, abordam-
se as duas metodologias e aplicam-se as mesmas à resolução de um exemplo ilustrativo.

x3 T T
x1 x1 x3

x2 x2

2
i
1 n
k
3 j n-1

Figura 1 – Barra com secção multi-celular submetida a torção uniforme

-1-
2. Expressão da
da circulação das tensões tangenciais
tangenciais

Com o objectivo de abordar o problema da torção uniforme em barras com secção


multi-celular, considere-se a secção tubular com n células de geometria arbitrária
representada na figura 1. Tendo em vista determinar a relação entre o ângulo de torção
da secção por unidade de comprimento (α) e o fluxo de corte em cada parede da secção
(f), considere-se a célula j da secção representada na figura 1, a qual se observa em
detalhe na figura 2. Considere-se ainda que s é uma coordenada medida ao longo da
linha média Γ da célula j e que ds é um troço infinitesimal de uma parede da célula j.
Comece-se por expressar a distorção de membrana que ocorre em qualquer ponto na
superfície média da célula através de

γ 3s = 2ε 3s = u3,s + us,3 (1)

Figura 2 – Fluxo de corte num elemento infinitesimal ds, área inscrita na linha média da
célula j e fluxos nas suas paredes

Admitindo que a secção (i) exibe uma rotação φ em torno de um ponto O e (ii) não se
deforma no seu plano, pode afirmar-se que a célula j também roda φ em torno de O,
sendo o deslocamento na direcção s, de um ponto P arbitrário situado na linha média da
célula, dado por

us = r φ (2)

onde r é a distância de O à tangente à linha média em P (ver figura 2). Admitindo que o
deslocamento us é medido a partir de uma secção de referência (x3=0) onde a rotação φ
é nula, tem-se

φ = α x3 (3)

-2-
Introduzindo a expressão (3) em (2), e posteriormente na expressão (1), a distorção de
membrana passa a ser fornecida por

γ 3s = u3,s + r α (4)

Por outro lado, a distorção de membrana na superficie média da célula é dada por

σ 3s
γ 3s = (5)
G

e o fluxo de corte f numa parede da célula relaciona-se com a tensão tangencial σ3s
através de

f
σ 3s = (6)
e

Introduzindo a expressão (6) em (5), e posteriormente na expressão (4), obtém-se

f du
= 3 +r α (7)
Ge ds

Multiplicando a expresão (7) por ds e integrando ao longo da linha média da célula j,


obtém-se

f
∫ G e ds = ∫ du + ∫ r α ds
Γj Γj
3
Γj
(8)

Em virtude de se tratar de uma célula fechada, o integral do deslocamento longitudinal u3


ao longo da linha média Γ da célula fechada é nulo, ou seja, o primeiro termo do
segundo membro de (8) é

∫ du
Γj
3 =0 (9)

Por outro lado, e observando a figura 2, pode afirmar-se que a área do triângulo (a
sombreado) cuja base é ds e cujo vértice é O pode ser obtida de

dA s = 21 r ds (10)

e, por isso,

r ds = 2 dA s (11)

Tomando (11) em consideração, o segundo termo do segundo membro de (8)


corresponde a

-3-
∫ r α ds = α ∫ r ds = α × 2∫ dA
Γj Γj Γj
s = α × 2A m.j (12)

em que Am.j é a área total inscrita na linha média da célula j. Inserindo (9) e (12) em (8),
obtém-se a expressão geral

f
∫ G e ds = 2αA
Γj
m.j (13)

Se todas a paredes da célula forem constituídas de um único material (secção


homogénea) com módulo de distorção G, então pode afirmar-se que

f
∫ e ds = 2GαA
Γj
m.j (14)

Esta equação reflecte o “teorema da circulação de tensões tangenciais” numa célula j.


Realce-se que não se adoptou qualquer simplificação no que diz respeito ao fluxo de
corte, o qual pode variar ao longo da linha média da célula j. Se a célula j fosse única,
isto é, constuituísse por si só uma secção mono-celular, seria óbvia a uniformidade do
fluxo de corte ao longo da sua linha média. Pelo facto de a célula j não estar isolada e
ter outras células adjacentes (células i e k – ver figura 1), facilmente se depreende que as
três paredes da célula j apresentam fluxos de corte diferentes: (i) a parede inferior (apenas
pertencente à célula j) tem um fluxo fjj, (ii) a parede do lado direito (comum às células j e
k) tem um fluxo igual a fjk e (iii) a parede do lado esquerdo (comum às células j e i) tem
um fluxo igual a fji (ver figura 3). Desta forma, o primeiro membro da equação (14)
(circulação de tensões tangenciais) pode ser espresso por

f fjj fji fjk


∫ e Γ∫ ejj Γ∫ eji Γ∫ ejk ds
Γj
ds = ds + ds + (15)
jj ji jk

onde ejj, eji e ejk são as espessuras das três paredes da célula j, as quais se podem admitir
independentes da coordenada s (tal não se aplica a paredes com espessura variável).
Apesar de o fluxo de corte não ser igual nas diversas paredes que constituem a célula j,
afirma-se que o fluxo de corte é uniforme no domínio de cada parede – a variação de f(s)
ao longo da linha média Γ pode assemelhar-se a uma função constante por troços
(paredes). Como o fluxo de corte e a espessura são uniformes em cada parede, isto é,
não dependem da coordenada s, a expressão (15) simplifica-se, tal que

f fjj fji fjk fjj fji fjk


∫ e ds = e ∫ ds + e ∫ ds + e ∫ ds = e
Γj jj Γjj ji Γji jk Γjk jj
bjj +
eji
bji +
ejk
bji (16)

onde bjj, bji e bjk são as larguras das três paredes da célula j, medidas ao longo da sua
linha média (coordenada s). Introduzindo (16) em (14) obtém-se a expressão

-4-
bjj bji bji
fjj + fji + fjk = 2GαA m.j (17)
ejj eji ejk

a qual pode rescrita numa forma geral (célula j com M paredes),

M bjr
∑f
r =1
jr
ejr
= 2GαA m.j (18)

A expressão (18) tem como incógnita o fluxo de corte fjr em cada parede jr da célula j.
Seja na forma (13), (14) ou (18), a expressão de circulação de tensões tangenciais de
torção servirá, nas secções seguintes, para estabelecer os métodos dos fluxos (i) nas
paredes e (ii) nas células.

3. Método dos fluxos nas paredes e método dos fluxos nas células

Constata-se que, numa secção tubular multi-celular com n células e N nós1, existem
n+N-1 paredes e, consequentemente, n+N-1 incógnitas que são os fluxos nas paredes.
Desta forma, constata-se que o estabelecimento da equação (13) (ou (14), ou (18)) para
as n células de uma secção não é suficiente para a resolução do problema da torção,
pois o número de incógnitas (n+N-1, fluxos de corte nas paredes) é superior ao número
de equações (n, equações de circulação nas células).

Para a resolução deste problema, o equilíbrio de fluxos de corte nos vários nós da secção
também tem de ser satisfeito (ver figura 3). Assim, deve estabelecer-se uma equação de
equilíbrio de fluxo em cada um dos N nós da secção. Por exemplo, no nó ijk
representado na figura 3, a equação de equilíbrio de fluxos é dada por fk0+fjk=fi0+fji. No
entanto, verifica-se que a equação a estabelecer no último nó (independentemente da
ordem e numeração dos nós) é sempre dependente das restantes N-1 equações. Por isso,
apenas é efectivamente necessário estabelecer a equação de equilíbrio de fluxos em N-1
nós da secção. O sistema de dimensão n+N-1, formado pelas N-1 equações de
equilíbrio de fluxo nos nós e pelas n equações de circulação de tensões nas células,
permite obter as n+N-1 incógnitas (fluxos de corte nas paredes) e resolver o problema da
torção de secções multi-celulares. Este procedimento designa-se frequentemente por
“método dos fluxos nas paredes”.

No entanto, existe uma metodologia mais simples para resolver o problema da torção em
barras com secção multi-celular, na medida em que envolve um número de incógnitas
inferior. Em vez de considerar os fluxos nas paredes como incógnitas do problema, é
preferível adoptar como incógnita o fluxo em cada uma das células. O fluxo fj na célula j
está directamente associado à parcela do momento torsor T a que a célula j fica
submetida. Por exemplo, as células i, j e k analisadas anteriormente estão submetidas a
componentes Ti, Tj e Tk do momento torsor T aplicado à secção e, por isso, também
submetidas a fluxos de corte fi, fj e fk, como ilustra a figura 4. Desta forma, facilmente se
1
Entenda-se “nó” como um ponto comum a mais do que duas paredes (três ou mais). Um nó comum a
duas paredes não deve ser contabilizado na medida em que o fluxo que “entra” no nó por uma parede é
obviamente igual ao que “sai” do nó pela outra parede, não existindo nenhuma incógnita adicional.

-5-
constata que os fluxos nas paredes (fjj, fjk e fji) se relacionam com os fluxos nas células (fi, fj
e fk) através de fjj=fi (parede exterior), fjk=fj-fk (parede comum às células j e k) e fji=fj-fi
(parede comum às células j e i), sendo a expressão (17) dada por

bjj bji bji


( fj ) + ( fj − fi ) + ( fj − fk ) = 2GαA m.j (19)
ejj eji ejk

nó ijk
fi0

fih
fk0 fi0
nó ijk
i
fk0
parede ji fji
fih k fjk
fji fkl
parede jk
fjk
j fkm
fj0

parede j0

Figura 3 – Método dos fluxos nas paredes

Note-se que a expressão (19) foi escrita para a célula j. Como a secção multi-celular tem
n células, o problema da torção tem n incógnitas que correspondem aos fluxos de corte fj
(j=1...n) em cada célula. Para resolver este problema, ter-se-á apenas de estabelecer a
equação (19) para cada uma das n células, obtendo-se um sistema de n equações
algébricas com n incógnitas (fj, j=1…n). Este procedimento é designado de “método dos
fluxos nas células” e conduz a uma diminuição de N-1 incógnitas relativamente ao
“método dos fluxos nas paredes”, pois não requer de verificação do equilíbrio de fluxos
nos nós, a qual é automaticamente satisfeita.

fi

fi fi
Ti
fi
i fk fk
i
fi fk
fj Tk
fi
k fi fi fk k
fj
fj fk parede ji fj fk
parede jk
Tj
j
fk j fk
fj
fj

Figura
Figura 4 – Método dos fluxos nas células

-6-
4. Relação entre T e α, e constante de torção J

A aplicação do método dos fluxos nas células permite a determinação do fluxo nas
diversas células em função do ângulo de torção por unidade de comprimento α. Com o
objectivo de obter a relação entre o momento torsor T e α, atente-se na célula j
representada na figura 4(a). A parcela Tj do momento torsor T, a que a célula j está
submetida, é estaticamente equivalente ao momento provocado pela resultante fids (de
braço r), o qual deve ser integrado ao longo de toda a linha média da célula (ver figura
2), tal que

Tj = ∫ r fj ds (20)
Γj

Como o fluxo de corte na célula j (fj) é constante ao longo da sua linha média (não
depende de s), a expressão (20) simplifica-se

Tj = fj ∫ r ds = fj × 2A m.j (21)
Γj

onde se utilizou a expressão (12), sem α. Esta expressão assume a forma da 1ª fórmula
de Bredt (com fj=τje), deduzida no contexto da torção de barras tubulares mono-
celulares, e aqui aplicada à célula j.

Como o momento torsor T a que uma secção multi-celular está submetida corresponde à
soma de todas as contribuições Tj das n células da secção, obtém-se

n n
T= ∑
j=1
Tj = 2 ∑f A
j=1
j m.j (22)

Após a determinação dos fluxos de circulação em cada célula, a substituição de f1, ..., fn
na expressão (22) permite obter uma relação linear T=T(α) entre o momento torsor T
aplicado na secção e o ângulo de torção α da secção (por unidade de comprimento).
Alternativamente à utilização da expressão (22), também é possível obter relação T=T(α)
através de considerações de equilíbrio. Para tal, escolhe-se um ponto qualquer no plano
da secção e calcula-se o momento torsor provocado pelos diversos fluxos nas paredes
nesse ponto, tal que

n+N−1
T= ∑f b r
p =1
p p p (23)

onde fp, bp e rp são, respectivamente, o fluxo na parede p, a largura da parede p e a


distância da parede p ao ponto escolhido (medido na perpendicular). Convém ainda
referir que o melhor ponto será aquele pelo qual passe o maior número possível de linhas
de acção das resultantes de fluxo nas paredes da secção. Finalmente, meciona-se que a
distribuição de fluxos que se obtém através de qualquer dos métodos é estaticamente

-7-
equivalente ao momento torsor T, tendo ainda como elementos de redução duas forças
(resultantes) de intensidade nula (∑Fx1=0, ∑Fx2=0).

A introdução da relação T=T(α) obtida de (22) ou (23) na expressão

T
J= (24)

permite finalmente determinar a constante de torção J da secção multi-celular.

5. Exemplo ilustrativo

Tendo em vista ilustrar a aplicação de ambos os métodos (fluxos nas paredes e fluxos nas
células), considere-se a secção tubular com a geometria representada na figura 6, a qual tem
três células (n=3), quatro nós (N=4) e as seis paredes (n+N-1=6) com a mesma espessura
e. Admita-se a secção submetida a um momento torsor T positivo (aplicado no sentido anti-
horário) e determine-se a distribuição de fluxos de corte a que a secção fica submetida.

3a
Todas as
4a
paredes com
espessura e

4a a

Figura 5 – Secção tubular com três células

Utilizando o método dos fluxos nas células, adoptou-se a numeração das células
representada na figura 6 bem como o sentido de circulação de fluxos aí mostrada,
tomando como incógnitas do problema os fluxos nas células 1, 2 e 3, isto é, f1, f2 e f3
(recorde-se que n=3).

f3

f3
f2
f2
2 3
f2 f3

f1 f1 f3
f1 1
f1 f3

Figura 6 – Distribuição de fluxos nas células

-8-
Segundo o método dos fluxos nas células, a equação (12) pode ser escrita para cada uma das
células, tal que,

a + 4a a 4a
Célula 1: f1 + ( f1 − f3 ) + ( f1 − f2 ) = 2G ⋅ 4a2 ⋅ α
e e e
5a 4a 3a
Célula 2: f2 + ( f2 − f1) + ( f2 − f3 ) = 2G ⋅ 6a2 ⋅ α (25)
e e e
a + 4a + a 3a a
Célula 3: f3 + ( f3 − f2 ) + ( f3 − f1) = 2G ⋅ 4a2 ⋅ α
e e e

onde Am.1=Am.3=4a×a e Am.2=4a×3a/2. O sistema (25) pode ser dado na forma seguinte,

10f1 − 4f2 − f3 = 8Gaeα


− 4f1 + 12f2 − 3f3 = 12Gaeα (26)
− f1 − 3f2 + 10f3 = 8Gaeα

ou na forma matricial,

10 − 4 − 1  f1  4
     
− 4 12 − 3 f2  = 6 ⋅ 2Gαae (27)
    
 − 1 − 3 10  f3  4

cuja solução é dada por


 f1  0.873
   
f2  = 2Gαea ⋅ 0.987 (28)
   
f3  0.783

Atendendo a que numa parede comum a duas células existem dois fluxos com sentidos
inversos (ver figura 6), o fluxo resultante nessa parede corresponderá à diferença entre
estes. Obviamente que o sentido do fluxo resultante corresponderá aquele (dos dois
parcelares) que tiver maior valor absoluto. Assim, obtém-se a distribuição final de fluxos
de corte que se mostra na figura 7.
0.783

0.204
0.987

2 3
0.783
0.114

0.873 1 0.090
(×2Geaα)
0.873 A 0.783

Figura 7 – Distribuição final de fluxos de corte na secção

-9-
No método dos fluxos nas paredes, adoptou-se a mesma numeração das células utilizada
anteriormente bem como o sentido de circulação (positivo) de fluxos nas paredes
exteriores da secção (ver figura 8). De acordo com a notação adoptada nestes
apontamentos, desigam-se essas paredes através do segundo índice 0. Por outro lado, os
sentidos dos fluxos nas paredes comuns a duas células (12, 13 e 23) são meramente
arbitrados. Utilizando o método dos fluxos nas paredes, tomam-se como incógnitas os
fluxos nas diversas paredes, isto é, f10, f20, f30, f12, f13 e f23. Recorde-se que n=3 e N=4,
obtendo-se no total n+N-1=6 incógnitas no problema.

O estabelecimento da equação (18) para cada célula, conduz ao seguinte sistema de


n=3 equações e n+N-1=6 incógnitas (f10, f20, f30, f12, f13 e f23),
a + 4a a 4a
Célula 1: f10 + f13 + f12 = 2Gα ⋅ 4a2
e e e
5a 4a 3a
Célula 2: f20 − f12 + f23 = 2Gα ⋅ 6a2 (29)
e e e
a + 4a + a 3a a
Célula 3: f30 − f23 − f13 = 2Gα ⋅ 4a2
e e e
2

f30

f23
f20
2 3
f30
1 4
f12 f13
f10 1
f10 f30
3

Figura 8 – Distribuição de fluxos nas paredes

O estabelecimento da equação de equilíbrio de fluxos em N-1=3 nós, por exemplo nos


nós 1, 2 e 3 (ver figura 6), conduz ao sistema

Nó 1: f20 + f12 = f10


Nó 2: f30 + f23 = f20 (30)
Nó 3: f10 = f30 + f13

O mesmo tipo de equação relativa ao nó restante (nó 4) é dada por

Nó 4: f13 = f23 + f12 (31)

a qual se observa ser dependente das equações (30) pois resulta da sua soma. Assim, obtém-
se um sistema formado pelas 6 equações (expressões (29) e (30)) e por 6 incógnitas (f10, f20,
f30, f12, f13 e f23). No entanto, facilmente se mostra que este sistema se transforma num outro
sistema mais simples, com apenas 3 incógnitas. Por forma a ter como incógnitas os fluxos
nas paredes exteriores (f10, f20, f30), as expressões (30) podem ser rescritas na forma

- 10 -
f12 = f10 − f20
f23 = f20 − f30 (32)
f13 = f10 − f30

A introdução destas expressões no sistema (29), conduz a

f10 (5a) + ( f10 − f30 )(a) + ( f10 − f20 )(4a) = 8Gαa2e


f20 (5a) − ( f10 − f20 )(4a) + ( f20 − f30 )(3a) = 12Gαa2e (33)
f30 (6a) − ( f20 − f30 )(3a) − ( f10 − f30 )(a) = 8Gαa2e

e, reagrupando todos os termos em f10, f20 e f30, obtém-se

f10 (5a + a + 4a) + ( f20 )(−4a) + ( f30 )(−a) = 8Gαa2e


f20 (5a + 4a + 3a) + ( f10 )( −4a) + ( f30 )( −3a) = 12Gαa2e (34)
f30 (6a + 3a + a) + ( f20 )( −3a) + ( f10 )( −a) = 8Gαa2e

ou na forma matricial,

10 − 4 − 1  f10  4


     
− 4 12 − 3 f20  = 6 ⋅ 2Gαae (35)
    
 − 1 − 3 10  f30  4

Notando que as paredes exteriores de cada uma das células só pertencem a essas
células, pode afirmar-se que os fluxos nessas paredes correspondem precisamente ao
fluxo na respectiva célula, isto é, f10=f1, f20=f2 e f30=f3. Claro que a introdução destas
relações no sistema (35) conduz exactamente ao sistema (27), obtido do método dos
fluxos nas células, e a solução de ambos os sistemas é igual. O fluxo em cada uma das
paredes comuns (12, 23 e 13) obtém-se da expressão (32), tal que

f12 = f10 − f20 = (0.873 − 0.987) ⋅ 2Geaα = −0.114 ⋅ 2Geaα


f23 = f20 − f30 = (0.987 − 0.783) ⋅ 2Geaα = 0.204 ⋅ 2Geaα (36)
f13 = f10 − f30 = (0.873 − 0.783) ⋅ 2Geaα = 0.090 ⋅ 2Geaα

O valor positivo de f23 e f13 indica que os sentidos dos fluxos foram inicialmente bem
arbitrados. Por outro lado, o valor negativo de f12 indica que este fluxo tem sentido
contrário ao inicialmente arbitrado. Dito isto, a distribuição final de fluxos é também
aquela que se apresentou na figura 7. Em jeito de conclusão, e comparativamente ao
método dos fluxos nas paredes, pode afirmar-se que o método dos fluxos nas células
constitui um processo mais simples para obter a solução final.

Após determinada a distribuição de fluxos de corte nas diversas células (ou paredes),
determine-se a relação entre o momento torsor T e o ângulo de torção α da secção (por
unidade de comprimento). A expressão (22) permite obter,

- 11 -
n
T=2 ∑f A
j =1
j m.j =

= 2 ⋅ (0.873 ⋅ 4a2 + 0.987 ⋅ 6a2 + 0.783 ⋅ 4a2 ) ⋅ 2Geaα = (37)


= 50.184 Gea3α

Alternativamente, a dedução da relação anterior também pode ser efectuada através de


considerações de equilíbrio. Tendo em atenção a distribuição final de fluxos de corte
representada na figura 7 e um ponto qualquer no plano da secção (por exemplo o ponto
A), pode calcular-se o momento torsor provocado pelos fluxos nesse ponto. A observação
atenta da figura 7, das resultantes dos fluxos nas paredes e da sua distância (“braço”)
relativamente ao ponto A, e a utilização da (expressão (23) permite obter

T = (0.783 ⋅ 4a ⋅ a + 0.783 ⋅ a ⋅ 4a + 0.987 ⋅ 5a ⋅ 3.2a +


+ 0.873 ⋅ a ⋅ 4a − 0.114 ⋅ 4a ⋅ a) ⋅ 2Geaα = (38)
3
= 50.184 Gea α

Obviamente que qualquer ponto pode ser escolhido para efectuar este cálculo. No
entanto, convém referir que o melhor ponto será aquele pelo qual passe o maior número
possível de linhas de acção das resulatntes de fluxo nas paredes da secção. Refira-se
ainda que a distribuição de fluxos obtida anteriormente (figura 7) corresponde a duas
forças (resultantes) de intensidade nula (∑Fx1=0, ∑Fx2=0), sendo estaticamente
equivalente apenas a T.

Depois de obtida a expressão (38), que relaciona o momento torsor T com o ângulo de
torção α (por unidade de comprimento), pode finalmente ser determinada a constante de
torção J da secção introduzindo (38) (ou (37)) na expressão (24), tal que

50.184 Gea3 α
J= (39)

ou, mais simplesmente,

J = 50.184 ea3 (40)

Agradecimentos

O autor agradece o trabalho de revisão destes apontamentos bem como as alterações


sugeridas pelo Professor Manuel Ritto Corrêa.

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