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MATHEUS S.

BORGES

A ARTE DE PROJETAR
ESTRUTURAS
DE CONCRETO ARMADO

1ª Edição
a arte de projetar estruturas de concreto armado 1

A arte de projetar estruturas de


concreto armado
Aprenda sobre a mais bela das artes dentro da engenharia: a de projetar
estruturas de concreto armado!

Prof. Matheus Silveira Borges

1ª edição
a arte de projetar estruturas de concreto armado 2

Direitos autorais © 2023 Matheus Silveira Borges.


Todos os direitos reservados.

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eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa
do autor.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 3

Autor e Ilustrador
Matheus Silveira Borges é Engenheiro Civil (2015), Especialista em Estruturas na
Construção Civil (2016) e Mestre em Modelagem Computacional e Sistemas (2018)
e professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - IFNMG (2017).

Desde a graduação, estuda métodos e técnicas de ensino de engenharia, quando


foi monitor da disciplina de Resistência dos Materiais.

Após se formar, ministrou cursos livres de estruturas e trabalhou como


engenheiro de projetos, até começar a trabalhar como professor no IFNMG.

No IFNMG, começou a implementar técnicas de ensino e gestão de ensino no


curso de engenharia civil, quando foi coordenador de ensino por 5 semestres.

Atualmente, desenvolve ilustrações didáticas para o ensino de engenharia e


escreve livros didáticos e de desenvolvimento pessoal focado em acadêmicos da
área.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 4

Ame ao teu próximo. Nenhum conhecimento te


fará um grande profissional se não for aplicado
em favor da humanidade
a arte de projetar estruturas de concreto armado 5

Índice
Autor e Ilustrador 3
1. O material concreto armado 7
1.1 O concreto sozinho 7
1.2 O concreto armado 8
1.3 Produção do concreto e suas falhas… 10
1.4 O tal do Fck 10
1.5 E o aço? 10
1.6 Os concretos e os aços comerciais 11
Concreto 11
Aço 12
2. Ações estruturais 14
2.1 O que são as ações estruturais 14
2.2 Tipos de ações estruturais 15
2.3 Valores característicos e de projeto 16
2.4 Segurança estrutural 17
2.5 A combinação das ações 17
3. Concepção Estrutural e Estabilidade Global 23
3.1 Introdução à tal de estabilidade global 23
3.2 E como medir uma instabilidade? 24
3.2 O gama-z 25
4. Lajes de concreto armado 31
4.1 Lajes Treliçadas 31
5. Vigas de concreto armado 37
5.1 Um pouco sobre vigas de concreto armado 37
5.1.1 Conceito de vigas 37
5.1.2 Como funcionam as vigas de concreto armado 38
5.1.3 Domínios do concreto 39
5.2 Pré-dimensionamento de vigas 40
5.2.1 Método Simplificado 41
5.2.2 Método da Flecha 42
5.2.3 Método dos Domínios do Concreto 49
5.3 Prescrições (regras) de dimensionamento 51
5.3.1 Dimensões mínimas 51
5.3.2 Armadura mínima 52
5.3.3 Armadura máxima 52
5.3.4 Espaçamentos mínimos entre barras 52
5.4 Métodos de dimensionamento 53
5.4.1 Método K3 e K6 53
5.4.1.1 Dimensionamento de vigas simplesmente armadas 53
a arte de projetar estruturas de concreto armado 6

6 63
Pilares de concreto armado 63
6.1 Introdução ao estudos dos pilares 63
6.2 Anatomia de um pilar de concreto armado 64
6.3 O que você precisa saber para calcular um pilar 66
6.4 O tal do índice de esbeltez 66
6.5 Classificação dos pilares quanto ao tipo de carregamento e geometria na
arquitetura 69
6.6 Prescrições normativas 70
6.6.1 Seção de concreto 70
6.6.2 Diâmetro de armaduras 71
6.6.1 Área de aço 72
6.6.2 Espaçamentos entre armaduras 72
6.6.3 Espaçamento entre estribos 72
6.7 Dimensionamento das armaduras 72
Anexos 86
a arte de projetar estruturas de concreto armado 7

1. O material concreto armado


O concreto armado é o material mais utilizado nas construções ao redor
do mundo. Mas quais seriam os motivos para essa ampla utilização? Quais
vantagens este material apresenta para que ele seja a opção mais escolhida
frente aos demais materiais estruturais? É isso (e mais um pouco) que você vai
descobrir agora!

1.1 O concreto sozinho


Sabe quando o pessoal faz aquelas “misturas” de cimento, areia e brita na
rua para “encher” uma laje (e depois, aquele almoço com farofa para todo
mundo)?

Pois é… Aquela “mistura” que toma conta da rua na verdade é o que


chamamos de concreto. Feito essencialmente por cimento, água e agregados, o
concreto é o material empregado na construção de lajes, vigas, pilares e
fundações da maior parte das construções brasileiras.

A ilustração abaixo mostra como esses componentes se interagem para a


confecção deste tão utilizado material de construção:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 8

O interessante é que esse mesmo concreto, da forma com que


apresentamos, pode ser utilizado em casos em que apenas a compressão é
solicitada (ou a tração é muito baixa), como por exemplo, enchimentos de pisos,
lastro para recebimento de fundação, etc.

Isso porque o concreto sozinho, apesar de ser até bom na resistência à


compressão, não resiste muito bem à tração. Ou seja, se “esticado”, o concreto
acaba se rompendo.

E isso é algo bem ruim pela ótica das estruturas, pois normalmente, os
elementos estruturais são a todo momento tracionados (e comprimidos também),
inviabilizando o uso do concreto sozinho para confecção das nossas estruturas.

1.2 O concreto armado


Já que o concreto não resiste muito bem à tração, um dia tiveram uma
ideia magnífica: “Vamos colocar um material bom à tração dentro desse concreto
que já é bom à compressão. Aí teremos um novo material, bom de compressão e
também de tração”.

E qual material colocamos? Um chiclete?


a arte de projetar estruturas de concreto armado 9

“Não! Vamos colocar o aço, que tem um coeficiente de dilatação térmica


semelhante ao do concreto”

“Aí, na hora que um dilatar, o outro vai junto”.

E assim nasceu o material compósito concreto armado, que tem o concreto


resistindo à compressão e o aço à tração (na maioria dos casos), que é
especificamente o que vamos tratar daqui para frente e cujo funcionamento está
ilustrado na figura a seguir:

Perceba que onde tem tração, tem armadura! E onde tem somente
compressão, teoricamente, não precisamos de armadura, já que o concreto dá
conta sozinho.

Porém, nem tudo são flores! Por questões construtivas, temos que ter
armadura na parte de baixo e na parte de cima das vigas, mesmo sem precisar.

Isso porque temos que garantir o formato geométrico da viga e para tal,
precisamos de armaduras para fazer a função de quina.

Assim, por mais que somente em uma face exista tração, teremos que ter
armaduras nas duas faces da viga.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 10

1.3 Produção do concreto e suas falhas…


O concreto é suscetível a uma grande possibilidade de erros de produção.
Às vezes, colocam água demais, outrora aproveitam restos do dia anterior.
Verdade é que, por poder ser moldado com relativa facilidade, o concreto é ainda
muito dependente do controle de qualidade da obra.

Com isso, ele passa a ser um material com uma razoável margem de
incerteza no seu processo produtivo. E isso é, para nós, um grande desafio.

1.4 O tal do Fck


Por esse (e por outros) motivos, existe uma grande preocupação em
determinar qual seria a resistência, de fato, de um concreto que foi implementado
em alguma obra.

E para isso, são necessários ensaios de laboratório que nos dão uma pista
do quanto um concreto aguenta.

Ah! Matheus, e como funcionam esses ensaios?

Imagine que você moldou 100 corpos de prova de uma obra. Depois de 28
dias, você irá rompê-los na prensa.

Durante o processo, você foi contabilizando a resistência de cada um. Ao


terminar as 100 rupturas, você pegou os valores de resistência e ordenou do
menor para o maior.

Fck é a resistência do 5º corpo de prova da lista. Ou seja, fck é a resistência


do concreto que tem a probabilidade de apenas 5% dos demais corpos de prova
ter uma resistência igual ou inferior.

1.5 E o aço?
Bom, ao contrário do concreto e sua frágil cadeia de produção, o aço é um
material com um maior controle de qualidade em sua produção. Isso faz com que
sua utilização não precise de tanta preocupação quanto à sua qualidade original.

Então por que usamos concreto armado e não uma estrutura somente de
aço?
a arte de projetar estruturas de concreto armado 11

Essa é uma dúvida bem interessante, já que o aço se apresenta como um


material resistente, com ótimo controle de qualidade e ainda, relativamente leve.

O que acontece no Brasil é que o concreto armado pode ser moldado em


locais de difícil acesso, como por exemplo localidades rurais. Uma outra questão
é a quantidade de mão de obra disponível para cada tecnologia construtiva, já
que a grande maioria dos trabalhadores da construção civil estão acostumados
com os métodos construtivos do concreto armado e não estão habituados às
práticas das estruturas de aço.

Ainda, de forma mais técnica, o concreto armado apresenta a vantagem


de ser moldado conforme a necessidade. Isso gera uma vantagem enorme do
concreto armado sobre o aço, que ao contrário do concreto, é produzido em
indústrias de forma padronizada e inflexível.

No quesito resistência, não tem como comparar: o aço é muito melhor. Isso
acaba gerando outro contraste entre as duas e que o concreto armado perde: as
estruturas de aço ficam bem mais leves.

Agora, mesmo com todas as vantagens que o aço apresenta, no Brasil, o


concreto armado ainda reina! E por esse motivo, nas próprias faculdades, se
ensina muito mais o concreto armado, que é o grande assunto deste nosso livro!

1.6 Os concretos e os aços comerciais


Dito tudo isso, vamos complementar nossa discussão com informações
práticas de como o concreto armado é comprado no mercado da construção civil.

Concreto

O concreto é adquirido em empresas concreteiras, que vendem o chamado


concreto usinado, ou feitos no local da obra, usando os insumos adquiridos nos
depósitos de construção.

O concreto ainda pode receber algumas características especiais, como alta


resistência inicial, alteração do tempo de pega e outros.

Isso é possível a partir da inserção de aditivos (materiais complementares) que


alteram a característica do concreto para algo que precisamos.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 12

Aço

O aço é vendido hoje em duas formas principais: CA-50 e CA-60. Ainda, temos o
CA-25, que apresenta um conjunto de aplicações mais restrito. Eu mesmo nunca
vi usando o CA-25.

Os aços CA-50 são vendidos com as seguintes bitolas:

Bitola (mm) Bitola (pol) Área (cm²) Massa (kg/m) Preço - 2023

6,3 1/4 0,312 0,245 24,00

8,0 5/16 0,502 0,395 35,00

10,0 3/8 0,785 0,617 49,00

12,5 1/2 1,227 0,963 99,00

16,0 5/8 2,010 1,578 215,00

20,0 3/4 3,141 2,466 265,00

25,0 1 4,908 3,853 525,00

32,0 1 1/4 8,042 6,313 880,00

40,0 1 1/2 12,566 9,864 1500,00

Os aços CA-60 são vendidos com as seguintes bitolas (principais):

Bitola (mm) Bitola (pol) Área (cm²) Massa (kg/m) Preço - 2023

4,2 5/32 0,138 0,109 11,00

5,0 3/16 0,196 0,154 15,00

OBS: Os preços acima são estimados e servem apenas para fins de realização dos
exercícios deste livro.

Exercícios
a arte de projetar estruturas de concreto armado 13

2.1 O concreto é um material de construção que pode ser empregado em duas


vertentes na engenharia civil: como material de construção e como material
estrutural.

A grande diferença entre as aplicações está na capacidade resistente aos


esforços estruturais. Vamos à algumas análises importantes:

a) Um supermercado está prevendo um piso de concreto. Esse material, após a


concretagem, se comportará como _____________________.

b) A parede em um canal hidráulico para fins de escoamento de um curso d’água


em um perímetro urbano suportará o empuxo do solo e quando cheio (dias de
chuva), também a carga d’água. Esse material, após a concretagem, se
comportará como _____________________.

c) As sarjetas são executadas em concreto, visando a durabilidade como


ferramenta importante no processo de drenagem urbana. Esse material, após a
concretagem, se comportará como _____________________.

2.2 O aço e o concreto tem uma propriedade física extremamente importante em


comum, que torna possível a formação do compósito concreto armado. Que
propriedade física é essa e qual o seu valor?

2.3 Qual a diferença entre concreto armado e concreto protendido.

2.4 Na sua opinião, qual a principal vantagem do concreto armado?

2.5 Nós temos três tipos de aço para construção civil: CA-25, CA-50 e CA-60. Eles
têm a mesma aderência ao concreto? (Se vocês ainda não conhecem os tipos de
aço, uma rápida consulta à internet irá auxiliá-los)

2.6 Para relembrarmos de Resistência dos Materiais: Qual é o esforço que o aço
causa no concreto quando eles são submetidos aos esforços de tração?
a arte de projetar estruturas de concreto armado 14

2. Ações estruturais
Na laje acima, percebemos que cada componente construtivo tem o seu
peso específico, que é fornecido pela NBR 6120. Porém, como determinar como
essas ações irão atuar na estrutura e como serão feitas as combinações delas
dentro dos estados limites de desempenho?

É bem isso que vamos aprender neste capítulo mega especial! Vamos lá?

2.1 O que são as ações estruturais


Quando aplicamos uma força para abrir uma porta, por exemplo, nada
mais ocorre do que a simples aplicação de uma ação sobre a maçaneta da porta.

Neste caso específico, o conjunto porta e maçaneta é projetado


intencionalmente para não reagir à nossa ação e a porta acaba se abrindo.

Ou seja, uma ação representa nada mais do que um esforço para que algo
se movimente. Porém, se não tivermos movimentação, não quer dizer que não
tivemos a ação. Apenas que, de alguma forma, uma reação exercida por algum
a arte de projetar estruturas de concreto armado 15

elemento da estrutura foi competente o bastante para bloquear a eficácia desta


ação em um processo físico de ação e reação.

2.2 Tipos de ações estruturais


Agora, imagine a nossa porta do exemplo anterior. Apesar do peso próprio
da porta sempre está ali, a força que exercemos na intenção de abri-la é aplicada
por apenas alguns instantes.

Ou seja, existe uma certa lógica da duração das ações estruturais. Nesse
sentido, podemos classificar as nossas ações da seguinte forma:

● Permanentes: São aquelas que permanecem com um valor fixo em toda a


vida útil de uma edificação. Um bom exemplo disso é o peso do tronco de
uma árvore após essa alcançar a fase adulta.

Durante toda a vida desta árvore, o tronco estará aplicando seu peso sobre
as raízes.

● Variáveis: São aquelas que se apresentam de forma totalmente incerta,


tanto em questão de valores quanto em duração de aplicação. Ou seja, em
alguns casos, a ação estará na estrutura. Em outros, já não estará mais. E
quando estiver, apresentará sempre um valor diferente um do outro. Um
bom exemplo disso é o peso das folhas e frutos da nossa árvore. Em algum
momento, teremos folhas e frutos. Em outros, apenas folhas. No outono,
até as folhas irão cair. Ou seja, teremos diferentes valores de carga sendo
aplicados nos diferentes períodos da vida útil da estrutura.

● Excepcional: São aquelas que possivelmente nunca ocorrerão na vida útil


da edificação. Mas, se ocorrer, será por um curto período de tempo. É o
caso, por exemplo, do dia que a gente cai de uma bicicleta ou sofre um
escorregão.

A imagem abaixo ilustra como essas ações podem aparecer na estrutura:


a arte de projetar estruturas de concreto armado 16

E as ações excepcionais? Por que não apareceram na árvore? Bom, por


que o melhor exemplo de ação excepcional em uma árvore é um machado
cortando a coitada! Então é melhor deixar sem ela no nosso exemplo, não é
mesmo?

2.3 Valores característicos e de projeto


No Brasil, os valores das ações estruturais são orientados pela NBR
6120:2019. Nela, temos tabelas dos pesos dos mais diversos elementos de uma
estrutura e também taxas de cargas para as mais diversas funções arquitetônicas
(ex: academia, biblioteca).

Porém, nessa norma, o que temos como dados de consulta são valores
característicos de ações. E o que vem a ser isso na prática?

Bom, os valores característicos são intensidades de cargas estimadas para


uma determinada situação. Porém, esta estimativa não contempla combinações
possíveis ou imperfeições nos processos construtivos. Ou seja, esses valores não
possuem ponderações de segurança ou de baixa probabilidade de ocorrência.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 17

Portanto, sobre um valor característico de ação, temos ainda que aplicar


as devidas considerações de majoração ou minoração.

Na NBR 6118:2014, essas ponderações são feitas pelo método dos estados
limites. Ou seja, ao invés de majorar uma carga especificamente com um
coeficiente de segurança fixo (estratégia determinística), fazemos as
combinações das mais diversas cargas contemplando as chances de que elas
ocorram de forma simultânea (estratégia probabilística).

Basicamente, deixamos de lado a ideia de aplicar um coeficiente de


segurança único em todos os casos possíveis de uma estrutura e passamos a
pensar tentando visualizar como cada caso poderá, junto aos demais, impactar a
estrutura.

Assim, o que achamos ao fim deste processo, será o que chamamos de


solicitação de projeto, que é o que de fato usamos para dimensionar um elemento
estrutural.

Trocando em miúdos, não é com a carga do vento que dimensionamentos


um pilar, e sim com o valor de solicitação ponderada a partir das ações do vento,
do peso das pessoas, dos móveis, do próprio concreto armado, etc. e ainda,
prevendo a pior situação dentre as inúmeras possíveis combinações dessas
ações.

2.4 Segurança estrutural


Para que a segurança estrutural seja mantida, temos que respeitar a
seguinte inequação:

onde Sd é a solicitação de cálculo, ou seja, os esforços solicitantes já majorados


e Rd a resistência de cálculo, ou seja, a resistência do material já minorada.

Agora, vamos aprender a como calcular o Sd, que é feito, segundo as


normas brasileiras, por um processo de combinação de ações.

2.5 A combinação das ações


a arte de projetar estruturas de concreto armado 18

A combinação de ações visa analisar a estrutura sob toda e qualquer


agrupamento possível de ações. Segundo a NBR 6118, para as combinações
normais, especiais ou de construção, essa ação combinada, ou ação de projeto
Fd é dada por:

Onde γg pondera uma ação permanentes Fgk (k aqui no sentido de o F ser característico,
ou seja, não majorado), γq pondera as ações variáveis Fqk, γε pondera as ações indiretas e
impostas Fεk, como recalques de apoio, retração e cargas de dilatação térmica.

Para montarmos as combinações de ações com as devidas ponderações,


precisamos utilizar a tabela abaixo:

Valores γf

Tipo de Recalques de apoio


combinação de Permanentes (g) Variáveis (q) e retração (ε)
ações
D F G T D F

Normais 1,4(a) 1 1,4 1,2 1,2 0

Especiais/
construção 1,3 1 1,2 1 1,2 0

Excepcionais 1,2 1 1 0 0 0
OBS: D é desfavorável, F é favorável, G representa as cargas variáveis em geral e T é a
temperatura. (a) Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso
próprio das estruturas, especialmente as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser
reduzido para 1,3.

Exemplo 1

Em um pilar de concreto armado, temos a ocorrência de uma carga


permanente de 10tf de compressão, uma variável de tração por motivos gerais
de 2tf e outra de compressão por motivos gerais de 3tf. Assim, para uma primeira
combinação com todas as possíveis ações, teremos:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 19

Perceba que nesta combinação, temos uma carga que alivia o pilar, ou
seja, com ela, o pilar fica menos carregado. O complicado é que essa é uma ação
variável e portanto, pode ser que em algum momento não esteja carregando a
estrutura. Com isso, precisamos fazer uma combinação retirando ela para ver o
que teremos atuando no nosso pilar:

Ou seja, sem essa ação, a estrutura alcançará seu ponto crítico. Assim, Fd
= 18,2tf.

Exemplo 2

Em um pilar de concreto armado, temos a ocorrência de uma carga


permanente de 4tf de compressão, uma variável de tração por motivos gerais de
7tf e outra de compressão por motivos gerais de 0,5tf. Assim, para uma primeira
combinação com todas as possíveis ações, teremos:

Agora, perceba que a carga permanente atua em sentido contrário à


resultante das forças. Isso é interessante pois neste caso, a carga permanente
atua aliviando a estrutura. Mas aí surge outra dúvida: E se este elemento
estrutural for executado com alguma diferença que o faça ter um peso próprio
menor?

Perceba que uma valor de cargas permanentes eleva a carga final de


projeto desta combinação. Apenas como exemplo, retire a carga permanente da
combinação. Sobrará 9,1tf de tração, ou seja, bem acima dos 4,05tf de tração que
a combinação 1 entregou.

Assim, prever alguma falha na execução das cargas permanentes pode ser
algo interessante de fazermos. E para isso, podemos usar a coluna favorável da
tabela de coeficientes, que diz que nesse caso, temos que multiplicar a carga por
1.

Assim, teremos:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 20

Perceba ainda que a carga variável de 0,5 ainda está aliviando a estrutura,
ou seja, no momento em que ela não estiver ocorrendo, atingiremos o ponto
máximo de carga de tração. Olha só:

Ou seja, neste caso, a carga crítica é -5,8tf.

Exercícios

1 Sobre um determinado pilar está atuando exclusivamente uma ação de valor


característico de 1000Kgf. Assumindo-se que essa ação é permanente e que
faremos uma consideração de combinações de ações normais em uma situação
desfavorável, qual será o seu valor de projeto no cálculo estrutural?

2 Em um pilar de uma residência a qual você está projetando, estão sendo


aplicadas as seguintes ações axiais:

- Ações permanentes = 20KN

- Ação variável 1= 10KN

- Ação variável 2 = - 5KN

a) Faça a combinação de ações dentro do ELU considerando que estará


atuando: Ações permanentes D, Ação variável 1 e Ação variável 2.

b) Faça a combinação de ações dentro do ELU considerando que estará


atuando: Ações permanentes F, Ação variável 1.

c) Qual das combinações de ações dentro do ELU acima oferece a situação


mais crítica de projeto, ou seja o Nd do pilar?

3 Você está desenvolvendo um projeto estrutural de uma viga de concreto


armado solicitado por ações permanentes e variáveis. Esse projeto está ilustrado
abaixo:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 21

OBS: Os valores acima representam as ações características. L1 = 4m e L2 = 1,5m.

Os valores das ações são os seguintes:

A1 = Ação permanente de 10KN/m

A2 = Ação variável de 7KN/m

A3 = Ação permanente de 15KN

Com base nas informações apresentadas, proceda com as seguintes questões:

a) Faça a combinação das ações acima no ELU para o Nd do pilar A considerando


todas como desfavoráveis.

b) Faça a combinação das ações acima no ELU para o Nd do pilar A considerando


que a ação permanente A3 seria favorável.

c) Para qual combinação (a ou b), devemos dimensionar o nosso pilar?

4 Para o projeto estrutural da viga abaixo, encontre quais são os valores de


projeto dos momentos fletores máximos, considerando uma combinação de
ações normais.

OBS: Os valores acima representam as ações características. L1 = 4m e L2 = 1,5m.

G1 = 10KN/m

G2 = 5KN/m
a arte de projetar estruturas de concreto armado 22

Q1 = 20KN

Q2 = 5KN

Combinações de ações desejáveis:

C1 = G1D + G2D + Q1 + Q2

C2 = G1D + G2F + Q1 + Q2

C3 = G1D + G2D + Q1

C4 = G1D + G2D + Q2

C5 = G1D + G2D
a arte de projetar estruturas de concreto armado 23

3. Concepção Estrutural
Na estrutura acima, percebemos que deslocamentos horizontais ocorrem
em função da ação do vento. Na prática, como isso impacta a estrutura?

Neste capítulo, nós vamos compreender como funcionam os coeficientes


de instabilidade e como tomarmos decisões para tornar as nossas estruturas
estáveis.

3.1 Introdução à tal de estabilidade global


Sabe aquela brincadeira de andar em cima da guia de calçadas? Sim, eu
fazia muito isso quando era criança.

Porém, o que eu não sabia é que aquela brincadeira escondia um dos


conceitos mais importantes da engenharia estrutural: o de estabilidade.

Mas olha só: Durante a faculdade, aprendemos muito sobre uma coisa que
tem um nome parecido: estaticidade.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 24

E como você já deve está esperando, essas duas coisas não são iguais. Mas
então, o que vem a ser estabilidade?

Fisicamente, estabilidade é a condição que algo tem de permanecer em


um determinado estado.

Assim, trazendo para a nossa engenharia de estruturas, a estabilidade é a


capacidade que uma estrutura terá de não ter seu comportamento alterado.
Ainda está difícil de entender, né?

Então vamos para uma ilustração para entendermos isso melhor?

Imagine que você está carregando um saco de cimento nas costas. O fato
de você está aguentando carregar o cimento já indica que existe ali um equilíbrio.
Se você ficar parado com saco de cimento nas costas, é um equilíbrio estático. Se
você andar e tudo ficar certinho ainda, passa a ser um equilíbrio dinâmico.

Até aí tudo bem. O grande problema é que, depois de algum tempo, você
vai cansar e com isso, o cimento vai começar a “querer” cair dos seus braços.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 25

Sua postura também vai alterar e toda uma geometria inicialmente


existente será perdida.

Agora, apesar do equilíbrio ainda existir, ele começou a mostrar que pode
ser perdido a qualquer momento. Ou seja, agora ele está um equilíbrio instável.

Se porventura alguém aparecer e te ajudar segurando o cimento para


você, o equilíbrio voltará a ser estável.

Assim, quando tratamos do termo estabilidade em estruturas, estamos


falando do potencial que uma estrutura tem de perder seu equilíbrio (estático ou
dinâmico).

3.2 Efeitos de 1ª e 2ª ordem


Para compreender melhor como a estabilidade global das estruturas
funciona, vamos dar uma passadinha nos efeitos de primeira e segunda ordem.

Para entender esse assunto, vamos a um exemplo bem simples:

magine que você pegou um saco de cimento e colocou sobre o ombro para
levar até a obra.

Em um instante inicial, o seu corpo (estrutura) está alinhado e descansado!

Assim, o seu corpo, que até então está alinhado (estrutura indeformada),
irá reagir somente ao esforço causado pelo saco de cimento (esforço inicial) e
tudo vai ficar certinho e em equilíbrio!

É isso que chamamos de efeitos de 1ª ordem! Ou seja, as consequências


causadas pelas cargas que atuam na estrutura indeformada!

Porém, conforme você for andando, você se cansará e por isso, acabará
inclinando o corpo um pouco para frente (deformação).

Essa inclinação ocorrerá por conta das tensões aplicadas pelo saco de
cimento!
a arte de projetar estruturas de concreto armado 26

O detalhe mais importante é que quando o seu corpo se inclina, a força


peso do saco de cimento saiu do eixo do corpo (agora, a força está a uma certa
distância do eixo do corpo, chamada excentricidade).

Por conta disso, um esforço de momento adicional passa a ser aplicado


(peso x distância do saco de cimento até o eixo do corpo = momento adicional).

É simples de ver que ele vai ter que reagir a esse esforço adicional de
alguma forma, não é mesmo? Ou o corpo acabará caindo no meio da rua!

E é aí que entra a nossa preocupação!

Toda essa análise do corpo inclinado (estrutura deformada) e o surgimento


de esforços adicionais é o que chamamos de análise dos efeitos de 2ª ordem!

A grande questão é que a instabilidade pode ser maximizada pelos efeitos


de 2ª ordem, ou seja, o cansaço pode ir ficando cada vez maior até que você
tomba com o saco de cimento.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 27

Por isso, compreender a influência desses efeitos no comportamento da


estrutura é extremamente importante, visto que temos que projetá-las para não
tombar quando estiverem "cansadas", ou seja, geometricamente e fisicamente
impactadas (não linearidade estrutural).

3.2 E como medir a instabilidade?


Vamos imaginar uma situação bem simples: Alguém que não sabe andar
de bicicleta tentando aprender.

É esperado que essa pessoa dê uma balançada para cá e pra lá durante a


pedalada, não é mesmo?

E o interessante é que, até um certo limite, essa pessoa não perderá o


equilíbrio. Passando deste ponto, a queda é certa!

Então como podemos medir esse potencial de queda? Talvez pela distância
que seu corpo sai do centro de massa quando dá aquela balançada! Sim, medir o
deslocamento horizontal é uma boa alternativa.

Nas estruturas de concreto armado, as coisas funcionam de forma similar.


Nós metrificamos os deslocamentos que acontecem na estrutura para identificar
como está a estabilidade dela.

Ah! Matheus, mas medir o deslocamento lateral não é uma boa… Imagine
que o ciclista esteja fazendo uma curva. É natural que ele incline a bicicleta para
fazer a curva e isso nada tem a ver com o ciclista cair, não é mesmo?

Então, além de medir o deslocamento do ciclista, precisamos também


identificar o motivo desse deslocamento, pois assim que a curva passar, o ciclista
vai alinhar o corpo novamente e tudo vai ficar bem.

O complicado é se o corpo ir e não conseguir voltar mais. E em estruturas,


é exatamente isso que a gente se preocupa e tenta metrificar! E para isso, temos
a disposição algumas estratégias. Vamos conhecê-las?

3.2.1 O Gama-Z (γz)


a arte de projetar estruturas de concreto armado 28

O gama-z é o coeficiente de instabilidade que compara os deslocamentos


causados pela ação do vento (que são normais e esperados) com os que
acontecem por outros motivos (como por exemplo assimetria na estrutura).

Com isso, ele consegue medir o que vai acontecer em dias que não
estiverem ventando, ou seja, causados por características “pessoais” da
estrutura.

Isso é muito interessante, pois assim, conseguimos modelar a estrutura


para que, sem a interferência de ventos, ela fique certinha! Na hora que ventar, a
estrutura desloca, mas quando o vento parar, ela irá voltar para o lugar de
origem! Isso é que é a nossa famosa estabilidade!

Mas e como o nosso gama-z é calculado? Da seguinte forma:

Onde P são as cargas verticais e V as cargas de vento. Vamos então a um exemplo


resolvido?

Exemplo
a arte de projetar estruturas de concreto armado 29

Suponha que, em um prédio com 80tf de cargas verticais e deslocamento


horizontal no topo de 28mm, temos a atuação de um Vento x Gabarito total de
30.000tf.mm.

3.2.1 O P-Delta (pΔ)

O P-Delta é uma estratégia para avaliar a relevância dos efeitos de segunda


ordem quando comparados com os de primeira ordem. Voltando ao exemplo do
saco de cimento, a ideia do P-delta é ver o quanto a nossa tendência de cair com
um saco de cimento é influenciada pelo peso do saco de cimento e o que, na
verdade, é influenciada pela fraqueza dos músculos. Em resumo, a ideia é meio
que achar o culpado pela queda.

O P-Delta pode ser usado principalmente em estruturas com nós móveis, ou seja,
com Gama-Z maior que 1,10.

O P-Delta é um processo iterativo, ou seja, que é realizado com várias repetições


(como por exemplo, o Processo de Cross).

(CONTINUA…)

Exercícios

1. Segundo a NBR 6118:2014, um dos instrumentos de metrificação da estabilidade


global de um edifício é o Coeficiente de Instabilidade Gama-Z, cuja fórmula é
apresentada abaixo:

onde,

- ΔMtot,d é o somatório dos produtos das forças gravitacionais pelos


deslocamentos horizontais de primeira ordem;
a arte de projetar estruturas de concreto armado 30

- M1tot,d é o somatório dos momentos causados pelas forças horizontais em


cada pavimento da estrutura.

Faça uma análise desta fórmula e indique qual a importância de cada elemento
no resultado final.

2. Modele as estruturas abaixo no Ftool e após, calcule o coeficiente Gama-Z


seguindo as especificações de rigidez:

a) Todos os elementos possuem a mesma rigidez.


E = 25GPa e I = 5e-3m^4

b) Vigas: E = 25GPa e I = 5e-3m^4; Pilares: E = 25GPa e I = 1e-2m^4


a arte de projetar estruturas de concreto armado 31

3. A estrutura abaixo apresenta Gama-Z maior que 1,10, o que na prática de


projeto, indica que os efeitos de 2ª ordem são significativos. Considerando que
esses efeitos não são desejáveis para este projeto, resolva esse problema de
forma que o Gama-Z seja menor que 1,10.

E = 10GPa; Seção de todos os elementos: 13cm x 13cm

4. Calcule o coeficiente Gama-Z da estrutura abaixo sem e com


contraventamento (escolha algum tipo).
a arte de projetar estruturas de concreto armado 32

E = 10GPa

Seções (inclusive do elemento de contraventamento): 20cm x 20cm

O que você conclui a partir dos resultados encontrados?

5. Agora, compare os resultados da estrutura contraventada com uma outra


opção de projeto, onde os apoios serão engastados e não teremos
contraventamento. Qual apresentou melhor resultado no que se refere à
estabilidade global?

6. Ainda, na sua opinião, o resultado que você encontrou é uma verdade plena?
Ou existem variáveis na estrutura modelada que, se alteradas, mudarão
totalmente os resultados?

7. Faça uma pesquisa na internet e descubra como os contraventamentos são


feitos em estruturas de concreto armado.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 33
a arte de projetar estruturas de concreto armado 34

4. Lajes de concreto armado


A laje desenhada acima é treliçada com enchimento de lajota cerâmica.
Você sabe se este tipo de enchimento é vantajoso em relação ao de EPS? Neste
capítulo, você irá aprender todo o processo de projeto de lajes pré-moldadas de
concreto armado, tanto com enchimento de lajota cerâmica quanto de EPS e a
como tomar a decisão de qual estratégia utilizar.

4.1 Lajes Treliçadas

4.2.1 Introdução

Nos mais diversos cursos de engenharia civil distribuídos pelo nosso país,
o conteúdo de lajes de concreto armado foca apenas em lajes maciças. Eu mesmo
aprendi somente laje maciça na faculdade, o que ressalto ser extremamente
importante!

No entanto, não podemos limitar o ensino de lajes apenas às maciças, visto


que a cada dia que se passa, mais se utilizam as modalidades de lajes pré-
moldadas na construção civil, área que mais empregará vocês!

4.2.2 Tipos de lajes treliçadas


a arte de projetar estruturas de concreto armado 35

As lajes, tais como usamos na construção civil atual, podem ser


classificadas de diversas formas.

No entanto, aqui neste livro, iremos focar apenas em lajes treliçadas


unidirecionais e com dois tipos de enchimentos: EPS e Cerâmico.

Mas e aí? Quando iremos escolher este tipo de laje? Qual dos dois tipos de
enchimento é melhor?

Olha só: as lajes treliçadas são as mais empregadas atualmente em


construções residenciais e comerciais convencionais, ou seja, sem vãos muito
grandes.

Para situações industriais ou de vãos e cargas fora do padrão de uma


residência ou um comércio, teremos que partir para soluções como laje
protendida, alveolar, nervurada, etc.

Porém, como o objetivo deste livro é focar na base do conhecimento de


projeto de estruturas de concreto armado, iremos focar somente nos métodos
convencionais.

Se você estiver precisando de alguma estratégia mais avançada, sugiro


que procure materiais dos fabricantes. Com o conhecimento básico e o guia dos
fabricantes, você conseguirá desenvolver seus projetos.

No caso específico dos blocos de enchimento, temos alguns pontos a serem


considerados:

Por este motivo, iremos abrir nosso capítulo ensinando exatamente as lajes
treliçadas (as lajes maciças virão na próxima seção).

4.2.1 Cargas em Lajes Treliçadas

O que precisamos saber para calcular as lajes treliçadas?

Um primeiro passo é contemplar as cargas que estarão atuando sobre as


nossas lajes. Ou seja, as lajes não são tão padronizadas o quanto parece quando
olhamos uma execução de uma obra por aí.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 36

Nós teremos cargas diferentes para quartos, escritórios e despensas, por


exemplo. Dá só uma olhada na seguinte ilustração:

Nela, temos dois ambientes até parecidos (banheiros e área de serviço),


porém com cargas diferentes, segundo a NBR 6120.

A ideia da norma ao fornecer essas cargas padronizadas é dar aos


projetistas um valor baseado em uma baixa probabilidade destes valores não
serem ultrapassados na prática, para que assim, a nossa estrutura seja calculada
com o máximo de fidelidade possível em relação a sua função arquitetônica.

A norma traz inúmeras situações e seus respectivos valores de carga.


Como são muitos, eu trouxe apenas aqueles que considero os principais, para que
usemos aqui em nosso livro:

Ambiente Carga em KN/m² Carga em Kgf/m²

Quartos 150

Banheiros 150

Sala/Cozinha 150

Despensa/Área de Serviço
a arte de projetar estruturas de concreto armado 37

Escada de uma casa

Sala de aula

Biblioteca

Escada de um prédio público

4.2.2 Dimensionamento de Lajes Treliçadas

O dimensionamento deste tipo de laje é feito basicamente por meio da


escolha de quais tipos de vigotas treliçadas e bloco de enchimentos iremos
utilizar!

Vamos ver como tudo funciona?

No fim deste livro, eu adicionei um manual de lajes treliçadas (o fabricante


em questão é a ArcelorMittal, mas poderia ser qualquer outro, desde que
respeitadas as especificações de cada produto).

Nesse manual, temos diversas especificações sobre o projeto das lajes


treliçadas. Como muito do que tem no manual já lhes foi apresentado
previamente, vamos focar especificamente no dimensionamento das vigotas
treliçadas!

Para tal, o manual traz tabelas de dimensionamento a partir da página 23


do arquivo PDF.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 38

Acima, eu reproduzi uma das tabelas que tem no manual, que foi feita
especificamente para a vigota modelo TB 8L.

Esse código quer dizer T = treliça, B = Belgo (marca), L = Leve, 8 = 8cm de


altura h. Maiores detalhes podem ser vistos diretamente no manual.

Agora, com os valores de carga acidental da laje e o vão livre, você


consegue encontrar a quantidade de armadura adicional necessária (se for
necessária).
a arte de projetar estruturas de concreto armado 39

Vamos a um exemplo?

Exemplo 1

Dimensione uma laje treliçada para o seguinte ambiente:

Iremos utilizar enchimento de bloco cerâmico e a carga acidental de


projeto é 70Kgf/m² ou 0,7KN/m².

Uma decisão que precisamos tomar também é o sentido das vigotas. Na


maioria dos casos, jogamos a vigota no sentido do menor vão. Assim, teremos:

Agora, iremos consultar as tabelas. A ideia é iniciar pela primeira tabela


(mais econômica) e somente ir para a próxima se a vigota treliçada não puder
ser utilizada! Vamos lá então?

Ao analisar a primeira tabela, temos que pelo cruzamento da nossa carga


acidental com o nosso vão (se não tiver a informação exata, pegue uma maior),
a situação que atenderá a nossa laje será:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 40

Consultando a legenda...

… Temos que uma vigota TB 8L sem nenhuma armadura adicional já atende à


nossa laje.

Vamos ver outro exemplo, agora de um ambiente um pouco maior e com


mais carga.

Iremos utilizar enchimento de bloco cerâmico e a carga acidental de


projeto é 200Kgf/m² ou 2KN/m².
a arte de projetar estruturas de concreto armado 41

Agora, vamos procurar a treliça adequada ao nosso projeto. Na primeira


opção, vemos que a vigota não nos atende.

Agora, vamos para a próxima tabela:

Agora, a vigota nos atende. Porém, precisamos de uma armadura


adicional na mesa da treliça de duas barras de 4.2mm (nada mal).

Ainda, pela cor da legenda, precisamos especificar para o pessoal da obra


deixar uma contra-flecha de 1,5cm.

Pronto! Agora é só construir e ser feliz!


a arte de projetar estruturas de concreto armado 42

5. Vigas de concreto armado


a arte de projetar estruturas de concreto armado 43

Aprenda todo o processo de projeto de vigas de concreto armado.

5.1 Um pouco sobre vigas de concreto armado

5.1.1 Conceito de vigas

As vigas são elementos lineares em que o comprimento longitudinal L é ao


menos 3 vezes maior que a maior dimensão da seção transversal do elemento.
Essas vigas atuam combatendo principalmente a esforços de flexão e
cisalhamento oriundos de cargas verticais.

Caso tenhamos cargas horizontais, o modelo estrutura de viga de Euller-


Bernoulli não é mais válido, sendo que o ideal é projetar a estrutura usando o
modelo de pórticos. Aqui, por uma questão pedagógica, iremos considerar que as
nossas vigas estarão submetidas apenas à flexão e cisalhamento.

Nesse sentido, para o dimensionamento de vigas de concreto armado,


precisamos primeiramente distinguir como os esforços solicitantes de flexão e
cisalhamento podem atuar:

● Flexão pura: é quando apenas um momento fletor atua na viga. Isso só


ocorre em pontos onde o cisalhamento é nulo (neste caso, derivada da
função momento é nula, ou seja, em um máximo/mínimo de momento)
● Flexão simples: junto ao momento, temos cisalhamento. Isso ocorre em
todos os pontos de uma viga, com exceção do ponto de momento máximo
ou momento nulo.
● Flexão composta: junto ao momento e ao cisalhamento, agora teremos
forças normais. Isso ocorre quando a viga é solicitada por uma ação ou
componente de ação horizontal. É um caso teoricamente raro e portanto,
não será contemplado neste livro.

A flexão pura, tal como calculamos, é uma abstração teórica (tal como
muita coisa em cálculo estrutural), porém, de grande valor pedagógico. Vale
lembrar ainda que a flexão é um tipo de solicitação que automaticamente traz
junto de si esforços de compressão e de tração.

5.1.2 Como funcionam as vigas de concreto armado


a arte de projetar estruturas de concreto armado 44

No entanto, nós sabemos que o concreto é um material que resiste bem


apenas aos esforços de compressão. Por esse motivo, teríamos, em uma viga feita
apenas de concreto, grandes problemas na parte tracionada.

Por esse motivo, temos que adicionar, na parte tracionada, um material


que resiste bem à tração. E ainda, que possui propriedades físicas similares ao
concreto, para não ter problemas como dilatações distintas ou coisas do tipo.

Assim, com essas especificações, o melhor material até então desenvolvido


é o aço de construção civil. A imagem a seguir mostra como tudo isso funciona:

Perceba que, onde temos tração, precisamos colocar as armaduras. O legal


é que nos diagramas de momento, temos as regiões positivas e negativas. No
cotidiano de projetos e obras, as armaduras que combatem esses esforços
recebem exatamente os mesmos nomes: armaduras positivas atuando no
combate ao momento positivo e armaduras negativas combatendo os momentos
negativos.

Mas o que tem por trás dessa ideia de usar armaduras para combater
tração? Como se comporta o concreto quando inserimos um material estranho a
ele. A seguir, vamos dar uma olhada em um dos fundamentos mais importantes
do dimensionamento de vigas de concreto armado: os domínios do concreto.

5.1.3 Domínios do concreto


a arte de projetar estruturas de concreto armado 45

Os domínios do concreto são classificações de uma peça estrutural de


acordo com a posição de sua linha neutra, ou seja, a região de transição entre
tração e compressão em uma viga de concreto armado, conforme ilustrado a
seguir:

Basicamente, o que teremos nestes domínios são situações de comportamento


mecânico à ruptura do concreto e da armadura.

Os três domínios típicos da flexão são:

- Domínio I, onde a peça trabalha somente a uma tração não uniforme.

- Domínio II, onde a peça trabalha sob tração, mas agora também com um
pouco de compressão.

- Domínio III, onde a peça trabalha de uma forma mais equilibrada os


esforços de tração e compressão.

Por uma questão cultural, em várias regiões do Brasil, muito se utilizou


vigas dentro do Domínio III. Por isso, iremos utiliza-lo com maior frequência em
nosso livro.

5.2 Pré-dimensionamento de vigas


a arte de projetar estruturas de concreto armado 46

O pré-dimensionamento é uma etapa importante e imprescindível da


concepção estrutural. É com o pré-dimensionamento que desenvolvemos que são
feitas as análises estruturais iniciais de um projeto.

Cabe ressaltar aqui que temos diversas “dimensões” a serem


determinadas em uma viga. No entanto, nesta etapa específica, conseguimos
obter essencialmente a base bw e a altura h.

As demais dimensões serão determinadas conforme avançamos no


processo do projeto estrutural!

E para encontrarmos nossos bw e h, temos muitas técnicas de pré-


dimensionamento à disposição na literatura e internet. E além delas, temos
algumas que eu mesmo desenvolvi nestes anos que trabalho o conteúdo de
estruturas, que, baseadas em conceitos fundamentais do projeto de estruturas de
concreto armado, concede bons resultados no processo de concepção estrutural.

Nesse sentido, vou apresentar para vocês os seguintes métodos de pré-


dimensionamento de vigas:

- Método simplificado;

- Método da Flecha;
a arte de projetar estruturas de concreto armado 47

- Método dos Domínios do Concreto.

5.2.1 Método Simplificado

O método simplificado é uma estratégia extremamente simples e eficiente


para o pré-dimensionamento. Essencialmente, ele torna diversas variáveis
matemáticas, que na prática se repetem para a maioria dos casos reais, em uma
simples constante.

Assim, a gente consegue definir a altura total h de uma seção transversal


apenas aplicando a seguinte fórmula:

onde L é o vão teórico da viga.

5.2.2 Método da Flecha

Outra técnica que vou discutir com vocês é o pré-dimensionamento usando


o estado limite de serviço de deformações (flechas) excessivas. Em tese, ao pré-
dimensionar para esse critério, sua estrutura somente precisará ser validada
pelos demais (estados limites de serviço e estado limite último).

Vamos ver como isso funciona?

Suponha que a gente tenha a seguinte viga em um projeto que estamos


começando a desenvolver.

Quais serão as suas dimensões?


a arte de projetar estruturas de concreto armado 48

Bem, as dimensões finais é difícil de saber, pois precisamos fazer muitas


verificações para saber ao certo. Porém, pré-dimensionar, ou seja, “chutar”
valores de dimensão é plenamente possível.

E para sabermos chutar de uma forma mais acertiva com o método da


flecha, vamos ver como podemos fazer isso manualmente e usando um software:

Manualmente

Vamos fazer o seguinte: A fórmula da flecha para o caso do exemplo acima é:

Consideraremos E = 21GPa.

E como temos os limites de serviço de deformações excessivas para


respeitar, vamos consultar a tabela 13.3 da norma 6118, que diz quais são os
limites de deslocamento:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 49

Assim, teremos que condicionar nossa flecha ao limite l/250. Como aqui
temos uma flecha para baixo, iremos adotar -l/250. Teremos então:

Como temos os valores de Q, L e E, podemos substituir na fórmula e deixar


I como incógnita.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O Q merece um detalhe especial nesta parte:


nós não temos o peso próprio da estrutura, pois ainda não temos sua dimensão.
Esse é um problema recorrente no cálculo estrutural e que é resolvido
(amenizado) de diversas maneiras. Aqui, vamos apenas desconsiderar sua
existência, visto que, na prática, essa defasagem no Q total irá gerar apenas
alguns ajustes dimensionais no processo de dimensionamento no ELU.

Voltando ao cálculo…

Isolando o I, temos:

Teoricamente, qualquer seção transversal com esse valor de I seria aceita.


Mas vamos mergulhar um pouco mais? Vamos considerar que temos duas
geometrias possíveis para essa viga:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 50

Se usarmos nosso valor de inércia, teremos para cada seção as seguintes


dimensões e áreas (em cinza):

Percebam que as duas soluções são válidas! Elas resolvem o problema da


flecha. Porém, a seção à direita consome menos concreto e tem uma menor
largura (bw).

E aí? Qual escolher?

Depende!

Se você estiver fazendo um projeto que a prioridade é o custo, a melhor


solução é a da direita, visto que uma menor seção te dará um menor volume de
concreto.

Porém, se a sua prioridade for uma viga com menor altura, a melhor
solução é a proposta da esquerda.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 51

Cabe ainda ressaltar que a solução da esquerda tende a ter mais aço que
a da direita. Iremos ver isso com mais detalhes posteriormente, mas adiantar isso
aqui é super válido, já que a quantidade de aço segue uma tendência de ser
inversamente proporcional a altura da viga e diretamente proporcional a área da
seção de concreto.

Trocando em miúdos, quando menor a altura da viga, a tendência é ter


mais aço e, quanto maior a área de concreto, maior a tendência de ter ainda mais
aço.

Software

Em algumas situações, a fórmula da flecha de um sistema estrutural não é


algo simples de se obter (são muitas integrações e por vezes, bem difíceis de
serem feitas), dificultando o processo de pré-dimensionamento usando essa
estratégia.

Quando isso ocorre, podemos recorrer a um software de análise estrutural,


tal como o Ftool, desenvolvido pela PUC-Rio e mundialmente utilizado.

Vamos ver como isso funciona?

Vamos pré-dimensionar a viga abaixo. Percebam que a sua flecha máxima


não é facilmente determinada por fórmulas como o caso anterior, visto que não
temos em tabelas da literatura qual seria a sua fórmula diretamente.

Assim, vamos modelá-la no Ftool. A parte de lançamento geométrico segue


o mesmo fluxo das demais estruturas que vocês já estão acostumados a lançar:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 52

O que temos que fazer a mais é apenas configurar o material com o E =


21GPa,

e também, “chutar uma seção transversal” e ir avaliando se o limite da flecha está


sendo atingido ou não. O ideal nessa etapa é chegar a um limite inferior próximo
ao valor de l/250, que nesse caso será 0,02m (20mm) para o vão e 2 x 0,08m =
0,016m (16mm) para o balanço, considerando a nota 1 da tabela 13.3 da NBR
6118:2014, que instruir que o l deve ser dobrado no balanço:

Assim, eu comecei meu “chute” da seguinte forma:


a arte de projetar estruturas de concreto armado 53

Vamos ver o que deu?

A flecha máxima foi de 1.528 mm, ou seja, bem inferior ao limite. Se


avançarmos com essa seção, é bem provável que que ela não terá problemas em
ser aprovada no ELU, porém, compensa dar uma diminuída nela para ver o que
vai dar…

Como a flecha deu muito abaixo, vou diminuir drasticamente a seção: 12cm
x 15cm. O resultado foi uma flecha de 14,25mm.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 54

Uma outra análise que podemos fazer é considerar agora o peso próprio
acrescido à carga que está atuando:

Como o concreto armado pesa 25KN/m³, podemos considerar que nessa


seção, teremos um peso de 0,45KN/m. O resultado foi:

Ou seja, ao acrescentar o peso próprio, a flecha aumenta, mas não de


forma a ultrapassar o limite.

Vamos à algumas considerações finais?

Vocês perceberam que a seção de concreto ficou bem menor do que


estamos acostumados?

A carga utilizada está dentro do usual (algo em torno de 13 KN/m ou um


pouco mais dependendo do ambiente). Então a carga não é o motivo da
discrepância com o que estamos acostumados.

O módulo de elasticidade do concreto Fck 25MPa é algo em torno de


21GPa, então isso também está ok?

Então, o que foi que aconteceu? Vou mostrar para vocês…


a arte de projetar estruturas de concreto armado 55

Voltando ao Ftool, fiz uma pequena modificação didática na nossa


estrutura:

Retirei o balanço e avaliei a flecha pós alteração. Olhem só: 23,48mm. Com
a mesma configuração, porém sem o balanço, a flecha aumentou 8,9mm, ou seja,
61%. Incrivel, não?

Ou seja, duas coisas são intuitivas: o balanço ajuda e muito a redução de


flechas, o que fica atestado na arquitetura que marcou o Brasil na década de 90,
onde as lajes “inexplicavelmente” saiam para fora da casa:

Eu morei em uma casa assim em Montes Claros! A ideia desse balanço era
diminuir a flecha das lajes! Legal, não é?

Outra coisa que podemos concluir: O critério da flecha não é uma


estratégia muito boa para esses casos, visto que o sistema estrutural é bem
eficiente, entregando flechas muito baixas. Esse tipo de estrutura vai ter
problema mais no ELU do que no ELS.

Portanto, precisamos de mais métodos de pré-dimensionamento, que


entreguem realidades mais abrangentes.

5.2.3 Método dos Domínios do Concreto


a arte de projetar estruturas de concreto armado 56

O método dos domínios é uma estratégia não tão simples quanto as outras
duas, mas talvez que entrega os melhores resultados. Isso porque variáveis
importantes como os resultados de uma análise estrutural, a classe do concreto e
o “quanto” de armadura queremos ter na viga impactar no processo.

Essencialmente, o método consiste em determinar qual a posição da linha


neutra queremos ter na nossa viga. Com isso, as pré-dimensões são
determinadas.

Vamos ver como isso funciona na prática?

No pré-dimensionamento pelos Domínios do Concreto, o ideal é


escolhermos uma profundidade de linha neutra que atenda ao nosso interesse.

Eu pessoalmente gosto de trabalhar no limite entre os domínios II e III,


onde x = 0,259d.

Eu faço assim para que, sob qualquer alteração que fizermos na viga
durante as demais etapas do cálculo, não corrermos o risco de sairmos dos
domínios II e III.

Dessa premissa, podemos partir para uma análise bem simples usando as
tabelas de K3 e K6 (Anexo I).

Nela, podemos ver quais são os valores de K6 para cada classe de concreto
para que x = 0,259d:

ξ = x/d C-20 C-25 C-30


0,259 62,1 49,7 41,4

Assim, com um concreto C-25, por exemplo, teremos um K6 de 49,7.

Usando uma estratégia de engenharia reversa, podemos estimar a altura


útil d aplicando a fórmula do K6.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 57

Vamos à um exemplo?

Considere uma viga de concreto armado com M = 10KN.m e bw = 15cm.


Qual seria a pré-dimensão h?

Exercícios

1. Pré-dimensione as vigas abaixo pelos métodos simplificado, das flechas e dos


domínios do concreto.

Q = 10 kn/m; L1 = 3m; L2 = 5m; L3 = 2m; Econcreto = 25GPa; bw = 14cm

a)

b)

5.3 Prescrições (regras) de dimensionamento


Para o dimensionamento e detalhamentos de vigas de concreto armado,
temos algumas regras a serem seguidas. Essas regras visam garantir uma boa
a arte de projetar estruturas de concreto armado 58

execução das peças e ainda, garantir a segurança estrutural da edificação. A


seguir, iremos ver quais são as principais regras, segundo a NBR 6118:2014, que
são utilizadas no dimensionamento e detalhamento de uma viga:

5.3.1 Dimensões mínimas

Segundo a norma, a menor dimensão de uma viga é 12cm. Porém, em


casos devidamente justificados, pode-se chegar a 10cm.

Esse valor de 12cm tinha muito sentido quando os pilares também podiam
ter 12cm de menor lado. Porém, após a revisão da norma em 2014, os pilares
passaram a ter lado mínimo de 14cm. Então, por questão construtiva e prática,
podemos deliberar que, na maioria das vezes, utilizaremos 14cm em nossas vigas.

Uma outra questão é que a norma, em momento algum, dá um valor limite


para a altura da viga, ou seja, qualquer valor pode ser usado, desde que
atendidas as verificações de segurança dos estados limites.

5.3.2 Armadura mínima

Para que consideremos eventuais momentos mínimos e que as nossas


vigas não fiquem subarmadas, basta que usemos a seguinte tabela com os
valores mínimos de taxa de armadura:

Fck 20 25 30 35 40 45 50

ρmín 0,15 0,15 0,15 0,164 0,179 0,194 0,208

Ou seja, a área de aço As,mínima de uma viga será:

As,mín = ρmín.Ac

Para o caso dos estribos, temos que o diâmetro mínimo é de 5,0mm. Ou


seja, aquele famoso estribo de 4,2mm não está adequado pela ótica da norma.

5.3.3 Armadura máxima

Em contraste, para evitar que a viga fique superarmada, precisamos


limitar a taxa de armadura a um valor máximo de 4% da área de concreto.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 59

Ainda, considerando as regiões de traspasse, é prudente considerar, na


prática, a taxa de armadura máxima igual a 2%.

Ou seja, a área de aço As máxima de uma viga será, na prática:

As,max = 0,02.Ac

No caso dos estribos, temos que o seu diâmetro não pode exceder 10% da
base bw da viga.

5.3.4 Espaçamentos mínimos entre barras

Para evitar também falhas no processo de moldagem do concreto, a


norma também especifica espaçamentos mínimos entre barras.

A seguir, temos a listagem desses valores mostrando três opções a serem


verificadas para os espaçamentos horizontal e vertical. A nossa viga será
aprovada caso o maior entre esses valores seja respeitado pelo nosso
detalhamento.

No espaçamento horizontal, temos que respeitar o maior dos valores


abaixo:
- 2 cm
- diâmetro da barra longitudinal
- 1,2 x dimensão máxima do agregado graúdo

No espaçamento vertical, temos que respeitar o maior dos valores


abaixo:
- 2 cm;
- diâmetro da barra longitudinal
- 0,5 x dimensão máxima do agregado graúdo

E se esses valores não forem atendidos pelo nosso detalhamento? A


sugestão é modificar o nosso detalhamento, para que nada contra a norma seja
mandado para a obra, ok?

5.4 Métodos de dimensionamento

5.4.1 Método K3 e K6
a arte de projetar estruturas de concreto armado 60

Nas seções anteriores, vimos a teoria fundamental para o


dimensionamento de vigas à flexão. Agora, vamos para a parte prática!

Mas antes, convém relatar que temos dois tipos de processos de


dimensionamento: um para vigas simplesmente armadas (quando temos
armaduras de tração na parte tracionada e porta-estribos na comprimida) e
outro para vigas duplamente armadas (quando temos além da armadura de
tração, armadura para combate à compressão).

Aqui neste livro, você vai aprender as duas formas de dimensionamento!


Vamos lá então?

5.4.1.1 Dimensionamento de vigas simplesmente armadas

As vigas simplesmente armadas são aquelas que não tiveram a sua


profundidade de linha neutra com valor maior do que 0,45d. Ou seja, são vigas
que estão no domínio II ou III abaixo do 0,45d.

Para o devido dimensionamento dessas vigas, siga os seguintes passos:

1. Levante todos os parâmetros da viga para o dimensionamento, especificados


a seguir:

a. Pré-dimensões da seção transversal.

b. Classe do concreto (e consequentemente o fcd), tipo de aço e nível


de agressividade ambiental (e consequentemente o recobrimento
c).
a arte de projetar estruturas de concreto armado 61

c. Esforços solicitantes de projeto, construídos com base nas


combinações de ações.

2. Com todos os parâmetros especificados, determine a altura útil d, onde:

Como não sabemos o diâmetro ϕt (dos estribos) e ϕl (das armaduras longitudinais),


eu particularmente sugiro usar apenas o h-c mesmo. Dá um valor próximo ao que
será na realidade e torna o processo bem mais prático!

3. Agora, calcule o coeficiente adimensional K6:

Esse 10 no denominador é apenas para garantir automaticamente que bw


e d sejam em cm e Md em KN.m.

OBS: Aqui, é necessário sempre analisar o ξ da viga, deve ser menor que 0,45,
sendo a NBR 6118. Se for maior, teremos uma viga duplamente armada, que é algo
que ainda vamos ver…

4. Com o K6 determinado, iremos encontrar o K3 na tabela de K6 e K3. Como é


pouco provável encontrar um valor exato de K6 na tabela, vamos combinar de
pegar sempre um valor imediatamente menor, ok?

5. Agora, vamos calcular o As com base no valor de K3 encontrado:

7. Agora, precisamos escolher qual armadura utilizar, por meio da tabela de


diâmetros, abaixo apresentada:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 62

Tabela 1

Bitola Número de barras e As (cm²)


ϕ (mm) 1 2 3 4 5 6 7 8
5,0 0,20 0,39 0,59 0,79 0,98 1,18 1,37 1,57
6,3 0,31 0,62 0,94 1,25 1,56 1,87 2,18 2,49
8,0 0,50 1,01 1,51 2,01 2,51 3,02 3,52 4,02
10,0 0,79 1,57 2,36 3,14 3,93 4,71 5,50 6,28
12,5 1,23 2,45 3,68 4,91 6,14 7,36 8,59 9,82
16,0 2,01 4,02 6,03 8,04 10,05 12,06 14,07 16,08
20,0 3,14 6,28 9,42 12,57 15,71 18,85 21,99 25,13
22,0 3,80 7,60 11,40 15,21 19,01 22,81 26,61 30,41
25,0 4,91 9,82 14,73 19,63 24,54 29,45 34,36 39,27
32,0 8,04 16,08 24,13 32,17 40,21 48,25 56,30 64,34
40,0 12,57 25,13 37,70 50,27 62,83 75,40 87,96 100,53

8. Para cada dimensionamento feito, precisamos verificar o detalhamento


proposto que se refere às prescrições da NBR 6118:2014. Vou lista abaixo quais
devemos verificar:

- Taxa de armadura e As,mín, seguindo a tabela abaixo:

Taxa de armadura mínima ρ (As/Ac) para diferentes resistências características

Fck 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90

ρ,mín 0,15 0,15 0,15 0,164 0,179 0,194 0,208 0,211 0,219 0,226 0,233 0,239 0,245 0,251 0,256

- Espaçamento entre barras (ah e av), seguindo o esquema abaixo:


a arte de projetar estruturas de concreto armado 63

OBS: O bw mínimo deve ser verificado já no pré-dimensionamento, ou seja, antes


de se fazer os demais cálculos.

Vamos então para um exemplo prático?

Exemplo Resolvido

Dimensione a As de uma viga de concreto armado submetida a um momento de


10KN.m.

- Seção transversal pré-dimensionada: 14cm x 30cm.

- Nível de agressividade I com recobrimento de 2,5cm.

- Concreto C25 e Aço CA-50.

1. Definindo a altura útil:

2. Calculando o K6:

Verificando a linha neutra, temos que ξ = 0,12. Ou seja, estamos no domínio II.

3. Na tabela, podemos obter um K3 = 0,338.


a arte de projetar estruturas de concreto armado 64

4. Com isso, podemos calcular o As:

5. Agora, temos que partir para o detalhamento. Um primeiro ponto é que o


mínimo de barras que podemos usar é 4 (2 na parte superior e 2 na inferior), pois
precisamos ter uma armadura em cada canto do estribo dando o formato
retangular para ela!

Assim, temos que conferir na Tabela 1 qual o As maior e mais próximo do que
calculamos e ver a viabilidade de sua utilização. Vamos lá?

Vou reproduzir a tabela abaixo, colorindo os campos em que o As é maior e


próximo ao nosso

Bitola Número de barras e As (cm²)


ϕ (mm) 1 2 3 4 5 6 7 8
5,0 0,20 0,39 0,59 0,79 0,98 1,18 1,37 1,57
6,3 0,31 0,62 0,94 1,25 1,56 1,87 2,18 2,49
8,0 0,50 1,01 1,51 2,01 2,51 3,02 3,52 4,02
10,0 0,79 1,57 2,36 3,14 3,93 4,71 5,50 6,28
12,5 1,23 2,45 3,68 4,91 6,14 7,36 8,59 9,82
16,0 2,01 4,02 6,03 8,04 10,05 12,06 14,07 16,08
20,0 3,14 6,28 9,42 12,57 15,71 18,85 21,99 25,13
22,0 3,80 7,60 11,40 15,21 19,01 22,81 26,61 30,41
25,0 4,91 9,82 14,73 19,63 24,54 29,45 34,36 39,27
32,0 8,04 16,08 24,13 32,17 40,21 48,25 56,30 64,34
40,0 12,57 25,13 37,70 50,27 62,83 75,40 87,96 100,53

As barras de 5,0mm e 6,3mm não são recomendadas na prática por serem


pouco rígidas, podendo apresentar problemas na hora da concretagem. Assim,
vamos focar as armaduras dimensionadas nas bitolas 8,0mm em diante.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 65

OBS: Podemos utilizar essas bitolas mais finas nos porta-estribos, que são as
armaduras colocadas apenas para garantir o formato retangular da viga.

Assim teremos 2 de 10,0mm ou 3 de 8,0mm. Teoricamente, pela ótica da


aderência, 3 de 8,0mm é melhor por ter maior área de contato concreto-
armadura. Dobrar barras mais finas também é mais fácil.

Agora, uma coisa que pode determinar qual escolheremos é o preço.


Suponha que uma barra (12m) de 8,0mm é vendida à R$50,00 e que a barra (12m)
de 10,0mm é vendida a R$65,00. Suponha ainda que a viga tem 4m, ou seja,
precisaremos de 8m de barra.

Se comprarmos a barra 8,0mm, teremos um custo de R$50,00 e nenhuma


sobra. Se comprarmos a barra de 10,0mm, teremos um custo de R$65,00 e uma
sobra de 4m.

Olhando essa viga isoladamente, percebemos que a barra de 8,0mm é


mais viável. Vamos continuar nossa análise amplificando o projeto. Agora, vamos
fazer três vigas iguais com esse mesmo detalhamento (em projetos reais, ocorre
de termos vigas iguais).

Para 8,0mm, precisamos de 3 barras, em custo total de R$150,00. Para


10,0mm, precisamos de 2 barras, em um custo total de R$130,00. Em ambas as
situações, não teremos sobras…

Interessante, não? E como isso é feito na prática? Considera-se todo o


projeto estrutural, com cada elemento contribuindo de alguma forma com os
demais e assim, chega-se a um ponto otimizado de compras de armaduras.

Ah! Matheus, e na prática, posso trocar 2 de 10,0mm por 3 de 8,0mm? Não,


porque 1,51cm² é menor que 1,57cm² e nem sempre a troca será válida. Percebam
que apenas quando As calculado for < 1,51, a permuta entre as bitolas será
permitida. E isso vale para todas as demais bitolas, quando trocas forem
necessárias.

Agora, eu penso que em caso de trocar isso direto na obra, não o façam
sem a comunicação e autorização do projetista, pois pode colocar em risco a
a arte de projetar estruturas de concreto armado 66

garantia da responsabilidade técnica dele e com isso, você assumiria riscos além
dos de sua atribuição inicialmente prevista.

Exemplo Resolvido

Em pontes de concreto armado, temos a presença de vigas chamadas


transversinas e longarinas. Neste exemplo, vamos dimensionar uma transversina,
conforme ilustrada a seguir:

Para tal, considere que todas as ponderações necessárias já foram desenvolvidas


e que o esforço máximo de dimensionamento é o presente na ilustração.

Considere também:

- Pré-dimensionamento de 20cm x 70cm

- Ações permanentes (Ap) = 4KN/m

- Concreto C-25 e Aço CA-50

- Diâmetro máximo do agregado = 19mm

- Classe de agressividade II

- Pelo fato da estrutura ser pré-moldada, iremos considerar ligação


transversina-pilar como totalmente articulada.

Resolução:

Parte I - Análise Estrutural

Iremos desenvolver inicialmente a análise estática da estrutura no Ftool:


a arte de projetar estruturas de concreto armado 67

Assim, teremos os seguintes resultados para o diagrama de momento fletor:

Com isso, teremos que dimensionar nossa viga para um momento negativo de
38KN.m.

Parte II - Dimensionamento

Iremos fazer o dimensionamento utilizando o método k3 e k6. Para isso iremos


definir alguns parâmetros:

- Recobrimento de 30mm (vide Tabela 7.2 da NBR 6118:2014)

- Com isso d = 67cm

- bw = 20cm

Agora, iremos determinar o k6:


a arte de projetar estruturas de concreto armado 68

Com isso, podemos encontrar na tabela nosso k3 = 0,329. Tabela disponível no


final deste livro, no Anexo I.

Agora, podemos encontrar a As:

Precisamos agora verificar se essa quantidade de aço pode ser utilizada,


dados os limites de taxa de armadura. Para concreto C-25, os limites são 0,15%.Ac
para o mínimo e 4%.Ac para o máximo. Lembrando que é prudente considerar o
máximo como 2%.Ac por conta das regiões de transpasse. Agora, iremos verificar
esses limites:

Percebam que nossa As = 1,86cm² não atende o limite mínimo, que é de


2,1cm². Assim, teremos que utilizar As = 2,1cm².

Agora, percebam que isso ocorreu por conta do pré-dimensionamento não


adequado para o caso. Um sinal de que isso iria ocorrer estava no k6 encontrado,
que foi relativamente alto, conforme Botelho e Marchetti discute na página 324
do livro Concreto Armado eu te amo. Isso então nos mostra que podemos
trabalhar com uma seção transversal com menores dimensões. Vamos fazer esse
teste?
a arte de projetar estruturas de concreto armado 69

Agora, irei pré-dimensionar a viga com 20cm x 60cm. O k6 passa a valer =


171. Assim, o k3 passa a valer = 0,331. Com isso As passa a valer = 2,20cm².
Conferindo a taxa de armadura, teremos um limite mínimo de 1,8cm² e máximo
(prático) de 24cm². Percebam que agora eu estou trabalhando com a armadura
acima do mínimo, ou seja, o dimensionamento destas não foi elevado para seguir
o critério da norma. Percebam que aumentamos apenas um pouco no aço, mas
conseguimos economizar de forma interessante no concreto!

Vamos agora para o detalhamento da armadura: Se partirmos nossa


análise da armadura ϕ 8.0mm, perceberemos que seriam necessárias 5 barras.
Partindo para ϕ 10.0mm, teremos 3 barras. Testando a armadura ϕ 12.5mm, teremos
2 barras.

Vamos adotar aqui, apenas para exemplificar, 2 ϕ 12,5mm. Percebam que, se


nós estivéssemos no outro formato da transversina (20cm x 70cm), teríamos As =
2,1cm². Deduzindo essa As em barras de ϕ 12.5mm, teremos 2 barras, tal como na
transversina de 20cm x 60cm! Ou seja, o projeto da viga com h = 60cm demonstrou-
se muito mais eficiente!

Agora, temos apenas que verificar a questão do espaçamento entre barras. Como
são apenas 2 ϕ 12,5mm, o espaçamento entre elas é:

eh = bw - 2r - 2ϕ

eh = 20cm - 2.2,5cm - 2.1,25cm

eh = 12,5cm

Como os limites mínimos são: 2cm, ou ϕl, ou 1,2.ϕag, temos que o mínimo, de fato, será
2,28cm. Ou seja, o critério da distância mínima foi atendido também!

Exercícios

Q = 10KN/m, L1 = 4m e L2 = 1m
a arte de projetar estruturas de concreto armado 70

1. Dimensione a viga acima para que ela trabalhe dentro do Domínio II.
2. Dimensione a viga acima para que ela trabalhe dentro do Domínio III.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 71

6. Pilares de concreto armado


Aprenda todo o processo de projeto de pilares de concreto armado

6.1 Introdução ao estudos dos pilares


Um pilar é basicamente um elemento estrutural com potencial de absorção
de cargas gravitacionais, ou seja cargas verticais. No entanto, ele pode absorver
também cargas horizontais (como a do vento) por conta do funcionamento
aporticado de algumas estruturas.

Ou seja, além de projetarmos nossos pilares para receberem o peso das


coisas, temos também que prepará-lo para absorver o impacto dos ventos,
situação em que eles acabam se tornando também os chamados elementos de
contraventamento.

Ainda, em algumas obras arquitetônicas, temos pilares que não


necessariamente são verticais por opção estética. Em algumas obras de
Niemeyer, por exemplo, temos a ocorrência de pilares inclinados.

Não obstante, independente de sua função e geometria, temos que


garantir que nossos pilares suportem os esforços a eles aplicados. E é exatamente
isso que vamos aprender neste Seção!
a arte de projetar estruturas de concreto armado 72

6.2 Anatomia de um pilar de concreto armado


Especificamente nos pilares de concreto armado, o concreto é responsável
por suportar os esforços de compressão, enquanto as armaduras longitudinais
auxiliam o concreto a suportar os esforços de compressão e também resistem a
eventuais esforços de tração que possam ocorrem por conta de pilares com
reações negativas que surgem por motivo da atuação de cargas de vento em
prédios altos ou até mesmo a flexão em pilares de borda e de canto.

Os pilares de concreto possuem uma anatomia bem interessante,


mostrada na figura a seguir:

Na prática dos nossos projetos estruturais, as dimensões de concreto são


normalmente pré-concebidas com base em restrições normativas e também nas
restrições dimensionais da arquitetura.

Com o pré-dimensionamento da seção transversal de concreto efetuado,


partimos para um dimensionamento do aço, fazendo as devidas verificações
normativas.

Dito isso, podemos perceber que o fluxo do projeto de um pilar de concreto


armado é diferente do que normalmente imaginamos antes de entrar na
disciplina:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 73

1. “Chutamos” as dimensões de concreto por meio de técnicas empíricas de


pré-dimensionamento em uma etapa chamada Concepção Estrutural.

2. Calculamos as propriedades geométricas usando as dimensões “chutadas”


e fazemos a Análise Estrutural.

3. Encontramos as dimensões e quantidades de aço para suportar os


esforços com base na dimensão “chutada” nos itens anteriores. Essa etapa
é chamada de Dimensionamento.

4. Verificamos quais detalhamentos podem ser utilizados e se eles obedecem


as limitações normativas. Essa etapa é chamada de Detalhamento.

6.3 O que você precisa saber para calcular um pilar


Um pilar é calculado contemplando diversas óticas e situações. Neste livro,
iremos tratar cada uma individualmente, mostrando o funcionamento físico e
matemático que norteia o processo.

O primeiro ponto que temos que conhecer é acerca da esbeltez do pilar em


relação a uma potencial flambagem.

Os diferentes índices de esbeltez que encontramos irão ditar o


comportamento do pilar que estamos calculando (inclusive como iremos calculá-
lo nas próximas etapas), o que faz uma diferença enorme no quesito econômico.

Depois, iremos determinar quais esforços solicitantes atuam no pilar em


função do seu índice de esbeltez. Aqui, teremos que considerar a atuação de
esforços de 1ª e 2ª ordem, de acordo com o que orienta a norma NBR 6118:2014.

Feito isso, iremos partir para o dimensionamento (já imaginando um


possível detalhamento), usando os ábacos de Venturini.

Após, iremos detalhar nossos pilares considerando as restrições


normativas para tal.

Simples igual morder água, não é mesmo? Vamos lá então para o nosso
estudo?
a arte de projetar estruturas de concreto armado 74

6.4 O tal do índice de esbeltez


Para o cálculo dos nossos pilares, o primeiro passo é compreender a sua
esbeltez. Isso, inclusive, ajuda no pré- dimensionamento do pilar, que é necessário
para determinarmos as suas armaduras.

O índice de esbeltez é um valor numérico adimensional que classifica um


pilar quanto a sua tendência de flambar. Com essa classificação, conseguimos
prever o comportamento do pilar, inclusive de ruptura, e assim, dimensioná-lo
(para não romper).

O índice de esbeltez é calculado da seguinte forma:

onde λ (lambda) indica o índice de esbeltez do pilar, le o comprimento equivalente do pilar e r o


raio de giração. Vamos entender isso direitinho…

O le é um comprimento ajustado de um pilar de acordo com seu


comprimento de flambagem. Tem toda uma teoria por trás disso e que é
trabalhada em Resistência dos Materiais II. Aqui, iremos ir diretamente para a
formulação e os valores já determinados.

Vamos considerar então que o le é determinado por:

onde K é o coeficiente de flambagem e l o comprimento do pilar. Para esse K


(que é algo que cai em diversos concursos), temos a seguinte tabela:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 75

Para cada pilar, temos que verificar o índice de esbeltez em todos os


sentidos, ou seja, em x e em y. O maior índice de esbeltez (e consequemente o pior
caso), será o seu índice de esbeltez final.

Outra coisa: Nessa situação de termos que calcular o índice de esbeltez em


x e y, pode ser que tanto o K, como l sejam modificados (o r é sempre diferente
para seções retangulares).

Com o valor de λ, podemos classificar os pilares da seguinte forma:

Índice de Esbeltez Classificação Situação

0 <= λ <= 35 Pouco esbelto Apenas esforços de 1ª


ordem são considerados.

35 < λ <= 90 Esbelto São considerados os


esforços de 1ª e 2ª
ordem

90 < λ <= 140 Muito esbelto Somente os programas


calculam.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 76

λ > 140 Excessivamente Normalmente, nem os


programas calculam
estes aqui…

Exercícios

1. Determine quais devem ser as dimensões mínimas possíveis de uma seção


transversal de um pilar de concreto armado com L = 6m para cada tipo de
situação de flambagem (k = 0,5; k = 0,7, k = 1 e k = 2) para que seja possível o
cálculo usando um software.

2. Determine quais devem ser as dimensões mínimas possíveis de uma seção


transversal de um pilar de concreto armado com L = 3m para cada tipo de
situação de flambagem (k = 0,5; k = 0,7, k = 1 e k = 2) para que seja possível o
cálculo de forma manual.

3. Considere que eu um projeto estrutural, um pilar apresentou um índice de


esbeltez maior que o que você esperava, quais medidas você propõe para
resolver esse problema?

4. Qual deve ser a seção mínima (quadrada) para um pilar de um galpão com k=2
e L = 7m?

6.5 Classificação dos pilares quanto ao tipo de


carregamento e geometria na arquitetura
Os pilares de concreto armado são classificados da seguinte forma:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 77

Essa classificação, além de possuir uma lógica de localização do pilar no


projeto, também indica qual caso de dimensionamento iremos utilizar. Nas
próximas seções, isso vai ficar ainda mais claro.

6.6 Prescrições normativas


O dimensionamento de pilares é feito usando uma série de prescrições
(regras) normativas. A seguir, detalhamos elas para vocês:

6.6.1 Seção de concreto

A seção transversal de um pilar de concreto armado deve ter, no mínimo,


360cm² de área. Ainda, a menor dimensão de um dos lados é 19cm.

No entanto, para casos especiais (obras de pequeno porte), é permitido


um mínimo dos mínimos de 14cm, mas com o acréscimo de um coeficiente
adicional. Vamos entender isso melhor?

A norma NBR 6118:2014 especifica que o lado mínimo de um pilar de


concreto armado retangular, em T, em L ou seção caixão deve ser de 19cm.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 78

Porém, com a ponderação de um γn, podemos ir até o limite mínimo de 14cm. A tabela dos
valores de γn em função da menor dimensão da seção transversal é apresentada
abaixo:

b >= 19cm 18cm 17cm 16cm 15cm 14cm

γn 1 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25

Na prática, usar um pilar de 14cm aumenta em 25% os carregamentos


aplicados. Isso pode impactar consideravelmente os dimensionamentos em
alguns casos, mas em outros não fazer muita diferença.

Um caso que não faz diferença prática é quando você tem um pilar pouco
carregado e com as especificações mínimas de norma. Neste caso, nosso
dimensionamento trabalha com folga em termos de segurança quanto aos
carregamentos.

Assim, você majorar 25% de uma carga pequena talvez nem altere o
dimensionamento, visto que ela já estava bem acima do admissível.

Nessa ótica, se você tiver como escolher, a análise estrutural mostra que é
viável e a arquitetura não ficar comprometida, na minha opinião, o melhor pilar
mínimo é 20cm x 20cm. Para grandes taxas de carga, ele ainda permanece com
4@10.0mm, pois essas cargas não são majoradas. Outra vantagem é que ele tem
inércia boa para os dois sentidos.

Mas como eu disse, tem que sempre verificar qual a melhor solução para
cada projeto! A ideia dessa minha fala é apenas passar um pouco de minha
experiência e sairmos um pouco das páginas da literatura e irmos para a prática
de projeto!

6.6.2 Diâmetro de armaduras

O diâmetro mínimo possível para uma armadura longitudinal é 10mm. Para


os estribos, o diâmetro mínimo é 5mm.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 79

Vale comentar que na grande maioria das edificações já construídas aqui


no Brasil, a armadura dos pilares é a 8mm e a dos estribos 4,2mm, ambas
incorretas de acordo com a norma.

6.6.1 Área de aço

A área de aço mínima possível para um pilar é a relativa a 4@10mm, que


é 3,14cm². Por conta da própria montagem das armaduras, é impossível, dentro
da norma, ter uma área menor.

A máxima, por sua vez, está condicionada ao fato de que os diâmetros das
armaduras não podem ser maior que 1/8 do menor lado do pilar. Ainda, nessa
análise, impacta também os espaçamentos mínimos entre barras.

Agora, algo que temos que verificar são situações em que não se limitam
a esses fatores construtivos e sim em fatores da mecânica do concreto armado.

Assim, temos que, respeitando o funcionamento do concreto armado e


suas necessárias características, a área de aço de um pilar deve está
compreendida as taxas de armadura mínima e máxima.

Para a taxa de armadura mínima, temos que As,mín = 0,15.Nd/Fyd,


limitado a 0,004.Ac.

Para a taxa de armadura máxima, temos que considerar o limite de 8%.

6.6.2 Espaçamentos entre armaduras

6.6.3 Espaçamento entre estribos

6.7 Dimensionamento das armaduras


Para o dimensionamento das armaduras dos pilares, iremos utilizar os
Ábacos de Venturini (anexo no fim deste livro).

Neles, podemos determinar, de acordo com uma relação d’/h e o formato


de distribuição das armaduras que queremos, qual dos 43 ábacos
especificamente iremos utilizar.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 80

Vamos entender isso melhor? Na imagem a seguir, temos um exemplo de


ábaco. Perceba que ele tem um nome (Ábaco A-1) que o identifica entre os
demais. Já no cabeçalho, percebemos três informações: o tipo de aço que deve
ser utilizado, qual o coeficiente de ponderação usado para o aço e por fim, o valor
d’/h.

Esse último é explicado no desenho da seção que vemos logo abaixo, onde
d’ é a distância entre entre a face do pilar e o centroide da armadura (que
podemos considerar a nível de simplificação o próprio recobrimento) e h a
dimensão vertical total da seção.

Ou seja, se seu pilar de 20cm x 40cm tiver recobrimento de 3cm e armadura


de 10mm, teremos um d’ = 3,5cm. Fazendo nosso d’/h teremos: 0,0875.

Você irá perceber que esse valor não existe nos ábacos. Ou vamos no valor
de 0,05 ou vamos no de 0,10. Neste caso, o mais próximo é o de 0,10.

Exemplo Resolvido 6.1

Dimensione o pilar com compressão centrada abaixo, com carregamento Nd =


1200 KN:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 81

Observações:

- Concreto C25 e Aço CA50.

- Classe de agressividade I, com recobrimento de 3cm.

- Fcd = 17850KPa.

- Fyk = 434782KPa.

- kflambagem = 1.

1. Determinação do Índice de Esbeltez λ do pilar:

O primeiro passo para tal é encontrar a inércia do pilar. Aqui, deveriamos


encontrar um Ix e um Iy. Porém, como a seção é quadrada, Ix = Iy = I. Assim:

Agora, iremos encontrar a Ac (área da seção transversal do pilar de concreto):

Com os valores de I e A, podemos determinar o raio de giração i:


a arte de projetar estruturas de concreto armado 82

Com o valor do raio de giração i, podemos calcular o índice de esbeltez λ:

Com isso, temos que nosso pilar será classificado como robusto λ <= 35, e portanto,
somente o momento a consideração do momento de 1ª ordem será necessário.

Assim, iremos calcular o nosso M1xd,min = M1yd,min = M1d,min:

Substituindo os parâmetros de projeto do nosso pilar na fórmula, temos que:

Agora, iremos proceder quanto ao cálculo da armadura. Para tal, iremos calcular
o valor de υ. Nesta etapa do cálculo, visando o uso dos Ábacos de Venturini (1987),
vamos calcular os valores adimensionais υ e μ:

OBS: Considere que a unidade de Nd é KN, M1d = KN.m, de Ac é m² e de Fcd é


KPa. Para consultar o Ábaco de Venturini e Rodrigues (1987), temos ainda que
conhecer qual o valor da relação d’/h, sendo d’ a distância da face externa da
a arte de projetar estruturas de concreto armado 83

seção transversal até o centro da armadura e h a altura total da seção transversal


de concreto:

Com isso, iremos usar o Ábaco A-2 (p. 39 do material disponibilizado neste tópico
do Classroom) para encontrar o ω:

Com isso, achamos um ω em torno de 0,05. Interessante aqui pontuarmos que:

- Nosso pilar está no limite inferior do domínio 5.

- Como encontrarmos um ω relativamente baixo, podemos entender que a seção de


concreto poderia ser reduzida, fazendo com que a armadura trabalhasse mais
no pilar.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 84

Vamos agora determinar a área de aço:

Onde fyd = fyk/1,15.

Como fyk = 500000 KPa, temos que fyd = 434782KPa. Assim, teremos que:

Como é costume de representarmos As em cm², podemos converter o resultado


acima nesta unidade multiplicando por 104. Assim, teremos que:

Convém agora verificarmos se esse valor de As atende a taxa de armadura


mínima permitida pela NBR 6118, que é de 0,4% de Ac, ou seja = 3,6cm². Ou seja,
As < Asmín. Com isso, teríamos que usar Asmín.

Notadamente, tínhamos previsto isso no momento que encontramos ω no ábaco.


Infelizmente, o pré-dimensionamento não ficou bom e agora, deixamos nossa peça
com uma área de Ac e de aço acima do que, de fato, era necessário.

Exemplo Resolvido 6.2

- DIMENSIONAMENTO DE PILARES COM COMPRESSÃO


CENTRADA E 35 ≤ λ ≤ 90

No exemplo anterior, fizemos o dimensionamento da armadura para um pilar 0,30


x 0,30 de λ ≤ 35. Porém, podemos melhorar esse dimensionamento alterando alguns
parâmetros de projeto. Experimentando, por exemplo, uma seção de 0,25 x 0,25,
teríamos:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 85

A = 0,0625m²

I = 3,25 x 10-4

i = 0,072m

λ = 41

Também podemos lembrar que:

d’/h = 0,10

Nd = 1200 KN

Fcd = 17857 KPa

Fyd = 434782 KPa

Calculando o momento mínimo:

Agora, iremos calcular os valores adimensionais υ e μ:

Como o nosso λ está entre 35 e 90, além do M1d, temos que calcular o M2d. Para isso, vamos
usar o Método do Pilar Padrão com Curvatura Aproximada, descrito no item
15.8.3.3.2 da norma NBR 6118:2014. (AltoQI, 2021). Para isso vamos, assumir que
as seguintes relações são válidas:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 86

Onde 1/r é a curvatura aproximada do pilar, h é a altura da seção transversal de


concreto e υ é o valor adimensional relativo aos esforços normais. Assim, temos que:

Ainda,

Conhecendo a curvatura aproximada, podemos calcular o M2d ou MdTot


(momento total máximo) com a seguinte fórmula:

Consideramos aqui que Le = L = 3m. Ou seja:

Como Mtot = M1d + M2d, temos que:

Com todos os valores acima encontrados, podemos proceder quanto ao


dimensionamento das armaduras. Como já encontramos o υ ( υ = 1,07), agora iremos
determinar o valor de μ:

Com isso, vamos ao ábaco A-2:


a arte de projetar estruturas de concreto armado 87

Encontramos assim um ω em torno de 0,63. Percebam que ainda estamos no limite inferior
do domínio 5, mas agora, teremos uma taxa de armadura maior que no exemplo
anterior. Vamos ver agora como ficará a nossa área de aço:

Onde fyd = fyk/1,15.

Como fyk = 500000 KPa, temos que fyd = 434782KPa. Assim, teremos que:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 88

É notável o quanto As aumentou! No exemplo anterior, tínhamos Ascalculada =


1,84cm² e As = 3,6cm². Agora, temos mais de 9x mais área de aço (se comparado
com Ascalculada somente). Isso ocorreu por conta da redução da Ac.

Fica como exercício para vocês a verificação da taxa de armadura e os possíveis


detalhamentos!

Exercícios

Observações para os exercícios a seguir:

- Nd = N x 1,4.

- Concreto C25 e Aço CA50.

- Classe de agressividade I, com recobrimento de 3cm.

- Fcd = 17850KPa.

- Fyk = 434782KPa.

- Dada a natureza estrutural das estruturas das nossas pontes, ou seja,


construída com concreto pré-moldado e com ligações articuladas, iremos
considerar kflambagem = 1.

1. Dado o pilar representado abaixo com N = 5000KN,

-
a arte de projetar estruturas de concreto armado 89

a) Pré-dimensione- o (seção quadrada a x a) para que λ ≤ 35.

b) Dimensione a armadura do pilar. Se o pré-dimensionamento não se mostrar


adequado, refaça-o e em sequência, proceda quanto ao dimensionamento.

c) Detalhe o projeto do pilar.

2. Dimensione e detalhe a armadura do pilar abaixo:

Nd = 1580KN
Seção 20cm x 40cm
λ ≤ 35

3. Agora, vamos para um caso interessante. Considere que o pilar acima tem
carga Nd = 0KN.

Seção 20cm x 30cm


λ ≤ 35

a) Faça o dimensionamento e detalhamento de sua armadura.

b) O que você identificou de diferente nesse dimensionamento?

4. Pré-dimensione a seção transversal de concreto e após, dimensione as


armaduras longitudinais do seguinte pilar:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 90

Nd = 20KN.

OBS: O pré-dimensionamento deve seguir as restrições normativas, considerando


que o menor lado possível é 19ccm.

5. Para o pilar da questão anterior, execute um detalhamento, usando a escala


1:25.

6. No detalhamento da questão anterior, você percebeu algum problema na


representação gráfica? Se sim, explique qual a sua impressão e como podemos
resolver este problema.

7. Dimensione e detalhe a armadura do pilar abaixo:

Nd = 2000KN
Mxd = 1000KN.cm
Seção 20cm x 20cm
λ ≤ 35
a arte de projetar estruturas de concreto armado 91

8. Dimensione e detalhe a armadura do pilar abaixo:

Nd = 2000KN
Mxd = 1000KN.cm
Seção 20cm x 20cm
λ = 90

9. Dimensione e detalhe a armadura do pilar abaixo:

Nd = 2000KN
Mxd = 1000KN.cm
Seção 20cm x 20cm
λ = 35
a arte de projetar estruturas de concreto armado 92

Anexos
Anexo I - Tabela do Método K3 e K6

VALORES DE K6 PARA FCK VALORES DE K3 PARA AÇOS


ξ = x/d Dom.
20 25 30 CA25 CA50A CA60B

0,01 1447,0 1158,0 965,0 0,647 0,323 0,269


0,02 726,0 581,0 484,0 0,649 0,325 0,271
0,03 486,0 389,0 324,0 0,652 0,326 0,272
0,04 366,0 293,0 244,0 0,655 0,327 0,273
0,05 294,0 235,0 196,0 0,657 0,329 0,274
0,06 246,0 197,0 164,0 0,66 0,33 0,275
0,07 212,0 169,0 141,0 0,663 0,331 0,276
0,08 186,0 149,0 124,0 0,665 0,333 0,277
0,09 166,0 133,0 111,0 0,668 0,334 0,278
0,1 D 150,0 120,0 100,1 0,671 0,335 0,28
0,11 O 137,0 110,0 91,4 0,674 0,337 0,281
0,12 M 126,0 100,9 84,1 0,677 0,338 0,282
0,13 Í 117,0 93,6 78,0 0,679 0,34 0,283
0,14 N 109,0 87,2 72,7 0,682 0,341 0,284
I
0,15 102,2 81,8 68,1 0,685 0,343 0,285
O
0,16 96,2 77,0 64,2 0,688 0,344 0,287
0,167 92,5 74,0 61,7 0,69 0,345 0,288
II
0,17 91,0 72,8 60,6 0,691 0,346 0,288
0,18 86,3 69,0 57,5 0,694 0,347 0,289
0,19 82,1 65,7 54,7 0,697 0,349 0,29
0,2 78,3 62,7 52,2 0,7 0,35 0,292
0,21 74,9 59,9 49,9 0,703 0,352 0,293
0,22 71,8 57,5 47,9 0,706 0,353 0,294
0,23 69,0 55,2 46,0 0,709 0,355 0,296
0,24 66,4 53,1 44,3 0,713 0,356 0,297
0,25 64,1 51,2 42,7 0,716 0,358 0,298
0,259 62,1 49,7 41,4 0,719 0,359 0,299
0,26 61,9 49,5 41,2 0,719 0,359 0,3
0,27 59,8 47,9 39,9 0,722 0,361 0,301
0,28 58,0 46,4 38,6 0,725 0,363 0,302
D
0,29 56,2 45,0 37,5 0,729 0,364 0,304
O
0,3 54,6 43,7 36,4 0,732 0,366 0,305
M
0,31 Í 53,1 42,5 35,4 0,735 0,368 0,306
0,32 N 51,6 41,3 34,4 0,739 0,369 0,308
0,33 I 50,3 40,3 33,5 0,742 0,371 0,309
0,34 O 49,1 39,2 32,7 0,746 0,373 0,311
a arte de projetar estruturas de concreto armado 93

0,35 47,9 38,3 31,9 0,749 0,374 0,312


0,36 III 46,8 37,4 31,2 0,752 0,376 0,313
0,37 45,7 36,6 30,5 0,756 0,378 0,315
0,38 44,7 35,8 29,8 0,76 0,38 0,316
0,39 43,8 35,0 29,2 0,763 0,382 0,318
0,4 42,9 34,3 28,6 0,767 0,383 0,319
0,41 D 42,0 33,6 28,0 0,77 0,385 0,321
0,42 O 41,2 33,0 27,5 0,774 0,387 0,323
0,43 M 40,5 32,4 27,0 0,778 0,389 0,324
Í
0,44 39,8 31,8 26,5 0,782 0,391 0,326
N
0,442 39,6 31,7 26,4 0,782 0,391 0,327
I
O
0,45 39,1 31,2 26,0 0,786 0,393
III

A partir daqui, a viga continua no Domínio III, mas agora excede o limite da NBR 6118.
Com isso, devemos utilizar uma viga duplamente armada para que a linha neutra retorne
ao limite de até 0,45d

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