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Utilização de resíduos de argilas calcinadas em substituição parcial do cimento


Portland em concretos: uma revisão Analysis of the use of calcined clay
residues in partial replacem...

Article · May 2022

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4 authors, including:

Gustavo Gutierrez de Oliveira Rodrigues Abrahao Bernardo Rohden


Universidade Regional de Blumenau Universidade Regional de Blumenau
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Utilização de resíduos de argilas calcinadas em substituição parcial do
cimento Portland em concretos: uma revisão
Analysis of the use of calcined clay residues in partial replacement of Portland cement in
concrete: a review

Gustavo Gutierrez de Oliveira Rodrigues (1); Abrahão Bernardo Rohden (2)


(1) Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental – PPGEA /
Universidade Regional de Blumenau - FURB. E-mail: gustavogutierrez01@hotmail.com
(2) Professor Doutor, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental -
PPGEA/Universidade Regional de Blumenau - FURB. E-mail: abrcivil@gmail.com
Rua São Paulo, 3250, 89030-000, Itoupava Seca – Blumenau – SC.

Resumo
O uso do concreto rompeu barreiras em que o ser humano não enxergava viabilidade de as transpassar.
Para tanto, diversos materiais passaram a ser utilizados em larga escala, desde os agregados naturais e/ou
britados, como areia e brita, respectivamente, bem como o principal material utilizado no mundo, o cimento
Portland. Com base na crescente de utilização, percebeu-se que o cimento era um potencial causador de
impactos ambientais negativos, tendo assim, a necessidade de se realizar mudanças ou adequações em
seu processo de fabricação. Uma das atividades identificadas para este afim é a substituição do cimento por
resíduos e/ou subprodutos industriais, desde que estes participem de forma direta na promoção de
melhorias nas características dos concretos. Logo, o objetivo deste trabalho é analisar, através de revisão
bibliográfica o efeito da substituição parcial do cimento Portland por resíduos de argilas calcinadas, em
termos de resistência à compressão em concretos. Com base nos resultados encontrados identifica-se que
os resíduos de argilas calcinadas possuem considerável teor de viabilidade de utilização em substituição
parcial do cimento Portland em concretos convencionais. Salienta-se que os resultados encontrados abaixo
dos valores de referência, não significa que são inviáveis de aplicação, mas que, no entanto, necessita de
estudos aprofundados, para examinar parâmetros relativos à origem das argilas, granulometria do material,
temperatura de calcinação e processo de moagem, pois a sua ativação de reatividade depende diretamente
destes fatores.
Palavras-Chave: resíduos de argila calcinada; cimento Portland; impacto ambiental negativo; substituição; concreto

Abstract
The use of concrete broke barriers in which the human being did not see the viability of crossing them. For
this purpose, several materials started to be used on a large scale, from natural and / or crushed aggregates,
such as sand and gravel, in particular, as well as the main material used in the world, Portland cement.
Based on the increasing use, it was realized that cement was a potential cause of negative environmental
impacts, thus having the need to make changes or adjustments in its manufacturing process. One of the
activities identified for this purpose is the replacement of cement by residues and / or industrial by-products,
as long as they participate directly in promoting improvements in the characteristics of concrete. Therefore,
the objective of this work is to analyze, through bibliographic review, the effect of partial replacement of
Portland cement by calcined clay residues, in terms of compressive strength in concrete. Based on the
results found, it is identified that the residues of calcined clays have a considerable viability of use in partial
replacement of Portland cement in conventional concretes. It should be noted that the results found below
the reference values, does not mean that they are not feasible to apply, but that, however, it needs in-depth
studies to examine parameters related to the origin of the clays, granulometry of the material, calcination
temperature and process grinding, as its reactivity activation depends directly on these factors.
Keywords: calcined clay waste; Portland cement; negative environmental impact; replacement; concrete

ANAIS DO 62º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2020 – 62CBC2020 1


1 Introdução

O concreto é uma das mais importantes inovações do mundo moderno. A sua utilização
possibilitou romper limites em termos de durabilidade, resistência mecânica e as mais
diversas formas geométricas de se realizar obras de arte de concreto.
A utilização do concreto começou a ganhar maior notoriedade por volta da metade do
século XIX, tendo sido patenteado no Estados Unidos em 1878 (HELENE; ANDRADE,
2017).
Com base em toda a difusão ocorrida a partir do descobrimento e primórdio de aplicação
do concreto, deu-se início a uma grande oferta por necessidade de demanda do cimento
Portland, o concreto passou a ser categorizado como o material de construção mais
utilizado em todo o mundo (AREL, 2016).
Para tanto, a sua utilização passou a ser realizada nos mais diversos seguimentos de
aplicação, desde pavimentação rodoviária, estruturas de concreto armado, monumentos
estruturais, ou seja, percebe-se a gama de utilização e promoção de soluções que o
concreto passou a possibilitar.
Diante de todo leque de aplicação que o concreto detém, estima-se que anualmente são
produzidas cerca de 2,35 bilhões de toneladas (KIM; GOULIAS, 2015). Com base no
dado de produção, pode-se perceber que diversas soluções estruturais são efetuadas, no
entanto, por se tratar de um material composto, logo, também é exercido um considerado
dado de impacto ambiental de forma negativa.
O principal efeito negativo causado pelo concreto, não se remete diretamente a sua
mistura, no entanto, é destinado ao seu principal constituinte, que é o cimento Portland.
Estima-se que cerca de 9% de todo o dióxido de carbono emitido em decorrência das
atividades antrópicas é de responsabilidade da indústria cimenteira (USGS, 2019).
Mesmo se tratando de uma atividade de vital importância para desenvolvimento mundial,
a indústria do cimento, que acaba derivando a produção de concreto, contribui em
segmentos crescentes para a degradação ambiental.
Com o intuito de promover uma atividade industrial mais limpa, diversas atividades foram
identificadas como possíveis realização com o intuito de reduzir os impactos causados
pela produção de cimento, que de forma direta ou indireta, acaba também afetando a
utilização do concreto, pois depende diretamente do cimento para ser realizada.
Uma das atividades identificadas como propícias a esta redução de impactos ambientais
causados pela produção de cimento é a utilização de concretos sustentáveis, levando em
consideração, principalmente, a reciclagem e utilização de resíduos industriais em
substituição parcial do cimento (SANTOS; NÓBREGA, 2019).
Dentre tantos materiais que podem ser utilizados como possíveis substituintes do cimento
na fabricação do cimento, os resíduos de argilas calcinadas têm ganhado considerado
destaque no cenário nacional. Este fato se dá principalmente pelo dado de produção de
matérias a partir da conformação de argilas calcinadas, chegando a cerca de 5,5 milhões
de peças por ano (ANICER, 2017).
No entanto, nem tudo que é produzido é efetivamente utilizado. A indústria de argilas
calcinadas tem uma considerada perda, chegando a dados de 30% de tudo o que é
produzido se torna resíduo (IDROGO; BEZERRA; ACUNA, 2016).

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Com base no dado de geração de resíduos decorrente das atividades de produção de
argilas calcinadas, também atrelado a necessidade de utilização de outros produtos para
aplicação na fabricação e/ou substituição do cimento, os resíduos de argilas calcinadas
têm sido identificados como potenciais de utilização, levando em consideração
principalmente a redução dos impactos ambientais causados pela destinação incorreta e
também, pela possibilidade de produzir cimento de forma mais sustentável.
Diante disto, o presente trabalho tem como objetivo analisar, através de revisão
bibliográfica o efeito da substituição parcial do cimento Portland por resíduos de argilas
calcinadas, em termos de resistência à compressão em concretos.

2 Materiais e programa experimental

Com base na necessidade de alcançar os objetivos elencados neste trabalho, foi


realizada a verificação em diversas bases de estudos em território nacional, analisando as
semelhanças para que pudesse ser realizado o efeito comparativo entre as fontes. Para
tanto, a análise baseia-se nos resultados obtidos através da realização do ensaio de
resistência à compressão em corpos de prova de concreto, que passaram pelo processo
de substituição parcial do cimento por resíduos de argilas calcinadas.
Vale salientar que a primazia do trabalho é a comparação dos eventuais efeitos que a
substituição do cimento Portland por resíduos de argilas calcinadas, causam em termos
de resistência à compressão, quando analisados variados teores de substituição.

2.1 Fabricação e geração de resíduos de argilas calcinadas

As argilas calcinadas são obtidas através da conformação de matérias-primas de origem


terrosa, em sua grande maioria, e posteriormente são submetidas a tratamentos térmicos,
para que possam disponibilizar de estrutura e estabilidade dimensional propícia para
utilização como material sólido (KAZMIERCZAK, 2017).
Para tanto, a obtenção do produto final de argila calcinada, perpassa por diversas etapas
até que se tenha o produto final para uso. Por se tratar de um material que possui origem
natural, tem-se a necessidade de ser submetido a tratamentos específicos anteriormente
a sua utilização.
Com base nas inúmeras fases que a argila é submetida até que se alcance os produtos
finais, o esquema de fabricação é representado a seguir (Figura 1).

Figura 1 - Diagrama esquemático do processo de fabricação de componentes de cerâmica vermelha


(Adaptado de Kazmierczak (2017)).
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Como base no esquema de produção (Figura 1), pode-se identificar que a primeira etapa
relacionada a preparação da matéria-prima, consiste inicialmente na extração da argila,
tendo a necessidade principal de ser realizada uma análise criteriosa quanto a diversos
seguimentos de produção. Por se tratar de um material que disponibiliza diversos
produtos que podem ser produzidos a partir de sua matéria, logo, deve-se considerar
aspectos específicos para a escolha das argilas, levando em consideração
principalmente, qual será o produto final de conformação.
Dentre os diversos fatores que devem ser ponderados, destaca-se principalmente a
composição geral da jazida, levando em consideração os tipos de argilominerais que lá
estão presentes e também o grau de pureza que a argila possui; outro fator de grande
importância para a escolha do material, é quantidade de argila que tem disponível para
ser utilizada, pois a depender do volume propício de utilização, a sua aplicação se torna
inviável; e por fim, deve-se considerar a respeito do custo com deslocamento da matéria-
prima até a fábrica, sendo este um fator de grande relevância (KAZMIERCZAK, 2017).
Posteriormente a etapa de coleta de argila na jazida, são realizadas as etapas de
sazonamento, mistura e homogeneização, para que possibilite ao material uma
adequação mais propícia para ser utilizado.
Diante disto, a fase de sazonamento, consiste basicamente na disposição das argilas a
ações de intempéries, em grande parte das ações a céu aberto, podendo chegar a 2 anos
de exposição (ZANDONADI; LASHIMOTO, 1991). O intuito principal desta atividade é de
promover características importantes, tais como: lavagem de sais solúveis, redução nas
tensões dos eventuais blocos formados pelas argilas, auxílio na plasticidade do composto,
desagregação dos torrões e também, distribuição específica da umidade (OLIVEIRA,
2011).
Ainda em relação a etapa de preparação da massa, a mistura e homogeneização são de
vital importância que sejam realizadas de forma controlada, levando em consideração
principalmente por ser uma etapa anterior a conformação das mesmas.
Para tanto, a mistura das argilas em grande parte dos casos, ocorre de forma conjunta, ou
seja, dois ou mais tipos de argilas são misturados para que confiram propriedades que em
tese, alguma seria identificada como faltosa, se utilizada de forma isolada (MOTTA;
ZANARDO; CABRAL JUNIOR, 2001). Com base na realização da mistura, a argila, agora
composta, pode passar por etapas de homogeneização, para que tenha a possibilidade
de ser conformada sem que exista tanta variação de temperatura em seu interior
(OLIVEIRA, 2011).
A etapa de conformação das argilas, pode ser realizada por extrusão ou prensagem. A
escolha por um ou outro tipo de atividade é realizada de acordo com o produto final que
se deseja. Quando a fabricação corresponde a tijolos e blocos, logo se utiliza extrusão;
logo, quando o objeto final desejado são as telhas, se utiliza a prensagem
(KAZMIERCZAK, 2017).
Para a realização da secagem das argilas após a conformação das mesmas é necessário
considerar diversos aspectos, principalmente os concernentes a umidade em que o
material se encontra, pois se trata de uma união de mais de um tipo de matéria-prima, e
com isso, é inevitável que exista variação de umidade quando unidas.
Por se tratar de uma etapa um tanto complexa e importante, tem-se a necessidade da
umidade ser realizada em sua inteireza de valor. Isto tem fato atrelado diretamente a

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possíveis defeitos, que podem ser decorrentes de uma má secagem. No entanto, esses
defeitos, em sua grande maioria, só serão identificados após a queima, gerando assim
perdas e geração de resíduos (VIEIRA; FEITOSA; MONTEIRO, 2003).
Conforme visto (Figura 1), a secagem pode ser realizada de forma natural ou artificial.
Ambas dependem de diversos fatores quanto a velocidade de secagem, desde a
temperatura e umidade, até a incidência do ar e granulometria da argila. Em linhas gerais,
a secagem natural, a depender das condições locais, pode variar entre 10 e 30 dias. No
entanto, quando se realiza a secagem de forma artificial, esta é reduzida para cerca de 3
dias (KAZMIERCZAK, 2017).
A queima é uma etapa muito sensível do processo de obtenção de argilas calcinadas,
pois apenas nesta etapa falhas em fases anteriores são identificadas. Até cerca de 150
ºC, os argilominerais perdem a água que estava adsorvida, e seguindo patamar de
aquecimento, tendo as respectivas reações químicas de transformação, prosseguindo até
cerca de 1000 ºC, a depender do caso, acima deste valor, para que a verificação da argila
seja finalizada e o material esteja conformado para uso. A secagem do material em geral
corresponde a uma variação entre 8 e 24 h (OLIVEIRA, 2011; KAZMIERCZAK, 2017).
Diante de todo o processo de produção e por se tratar de uma indústria que produz peças
em larga escala, é inevitável que existam perda e geração de resíduos, desde a etapa de
produção, até a distribuição e utilização final.
Com base nisto, estima-se que cerca de 30% de todo o montante fabricado, das mais
variadas peças cerâmicas, desde tijolos, blocos e telhas, é contabilizado como resíduo, ou
seja, em um segmento de economia que gera milhões anualmente, uma considerada fatia
de produção é perdida, seja no processo de obtenção ou em etapas posteriores
(IDROGO; BEZERRA; ACUNA, 2016).
Para tanto, percebe-se a necessidade de serem reduzidos os impactos de geração dos
resíduos deste tratado industrial, reduzindo assim o impacto ambiental inerente a sua
atividade.
Além do viés de redução de impacto ambiental, a utilização dos resíduos de argilas
calcinadas como substituto parcial do cimento Portland, torna-se uma atividade
necessária, tendo em vista que o produto de base é utilizado para fabricação do cimento,
viabilizando assim a sua utilização, tornando o cimento mais sustentável e também
reduzirá o montante de resíduos que seriam destinados a aterros sanitários.

2.2 Propriedades do concreto

O concreto é uma das maravilhas do mundo moderno. Para tanto, a sua utilização rompe
as barreiras dos conceitos e aplicações de durabilidade de estruturas, atrelado a
disponibilidade de altas resistências mecânicas e variadas geometrias que podem ser
moldadas através da sua utilização.
A descoberta do concreto remete a meados do século XIX, tendo recebido entrada de
patente em 1878 nos Estados Unidos e posteriormente na Suíça, por volta de 1892
(HELENE; ANDRADE, 2017).
Com base na difusão mundial do concreto, foi identificado que o mesmo contribui de
forma positiva para desenvolvimento mundial em termos de infraestruturas e também
facilidade cognitiva para adequações de necessidades.
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Em decorrência do aumento de utilização, o concreto passou a ser tratado como uma
mistura de materiais que deveria receber atenção especial, quanto a propriedades
específicas que a este estavam atreladas. As propriedades as quais tem considerado teor
de importância, são analisadas tanto no estado fresco quanto no estado endurecido.
A consistência e a trabalhabilidade, obtidas no estado fresco, são determinantes para que
se obtenha a resistência do concreto conforme dosagem estabelecida em fase de estudo.
Para tanto, a consistência deve caracterizar o concreto quanto ao transporte, lançamento,
adensamento e acabamento, sem que ocorra segregação do composto, garantindo assim
a eficiência a qual se deve disponibilizar (NEVILLE, 2016).
Em concretos mal dosados, em que a presença de água é superior ao especificado em
dosagem, o efeito da segregação se torna muito evidente. Diante disto, a resistência do
material sofre com consideradas perdas, principalmente por não se apresentar como um
material homogêneo em mistura.
No quesito trabalhabilidade, tem-se a importância quanto a energia necessária para que
seja realizado o adensamento completo do concreto. Salienta-se que em grande parte
dos casos, em que não necessita de incorporação de ar, a trabalhabilidade deve
disponibilizar tal atividade de eliminação de ar aprisionado. Tal atividade depende
diretamente da granulometria dos materiais, utilização de aditivos e também da relação
água/cimento (NEVILLE; BROOKS, 2010).
Com base na realização efetiva das atividades e propriedades inerentes ao estado fresco,
a fase endurecida é considerada o foco principal para o concreto. Para tanto, pode-se
destacar a durabilidade e a resistência mecânica do concreto, como propriedades que
devem ser analisadas criteriosamente.
Em tempos em que se exigem melhores desempenhos das estruturas de concreto
armado, o conceito de durabilidade pode ser definido como a competência de suportar
intempéries naturais e/ou artificiais, ações químicas, resistir a efeitos de contato em sua
superfície e todos os demais efeitos que podem causar deterioração (MEHTA;
MONTEIRO, 2008).
Com o advento e aplicação da norma de desempenho, as estruturas passaram a ganhar
tons mais enérgicos quando se pensa em durabilidade de estruturas, devendo respeitar o
que foi projetado em fases de projetos, atrelado ao efeito executivo de utilização.
Carreado ao efeito da durabilidade, a resistência à compressão pode ser definida como a
capacidade do material suportar a uma dada tensão que foi exercida, sem que haja o
rompimento do material (MEHTA; MONTEIRO, 2008).
Com base nisto, é evidente que uma estrutura de concreto armado para atender aos
tratados específicos de segurança, a resistência projetada deve ser atendida, sendo esta
monitorada e avaliada com o decorrer do tempo (HELENE; ANDRADE, 2017).
Percebe-se que as propriedades nos estados fresco e endurecido determinam a
qualidade, durabilidade e resistência do concreto. No entanto, para que todas as
propriedades sejam atendidas, a escolha de materiais que proporcione bom desempenho
é de vital importância, salientando que se a escolha for realizada de forma equivocada,
todos os efeitos de importância para o concreto ficarão em falta em termos finais.
Dentre os materiais que compõem o concreto, destacam-se principalmente o cimento
Portland, agregados miúdo e graúdo e água, podendo ou não receber a incorporação de
aditivos.

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Para tanto, o material de maior representatividade na formulação do concreto é o cimento
Portland. Estima-se que em 2018 foram fabricadas cerca de 3,99 bilhões de toneladas de
cimento (CEMBUREAU, 2020).
Em contrapartida a facilitação técnica, tecnológica e prática que a utilização de cimento
tem, a indústria também é responsável por considerados impactos ambientais negativos,
sendo responsável por cerca de 9% de todo o dióxido de carbono (CO2) emitido em
decorrência das atividades antrópicas (USGS, 2019)
Com base nisto, identifica-se a necessidade de serem utilizados outros materiais com o
intuito de reduzir os impactos ambientais negativos causados pela indústria do cimento.
Para tanto, a utilização de resíduos e/ou subprodutos gerados de outras atividades
industriais é identificada como promissora, desde que atenda requisitos específicos de
utilização e que de alguma forma contribua para melhoramento de propriedades
específicas no concreto.

3 Resultados e discussão

3.1 Propriedades mecânicas do concreto com incorporação de argilas calcinadas

Os valores de resistência à compressão analisados, seguiram de acordo com a maior


relevância encontrada. Foram observados os valores em que a substituição do cimento
Portland foi realizada de forma parcial de resíduos de argilas calcinadas, em
porcentagens de 10, 20, 30 e 40%, de acordo com a Tabela 1.
Tabela 1 – Resultados do ensaio à compressão aos 28 dias
Porcentagem de substituição (%) / Resistência à
Referência compressão (MPa)
0 10 20 30 40
27,8 - 27,8 - -
Gonçalves
38,8 - 37,9 - -
(2007)
47,5 - 47,6 - -
Vieira
36,4 - 34,7 - 32,5
(2005)
Cachepa
55,5 - 58,0 54,6 -
(2017)
Sales e
Alferes 31,8 28,2 35,3 - 26,4
Filho (2014)
Vieira et al.
19,4 - - - 15,9
(2019)
26,8 27,0 21,4 -
Costa
29,5 30,0 29,4 23,5 -
(2017)
29,6 27,4 23,5 -
Jerônimo
46,4 44,8 44,4 38,7 -
(2014)
Silva
26,0 22,8 19,0 - -
(2019)
Vejmelková
62,0 65,7 60,2 - 42,6
et al. (2012)

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Tabela 1 – Resultados do ensaio à compressão aos 28 dias (Continuação)
Porcentagem de substituição (%) / Resistência à
Referência compressão (MPa)
0 10 20 30 40
55,0 50,0 47,0 -
Ge et al.
58,5 54,8 48,0 45,0 -
(2015)
51,5 48,3 42,0 -

Com base na vasta busca em base de dados, em que a aplicação principal de


substituição do cimento Portland foi realizada por resíduos de argilas calcinadas, as
porcentagens que mais obtiveram destaque foram as demonstradas (Tabela 1).
Para tanto, os resultados de resistência à compressão categorizados, correspondem a
idade de rompimento de corpos-de-prova de 28 dias, para que tivesse parâmetro de igual
classificação.
Vale salientar que os estudos que tiveram mais de uma de porcentagem de utilização,
corresponde a disponibilidade de resíduo de argila que pôde ser utilizado como base de
estudo para identificação se poderia ou não ser aplicada como eventual substituinte do
cimento Portland.
Para os estudos realizados por Gonçalves (2007), Cachepa (2017), Sales e Alferes Filho
(2014), Costa (2017) e Vejmelková et al. (2012), identifica-se uma tendência de aumento
na resistência à compressão à medida que a substituição do cimento Portland foi
realizado por resíduos de argilas calcinadas.
Em determinados estudos, a depender da porcentagem de substituição, os valores
obtidos tiveram consideradas reduções em relação a referência. No entanto, em outras
etapas de substituição, os valores encontrados foram consideravelmente superiores a
referência, em mais de uma oportunidade com a mesma amostra de utilização, provando
assim ser uma possibilidade de utilização.
Já para os estudos realizados por Vieira (2005), Vieira et al. (2019), Jerônimo (2014),
Silva (2019) e Ge et al. (2015), pode-se identificar que existiu uma predominância dos
valores se encontrarem abaixo dos valores de referências. Isto não significa que existe a
impossibilidade de utilização de tais argilas como substituintes do cimento, pois não
apenas um fator deve ser avaliado de forma isolada, mas por se tratar de uma mistura, o
todo deve ser analisado para que posteriormente se analisem as partes.
Um fato que deve ser salientado é com relação a variabilidade de inserção de resíduos,
pois um déficit encontrado em literatura é a respeito de estudos progressivos com
substituições seguidas, sem que existam gaps de perdas, dificultando assim a análise do
material.

4 Conclusões

Diante da necessidade de se realizar mudanças e adequações nos formatos de utilização


do concreto, a substituição do cimento Portland por resíduos de argilas calcinadas torna-
se objeto de estudo com grande potencial de utilização.
Com base na revisão literária realizada, foi possível identificar que diversas argilas das
mais variadas regiões geográficas em que se tiveram a realização das pesquisas,
apresentaram resultados promissores.
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Salienta-se que os estudos que por via de regra não obtiveram a resistência à
compressão no valor encontrado na referência, não significa que sua utilização está
inviabilizada.
Um dos aspectos inerentes as argilas terem maior ou menor potencial de reação, está
ligado diretamente a diversos fatores, como à origem das argilas, granulometria do
material, temperatura de calcinação e processo de moagem a temperatura de calcinação
em que a mesma é submetida, pois a partir de 900 ºC, os produtos de reatividade na
argila se tornam praticamente inertes (CALLISTER, 2012).
Para tanto, identifica-se que os resíduos de argilas calcinadas possuem grandes
potenciais de aplicação em relação a substituição parcial do cimento Portland. Com isto,
deve-se realizar pesquisas e estudos mais aprofundados a fim de potencializar a sua
utilização.

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ANAIS DO 62º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2020 – 62CBC2020 10

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