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ESTRUTURAS DE BETÃO I

FOLHAS DE APOIO ÀS AULAS

Coordenação: José Noronha da Camara

Ano Lectivo 2014/2015


Introdução

Estas folhas de apoio às aulas têm como objectivo facilitar o seu


acompanhamento e correspondem, em geral, à sequência e organização da
exposição incluindo, ainda, a resolução de problemas. São apontamentos de síntese
que não dispensam a consulta de restantes apontamentos da disciplina e da
bibliografia proposta, onde deve ser realçado o recente livro sobre Estruturas de Betão
da autoria do Prof. Júlio Appleton.

Estes apontamentos resultaram da experiência de ensino e de textos anteriores da


disciplina para os quais contribuíram os docentes que têm vindo a leccionar o Betão
Estrutural, sob a orientação do Prof. Júlio Appleton, que foi, nesta escola, nos últimos
30 anos e até ao ano lectivo 2010/2011, o responsável por esta área da engenharia de
estruturas.

Durante o ano lectivo 2003/2004 o Prof. Júlio Appleton com a Engª Carla Marchão,
organizaram a 1ª versão destas folhas de apoio às aulas. A estas foram sendo
introduzidas várias contribuições, mais directamente, dos Profs. José Camara, António
Costa, João Almeida e Sérgio Cruz.

Deve-se realçar que o essencial do ensino do betão estrutural é a transmissão do


conhecimento sobre as características do comportamento estrutural e
fundamentação dos modelos de cálculo, aspectos que se repercutem depois,
naturalmente, nas prescrições normativas, com algumas variações.

Ao longo destes últimos anos têm sido referidas na disciplina, em geral, as normas
europeias (Eurocódigos), já aprovados na versão definitiva (EN). Refira-se que, no
entanto, não houve ainda uma aprovação formal, sendo possível utilizar, no âmbito
profissional, em alternativa, a regulamentação nacional (REBAP – Regulamento de
Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado) ou a regulamentação europeia
(Eurocódigo 2 – Projecto de Estruturas de Betão).

Refira-se que, sendo esta disciplina integrada na área da engenharia de estruturas,


é fundamental que os alunos tenham uma boa percepção do comportamento das
estruturas, em geral, e, de uma forma “quase imediata”, das estruturas isostáticas. As
matérias tratadas na Resistência dos Materiais, referentes ao comportamento de
peças lineares em tracção, flexão, esforço transverso, torção e em zonas onde a
hipótese de Bernoulli não é válida (Princípio de Saint-Venant), por exemplo, junto dos
apoios de vigas e/ou de zonas de actuação de cargas concentradas) são uma base
fundamental. É também importante relembrar o comportamento elástico-plástico das
estruturas, para se poder compreender a influência das características do
comportamento não linear dos materiais na resposta das estruturas. Este aspecto é
particularmente importante para os elementos de betão estrutural e,
consequentemente para o estudo das Estruturas de Betão.

Também os Teoremas Limite da Teoria da Plasticidade, Estático e Cinemático, que na


versão curricular actual são apresentados na disciplina de Estruturas Metálicas, são
fundamentais (principalmente o Estático) para a boa compreensão das metodologias
de dimensionamento e verificação da segurança das estruturas e, em particular das
Estruturas de Betão.

Finalmente refira-se que no ano lectivo 2014/2015 os docentes que acompanharão a


disciplina são:

 José N. da Camara (Coordenador da disciplina)


 Eduardo Júlio
 João F. de Almeida
 António Costa
 Rui Rodrigues

IST, Setembro de 2014


ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO AO COMPORTAMENTO DO BETÃO ESTRUTURAL 1


1.1. Elemento de betão sem inclusão de armaduras 1
1.2. Elemento de betão armado 4
1.2.1 Cálculo das tensões numa secção após fendilhação 5
1.2.2 Cálculo do momento de cedência da secção 9
1.3. Diferença do comportamento secção/estrutura 10
2 CONCEITO DE SEGURANÇA NO DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS 12
2.1 Objectivos de segurança na engenharia estrutural em geral 12
2.2 Filosofia adoptada na verificação da segurança em relação aos Estados Limites Últimos
14
2.3 Filosofia adoptada na verificação da segurança em relação aos Estados Limites de
Utilização 16
3 MATERIAIS 24
3.1 Caracterização dos betões 24
3.1.1 Tensões de rotura do betão 25
3.1.2 Módulo de elasticidade do betão 25
3.1.3 Valor característico da tensão de rotura do betão à compressão fc 25
3.2 Caracterização das armaduras 26
3.2.1 Classificação das armaduras para betão armado 26
4 VERIFICAÇÕES DE SEGURANÇA À ROTURA POR FLEXÃO 28
4.1 Relações tensão-extensão dos materiais para verificação da segurança aos E.L. Últimos
28
4.1.1 Betão 28
4.1.2 AÇO 29
4.2 Análise da secção. Método Geral 30
4.3 Método do diagrama rectangular 31
4.3.1 Cálculo de MRD 31
4.4 Resistência à flexão simples com o aumento de armaduras 39
4.5 Dimensionamento à Flexão Simples – Grandezas Adimensionais 41
4.5.1 Método Geral 41
4.5.1.1 Grandezas adimensionais 42
4.5.2 Método do Diagrama Rectangular Simplificado 43
4.5.2.1 Grandezas adimensionais 43
4.5.3 Utilização de Tabelas 44
4.5.3.1 Determinação da capacidade resistente (Análise) 44
4.5.3.2 Dimensionamento de armaduras 44
4.6 Estimativa do Momento Resistente 46
4.7 Parâmetros que influenciam o valor do Momento Resistente 48
4.8 Dimensionamento de secções com outras formas 49
4.8.1 Largura efectiva de uma secção em T 49
4.8.1.1 Avaliação da largura efectiva 50
4.8.2 Dimensionamento de secções em “T” por tabelas 51
4.8.3 Simplificação de secções para efeitos de dimensionamento à flexão simples 53
5 DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS GERAIS 57
5.1 Recobrimento das armaduras 58
5.2 Distância livre entre armaduras (s) 58
5.3 Agrupamentos de armaduras 59
5.4 Dobragem de varões 60
5.5 Posicionamento das armaduras 61
5.6 Princípios a ter em atenção na pormenorização das armaduras 61
5.7 Disposições construtivas em vigas – Armaduras longitudinais de flexão 62
5.7.1 Quantidades mínima e máxima de armadura 62
5.7.2 Armadura longitudinal superior nos apoios de extremidade 62
6 INTRODUÇÃO AO COMPORTAMENTO NÃO LINEAR DE ESTRUTURAS DE BETÃO
64
6.1 Análise Elástica seguida de Redistribuição de Esforços 65
6.2 Aplicação directa do cálculo plástico (Teorema estático) 68
6.3 Exemplos de Aplicação Prática da Não Linearidade na Verificação da Segurança das
Estruturas 69
7 ESFORÇO TRANSVERSO E TORÇÃO 73
7.1 Comportamento elástico e modelo de comportamento na rotura ao Esforço Transverso 73
7.2 Possíveis modos de rotura e verificações de segurança correspondentes 81
7.3 Influência do esforço transverso nas compressões e tracções da flexão 87
7.3.1 Rotura por arrancamento da armadura longitudinal no apoio de extremidade 88
7.3.2 Armadura longitudinal no vão 89
7.3.3 Apoio de continuidade 90
7.4 Disposições das armaduras transversais 91
7.5 Espaçamento entre estribos e sua pormenorização 91
7.6 Amarração de Armaduras 96
7.6.1 Comprimento de amarração 96
7.6.2 Comprimento de emenda 99
7.7 Armadura de Ligação Banzo-Alma 111
7.8 Armadura de suspensão 113
7.8.1 Carga distribuída aplicada na parte inferior da viga 113
7.8.2 Apoios indirectos 114
7.9 Transmissão de Cargas concentradas próximas dos apoios 121
7.10 Armadura Inclinada 125
7.11 Secções com Largura Variável 126
7.12 Forças de Desvio 126
7.13 Torção 128
7.13.1 Torção de equilíbrio 128
7.13.2 Torção de compatibilidade 129
7.13.3 Torção analisada como esforço transverso 130
7.13.4 Dimensionamento das paredes sujeitas a um esforço transverso 133
7.14 Efeito conjunto Torção / Esforço Transverso 137
7.15 Disposições construtivas relativas a armaduras de torção 137
7.15.1 Armadura transversal 137
7.15.2 Armadura longitudinal 138
7.16 Dimensionamento Conjunto da Secção 138
8 DURABILIDADE DE ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO E PRÉ-ESFORÇADO 143
8.1 Introdução 143
8.2 Mecanismos de Deterioração 144
8.2.1 Deterioração por Corrosão das Armaduras 144
8.3 Deterioração do betão 152
8.4 Ambiente de Exposição 156
8.5 Período de Iniciação e Período de Propagação 159
8.6 - Metodologia para a Garantia da Durabilidade 161
8.7 Outros aspectos importantes para a garantia da durabilidade das construções 165
8.8 Manutenção, Inspecções e Eventuais Reforços 167
9 VERIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM SERVIÇO (ESTADOS LIMITES DE
UTILIZAÇÃO – SLS) 169
9.1 Introdução 169
9.2 Verificação aos Estados Limites de Utilização 169
9.3 Acções 169
9.4 Materiais 170
9.4.1 Propriedades dos materiais para verificação da segurança aos estados limites de
utilização 170
9.4.2 Efeitos diferidos no tempo do betão 172
9.4.2.1 Fluência 173
9.4.2.2 Retracção 175
9.5 Estado Limite de Abertura de Fendas 177
9.5.1 Mecanismo da fendilhação E ABERTURA DE FENDAS 177
9.6 Cálculo de tensões com base na secção fendilhada e sua limitação 189
9.6.1 Limitação das tensões em serviço 190
9.7 Armadura mínima 194
9.7.1 Tracção 194
9.7.2 Flexão 196
9.8 Limites admissíveis de fendilhação relativos ao aspecto e à durabilidade 205
9.9 Controlo da fendilhação sem cálculo directo (EC2) 205
9.10 Estado Limite de Deformação 208
9.10.1 Limites de Deformação 208
9.10.2 - Questões na Avaliação e na Limitação da deformação 209
9.10.3 - Avaliação directa da deformação 214
9.10.3.1 - Cálculo da curvatura em estado I 214
9.10.3.2 - Cálculo da curvatura em estado II 215
9.10.4 Cálculo das deformações 216
9.10.4.1 Método Bilinear 217
10 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS DE
ELEMENTOS COM ESFORÇO AXIAL NÃO DESPREZÁVEL 225
10.1 Flexão Composta e Desviada 225
10.2 Resistência à flexão composta 225
10.2.1 Diagramas de deformações na rotura 225
10.2.2 Determinação dos esforços resistentes 226
10.3 Flexão Desviada 230
10.3.1 Rotura convencional 231
10.3.2 Determinação dos esforços resistentes 231
10.4 Disposições construtivas de pilares 234
10.4.1 Armadura longitudinal 234
10.4.2 Armadura longitudinal 235
10.4.3 Armadura transversal 235
11 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DE PILARES ISOLADOS AOS ESTADOS LIMITE
ÚLTIMOS 243
11.1 Comportamento de elementos esbeltos 243
11.2 Esbelteza 243
11.3 Imperfeições geométricas 244
11.3.1 Excentricidade inicial 245
11.4 Importância dos Efeitos de 2ª ordem e tipos de rotura associados 246
11.5 Consideração dos efeitos de 2ª ordem 248
11.5.1 Métodos de análise simplificados 249
11.5.2 Método da curvatura nominal 251
11.5.3 Método da rigidez nominal 257
11.6 Dispensa da verificação da segurança ao estado limite último de encurvadura 258
12 ESTRUTURAS EM PÓRTICO 268
12.1 Classificação das estruturas 268
12.2 Comprimento de encurvadura 269
12.3 Efeitos das imperfeições geométricas em estruturas porticadas ou mistas 271
12.4 Efeitos de segunda ordem em pórticos 271
12.4.1 Verificação da segurança de pórticos contraventados 272
12.4.2 Consideração dos efeitos de 2ª ordem em pórticos não contraventados 273
Bibliografia de referência 281
Estruturas de Betão I

1 Introdução ao Comportamento do Betão Estrutural

Nesta introdução ao comportamento do betão armado resume-se de uma forma


simplificada, mas muito abrangente, as principais características do seu
funcionamento em flexão. É importante que, desde logo, se compreenda o essencial
das características da resposta do betão estrutural e se as enquadre na base do
aprendido anteriormente no curso, em particular, na disciplina de Resistência de
Materiais.

Iremos começar por discutir o comportamento de uma peça de betão simples e, depois
introduzir as armaduras em aço, que vêm dar conteúdo e eficiência a este material
compósito que, durante o Seculo XX e até à actualidade, tem sido o responsável pelo
desenvolvimento das infra-estruturas que sustentam todo o nosso modo de
organização da sociedade.

Comecemos por referir algumas notações correntes na engenharia de estruturas, em


geral, e no betão estrutural, em particular, que são internacionalmente aceites.

Notações:

f – resistência do material

fc – tensão de rotura do betão à compressão

fck – tensão característica de rotura do betão à compressão

fct – tensão de rotura do betão à tracção

Ec – módulo de elasticidade do betão

fy – tensão de cedência do aço

fyk– tensão característica de cedência do aço

fu – tensão de rotura do aço

Es – módulo de elasticidade do aço

1.1. ELEMENTO DE BETÃO SEM INCLUSÃO DE ARMADURAS

Considere-se a viga de betão simples ilustrada na figura seguinte, bem como os


diagramas de esforços correspondentes a uma carga pontual genérica P aplicada a
meio vão.

1
Estruturas de Betão I

0.50

0.20
5.00

P/2 P/2

DEV
P/2
(+)

(-) P/2

DMF

(+)

PL/4

Como se sabe, o maior momento flector ocorre a meio vão, estando, na hipótese de
comportamento elástico, esta secção sujeita ao seguinte diagrama de tensões
normais:

2 My M
Tensões:  = Ic ; máx = W c
h/2
G M I
em que W c = y (módulo de flexão)
máx
h/2
3 2
1
bh 2 bh
y Para uma secção rectangular, W c = 12  h = 6

Para um determinado nível de carga P ocorrerá uma fenda, com início na região mais
traccionada da peça, ou seja na parte inferior da secção de meio vão (por ser a secção
submetida a um momento flector maior) e, na sequência, a rotura da viga. De facto, a
partir do início da formação da fenda deixa de ser possível existir uma distribuição de
tensões na secção que equilibre o momento aplicado.

Na figura seguinte podem observar-se os diagramas momentos-curvaturas e carga-


deslocamento que ilustram o comportamento desta viga, desde o início do
carregamento até à rotura, verificando-se que esta é frágil.

2
Estruturas de Betão I

a) Diagrama momento-curvatura b) Diagrama carga-deslocamento

M P

EI (rigidez de flexão)

1/ R 

Este comportamento resulta da lei de comportamento do material betão:

(20 a 80 MPa) Índice c – “concrete”


fc

Ec (30GPa) fc – tensão de rotura do betão à compressão

fct – tensão de rotura do betão à tracção


3.5‰  Ec – módulo de elasticidade do betão
f ct (2 a 5 MPa)

Através da análise da relação constitutiva do betão pode concluir-se que este é um


material que possui um bom comportamento e resistência à compressão, com uma
resposta “quase linear” para níveis de tensões baixos a médios, e uma baixa
resistência à tracção (da ordem de 1/10 a 1/15 da resistência à compressão). Esta
última característica é responsável pela rotura do betão simples, como ilustrado no
exemplo anterior, e pela formação de fendas no betão armado, como se irá estudar na
disciplina.

Cálculo do momento de fendilhação

Admita-se que: fct = 2.0 MPa

E, como,

M Mv bh2
= W = I e Wc = 6 (para uma secção rectangular)
c c

O momento de fendilhação pode ser avaliado pela expressão:

0.20  0.502
Mcr = fctW c = 2  103 = 16.7 kNm
6

A carga P, que está associada ao momento de fendilhação, pode ser estimada, para
aquela estrutura e carregamento, através da seguinte relação:

PL 4Mcr 4  16.7
Mcr = 4  P = L = 5 = 13.4 kN

3
Estruturas de Betão I

Conclusão: Uma viga de betão simples não explora, minimamente, a capacidade


resistente do material em compressão, pois a máxima tensão que se
pode mobilizar é igual, ou da mesma ordem de grandeza, da resistência à
tracção. O comportamento fica, assim, associado a uma baixa
capacidade de carga, condicionada pelo aparecimento de uma fenda, e,
na sequência, uma rotura frágil.

Solução: Introduzir um material com boa resistência à tracção nas regiões onde é
necessário, ou seja, nas zonas traccionadas das peças. Ao se adoptar aí
armaduras de aço explora-se muito melhor a capacidade resistente do
elemento de betão, pois passa a haver a possibilidade de equilibrar
compressões mais elevadas no betão através das tracções que passam a
se poder mobilizar nas armaduras. Além disso, por via da ductilidade
associada ao aço, temos também um comportamento dúctil na rotura.
Tem-se, assim, o Betão Estrutural (betão + armaduras de aço).

Esta análise realizada para um elemento de betão simples submetido à flexão


pode, e deve, ser equacionada, pelos alunos, para a situação mais simples da
Resistência dos Materiais que é a de um tirante (esforço axial simples).

1.2. ELEMENTO DE BETÃO ARMADO

Analisemos, então as principais características do comportamento do betão armado


resultante da introdução das armaduras de aço nas peças de betão.

O aço é um material dúctil com uma boa resistência à tracção, mas também à
compressão (ver figura seguinte). Por outro lado, a sua disposição em varões permite
um bom envolvimento pelo betão e, consequentemente, condições para uma boa
aderência entre os materiais.

fu
(200 a 800 MPa) fy
Índice y – “yeld” (cedência)
Es (200GPa)

fy  fy
+ -
2.5 a 10% 

fy

Com a introdução destas armaduras no betão obtém-se um comportamento conjunto


com boa ligação e extremamente eficiente em termos da resposta estrutural. De facto,

4
Estruturas de Betão I

com o aparecimento de fendas nalgumas secções de betão, as tracções passam, no


essencial, para as armaduras, o que permite garantir o equilíbrio da secção para um
nível de cargas muito superior. Este aspecto será, desde já, clarificado no parágrafo
1.3.

Entretanto, é importante desde já percepcionar as características globais da resposta,


que é claramente não linear, de um elemento de betão armado. Nas figuras seguintes
podem observar-se diagramas tipo, de momentos-curvaturas médias e carga-
deslocamento, respectivamente, para elementos e estruturas de betão armado, desde
o início do carregamento até à rotura. Verifica-se que, com o início das fendas (1), há
alguma perda de rigidez mas que a capacidade resistente máxima só se atinge para
cargas superiores depois de verificada a cedência das armaduras (2) e explorada,
depois, a ductilidade (3). A cedência da armadura corresponde a se atingir o
momento de cedência da secção, sendo que, a partir daí, o momento na secção só
pode aumentar devido a um incremento residual da tensão do aço entre o valor de
cedência e o último, ou um ligeiro aumento do braço devido a uma acomodação das
compressões mais junto às fibras extremas da secção. Entretanto o elemento de betão
armado pode continuar a aumentar a curvatura, com um comportamento característico
de um material dúctil.

Ao longo desta disciplina analisar-se-ão estas características do comportamento e o


seu enquadramento nas disposições regulamentares para assegurar os níveis de
segurança e de qualidade de comportamento necessários.

a) Diagrama momento-curvatura b) Diagrama carga-deslocamento

M I P
II
(2) (3) (2) (3)
(1) - fendilhação do betão
(1) (1)
(2) - cedência das armaduras
(3) - rotura

1/ R 

1.2.1 CÁLCULO DAS TENSÕES NUMA SECÇÃO APÓS FENDILHAÇÃO

Na sequência, analisa-se, primeiro, um conceito importante no betão estrutural que é o


de que as quantidades de aço devem assegurar, pelo menos, a substituição das
tracções que se libertam a quando da abertura de uma fenda, e depois, a avaliação
de tensões numa secção fendilhada. Também nesta análise é importante que o
aluno faça o paralelo com a situação equivalente da tracção simples.

5
Estruturas de Betão I

Para se compreender estes aspectos do comportamento comecemos por analisar a


resposta à flexão de uma secção de betão armado, tomando-se o exemplo seguinte:

Admita-se:
2
As = 10.0 cm
d 0.50 d = 0.45 m (altura útil da armadura)

Ec = 30 GPa

Es = 200 GPa
0.20

(i) Avaliação simplificada da quantidade de armadura mínima necessária para


substituir o papel das tracções no betão quando se forma uma fenda (Análise em
Estado não fendilhado - Estado I – desprezando as armaduras, como é
razoável, em geral, em termos práticos)

A força de tracção disponibilizada pelas armaduras deve ser superior à força de


tracção no betão que se liberta quando se forma a fenda, tal que, de uma forma
simplificada (admitindo fct = 2MPa e fy = 400 MPa):

Fc
h 1
Fs Fct As, min fy b  2  2 fct

0.5 1
h/2  As, min 0.2  4  210  400103  10 = 1.25 cm
3 4 2
Fct

b f ct

(Refira-se que no exemplo apresentado a armadura admitida é


(antes de fendilhar)
2 2
superior a este valor, pois: As = 10cm >> 1.25cm )

Vejamos, agora, a avaliação da distribuição de tensões numa secção fendilhada


(denominada por Estado II) de acordo com as hipóteses usualmente admitidas.

(ii) Cálculo do estado de tensão nas secções, após a fendilhação do betão

Hipóteses consideradas para o denominado Estado II

 O betão não resiste à tracção

 As secções mantêm-se planas após a fendilhação

6
Estruturas de Betão I

c c
(Fc)
(-)
x
LN
d M cr
z
(+)
s s (Fs)

Cálculo da posição da linha neutra

Através da determinação do centro de gravidade da secção homogeneizada,

Ai xi bx  x/2 + As Es/Ec d


x bx + As E  = bx  2 + As E  d 
Es x Es
x= =
Ai bx + A s Es /Ec  c  c

Es bx2 Es bx2 Es
 bx2 + As E  x = 2 + As E  d  = As (d - x)
c c 2 Ec

(equação que traduz a igualdade de momentos estáticos)

Para a secção em estudo,

0.2x2 200
2 = 1010 x 30 (0.45 - x)  0.1x + 6.6710 x - 0.03 = 0  x = 0.143 m
-4 2 -3

x 0.143
z (braço das forças resultantes) = d - 3 = 0.45 - 3 = 0.40 m

Avaliemos, agora para o momento de fendilhação, anteriormente estimado (parágrafo


1.1) a distribuição de tensões na secção, após fendilhação:

Cálculo da tensão no betão (c)

Mcr 16.7
Por equilíbrio: Mcr = Fs z = Fc z =16.7 kNm  Fc = z = 0.40 = 41.8 kN

c x  b 2Fc 2  41.8


Fc = c = bx = = 2923 kN/m2 2.9 MPa
2 0.20  0.143

Cálculo da tensão nas armaduras (s)

Fs 41.8
Fs = s Ass = = = 41800 kN/m2 = 41.8 MPa
As 10  10-4

7
Estruturas de Betão I

Cálculo das extensões máxima no betão e nas armaduras (c e s)

c
 = E =
2923
= 0.09710-3 0.1‰
 = E 
 c
c 30106
 s 41800
 s = E =
s 200106
= 0.2‰

c x d-x 0.45 - 0.143


ou = d - x s = x c=  0.09710-3 = 0.2‰
s 0.143

c = 0.1‰ -2.9

(-)
0.143
LN
M = 16.7 kNm

(+)
s = 0.2‰ 41.8

  [MPa]

Verifica-se que, para a quantidade de armadura da secção (10 cm2), bastante superior
à mínima estimada (1.25cm2), o nível de tensões nas armaduras (41.8 MPa), depois
de se formar a fenda, é muito inferior ao da cedência característica (400MPa), ou seja,
há, neste caso uma reserva muito grande até se atingir a cedência.

Avaliemos agora, para este exemplo, as curvaturas das secções depois e antes da
fendilhação.

Cálculo da curvatura em Estado II

1 c + s 0.110-3 + 0.210-3
R = d = 0.45 = 6.6710-4 m-1

Curvatura em Estado I, sem considerar as armaduras:

2.0 c
(-)
c 2.0
c = E = = 6.6710-5
c 30103
M = 16.7 kNm

(+)
1 2  6.6710-5
2.0 c R= 0.5 =2.6710-4 m-1
 [MPa]

8
Estruturas de Betão I

Verifica-se, assim, que, para esta secção e com esta armadura, se verifica uma perda
de rigidez considerável quando se perde a participação do betão traccionado, de:
1/RII
1/RI  2.5. Refira-se que este valor seria maior ou menor consoante a quantidade de
armadura adoptada fosse, respectivamente, inferior ou superior aos 10 cm2
considerados.

Estas curvaturas podem ser directamente calculadas dividindo o momento pelas


rigidezes homogeneizadas, se for o caso, nos referidos Estados I e II, tal que:

1 M
Estado I sem considerar as armaduras: =
Rc Ec Ic

1 M
Estado I com consideração das armaduras: =
R Ec I

1 M
Estado II: =
R Ec I

M I
II
Ec I

Ec I
Ec I

1 /R

Ic, I e I, são, respectivamente, a inércia de secção só de betão, de betão e armaduras


homogeneizada no betão em situação não fendilhada (valor de I  Ic) e fendilhada (I)
sem considerar o betão à tracção.
1.2.2 CÁLCULO DO MOMENTO DE CEDÊNCIA DA SECÇÃO

Em estado II (secção fendilhada sem participação de betão à tracção) a linha neutra e


a rigidez da secção é única, como avaliada anteriormente. Assim, a um acréscimo do
momento flector irá somente corresponder um aumento de curvatura com
consequente aumento de tensões, i.e., com o braço entre as resultantes das forças de
compressão e tracção a se manter constante.

c c1 c2
(-)

LN

(+)
s s1 s2
M1 M2 M1

9
Estruturas de Betão I

A continuação da aplicação do momento M conduz, portanto, ao aumento das tensões


nas fibras, proporcionalmente ao momento. No entanto, para níveis superiores de
carga, pode o betão entrar numa região de comportamento com alguma não
linearidade.
c1 c2
Fc Fc

LN LN

z1 M1 z2 M2
M 1  M2

F s1 F s2

A variação do braço é, no entanto, pouco significativa (z1  z2), pelo que a avaliação do
momento de cedência se pode fazer tomando para a força F a força correspondente à
cedência das armaduras, tal que:

My  z  Fy com Fy = Asfsy

Em que z é o braço atrás determinado.

Cálculo do momento de cedência da secção

s = fy = 400 MPa  Fy = 400  103  10  10-4 = 400 kN

z = 0.40m  My = 0.4  400 = 160 kNm

Verifica-se que, para esta secção, a diferença entre os momentos de fendilhação e de


cedência é significativa, de 16.7 kNm para 160 kNm, o que mostra bem o papel das
armaduras.

1.3. DIFERENÇA DO COMPORTAMENTO SECÇÃO/ESTRUTURA

As estruturas são compostas por inúmeras secções sendo que só algumas fendilham.
Nestas secções há uma perda brusca de rigidez (aumento de deformação
significativo), como mostra o gráfico a), corresponde à passagem do Estado I ao II. No
entanto, considerando o comportamento médio de um elemento estrutural (como o
representado na direita da figura), vai-se verificar uma diminuição mais gradual da
rigidez média (gráfico b)). A razão é simples: em termos médios teremos secções
efectivamente fendilhadas, mas entre estas haverá outras com o betão traccionado,
portanto menos deformáveis.

10
Estruturas de Betão I

a) Secção b) Elemento

 I
II M I
II
(2) (3) My (2) (3)
My
(1) (1) R
Mcr Mcr

M M
 1 /R

Este efeito de atenuação da importância da perda de rigidez, a quando da fendilhação,


é ainda mais notório, quando se analisa a resposta da estrutura no seu conjunto. De
facto, ao nível da deformação global da estrutura, não se chega a notar um aumento
pontual da deformação. Verifica-se, isso sim, uma diminuição da rigidez para cargas
superiores ás do início do processo de formação de fendas (zona do diagrama carga-
deslocamento de (1) para (2)) – ver figura seguinte. Nesta relação, a perda de rigidez
por abertura de fendas numa ou noutra secção, dilui-se em termos da resposta global,
mas, mesmo assim, com implicações na deformação da viga.

P
(2) (3)

(1)

Para níveis de carga superiores a zona da viga passível de ter fendas é aquela em
que os esforços sejam superiores aos de início da fendilhação, como se mostra na
figura seguinte.

Região onde ocorre


DMF fendilhação para Pmáx

Mcr

Mmáx

Refira-se que, como referido anteriormente, à medida que se verifica o incremento de


carga as tensões nos materiais aumentam até que se atinge, em princípio na secção
mais esforçada, a cedência do aço, ou seja o momento de cedência - (ponto (2) dos

11
Estruturas de Betão I

diagramas). Este nível de carga corresponde, “grosso modo”, à capacidade máxima da


secção, verificando-se, a partir daí, só um ligeiro aumento até ao momento último,
associado a um grande aumento de deformações. É a zona de comportamento
associada à exploração da capacidade última da secção à flexão, que se verifica, em
geral, com desenvolvimento de uma resposta dúctil. Evidentemente que, em estruturas
hiperstáticas, as zonas principais das estruturas não entram, em geral,
simultaneamente em cedência. Assim, a partir do seu início numa determinada
secção, há lugar, ainda, para incrementos de carga até se mobilizar a capacidade
máxima da estrutura.

2 Conceito de Segurança no Dimensionamento de Estruturas

O conceito de segurança a exigir às estruturas não é obviamente específico ao betão


estrutural, sendo aplicado a estruturas construídas em qualquer material, em particular
às estruturas metálicas e/ou mistas (betão/aço). Na sequência, apresenta-se um
resumo dos princípios fundamentais das metodologias de verificação da segurança
que reputamos essencial, nesta fase da aprendizagem dos alunos, para se
compreender o enquadramento das preocupações dos engenheiros na concepção e
projecto das Estruturas de Betão.

2.1 OBJECTIVOS DE SEGURANÇA NA ENGENHARIA ESTRUTURAL EM GERAL

Há dois objectivos fundamentais a considerar pelos engenheiros de estruturas para


assegurar, à sociedade em geral, um nível de segurança adequado às construções.
Seguidamente referem-se esses dois objectivos gerais, particularizando-se, para cada
um deles, o tipo de verificações em causa.

1) Garantir um bom comportamento das estruturas em situação de serviço, ou


seja, na sua utilização corrente

Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos


Estados Limite de Utilização:

 Limitar a deformação (Para as estruturas, em geral, e não só de betão)

De acordo com as recomendações mais recentes, e para o caso de pisos de edifícios,


a deformação final ou o incremento de deformação após a execução de paredes de
alvenaria, deve ser limitada, para as acções com carácter de permanência,
respectivamente, a:

serviçoadmissível 250 ou 500


L L
 

12
Estruturas de Betão I

Trata-se no primeiro caso de uma questão de aspecto e funcionalidade e no segundo


caso para evitar fendas nas alvenarias que não conseguem, a partir de um certo
ponto, acompanhar a deformação da sua base de suporte sem fendilharem.

 Limitar o nível de tensões máximas no betão e no aço

Segundo as disposições regulamentares mais recentes o nível máximo das tensões no


aço e no betão deve ser limitado, em serviço. Estes limites dependem do tipo e nível
das acções, como se verificará no curso.

 Controlar as aberturas de fendas (Aspecto claramente específico ás


estruturas de betão armado):

serviçoadmissível (0.2 a 0.4mm)

Sendo a existência de fendas uma situação normal no Betão Armado, há que limitar a
sua abertura, em geral, para um nível de acções com carácter de permanência. Esta
necessidade advém, de razões de aceitabilidade estética e, em ambientes mais
agressivos, para não serem veículo de um processo mais rápido de degradação do
betão estrutural (questão de durabilidade, como se verá no curso).

 Garantir um adequado comportamento dinâmico (estruturas em geral)

Este aspecto da verificação do comportamento em serviço das estruturas, só será


analisado na disciplina de uma forma indirecta, devendo ser aprofundado
posteriormente no curso. No fundo trata-se de controlar as frequências próprias de
vibração das estruturas, de tal forma a evitar situações de ressonância com a
frequência das acções.

Exemplo: Nas pontes de peões verificar que a frequência principal de vibração vertical
da estrutura não se aproxima da frequência da excitação, neste caso, as cadências
dos passos dos utilizadores.

2) Assegurar um nível de segurança adequado em relação a determinadas


situações de rotura (rotura local ou global da estrutura)

Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos


Estados Limite Últimos

Para além de assegurar um comportamento adequado da estrutura nas condições da


sua utilização, o engenheiro de estruturas tem de, com um nível de confiança
muitíssimo superior, poder garantir que não há possibilidade de qualquer tipo de
rotura, seja localizada, por falta de capacidade resistente, como numa peça linear,
por:

13
Estruturas de Betão I

 Tracção ou Compressão

 Flexão

 Esforço Transverso

 Torção

 Qualquer combinação destas

 Zonas particulares de apoios e/ou introdução de cargas

Seja global, por perda de equilíbrio conjunto da estrutura, como o derrubamento


de um muro de suporte.

As características de comportamento do betão estrutural, próximo da rotura, e as


hipóteses admitidas para avaliação das capacidades resistentes dos elementos
estruturais, acima referidas, e das estruturas, no seu conjunto, serão analisadas nos
Capítulos seguintes.

2.2 FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS


LIMITES ÚLTIMOS

Para garantir o objectivo acima enunciado, da não rotura, a regulamentação das


estruturas, em geral, tem vindo a introduzir, a partir dos anos 60, uma filosofia de
segurança que, tendo em conta a variabilidade das características dos materiais, do
valor das acções e da avaliação da resposta estrutural, assegura uma probabilidade
de rotura de 1 x 10-5, ou seja, quase nula.

Este formato baseia-se, de uma forma simplificada, na avaliação de valores


característicos para os materiais e acções, e ainda à adopção de coeficientes parciais
de segurança adequadamente definidos. Vejamos, então, com algum pormenor, essa
valoração.

1) Definição de valores característicos para:

 Valores das acções Ssk (95% de probabilidade de não serem excedidos)

 Resistências dos materiais SRk (95% de probabilidade de serem superiores).

2) Adopção de coeficientes de segurança parciais que:

 Majorem as cargas, consoante o tipo de acção:

 Acções permanentes: valor aproximadamente constante durante a vida

g = 1.0 ou 1.35 (consoante a acção for ou não favorável)

14
Estruturas de Betão I

 Acções variáveis: variam durante a vida útil da estrutura (ex: sobrecarga,


vento, sismo, variação de temperatura, etc.)

q = 0.0 ou 1.5 (consoante a acção for ou não desfavorável)

 Acções acidentais: muito fraca probabilidade de ocorrência durante a


vida útil da estrutura (ex: explosões, choques, incêndios, etc.) a = 1.0

 Minorem as resistências dos diferentes tipos de materiais:

 Armaduras (s = 1.15)

 Betão (c = 1.5)

fyk fck
Exemplo: fyd = ; fcd =
s c

3) Estabelecimento de combinações de acções, conforme especificado no RSA

Exemplo: Ssd = gSg + q (Sq + 0iSqi) (0i  1 – coeficiente de combinação da


acção variável i)

Sq – acção variável de base

Sqi – restantes acções variáveis

4) A avaliação dos efeitos das acções na estrutura é usualmente realizada com base
numa análise elástica linear da mesma, mas com as eventuais/necessárias
adaptações para ter em conta, nas estruturas hiperstáticas, o efeito do comportamento
não linear do betão estrutural (como constatado nos parágrafos anteriores).

Com base nos modelos estruturais adoptados há, então, que avaliar os efeitos das
acções. Tem-se, por exemplo, para a flexão, os denominados momentos de cálculo
ou dimensionamento, que, para o caso de uma única carga variável, corresponde a:

Msd = g Mg + qMq

5) A avaliação das capacidades resistentes (forças ou esforços) depende da geometria


do elemento, das características dos materiais e do tipo de esforço.

Por exemplo para o momento resistente, como vimos anteriormente, teremos, de


fyk
uma forma simplificada, : MRd = As  1.15 z.

No Capítulo seguinte a avaliação deste valor será detalhadamente apresentada.

6) Verificação da condição de segurança geral: SSd  SRd

Exemplo para os momentos: Msd  MRd

15
Estruturas de Betão I

No caso do exemplo anterior, e considerando só a sobrecarga (q = 1.5), tem-se


(tomando o braço de forças, z, avaliado para o comportamento elástico):

PL 5 400
M = 4  Msd = 1.5  P  4  MRd = 10  10-4  1.15  103  0.40

Donde resulta, como valor de carga que pode ser aplicada à estrutura, com um nível
de segurança adequado em relação à rotura por flexão (ou seja, verifica a segurança
ao Estado Limite Último de Flexão):

P  74.2 kN

O procedimento de verificação da segurança acima resumido pode ser ilustrado com


base nos diagramas de distribuição probabilística dos efeitos das acções e da
avaliação das resistências, como indicado na figura seguinte. A partir de valores
característicos, superiores e inferiores, respectivamente para as acções e materiais,
majoram-se e minoram-se esses valores, com coeficientes parciais de segurança,
para só depois estabelecer a condição de segurança.

Percebe-se que a margem de segurança disponível que se obtém com este


procedimento é muito grande. Repare-se na diferença entre os valores médios
expectáveis das acções e das resistências. No entanto, a justificação da garantia da
probabilidade de não rotura ser de 1 x 10-5,como acima referida, está fora do âmbito
destas folhas, e desta disciplina.

Ssm Ssk Ssd SRd SRk SRm

Acções ou efeitos das acções Resistência

2.3 FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS


LIMITES DE UTILIZAÇÃO

Para assegurar o comportamento adequado nas condições de serviço, pretende-se


avaliar, agora, tão bem quanto possível, a resposta efectiva da estrutura quando em
utilização. Com esse objectivo faz sentido tomar valores de acções que se esperam
efectivamente actuem a estrutura (e não valores característicos superiores e/ou
majorados) e valores médios para o comportamento dos materiais (certamente que
não valores característicos inferiores e/ou minorados).

16
Estruturas de Betão I

Esta formulação conduz a que a probabilidade de serem excedidos os valores


admissíveis seja da ordem de 1 x 10-1.

Vejamos então, em termos práticos, com que bases se fazem estas verificações:

1) Definição dos valores da acção que actuam na estrutura adoptando, por um lado,
para os pesos próprios dos materiais estruturais e/ou de outros revestimentos
utilizados densidades médias e, por outro lado, valores de sobrecargas com
probabilidades reais de virem a actuar as estruturas (percentagens mais pequenas do
valor característico têm mais probabilidade de ocorrerem).

2) Estabelecimento de combinações de acções, conforme preconizado no RSA:

 Combinação quase permanente de acções: Estado limite de longa duração


( 50% do tempo de vida da estrutura) Scqp = G + 2iQi

 Combinação frequente acções: Estado limite de curta duração ( 5% do


tempo de vida da estrutura) Sfreq = G + 1 Q + 2iQi

 Combinação característica: Estado limite de muito curta duração (algumas


horas no período de vida da estrutura) Sraro = G + Q + 1iQi

2 < 1 < 1.0)

Q – acção variável de base

Qi – restantes acções variáveis

3) A avaliação dos efeitos das acções deve ser realizada considerando, em geral, as
propriedades médias dos materiais por forma a estimar o comportamento previsível. É
importante referir que, para o efeito de cargas exteriores a hipótese de comportamento
linear é razoável e usual, para a obtenção de esforços, mas já não é para avaliação
das deformações, a menos que, convenientemente, corrigidas. Por outro lado, devido
a deformações impostas à estrutura, a grandeza dos esforços depende fortemente da
rigidez da estrutura, e, então, a rigidez elástica deve ser diminuída, logo na avaliação
de esforços.

É, portanto, necessário considerar, de uma forma simplificada, os efeitos da


fendilhação (perda de rigidez) e da fluência do betão nas características da resposta e
na forma de avaliar os efeitos das acções. Estes assuntos irão os alunos analisar ao
longo do curso.

4) Posteriormente há que fazer as verificações de segurança, atrás mencionadas,


como a limitação da deformação, o controlo do nível de tensões nos materiais e o
controlo das aberturas de fendas. Estas verificações são estabelecidas nos

17
Estruturas de Betão I

regulamentos, para certas combinações de acções. Refira-se que um certo limite é


dependente da duração de tempo em que possa subsistir.

Por exemplo, para o caso da deformação, é importante garantir a sua limitação para a
situação quase-permanente, mas não para a eventualidade de, numa ou várias
situações na vida da estrutura, se ter uma sobrecarga maior. Assim:

combinação quase permanente  admissível

Por outro lado, uma abertura de fendas máxima de 0.5 mm pode ser considerada
aceitável para a combinação característica de acções, pois só acontece muito
esporadicamente, mas não para uma situação com carácter de permanência, em que
se aponta na regulamentação para um limite de 0.3 mm.

18
Estruturas de Betão I

EXERCÍCIO 1

Considere a estrutura de um piso estrutural, que será tomado como referência nos
capítulos seguintes, a construir com os materiais indicados e as acções previstas
referidas, e que se representa na planta seguinte:

Materiais: C25/30, A400

4.00 4.00 4.00 4.00


Acções:
Peso próprio
2
Revestimento=2.0 kN/m
2
Sobrecarga = 3.0 kN/m

10.00 S2 Coeficientes de majoração:


G = Q = 1.5

Coeficientes de combinação:
S1 1 = 0.4 ;2 = 0.2

3.00 2
Secção da viga: 0.300.85 m

Espessura da laje: 0.15m

a) Determinar, para as secções S1 e S2 da viga, os valores dos esforços, para a


verificação da segurança à rotura.

b) Calcular, para as mesmas secções, os esforços para as combinações em serviço,


rara, frequente e quase-permanente.

19
Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO

No processo de verificação da segurança de uma estrutura é fundamental encontrar


um modelo de análise da estrutura, que nunca deve ser confundido, com a própria
estrutura. Trata-se, no essencial, de “um modelo da estrutura” que serve de base
para a análise, dimensionamento e verificação de segurança, neste caso da viga
central em causa.

1. Modelo de cálculo:

Modelo para o cálculo da viga Corte transversal à viga

g, q rev, q
0.15
S2 S1
0.70
10.00 3.00
0.30
4.00

Comentários ao modelo de cálculo, escolhido, com algumas simplificações:

 Consideram-se as vigas sem continuidade na ligação aos pilares;

 Considera-se que as lajes descarregam apenas nas vigas transversais.

2. Cálculo das acções na viga

2.1. Carga permanente

 Peso próprio

pp = betão Área = [4  0.15 + (0.85 - 0.15)  0.30]  25 = 20.3kN/m

 Revestimento

rev = 2.0  4.0 = 8.0kN/m

cp = pp + rev = 20.3 + 8.0 = 28.3kN/m

2.2. Sobrecarga

sc = 3.0  4.0 = 12.0kN/m

20
Estruturas de Betão I

3. Diagrama de esforços para uma carga unitária (poder-se-ia considerar logo à


partida considerar o valor das cargas)

p=1 kN/m

S2 S1

10.00 3.00

RA RB

DEV
[kN] 4.55 3.0
(+) (+)
(-)
x
5.45
DMF 4.5
[kNm]
(-)

(+)

10.25

(i) Cálculo das reacções de apoio

13
MA = 0  10  RB- 1.0  13  2 = 0  RB = 8.45kN

F = 0  RA + RB = 13  RA = 13 - 8.45 = 4.55kN

(ii) Cálculo do momento flector a ½ vão

3
MB = - 1  3  2 = - 4.5kN/m
pL2/8
102 4.5
M½vão = 1  8 - 2 = 10.25kNm L/2 L/2

(iii) Cálculo do momento flector máximo

4.55 + 5.45 10.0


4.55 = x x = 4.55m

4.55 4.55
Mmáx = 2 = 10.35kNm

M½vão Mmáx

21
Estruturas de Betão I

ALÍNEA A)

Secção S1 Secção S2

G = – 4.5  28.3 = - 127.35 kNm


MS1 G = 10.25  28.3 = 290.1 kNm
MS2

Q = – 4.5  12.0 = - 54 kNm


MS1 Q = 10.25  12.0 = 123.0 kNm
MS2

G = –5.45  28.3 = 154.2 kN


VS1

Q = –5.45  12.0 = 65.4 kN


VS1

Valores de cálculo dos esforços

sd = 1.5 (M G + M Q ) = 1.5  (-127.35 - 54) = -272.0 kNm


MS1 S1 S1

sd = 1.5 (M G + M Q ) = 1.5  (290.1 + 123) = 619.7 kNm


MS2 S2 S2

Sd = 1.5 (V G + V Q ) = 1.5  (-154.2 - 65.4) = -329.4 kN


VS1 S1 S1

Consideração de alternância de sobrecarga

A sobrecarga, sendo uma acção variável, pode actuar em qualquer tramo. Assim, para
cada caso, há que verificar a hipótese de carga mais desfavorável.

Chama-se, desde já a atenção, para que na consola e sobre o apoio adjacente, os


esforços só dependem das cargas na própria consola e, portanto, os valores máximos
são os avaliados anteriormente.

Por outro lado, se se considerar apenas a actuação da sobrecarga no tramo apoiado,


o momento flector obtido a meio vão desse tramo será superior ao calculado
considerando a sobrecarga a actuar em toda a viga (calculo anterior).

Deste modo,

q
g

12  102
MS2
Q =
8 G = 10.25  28.3 = 290.1 kNm
= 150 kNm ; MS2

 MS2
sd = 1.5  (290.1 + 150) = 660.2kNm

22
Estruturas de Betão I

Refira-se que, sendo a viga isostática, a distribuição de esforços para uma qualquer
combinação de acções é única. Ora isto é diferente do que acontece nas estruturas
hiperstáticas onde são possíveis distribuições de esforços distintas que equilibram as
mesmas acções... e que são compatíveis com o comportamento, efectivamente não
linear, dos materiais.

Alínea b)

Secção S1

Mc rara = MG + MQ = -127.35 - 54 = - 181.4kNm

Mcfreq = MG + 1 MQ = -127.35 - 0.4  54 = -149.0kNm

Mcqp = MG + 2 MQ = -127.35 - 0.2  54 = – 138.2kNm

Vc rara = VG + VQ = 154.2 + 65.4 = 219.6kN

Vcfreq = VG + 1 VQ = 154.2 + 0.4  65.4 = 180.36kN

Vcqp = VG + 2 VQ = 154.2 + 0.2  65.4 = 167.3kN

Secção S2

Mc rara = MG + MQ = 290.1 + 123.0 = 413.1kNm

Mcfreq = MG + 1 MQ = 290.1 + 0.4  123 = 339.3kNm

Mcqp = MG + 2 MQ = 290.1 + 0.2  123 = 314.7kNm

Verifica-se também que o nível de esforços considerados para a verificação da


segurança à rotura são significativamente superiores aos correspondentes das
combinações de acções em serviço, e que estes últimos são tão menores, quão a
probabilidade de ocorrência seja maior.

23
Estruturas de Betão I

3 Materiais

3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS BETÕES

O betão tem como referido anteriormente, e os alunos certamente saberão nesta fase
do curso, um comportamento não linear. Ou seja, tem uma relação tensão-extensão
que não segue a lei de Hook, em particular para tensões mais elevadas. Como se verá
na sequência, até certos níveis limitados de tensão, é razoável admitir o
comportamento como linear.

Os betões são, em termos regulamentares, classificados por classes de resistência,


como certamente analisaram na disciplina de materiais.

As classes de resistência estão definidas de acordo com os valores característicos de


tensão de rotura à compressão aos 28 dias de idade, referidos a provetes cúbicos ou
provetes cilíndricos, apesar destes últimos serem aqueles que se consideram como
referência na avaliação da segurança estrutural.

No quadro seguinte apresentam-se, para as várias classes de resistência do betão, os


valores característicos e de cálculo das tensões de rotura à compressão (fck e fcd), bem
como o valor médio da tensão de rotura à tracção (fctm) e módulo de elasticidade aos
28 dias (Ec, 28).

B15 B20 B25 B30 B35 B40 B45 B50 B55


Classe
C12/15 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60

cub. 15 20 25 30 37 45 50 55 60

fck

cil. 12 16 20 25 30 35 40 45 50
[MPa]

fcd
8.0 10.7 13.3 16.7 20.0 23.3 26.7 30.0 33.3
[MPa]

fctm
1.6 1.9 2.2 2.6 2.9 3.2 3.5 3.8 4.1
[MPa]

Ec,28
27.0 29 30 31 33 34 35 36 37
[GPa]

24
Estruturas de Betão I

3.1.1 TENSÕES DE ROTURA DO BETÃO

A partir dos valores característicos das tensões de rotura à compressão ou à tracção,


definem-se os valores denominados de dimensionamento ou de cálculo à rotura:

fcil.
ck fctk
fcd = , fctd = com c = 1.5 (fcil.
ck  0.8 f ck )
cubos
c c

O valor médio da tensão de rotura do betão à tracção pode ser estimado pela
expressão:

fctm = 0.30 f2/3


ck

Nota: o valor de fcd é definido a partir da resistência em cilindros, dado que estes provetes são
mais representativos da resistência do betão em peças longas.

3.1.2 MÓDULO DE ELASTICIDADE DO BETÃO

Na análise de estruturas é usual admitir um comportamento elástico, como atrás já


referido, considerando-se, em geral, o módulo de elasticidade secante do betão aos 28
dias de idade. Este módulo de elasticidade, tal como a figura seguinte indica,
encontra-se definido para c = 0 e c = 0.4 fck. Refira-se a propósito, que este tipo de
hipótese é adoptada, na prática da engenharia, com muita frequência, considerando-
se, posteriormente, formas mais ou menos directas de ter em consideração o efectivo
comportamento não linear do betão armado, quer em condições de serviço, quer,
por maioria de razão, próximo da rotura.

c
Ec
fcm

0.4 fck

c

3.1.3 VALOR CARACTERÍSTICO DA TENSÃO DE ROTURA DO BETÃO À COMPRESSÃO FC

A partir de um certo número de resultados de ensaios, é possível avaliar o valor


característico do betão.

25
Estruturas de Betão I

Assim:

fck = fcm -  Sn , Sn – desvio padrão das resistências das amostras

 – parâmetro que depende do número de ensaios

n 6 10 15

 1.87 1.62 1.48

3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS ARMADURAS

As armaduras a utilizar no betão estrutural podem dividir-se em:

 armaduras para betão armado

 armaduras de pré-esforço

As primeiras são também denominadas de armaduras passivas, pois só são


solicitadas em resposta a acções exteriores.

As armaduras de pré-esforço são compostas por aços com capacidade resistente da


ordem de 3 a 4 vezes superiores às passivas e são chamadas de activas, pois são
traccionadas antes da actuação das solicitações exteriores.

Nestes elementos referem-se unicamente as primeiras pois o pré-esforço é introduzido


na disciplina de Estruturas de Betão II.

3.2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ARMADURAS PARA BETÃO ARMADO

Os aços são classificados tendo em consideração o processo de fabrico, a rugosidade


da superfície e a sua capacidade resistente. Assim temos:

 processo de fabrico

 aço natural (laminado a quente) (N)

 aço endurecido a frio (E)

 aderência

 alta aderência (superfície rugosa ou nervurada) (R)

 aderência normal (superfície lisa) (L)

 resistência

 (A235), A400, A500

26
Estruturas de Betão I

O aço A235 foi utilizado na construção em Portugal, em geral com varões lisos, mas já
não é produzido actualmente.

As armaduras designam-se, assim, com a seguinte simbologia base:

Designação das armaduras: A500 N R SD

fyk aderência

processo de fabrico ductilidade especial

Os aços de dureza natural A400 NR e A500 NR produzidos em Portugal,


apresentam apenas duas famílias de nervuras – ver figura abaixo. Nos aços A400
todas as nervuras de uma família são paralelas ao passo que no A500 as nervuras
têm alternadamente inclinações diferentes, pelo menos de um dos lados.

A diferenciação, entre aços com ductilidade especial (SD), recomendados em zonas


sísmicas, e os correntes, é ilustrada na figura, sendo que, no essencial, os SD tem as
mesmas nervuras nas duas faces.

Tipo A400NR Tipo A500NR

Tipo A400NR SD Tipo A500NR SD

Identificação do tipo de aço

Os aços endurecidos a frio (E) são produzidos por laminagem com impressão de um
perfil nervurado, constituído por três famílias de nervuras dispostas em 3 planos.

27
Estruturas de Betão I

4 Verificações de Segurança à Rotura por Flexão

Para a avaliação das capacidades resistentes das secções de betão à flexão, no


âmbito da filosofia de segurança em relação à rotura, começa-se por mostrar como se
caracterizam os comportamentos dos materiais a adoptar naquela avaliação.
Posteriormente, e a partir de hipóteses admitidas para a deformação da secção na
rotura, mostra-se como se avaliam os esforços resistentes de flexão.

4.1 RELAÇÕES TENSÃO-EXTENSÃO DOS MATERIAIS PARA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA


AOS E.L. ÚLTIMOS

4.1.1 BETÃO

A partir da relação tensão-extensão característica do betão, referida anteriormente, é


definida uma relação simplificada, com base numa parábola e num rectângulo com um
valor máximo de resistência, o qual é obtido do valor característico, pela aplicação do
correspondente coeficiente parcial de segurança de 1.5.

c fck
fcd =  , c = 1.5 0.8    1.0
c
f ck
para 0  c  c2

f cd c = fcd para c2  c  cu2

Para as classes de resistência até C50/60,

c2[‰] cu2[‰]

2.0 3.5
c2 cu2 c
(Diagrama parábola rectângulo)

Para uma definição analítica detalhada destas curvas pode ser consultada bibliografia
referida para a disciplina.

Na avaliação do valor de fcd, para além do coeficiente parcial de segurança, aparece o


coeficiente . Este parâmetro tem em consideração a diminuição da tensão de rotura
do betão quando sujeito a tensões elevadas prolongadas. De facto, se o betão for
solicitado com constância, durante um certo período de tempo, a uma tensão um
pouco inferior à máxima (entre 85% a 100% de f c) acaba por atingir a rotura. De
acordo, por exemplo, com o REBAP, a tensão máxima no betão está limitada a 0.85
fcd, ou seja considerando  = 0.85. No entanto, o EC-2 propõe, para casos correntes,

28
Estruturas de Betão I

1.0 fcd, pois nas condições de carregamento com persistência o betão estará, em
geral, solicitado a níveis de tensões bem inferiores às acima referidas, tendo-se
considerado demasiado penalizante tomar esse efeito na verificação da segurança à
rotura. Na disciplina, e na prática da engenharia em geral no futuro, tenderá a utilizar-
se a hipótese proposta no EC2. No entanto, e para já, o mais importante é perceber a
razão do sentido físico deste coeficiente.

4.1.2 AÇO

Para a verificação da segurança aos E.L. Últimos pode ser considerada uma das duas
relações constitutivas indicadas pelo EC-2, e presentes na figura seguinte, i.e.,
considerando ou não (hipótese muitas vezes admitida como simplificação) algum
incremento de resistência a partir da cedência, quantificado pelo coeficiente k.
s
fyk
2 fyd = , s = 1.15
k f yk s
f yk k f yd
ud = 0.9 uk
f yd
fyk fyd yd
1 Classe -3
[MPa] [MPa] [10 ]
A235 235 205 1.025
Es =200 GPa

A400 400 348 1.74

A500 500 435 2.175


yd ud uk s

O valor da extensão máxima convencional do aço, ud (igual a 90% do valor


característico uk), a considerar depende da classe de ductilidade das armaduras. No
quadro seguinte são indicados os valores característicos das extensões últimas, para
as diferentes classes de ductilidade, que são da ordem dos 25 a 75‰, portanto, muito
superiores aos do betão de 3.5 ‰.

Classe de
A B C
ductilidade
1.15
k 1.05 1.08
<1.35
uk [%] 2.5 5.0 7.5

Refira-se que o REBAP limita a 10‰ a extensão última convencional de


dimensionamento, ud, valor claramente inferior aos acima referidos. No entanto, uma
vez que para este valor de extensão, o aço se encontra bem na cedência, as

29
Estruturas de Betão I

repercursões em termos da avaliação das capacidades resistentes à flexão, são


praticamente nulas, como se verá no sub-capítulo seguinte.

Em Portugal os aços são denominados por NR, ER ou NR SD, como referido em


3.2.1, onde é explicada a simbologia e a forma como se pode proceder à sua
identificação superficial. Para a construção corrente é normal utilizarem-se ferros NR,
sendo em zonas de maior sismicidade, a utilização de aços SD fundamental. Estas
classificações actuais dos aços em Portugal, correspondem às características de
ductilidade das classes B (NR) e C (NR SD) definidas no EC2 e acima mencionadas.

4.2 ANÁLISE DA SECÇÃO. MÉTODO GERAL

Definidas as características dos materiais, a capacidade resistente à flexão simples,


mas também à tracção e compressão isoladas e/ou estas em sobreposição com a
flexão, resultam do estabelecimento das condições de equilíbrio e do estabelecimento
das condições de deformação da secção e das condições limite. No que se segue vai
se analisar a situação de flexão simples mas é importante que os alunos estabeleçam,
por si, as situações de tracção e compressão simples. A flexão composta será tratada
posteriormente no curso.

Hipóteses adoptadas na rotura convencional de dimensionamento

1- Apesar da complexidade do estado de deformação do betão armado, próximo da


rotura, a Hipótese de Bernoulli é considerada.

2- A situação última limite é atingida, quando se verifica uma das extensões últimas
seguintes:

- c- = 3.5‰ (Deformação máxima de encurtamento no betão)

- s = ud (Deformação máxima de alongamento nas armaduras)

3- A participação do betão à tracção não é considerada:

- c = 0 se c> 0 o betão à tracção tem tensão nula

c 3.5‰
Fc
(-)
x
LN

z MRd

(+)
s ud Fs

30
Estruturas de Betão I

Com base nas relações constitutivas dos materiais e das hipóteses anteriores,
estabelecem-se as equações de equilíbrio na secção. Assim, se as expressarmos em
função das resultantes das tensões de tracção e compressão, tem-se:

Equações de Equilíbrio (sendo Fs e Fc as resultantes das tensões de tracção e


compressão, respectivamente.):

 Equilíbrio axial (Esforço axial nulo): Fs = Fc

 Equilíbrio de momentos: MRd = Fs  z

4.3 MÉTODO DO DIAGRAMA RECTANGULAR

Neste método simplifica-se a forma de distribuição das compressões no betão e


despreza-se a participação do aço à compressão, o que permite resolver as equações
anteriores, de forma simples.

c  f cd  f cd c
(-)
x  0.8x  f cd

0.7‰ 3.5‰ c

Deste modo,
c  f cd
(-)
Fc 0.4x
x 0.8x
LN
d
z = d - 0.4x
(+)
s Fs

4.3.1 CÁLCULO DE MRD

Se forem conhecidos a geometria da secção, a quantidade de armadura e as


resistências dos materiais, a avaliação da capacidade resistente segue os seguintes
passos (trata-se um problema dito de análise pois a secção e armaduras estão
totalmente definidas):

i) Admitir que s = fyd (s  yd), ou seja, que as armaduras estão em cedência

ii) Determinar posição da linha neutra

Por equilíbrio axial, Fc = Fs  fcd Ac (x) = As fyd  x = ?

31
Estruturas de Betão I

iii) Calcular o momento resistente

Por equilíbrio de momentos, MRd = As fyd (d - 0.4x)

iv) Verificar hipótese inicialmente admitida: s  yd

c = 3.5‰
Rotura convencional: c = 3.5‰ ou s = ud
(-)
x
A partir da posição da linha neutra anteriormente calculada, se
admitirmos que a rotura se dá pelo betão, obtém-se a
(+)
extensão ao nível da armadura. s

 Se s  yd  a hipótese considerada inicialmente, de admitir o aço em cedência


está correcta.

 Se s < yd  Fs < As fyd, trata-se de uma situação não desejável pois nem se
estaria a tirar partido da resistência máxima do aço.

A posição da Linha Neutra para essa situação limite pode ser avaliada para os aços
A400 e A500 por:

Posição da LN para c = 3.5 ‰ e s = yd (início da cedência do aço)

c = 3.5‰ A400: yd = 1.74 ‰


x d
(-) =  x = 0.67 d
x 3.5 3.5 + 1.74
d
A500: yd = 2.175 ‰
x d
3.5 + 2.175  x = 0.62 d
(+)
3.5 =
s=yd

Deste modo, se x  0.67 d no caso de se utilizar aço A400, ou se x  0.62 d no caso


de se utilizar aço A500, pode se concluir, desde logo, que o aço está em cedência.

Por outro lado, conhecida a posição da Linha Neutra, é possível confirmar se a rotura
convencional se dá pelo betão. Exemplifica-se, seguidamente, para aços das classes
B (NR) e C (NR SD).

 Para um aço de Classe C: Posição da LN para c = 3.5‰ e ud = 0.9  75‰ = 67.5‰

c = 3.5‰
(-)
x
x d
3.5 = 71 x = 0.05 d
d

(+)
ud

32
Estruturas de Betão I

Deste modo,

c< 3.5‰
se x < 0.05 d (situação pouco corrente)   (rotura pela armadura)
s = ud

c = 3.5‰
se x > 0.05 d  (rotura pelo betão)
s < ud

Se tratasse de um aço de Classe B ter-se-ia para este limite x = 0.072 d

Constata-se, assim, que, para uma grande gama de possíveis posições da Linha
Neutra, a rotura convencional dá-se pelo betão e o aço está em cedência. Esta
diferenciação (rotura convencional pelo aço ou betão), nem é importante pois de
qualquer maneira a capacidade máxima resistente do aço é explorada.

No entanto, é importante no dimensionamento das secções de betão armado controlar


melhor a posição da Linha Neutra por uma razão essencial: Um elemento de betão
armado deve apresentar ductilidade em situação de rotura, i.e., deve poder
evidenciar deformações apreciáveis por cedência das armaduras, sem perda de
capacidade resistente. Esta característica é fundamental nas estruturas e, para tal, é
importante assegurar valores x/d limitados, pois verifica-se, experimentalmente, que
aquele é um parâmetro que influencia directamente a ductilidade do elemento.

A Ductilidade ou Capacidade de Deformação Plástica das Secções é medida pela


relação (1/R)u/(1/R)y, i.e., a relação entre as curvaturas última e de cedência, como
ilustrado na figura seguinte.

MRd

As4 (x4;s4;menor ductilidade) cx = -3.5‰


As3 (x3;s3)
As2 (x2;s2) 1
(-)
x
(2) As1 (x1;s1;maior ductilidade)
R
(1)

As1 < As2< As3 < As4 (+)


As s

(1 / R) y (1 /R) u (1 / R) 1 cx
(1) s=syd R =- x
(2) Rotura da secção por esmagamento do betão comprimido c 3.5‰) ou
menos correntemente, por deformação de armaduras c  ud)

Para garantir um nível mínimo de ductilidade disponível deve procurar garantir-se


que, pelo menos, x  0.4 a 0.5 d, portanto com x/d claramente na zona de cedência do
aço.

33
Estruturas de Betão I

É importante referir que no dimensionamento à rotura dos elementos estruturais se


deve sempre avaliar as vertentes de resistência e de ductilidade.

A situação mais corrente com que o engenheiro se defronta na prática, depois de ter
feita a análise estrutural, ter avaliado a distribuição de esforços actuantes, ter definido
uma geometria para a secção e escolhido os materiais, é a de querer avaliar a
quantidade de armadura a considerar para verificar a segurança (trata-se um problema
dito de dimensionamento).

Dimensionamento das armaduras:

Dados: geometria da secção, fcd, fyd, Msd


f cd
Fc
x 0.8x
LN
d Msd
z

As Fs

i) Admitir que s = fyd (s  yd), ou seja, que as armaduras estão em cedência

ii) Determinar posição da linha neutra

Por equilíbrio de momentos, Msd = Fc  z = fcd b 0.8 x (d - 0.4x)  x = ...  Fc = ...

iii) Calcular a área de armadura necessária

Por equilíbrio axial, Fc = Fs  fcd b 0.8x = As fyd  As= ?

iv) Verificar hipótese inicialmente admitida: s  y

34
Estruturas de Betão I

Exercício 2

Considere a viga representada na figura seguinte e adopte G = Q = 1.5

0.55

320
0.30

5.00

Materiais: C25/30 (fcd = 16.7MPa)

A400 (fyd = 348MPa)

Calcule a máxima sobrecarga q que pode actuar com segurança sobre a viga.

Resolução

Método do diagrama rectangular simplificado

0.85 fcd
Fc 0.4x
x 0.8x
LN
d M Rd
z

Fs

1. Cálculo do MRd

 Equações de equilíbrio (flexão simples)

F = 0  Fc = Fs (1)

M = 0  MRd = Fs  z = Fs  (d - 0.4x) (2)

(Este exercício está resolvido com  = 0.85)

Fc = 0.8x  b  0.85 fcd = 0.8x  0.30  0.85  16.7  103 = 3406.8x

Fs = As  fyd = 9.42  10-4  348  103 = 327.8kN (As(320) = 9.42cm2)

327.8
(1) Fc = Fs x = 3406.8 = 0.096m  z = d – 0.4x = 0.55 – 0.4  0.096 = 0.51m

35
Estruturas de Betão I

(2) MRd = Fs  z = 327.8  0.51 = 167.2kNm

 Verificação da hipótese de cedência do aço (s  yd)

c = 3.5‰ s 3.5‰
= s = 16.6‰>>yd
(-) 0.454 0.096
0.096

fyd 348
0.55 yd = = = 1.74‰
s 200103
0.454
(+)
s x 0.096
d = 0.55 = 0.175

Ductilidade da secção (como critério mínimo é desejável que x/d ~ (0.4 a 0.5) ou,
~
equivalentemente, s > 4‰ a 5‰,

3. Cálculo da sobrecarga máxima (Msd  MRd)

psd L2 8  167.7
Msd = 8  167.7kNm  psd  52 = 53.7kN/m

53.7
psd = 1.5 (g + q) q = 1.5 - 0.30  0.60  25 = 31.3kN/m

36
Estruturas de Betão I

Exercício 3 (mesma base do exercício 1)

Considere a mesma estrutura de piso e considere os cálculos já realizados:

Materiais: C25/30, A400


4.00 4.00 4.00 4.00

Acções:

Peso próprio

Revestimento = 2.0kN/m2

Sobrecarga = 3.0kN/m2
10.00 S2

Coeficientes de majoração:

G = Q = 1.5
S1
Coeficientes de combinação:

1 = 0.4 ;2 = 0.2


3.00
Secção da viga: 0.30  0.85m2

Espessura da laje: 0.15m

a) Determine as armaduras necessárias para garantir o Estado Limite Último de flexão


da viga (Secções S1 e S2)

a.1) utilizando o método do diagrama rectangular simplificado

a.2) Fs  z

a.3) com recurso a tabelas

a.4) pormenorize as armaduras de flexão

37
Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DA ALÍNEA A):

1. Modelo de cálculo:

g, q
S2 S1
0.85

10.00 3.00
0.30

2. Envolvente do diagrama de esforços

DMF 272.0
[kNm]
S2 (-)
S1
(+)

660.2

ALÍNEA A.1)

 + = 660.2 kNm)
Secção S2 (Msd

0.85 f cd
Fc
x 0.8x
LN

0.80 M sd
z

As Fs

0.30

Resolução com  = 0.85:

Fc = 0.85 fcd  0.8x  b = 0.85  16.7  103  0.8x  0.3 = 3406.8x

Fs = As  fyd = As  348  103

Equilíbrio de momentos:

MAS = Msd  3406.8x  (0.8 - 0.4x) = 660.2  x = 0.282m

Fc = 3406.8  0.282 = 960.7kN

Equilíbrio de forças:

960.7
Fs = Fc  As  348  103 = 960.7  As =  104 = 27.6 cm2
348  103

Verificação da hipótese de cedência do aço

38
Estruturas de Betão I

c = 3.5‰ Admitindo que c = 3.5‰


(-) 0.282
c = 3.5‰ 0.282
= 0.518 s = 6.43‰ > yd = 1.74‰
s
0.518
(+) x
s d = 0.35

 A armadura está em cedência e a secção tem um nível de ductilidade aceitável.


- = 272.0 kNm)
Secção S1 (Msd

0.30

As Fs

z M sd
0.80

LN

x Fc
0.8x

0.85 f cd

Equilíbrio de momentos:

MAS = Msd  3406.8x  (0.8 - 0.4x) = 272.0  x = 0.105m  Fc = 357.7kN

Então x/d = 0.13  Bom em termos de ductilidade disponível

Equilíbrio de forças

357.7
Fs = Fc  As  348  103 = 357.7  As =  104 = 10.28cm2
348103

Verificação da hipótese de cedência do aço

s 0.695
Admitindo que c = 3.5‰ tem-se: 3.5‰ = 0.105  s = 23.2‰ >>yd

4.4 RESISTÊNCIA À FLEXÃO SIMPLES COM O AUMENTO DE ARMADURAS

Na figura seguinte apresentam-se os diagramas de deformação de uma secção de


betão armado, para quatro áreas de armadura distintas (área de armadura crescente).

39
Estruturas de Betão I

M Rd,1  M Rd,2  M Rd,3  M Rd,4


c c c c
(-)
x1 (-) x2 (-) (-)
x3
x4
M Rd

(+) (+) (+)


(+)
As s s s  s

(As muito pequeno) (As maior) (...) (...)

1 2 3 4

Apresentam-se, em seguida, as relações constitutivas do aço e do betão, com


indicação qualitativa da evolução das tensões e extensões dos dois materiais, com a
variação da armadura.

c s

2 3 e 4 3 1 e 2
 f cd f syd
1
4

2‰ 3.5‰ c syd ud s

Conforme se pode observar na figura seguinte, para baixos níveis de armadura, existe
proporcionalidade entre a área de armadura e o momento resistente da secção. À
medida que a quantidade de armadura aumenta, esta relação deixa de ser linear, ou
seja, o aumento da armadura traduz-se em acréscimos menores de momento
resistente. Este comportamento deve-se à sucessiva diminuição do braço do binário
(z) com o aumento da área de armadura, até que a armadura deixa de poder estar em
cedência (caso 4) e, portanto, o aumento de armadura perde toda a eficiência.

M Rd

M4
M3
M2

M1

As
1 2 3 4

40
Estruturas de Betão I

4.5 DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO SIMPLES – GRANDEZAS ADIMENSIONAIS

4.5.1 MÉTODO GERAL

c c Fc = fcd b x
d2 As2
s2 Fs2
Fc x
(-)
x Fs2 = s2 As2
LN
d M Fs1 = s1 As1

(+)
As1 s1 Fs1

 c dA
 
 c y dA
 fcd = ; x =
Ac
bx  c dA

– coeficiente que define a relação da resultante das tensões de compressão no


betão pela força de uma compressão uniforme com fcd, em toda a zona comprimida.

 – coeficiente que define a posição da resultante das tensões de compressão no


betão, função de x.

 Equações de Equilíbrio

 Equilíbrio axial: Fc = Fsfcd bx + s2 As2 = s1 As1 (1)

 Equilíbrio de momentos: MAs = M M =  fcd b x (d - x) + s2 As2 (d - d2) (2)

(Equações não lineares)

 Cálculo por iterações

x
i) Fixar c = 3.5‰ e um valor de x (por exemplo, tal que, d = 0.5)

ii) Calcular as forças axiais F

 Se |Fc + Fs2| > Fs1  c  3.5‰


(-)
x
a LN tem de subir para diminuir FC, tendo uma das
extensões, c ou s, o valor máximo e, a outra, um d

valor igual ou inferior ao limite. (+)


sud

É necessário diminuir o valor de x até que F = 0

41
Estruturas de Betão I

 Se |Fc + Fs2| < Fs1 c  3.5‰


(-) x

(a LN tem de baixar para aumentar Fc)


(+)
s

É necessário aumentar o valor de x até que F = 0.

ii) Calcular MRd

Definida a posição da LN e o diagrama de extensão, calculam-se as tensões e o


valor de MRd

Nota: Este é um processo de cálculo moroso. Na prática recorre-se a programas de


cálculo automático ou a tabelas de cálculo.

Para elaborar tabelas é necessário trabalhar com grandezas adimensionais,


por forma a que sejam aplicáveis a secções com qualquer geometria.

4.5.1.1 Grandezas adimensionais

 Equações de Equilíbrio

 fcd
bx = s1 As1 - s2 As2 (1)

 M =
fcd b x (d - x) + s2 As2 (d - d2) (2)

Substituindo (1) em (2),

M = s1 As1 (d - x) - s2 As2 (d - x) + s2 As2 (d - d2)

= s1 As1 (d - x) + s2 As2 (x - d2) (3)

Considerando As2 =  As1 e s = fyd, a equação (3) toma a forma

M = As1fyd d 1 -  d  +  As1fyd d  d - d 
x x d2
   

Transformando esta equação numa forma adimensional (dividindo todos os termos por
b d2fcd), resulta

As1 fyd 
1-  + 
M x As1 fyd  x d2 
=  - 
2
b d fcd b d fcd  d b d fcd  d d 

 =  (1 – k) +  k - d 


d2
   
 

42
Estruturas de Betão I

Definem-se, assim, os parâmetros , w e k, de uso corrente na concepção e


dimensionamento de estruturas de betão:

M
 = b d2 f (Momento flector reduzido);
cd

As1 fyd
= bdf (Percentagem mecânica de armadura)
cd

x
k= d (Posição da L. Neutra adimensional)

4.5.2 MÉTODO DO DIAGRAMA RECTANGULAR SIMPLIFICADO

4.5.2.1 Grandezas adimensionais

c 
(-) Fc 0.4x
x 0.8x
LN
d MRd
z
(+)
As s Fs

MRd = Fs  z = Fs (d - 0.4x)

Admitindo que o aço está na cedência, MRd = As  fyd (d - 0.4x)

Transformando a equação anterior numa forma adimensional, resulta

MRd As fyd  x As fyd  x


b d2 fcd = b d fcd 1 - 0.4 d = b d fcd 1 - 0.4 dRd =  (1 - 0.4k)

MRd x
Rd = b d2 f (momento flector reduzido); k = d
cd

As fyd
= bd fcd (percentagem mecânica de armadura)

As fyd
Fc = Fs0.8  (kd)  bfcd=Asfydk = 1.47 = 1.47 ( =0.85)085).85)
b d fcd

Visto que Rd =  (1 - 0.4k) e substituindo o resultado anterior, obtém-se a seguinte


expressão para cálculo do momento flector reduzido em função da percentagem
mecânica de armadura:

Rd =  (1 - 0.588  )

43
Estruturas de Betão I

4.5.3 UTILIZAÇÃO DE TABELAS

As tabelas podem ser utilizadas para:

i) Determinar o momento resistente de uma secção, dadas as armaduras;

ii) Determinar as armaduras, dado o momento solicitante

4.5.3.1 Determinação da capacidade resistente (Análise)

Tabelas
Dado As1 e As2 determina-se  e     MRd =  b d2fcd
()

4.5.3.2 Dimensionamento de armaduras

Msd Tabelas fcd


Dado Msd determina-se = 2  1  As1 = 1 bd  As2 =  As1
b d fcd () fyd

Refira-se que as tabelas da disciplina foram desenvolvidas para  = 0.85

Notas:

(i) No dimensionamento de uma secção, a posição da L.N. deve ser controlada por
forma a que se tenha a garantia de um nível de ductilidade adequado.

Caso isso não aconteça, será conveniente dispor de armaduras de compressão


específicas ou modificar a secção da viga (aumentar a altura é mais eficiente que
adaptar a largura, no entanto, na prática do projecto, a altura está muitas vezes mais
condicionada).

(ii) Numa viga, existe, de qualquer forma, sempre armadura de compressão, por
razões construtivas, em geral, com um nível não inferior a  = 0.1.

Directamente através dos valores adimensionais do momento (), e não considerando


o papel da armadura de compressão, é possível ter, para uma dada secção, uma
noção do nível de esforço actuante e da potencial ductilidade.

 Momento elevado  k próximo de 0.668 (A400)  s próximo de yd

 0.30 (secção pouco dúctil)

 Momento médio  k < 0.5 (secção dúctil, dimensionamento adequado)

  0.10 a 0.25

 Momento pequeno    0.10 (situação aceitável, a secção estará “folgada”)

IMPORTANTE: Estes valores devem ser tomados como referência para um


dimensionamento adequado e não como imposições regulamentares ou outras. Por

44
Estruturas de Betão I

exemplo, é possível ter valores de  mais elevados e ter-se, ainda, um nível de


ductilidade adequado, com utilização de armadura de compressão.

No quadro seguinte, e para a flexão simples, apresentam-se as relações de


dimensionamento  -  relativas à aplicação do REBAP ( = 0.85) e do EC2 ( = 1)
com relações constitutivas dos aços de acordo com as Classes A, B e C.


0,35

0,30

0,25

0,20

EC2 - k=1,00
0,15
EC2 - Classe A - k=1,05
EC2 - Classe B - k=1,08
0,10
EC2 - Classe C - k=1,15
EC2 - Classe C - k=1,35
0,05
REBAP
0,00
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45

Verifica-se que as diferenças nos valores resistentes são pouco significativas, sendo a
maior entre o REBAP (linha inferior) e o EC2, tomando a classe de aço C com k = 1.35
(linha superior).

As diferenças mais importantes são devidas à consideração do aumento da resistência


do aço para além da cedência (coeficiente k). Refira-se que na prática seria sempre
desajustado tomar para o aço C um valor superior a k = 1.15 pois, havendo a
possibilidade deste variar entre 1.15 e 1.35, ter-se-ia que tomar, sempre, o menor.

O facto de se adoptar para o betão o coeficiente  0,85 (em vez do 1), só tem
influência relevante para esforços elevados, pois aí começa a ter alguma influência a
diminuição do braço das forças, devido ao aumento da zona das compressões.

45
Estruturas de Betão I

4.6 ESTIMATIVA DO MOMENTO RESISTENTE

Fc

d M
z

Fs
As

Para momentos de ordem de grandeza pequena a média verifica-se que, para


secções rectangulares, é razoável admitir, de umas forma simplificada: z  0.9 d.

M
M = Fsz Asfyd 0.9 d  As = 0.9 d f
yd

De facto, pela observação das tabelas de flexão simples (pág. 9), com  = 0, verifica-
se que:

 para  = 0.15, z  (1 - 0.4 k) d = (1 - 0.4 x 0.247) d = 0.9 d

 para < 0.15, z > 0.9 d, portanto a hipótese anterior é conservadora para o
dimensionamento da armadura.

 para > 0.15, z < 0.9 d, então a hipótese referida, com pouca armadura de
compressão, pode ser menos conservadora. No entanto, mesmo para um valor
de  da ordem de 0.25 e para um  = 0.4tem-se também k = 0.247, e, por
conseguinte, z  0.9 d.

CONCLUSÃO IMPORTANTE:

Verifica-se, assim, que dentro da gama de valores de momentos, correntemente


recomendados e utilizados na prática, esta hipótese simplificativa permite uma rápida
e eficiente estimativa dos momentos flectores resistentes.

Para a resolução de problemas em geral e para a prática de projecto, formas simples


de avaliação e controlo de resultados são de inestimável valor.

46
Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 3 (CONT.)

ALÍNEA A.2)

Fs = As fyd  M
 M  0.9 d fyd AsAs = 0.9 d f
z  0.9d  yd

+ = 660.2kNm  A = 660.2
Msd  104 = 26.34cm2
s
0.9  0.8  348103

- = 272.0kNm  A = 272.0
Msd  104 = 10.86cm2
s
0.9  0.8  348103

ALÍNEA A.3)

+
 Secção S2 (Msd = 660.2 kNm)

Msd 660.2
 = b d2 f = = 0.206   = 0.241; k = 0.351
cd 0.30.8216.7103

fcd 16.7
As = bd = 0.241  0.30  0.80   104 = 27.76 cm2
fyd 348

 - = 272.0 kNm)
Secção S1 (Msd

272.0
= = 0.085   = 0.091; k = 0.163
0.3  0.82 16.7103

fcd 16.7
As = bd f = 0.091  0.30  0.80  348  104 = 10.48cm2
yd

É importante comparar os resultados obtidos pelos dois métodos, e perceber,


como referido no texto, que se for limitado, é razoável assumir a metodologia
simplificada.

47
Estruturas de Betão I

4.7 PARÂMETROS QUE INFLUENCIAM O VALOR DO MOMENTO RESISTENTE

 Armadura de tracção

Fc
2Fc

z M Rd
<z

As Fs 2As 2Fs

O momento resistente é quase proporcional à área de armadura, para momentos não


muito elevados. Para momentos elevados, a variação é menos significativa.

 Armadura de compressão

F s2 Fc
Fc As2

M Rd z
z

As1 F s1 F s1
As1

A influência da armadura de compressão no valor do momento resistente, apenas é


importante para esforços elevados. Para o nível de esforços usuais, a variação é
pouco significativa.

 Largura da secção

Fc
Fc

z
M Rd z

As Fs As Fs

A influência da largura da secção no valor do momento resistente, apenas é


importante para esforços elevados. Para esforços habituais, em que geralmente a área
comprimida é limitada, a variação é pouco significativa.

48
Estruturas de Betão I

 Classe do betão

Fc
Fc

z
M Rd z

As Fs As Fs

A influência do aumento da classe do betão tem uma influência equivalente à dos


parâmetros anteriores, largura da secção e/ou armadura de compressão, portanto só
se torna importante para esforços mais significativos, aliás de uma forma equivalente
ao facto de se considerar ou não o coeficiente  = 0.85.

4.8 DIMENSIONAMENTO DE SECÇÕES COM OUTRAS FORMAS

4.8.1 LARGURA EFECTIVA DE UMA SECÇÃO EM T

No dimensionamento de vigas com banzos ou com ligação a lajes, pode tirar-se


partido da existência dos banzos, principalmente se se situarem na zona comprimida
da secção.

hf

d0

b1 bw b2

Neste caso, a distribuição de tensões no banzo não é uniforme: as zonas laterais


deformam-se menos que a zona central da alma (devido à deformação por corte) –
efeito de “shearlag”, tal como se pode observar na planta e corte ilustrados de
seguida.

Simplificadamente, considera-se uma largura efectiva (bef) onde se admite que a


distribuição de tensões é uniforme


Fc

49
Estruturas de Betão I

b ef

x,max

4.8.1.1 Avaliação da largura efectiva

(i) Banzo comprimido

bef
bef1 bef2

hf

b1 b1 bw b2 b2
b

Para o caso genérico apresentado na figura anterior, a largura efectiva pode ser obtida
através da expressão:

bef = befi + bw b

Temos, assim, a largura da alma e um valor complementar de cada lado, tal que:

befi = 0.2 bi + 0.1 L0  0.2 L0, com befi  b

L0 representa a distância entre pontos de momento flector nulo e pode ser


avaliado por:

L1 L2 L3

L0  L1+0.15L2 0.7 L2 0.15(L2+L3) 0.85 L3

Evidentemente que, em termos práticos é possível simplificar esta avaliação, desde


que se estime um valor inferior, pois é conservativo e pouco significativo em termos do
resultado.

(ii) Banzo traccionado

No caso de se tratar de um banzo traccionado, é proposto tomar, para além da alma


da viga, uma largura função da espessura do banzo dada por 4hf (hf – espessura do

50
Estruturas de Betão I

banzo) em que as armaduras de tracção podem ser distribuídas. No entanto, se for


possível, em termos de pormenorização, uma solução com todas as armaduras de
cálculo na largura da alma é preferível. De qualquer maneira, deve se procurar sempre
ter pelo menos, 50 a 60 % da armadura de cálculo na alma.

4.8.2 DIMENSIONAMENTO DE SECÇÕES EM “T” POR TABELAS

Esta metodologia verifica-se ser, em geral, um pouco fastidiosa, pois exige a consulta
de várias tabelas e realização de interpolações, podendo em geral ser evitada, em
particular se se verificar que a Linha Neutra se encontra no banzo comprimido.

Exemplo com indicação do processo de interpolação:

b hf
bw = 5 ; d = 0.125

hf/d = 0.10 1 


b
bw = 4  a 
hf/d = 0.15 2 

 

hf/d = 0.10 3  



b
bw = 6  b
hf/d = 0.15 4 

Casos particulares:

Dado que se considera que o betão não resiste à tracção, o dimensionamento de uma
secção em “T” pode ser efectuado como se esta se tratasse de uma secção
rectangular nos seguintes casos:

(i) se a linha neutra estiver no banzo, caso este esteja comprimido (acontece na
generalidade dos casos) – secção rectangular de largura bef;

b ef b ef
Fc Fc
LN LN

M M

As Fs As Fs

bw

51
Estruturas de Betão I

(ii) se a linha neutra estiver na alma e o banzo estiver traccionado – secção


rectangular de largura bw

b ef
Fs Fs
As As

LN M LN M
Fc Fc

bw bw

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 3 – ALÍNEA A3 – CONSIDERANDO A SECÇÃO EM T

Dimensionamento das armaduras considerando a contribuição da laje à compressão

Viga em “T”
b ef hf = 0.15 m

hf h = 0.85m
h
bw = 0.30m

bw

bef = befi + bw = 1.22  2 + 0.30 = 2.74 m

3.7
bef1 = 0.2 b1 + 0.1 L0 = 0.2  2 + 0.1  0.85  10 = 1.22 m  1.7m

0.2 L0 = 0.2  0.85  10 = 1.7 m

Hipóteses para o dimensionamento da secção, para momentos positivos:

(i) Se a L.N. estiver no banzo da secção, o dimensionamento pode ser efectuado como
se a secção fosse rectangular, de largura bef.

(ii) Se a L.N. estiver na alma da secção, o dimensionamento deverá de ser efectuado


com base em tabelas de secção em “T” (ou recorrendo ao método do diagrama
rectangular simplificado).

Para verificar se a L.N. está no banzo,

660.2
MSd = 660.2kNm   = = 0.023  k = 0.076
2.740.8216.7103

x = k  d = 0.076  0.8 = 0.06 m  0.15 m  a LN está claramente no banzo

52
Estruturas de Betão I

fcd 16.7
 = 0.023   = 0.024  As =  b d = 0.024  2.74  0.8   104 = 24.77cm2
fyd 348

É importante comparar este resultado com o obtido anteriormente e verificar que neste
caso se obteve um valor inferior, em aproximadamente 10%, em relação ao da
consideração da viga rectangular. Isto deve-se ao facto de neste caso se poder dispor
de um braço maior. Note-se, que a hipótese de considerar a secção como rectangular, é
conservativa em termos de verificação da segurança.

4.8.3 SIMPLIFICAÇÃO DE SECÇÕES PARA EFEITOS DE DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO


SIMPLES

1) Secção real

b b

 2bw
bw

b' b'

2) Secção real

bw 2bw

b b

3) Secção real

bw bw

b
b

53
Estruturas de Betão I

Secções a considerar no dimensionamento à flexão

1)

M M
2bw

 b' b

b'
(se a LN estiver no banzo) (se a LN estiver no banzo)

Nota: Se a LN estiver na alma da secção, o dimensionamento poderá ser efectuado


com base numa secção em T (considerando a existência do banzo que estiver
comprimido, e desprezando o banzo traccionado)

2) e 3)


bw
M M

b bw b
(se a LN estiver na alma) (se a LN estiver no banzo)
(se a LN estiver na alma) (se a LN estiver no banzo)

54
Estruturas de Betão I

Exercício 4

Considere a estrutura da figura seguinte:

sc
cp

S2 S1

3.50 10.00 3.50

0.20 0.20

Materiais: C20/25, A400

Acções: pp + revest. = 20.0 kN/m


1.00
sobrecarga = 40.0 kN/m

0.15 Coeficientes de majoração: G = Q = 1.5


1.00

a) Determine as armaduras necessárias para garantir o Estado Limite Último de flexão


da viga (secções S1 e S2)

b) Pormenorize as armaduras de flexão.

55
Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 4

ALÍNEA A)

1. Esforços de dimensionamento

p sd

3.50 10.00 3.50

DMF 551.3 551.3


[kNm]
(-) (-)

(+)

573.8

psd = 1.5  (20 + 40) = 90 kN/m

psd L12 90  3.52


MsdS1 = - =- = -551.3 kNm
2 2

psd L22 90  102


MsdS2 = 8
S1
- Msd = 8 - 551.3 = 573.8 kNm

2. Determinação das armaduras (E.L.U. flexão)

 + = 573.8 kNm)
Secção S2 (Msd

0.20 0.20

LN LN

1.00 M sd  1.00

0.40

Msd 573.8
 = bd2 f = = 0.120   = 0.131
cd 0.40  0.952 13.3103

fcd 13.3
As = bd f = 0.131  0.40  0.95  348.0  104 = 19.03 cm2
yd

56
Estruturas de Betão I

 - = 551.3 kNm)
Secção S1 (Msd

Hipótese: a LN encontra-se no banzo da secção

M sd  1.00

LN LN

1.00 1.00

Msd 551.3
= = = 0.046 k = 0.112
1.0  0.952  13.3  103
2
bd fcd

x
k = d  x = k d = 0.112  0.95 = 0.106  LN está no banzo

 = 0.046 w = 0.048

fcd 13.3
As = bd = 0.048  1. 0  0.95   104 = 17.42cm2
fyd 348.0

5 Disposições Construtivas Gerais

As disposições das armaduras nas peças de betão armado são de extrema


importância quer para a boa resposta estrutural do betão estrutural, quer para
assegurar que durante a construção, em particular no processo de betonagem, se
assegura o posicionamento previsto para os ferros. Referimos agora, e na sequência
as bases relativas a estas disposições.

Poderemos, talvez, diferenciar entre armaduras principais e secundárias, mas é acima


de tudo preciso compreender que o importante é a eficiência final do conjunto.

Armaduras principais: Asseguram a resistência do elemento estrutural relativamente à


segurança à rotura (não só de flexão, como vimos anteriormente, mas também a
outros efeitos) e contribuem para assegurar um comportamento adequado nas
condições de serviço, como vamos ver noutro Capítulo do curso.

Armaduras secundárias: Têm como função ajudar a rigidificar as malhas de


armaduras, para a sua colocação em obra, assegurando o posicionamento correcto e
estável das armaduras durante a betonagem.

57
Estruturas de Betão I

est = 6 ou 8 mm (o diâmetro de 6 é muito pouco


utilizado em obras de média ou alta dimensão)

10 a 12 mm (para vigas mais importantes)


h d
long = 12 a 16 mm (para vigas menos solicitadas)

= 20 a 25 mm (para vigas mais robustas)

c – recobrimento
s c
b

Obtém-se como estimativa da altura útil:

long
Altura útil: d = h - c - est -
2

5.1 RECOBRIMENTO DAS ARMADURAS

O recobrimento das armaduras desempenha as seguintes funções:

(i) mecânica: Destina-se a garantir que há betão suficiente a envolver a armadura, e


assim garantir a sua aderência por forma a que se verifique uma eficiente transmissão
de forças entre o betão e o aço (c   ou eq)

(ii) durabilidade: protecção contra a entrada dos agentes agressivos e


consequentemente dificultando que o processo de corrosão das armaduras se possa
verificar (recobrimento definido em função da agressividade do ambiente de exposição
e da compacidade do betão)

Estes aspectos são mencionados e analisados no capítulo referente à durabilidade do


betão armado.

5.2 DISTÂNCIA LIVRE ENTRE ARMADURAS (S)

A distância livre entre armaduras deve ser suficiente para permitir realizar a
betonagem em boas condições, assegurando-lhes um bom envolvimento pelo betão e
as necessárias condições de aderência e protecção.

No caso de armaduras para betão armado, temos, em termos regulamentares os


seguintes valores:

smin = {maior, eq maior, (dg + 5 mm), 2 cm}

onde dg representa a máxima dimensão dos inertes.

58
Estruturas de Betão I

No entanto, se estes são valores mínimos, deve-se projectar, pretendendo


espaçamentos com folga em relação a estes.

A distância livre entre uma camada de armaduras longitudinais numa viga, igualmente
espaçadas, pode ser calculada pela expressão:

b - 2c - 2est - n long
s= , n – número de varões
n-1

É necessário, na pormenorização garantir que a distância entre varões assegura o


espaço necessário para introdução do vibrador do betão (aconselhável: 4 a 5 cm
junto à face inferior e 7 a 10 cm junto à face superior). Nalguns casos, em particular na
face superior é normal que não se adoptem espaçamentos iguais entre ferros para
assegurar este objectivo.

Nas figuras seguintes apresentam-se dois exemplos de pormenorização de uma viga


que dá apoio na parte superior a uma laje, nas zonas mais solicitadas à tracção nas
faces inferiores (vão) e superiores (apoio).

5.3 AGRUPAMENTOS DE ARMADURAS

Os agrupamentos de armaduras devem ser evitados sempre que possível, dado que
prejudicam a aderência aço/betão. No entanto, se essa for a forma de garantir uma
malha muito apertada de ferros é, sem dúvida, uma solução justificável.

Regulamentarmente definem-se algumas restrições aos agrupamentos. Assim:

O agrupamento de varões com diâmetros diferentes pode ser adoptado desde que o
quociente dos diâmetros não exceda o valor 1.7.

Relativamente ao número máximo de varões que é possível agrupar, temos:

- Para o caso de armaduras verticais comprimidas ou numa zona de emenda de


varões, n  4

- Em todos os restantes casos, n  3

Em qualquer direcção não pode haver mais que 2 varões em contacto.

59
Estruturas de Betão I

O diâmetro equivalente de um agrupamento pode ser calculado pela expressão

eq = 2i  55mm

Exemplos:

(mais indicado) (aceitável) (desaconselhável)

Evidentemente que soluções que incluam varões isolados e outros agrupados são
possíveis, tentando sempre seguir as indicações gerais referidas, em especial, não
dificultar a betonagem e o bom envolvimento das armaduras pelo betão.

5.4 DOBRAGEM DE VARÕES

Em muitas situações as armaduras têm de ser dobradas, como as armaduras


longitudinais nas extremidades das vigas e, em geral, as armaduras transversais.

Condições a satisfazer:

- Não afectar a resistência do aço;

- Não provocar o esmagamento ou fendilhação do betão quando a armadura for


traccionada.

O diâmetro mínimo de dobragem para não afectar a resistência do aço depende, no


essencial, do diâmetro do varão e são indicados no quadro seguinte do EC2. Estes
valores são considerados mínimos havendo que ter precauções complementares no
que diz respeito ao risco de esmagamento e de fendilhação inconveniente do betão,
em particular se as dobragen se verificarem junto à superfície da peça, como indicado
com detalhe, por exemplo, no EC2.

Quadro – Diâmetro mínimo do mandril a fim de evitar danificar a armadura


Diâmetro mínimo do mandril para cotovelos,
Diâmetro do varão
ganchos e laços

 16 mm 4

> 16 mm 7

60
Estruturas de Betão I

5.5 POSICIONAMENTO DAS ARMADURAS

O posicionamento das armaduras, antes da betonagem, é assegurado pelos seguintes


elementos:

 Espaçadores – garantem o recobrimento das armaduras

 Cavaletes – garantem o correcto posicionamento das armaduras superiores nas


lajes

 Varões construtivos (armaduras secundárias) – Colocados de tantos em tantos


metros (dependente da rigidez do ferro em causa) garantem o espaçamento
vertical dos varões longitudinais principais, durante a betonagem.

5.6 PRINCÍPIOS A TER EM ATENÇÃO NA PORMENORIZAÇÃO DAS ARMADURAS

A escolha do tipo de pormenorização no que respeita ao número de varões e


diâmetros a adoptar deve ter em atenção os seguintes factores, que apontam,
eventualmente para opções contraditórias:

- custo da mão de obra  menor número de varões

- facilidade de betonagem  menor número de varões

- liberdade de dispensa  maior número de varões

- mais eficiente limitação da fendilhação  maior número de varões

Na pormenorização das armaduras longitudinais das vigas só os três primeiros


aspectos são significativos, havendo que ganhar experiência e ter bom senso nas
escolhas, sendo certo que não há que procurar a solução óptima, mas sim uma BOA
SOLUÇÃO.

61
Estruturas de Betão I

5.7 DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS EM VIGAS – ARMADURAS LONGITUDINAIS DE FLEXÃO

5.7.1 QUANTIDADES MÍNIMA E MÁXIMA DE ARMADURA

A quantidade mínima de armadura a adoptar numa viga, neste caso definida no EC2,
é dada pela seguinte expressão:

fctm
As,min = 0.26 f bt d
yk

onde bt é definida, como sendo a largura média da zona traccionada em flexão.

Esta quantidade de armadura tem a ver com a necessidade de assegurar um mínimo


de robustez aos elementos de betão armado, em especial garantir, com uma certa
reserva, que, ao se dar a fendilhação, a quantidade de armadura é suficiente para
reter as tracções que se libertam do betão sem cedência do aço, garantindo um
comportamento dúctil.

Chama-se, desde já a atenção para que, numa viga em T, com banzo traccionado é
mais prático separar, por um lado, a alma, com a sua largura, bw, ou, se esta for
variável, com seu valor médio, para aplicar a expressão anterior e, por outro lado, os
banzos, como elementos traccionados, com uma armadura mínima, a distribuir nas
duas faces do banzo, tal que;

As  fsy k > Ac,banzo  fctm, ou seja As,min = Ac,banzo  fctm/fsyk

A questão da armadura mínima, como forma de controlar a fendilhação, em termos do


comportamento em serviço, para situações de efeitos de deformações impostas, será
retomado no Capítulo referente ao comportamento em serviço.

A quantidade máxima de armadura a adoptar, fora das secções de emenda, é dada


em termos regulamentares por:

As,máx = 0.04 Ac

onde Ac representa a área da secção de betão.

No entanto, em termos práticos, esta limitação tem pouca relevância, pois os


critérios de dimensionamento à rotura atrás apresentados, com limitação dos valores
de momento reduzido e posição da linha neutra (garantia de ductilidade) conduzem a
quantidades de armadura bastante inferiores.

5.7.2 ARMADURA LONGITUDINAL SUPERIOR NOS APOIOS DE EXTREMIDADE

Sempre que existir ligação monolítica entre uma viga e um pilar de extremidade, e
caso esta ligação não tenha sido considerada no modelo de cálculo, deverá adoptar-

62
Estruturas de Betão I

se uma armadura superior dimensionada, pelo menos, para um momento flector igual
a 15% do momento flector máximo no vão.

Deste modo,
– +
As,apoio = máx {As,min, 0.15 As,vão}

63
Estruturas de Betão I

6 Introdução ao Comportamento Não Linear de Estruturas de Betão

Como referido e ilustrado no Capítulo 1, o comportamento do betão armado é não


linear desde o início da fendilhação, que se verifica para níveis de carga relativamente
reduzidos. Verificou-se que o betão estrutural tem um comportamento dividido, no
essencial, em 3 fases, antes da fendilhação, no processo de fendilhação antes da
cedência do aço e daí até à rotura. Da hipótese de admitir, em estruturas hiperstáticas,
o comportamento linear dos materiais na avaliação da distribuição de esforços
resulta, desde logo, uma “aproximação”, para o nível de acções de serviço, e, por
maioria de razão, próximo da rotura.

Para analisar os efeitos da acção de cargas, o fundamental no desenvolvimento do


projecto de estruturas é tomar uma solução de distribuição de esforços equilibrada (o
que, naturalmente, é respeitado pela solução elástica). Assim, pode ter-se como
referência a solução de distribuição elástica, mas podemos tomar uma outra, dentro de
limites bastante folgados, como se verá (mantendo sempre o equilíbrio). De facto,
na fase próxima do esgotamento da capacidade resistente, a distribuição de esforços
depende é da distribuição das resistências, ou seja, no caso do betão armado, da
distribuição das armaduras adoptadas no projecto. A distribuição de esforços adapta-
se às resistências disponíveis, desde que haja ductilidade disponível nas zonas mais
esforçadas, ou, o que é equivalente, essas zonas tenham capacidade de deformação
plástica. E o betão armado é dimensionado, como se analisou no capítulo 3, para isso
mesmo.

Por outro lado, mesmo em condições de serviço, é natural haver, devido às perdas de
rigidez por fendilhação, variações dos valores de momentos, por exemplo numa viga
contínua, entre o vão e apoio, de mais ou menos 10%, tomando-se, no entanto, por
simplicidade, em projecto, a distribuição elástica.

Para os efeitos de deformações impostas, por exemplo, variações de temperatura ou


assentamentos diferenciais de apoios, a perda de rigidez associada à não linearidade
do comportamento (fendilhação e fluência para efeitos demorados no tempo) faz
diminuir claramente os esforços em relação aos “elásticos”, mesmo em condições de
serviço. Próximo da rotura, e se houver ductilidade disponível, o que será o caso se os
elementos forem bem dimensionados, os esforços podem quase se anular.

No que se segue analisa-se, para o caso de cargas verticais, como e quando se


pode ter em conta o comportamento não linear do betão estrutural, na definição da
distribuição de esforços para o dimensionamento à rotura.

64
Estruturas de Betão I

6.1 ANÁLISE ELÁSTICA SEGUIDA DE REDISTRIBUIÇÃO DE ESFORÇOS

Como acima referido, a partir da distribuição elástica é possível, e por vezes mesmo
aconselhável, tomar para o dimensionamento da estrutura uma outra, respeitando, na
mesma, o equilíbrio.

Na figura seguinte esquematiza-se este possível procedimento, que permite “passar”,


para uma dada combinação de acções, parte dos esforços do apoio para o vão,
respeitando sempre o equilíbrio. Resulta, neste caso, uma menor necessidade de
armaduras sobre o apoio e um aumento no vão. Esta opção pode ser muito útil na
região do apoio, pois:

 Pode melhorar as condições de ductilidade.

 Pode facilitar a pormenorização de armaduras.

Li Li+1

MEL
DMF
MELR =  MEL

M = MEL - MEL = MEL(1 - autoequilibrado

Refira-se que, apesar de ser em geral menos interesante, é também possível


considerar a redistribuição de esforços em sentido contrario, do vão para o apoio.

Em termos regulamentares são referidas, em geral, algunas limitações, tais como:

li
Para 0.5  l 2
i+1

xu
  0.44 + k2 d para fck  50 MPa k2 = 1.25

 0.7 para os aços das classes B e C, correspondentes aos aços NR e NR


SD utilizados em Portugal.

Verifica-se, assim, como ilustrado na figura seguinte, que esta possibilidade depende
da posição da Linha Neutra na rotura, que, com vimos no Capítulo 3, é o parâmetro
indirecto principal de medida da ductilidade, ou da capacidade de deformação plástica
disponível.

65
Estruturas de Betão I

1.0

0.208 0.448 xu/d

Na figura abaixo ilustra-se, para uma viga contínua, como a redistribuição de esforços
é implementada, sendo equivalente a somar um diagrama de esforços auto-
equilibrado.

MEL
(-) (-)

(+) (+) (+)

(+)

M
= MELR
(-) (-)

(+) (+) (+)

Refira-se que para uma viga bi-encastrada, a aplicação de uma redistribuição de  =


0.75 corresponde a passar os momentos no apoio e vão de, respectivamente, (pl2/12)
e (pl2/24) (metade do anterior), para valores iguais no vão e apoio de (pl2/16) !! O aluno
deve analisar esta afirmação, de uma forma simples, verificando, por exemplo, que,
em ambos os casos a soma, em módulo, dos esforços no apoio e vão é igual a (pl2/8).
Isto mostra o relativamente largo espectro de possibilidades que são possíveis, para a
distribuição dos momentos de dimensionamento, e consequentemente de armaduras
no betão armado. Dito isto, é importante mencionar que esta possibilidade não sendo,
evidentemente, obrigatória, constitui uma opção de projecto, com eventuais vantagens
como anteriormente salientado.

A justificação desta possibilidade, pode ser compreendida, de uma forma


simplificada, se se tomar a distribuição elástica e se considerar uma rótula na secção
a partir da qual se quer redistribuir os esforços. Então, aplicando aí o valor do
momento a redistribuir, obtém-se o valor da rotação plástica necessária, rqd (ver a
figura abaixo).

66
Estruturas de Betão I

2 M
rqd =
3EI
l

Assim, esta rotação tem de ser inferior à capacidade de rotação plástica da zona,
neste caso sobre o apoio, por sua vez dependente, como salientado, principalmente
da posição da Linha Neutra na rotura:

rqd < adm

O valor da capacidade de rotação plástica adm não é facilmente quantificável. Na


figura do EC2 abaixo representada, são indicados esses valores em função de xu/d, e
das características do aço e betão. Estes valores são em geral conservativos, sendo
resultantes das campanhas experimentais realizados ao longo das últimas décadas e
de análises numéricas com modelos não lineares.

67
Estruturas de Betão I

pl,d (mrad)
35

30
C 50/60
25

20
C 90/105 Classe C
15

10 Classe B
C 50/60
5 C 90/105
0
0 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45
(xu/d)

Os valores de redistribuição possível (coeficiente  atrás indicado) estão


calibrados de forma a respeitar estes procedimentos de verificação da
capacidade de rotação disponível, pelo que podem ser implementados sem este
tipo de avaliação directa.

6.2 APLICAÇÃO DIRECTA DO CÁLCULO PLÁSTICO (TEOREMA ESTÁTICO)

A regulamentação de estruturas de betão permite igualmente a utilização directa do


teorema estático da teoria da Plasticidade, que assegura que:

i) considerando uma distribuição de esforços em equilíbrio com as cargas de


dimensionamento;

ii) e que, em nenhuma zona, a capacidade resistente seja ultrapassada, a carga


de rotura é superior à considerada.

Evidentemente que este teorema é extremamente eficiente e útil, mas deve ser
usado com alguma precaução nas estruturas de betão, uma vez que:

a. como anteriormente analisado, a ductilidade das secções de betão armado é


limitada;

b. como se discutirá posteriormente, para afastamentos muito importantes em


relação à solução elástica, é importante verificar o impacto deste procedimento
sobre o comportamento em serviço, em particular no controlo da abertura de
fendas.

No entanto, dentro da gama de variações de momentos analisada, havendo o cuidado


de assegurar no dimensionamento uma boa ductilidade, como vimos neste Capítulo 6,
os princípios baseados na Teoria da Plasticidade podem ser considerados.

68
Estruturas de Betão I

6.3 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO PRÁTICA DA NÃO LINEARIDADE NA VERIFICAÇÃO DA


SEGURANÇA DAS ESTRUTURAS

A alternância de sobrecargas deve ser considerada na verificação da segurança,


sempre que exista a possibilidade desse tipo de carregamentos. A consideração da
alternância de sobrecargas implica aumento dos esforços máximos nas zonas do vão
e apoio e, consequentemente, nas quantidades máximas de armaduras.

No entanto, no caso de estruturas hiperstáticas, a consideração de comportamento


elástico na estrutura para cada combinação de acções é claramente uma hipótese
bastante conservativa. Como ilustrado na figura seguinte, no segundo caso de carga o
momento elástico do vão mais carregado é maior e o do apoio menor, quando
comparados com o primeiro (HC1). No entanto, como indicado na figura, se para o
segundo caso de carga se aplicar uma redistribuição do vão para o apoio, obtém-se
uma envolvente de esforços em que os esforços máximos no vão mais carregado e
apoio são coincidentes com os do 1º caso de carga. Assim considerando a
redistribuição de esforços, neste caso para uma das combinações de acções, verifica-
se que a alternância das sobrecargas afecta a envolvente de esforços ao longo do
vão, mas não os valores máximos no vão e apoio, valores estes que condicionam as
quantidades máximas de armaduras a adoptar.

1) Hipótese de carga 1 (HC1) 2) Hipótese de carga 2 (HC2)

sc sc

cp cp

L L L L

pl 2 /8
DMEL PL
M
DMEL HC2

pl 2 /8 HC1 HC2
EL

M

DMELR HC1, HC2 HC1


HC2

pl 2 /8

De referir dois aspectos em relação a este exemplo:

 Se se considerasse um 3º caso de carga, carregando só o 2º vão com a


sobrecarga, o procedimento seria equivalente obtendo-se uma envolvente
simétrica.

69
Estruturas de Betão I

 Haveria, neste exemplo, a possibilidade de, em alternativa à redistribuição


adoptada no 2º caso de carga do vão para o apoio, redistribuir os momentos de
cada um dos casos de carga, fixando, por exemplo, um valor intermédio. Neste
caso diminuía-se o nível de redistribuição para cada um dos casos de carga e
obtinha-se uma solução de dimensionamento, talvez mais razoável.

A conclusão seria, sempre, que a consideração da alternância afectaria a


envolvente de esforços (nas zonas intermédias das vigas) mas não os valores
máximos no apoio e no vão, para além do necessário para garantir o equilíbrio
para cada combinação de acções.

Esta conclusão é muito importante e é a justificação pela qual, em muitas situações


práticas de projecto, em que se modela com base no comportamento elástico, se
dispensa a consideração explícita da alternância das sobrecargas. Esta conclusão é,
em muitos casos, aplicada directamente quando o nível das sobrecargas é pouco
importante face ao das cargas permanentes. No entanto, mesmo se este não for o
caso, a possibilidade de redistribuição de esforços nas estruturas de betão permite
sempre encontrar uma envolvente com menores valores máximos de esforços no vão
e apoio e que garantem, na mesma, o equilíbrio das cargas, para cada combinação de
carga. Se não se tirar partido desta possibilidade está a se assumir uma opção
conservativa.

Refira-se, por último, que, para cargas verticais, a distribuição de esforços para
verificação da segurança aos Estados Limites de Utilização deve ser a distribuição
elástica. Nestas condições, há que verificar se o nível de tensões nas armaduras em
serviço é aceitável, na zona onde foi aplicada a redistribuição no dimensionamento à
rotura, em termos do controlo da fendilhação, como atrás mencionado e se discute
com mais detalhe no Capítulo correspondente.

Para a determinação da carga última de uma estrutura existente os princípios da


Teoria da Plasticidade são particularmente úteis. Nesses casos, as capacidades
resistentes e as características de ductilidade são avaliadas com base na
caracterização possível dos materiais e quantidades de armadura presentes. A partir
destes valores pode ser estimada a máxima carga que pode ser suportada pela viga,
como esquematizado na figura seguinte.

70
Estruturas de Betão I

pRd = ?

L L

DMF -
MRd
(-)

(+)
+
2 MRd
pRd L /8

Para a avaliação da capacidade última admite-se que, na rotura, é mobilizada, em


cada tramo, a capacidade resistente máxima das secções de vão e apoio. Então, por
simples equilíbrio, pode determinar-se a carga última, tal que:

-
l2 MRd +
PRd 8  2 + MRd

Rigorosamente (porque o momento máximo não ocorre a

meio vão) pRd seria obtido das equações:

-
l MRd
x = 2 - pl

+ -M- x
MRd Rd l
PRd =
Lx x2
2 - 2

Será, evidentemente, necessário verificar se, a redistribuição em relação à solução


elástica, é razoável para a ductilidade disponível na estrutura existente.

Apresenta-se, para terminar, um problema semelhante para duas cargas concentradas


aplicadas nos meios vãos das vigas.

PRd PRd

L/2 L/2
L L

-
DMF MRd
(-)

(+)

+ +
MRd MRd

71
Estruturas de Betão I

Neste caso a carga P resistente de dimensionamento, PRd, seria obtida a partir da


expressão:

-
l MRd +
PRd  4 = 2 + MRd

72
Estruturas de Betão I

7 ESFORÇO TRANSVERSO E TORÇÃO

Apresenta-se, seguidamente, as principais características do comportamento de vigas


de betão armado quando submetidas, ao esforço transverso, à torção em zonas
correntes, introduzindo-se igualmente as zonas “D” (de Descontinuidade) associadas.
Mostra-se, neste capítulo, como se desenvolve o processo de fendilhação e explica-se
o encaminhamento das cargas ao longo das vigas, em situações próximas à rotura. O
modelo base adoptado para o dimensionamento ao Estado Limite Último é
apresentado e são derivadas as expressões que constituem as verificações de
segurança correspondentes. Os aspectos referentes à pormenorização das vigas, que
derivam desta formulação geral e outros, como os da suspensão de cargas, zonas de
ligação banzo-alma, cargas próximas dos apoios, são igualmente apresentados neste
capítulo.

Tratando-se estas notas de um elemento de estudo também utilizado na exposição


das aulas do curso, com o objectivo de melhorar a sua apresentação, várias das
figuras incluídas ao longo do texto são, em particular, directamente reproduzidas dos
documentos (ver Referências):

Muttoni, A., Schwartz, J., Thürlimann, B. 1998 : “Design of Concrete Structures With Stress
Fields”, Birkhäuser, Basel.

fib, 1999 : “FIP/fib Recommendations for Practical Design of Structural Concrete”, SETO,
London.
7.1 COMPORTAMENTO ELÁSTICO E MODELO DE COMPORTAMENTO NA ROTURA AO
ESFORÇO TRANSVERSO

Numa viga simplesmente apoiada submetida a duas cargas concentradas, com


comportamento elástico, definem-se trajectórias principais de tensão, de tracção e
compressão, como indicado na figura seguinte.

  
+

trajectórias das compressões principais

trajectórias das tracções principais

73
Estruturas de Betão I

Elemento A
t
c
Quando t = fct, inicia-se a fendilhação por esforço transverso

Se, na zona de corte junto aos apoios, se tomar um elemento A, verifica-se que o
Estado de tensão é o que está representado, com as direcções principais de tensão
inclinadas. É natural que, ao se atingir, na direcção das tracções principais, o valor da
resistência do betão, fct, surjam fendas inclinadas em relação ao eixo. A fendilhação
que se desenvolve terá um andamento aproximado ao desenhado no esquema
seguinte com as fendas a se formarem, no essencial, perpendicularmente às
direcções de tracção, quer na zona de flexão pura quer na de flexão/corte.

Flexão + Flexão Flexão +


Esforço transverso Esforço transverso

Com o aumento da carga, a fendilhação desenvolve-se, prolongando-se as fendas até


próximo da zona comprimida. Verifica-se que as fendas “cortam” a possibilidade de
encaminhamento das tracções inclinadas de acordo com o comportamento elástico.
Nestas condições, se forem dispostos, na zona de corte, armaduras transversais
verticais (estribos) as tracções são re-encaminhadas nessa direcção. Podemos
então compreender, neste caso, a transmissão de tensões ou forças na viga, entre a
carga aplicada e a reacção de apoio, como representado no esquema seguinte.
Verifica-se que se formam dois campos de tensões de compressão, em forma de
leque, ligados por campos de tensões de tracção verticais, correspondentes aos
estribos colocados entre as carga e a reacção de apoio. A carga aplicada transmite-se,
assim, à parte inferior da viga, sendo posteriormente transferida à parte superior por
tracções nos estribos e, finalmente, é encaminhada para o apoio por compressões
inclinadas que se concentram na largura do apoio.

74
Estruturas de Betão I

É de referir que este tipo de mecanismo de transmissão de carga em elementos de


betão armado submetidos à flexão com esforço transverso havia sido compreendido,
por Ritter e Morsch, desde os primeiros ensaios experimentais com o betão armado,
como identificado nas imagens abaixo reproduzidas, datadas do final e princípio dos
séculos XIX e XX, respectivamente.

Ritter (1899)

Mörsch (1909, 1922)

Na figura que se segue, também dessa época, mostram-se modelos curiosos de


avaliação da distribuição das forças no betão e armaduras (nessa altura lisas e
portanto sempre terminadas em gancho), numa zona fendilhada de betão armado
junto a um apoio. Refira-se que, neste caso, as armaduras transversais não eram

75
Estruturas de Betão I

estribos mas sim parte da armadura longitudinal que era dobrada a 45º, quando
deixava de ser necessária para a flexão. Até aos anos 60/70, era corrente repartir as
necessidades de armadura para o esforço transverso entre estribos e armaduras
longitudinais dobradas.

Mörsch (1922)

Se admitirmos, como representado na figura seguinte (a) que a inclinação das


compressões se mantém constante (), podemos interpretar e compreender o
esquema de transmissão das cargas ao longo da viga, com a representação dos
campos de tensões. Notem-se os campos de compressão em leque, atrás referidos,
junto ás reacções dos apoios, e os campos de tensão paralelos, com inclinação , na
zona corrente da viga. Saliente-se que os campos de compressões incluem uma zona
de betão com várias fendas e os de tracção um conjunto de estribos, o que se pode
compreender ao analisar em conjunto os dois esquemas (a) e (b).

a)

b)

76
Estruturas de Betão I

Este modelo contínuo de transmissão de tensões poderá também representar-se por


um modelo discreto, constituído pelas resultantes dos campos de tensões,
assim equivalente a uma treliça, onde as armaduras transversais e longitudinais
funcionam como tirantes e o betão comprimido entre fendas inclinadas como escora
ou biela, com resultante igual ao campo de compressões que representa (ver figura
seguinte). Neste modelo, também as acções aplicadas nos nós correspondem à
resultante das cargas distribuídas na zona de influência respectiva.

z

z cotg  z cotg  z cotg 

bielas comprimidas (resultante da zona de compressões correspondente)


tirantes (resultante das forças de tracção nos estribos no comprimento
z cotg)

Assim, neste modelo de treliça, cada barra vertical e inclinada representa,


respectivamente, a resultante de um campo de tensões de tracções e compressões,
numa largura de z cotg  (ver figura seguinte). Por outro lado, refira-se que as barras
longitudinais, inferior e superior, representam, no essencial, os “banzos” traccionados
e comprimidos por flexão.

(1) Campo de tracções verticais (2) Campo de compressões inclinadas

z cotg  z cotg 

estribos verticais (ou inclinados) bielas inclinadas

(1) Campo de tracções e compressões paralelas ao eixo

compressão

tracção

77
Estruturas de Betão I

Com base nesta modelação ver-se à que é possível relacionar os esforços (M e V)


com as tensões nos diferentes elementos, ou seja, nas armaduras transversais,
armaduras longitudinais e bielas comprimidas (inclinadas ou longitudinais). Antes
porém convém chamar a atenção que este modelo, com origem, como se viu, nos
primórdios do betão armado, sendo estaticamente válido e representando as
características principais do comportamento, só corresponde a uma aproximação da
modelação da resposta do betão armado. Ao longo das últimas dezenas de anos têm
sido propostas diferentes adaptações ao modelo base de Ritter/Morsch. A figura
seguinte, sintetiza os resultados de inúmeros ensaios experimentais de medição das
capacidades resistentes ao esforço transverso, obtidos em diferentes laboratórios.
Indica-se a relação experimental entre o valor de esforço transverso último
Vu
(apresentado numa forma adimensional, v = ) e a quantidade de estribos
b z fc
Asw fy
(representada nas ordenadas pela percentagem mecânica, w = . ).
s b fc

Estes parâmetros adimensionais são, para o caso do esforço transverso, equiparáveis


aos correspondentes à flexão e, como se verá adiante, o nível de esforço transverso
máximo de dimensionamento, para uma dada geometria e betão, corresponde
aproximadamente a vRd = 0.30.

78
Estruturas de Betão I

Compreende-se então que, não sendo um problema simples, ao longo destes anos
tenham sido propostos diferentes modelos para uma mais fiável avaliação. No
entanto, um bom modelo, para aplicação prática, deve ser sempre simples e de fácil
compreensão física.

Uma das questões relevantes que se coloca é a influência que o corte entre os
agregados ao longo das fendas inclinadas tem na influência na inclinação das
compressões na alma da viga, que não são as mesmas das fendas principais, como
se realça seguidamente. O escorregamento (com atrito) entre o betão nas faces das
fendas gera tensões de corte e compressão, que induzem no betão entre fendas um
estado de tensão que, sobreposto ao da “treliça pura”, reduz a inclinação das
compressões principais na alma, verificando-se assim não existir coincidência entre as
inclinações das fendas e das compressões principais.

79
Estruturas de Betão I

ATRITO ENTRE AGREGADOS (Décadas de 80 / 90)

A INCLINAÇÃO DO CAMPO DE COMPRESSÕES () É INFERIOR À DA “FENDA” ( r)

O modelo proposto presentemente no EC2 permite ao projectista a escolha do


ângulo  de inclinação das compressões, desde que cotg  se situe entre 1 ( =
45) e 2.5 ( = 22). Uma vez tomada a opção, em todo o processo de
dimensionamento, que se apresenta seguidamente, há que ser consistente com essa
escolha. Esta liberdade baseia-se no método estático da Teoria da Plasticidade,
segundo o qual, se se adoptar uma solução equilibrada em que a resistência não seja
ultrapassada em nenhum elemento a capacidade resistente da peça é superior ou
igual à considerada. A limitação imposta tem a ver com a maior ou menor capacidade
de adaptação da distribuição de tensões ás resistências disponíveis. Na disciplina
propõe-se que se adopte, em geral, um valor intermédio, por exemplo 30º. Por outro
lado, sugere-se a consideração de valores superiores para níveis elevados de esforço
transverso e/ou em caso da presença de um esforço axial de tracção, e inferiores nas
hipótese contrárias (níveis mais reduzidos de esforço transverso ou existência de
esforço axial de compressão).

80
Estruturas de Betão I

7.2 POSSÍVEIS MODOS DE ROTURA E VERIFICAÇÕES DE SEGURANÇA CORRESPONDENTES

Com base no modelo de campos de tensões, com um ângulo de inclinação das


compressões constante, ou do seu modelo simplificado de treliça, vamos analisar,
seguidamente, os possíveis modos de rotura e avaliar as capacidades resistentes
correspondentes.

Nas figuras seguintes ilustra-se:

(i) A rotura do campo de tracções vertical, ou seja dos estribos.

(ii) A rotura por esgotamento da resistência das compressões do campo


comprimido de tensões.

(i) Rotura dos estribos (ii) Rotura por esmagamento do betão (nas
bielas comprimidas)

Há ainda que considerar, como veremos à frente em 7.3.1:

(ii) Rotura por arrancamento da armadura inferior do apoio (amarração


insuficiente) ou rotura da armadura (armadura insuficiente)

O esquema seguinte mostra as zonas onde se pode verificar a rotura, ou seja, as


tracções nas armaduras transversais, as tensões principais de compressão no
betão (é interessante notar também o pormenor do desvio das tensões do banzo
superior para as biela inclinadas da alma) e, ainda, da força necessária na armadura
longitudinal inferior no apoio de extremidade.

81
Estruturas de Betão I

A rotura pelos estribos ocorrerá se a força resultante da capacidade resistente à


tracção do conjunto dos estribos, colocados no comprimento z cotg  fôr insuficiente
para transmitir a carga do banzo inferior ao superior.

- ensaios, Kaufmann, W., Marti, P. 1996 : “Versuche an Stahlbetontragern unter Normal- und Querkraft”,

Swiss Federal Institute of Technology Zurich, Zurich.

Ora, a força a que este conjunto de estribos está sujeita é igual ao esforço transverso
da viga, avaliado a uma certa distância do apoio, Vsd (x), como indicado nos esquemas
seguintes, para um apoio de extremidade e outro de continuidade.

82
Estruturas de Betão I

cargas que se transmitem cargas que se transmitem


directamente para o apoio directamente para o apoio

z
 

b z cotg  z cotg  b

DEVsd Vsd(x)
x

x
Vsd(x)
zona do diagrama de esforço transverso que interessa
para efeitos de dimensionamento da armadura transversal

Assim, e como claramente apresentado no esquema seguinte, a força de tracção, Fs,


necessária para evitar a rotura pela “fenda” diagonal, é igual ao esforço transverso
avaliado à distância x do apoio. Então, a quantidade de armadura necessária vezes a
tensão de dimensionamento do aço, fyd, terá de ser superior àquela força. Se
dividirmos a área desses estribos pelo comprimento z cotg , obtém-se a quantidade
de armadura, Asw, por cada alinhamento de estribos com afastamento s, dada por
Asw/s.

Fs Vsd  Asw fyd Vsd (x) 


Vsd (x)
Asw Vsd (x) Asw Vsd (x)
 s fyd  
z cotg  s z cotg  fyd
Asw
b
x = 2 + z cotg ; z  0.9d
b z cotg 

Asw
s - área de aço por unidade de comprimento (armadura distribuída por m).

Vsd (x)
- força vertical por unidade de comprimento.
z cotg 

Assim, definido o valor de , passa a se poder estabelecer uma relação directa entre o
esforço transverso resistente e a quantidade de armadura transversal, como proposto
no Eurocódigo 2.

83
Estruturas de Betão I

EUROCÓDIGO 2:

O valor do esforço transverso resistente, condicionado pelas armaduras transversais é


dado pela expressão (1) tal que:

Asw Asw Vsd


VRd,s = s z fywd cotg  s  z cotg  fywd (1)

onde fywd representa o valor de cálculo da tensão de cedência da armadura de esforço


transverso.

Por outro lado, a capacidade resistente deste sistema de transmissão de forças pode,
também, ser condicionada pela capacidade resistente do betão à compressão na
zona da alma, ou seja, no campo de tensões com a inclinação, . A avaliação do nível
da tensão de compressão no campo paralelo de tensões pode ser deduzido como se
segue, a partir da força Fc, cuja componente vertical é igual a Vsd.

- ensaios, Kaufmann, W., Marti, P. 1996 : “Versuche an Stahlbetontragern unter Normal- und Querkraft”,
Swiss Federal Institute of Technology Zurich, Zurich.

Fc
Fc Vsd

a

Fs

Vsd Vsd
sen  =  Fc =
Fc sen 

b z cotg  Fc
c = b a
w

a
sen  =  a = (z cotg )  sen  = z cos  = z cos 
z cotg 

Vsd Vsd (x)


c =  c =
sen  bw z cos  0.9d bw sen  cos 

Refira-se que, como também ilustra a fotografia anterior, devido ao estado de tensão e
deformação mais favorável que ocorre na região do apoio, a eventual rotura do betão

84
Estruturas de Betão I

à compressão não se verifica no campo de tensões “em leque”, mas sim no campo
paralelo adjacente, como indicado no esquema seguinte.

Rotura

z cotg 
R

É assim oportuno relembrar, sumariamente, a influência dos estados multi-axiais de


tensão sobre o comportamento de regiões comprimidas de betão.

O estabelecimento da classe de resistência de um betão é efectuado a partir dos


resultados de ensaios à compressão uniaxial. No entanto, como se ilustra na figura
seguinte, em situações em que ocorra compressão transversal, por efeito de
confinamento ou cintagem, verifica-se um aumento da resistência à compressão, e,
sobretudo da ductilidade da região confinada.

Por outro lado, se existir tracção na direcção transversal às compressões, com


fendilhação como indicado no esquema seguinte, situação que ocorre nas almas das
vigas com fendilhação inclinada, verifica-se uma redução da capacidade resistente à
compressão. É este outro efeito que está representado no elemento de betão armado
abaixo indicado e nas relações tensão/extensão do betão, no caso de existir ou não, a
referida tracção transversal, com fendilhação associada. Esta redução da resistência à
compressão depende essencialmente do valor da extensão transversal, principalmente
relacionada com a abertura das fendas diagonais.

85
Estruturas de Betão I

De forma simplificada, estes efeitos são considerados na EN1992 através da


verificação:

c  0.6 1 - 250  fcd


fck
 

Assim, definido o modelo de calculo e o ângulo , passa a se poder estabelecer uma


relação directa entre o esforço transverso resistente e a compressão máxima
admissível na alma, como proposto no Eurocódigo 2.

EUROCÓDIGO 2

O valor do esforço transverso resistente, condicionado pela resistência do betão na


alma, é dado pela expressão (2) tal que:

fcd
VRd,max = cw bw z 1 (2)
cotg  + tg 

onde cw = 1 para estruturas sem pré-esforço e 1 = 0.6 1 - 250 


fck
 

Então, esta expressão pode ser escrita na forma:

VRd,max (cotg  + tg )
VRd,max = bw z 0.6 1 -
fck 
= 0.6 1 -
fcd fck 
 f
 250 cotg  + tg  z bw  250 cd

= 0.6 1 - 250fcd, equivalente às deduções acima descritas.


VRd,max fck

z bw sen  cos   

Refira-se que o máximo valor de Vrd se verifica para o caso do ângulo  ser de 45º, e
que neste caso o valor reduzido de esforço transverso, já atrás referido, é dado por

Vrd
vrd = b df e toma no máximo um valor de 0.3.
w cd

86
Estruturas de Betão I

Este pode então ser considerado como o maior valor de esforço transverso reduzido
que pode ser resistido para uma dada secção e resistência de betão,
independentemente da quantidade de armadura.

Finalmente, nas zonas dos apoios, haverá que verificar a adequabilidade das suas
dimensões, para o que, de forma simplificada, também a EN1992 indica os seguintes
valores limites de tensões resistentes, respectivamente para os casos de apoios sem e
com continuidade:

c ≤ 0.85 (1-fck/250) fcd c ≤ 1.0 (1-fck/250) fcd

7.3 Influência do esforço transverso nas compressões e tracções da flexão

Numa zona intermédia da viga, se consideramos a actuar os esforços M e V, a


resultante das tensões axiais têm naturalmente de ser nula, pois não há esforço axial.
Deste modo, para equilibrar a componente horizontal da força inclinada na biela, Fc, e
acima avaliada, têm de se verificar, tracções na direcção longitudinal, nos “banzos”
superior e inferior da viga. Estas provocam, assim, uma variação nas compressões e
tracções devidas ao momento flector, M. Este efeito pode ser compreendido pelo
esquema abaixo indicado.

V cotg 
2
Vsd Fc
Fc
Vsd

 
FT
V cotg 
2

V
FV = Fc cos  = cos  = V cotg 
T sen 

A componente horizontal das compressões inclinadas no betão impõe, por equilíbrio


axial, a necessidade de uma força de tracção,FV
T
, que se distribui igualmente pelos

87
Estruturas de Betão I

banzos comprimido e traccionado, por forma a não alterar o momento aplicado à


secção.

Considerando a sobreposição dos efeitos de flexão e esforço transverso, verifica-se


então, como abaixo esquematizado, que haverá no banzo traccionado um incremento
de tracção e no comprimido um alívio das compressões. Refira-se que na zona de
momento nulo de uma viga, com esforço transverso diferente de zero, geram-se
tracções superiores e inferiores.

FM FV FM FV

V V
M + = M

FM FV FM FV

M V
FM = z ; FV = 2 cotg 

Este efeito deve ser considerado na pormenorização das armaduras, como se verá na
análise da dispensa longitudinal das armaduras de flexão.

7.3.1 Rotura por arrancamento da armadura longitudinal no apoio de


extremidade

Analisemos, agora, o sistema de transmissão de forças junto ao apoio simples,


referindo-nos às figuras seguintes, com representação dos campos de tensões ou só
das suas resultantes. Verifica-se que, por um simples equilíbrio de nó de treliça, se
gera uma tracção na armadura longitudinal, FT, dependente da reacção do apoio e da
inclinação da resultante do campo de tensões em leque, 1

88
Estruturas de Betão I

z
1 

b z cotg 
b + z cotg 
2 2

Fc R
R = Fc sen 1  Fc =
sen 1
1
FT
cos 1
FT = Fc cos 1  FT = R = R cotg 1
R sen 1

b z
2 + 2 cotg  b
cotg 1 = z = 0.5 z + 0.5 cotg 

Como FT depende da largura do apoio, pode tomar-se por simplificação:

R
1) “Apoio pontual” (b = 0) ↔ cotg 1 = 0.5 cotg  FT = cotg 
2

2) z  2b

b
↔ cotg 1 =0.5 2b+ 0.5 cotg  = 0.25 + 0.5 cotg   FT =R (0.25 + 0.5 cotg )

Aproximadamente, e de uma forma conservativa, poderá em geral considerar-se:

↔ FT = 1.20 R (1 40)

Refira-se que a área de armadura longitudinal inferior a adoptar nestes apoios sem
continuidade deverá ser sempre, pelo menos, 25% da área de armadura adoptada na
zona do meio vão.

7.3.2 Armadura longitudinal no vão

Considera-se, agora, a análise da situação corrente de uma viga simplesmente


apoiada, como a representada na figura seguinte, e com base no modelo acima
descrito, definem-se os diagramas da força de tracção na armadura longitudinal.

89
Estruturas de Betão I

M
FT

M/z +

V
FT

V/2 cotg 
=

M+V
FT

M/z + V/2 cotg 

Verifica-se que a variação da força de tracção ao longo do vão tem uma menor
variação ao longo do vão não sendo nula junto ao apoio (ver §1.2.4) e que na zona do
vão não é afectada em relação à da flexão, no vão central.

Em termos práticos, verifica-se, ser mais conveniente, para determinar a tracção


necessária em vez de somar as duas forças, avaliar a distancia, x (ver esquema a
seguir), segundo o eixo longitudinal, processo que se denomina de translacção do
diagrama de momentos.

 = dx  z  = z dx = z
d M 1 dM V
 

V/2 cotg 
por outro lado,  tg  = x

flexão V 1 V z
As  2 cotg  x = z  x = 2 cotg 

M/z

V/2 cotg 
necessária
x As

Refira-se que a análise da dispensa de armadura longitudinal será, na prática,


efectuada, não a partir do diagrama de momentos flectores, mas deste, depois de
efectuada esta translacção, no valor dez/2 cotg .

7.3.3 Apoio de continuidade

A análise da zona de um apoio de continuidade é extremamente interessante pois,


trata-se de uma região com momento flector e esforço transverso significativos, à
esquerda e direita.

90
Estruturas de Betão I

Geram-se dois campos de tensão em leque a partir do apoio, verificando-se que, com
base no modelo de escoras e tirantes, a tracção superior tem tendência a formar um
patamar constante, com valor dependente só do momento flector (ver figura em baixo).
De facto a influência do esforço transverso, ou seja da inclinação das compressões na
força de tracção, só se faz sentir a uma certa distância do apoio, não influenciando o
valor máximo de força de tracção devida à flexão, mas tão só alargando essa zona.
FT = const.

M +V
cotg 
z z 2
   
1 1 M -V
cotg 
z 2

z cotg  b z cotg 

DFT
V
cotg 
2
M/z

Define-se assim, também na zona de momento negativos, um diagrama de flexão com


translacção, a partir do qual deve ser definida a dispensa de armaduras.

7.4 Disposições das armaduras transversais

A área mínima de armadura transversal, que se justifica pela mesma razão da flexão,
pode ser quantificada através da imposição de uma percentagem de armadura, dada,
no EC2, por:

0.08 fck
w,min = fyk

A percentagem geométrica de armadura transversal é definida através da expressão:

Asw
w,min =
s  bw

7.5 Espaçamento entre estribos e sua pormenorização

Por forma a evitar que a fenda se forme entre estribos, o espaçamento máximo entre
estribos deverá respeitar a condição:

s  0.75 d (1 + cotg ),

onde d representa a altura útil do elemento e  a eventual inclinação da armadura


transversal.

91
Estruturas de Betão I

Usualmente utilizam-se espaçamentos entre 0.075 e 0.30 m (ou, preferencialmente,


para vigas correntes, entre 0.10 e 0.25 m), não devendo ultrapassar-se, em geral, 0.5
d.

A armadura transversal é em geral, formada por um ou mais estribos, cada um com


dois ramos, que deverão em princípio, serem fechados. O EC2 abre, no entanto, a
possibilidade a outras hipóteses.

O espaçamento transversal entre ramos de estribos deve ser tal que:

st  0.75 d  600 mm

Assim para vigas largas, com mais de 60 cm, ou menos largas mas pouco altas, é, por
razões de eficiência na transmissão das compressões das bielas aos estribos
verticais, necessário ter mais do que um estribo (2 ramos) – ver figura seguinte.

Verifica-se que as tensões de compressão tendem a se apoiar nos cantos dos estribos
(onde também existem ferros longitudinais) e que, como se percebe, não devem estar
muito afastados para uma maior uniformidade da transmissão de forças.

92
Estruturas de Betão I

EXERCÍCIO 5

Considere a estrutura da figura seguinte:

q = 12kN/m
g = 25kN/m

0.60

0.30

5.00

Materiais: C25/30, A400NR

Responda ás seguintes questões, tentando compreender e interpretar as implicações


de adoptar diferentes ângulos de inclinação das bielas de compressão:

a) Calcule as armaduras transversais admitindo, para inclinação das bielas de


compressão, ângulos de 30 e 45.

b) Verifique, para ambas as situações, a tensão máxima de compressão nas bielas.

c) Calcule, para ambas as situações, os efeitos na armadura longitudinal.

d) Pormenorize a armadura longitudinal ao longo da viga.

93
Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 5

ALÍNEA A)

1. Determinação dos esforços

psd = g g + q q = 1.5 (12 + 25) = 55.5 kN/m

pL2 55.5  52
Msd = 8 = 8 = 173.4kNm

55.5  5
Vsd = 2 = 138.8 kN

2. Cálculo das armaduras transversais para  = 30

z cotg  = 0.9 d  cotg  = 0.9  0.55  cotg 30 = 0.87m

Vsd (z cotg  = 138.8 - 0.87  55.5 = 90.5kN

Asw Vsd 90.5


 =  104 = 3.0 cm2/m
s z cotg  fyd 0.87  348  103

3. Cálculo das armaduras transversais para  = 45

z cotg  = 0.9  0.55  cotg 45 = 0.5m

Vsd (z cotg  = 138.8 - 0.5  55.5 = 111.1kN

Asw 111.1 2
s = 348  103 0.5 = 6.39cm /m

ALÍNEA B)

i)  = 30

Vsd 90.5
c = = = 1393kN/m2
0.9 d bw sen  cos  0.30.5sen 30cos 30

ii)  = 45 

111.1
c = = 1481kN/m2
0.3  0.5  sen 45 cos 45

c  0.6 1 - 250  fcd = 0.6 1 - 250   16.7  103 = 9018 kN/m2


fck 25
   

94
Estruturas de Betão I

ALÍNEA C)

1. Armadura no apoio de extremidade

i) Considerando um apoio pontual

R
b = 0  Fs = cotg 
2

 = 30  F s =
138.8
2  cotg 30 = 120.2kN
 138.8
 = 45  F s = 2  cotg 45 = 69.4kN

ii) Considerando a largura do apoio

Fs = 1.2 R = 1.2  138.8 = 166.6kN

Fs 166.6
 As  f =  104 = 4.79cm2
yd 348  103

Comentário: menor   maior área de armadura nos apoios

2. Cálculo do comprimento de translacção

z 0.5
 = 30 x = 2 cotg  = 2 cotg 30 = 0.43m

z 0.5
 = 45 x = 2 cotg  = 2 cotg 45 = 0.25m

Comentário: menor   maior comprimento de translacção

95
Estruturas de Betão I

7.6 Amarração de Armaduras

7.6.1 Comprimento de amarração

Considere-se um varão de aço embebido, num determinado comprimento, no interior


de um bloco de betão, conforme ilustrado na figura seguinte e admita-se uma tensão
de corte entre o betão e o aço, com distribuição constante.

f bd
Fs = As sd

lb,rqd

fbd – tensão de aderência de cálculo (b- bond ; d- design)

Nestas condições é possível definir o valor do comprimento necessário lb,rqd para que,
quando o varão for submetido a uma força de tracção, não haja escorregamento entre
os dois materiais. Deste modo,

FRc  Fs Ac  fbd  Fs ,

onde Ac =  lb e representa a área de betão em contacto com a armadura.

2
Ac  fbd  Fs   lb,rqd fbd = As sd   lb,rqd fbd = 4 sd

De onde resulta

 sd
lb,rqd = (Comprimento de amarração base)
4 fbd

O valor da tensão de aderência (fbd) pode ser calculado, segundo o EC2, através da seguinte
expressão:

fbd = 2.25 12 fctd

onde,

fctd representa o valor de dimensionamento da resistência do betão à tracção;

1 é um coeficiente que depende da qualidade da aderência e da posição do varão


durante a betonagem (1 = 1.0 para boas condições de aderência; 1 = 0.7 para
outras condições de aderência);

96
Estruturas de Betão I

2 é um coeficiente que depende do diâmetro do varão (2 = 1.0 para   32 mm; 2


= (132 - ) / 100 para   32 mm).

Os varões dizem-se em condições de boa aderência se verificarem uma das


seguintes condições:

 formem com a horizontal um ângulo entre 45º e 90º;

 estejam integrados em elementos com espessura (na direcção da betonagem)


inferior ou igual a 25 cm;

 quando a espessura excede 25 cm, os varões estão em boas condições de


aderência se se situarem na metade inferior do elemento ou a mais de 30 cm da
sua face superior.

O comprimento de amarração necessário lbd pode ser avaliado através da


expressão:

lbd = 1 2 3 4 5 lb,rqd  lb,min

onde,

1 é um coeficiente que tem em conta a forma do varão na zona da amarração;

2 é um coeficiente que tem em conta o recobrimento do varão;

3 é um coeficiente que tem em consideração o efeito do cintagem das armaduras


transversais à amarração;

4 é um coeficiente que tem em consideração o efeito de varões transversais


soldados ao longo do comprimento de amarração;

5 é um coeficiente que tem em consideração o efeito favorável da existência de


tensões de compressão transversais ao plano de escorregamento, ao longo do
comprimento de amarração.

Sendo clara a influência de todos estes factores no comprimento de amarração, na


prática tomam-se, em geral, opções simplificativas que devem ser conservativas.

De qualquer forma, há que assegurar, um comprimento de amarração mínimo lb,min,


tal que:

 varões traccionados: lb,min = máx {0.3 lb,rqd; 10; 100 mm}

 varões comprimidos: lb,min = máx {0.6 lb,rqd; 10; 100 mm}

97
Estruturas de Betão I

Simplificadamente, e para varões traccionados com amarrações curvas tem-se lb,eq =


1 lb,rqd = 0.7 lb,rqd

ou

5

lb,eq
lb,eq

( 90)

Esta redução é válida se a distância livre entre varões e/ou o recobrimento na direcção
perpendicular à amarração forem superiores a 3.

Por exemplo para varões comprimidos ou traccionados com barras transversais


soldadas (situação não muito corrente) o EC2 propõe:

lb,eq =4 lb,rqd= 0.7 lb,rqd

t 0.6 5

lb,eq

Para se ter uma rápida avaliação dos comprimentos de amarração é extremamente útil
ter o multiplicador do diâmetro tal que: lb = k como expresso na tabela seguinte, sem
considerar os coeficientes , e admitindo s = fyd.

VALORES DE k = lb /  para s = fyd

C20/25 C25 C30 C35 C40 C45 C50

1 = 1 39 32 29 26 23 22 20
A400
1 = 0.7 55 46 41 38 33 30 28

1 = 1 48 40 36 33 30 27 25
A500
1 = 0.7 69 57 52 47 43 38 36

Exemplifica-se seguidamente a avaliação do comprimento de amarração necessário


de um varão 16 solicitado por uma força de 45kN.

98
Estruturas de Betão I

Materiais: C25/30
lb,rqd
A400NR

45 kN

1.8
fbd = 2.25 1 2 fctd = 2.25  1.0  1.0  1.5 = 2.7 MPa

 sd  223.9
lbd = lb,rqd = 4 f = 4
bd 2.7 = 20.7  = 0.33 m

Este valor é inferior ao da tabela pois o nível de tensão é menor que fyd.

45
sd = = 223.9 MPa
2.01  10-4

7.6.2 Comprimento de emenda

As emendas dos varões das armaduras ordinárias devem, se possível, ser evitadas e
caso sejam necessárias, devem ser efectuadas em zonas em que os varões estejam
sujeitos a tensões pouco elevadas.

As emendas de varões podem ser realizadas por sobreposição, por soldadura, ou por
meio de dispositivos mecânicos especiais (acopladores, por exemplo).

As emendas por sobreposição devem satisfazer os seguintes critérios:

 Não localizar as emendas nas zonas de maiores esforços;

 Procurar manter a simetria;

 A distância livre entre armaduras não deve ser superior a 4 ou 50 mm, caso
contrário o comprimento de emenda deve ser acrescido de (s – 4);

 A distância longitudinal entre duas emendas adjacentes não deverá ser inferior a
0.3 l0;

 No caso de duas emendas adjacentes, a distância livre entre varões não deve
ser inferior a 2 ou 20 mm;

99
Estruturas de Betão I

 A percentagem de varões a emendar numa mesma secção transversal pode ser


de 100% caso os varões estejam dispostos numa única camada, ou de 50% se os
varões estiverem dispostos em várias camadas.

O comprimento de emenda (l0) deve ser calculado, de acordo com o EC2, com a
expressão:

l0

F
F

l0 = 1 2 3 5 6 lb,rqd  l0,min

onde os coeficientes , são os definidos anteriormente e 6 é um coeficiente que tem


em conta a relação entre a secção dos varões emendados e a secção total dos varões
existentes na mesma secção transversal.

Normalmente há que considerar valores mínimos do comprimento de emenda, que


o EC2 define como sendo l0,min = max {0.3 6 lb,rqd;15;200mm}

Para que duas emendas possam ser consideradas em secções diferentes há que
respeitar as seguintes indicações:

0.65 l0 0.65 l0

Nas zonas de emendas geram-se tensões de tracção na direcção transversal que


podem recomendar a disposição de armaduras específicas se aquelas forem
elevadas. Nesse sentido as necessidades de reforço na zona da emenda (dispensável
no caso   20 mm ou se a percentagem de varões emendados seja inferior ou igual a
25%) é dada, no EC2, por:

a) Armadura em tracção

100
Estruturas de Betão I

a) Armaduras em tracção
b) Armadura em compressão
a) Armaduras em tracção

b) Armaduras em compressão
b) Armaduras em compressão

101
Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 5 (CONT.)

Materiais: C25/30, A400NR

q = 12kN/m
g = 25kN/m

0.60

0.30

5.00

ALÍNEA D)

1. Cálculo da armadura necessária a meio vão

Msd 173.4
Msd = 173.4kNm  = bd2 f = 3 = 0.114  = 0.124
0.30.55 16.710
2
cd

fcd
As = b d = 9.84cm2
fyd

Adoptam-se 216 + 220 (10.3cm2)

Visto que Aapoio


s
 4.79cm2 , é possível dispensar 216

2. Cálculo do MRd correspondente a 220 (6.28cm2)

As fyd 6.28  10-4 348


= bd =  = 0.079   = 0.075
fcd 0.3  0.55 16.7

MRd =  b d2 fcd = 0.075  0.3  0.552  16.7  103 = 113.7kNm

3. Determinação da secção de dispensa de armadura

55.5 kN/m x2
M(x) = 138.8  x - 55.5  2 =

= 138.8 x - 27.75x2
138.8 kN 138.8 kN
Msd = MRd  138x - 27.75x2 = 113.7 
x
x = 3.97m  x = 1.03m
DMF

(+)
M(x)

1.8
fbd = 2.25 1 2 fctd = 2.25  1.0  1.0  = 2.7 MPa
1.5

102
Estruturas de Betão I

6.28  sd 0.016 212.2


sd =  348 = 212.2MPa  lbd= = =19.6 = 0.31m
10.3 4 fbd 4 2.7

z
aL = 2 cotg  = 0.43m

Secções de dispensa de armadura:

x1 = 1.03 - aL - Lb.net = 1.03 - 0.43 - 0.31 = 0.29 m

x2 = 3.97 + aL + Lb.net = 3.97 + 0.43 + 0.31 = 4.71m

103
Estruturas de Betão I

EXERCÍCIO 6

Para a estrutura já analisada no Exercício 1 determine:

a) As armaduras transversais necessárias ao longo da viga

b) A distribuição de armaduras longitudinais ao longo da viga

c) Pormenorize as armaduras na viga

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 6

ALÍNEA A)

1. Determinação do esforço transverso solicitante

p=1 kN/m

10.00 3.00

DEV
[kN] 4.55 3.0
(+) (+)
(-)

5.45

Considerando alternância de sobrecarga,


p=1 kN/m

DEV 5.0
[kN]
(+)
(-)

5.0

p=1 kN/m

DEV 3.0
[kN] (+)
( )

0.45

A
Vsd = 1.5  (28.25  4.55) + 1.5  (12  5) = 282.8kN

104
Estruturas de Betão I

VB.esq
sd
= 1.5  (28.25  5.45) + 1.5  (12  5.45) = 392.0kN

VB.dir
sd
= 1.5  (28.25 + 12)  3 = 181.1kN

i) Envolvente do diagrama de esforço transverso

329.0
282.8 181.1 282.8
181.1
(+) (+) 
(-)

329.0

ii) Determinação de Vsd (z cotg 

Considerando  = 30,

d = 0.80m ; z  0.9 d = 0.72 m

z cotg  = 0.72  cotg 30 = 1.25 m

Vsd,A (z cotg = 282.8 - 60.4  1.25 = 207.3 kN

Vsd,B esq (z cotg = 329 - 60.4  1.25 = 253.5 kN

Vsd,B dir (z cotg = 181.1 - 60.4  1.25 = 105.6 kN

2. Verificação das compressões

i) Bielas comprimidas

Vsd (zcotg  253.5


cmáx = = = 2710.3kN/m2  2.7MPa
zbw sen cos 0.72  0.30  sen 30  cos30

cmáx0.6 1 - 250  fcd = 0.6 1 - 250   16.7  103 = 9018 kN/m2


fck 25
   

ii) Apoio

R
c = A  0.85 fcd
ap

B
Rsd = 329.0 + 181.1 = 510.1kN

510.1
c = = 5667.8kN/m2 5.7MPa
0.3  0.3

0.85 fcd = 0.85  16.7 = 14.2MPa

105
Estruturas de Betão I

3. Cálculo da armadura transversal nos apoios

i) Apoio A

Asw Vsd (z cotg  207.3


= =  104 = 4.78cm2/m
s z cotg  fyd 0.72  cotg 30  348  103

ii) Apoio B (esq.)

Asw 253.5
=  104 = 5.84cm2/m
s 0.72  cotg 30  348  103

iii) Apoio B (dir.)

Asw 105.6
=  104 = 2.43cm2/m
s 0.72  cotg 30 348103

iv) Cálculo da armadura mínima

0.08 fck 0.08 25


w,min = fyk = 400 = 0.001

w,min = 0.001     = 0.001   = 0.0010  0.30  104 = 3.0cm2/m


Asw 1 Asw
 min w
s b  s min
(adoptam-se estribos 8//0.25)

4. Determinação da zona da viga em que se adopta (Asw/s)min

i) Cálculo de VRd, min

Estribos 8//0.25  4.02 cm2/m

Asw
VRd= s  z cotg   fyd = 4.02  10-4  0.72  cotg 30  348  103 = 174.5kN

329.0
282.8
1 181.1
60.4
174.5

x1 x2

282.8 - 174.5 329 - 174.5


x1 = = 1.79m ; x2 = = 2.56m
60.4 60.4

ALÍNEA B)

Aapoio
s
 416 + 212; Avão
s
 625

106
Estruturas de Betão I

1. Cálculo do comprimento de translacção

z 0.72
aL = 2 cotg  = 2 cotg 30 = 0.62m

2. Armadura inferior

i) Plano de dispensas: 625  425  225

ii) Capacidade resistente da viga após as dispensas


2
Armadura As [cm ]   MRd [kNm]

425 19.63 0.170 0.154 493.8

225 9.82 0.085 0.080 256.5

x4
x3
x2 272.0
x1

256.5 256.5
493.8 493.8
660.2

iii) Cálculo das coordenadas x

Carregamento correspondente ao máximo momento no vão

sc=12.0 kN/m
cp=28.3 kN/m

10.00 3.00

282.8 kN
DMF
[kNm] (-)

(+)

60.4 kN/m

M(x) x2
M(x) = 282.8  x - 60.4  = 282.8  x - 30.2x2
x 2

282.8 kN

107
Estruturas de Betão I

MSd = 493.8kNm  282.8  x - 30.2  x2 = 493.8  x3 = 7.04m  x2 = 2.32m

MSd = 256.5kNm  282.8  x - 30.2  x2 = 256.5  x4 = 8.35m  x1 = 1.02m

iv) Cálculo dos comprimentos para dispensa da armadura

 Dispensa de 625  425

x2’ = x2 – aL - Lb.net = 2.32 - 0.62 - 0.54 = 1.16 m

x3’ = x3 + aL + Lb.net = 7.04 + 0.62 + 0.54 = 8.20 m

1.8
fbd = 2.25 12 fctd = 2.25  1.0  1.0  1.5 = 2.7 MPa

4  sd 0.025 232


sd = 6  348 = 232 MPa  lbd= 4 f = 4 2.7 = 0.54 m
bd

 Dispensa de 425  225

x1’ = x1 - aL - Lb.net = 1.02 - 0.62 - 0.40 = 0.0 m

x4’ = x4 + aL + Lb.net = 8.35 + 0.62 + 0.40 = 9.37 m

2  sd 0.025 174


sd = 4  348 = 174 MPa  lbd= 4 f = 4 2.7 = 0.40m
bd

v) Verificação da armadura no apoio

1) Considerando pilares 0.30  0.30 [m2]:

FT = Rcotg1 = R  0.5  z +0.5 cotg = 282.8  0.5  0.72 + 0.5 cotg 30 =
b 0.30
   
303.8kN

303.8
As =  104 = 8.73cm2 < As (425) = 19.63cm2
348  103

2) Considerando indirectamente a dimensão do pilar

FT = 1.2 R = 1.2  282.8 = 339.4 kN  As = 9.75cm2 < 19.63cm2

3) Considerando um apoio pontual

R 282.8
FT = cotg 1 =  cotg 30 = 244.9kN  As = 7.04cm2 < 19.63cm2
2 2

3. Armadura superior

i) Plano de dispensas: 416 + 212  416  216

108
Estruturas de Betão I

ii) Capacidade resistente da viga após as dispensas

2
Armadura As [cm ]   MRd [kNm]

416 8.04 0.070 0.066 211.6

216 4.02 0.035 0.034 109.0

272.0
211.6 211.6
109.0 109.0

x2 x1
x4 x3

iii) Cálculo das coordenadas x

Carregamento correspondente ao máximo momento negativo no apoio e no vão à


esquerda do apoio:

sc=12.0 kN/m

cp=28.3 kN/m

pconsola
sd
= 60.4kN/m

pvão
sd
= 1.5  28.25 = 42.4kN/m

Vdir
sd
= 3.0  (12 + 28.25)  1.5 = 181.1kN

Vesq
sd
= (5.45  28.25 + 0.45  12.0)  1.5 = 239.0kN

Consola

60.4 kN/m x
272 kNm
Msd(x) = 60.4  x  - 181.1  x + 272.0 =
2
Msd(x)
30.2x2 - 181.1x + 272.0
x
181.1 kN

Msd = 211.6kNm  30.2 x12 - 181.1x1 + 272.0 = 211.6  x1 = 0.35m

Msd = 109.0kNm  30.2 x32 - 181.1x3 + 272.0 = 109.0  x3 = 1.10m

109
Estruturas de Betão I

Vão
42.4 kN/m x
272 kNm Msd(x) = 42.4  x  2 – 239.0  x + 272.0 =
Msd(x)
21.2x2 - 239x + 272.0
x
239.0 kN

Msd = 211.6kNm  21.2 x22 - 239 x2 + 272.0 = 211.6  x2 = 0.26m

Msd = 109.0kNm  21.2 x42 - 239 x4 + 272.0 = 109.0  x4 = 0.73m

Msd = 0  21.2 x52 - 239 x5 + 272.0 = 0  x5 = 1.28 m

4) Cálculo dos comprimentos para dispensa da armadura

 Dispensa de 416 + 212  416

x1’ = x1 + aL + Lb.net = 0.35 + 0.62 + 0.43 = 1.40 m

x2’ = x2 + aL + Lb.net = 0.26 + 0.62 + 0.43 = 1.31 m

1.8
fbd = 2.25 12 fctd = 2.25  0.7  1.0  = 1.89 MPa
1.5

8.04  sd 0.012 271.6


sd =  348 = 271.6MPa  lbd = = = 0.43m
8.04+2.26 4 fbd 4 1.89

 Dispensa de 416  216

x3’ = x3 + aL + Lb.net = 1.10 + 0.62 + 0.36 = 2.08 m

x4’ = x4 + aL + Lb.net = 0.73 + 0.62 + 0.36 = 1.71 m

x5’ = 1.28 + 0.62 + 0.22 = 2.12m

2  sd 0.016 174


sd = 4  348 = 174 MPa  lbd= 4 f = 4 1.89 = 0.37m
bd

Lb,min = 10  = 0.16 m

110
Estruturas de Betão I

7.7 ARMADURA DE LIGAÇÃO BANZO-ALMA

Como referido na flexão de secções em T as compressões no banzo distribuem-se


neste, não ficando limitadas à alma. O sistema base de resistência ao esforço
transverso desenvolve-se na alma, que distribui, então, as compressões (ou tracções
se se tratar de um banzo traccionado) para os banzos.

A compreensão deste mecanismo não é imediata e para a facilitar é fundamental a


representação gráfica como a que se reproduz na figura seguinte, com indicação dos
campos de tensões nos planos da alma e dos banzos e respectivas forças resultantes.

Na figura está representado um modelo em que, numa análise a partir da reacção de


apoio, se verifica que as tensões na alma do campo em leque ao atingirem o banzo
dispersam neste, para um e outro lado, gerando tracções de equilíbrio transversais no
banzo, numa zona já mais afastada do apoio. Tal verifica-se, depois, para os restantes
campos paralelos de tensões, obtendo-se a distribuição de compressões no banzo da
zona do vão, prevista na flexão.

111
Estruturas de Betão I

Se se definirem dois ângulos para as treliças da alma e do banzo, 1 e


2respectivamente, é possível avaliar as forças em causa a partir de um campo de
tensões paralelo na alma como apresentado de seguida.

Fc'
1
z cotg
2 f c'

fc

z 1
Fc
tg 
1

z co

Onde,

fc representa as forças distribuídas nas bielas comprimidas da alma

fc’ representa as forças distribuídas nas bielas comprimidas do banzo

Fc e Fc’ representam as resultantes dessas forças distribuídas

Em planta, a avaliação da força FT pode ser estimada como se apresenta de seguida:

z cotg 1 Fc sen 2
FT = Fc'  sen 2 = 2 cos 1 =
cos 2

Fc' Fc
2 = 2  tg 2 cos 1
FT
Fc cos 1
FT Asf FT Fc sen 1
Asf = f  s = =
syd z cotg 1 fyd 2 z cotg 2 fyd

V Asf V
Como Fc =  =
sen 1 s 2 z cotg 2 fyd

Considerando que 1 = 2 , a armadura de ligação banzo-alma deve ser igual ou

superior a metade da armadura de esforço transverso  s  = 2  s .


Asf 1 Asw
   

A este propósito, no que se refere em particular aos campos de compressões nos


banzos (2), sugere a EN1992, pelas razões já anteriormente discutidas, que se
considere [1 ≤ cotg 2 ≤ 2] no caso de banzos comprimidos, e [1 ≤ cotg 2 ≤ 1.25] para
situações de banzos traccionados.

112
Estruturas de Betão I

Refira-se que, em geral, numa viga pertencente a uma laje vigada, a armadura da laje
é normalmente suficiente para absorver as forças de tracção na ligação banzo-alma,
pelo que não se justifica a determinação de armadura específica, nesses casos.

7.8 ARMADURA DE SUSPENSÃO

Analisámos a transmissão de forças ao longo das vigas de betão armado, em


situações próximas da rotura para as situações em que a carga é transmitida ao banzo
superior da viga, como são as situações correntes. No entanto, há casos em que tal
não se verifica havendo que prevêr mecanismos de transmissão de carga adequados
e dimensionar as armaduras correspondentes.

São, por exemplo, os dois casos que vamos analisar, a saber:

 A situação de uma transmissão contínua da carga à parte inferior da viga, como


por exemplo de uma viga invertida, com a laje apoiada no banzo inferior.

 As situações de apoio de uma viga noutra, denominadas de apoios indirectos,


em que a carga é transmitida pela biela comprimida da viga secundária, à parte
inferior da viga principal.

7.8.1 CARGA DISTRIBUÍDA APLICADA NA PARTE INFERIOR DA VIGA

Como se esquematiza nas secções transversais abaixo indicadas a laje apoia-se na


parte inferior da viga pelo que tem de ser transmitida para a face superior da através
de uma armadura de suspensão. Este processo de “suspensão” deve ser efectuado ao
longo da viga para a carga distribuída transmitida pela laje, psd/m. No fundo a
armadura deve ser dimensionada para absorver a carga suspensa por metro, tal que:

psd/m
As/m > f
yd

Para a aplicação de carga excêntrica é judicioso admitir a suspensão só com um


ramo.

113
Estruturas de Betão I

Naturalmente, que a quantidade de armadura necessária para transmitir a carga ao


banzo superior tem de ser adicionada à de esforço transverso (correspondente ao
processo de transmissão das cargas do banzo superior da viga aos seus apoios).

7.8.2 APOIOS INDIRECTOS

Denomina-se por apoio indirecto de uma viga a situação desta se apoiar através da
ligação a outra viga, em vez de directamente sobre um dispositivo de apoio ou pilar.
Nestes casos, numa viga de betão armada com fendilhação desenvolvida, temos que:

1- A carga da viga I (ver esquemas seguintes) é transmitida pelas bielas


comprimidas à parte inferior da viga principal (viga II neste esquema).

2- A partir daí a carga é suspensa para o banzo superior da viga II, através de
estribos a colocar na região de ligação das vigas.

3- Uma vez “suspensa”, a carga está em condições de ser “encaminhada” para os


apoios da viga principal (II), seguindo o modelo geral de esforço transverso.

114
Estruturas de Betão I

Representa-se na figura seguinte o modelo de cálculo, para o caso de duas vigas.


Refira-se que, no caso geral de uma grelha, a armadura de suspensão é calculada
para a diferença de esforço transverso à esquerda e direita das vigas, havendo que
identificar qual é a principal.

P
1

115
Estruturas de Betão I

1 2 A viga  transmite as cargas à viga 


através das bielas comprimidas.
V
h1 h2 A carga transmitida à viga principal  terá de
ser transmitida para a face superior através

de estribos de suspensão As = f 


V
 yd 

Como indicado nas figuras anteriores (ver pormenor em planta), a armadura de


suspensão deve preferencialmente localizar-se na região de ligação das vigas. No
entanto, caso necessário, poderá alargar-se ligeiramente a zona de distribuição desta
armaduras, como se esquematiza na figura seguinte.

 h1/2
 h1/3

1
 h2/2
 h2/3

116
Estruturas de Betão I

EXERCÍCIO 7

Considere a estrutura da figura seguinte:

sc
cp

S2 S1

3.50 10.00 3.50

0.20 0.20

Materiais: C20/25, A400

Acções: pp + revest. = 20.0 kN/m


1.00
sobrecarga = 40.0 kN/m

0.15 Coeficientes de majoração: G = Q = 1.5


1.00

a) Para a estrutura já analisada no Exercício 4, verifique a segurança ao Estado Limite


Último de Esforço Transverso e pormenorize as armaduras transversais na secção.

117
Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 7

ALÍNEA A)

1. Verificação da segurança ao E.L.U. de Esforço Transverso

i) Determinação de Vsd

psd = 1.5  (20 + 40) = 90kN/m

DET 450.0 315.0


[kN]
(+) (-)
(-) (+)

315.0 450.0

 = 30º  z cotg  = 0.9  0.95  cotg 30 = 1.48m

Vsd, dir (z cotg  = 450 - 1.48  90 = 316.8.5kN

Vsd, esq (z cotg  = 315 - 1.48  90 = 181.8kN

ii) Verificação das compressões na alma

Vsd (z cotg  316.8


c = = = 2139.2kN/m2
z  bw  sen   cos  0.9  0.95  0.40  sen 30  cos 30

c  0.6 1 - 250  fcd = 0.6 1 - 250   13.3  103 = 7342 kN/m2


fck 20
   

iii) Cálculo da armadura transversal junto aos apoios

Asw Vsd (z cotg 


=
s z fyd cotg 

 Asw  = 316.8
 104 = 6.15cm2/m
 s dir 1.48  348  103

 Asw  = 181.8
 104 = 3.53cm2/m
 s esq 1.48  348  103

2. Cálculo da armadura de suspensão

Nota: Admite-se que a sobrecarga está a actuar no banzo inferior

118
Estruturas de Betão I

cp* = cp–ppalmas= 20 - (0.20  1.0  2)  25 = 10kN/m

Força de suspensão: Fs = 1.5 (10 + 40) = 75.0kN/m

cp*+sc  As  =
75.0
 104 = 2.16cm2/m
 suspensão 348103
s

(a adicionar à armadura de esforço transverso)

dir
 As  =
Asw 
+
As 
= 6.15 + 2.16 = 8.31cm2/m
 s TOT  s dir  s susp

esq
 As  =  Asw  +  As  = 3.53 + 2.16 = 5.69m
 s TOT  s esq  s susp

3. Cálculo da armadura transversal mínima

0.08 fck 0.08 20


w,min = fyk = 400 = 0.0009

w,min=0.0009  s   b =0.0009  s  = 0.00090.4010 =3.6cm /m


Asw 1 Asw 4 2
 min w  min

4. Cálculo da armadura de ligação banzo-alma

Asf Vsd
s = 2 z cotg 2 fsyd

Asf 1  Asw 
1 = 2 =
s 2  s 

 As dir = 6.15 = 3.08cm2/m ;  As esq = 3.53 = 1.77cm2/m


 s  2  s  2

5. Armadura transversal de flexão no banzo

cp* + sc = 10 + 40 = 50 kN/m

cp*+sc psd = 1.5  50 / 0.6 = 125.0 kN/m2

0.80

119
Estruturas de Betão I

pL2 125  0.802


12 = 12 = 6.7kN/m

0.80
Msd 6.7
=b d2 f = = 0.035  = 0.037
pL2/12 cd 1.0  0.12  13.3  103
2

pL2/24 fcd 13.3


As=bd = 0.037  1.0  0.12   104 = 1.70cm2/m
fyd 348

(AsTOT/ramo)dir =  2  + 1.70 = 3.24cm2/m


3.08
 

(AsTOT/ramo)esq =  2  + 1.70 = 2.59cm2/m


1.77
 

120
121
(considerar a totalidade do esforço transverso para o dimensionamento da armadura).
A carga é totalmente transmitida segundo o modelo geral de esforço transverso
a>2z 
armadura transversal).
A carga é transmitida directamente para o apoio (não sendo necessário acréscimo de
a < z/2 
London):
indicações (“FIP/fib Recommendations for Practical Design of Structural Concrete” 1999, SETO,
Com base no modelo apresentado, podem em geral considerar-se as seguintes
F
a
F1 F2
- 1926.76
- 1670.92

- 2275.69
- 2275.69
- 2651.64
- 1536.53
- 1495.45

- 143.56

- 33.77
- 1545.64

- 21.30
- 1745.48

22.54
- 102.61
- 1562.04

- 15.25
- 1866.68
- 1597.75

- 2213.15
- 2213.15
- 2605.36

- 137.52
- 1456.92
- 1413.97

- 35.61
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- 23.23

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- 2151.41
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- 2090.52
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- 2030.51

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- 1971.42

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- 1913.29
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- 1800.06

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- 1001.82

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928.40
- 1745.03

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- 2233.90
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- 990.33

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T=C
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