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Brazilian Journal of Development 5126

ISSN: 2525-8761

Estudo de permeabilidade e colmatação de concretos permeáveis


produzidos com aditivos na Região Amazônica

Permeability and clogging study of pervious concretes using additives


in the Amazon Region

DOI:10.34117/bjdv7n1-347

Recebimento dos originais: 13/12/2020


Aceitação para publicação: 13/01/2021

Arthur Aviz Palma e Silva


Graduação em engenharia Civil – UFPA
Instituição: Universidade de Brasília - UnB
SHIS, QI 29
Endereço: Conjunto 12, casa 23. Brasília/DF
E-mail: eng.aviz@gmail.com

Gabriela Doce Silva Coelho de Souza


Graduação em engenharia sanitária e ambiental – UFPA
Instituição: Universidade de Amazônia – UNAMA
E-mail: gabriela_doce@hotmail.com

Jayme de Melo Ribeiro


Graduação em engenharia Civil – UFPA
Instituição: Universidade de Brasília – UnB
SHIS, QI 29
Endereço: Conjunto 12, casa 23. Brasília/DF
E-mail: jaymemrufpa@gmail.com

Luciana de Nazaré Pinheiro Cordeiro


Doutorado em engenharia (construção) – UFRGS
Instituição: Universidade Federal do Pará – UFPA
Endereço: Rua Augusto Corrêa - até 937 - lado ímpar Guamá 66075110 - Belém, PA –
Brasil
E-mail: lupcordeiroo@gmail.com

RESUMO
Com o crescimento dos centros urbanos, o índice de alagamentos provenientes da
deficiência de drenagem das águas pluviais vem aumentando, sendo associado a aplicação
de aos pavimentos impermeáveis aplicados em larga escala nessas regiões para
infraestrutura de transportes. Neste sentido, o concreto permeável (CPER) como
pavimento permeável demonstra ser uma alternativa para que estas águas sejam captadas
e redirecionadas ao lençol freático. Por sua estrutura porosa, sua resistência mecânica é
prejudicada, portanto, diversos estudos buscam a incorporação de aditivos a este material,
a fim de garantir sua funcionalidade quanto às propriedades mecânicas e hidráulicas.
Contudo, os resíduos trazidos pelas chuvas nas cidades favorecem obstrução dos poros
conectados deste tipo de pavimento, fenômeno conhecido como colmatação, que
prejudicam a eficiência e durabilidade do material. Este estudo, portanto, objetiva avaliar

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a permeabilidade e colmatação em concretos permeáveis com a incorporação de aditivos


modificadores de viscosidade (MV) e superplastificante (SP). A região de realização do
trabalho, foi a cidade de Belém/PA, localizada no norte do estado e na região amazônica,
no período do ano com altos índices de chuva, para que as amostras fossem expostas a
condições extremas para análise. Foram confeccionados 4 traços de concreto permeável,
que foram expostos à chuva em local aberto pelo período de 30 dias, após isso, as
amostras foram submetidas aos ensaios de permeabilidade, e suas massas aparentes foram
determinadas a fim de se avaliar indícios de colmatação ocasionado pela matéria orgânica
aprisionada na superfície e no interior das amostras. Os resultados indicam que o
entupimento dos poros ocorre de forma significativamente nos diferentes concretos
produzidos com aditivos, e que o tipo de chuva da região amazônica influenciou
diretamente na variação de massa e permeabilidade, afetando assim a durabilidade e
eficiência desse concreto.

Palavras-chave: Concreto Permeável, Modificador de Viscosidade, Superplastificante,


Colmatação, Região Amazônica.

ABSTRACT
With the growth of urban centers, the rate of flooding resulting from deficient drainage
of rainwater has been increasing, being associated with the application of large-scale
waterproof pavements in the regions in the regions of transport infrastructure. In this
sense, permeable concrete (CPER) as a permeable pavement demonstrates that it is an
alternative for these waters to be captured and redirected to the water table. Due to its
porous structure, its mechanical resistance is impaired, therefore, several studies seek an
incorporation of additives to this material, in order to protect its functionality to the
mechanical and hydraulic properties. However, the residues brought by the rains in the
cities favor the obstruction of the connected pores of this type of pavement, a phenomenon
known as clogging, which impair the material's efficiency and durability. This study,
therefore, aims to evaluate the permeability and clogging in permeable concretes with an
incorporation of viscosity modifying additives (MV) and superplasticizer (SP). The
region where the work was carried out was the city of Belém / PA, located in the north of
the state and in the Amazon region, in the period of the year with high levels of rain, so
that as assumed exposed to extreme conditions for analysis. 4 permeable concrete traces
were made, which were exposed to open rain for a period of 30 days, after that, as they
were subjected to permeability tests, and their apparent masses were determined in order
to evaluate evidence of clogging caused by organic matter. trapped on the surface and
inside of. The results indicate that pore clogging occurs in an advanced way in different
concretes with additives, and that the type of rain in the Amazon region directly
influenced the variation in mass and permeability, thus affecting the efficiency and
efficiency of this concrete.

Keywords: Pervious Concrete, Viscosity Modificator, Superplasticizers, Clogging,


Amazon Region.

1 INTRODUÇÃO
O crescimento populacional e densificação dos centros urbanos contribuíram para
que grandes investimentos governamentais na malha de transporte urbano fossem

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realizados nos últimos anos. Contudo, o pavimento utilizado no contexto nacional se


caracteriza por ser altamente impermeável, favorecendo alagamentos em regiões com
deficiência no sistema de captação de água. Dessa forma, os pavimentos permeáveis
utilizando concretos permeáveis, auxiliam na drenagem urbana, devido ao fluxo
hidráulico por sua estrutura, armazenando momentaneamente e redirecionando esta água
para os lençóis freáticos ou bacias, podendo ainda filtrar o material para que possa assim
ser reutilizado [1].
Nesse contexto, a interação entre os diferentes climas e regimes pluviométricos
das regiões e a colmatação em concretos permeáveis ainda é pouco abordada pela
literatura atualmente, especialmente tratando-se da região amazônica, especificamente na
cidade de Belém/PA. Localizada em a confluência de rios na zona do estuário e delta do
rio Amazonas e seus afluentes, na costa Norte do Brasil, a cidade recebe uma precipitação
anual de acima de 3.000 mm, com umidade relativa do ar predominantemente acima de
85% [2], o que causa a inundação dos rios e planícies fluviais. Em termos de máximo
precipitação em 24 horas, os valores variaram de 59 a 136 mm, com tempo médio de
retorno de 30 anos [3], apresentando chuvas fortes entre os meses de novembro e março,
segundo Fisch [4].
Apesar de apresentar diversos benefícios, de acordo com Yang [5], este tipo de
concreto possui estrutura interna caracterizada por poros interconectados, por onde a água
percola, sendo essa estrutura de vazios suscetível à colmatação, que gera ineficiência e
degradação gradual da estrutura drenante [6]. Adicionalmente, a quantidade de vazios em
sua estrutura, contribui com a baixa resistência desses concretos, sendo então de pouca
aplicabilidade para estruturas onde observam-se grandes solicitações de esforços, a
exemplo do tráfego de veículos pesados.
Neste contexto, concretos permeáveis de alto desempenho surgem por meio da
incorporação de aditivos em sua composição, proporcionando melhor trabalhabilidade,
bem como aumento de resistência mecânica. Utilizam-se os aditivos modificadores de
viscosidade (MV) e superplastificante (SP) a fim de se obter misturas de CPER com
trabalhabilidade e fluidez adequadas para uma boa moldagem, refletindo num aumento
de resistência mecânica, melhorando, portanto, as características do concreto tanto no
estado fresco quanto no endurecido [7]. Dessa forma, este trabalho teve por objetivo
caracterizar os concretos permeáveis produzidos com aditivo superplastificante (SP) e
modificador de viscosidade (MV), quanto a variação de permeabilidade e massa unitária
aparente quando submetido a chuvas típicas do clima tropical da região amazônica, a fim

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de se verificar indícios de colmatação de poros resíduos sólidos carregados com as águas


pluviais.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 MATERIAIS
Como aglomerante, foi utilizado o cimento do tipo CP II – F 40, classificado
conforme ABNT [8] de massa específica 3,09 g/cm3. O agregado graúdo utilizado, foi o
seixo rolado de origem quartzosa, material encontrado em larga escala na região
amazônica e amplamente utilizado em empreendimentos, com massa unitária de 2,63
g/cm3 e massa específica de 1,41 g/cm3 seguindo-se a ABNT [9]. Foram utilizados
somente os grãos de diâmetro compreendido entre as peneiras #12,5mm e #9,5mm, com
índice de vazios de 43,67%.
O aditivo superplastificante utilizado foi de terceira geração, a base de polímeros
e policarboxilatos, de textura líquida, com massa específica de 1,09 g/cm3, dosado sobre
a massa de cimento. O aditivo modificador de viscosidade utilizado, tinha por base metil
celulose, com baixa influência na hidratação do cimento e retenção de água. O estado
físico deste material foi o pó (<180 um) e foi dosado sob a massa total seca da mistura.
A água utilizada na dosagem foi a fornecida pela rede de abastecimento local.

2.2 DOSAGEM
O método de dosagem utilizado neste trabalho foi o proposto por Castro et al. [10],
que tem como ponto de partida para a determinação dos consumos dos materiais, o índice
de vazios do agregado graúdo. Este método sugere que a pasta de cimento irá preencher
os vazios do agregado graúdo, de forma que os poros remanescentes constituirão os canais
conectados necessários à percolação de água. Para a determinação dos quantitativos de
aditivo superplastificante (SP) e modificador de viscosidade (MV), utilizou-se o método
proposto por Tennis [11] para análise de coesão em misturas de concreto permeável, onde
ocorre a formação de uma pequena esfera com o material, e observa-se a estabilidade da
mesma. Após os testes, os teores de aditivos foram determinados, e os traços obtidos
podem ser verificados na Tabela 1.

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Tabela 1 – Traços dos concretos permeáveis produzidos


Traço unitário (Kg)
Misturas MV (%) SP (%)
Cimento Ag. Graúdo a/c
A1 1 3,28 0,32 - -
A2 1 3,28 0,32 0,05 -
A3 1 3,31 0,32 - 0,6
A4 1 3,31 0,32 0,05 0,6

O processo de execução das misturas seguiu a seguinte ordem: primeiro o


agregado foi colocado na betoneira, seguido pelo cimento, rotação de 30 segundos da
betoneira, e posteriormente foram adicionados a água e as devidas quantidades de aditivo.
É importante ressaltar que o aditivo modificador de viscosidade, por ter elevada finura e
baixa densidade, precisou ser diluído na água de mistura para que fosse utilizado sem
grandes perdas.

2.3 MOLDAGEM DOS CORPOS-DE-PROVA


Para os ensaios de permeabilidade e para medidas de massa unitária aparente,
foram utilizados corpos de prova Ø10 x 10cm, extraídos de uma coluna de 100 cm de
concreto, lançado livremente, sem adensamento especial ou vibração realizados pelo
usuário, em um tubo de PVC [7]. Este método foi escolhido para avaliar a variação de
permeabilidade e a ocorrência de colmatação do concreto permeável quando exposto às
chuvas da região amazônica, em diferentes condições de autocompactação. Para isto, os
corpos-de-prova foram extraídos de duas regiões diferentes do tubo. O primeiro, foi
extraído da região superior (topo), onde observou-se menor compactação devido ao peso
da coluna de material acima do molde, o segundo retirado da parte inferior (base), com
maior compactação pelo peso de coluna acima. A Figura 1 ilustra o local de retirada dos
corpos de prova, bem como o esquema de moldagem da coluna proposta por Bhutta [6]
em seu trabalho e utilizada nesta pesquisa.

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Figura 1- Esquema de corte e extração dos corpos-de-prova da parte inferior e superior no tubo de PVC
preenchido por concreto. Fonte: Adaptado [7].

Os tubos foram preenchidos e deixados em cura úmida pelo período de 28 dias,


para então serem cortados e submetidos ao ensaio de permeabilidade e massa aparente. A
cura foi realizada por imersão, preenchendo-se os tubos até o limite superficial com água,
os quais por serem permeáveis, permitiram a passagem de água e imersão de toda a sua
estrutura de vazios, a fim de evitar fissuras pelo calor de hidratação.

2.4 ENSAIOS
Os principais métodos para a verificação da presença ou não de colmatação
utilizados por este trabalho, foram as medidas simples da massa aparente dos corpos-de-
prova completamente secos, antes e depois de expostos as condições de chuva da região
amazônica. Os ensaios de permeabilidade foram realizados utilizando o permeâmetro de
carga variável [12] ilustrado na Figura 2. O resultado deste ensaio fornece o coeficiente
de permeabilidade, que mede a velocidade de percolação da água e a carga hidráulica em
meio poroso, e tem relação com a tendência da água de infiltrar ou escoar
superficialmente.

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Figura 2 – Permeâmetro de carga variável para os ensaios em corpo-de-prova cilíndricos, idealizado por
Neithalath [13].

Fonte: Autores

Segundo Holtz [14], este método de ensaio foi idealizado Neithalath [13] e o
procedimento consiste em adicionar água pelo tubo de entrada do mecanismo, até que os
dois lados estejam completamente saturados e na mesma altura, e o líquido impedido de
fluir por dentro do tubo por meio do fechamento da válvula. Após isto, o outro lado do
permeâmetro é preenchido até a altura de 29cm na marcação lateral. O ensaio consiste na
marcação do tempo necessário à coluna de água para chegar ao valor final de altura de
7cm. O ensaio é repetido 3 vezes, e então, a média dos valores é inserida como valor de
tempo para o cálculo do coeficiente de permeabilidade k (cm/s), determinado a partir da
lei de Darcy [12]. A primeira medição de permeabilidade e de massa aparente foi feita
aos 28 dias da data de moldagem dos corpos-de-prova, para que se obtivesse o valor de
permeabilidade inicial das amostras, bem como valor inicial de massa. Após as primeiras
medições, os corpos-de-prova foram submetidos às chuvas intensas do inverno
amazônico, a fim de que se analisasse o comportamento de permeabilidade e variação de
massa nos diferentes traços. Os aspectos visuais dos corpos-de-prova podem ser vistos na
Figura 3. Foram realizados ensaios na totalidade de 8 corpos de prova, 2 para cara um dos
traços A1 (Ref.), A2 (MV), A3 (SP) e A4 (SP+MV).

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Figura 3 – Aspecto visual dos corpos-de-prova extraídos da coluna de concreto.

Fonte: Autores.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 MASSA APARENTE
Os valores da variação de massa dos corpos-de-prova podem ser visualizados na
Tabela 2, onde os valores positivos e negativos demonstram o ganho e perda de massa
em relação às amostras antes da exposição à chuva, respectivamente.

Tabela 2 – Variação de massa nos corpos-de-prova após 30 dias de exposição à chuva amazônica
Variação de Massa (%)

Misturas
CP's 1 (TOPO) CP's 2 (BASE)

A1 (Ref.) 0,32 -0,21


A2 (MV) -0,28 -0,16
A3 (SP) 0,28 -0,19
A4 (SP+MV) -0,07 -0,07

Os resultados de variação de massa nos corpos-de-prova mostram que houve


aumento de massa nos corpos-de-prova CP1 nas misturas A1 e A3, onde não foi a
utilizado de MV, podendo-se inferir que este comportamento ocorreu devido ao acúmulo
de resíduos no interior da estrutura porosa, carregados pela água de chuva da região.
Tendo em vista que esse aditivo atua na viscosidade plástica da mistura, concedendo ao
concreto coesão mesmo em situações de alta fluidez [15], os traços A1 e A3 são
caracterizados pela menor coesão, e consequentemente, maior volume de vazios,
parâmetro que está diretamente ligado a permeabilidade de água no interior do CPER.

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Os demais traços produzidos, tanto da base quanto do topo da coluna,


apresentaram diminuição de massa após o período de exposição à chuva, dando indícios
de que não houve matéria residual acumulada no interior ou na superfície da estrutura
porosa. A diminuição de massa citada pode estar relacionada também ao processo de
lixiviação, devido ao grande volume de água da chuva da região amazônica, ou mesmo
por conta do tipo de cimento utilizado, com pouca substituição de matéria pozolanas, o
que favorece este fenômeno [16]. Na figura 4, é possível visualizar os sinais de lixiviação,
caracterizadas pelas manchas esbranquiçadas na superfície dos corpos-de-prova.

Figura 4 – Aspecto visual dos corpos-de-prova com manchas brancas na superfície.

Fonte: Autor

Ao ser utilizado agregados com uma faixa granulométrica específica, este material
se torna poroso e com isso suscetível a fragmentação de partículas superficiais devido a
choques mecânicos [12]. Dessa forma, as fortes chuvas, as quais as amostras foram
expostas, podem ter contribuindo no processo de desagregação e perda de partículas de
agregado graúdo. Verificou-se ainda que a diminuição de massa foi menos significativa
para o traço A4 (-0,07%), onde foram utilizados os aditivos modificador de viscosidade
(MV) e superplastificante (SP) em conjunto, contribuindo para uma mistura mais fluida
e coesa, facilitando e moldagem e reduzindo os efeitos dos impactos da chuva no
concreto e perda de massa por ações externas, como verificado por Mariano [17].

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3.2 PERMEABILIDADE
Os resultados de permeabilidade podem ser visualizados nas Tabela 3, os valores
de variação de permeabilidade positivos e negativos demonstram o aumento e diminuição
da permeabilidade após exposição à chuva, respectivamente.

Tabela 3 – Variação de permeabilidade nos corpos-de-prova após 30 dias de exposição à chuva amazônica
Permeabilidade (cm/s)
Misturas CP's 1 (TOPO) CP's 2 (BASE)
Antes Após Antes Após
A1 (Ref.) 1,53 1,39 0,89 1,01
A2 (MV) 1,39 1,590 1,2 1,39
A3 (SP) 0,94 0,860 0,78 0,81
A4 (SP+MV) 0,7 0,74 0,35 0,36

Os resultados da base da coluna de concreto em geral apresentaram


permeabilidade menor do que as do topo, em decorrência da maior compactação devido
o peso próprio do material nas partes inferiores das amostras. Com intuito de melhorar o
entendimento da variação de permeabilidade e presença de colmatação dos traços de
concreto permeável, foram montadas ilustrações que estão presentes na Figura 5. Na
figura, a seta apontando para cima representa aumento na permeabilidade após os 30 dias
de exposição às chuvas amazônicas, ao passo que a seta para baixo representa perda.

Figura 5 – Variação de permeabilidade após 30 dias de exposição às chuvas do inverno amazônico.

Fonte: Autores

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Embora Kia [18], em seu estudo, tenha mostrado que as chuvas amazônicas
proporcionaram o acúmulo de resíduos no interior das amostras, refletidos na redução da
permeabilidade, neste estudo, utilizando aditivos, verificou-se que esse comportamento
não foi predominante. Com isso, pôde-se assumir que as chuvas na região foram fortes o
suficiente para promover a limpeza da superfície das amostras de concreto permeável,
fazendo com que não ocorresse colmatação dos poros e também houvesse aumento na
taxa de permeabilidade.
De modo geral, Tendo em vista que os traços A1 e A3 apresentarem aumento de
massa aparente (tabela 3), verificou-se que estes também apresentaram a diminuição da
permeabilidade, como mostrado na tabela 4. O aumento de massa e a diminuição da
permeabilidade, dão indícios que nessas misturas, houve concentração de resíduos
trazidos pelas águas pluviais, colmatando seus poros e diminuindo a taxa de percolação
de água, diferentemente do que foi observado nas outras amostras.

Tabela 4 – Variação de permeabilidade nos corpos-de-prova após 30 dias de exposição à chuva amazônica
Variação de permeabilidade (%)

Misturas
CP's 1 (TOPO) CP's 2 (BASE)

A1 (Ref.) -9,15 13,48


A2 (MV) 14,39 15,83
A3 (SP) -8,51 3,85
A4 (SP+MV) 5,71 2,86

Os traços A1 e A3, como já mencionada, tem em comum a ausência do


modificador de viscosidade em sua confecção, o que demonstra que a presença deste
aditivo é favorável para a manutenção da permeabilidade proporcionada pelas chuvas do
inverno amazônico, tendo em vista também que todos os traços onde foi utilizado o
aditivo apresentaram aumento de permeabilidade após a exposição destes as condições
experimento. O aditivo superplastificante proporciona fluidez à mistura, de modo que seja
promovida uma melhor acomodação do concreto à forma em que está sendo aplicado.
O ganho em trabalhabilidade afeta a permeabilidade dos materiais, reduzindo-a
[7]. Porém, o traço A3, onde foi utilizado o aditivo em comparação com o traço de
referência A1, apresentou aumento menos acentuado de colmatação dos poros após
exposição direta à chuva (Tabela 4), podendo inferir que o aditivo superplastificante tem

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efeito positivo sobre a colmatação dos poros do concreto poroso aos resíduos carregados
com as chuvas na região amazônica.
Ao expor todas as amostras de CPER às chuvas amazônicas, verificou-se que
houve, em algumas delas, um aumento de massa após os 30 dias e isso influenciou para
que estas apresentassem menor permeabilidade, quando comparado ao período prévio à
exposição, reforçando a hipótese de aprisionamento de resíduos no interior da estrutura,
carregados pelas águas pluviais. De forma geral, o comportamento de diminuição de
massa favoreceu o aumento da permeabilidade em todas as misturas produzidas, como
mostrado da figura 6a e 6b, tendo em vista que houve o obstrução dos poros na estrutura
do CPER. Adicionalmente, verificou-se que uma alteração de cerca 0,3% na massa das
amostras propiciou uma alteração de cerca de 16% na permeabilidade, mostrando que
existe uma relação muito forte entre esses dois parâmetros.

Figura 6 – Avaliação da variação de massa e permeabilidade nas amostras. Verde refere-se ao aumento de
massa e permeabilidade e vermelho refere-se à diminuição. A) Resultados obtidos nas amostras extraídas
do topo do tubo. B) Resultados obtidos nas amostras extraídas da base do tubo.

Fonte: Autores

É importante ressaltar também que o traço A4, apresentou as menores variações


de permeabilidade, portanto os aditivos combinados reduzem a variabilidade na
permeabilidade, por conseguinte, são benéficos para a conservação do concreto no que
diz respeito à durabilidade, tendo em vista que diminuem a perda de massa da peça, ao
passo que também diminuem a possibilidade de colmatação dos poros por resíduos
trazidos pela chuva.

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4 CONCLUSÕES
Ao fim deste trabalho, pode-se concluir que:
• O aditivo modificador de viscosidade demonstrou resultados positivos quanto a
prevenção da colmatação em concretos porosos expostos às chuvas da região amazônica,
tendo em vista que os traços A1 (CP 1) e A3 (CP1), que não continham o aditivo em sua
composição, apresentaram o fenômeno de colmatação dos poros, diferente dos demais
corpos-de-prova.
• Na maioria dos corpos-de-prova, a chuva amazônica não causou efeito de colmatação
de poros nos concretos permeáveis. Porém, proporcionaram perda de massa nos corpos-
de-prova pela percolação e impacto da água da chuva na superfície, e também aumento
da permeabilidade.
• A combinação dos aditivos modificador de viscosidade e superplastificante,
proporcionou uma melhor ligação entre os grãos de agregado, o que diminuiu a perda de
grãos pelo impacto das fortes chuvas da região, preservando as funções hidráulicas do
material, bem como sua massa.
• O aditivo superplastificante reduziu em pequena quantidade o efeito da colmatação dos
poros no concreto em que foi aplicado, em comparação com os demais, mostrando-se
benéfico às propriedades hidráulicas do material.
• É necessário estudo aprofundado para avaliar os efeitos do fenômeno de lixiviação nos
concretos porosos para melhor entendimento das consequências em sua massa,
permeabilidade.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a empresa TABALMIX, pelo material utilizado na pesquisa, a
Universidade Federal do Pará, a qual concedeu a utilização do laboratório de materiais
(LEMAC), e ao Grupo de pesquisas de materiais de construção civil (GPMAC) pelo apoio
e fomento às pesquisas de seus alunos.

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REFERÊNCIAS

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