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3. DURABILIDADE

3.1 DURABILIDADE

A ABNT NBR 6118:2014 nos fornece as diretrizes para durabilidade das estruturas de
concreto armado no item 6.1. (Ler item 6.1 da ABNT NBR 6118:2014)

3.1.1 Exigências de durabilidade

“As estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas de modo que, sob as
condições ambientais previstas na época do projeto e quando utilizadas conforme,
preconizado em projeto, conservem sua segurança, estabilidade e aptidão em serviço
durante o prazo correspondente à sua vida útil.” (ABNT NBR 6118:2014, item 6.1)

3.1.2 Vida útil de projeto

“Por vida útil de projeto, entende-se o período de tempo durante o qual se mantêm as
características das estruturas de concreto, sem intervenções significativas, desde que
atendidos os requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projetista e pelo construtor,
conforme 7.8 e 25.3, bem como de execução dos reparos necessários decorrentes de
danos acidentais.” (ABNT NBR 6118:2014, item 6.2.1)

“O conceito de vida útil aplica-se à estrutura como um todo ou às suas partes. Dessa forma,
determinadas partes das estruturas podem merecer consideração especial com valor de
vida útil diferente do todo, como, por exemplo, aparelhos de apoio e juntas de
movimentação.” (ABNT NBR 6118:2014, item 6.2.2)

“A durabilidade das estruturas de concreto requer cooperação e atitudes coordenadas de


todos os envolvidos nos processos de projeto, construção e utilização, devendo, como
mínimo, ser seguido o que estabelece a ABNT NBR 12655, sendo também obedecidas as
disposições de 25.3 com relação às condições de uso, inspeção e manutenção.” (ABNT
NBR 6118:2014, item 6.2.3)

O prazo correspondente a vida útil de projeto (V.U.P) conforme a ABNT NBR 15575-1:2013
corresponde a 50 anos ou mais para sistemas estruturais.

As estruturas de concreto armado podem se deteriorar pela função de vários mecanismos,


dentre os quais temos os mecanismos de deterioração do concreto e os mecanismos de
deterioração do aço.

3.1.3 Mecanismos de deterioração do concreto

a) Lixiviação

“É o mecanismo responsável por dissolver e carrear os compostos hidratados da pasta de


cimento por ação de águas puras, carbônicas agressivas, ácidas e outras. Para prevenir sua
ocorrência, recomenda-se restringir a fissuração, de forma a minimizar a infiltração de água,
e proteger as superfícies expostas com produtos específicos, como os hidrófugos.” (ABNT
NBR 6118:2014, item 6.3.2.1)
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Hidrófugos são produtos ou agentes químicos acrescentados às argamassas e tintas para


proteger e preservar as paredes e construções da umidade.

b) Expansão por sulfato

“É a expansão por ação de águas ou solos que contenham ou estejam contaminados com
sulfatos, dando origem a reações expansivas e deletérias com a pasta de cimento hidratado.
A prevenção pode ser feita pelo uso de cimento resistente a sulfatos, conforme ABNT NBR
5737.” (ABNT NBR 6118:2014, item 6.3.2.2)

c) Reação álcali-agregado

“É a expansão por ação das reações entre os álcalis do concreto e agregados reativos. O
projetista deve identificar no projeto o tipo de elemento estrutural e sua situação quanto à
presença de água, bem como deve recomendar as medidas preventivas, quando
necessárias, de acordo com a ABNT NBR 15577-1.” (ABNT NBR 6118:2014, item 6.3.2.3)

3.1.4 Mecanismos de deterioração do aço

a) Despassivação por carbonatação

“É a despassivação por carbonatação, ou seja, por ação do gás carbônico da atmosfera


sobre o aço da armadura. As medidas preventivas consistem em dificultar o ingresso dos
agentes agressivos ao interior do concreto. O cobrimento das armaduras e o controle da
fissuração minimizam este efeito, sendo recomendável um concreto de baixa porosidade.”
(ABNT NBR 6118:2014, item 6.3.3.1)

A carbonatação é um fenômeno que ocorre devido às reações químicas entre o gás


carbônico presente na atmosfera, que penetra nos poros do concreto, e o hidróxido de cálcio
e outros constituintes provenientes da hidratação do cimento. A carbonatação inicia-se na
superfície da peça e avança progressivamente para o interior do concreto, ocasionando a
diminuição da alcalinidade do concreto, de pH próximo a 13, para valores próximos a 8. A
alta alcalinidade do concreto forma um filme passivante de óxidos, resistente e aderente à
superfície das armaduras existentes no interior das peças de concreto armado, protegendo
esta contra a corrosão. A carbonatação, ao atingir a armadura, destrói este filme protetor,
possibilitando o início da corrosão, que ocorre com expansão de volume e surgimento de
fissuras, descolamento do concreto aderente à armadura, e principalmente a redução da
área de armadura. A corrosão obriga à necessidade de reparos nas peças, com sérios
prejuízos financeiros aos proprietários. A espessura do cobrimento de concreto é o principal
fator para a proteção das armaduras, ao se interpor entre o meio corrosivo e agressivo e a
armadura, evitando que a carbonatação alcance as armaduras.

b) Despassivação por ação de cloretos

“Consiste na ruptura local da camada de passivação, causada por elevado teor de íon-cloro.
As medidas preventivas consistem em dificultar o ingresso dos agentes agressivos ao
interior do concreto. O cobrimento das armaduras e o controle da fissuração minimizam este
efeito, sendo recomendável o uso de um concreto de pequena porosidade. O uso de

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cimento composto com adição de escória ou material pozolânico é também recomendável


nestes casos.” (ABNT NBR 6118:2014, item 6.3.3.2)

3.1.5 Mecanismos de deterioração da estrutura

“São todos aqueles relacionados às ações mecânicas, movimentações de origem térmica,


impactos, ações cíclicas, retração, fluência e relaxação, bem como as diversas ações que
atuam sobre a estrutura. Sua prevenção requer medidas específicas, que devem ser
observadas em projeto, de acordo com esta Norma ou Normas Brasileiras específicas.
Alguns exemplos de medidas preventivas são dados a seguir:

— barreiras protetoras em pilares (de viadutos pontes e outros) sujeitos a choques


mecânicos;

— período de cura após a concretagem (para estruturas correntes, ver ABNT NBR 14931);

— juntas de dilatação em estruturas sujeitas a variações volumétricas;

— isolamentos isotérmicos, em casos específicos, para prevenir patologias devidas a


variações térmicas.” (ABNT NBR 6118:2014, item 6.3.4)

3.1.6 Agressividade do ambiente

“A agressividade do meio ambiente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam
sobre as estruturas de concreto, independentemente das ações mecânicas, das variações
volumétricas de origem térmica, da retração hidráulica e outras previstas no
dimensionamento das estruturas.” (ABNT NBR 6118:2014, item 6.4.1)

“Nos projetos das estruturas correntes, a agressividade ambiental deve ser classificada de
acordo com o apresentado na Tabela 6.1 e pode ser avaliada, simplificadamente, segundo
as condições de exposição da estrutura ou de suas partes.” (ABNT NBR 6118:2014, item
6.4.2)

Tabela 1 – Classes de agressividade ambiental (CAA)

Classe de Classificação geral do tipo


Risco de deterioração
agressividade Agressividade de ambiente para efeito de
da estrutura
ambiental projeto

Rural
I Fraca Insignificante
Submersa

II Moderada Urbana a,b Pequeno

Marinha a
III Forte Grande
Industrial a,b

IV Muito Forte Industrial a,c Elevado

Respingos de maré

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a Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (uma classe
acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço
de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com
argamassa e pintura).

b Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) em obras em
regiões de clima seco, com umidade média relativa do ar menor ou igual a 65 %, partes da
estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos ou regiões onde raramente
chove.

c Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em


indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas.

Fonte: adaptada da tabela 6.1 da NBR 6118 (2014)

“O responsável pelo projeto estrutural, de posse de dados relativos ao ambiente em que


será construída a estrutura, pode considerar classificação mais agressiva que a
estabelecida na Tabela 6.1.” (ABNT NBR 6118:2014, item 6.4.3)

Esta tabela dará as diretrizes para enquadramento do local onde vai ser construída a obra,
fato que deve ser feito de comum acordo entre o calculista e o proprietário da obra, antes do
início do projeto.

C.A.A I – Fraca Estruturas expostas a uma atmosfera mais limpa não sofrem com as
agressões químicas decorrentes da poluição urbana, como a chuva ácida, por exemplo. O
risco de deterioração da estrutura é insignificante. Por isso, é possível utilizar uma camada
menos espessa de concreto sobre as armaduras. Enquadram-se nesse grupo as edificações
implantadas em ambientes rurais.

C.A.A II - Moderada Os ambientes classe 2 estão mais expostos a agressões ambientais,


como as provenientes do gás carbônico e dos cloretos presentes no ar. Mas não há tanta
umidade constante e o risco de deterioração da estrutura é pequeno. Nesse grupo
enquadram-se as estruturas construídas nas cidades, residenciais e comerciais.

C.A.A III – Forte Nessa categoria estão as edificações expostas à atmosfera marinha, como
as construções em cidades litorâneas. Também estão algumas indústrias. Com maior teor
de umidade, esse tipo de ambiente possui atmosfera com agentes agressivos mais
concentrados. Para se ter uma idéia, a velocidade de corrosão em ambiente marinho pode
ser da ordem de 30 a 40 vezes superior à que ocorre em atmosfera rural.

C.A.A IV – Muito Forte Nesse grupo estão as estruturas implantadas em locais úmidos,
dentro de indústrias, ou diretamente em contato com a água do mar. Esse tipo de ambiente
é extremamente agressivo ao concreto e às suas armaduras. Daí a necessidade de maior
proteção.

Zona de respingos: é a região onde ocorre à ação direta do mar, devido às ondas e aos
respingos. Os danos mais significativos são produzidos por corrosão das armaduras pelos
íons cloreto e por erosão, devido às ondas;

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Zona de variação de marés: esta região está limitada pelos níveis máximo e mínimo
alcançados pelas marés e, devido a isso, o concreto pode encontrar-se quase sempre
saturado, dependendo das condições climatológicas e com uma crescente concentração de
sais. A degradação acontece devido à ação dos sais agressivos (ataque químico), corrosão
de armaduras (devido à presença de cloretos), ação das ondas e outras substâncias em
suspensão (abrasão) e microorganismos;

Zona submersa marinha: o concreto nesta região encontra-se permanentemente submerso.


A degradação acontece pela ação de sais agressivos (sulfato e magnésio) e pela ação de
microorganismos, que em casos extremos, pode gerar a corrosão biológica das armaduras.

“Atendidas as demais condições estabelecidas nesta seção, a durabilidade das estruturas é


altamente dependente das características do concreto e da espessura e qualidade do
concreto do cobrimento da armadura.” (ABNT NBR 6118:2014, item 7.4.1)

“Ensaios comprobatórios de desempenho da durabilidade da estrutura frente ao tipo e


classe de agressividade prevista em projeto devem estabelecer os parâmetros mínimos a
serem atendidos. Na falta destes e devido à existência de uma forte correspondência entre
a relação água/cimento e a resistência à compressão do concreto e sua durabilidade,
permite-se que sejam adotados os requisitos mínimos expressos na Tabela 7.1.” (ABNT
NBR 6118:2014, item 7.4.2)

Tabela 2 – Correspondência entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto

Classe de agressividade (Tabela 6.1)


Concreto a Tipo b,c
I II III IV

Relação CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45


água/cimento
em massa CP ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45

Classe de CA ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40


concreto (ABNT
NBR 8953) CP ≥ C25 ≥ C30 ≥ C35 ≥ C40

a O concreto empregado na execução das estruturas deve cumprir com os requisitos estabelecidos
na ABNT NBR 12655.

b CA corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto armado.

c CP corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto protendido.

Fonte: adaptada da tabela 7.1 da NBR 6118 (2014)

Define-se cobrimento de armadura a espessura da camada de concreto responsável pela


proteção da armadura num elemento. Essa camada inicia-se a partir da face mais externa
da barra de aço e se estende até a superfície externa do elemento em contato com o meio
ambiente. Em vigas e pilares é comum a espessura do cobrimento iniciar na face externa
dos estribos da armadura transversal, conforme a figura abaixo.

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Figura 1 – Cobrimento da armadura

Fonte: BASTOS (2015)

“Para atender aos requisitos estabelecidos nesta Norma, o cobrimento mínimo da armadura
é o menor valor que deve ser respeitado ao longo de todo o elemento considerado. Isto
constitui um critério de aceitação.” (ABNT NBR 6118:2014, item 7.4.7.1)

“Para garantir o cobrimento mínimo (cmín), o projeto e a execução devem considerar o


cobrimento nominal (cnom), que é o cobrimento mínimo acrescido da tolerância de
execução (∆c). Assim, as dimensões das armaduras e os espaçadores devem respeitar os
cobrimentos nominais, estabelecidos na Tabela 7.2, para ∆c = 10 mm.” (ABNT NBR
6118:2014, item 7.4.7.2)

Tabela 3 – Correspondência entre a classe de agressividade ambiental e o cobrimento nominal para ∆c = 10


mm

Classe de agressividade ambiental (Tabela 6.1)


Tipo de Componente
I II III IV
estrutura ou elemento
Cobrimento nominal m

Laje b 20 25 35 45

Viga/pilar 25 30 40 50
Concreto
armado Elementos
estruturais em
30 40 50
contato com o
solo d

Concreto Laje 25 30 40 50

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protendido a Viga/pilar 30 35 45 55

a Cobrimento nominal da bainha ou dos fios, cabos e cordoalhas. O cobrimento da armadura


passiva deve respeitar os cobrimentos para concreto armado.

b Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos
finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento, como pisos de elevado
desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros, as exigências desta Tabela podem ser substituídas
pelas de 7.4.7.5, respeitado um cobrimento nominal ≥ 15 mm.

c Nas superfícies expostas a ambientes agressivos, como reservatórios, estações de tratamento de


água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e
intensamente agressivos, devem ser atendidos os cobrimentos da classe de agressividade IV.

d No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter
cobrimento nominal ≥ 45 mm.

Fonte: adaptada da tabela 7.2 da NBR 6118 (2014)

“Os cobrimentos nominais e mínimos estão sempre referidos à superfície da armadura


externa, em geral à face externa do estribo.” (ABNT NBR 6118:2014, item 7.4.7.5)

“Para concretos de classe de resistência superior ao mínimo exigido, os cobrimentos


definidos na tabela podem ser reduzidos em até 5 mm.” (ABNT NBR 6118:2014, item
7.4.7.6)

BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2014 - Projeto de


estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, ABNT, 2014.

BASTOS, P. S. S. Notas de Aula Concreto Armado 1 - Fundamentos. Bauru: UNESP,


2015. Disponível em:
<http://wwwp.feb.unesp.br/pbastos/concreto1/Fundamentos.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2018.

CARVALHO, R. C.; FIGUEIREDO FILHO, J. R. Cálculo e Detalhamento de


Estruturas Usuais de Concreto Armado: Segundo a NBR 6118:2014. 4. ed. São Carlos:
EdUFSCar, 2013.

PINHEIRO, L. M. Fundamentos do concreto e projeto de edifícios. São Carlos: USP,


2007. Disponível em:
<http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf>. Acesso
em: 18 fev. 2018.

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