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ÁREA TEMÁTICA: Materiais e Componentes

INCORPORAÇÃO DA AREIA DESCARTADA DE FUNDIÇÃO EM ARGAMASSA PARA


O ENCUNHAMENTO DE PAREDES

ROHDEN, Abrahão Bernardo¹; SALAMONI, Natália²; RODRIGUES, Gustavo Gutierrez de Oliveira²;


THIVES, Felipe César Faedo2
1
FURB, Blumenau, Brasil, abrcivil@gmail.com, n° do ORCID: 0000-0002-8652-5064
2
FURB, Blumenau, Brasil

RESUMO

A geração de resíduos desencadeada principalmente pela industrialização, vem aumentando a preocupação do ser
humano em relação ao meio ambiente. A areia descartada de fundição (ADF) é um resíduo proveniente dos moldes de
fundição de metais em indústrias siderúrgicas, que acaba sendo descartada em aterros sanitários. Por outro lado, o setor
da construção civil é um dos principais consumidores de recursos naturais, dentre eles a areia. Frente ao exposto, o
presente trabalho busca analisar a capacidade de expansão de ADF incorporada em argamassa de encunhamento,
através de ensaios de variação dimensional no estado fresco e resistência à compressão axial no estado endurecido. Para
isso, foram moldados corpos de prova de argamassa com traço 1:3 e 1:6 (relação cimento e agregado miúdo), com dois
tipos de cimento (CP II-F-32 e CP IV-32 RS) e 0, 25, 50, 75 e 100% de substituição de areia comumente utilizada por
ADF, com e sem aditivo expansor, e corpos de prova de argamassa industrializada. A expansão foi observada nos traços
com até 75% de ADF, com desempenho mecânico satisfatório. Entretanto, sugere-se o aprimoramento da metodologia
utilizada para medição da variação dimensional, e realização de mais estudos das propriedades químicas e físicas dessa
argamassa.

Palavras-chave: resíduo; encunhamento; vedação; expansão.

ABSTRACT

The generation of waste triggered mainly by industrialization, has been increasing the concern of human beings in
relation to the environment. Waste foundry sand (WFS) is a residue from metal foundry molds in steel industries, which
ends up being discarded in sanitary landfills. On the other hand, the civil construction sector is one of the main
consumers of natural resources, including sand. In view of the above, the present work seeks to analyze the expansion
capacity of WFS incorporated in shimming mortar, through tests of dimensional variation in the fresh state and axial
compressive strength in the hardened state. For this, specimens of mortar with 1:3 and 1:6 (cement and fine aggregate
ratio) mix proportion were molded, with two types of cement (CP II-F-32 and CP IV-32 RS) and 0, 25, 50, 75 and
100% replacement of sand commonly used by WFS, with and without expander additive, and specimens of
industrialized mortar. Expansion was observed in traces of up to 75% WFS, with satisfactory mechanical performance.
However, it is suggested to improve the methodology used to measure the dimensional variation, and further studies of
the chemical and physical properties of this mortar.

Keywords: residue; shimming; sealing; expansion.

1. INTRODUÇÃO

A obtenção de processos mais limpos e sustentáveis vêm de encontro com a crescente preocupação do ser humano
frente aos impactos negativos ao meio ambiente causados pelas atividades antrópicas. Diante disso, diversos métodos e
alternativas vão se formulando por meio de estudos, e novas saídas são realizadas para destinação dos resíduos. Um
desses resíduos é a areia descartada de fundição (ADF), que acaba sendo subaproveitada e destinada à aterros sanitários.
A areia de fundição nas indústrias siderúrgicas é utilizada como matéria-prima de molde para fundição de metais.
Contudo após algumas reutilizações, essa areia vai perdendo suas propriedades físico mecânicas na qual não serve mais

1
para tal prática e passa a ser descartada, resultando na ADF. Segundo a Associação Brasileira de Fundição – ABIFA
[1], cerca de 2 milhões de toneladas de ADF são produzidas ao ano no Brasil.
A preocupação com tal problemática vem se disseminando, e é solucionada muitas vezes através da incrementação da
ADF no cenário da construção civil. A NBR 15.702 [2], por exemplo, estabelece algumas diretrizes para a utilização da
ADF como matéria-prima para o uso em concreto asfáltico e aterros sanitários. Além disso, pesquisas demonstram a sua
aplicação em argamassas, blocos cerâmicos, artefatos de concreto, pavimentação, entre outros [3-5].
Entretanto, a reutilização na prática desse resíduo ainda é reduzida. Logo, a busca por alternativas de sua valorização
têm se tornado mais frequentes.
O setor da construção civil tem se mostrado um forte consumidor de recursos naturais, dentre eles a areia. Perante essa
questão, o emprego de ADF como agregado miúdo é manifestado, pois de acordo com Sandhu e Siddique [6], este
subproduto industrial apresenta alto teor de sílica e propriedades semelhantes à areia natural, comumente utilizada.
Com relação a essa perspectiva, o presente trabalho tem o intuito de valorizar a ADF como substituição ao agregado
miúdo em argamassa de encunhamento, analisando sua capacidade de expansão no estado fresco.

1.1 Argamassa de encunhamento

Segundo Fiorito [7], a argamassa é considerada como uma mistura homogênea cuja junção se faz através de água,
aglomerantes e agregados miúdos, podendo a mistura conter ou não a presença de aditivos. De acordo com sua
necessidade, as argamassas podem apresentar propriedades distintas, entre elas a trabalhabilidade, retenção de água,
aderência, resistência, durabilidade e resiliência [8].
Segundo Santos Júnior [9], o encunhamento é responsável pela ligação entre a estrutura (viga ou laje) e parte superior
da alvenaria, não comprometendo sua estabilidade nem seu desempenho. Diante desse conceito se faz imprescindível a
percepção dos carregamentos sobre a argamassa voltada para o encunhamento, pois caso não tenham cuidados a mesma
pode acabar sofrendo por deformações provenientes da estrutura sendo capaz de gerar fissuras em toda a parede.
A argamassa de encunhamento é aplicada em um vão de 2 a 3 cm entre a estrutura e a parede de alvenaria. Essa
argamassa de assentamento é misturada com alumina ou aditivos de retração compensada, com objetivo de expansão ou
apenas não retração, para que não ocorra o seu desprendimento das superfícies em que está ligada [9].

1.2 ADF
A fundição é uma prática desenvolvida cujo propósito é a fabricação de peças metálicas, formadas por meio do metal
fundido disposto em moldes que dão o formato desejado à peça. Esse molde pode ser metálico ou de areia [10].
O molde de areia é o meio mais utilizado para fundição visto que pode ser aplicada utilizando diferentes metodologias,
que variam conforme a necessidade do fundidor, como acabamento, resistência, tipo de metal a ser fundido, peças de
grandes superfícies ou grandes espessuras. A escolha do molde e características da peça de metal viabilizam ou não
cada mecanismo, o que acaba por intervir nos materiais que compõe os moldes [11].
As matérias-primas geralmente empregadas são a areia (sílica), ligantes (argila, resinas e silicato de sódio), cujo
propósito é dar coesão a mistura e produtos de adição (carvão mineral, óxido de ferro e serragem), do qual proporciona
melhor acabamento na superfície da peça, além de evitar a “vitrificação” da areia [11].
De modo geral, a ADF é classificada como um resíduo não perigoso pela NBR 10004 [12]. Por consequência disso, ela
pode ser reutilizada e empregada em outros materiais. Porém, é necessário analisar seus extratos lixiviados e
solubilizados (quando necessário), para confirmação da classificação.
A Lei estadual nº 17479 [13], aponta alguns requisitos que a ADF deve seguir para poder ser aproveitada em alguns
materiais da construção civil, entre eles a caracterização e classificação segundo a norma NBR 10004 [12];
caracterização do processo industrial; segregação adequada do resíduo; plano de gerenciamento de resíduos; e teste de
ecotoxicidade da ADF.
São vários os estudos sobre aplicação da ADF em produtos da construção civil.
Em seus estudos, Fornari et al. [4], buscaram aplicar a ADF como matéria-prima da base e sub-base de um pavimento,
avaliando seus limites de consistência, granulometria, compactação e Índice Califórnia, através de um solo referência,
outro com substituição de 25% pela ADF e o último com 50%. Além disso foi incorporado a cal hidratada como agente
estabilizador. Os resultados mostraram que o solo puro obteve uma classificação entre sofrível à mal, enquanto os com
25% e 50% com ADF desempenharam como excelente à bom. Quanto a não utilização da cal hidratada permitiu-se a
utilização como subleito. Já, com a sua adição, pode ser executado tanto como base quanto sub-base, sendo a
capacidade de resistência de até 60% para 25% de ADF e 75% para 50% de ADF.
Em outro estudo, Casali et al. [5], estudaram a aplicação da ADF em argamassas mistas (cimento e cal) de
revestimento. Realizaram ensaios de granulometria e caracterização do resíduo segundo a NBR 10004 [12]. Em
2
seguida, para ensaio de resistência à compressão axial, aos 28 dias, avaliaram traços com proporção de 1:1:6 (cimento,
cal e areia) e água, com trabalhabilidade de (25,5 ± 1) cm, e substituição de 0, 10, 30 e 100% do agregado miúdo por
ADF. Os resultados obtidos determinaram que o material não foi classificado como perigoso. Em relação as
argamassas, observaram que quanto maior a quantidade de ADF era maior a quantidade de água à mistura e menor sua
resistência à compressão, resultando na redução aproximada de 57% da resistência com uso total da ADF (100%),
quando comparado com o traço referência, sem ADF. Já, os traços de 10 e 30% de substituição apresentaram resistência
satisfatória, dessa forma, sugerindo a utilização de até 30% de ADF em substituição a areia comum nessas argamassas.
Dessa forma, o presente trabalho visa analisar a incorporação da ADF em argamassa de encunhamento, através de
ensaios de variação dimensional no estado fresco e resistência à compressão axial no estado endurecido.

2. METODOLOGIA

Para a análise da incorporação da ADF em argamassa, foram realizadas misturas de argamassas com dois traços
(proporção cimento e agregado miúdo), dois tipos de cimento e cinco teores de substituição da areia comumente
utilizada pela ADF, com relação água/cimento (a/c) fixa em 0,50, além de misturas referência com aditivo expansor e
argamassa industrializada, totalizando 15 tratamentos. Todas as amostras foram ensaiadas quanto a variação
dimensional no estado fresco e resistência à compressão axial aos 28 dias (Figura 1).

Figura 1 – Fluxograma do estudo.

2.1 Materiais

As argamassas foram constituídas por cimento Portland CP II-F-32, CP IV-32 RS ou argamassa cimentícia ACII, água,
aditivo compensador de retração (“expansor”) e superplastificante, e dois agregados, areia comumente empregada em
argamassas e ADF, com massa específica de 2,63 g/cm³ e 1,90 g/cm³, e módulo de finura de 2,17 e 1,28,
respectivamente.
O resíduo valorizado no presente estudo é oriundo do material utilizado nos moldes de areia de uma indústria de
fundição composto por areia (sílica), resina fenólica uretânica e cromita.
A ADF demonstrou ter uma grande concentração de grãos de menores dimensões, com cerca de 90% do material retido
nas peneiras de malha 0,3 e 0,15 mm (Figura 2). Já, a areia comum obteve uma distribuição granulométrica mais
contínua, com cerca de 30% de partículas maiores que 0,6 mm (Figura 3). Devido a essa disparidade granulometria,

3
visando maior similaridade entre as granulometrias dos agregados, optou-se por modificar a granulometria da areia
comum, utilizando apenas o material passante na peneira de malha 0,6 mm (Figura 4).

Figura 2 – Granulometria inicial da ADF.

Figura 3 – Granulometria inicial da areia comum.

100 ADF
90 Areia comum
80 Areia comum utilizada
% Retido acumulado

70
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro da peneira (mm)
Figura 4 – Curva granulométrica dos agregados.

O fabricante do aditivo expansor recomenda a utilização de 1% do aditivo sobre a massa de cimento, com relação
cimento areia de 1:6. Dessa forma, foram moldados traços referência com relações de 1:3 e 1:6, com o aditivo e os dois
tipos de cimentos.

4
2.1 Método

Após a mistura dos materiais, conforme NBR 7215 [14], foram realizados os ensaios no estado fresco (índice de
consistência e variação dimensional) e endurecido (resistência à compressão axial aos 28 dias).
A dosagem dos materiais é apresentada na tabela 1.

Tabela 1 – Dosagem das argamassas.


Materiais (g)
Argamassas
CP II-F-32 CP IV-32 RS ACII Areia comum ADF Água Aditivo expansor
1:3.CP II.100% 624 624 - - 1872 312 -
1:3.CP IV.100% 624 624 - - 1872 312 -
1:3.CP II.75% 624 624 - 468 1404 312 -
1:3.CP IV.75% 624 624 - 468 1404 312 -
1:3.CP II.50% 624 624 - 936 936 312 -
1:3.CP IV.50% 624 624 - 936 936 312 -
1:3.CP II.25% 624 624 - 1404 468 312 -
1:3.CP IV.25% 624 624 - 1404 468 312 -
1:3.CP II.0% 624 624 - 1872 - 312 -
1:3.CP IV.0% 624 624 - 1872 - 312 -
1:3.CP II.0%.AE 624 624 - 1872 - 312 6,24
1:3.CP IV.0%.AE 624 624 - 1872 - 312 6,24
1:6.CP II.0%.AE 624 624 - 3744 - 382 6,24
1:6.CP IV.0%.AE 624 624 - 3744 - 382 6,24
ACII.0% - - 1319 - - 165 -

Para melhor compreensão, foi proposta uma sigla para cada uma das 15 argamassa, sendo obtida a partir de suas
características, como traço, tipo de cimento e teor de ADF. Por exemplo, a sigla ‘1:3.CP II.0%.AE’ corresponde ao
traço com relação cimento agregado 1:3, cimento CP II-F-32, 0% de ADF e com emprego de aditivo expansor.
O ensaio de consistência (flow table) foi realizado conforme NBR 13276 [15]. Com a relação a/c fixa de 0,50 para os
traços 1:3, foi utilizado aditivo superplastificante a fim de manter o índice de consistência na faixa de (16 ± 4) mm. Já,
para o traço 1:6, além do aditivo superplastificante, foi necessário adicionar maior quantidade de água na mistura.
Após a verificação do índice de consistência para análise da trabalhabilidade das argamassas, foram moldados corpos de
prova cilíndricos com 5 cm de diâmetro e 10 cm de altura, seguindo a metodologia proposta pela NBR 7215 [14].
Para a coleta das medidas do ensaio de variação dimensional, foi montado um aparato com uma base metálica, base
magnética, garra e trena à laser (Figura 5), visando reduzir possíveis interferências geradas entre operador e amostras.

Figura 5 – Equipamento para medição da variação dimensional.


Legenda: base metálica (1), base magnética (2), garra (3) e trena à laser (4).
5
Como a área superficial das amostras não era totalmente plana, nem a expansão e/ou retração ocorriam de forma
constante em toda a superfície, elaborou-se um molde de papel com seis furos, onde eram feitas as medidas, para
posterior análise de sua média (Figura 6).

Figura 6 – Molde para medição da variação dimensional.

As medições foram iniciadas a partir do momento do término do enchimento do corpo de prova e posicionamento do
molde (t=0 min) e eram retomadas a cada 15 minutos até atingir um tempo de 3 horas (t=180 min), no qual a diferença
entre o tempo de início e fim resultariam na expansão ou retração da mistura.
Os corpos de prova foram desmoldados após 24 h da moldagem, e postos em tanque saturado com cal para cura
submersa até ensaio de resistência à compressão axial, de acordo com NBR 7215 [14].

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

i. Índice de consistência

Conforme observado nos resultados expressos na Tabela 2, a consistência apontou melhor trabalhabilidade nos traços
com maior teor de ADF.

Tabela 2 – Índice de consistência (IC) das argamassas.


Argamassas IC (cm) Relação a/c Aditivo superplastificante (g)
1:3.CP II.100% 19,67 0,50 -
1:3.CP IV.100% 19,55 0,50 -
1:3.CP II.75% 16,72 0,50 -
1:3.CP IV.75% 15,56 0,50 -
1:3.CP II.50% 13,94 0,50 -
1:3.CP IV.50% 13,76 0,50 -
1:3.CP II.25% 13,08 0,50 -
1:3.CP IV.25% 12,86 0,50 -
1:3.CP II.0% 13,06 0,50 7,36
1:3.CP IV.0% 15,60 0,50 7,36
1:3.CP II.0%.AE 15,11 0,50 7,36
1:3.CP IV.0%.AE 15,63 0,50 7,36
1:6.CP II.0%.AE 14,33 1,11 7,20
1:6.CP IV.0%.AE 14,86 1,11 7,20
ACII.0% 13,44 - 2,04

6
Contudo, na proporção em que se diminuía a ADF e aumentava a areia comum, percebeu-se que a mistura se tornava
mais seca até chegar ao ponto de inviabilizar o processo, sendo necessário a utilização de superplastificante e/ou mais
água na mistura. Com isso, percebe-se que a areia comum deveria apresentar maior porosidade e/ou teor de material
pulverulento, absorvendo maiores quantidades de água que a ADF.
Outra percepção foi que o uso de cimentos diferentes concedeu uma diferença mínima de trabalhabilidade que se agrava
nos traços com mais areia comum. O CP II-F-32 foi mais eficiente nesse quesito, apresentando maiores resultados de
índice de consistência.

ii. Variação dimensional

Referente aos resultados de variação dimensional (Figura 7), apenas os traços com 1:3.CP II.100%, 1:3.CP IV.100% e
1:3.CP IV.75% apresentaram expansão. Já, o traço ACII.0% não presentou variação dimensional, enquanto os demais
retraíram.

1:3.CP II.100%
4,5
1:3.CP IV.100%
1:3.CP II.75%
1:3.CP IV.75%
4
1:3.CP II.50%
1:3.CP IV.50%
1:3.CP II.25%
3,5 1:3.CP IV.25%
1:3.CP II.0%
1:3.CP IV.0%
3 1:3.CP II.0%.AE
Variação dimensional (%)

1:3.CP IV.0%.AE
1:6.CP II.0%.AE
2,5 1:6.CP IV.0%.AE
ACII.0%

1,5

0,5

-0,5

-1
0 15 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180
Tempo de ensaio (min)
Figura 7 – Variação dimensional.
7
A alteração da relação de cimento e areia e do tipo de cimento não podem afirmar que desempenham resultados de
variação dimensional maior ou menor, pois hora o CP II-F-32 desencadeou índices de expansão maiores, hora o CP IV-
32 RS foi mais efetivo.
Ressalta-se ainda que as argamassas sem ADF apresentaram retração, mesmo aquelas com aditivo expansor dosado de
acordo com recomendação do fabricante.
Com isso, percebe-se que a incorporação de ADF em argamassas pode auxiliar na expansão da mistura, quando seu teor
de substituição pela areia comumente utilizada for superior a 75%.
Em relação à análise temporal da variação dimensional, percebe-se uma maior variação após 45 min do início do
ensaio, até cerca de 120 min, quando a variação tende a estabilizar-se. Ainda, foi possível notar que em 90 minutos a
expansão teve seu período máximo de variação.

iii. Resistência à compressão axial

Analisando quanto a influência da ADF na resistência à compressão axial aos 28 dias das argamassas (Figura 8), notou-
se que o cimento CP II-32-F obteve maiores resultados. Ainda, as misturas sem a substituição da areia comum pela
ADF apresentaram melhores resistências que aquelas com o resíduo, com melhor desempenho do CP IV-32 RS.

30,00
CP II-F-32
CP IV-32 RS
Resistência à compressão axial (MPa)

25,00

20,00

15,00

10,00

5,00

0,00

Figura 8 – Resistência à compressão axial.

Quanto a relação de cimento e agregado miúdo, ficou evidente a diferença entre as resistências obtidas dos traços 1:3 e
1:6. A maior proporção de agregado na mistura apresentou menores resistências à compressão, resultado já esperado.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente estudo, pode-se verificar que argamassa com incorporação de ADF possui propriedades expansivas,
porém, não apresenta expansão a partir de teores menores que 50%. Como os resultados de variação dimensional das
argamassas referência, sem emprego da ADF, não apresentaram expansão, não se pode afirmar que as argamassas
estudadas são adequadas ao encunhamento.
Quanto a capacidade de variação dimensional das argamassas, observou-se que o tempo médio de início de reação era
em torno de 45 minutos e término de 120 minutos.
Ainda retratando o aspecto da variação dimensional, notou-se que a metodologia de medição adotada ainda não é ideal,
pois mesmo evitando o contato com os corpos de prova e tomando o máximo de cuidado para medir o mesmo ponto,
muitas vezes se obtinham resultados imprecisos devido a precisão da trena.
8
No âmbito da propriedade mecânica dos traços, pode-se verificar que a ADF não comprometeu a resistência à
compressão axial aos 28 dias. Portanto, pode ser aplicado como material incorporado em argamassa, desde que não
infrinja as regras impostas pela NBR 10004 [12].
Em relação a continuidade de estudos neste mesmo seguimento, sugere-se melhoria da metodologia de variação
dimensional, visando uma medição com maior precisão. Ainda, ressalta-se a importância de estudos mais aprofundados
acerca da influência dos materiais na variação dimensional da argamassa.

REFERÊNCIAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FUNDIÇÃO – ABIFA. Desempenho do setor de fundição - dezembro/2020.


Núcleo de Estudos de Mercado, São Paulo, 2020. Disponível em: <https://www.abifa.org.br/indices-setoriais/>. Acesso
em: 15 de Maio de 2022.

[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15702: Areia descartada de fundição -
Diretrizes para aplicação em asfalto e em aterro sanitário. Rio de Janeiro, 2009.

[3] BIOLO, S. M. Reúso do resíduo de fundição areia verde na produção de blocos cerâmicos. Dissertação de
Mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais, Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.

[4] FORNARI, G. C. B.; KLINSKY, L. M. G.; FERNANDES JR., J. L.; BARDINI, V. S. S. Reuso de areia de
fundição residual para finalidades rodoviárias. XXI Congresso Nacional de Pesquisa em Transporte, Recife, 2017.

[5] Casali, J. M.; Miguel, T. F.; Felizardo, C. C.; Meira, N. S.; Dominguini, L.; Betioli, A. M. (2018). Caracterização e
influência do teor do resíduo de areia de fundição fenólica em argamassas de revestimento. Ambiente Construído,
Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 261-279.

[6] Sandhu, R. K.; Siddique, R. (2019). Strength properties and microstructural analysis of self-compacting
concrete incorporating waste foundry sand. Construction And Building Materials, [S.L.], v. 225, p. 371-383.

[7] FIORITO, A. J. S. I. Manual de argamassa e revestimentos: estudos e procedimentos de execução. 2 ed. São
Paulo: Pini, 2010.

[8] SABBATINI, F. H. Argamassas de assentamento para paredes de alvenaria resistente. Estudo Técnico: ET-91.
2 ed. São Paulo: ABCP, 1998.

[9] SANTOS JÚNIOR, L. V. D. Projeto e Execução de Alvenarias: Fiscalização e Critérios de Aceitação. 1 ed. São
Paulo: Pini, 2014.

[10] KONDIC, Voya. Princípios Metalúrgicos de Fundição. Tradução: Claudio Luiz Mariotto; Jorge Augusto
Gouvêa; Renato Papaleo; Rubens Habesh. São Paulo: Polígono, 1973.

[11] BALDAM, R. L.; VIEIRA, E. A. Fundição: processos e tecnologias correlatas. São Paulo: Erica, 2014.

[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: Resíduos sólidos - Classificação. Rio de
Janeiro, 2004.

[13] SANTA CATARINA, Lei Estadual nº 17.479, de 15 de janeiro de 2018. Dispõe sobre a utilização das Areias
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[14] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7215: Cimento Portland - Determinação da
resistência à compressão de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2019.

[15] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13276: Argamassa para assentamento e
revestimento de paredes e tetos - Determinação do índice de consistência. Rio de Janeiro, 2016.
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