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Estudo preliminar visando a substituição de cimento Portland por cinza

pesada da combustão de lenha em fornalhas fumo-tubular no concreto


Preliminary study aiming at the replacement of Portland cement by heavy ash from wood
combustion in smoke-tubular furnaces in concrete

Abrahão Bernardo Rohden (1); Edna Moser (2); Gustavo Gutierrez De Oliveira Rodrigues (3);
Natália Salamoni (3); Luis Carlos Seelbach (4)

(1) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil da FURB; (2) Engenheira Civil, FURB; (3)
Mestrando(a), PPGEA-FURB; (4) Professor Mestre, Departamento de Engenharia Civil da FURB.
Endereço para correspondência: Rua São Paulo, 3250 – Itoupava Seca Blumenau/SC – CEP
89030-000 e-mail: arohden@furb.br

Resumo
O uso de madeira como fonte de energia é utilizado por diversos setores econômicos, gerando grandes
quantidade de cinzas que são descartadas, muitas vezes, sem um controle sobre o solo e o lençol freático. O
objetivo deste trabalho foi analisar a substituição parcial do cimento Portland por cinza de fundo, proveniente
da combustão de madeira de eucalipto de fornalhas fumo-tubular. Para tanto, foram realizadas verificações
quanto ao desempenho físico, mecânico, a trabalhabilidade, e o comportamento frente a temperaturas
elevadas. Partindo de um traço de referência de 30 Mpa, foram dosados traços com 5, 10, 15 e 20% de
substituição de cimento por cinza pesada da combustão de lenha oriunda de fornalhas fumo-tubular. A partir
dos resultados, constatou-se que o traço com 15% de cinza na mistura teve um melhor desempenho na
maioria ensaios realizados.
Palavra-Chave: concreto sustentável; cimento com baixo fator-clínquer; resíduo de biomassa

Abstract
The use of wood as an energy source is used by several economic sectors, generating large amounts of ash
that are often discarded without control over the soil and water table. The objective of this work was to analyze
the partial replacement of Portland cement by bottom ash, resulting from the combustion of eucalyptus wood
from smoke-tubular furnaces. For this purpose, checks were carried out regarding physical and mechanical
performance, workability, and behavior under high temperatures. Starting from a reference mix of 30 MPa,
mixes with 5%, 10%, 15% and 20% of cement replacement by heavy ash from the combustion of wood from
smoke-tubular furnaces were dosed. From the results it was found that the mix with 15% ash in the mixture
had a better performance in most tests performed.

Keywords: sustainable concrete; cement with low clinker factor; biomass residue

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1 Introdução
Até o século XX, a principal fonte de energia para os seres humanos será a biomassa. A
partir de então, o petróleo se tornou disponível em larga escala. A biomassa proveniente
da madeira de reflorestamento e de resíduos sólidos corresponde a 8,7% da matriz
energética mundial e 13,9% da brasileira, se destacando como um combustível renovável
e sustentável no mercado (VIDAL; HORA, 2005; ALCANTARA, 2018).
O impacto ambiental negativo gerado pelo uso de combustíveis fósseis, principalmente
devido à grande emissão de dióxido de carbono (CO 2), motiva o desenvolvimento de
soluções energéticas renováveis, que respeitem os limites naturais do meio ambiente. No
Brasil, essa perspectiva de mudança poderá implicar na alteração da matriz energética,
reduzindo, desta forma, a participação das usinas a óleo e a gás e aumentando a
participação da biomassa como fonte energética (ANDRADE et al., 2018).
A necessidade de novas fontes de energia e combustíveis renováveis, exige que o
aproveitamento da matéria-prima cultivada seja a maior possível. Segundo Andrade et al.
(2018), umas das alternativas mais utilizadas para aproveitamento das cinzas oriundas da
queima de biomassa em caldeiras industriais a vapor é como adubo para o solo, mas
dependendo da sua composição química, estas podem contaminar o solo e as plantações.
Por outro lado, a construção civil é um mercado com grande consumo de matérias-primas
e geração de resíduos sólidos. De acordo com a IPEA (2017), o Brasil gera em torno de
160 mil toneladas diárias de resíduos sólidos. Destes, somente 30 a 40% podem ser
reciclados ou reaproveitados, sendo 13% resíduos que são efetivamente destinados para
a reciclagem. Devido a isso, é imprescindível o desenvolvimento e aprimoramento de
produtos e técnicas da construção que possam absorver os seus próprios resíduos e até
de outros setores.
Em relação à produção mundial de cimento Portland, são produzidos cerca de 1,7 bilhões
de toneladas do produto, responsáveis por cerca de 6 a 7% da emissão total de CO2,
número este que passa para além dos 10% em países como a China, que vem se
desenvolvendo em larga escala (LEVY, 2005; SILVA, 2020).
Uma solução para redução da utilização do cimento Portland e consequente redução da
emissão de CO2 é a substituição parcial do cimento Portland por uma adição mineral que,
segundo Levy (2005), apresente vantagens técnicas, econômicas e ambientais.
As cinzas volantes são, segundo a NBR 12653 (ABNT, 2014), os resíduos minerais que
restam após a combustão completa de substâncias combustíveis, tais como carvão.
Para Freire e Beraldo (2003), as cinzas de origem vegetal, que apresentarem em sua
composição química a presença predominante de sílica no estado amorfo e finura
adequada, podem ser utilizadas como adição mineral ao cimento Portland.
As cinzas com possibilidade de substituição parcial do cimento já estudadas e com
resultados de pozolanicidade positivos são as cinzas da casca do arroz e do bagaço da
cana-de-açúcar (CORDEIRO; MASUERO; DAL MOLIN, 2014; JITTIN; MINNU;
BAHURUDEEN, 2021).
Ao fazer uso dessas adições minerais, é possível reduzir o seu descarte em aterros
sanitários, e ainda, auxiliar na redução dos índices de extração do clínquer e emissão de
CO2, provenientes da fabricação do cimento, justificando como uma medida satisfatória a
redução dos impactos ambientais negativos no setor da construção civil.

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Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a substituição parcial do
cimento Portland por cinza de fundo, proveniente da combustão de madeira de eucalipto
de fornalhas fumo-tubular, no concreto convencional, como uma medida sustentável, por
meio da análise da trabalhabilidade, durabilidade, propriedades mecânicas e do combate
das deformações térmicas e do desplacamento de camada quando submetido a elevadas
temperaturas.
O comportamento do concreto quando submetido a elevadas temperaturas, justifica-se para
a utilização em lugares com condições de temperaturas altas ou até mesmo para situações
de incêndio. Lemos (2011), apresenta um estudo sobre a capacidade do concreto elevado
à altas temperaturas combater as deformações térmicas e o desplacamento de camada do
concreto, conhecido como efeito spalling.

2 Comportamento do concreto exposto à elevadas temperaturas


O concreto pode ser considerado, na maioria dos casos, como um material resistente ao
fogo, no entanto, sua exposição a elevadas temperaturas pode provocar alterações severas
em sua microestrutura e propriedades (KIRCHHOF, 2010).
Com a elevação da temperatura, o concreto pode ter modificações nos cristais constituintes,
ocasionando a deterioração gradual da pasta de cimento endurecida, provocando perda de
resistência e rigidez. Além das transformações e reações de decomposição dos
constituintes do concreto que ocorrem conforme o aumento da temperatura, o aquecimento
muito rápido ainda pode provocar dilatações térmicas entre o aço e o concreto e retração
térmica da pasta de cimento. Essas mudanças podem desenvolver tensões internas,
ocasionando a fissuração do concreto e fratura do material (BAŽANT; KAPLAN; BAZANT,
1996 apud KIRCHHOF, 2010).
Para auxiliar a análise do impacto de incêndio sobre estruturas, pesquisas são feitas em
peças submetidas a elevadas temperaturas (LIMA, 2005; KIRCHHOF, 2010; LEMOS,
2011). Kirchhof (2010), orienta analisar as propriedades mecânicas do concreto, os danos
causados pelas deformações térmicas e os efeitos causados pelo fenômeno do spalling.
O spalling pode ser ocasionado por poropressão devido a evaporação da umidade,
compressão devido ao gradiente da temperatura, fissuras internas devido à expansão
térmica entre agregado graúdo e pasta de cimento e/ou redução da resistência devido a
transições térmicas. Devido a sua extensão, severidade e natureza, o fenômeno pode
proporcionar diferentes situações ao concreto, como lascamento do agregado, quebra das
extremidades, formação de sulcos na superfície ou lascamento explosivo, afetando ou não
a integridade estrutural do material (KIRCHHOF, 2010).

3 Programa experimental
O emprego da cinza de fundo oriunda da queima de eucalipto em fornalhas fumo-circular
como material cimentício suplementar foi avaliado através de ensaio de pozolanicidade da
cinza e ensaios de durabilidade e resistência de traços de concreto com 5, 10, 15 e 20% de
substituição do cimento Portland pela cinza. O comportamento do concreto quando exposto
à elevadas temperaturas também foi avaliado em amostras dos quatro traços de concreto,
através de ensaios de perda de massa e análise de fissuras (Figura 1).

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Figura 1 - Fluxograma experimental

3.1 Materiais
Os materiais que foram utilizados no concreto foram o cimento Portland CP II-Z-40 com
massa específica de 3,05 g/cm³, agregado graúdo com massa específica de 2,86 g/cm³,
massa unitária de 1,72 g/cm³ e dimensão máxima característica (DMC) de 19 mm, agregado
miúdo com massa específica de 2,46 g/cm³ e módulo de finura de 2,21, água e cinza de
fundo da combustão de eucalipto. A composição granulométrica dos agregados é
demonstrada na Figura 2.

100
90
Volume passante (%)

80
70
60
50
40
30 Agregado
20 graúdo
10 Agregado
miúdo
0
0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
Figura 2 – Curva granulométrica dos agregados

Já, para a avaliação da atividade pozolânica da cinza, foram realizadas misturas de


argamassa com cimento CP II-F-32 e hidróxido de cálcio CH III com massas específicas de
3,06 e 2,30 g/cm³, respectivamente, agregado miúdo, água e cinza de eucalipto.
A cinza de fundo proveniente da combustão da madeira de eucalipto foi coletada em
fornalhas fumo-tubular da cidade de José Boiteux, Santa Catarina. A temperatura média da
combustão é de 150 °C, e tempo de queima de 2 horas (Figura 3).
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(a) (b) (c)
Legenda: (a) Fornalha fumo-tubular; (b) Queima da madeira; (c) Cinza de fundo de eucalipto
Figura 3 – Processo de queima do eucalipto em fornalha

3.2 Métodos
3.2.1 Caracterização física da cinza de fundo
A cinza de eucalipto foi caracterizada através de ensaio de granulometria e massa
específica, de acordo com a NBR NM 248 (ABNT, 2003) e DNER-ME 093 (1994),
respectivamente.

3.2.2 Índice de atividade pozolânica


Ainda, visando a utilização da cinza como material pozolânico, foram realizadas misturas
de argamassa para determinação do índice de desempenho com cimento Portland aos 28
dias, de acordo com a NBR 5752 (ABNT, 2014), sendo moldados seis corpos-de-prova
(CPs) cilíndricos, com diâmetro de 50 mm e altura de 100 mm, de uma argamassa
referência, sem cinza (argamassa A), e outros seis CPs com 25% de cinza (argamassa B),
e da atividade pozolânica com cal aos sete dias, de acordo com a NBR 5751 (ABNT, 2015),
sendo moldados três CPs (argamassa C). As quantidades de materiais utilizados nas
argamassas são apontadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Quantitativo das argamassas (g)


Traço Cimento (g) Hidróxido de cálcio (g) Cinza de eucalipto (g) Agregado miúdo (g) Água (g)
Argamassa A 624 - - 1872 300
Argamassa B 468 - 156 1872 300
Argamassa C - 104 199 936 270

Os CPs das argamassas A e B foram desmoldados após 24 horas e a cura ocorreu em


tanque com água saturada com cal até realização do ensaio de resistência à compressão
axial aos 28 dias.
De forma distinta, a cura dos CPs da argamassa C foi realizada nos próprios moldes. Nas
primeiras 24 horas permaneceram em temperatura ambiente e posteriormente foram
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colocados na estufa, em temperatura de 55 ºC, permanecendo lá até os sete dias de idade.
Após, foram submetidos ao ensaio de compressão axial.

3.2.3 Aplicação no concreto


Cinco traços de concreto, com substituição parcial do cimento Portland pela cinza estudada
nas proporções de 0, 5, 10, 15 e 20% foram dosados, de acordo com o método americano
do comitê ACI 201 (ACI, 1991), seguindo os passos descritos por Mehta e Monteiro (1994).
Primeiro, o abatimento do tronco de cone foi fixado entre 25 e 50 mm. Após, já com a
dimensão máxima característica do agregado graúdo definida, foram estimadas a
quantidade de água de amassamento e o teor de ar incorporado de 187 kg/m³ e 2 %,
respectivamente. A relação água/cimento (a/c) adotada foi de 0,54 devido à resistência à
compressão requerida aos 28 dias de 30 MPa, resultando no consumo de cimento de
346,30 kg/m³ de concreto. Por fim, foram determinados os consumos do agregado graúdo,
1136,85 kg/m³, e do agregado miúdo, 702,16 kg/m³. Os traços referência e com substituição
parcial do cimento pela cinza estão expostos na Tabela 2.

Tabela 2 – Dosagem dos concretos (kg/m³)


Cimento Cinza de eucalipto Agregado graúdo Agregado miúdo Água estimada
Traço
(kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³)
Referência 346,30 - 1136,85 702,16 187,00
5% 328,98 12,11 1136,85 702,16 187,00
10 % 311,67 24,22 1136,85 702,16 187,00
15 % 294,35 36,34 1136,85 702,16 187,00
20 % 277,04 48,45 1136,85 702,16 187,00

Após mistura dos materiais em betoneira, foram determinados o abatimento do tronco de


cone dos traços de concreto, conforme NBR 16889 (ABNT, 2020), e em seguida foram
moldados 27 CPs cilíndricos, com 100 mm de diâmetro e 200 mm de altura, para cada
traço, seguindo a NBR 5738 (ABNT, 2015). Depois de desmoldados, os CPs foram
transferidos para o tanque de cura em água e cal, onde permaneceram por 7 ou 28 dias,
conforme o fluxograma de ensaio.
Seguindo os procedimentos adotados por Amaral (2017), para realizar o ensaio com os
CPs expostos à altas temperaturas, 15 CPs (três CPs por traço) foram colocados no forno
elétrico mufla, seis por vez. A temperatura foi elevada em uma taxa de aquecimento médio
de 5°C/min, até atingir 600 °C. Os CPs permaneceram por duas horas no forno para garantir
que todo o seu interior tivesse alcançado a temperatura desejada.
Após preparação das amostras, foram realizados os ensaios de absorção de água por
capilaridade, perda de massa, análise de fissuras, resistência à compressão axial e
resistência à tração por compressão diametral.

3.2.4 Absorção de água por capilaridade


Para o ensaio de absorção de água por capilaridade, seguiram-se os procedimentos da
NBR 9779 (ABNT, 2012). O ensaio foi realizado com seis CPs sem exposição à 600 ºC e
três CPs expostos à 600ºC para cada traço, totalizando 45 CPs ensaiados.

3.2.5 Perda de massa


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A determinação da perda de massa foi realizada com as mesmas amostras submetidas ao
ensaio de absorção, sendo determinada através da diferença da média da massa seca dos
CPs sem exposição à 600 °C e a média da massa seca dos CPs após exposição à 600 °C.

3.2.6 Análise de fissuras


A análise de fissuras foi realizada em todos os CPs submetidos a exposição à 600 ºC, com
o auxílio do aparelho fissurômetro, seguindo os critérios sugeridos por Liz (2015, apud
AMARAL, 2017).

3.2.7 Resistência à compressão axial


O ensaio de resistência à compressão axial foi realizado em 30 CPs sem exposição à 600
ºC aos 28 dias de cura (seis CPs por traço), e nos 15 CPs com exposição à 600 ºC aos 28
dias de cura (três CPs por traço), com auxílio de uma prensa hidráulica, conforme NBR
5739 (ABNT, 2018).

3.2.8 Resistência à tração por compressão diametral


Por fim, a resistência à tração por compressão diametral foi determinada apenas nas
amostras sem exposição aos 600 ºC, totalizando 30 CPs sem exposição à 600 ºC aos 14 e
28 dias de cura (seis CPs por traço), também com auxílio de prensa hidráulica, conforme
NBR 7222 (ABNT, 2011).

4 Resultados e discussões
4.1 Caracterização física da cinza de fundo
A massa específica da cinza de fundo proveniente da combustão do eucalipto, determinada
através do método do picnômetro foi de 2,20 g/cm³.
Para o material ser considerado pozolânico, deve estar enquadrado perante alguns
requisitos físicos de acordo com a NBR 12653 (ABNT, 2014). São duas propriedades que
devem ser analisadas, o material retido na peneira com abertura de malha de 45 µm e o
índice de atividade pozolânica.
A composição granulométrica da cinza foi determinada (Figura 3), resultando no módulo de
finura de 2,08.

100
90
Volume passante (%)

80
70
60
50
40
30
20
10
0
0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
Figura 3 – Composição granulométrica da cinza de fundo de eucalipto

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A partir da granulometria, é possível observar que apenas cerca de 9,4 % do material é
passante pela peneira com abertura de malha 150 µm. Para o material ser considerado
pozolânico, conforme requisitos da NBR 12653 (ABNT, 2014), ao menos 66 % das
partículas deveriam passar pela peneira com abertura de malha de 45 µm.
Dessa forma, a cinza deveria passar por processo de moagem antes de ser empregado
como material pozolânico para uso como adição.

4.1.1 Índice de atividade pozolânica


A NBR 12653 (ABNT, 2014) ainda aponta que o índice de desempenho com cimento aos
28 dias deve ser igual ou superior em 75% em relação ao controle, e a atividade pozolânica
com a cal aos sete dias deve ser de, no mínimo 6 MPa.
Os resultados referentes aos ensaios de resistência à compressão axial das argamassas e
índice de atividade pozolânica são apresentados na Figura 4.

20,2 MPa
20 100

Índice de atividade
12,9 MPa

pozolânica (%)
compressão axial

80
15
Resistência à

60
(MPa)

10
40
5 3,3 MPa
20
0 0
Referência (0%) Com Cinza (25%) Cal hidratada (100%)
Figura 4 – Atividade pozolânica da cinza

O índice de atividade pozolânica da cinza foi de 64 % e com cal hidratada 3,3 MPa. Ambos
os valores são inferiores ao estabelecido pela norma. Os resultados apresentados foram
ligeiramente inferiores aos observados por Amaral (2020). De acordo com estes requisitos,
o material não é considerado pozolânico pela NBR 12653 (ABNT, 2014).

4.2 Aplicação no concreto


A quantidade de água de cada traço foi determinada experimentalmente, visando manter o
abatimento fixado no momento da determinação da dosagem do concreto, variando de 25
a 50 mm (Tabela 3).

Tabela 3 – Consumo de água e abatimento


Traço Consumo de água real (kg/m³) Abatimento (mm)
Referência 187,00 50
5% 187,00 50
10 % 184,81 35
15 % 182,62 40
20 % 187,00 25

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4.3 Absorção de água por capilaridade
O ensaio de absorção de água por capilaridade foi realizado em dois momentos: sem
exposição à 600 ºC (Figura 5) e com exposição à 600 ºC (Figura 6).
Através dos resultados obtidos, nota-se que nas primeiras horas de imersão na água a
ascensão capilar é maior para todos os traços. Ainda, os concretos com maiores teores de
cinza apresentaram maiores valores de absorção de água.
Após a exposição à 600 ºC, todas as amostras apresentaram absorção capilar mais
elevada. Tal resultado deve-se ao fato de que a exposição à temperatura elevada aumentou
a quantidade de vazios do concreto devido a evaporação da água, formando fissuras.

0,140
Absorção de água por
capilaridade (g/cm²)

0,120

0,100

0,080 Referência

0,060 5%

0,040 10%
15%
0,020
20%
0,000
0 10 20 30 40 50 60 70
Raiz do tempo (min)
Figura 5 – Absorção de água por capilaridade no concreto sem exposição à 600 ºC

3,500

3,000
Absorção de água por
capilaridade (g/cm²)

2,500

2,000 Referência

5%
1,500
10%
1,000
15%
0,500
20%
0,000
0 10 20 30 40 50 60 70
Raiz do tempo (min)
Figura 6 – Absorção de água por capilaridade no concreto com exposição à 600 ºC

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Para ambos os casos, o traço referência e o traço com adição de 5% de cinza mantiveram
os valores de absorção de água por capilaridade bem próximos. Já o traço om 15% de cinza
apresentou maiores valores no ensaio sem exposição e menores valores no ensaio após
exposição à 600 ºC em comparação com os demais traços.

4.4 Perda de massa


A perda de massa foi calculada através da diferença de massa dos CPs sem e com
exposição à 600 ºC (Tabela 4).

Tabela 4 – Perda de massa


Traço Perda de massa (g) Perda de massa (%)
Referência 280,38 7,48
5% 228,86 6,11
10 % 201,22 5,46
15 % 198,95 5,39
20 % 213,32 5,80

Através dos resultados obtidos, verificou-se que os traços com adição de cinza
apresentaram menor perda de massa do que o traço referência, com menores valores para
substituições de 10 e 15 %.

4.5 Análise de fissuras


A análise de fissuras foi realizada apenas nos CPs com exposição à 600 ºC, sendo
analisados, de forma aleatória, um quadrado, de 50 mm de lado, de cada região superior,
intermediária e inferior da amostra (Figura 7).

Figura 7 – Análise de fissuras das amostras com exposição à 600 ºC

As fissuras analisadas foram as que possuíam uma espessura superior a 0,1 mm, devido
à dificuldade de visualização de espessuras menores com o aparelho fissurômetro. O
quantitativo das fissuras e suas dimensões são apresentados na Figura 8.

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Figura 8 – Quantitativo das fissuras para os traços com exposição à 600 ºC

As fissuras variam de 0,1 a 1,2 mm, sendo na sua grande maioria fissuras com espessura
de 0,1 a 0,3 mm.
O traço com substituição de 20% de cinza teve resultados mais próximo do traço referência,
com uma média de 10 fissuras por CP. Os traços com 5 e 10 % de adição obtiveram uma
média de 10 e 14 fissuras por CP, respectivamente. Ainda, obtiveram fissuras maiores que
0,4 mm, sendo considerados os traços com menor desempenho. Já o traço com adição de
15% de cinza obteve o melhor desempenho, apresentando cerca de 14 fissuras por CP.
Suas maiores fissuras foram de 0,3 mm de espessura, sendo a grande maioria de 0,1 mm.
De forma geral, os traços com 15% e 20% de cinza, alcançaram os resultados mais
satisfatórios, com espessuras de fissuras menores comparando aos demais traços.

4.6 Resistência à compressão axial


Ambos os CPs sem e com exposição à 600 ºC foram ensaiados quanto a resistência à
compressão axial, aos 28 dias de idade (Figura 9).

Figura 9 – Resistência à compressão axial em amostras sem e com exposição à 600 ºC


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A partir dos valores obtidos, é possível observar que a temperatura é um fator que influência
diretamente na resistência a compressão. Quando submetido a elevadas temperaturas, a
resistência à compressão do concreto sofre alterações (BAŽANT; KAPLAN; BAZANT, 1996
apud KIRCHHOF, 2010).
Todos os traços perderam resistência quando o concreto foi exposto à 600 ºC, em
comparação com a exposição à 23 ºC (temperatura ambiente), sendo o traço com 10 % de
cinza aquele com maior perda de resistência, cerca de 57,0 %, e o traço de 15 % de cinza
aquele com menor perda de resistência, cerca de 44,2 %.

4.7 Resistência à tração por compressão diametral


O ensaio de resistência à tração por compressão diametral foi realizado apenas nas
amostras sem exposição à 600 ºC, nas idades de 14 e 28 dias (Figura 10).

Figura 10 – Resistência à tração por compressão diametral em amostras sem exposição à 600 ºC

A resistência à tração por compressão diametral diminuiu com o aumento da substituição


do cimento por cinza. O traço referência foi o que apresentou uma resistência melhor aos
14 dias em relação aos 28 dias de cura. Os traços com adição de cinza que apresentaram
os melhores resultados com 14 dias em relação aos 28 dias de cura, foram os traços com
5, 10 e 20% de adição de cinza, em ordem crescente.

5 Conclusões
A caracterização da cinza de fundo proveniente da combustão de eucalipto, de acordo com
a NBR 12653 (ABNT, 2014), não o considerou um material pozolânico, devido à sua
granulometria e atividade pozolânica.
Com o presente trabalho, ainda foi possível analisar o desempenho do concreto com
substituição parcial do cimento Portland por cinza, com e sem exposição à 600 ºC.
No ensaio de absorção de água por capilaridade, constatou-se que antes da exposição à
600 ºC, os concretos com maior quantidade de cinza no traço, apresentaram uma maior
absorção de água, comparado ao traço com 5% de cinza e ao traço referência. Após a

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exposição, os traços com adições de 10 e 20% de cinza obtiveram uma maior absorção de
água, comparado ao traço referência, enquanto o traço com 15% alcançou valores
menores.
Analisando os resultados obtidos no ensaio de perda de massa, o traço com adição de 15%
de cinza perdeu menos massa. Em contrapartida, o traço referência perdeu a maior
quantidade de massa. A perda de massa está ligada a evaporação da água no interior dos
CPs. Assim, quanto menor a perda de massa, menor a quantidade de vazios.
Nas análises de fissuras, o traço com substituição de 20% de cinza teve resultados mais
próximo do traço referência, onde o traço referência obteve fissuras de até de 0,5 mm de
espessura. O traço com adição de 15% de cinza obteve o melhor desempenho. Apesar de
ter apresentado uma grande quantidade de fissuras por CP, suas maiores fissuras foram
de apenas 0,3 mm de espessura, sendo, na sua maioria, de apenas 0,1 mm de espessura.
Já os traços com 5 e 10% de adição de cinza, tiveram o pior desempenho na análise de
fissuras. Destaque para o traço com adição de 10% de cinza que apresentou fissuras de
até 1,2 mm.
No ensaio de resistência à compressão axial, houve redução de resistência das amostras
expostas à 600 ºC de cerca de 50% em relação àquelas não expostas. O traço com adição
de 15% de cinza de eucalipto obteve menor redução da resistência após a exposição à 600
ºC. Quando submetidos ao ensaio de tração por compressão diametral, os traços com 15
e 20% de substituição de cinza, obtiveram valores próximos aos 10% de compressão.
Frente ao exposto, em relação as proporções de adições, notou-se que o traço com 15%
de cinza, frente às análises dos efeitos físicos estudadas, apresentou resultados
satisfatórios quando comparado ao traço referência. Isso já era esperado visto pelos
resultados obtidos e relatados no estudo de Vaske (2012).
De forma geral, destaca-se que a utilização de cinza de fundo proveniente da combustão
de biomassa de eucalipto é viável, quando utilizado em pequenas quantidades. Esse
material proporciona benefícios ao meio ambiente, tanto pela diminuição da produção de
concreto (emissão de CO2), quanto no aproveitamento do resíduo, além de proporcionar
segurança para as estruturas expostas a elevadas temperaturas.

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