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ALÉM DE NATUREZA E CULTURA

DESCOLA, Philippe. Além da natureza e cultura. Tessituras, Pelotas, v.3,n.1, p.7-33,


jan./jun.2015.
Programa de Pós-graduação em Ciências da Sociedade – PPGCS
Mestrado Acadêmico em Ciências da Sociedade do ICS/ UFOPA
Seminário “Saberes Locais, espaços naturais e processos produtivos: diálogos entre teoria
e prática”.
Santarém, 11 de outubro de 2021.
PHILIPPE DESCOLA
Paris, 19 de junho de 1949. Antropólogo francês.
Estudou na École normale supérieure de Fontenay-
Saint-Cloud e etnologia na École Pratique des Hautes
Études, onde defendeu sua tese sob a orientação de
Claude Lévi- Strauss.
Considerado o sucessor de Lévi-Strauss, desenvolve
uma reflexão sobre as relações entre natureza e
cultura. Publicou: La nature domestique (1986), As
lanças do Crepúsculo (1993) e Par-delà nature et
culture (2005).
Pontos centrais do artigo:

Discutir o dualismo que se estabeleceu entre a natureza e a cultura.

Pensar outras cosmologias para além da visão estabelecida por nós,


ocidentais, modernos, euroamericanos.
“ A ORDEM NATURAL ENTRA E SE TORNA PARTE DA ORDEM
SOCIAL


Teoria Totêmica de Radcliffe-Brown:
É possível a fusão entre os dois conjuntos de relações (humanos e
não-humanos);

• Estrutura social dos aborígenes australianos.
• As relações que os aborígenes têm entre si (humanos) também
ocorrem entre os aborígenes com os objetos e fenômenos naturais
(não-humanos).
• Compreende o totemismo como o estudo da relação geral entre o
homem e as espécies naturais na mitologia e no ritual.
“ AS DESCONTINUIDADES ENTRE AS ESPÉCIES FUNCIONAM COMO UM MODELO
MENTAL PARA ORGANIZAÇÃO DAS SEGMENTAÇÕES SOCIAIS DOS SERES
HUMANOS.


Teoria Totêmica de Claude Lévis-Strauss

O Totemismo é uma ilustração particular de certos modos de reflexão.



• O Totemismo só acontece em função das possíveis interrelações que
estes seres vivos nos apresentam
• Aqui tem uma lógica classificatória; pensar é como se fosse
estabelecer descontinuidades sobre o real, opondo séries naturais e
culturais, com o objetivo de mapear as relações sociais entre humanos.
• Cada grupo totêmico deve ser considerado isoladamente.
Noção de fisicalidade e interioridade

• FISICALIDADE: dispositivos que permitam a ação física.


• INTERIORIDADE: no sentido da autoreflexão
• A percepção desta dualidade é provavelmente inata e
específica a espécie humana.
Processo de identificação

“Mecanismo por meio do qual este sujeito irá detectar diferenças


e similaridades entre si mesmo e os objetos do mundo, através da
inferência de analogias e distinções de aparência e
comportamento entre o que ele experimenta como característico
dele mesmo e os atributos que atribui às entidades que o
rodeiam”.
Descola propõe quatro ontologias diversas para explicar a identificação
entre o homem e o mundo “natural” = formas sociocósmicas entre
humanos e não-humanos
• Animismo – Interioridade similar e fisicalidade diferentes, que está presente na

Amazônia, Sibéria, Ásia do Sul, Nova Guiné.

• Naturalismo – Objeto desprovido de interioridade e fisicalidade similar a sua, que

predomina entre os modernos.

• Totemismo – Interioridade e fisicalidade possuem elementos análogos ao seu, que

predomina na Austrália.

• Analogismo – Interioridade e fisicalidade são inteiramente diferentes da sua, que

predomina em certas partes da África, Índia, China, outros lugares.


ANIMISMO

• Todas as classes de seres dotados de “alma” = interioridade, possuem mesmo


tipo de estrutura e propriedade
• Todos possuem chefes, xamãs, moradias, técnicas, artefatos, todos se
organizam e discutem
• Todos os coletivos são integralmente sociais e culturais / o animismo é
antropogênico, pois atribui aos não-humanos apenas o necessário para que
sejam tratados como humanos
• Se distinguem pela morfologias e comportamentos diferentes
• Cada coletivo é uma espécie que estabelece relações de sociabilidade com
outras tribos
• Os domínios naturais e sobrenaturais mantêm relações de acordo com normas
tidas comuns a todos eles.
NATURALISMO

• Objeto desprovido de interioridade e fisicalidade similar a sua, que predomina


entre os modernos
• Concepção antropocêntrica, o paradigma da dignidade moral é negada aos
outros seres
• A espécie humana é a única dotada da capacidade de se objetivar graças
ao privilégio reflexivo garantido por sua interioridade
• Nessa concepção, as outras espécies permanecem ignorantes do fato de
pertencerem a um conjunto abstrato
• É uma ontologia errônea, segundo a qual, NÓS seres humanos julgamos ser
UNIVERSAIS.
TOTEMISMO

• Interioridade e fisicalidade possuem elementos análogos ao seu, que

predomina na Austrália (povos totêmicos aborígenes australianos)

• O totemismo brinca com conjuntos humanos e não-humanos híbridos

• São utilizados de modo a produzir elos sociais, identidades genéricas e

conexões com locais

• O totemismo é regido por um princípio chamado cosmogênico, pois lança

mão de conjuntos de atributos cósmicos que não fazem referência a uma

espécie em particular para obter todo o necessário para alguns humanos e

não-humanos serem incluídos num mesmo coletivo.


ANALÓGICO

• Interioridade e fisicalidade são inteiramente diferentes da sua, que predomina

em certas partes da África, Índia, China, outros lugares.

• Humanos e não-humanos são elementos constitutivos de um coletivo mais

amplo

• Cosmo e sociedade tornam-se verdadeiramente indistinguíveis; todos têm em

comum uma organização hierárquica de suas partes, mesmo que apenas em

nível simbólico (sistemas de castas Hindu)

• Os coletivos analógicos são estruturados em alinhamentos familiares: linhagens,

metades, castas.

• O mundo exterior não é ignorado, mas continua sendo “mundo exterior”.


“ INDEPENDENTE DO QUÃO ÚTIL ESSA DIVISÃO
CONSTITUCIONAL TENHA SIDO PARA O ALAVANCAR DAS
REALIZAÇÕES MODERNAS, ELA JÁ ULTRAPASSOU SUA
EFICIÊNCIA MORAL E EPISTEMOLÓGICA E DEVE DAR LUGAR
AO QUE ACREDITO QUE SERÁ UM PERÍODO NOVO E
EXCITANTE DE ALTERAÇÕES POLÍTICAS E INTELECTUAIS. ”
Philippe Descola
Obrigada!

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