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Sobre o Conceito de Função nas Ciências Sociais

Autor(es): AR Radcliffe-Brown Fonte:
antropólogo americano, Nova Série, vol. 37, nº 3, parte 1 (jul. - set., 1935), pp.
394-402
Publicado por: Wiley em nome da Associação Antropológica Americana URL
estável: http://www.jstor.org/stable/661962 .
Acesso: 10/06/2014 16:35

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SOBRE O CONCEITO DE FUNÇÃO

EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Por AR RADCLIFFE-BROWN

Sugeriu-se que os comentários que fiz sobre o trabalho do Dr. Lesser, lido em Pittsburgh,
ser deveriam
impressos para, em vez de especificar isto. É lamentável que o Dr. Lesser, em
acompanhamento
aqueles que ele considera "funcionalistas" e dar referências a seus trabalhos, nos oferecer apenas
uma descrição abstrata, mesmo enquanto ele mesmo indica a "falta de unidade entre os funcionalistas".
O Dr. Lesser assegura-me que me considera um funcionalista. Nunca reivindiquei a denominação, mas
é verdade que tenho feito uso constante do conceito de função social, em palestras e por escrito,
desde 1909. No entanto, como veremos, não defino "função" da mesma forma. como Dr. Lesser. Nas
circunstâncias, não posso oferecer uma maneira
crítica real de seu Tudo o que posso fazer é oferecer, pelo interesse que possa ter,
qualquer papel. uma declaração do
caminho
em que eu mesmo aplico o qualquer conceito de função no estudo do ser humano.
sociedade.

T
ELE O conceito de função aplicado às sociedades humanas baseia-se numa analogia
entre a vida social e a vida orgânica. O reconhecimento da analogia e de algumas de
suas importantes implicações é pelo menos tão antigo quanto Protágoras e Platão. No
século XIX, a analogia, o conceito de função e a própria palavra aparecem com frequência
na filosofia social e na sociologia. Tanto quanto sei, a primeira formulação sistemática do
conceito aplicável ao estudo estritamente científico da sociedade foi a de Emílio

Durkheim em 1895.1
A definição de Durkheim é que a "função" de uma instituição social é

a correspondência entre ela e as necessidades do organismo social. Esta definição requer

alguma elaboração. Em primeiro lugar, para evitar possíveis ambigüidades e, em particular,
a possibilidade de uma interpretação teleológica, gostaria de substituir o termo
"necessidades" pelo termo "condições necessárias de existência" ou, se o termo
"necessidade" for usado , deve ser entendido apenas neste sentido. Deve-se observar aqui,
como um ponto a ser retomado,
poderia que qualquer tentativa de aplicar esse conceito de função

na ciência social envolve a suposição de que existem sociedades exatamente como existem
para os animais abrangidos pelo necessário
condições de existência para o ser humano

Para maior elucidação do conceito organismos, e que eles podem ser disfuncionais
apropriadotipo de investigação científica.
é conveniente usar a analogia

entre vida social e vida orgânica. Como todas as analogias, ela deve ser usada com cuidado.
Um organismo animal é uma aglomeração de células e fluidos intersticiais dispostos uns
em relação aos outros não como um agregado, mas como um todo integrado. Para o
bioquímico, é um sistema integrado de moléculas complexas. O sistema de relações pelo
qual essas

1 R~gles
de la M6thode Sociologique.
394
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RADCLIFFE-BROWN] CONCEITO DE FUNÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS 395

unidades estão relacionadas é a estrutura orgânica. Como os termos são usados aqui, o
organismo não é em si a estrutura; é uma coleção de unidades (células em uma estrutura, ou
arranjadas tem uma estrutura.seja, em um conjunto de relações; as ou moléculas) órgão
Dois animais maduros da mesma espécie e sexo
consistem em unidades semelhantes combinadas em uma estrutura semelhante. A estrutura

deve, portanto, ser definida como um conjunto de relações entre as entidades. (A estrutura de
uma célula é no mesmo um
conjunto de relações entre moléculas complexas, maneira
e a estrutura de um átomo é um conjunto de relações entre elétrons e
pró
toneladas.) Enquanto vive, o organismo preserva uma certa continuidade de estrutura, embora
preservar
não a identidade completa de suas partes constituintes. Perde algumas de suas moléculas
constituintes por respiração ou excreção; absorve outros por respiração e absorção alimentar.

Ao longo de um período, suas células constituintes não permanecem as mesmas. Mas o

arranjo estrutural das unidades constituintes permanece similar. O meio pelo qual processo
essa continuidade estrutural do organismo é mantida é chamado de vida. O processo vital
consiste nas atividades e interações das unidades constituintes do organismo, as células e
em que os órgãos
o
as células estão unidas.

Como a palavra função está sendo usada aqui, a vida de um organismo é concebida
como o funcionamento de sua estrutura. É através e pela continuidade do funcionamento
que a continuidade da estrutura é preservada. parte recorrente do processo vital, como
Se considerarmos
qualquer respiração, digestão etc., sua função é o papel que desempenha, a

contribuição que dá à vida do organismo como um todo. Como os termos estão sendo usados
aqui, a tem uma atividade e essa atividade tem uma função. É verdade que comumente
célula ou um
órgão falamos da secreção do fluido gástrico como uma "função" do estômago.
Como as palavras são usadas aqui, devemos
que isso é uma
palavra
"atividade" do estômago, cuja "função" é transformar os alimentos em uma forma na pró
qual estes são absorvidos e distribuídos pelo sangue para os tecidos.2 Podemos
observe que a função de um recorrente

(condições de processo é assim uma correspondência entre ela e as necessidades

(ou seja, fisiológico de existência) do organismo. Em uma
necessário Se definirmos
sobre investigação sistemática da natureza dos organismos e da vida
orgânica, três conjuntos de problemas nos são apresentados. (Além disso, existem alguns
são, outros conjuntos de problemas relativos a aspectos ou características da vida orgânica
com os quais não estamos preocupados aqui.) Um é

2 A insistência nessa forma precisa de terminologia é apenas por causa da analogia que deve
ser feita. Não tenho nenhuma objeção ao uso do termo função em fisiologia para denotar tanto a
atividade de um órgão e os resultados dessa atividade na manutenção da vida.
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396 ANTROPÓLOGO AMERICANO EM. s., 37, 1935

a da morfologia - que tipos de estruturas orgânicas existem, que semelhanças e

variações elas apresentam e como podem ser classificadas?
Em segundo lugar estão os problemas da fisiologia – como, em geral, funcionam as
estruturas orgânicas, qual é, portanto, a natureza do processo vital? Em terceiro lugar
estão os problemas de desenvolvimento - como novos tipos de organismos surgem?
existência?

Passando da vida orgânica para a vida social, se examinarmos uma comunidade

como uma tribo africana ou australiana, podemos reconhecer a existência de uma
estrutura social. Os seres humanos individuais, as unidades essenciais neste caso,
estão conectados por um conjunto definido de relações sociais em um todo integrado.
A continuidade da estrutura social, como a de uma estrutura orgânica, está nas
unidades. Indivíduos não
destruídos por mudanças deixam a sociedade, por morte oupoderia
de outra forma; outros
entram nele. A continuidade da estrutura
poderia é mantida pela estrutura da vida social, que

consiste nas atividades e interações dos seres humanos individuais e dos grupos
processo
organizados nos quais eles estão unidos. A vida social da comunidade é aqui definida
como o funcionamento da estrutura social. A função da atividade, como a punição de
um crime, ou um papel fúnebre que desempenha na vida social como qualquer recorrente
um todo e, portanto, a contribuição que dá para a manutenção da cerimônia, éa

continuidade estrutural.

O conceito de função como aqui definido envolve a noção de uma estrutura que
consiste em um conjunto de relações entre entidades unitárias, sendo a continuidade
da estrutura mantida por um processo de vida feito acima
das atividades
das unidades constituintes.

Se, com esses conceitos em mente, partimos para uma investigação sistemática
da natureza da sociedade humana e da vida social, nos deparamos com três conjuntos
de problemas. Primeiro, os problemas da morfologia social – que tipos de estruturas
sociais existem, quais são suas semelhanças e diferenças, como devem ser
classificadas? Em segundo lugar, os problemas da fisiologia social – como
funcionam as estruturas sociais? Em terceiro lugar, os problemas do desenvolvimento
- como surgem novos tipos de estrutura social?
Dois pontos importantes onde a analogia entre organismo e sociedade se desfaz
devem ser notados. Em um organismo animal é possível observar a estrutura orgânica
em grande parte independentemente de seu funcionamento. Portanto, é possível fazer
uma morfologia que seja independente da fisiologia. Mas na sociedade humana a
ogy. estrutura social como um todo só pode funcionar. Algumas das características
observado em sua
da estrutura social, como a distribuição geográfica dos indivíduos e
podem ser observadas diretamente, mas a maioria das relações
grupos
sociais que em sua
totalidade constituem a estrutura, como as relações de pai e filho, comprador e
vendedor. governante
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RADCLIFFE-BROWN] CONCEITO DE FUNÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS 397

e sujeito, não pode ser observada nas atividades

estão sociais em que exceto as relações
funcionando. Segue-se que uma morfologia social não pode ser estabelecida
independentemente de uma fisiologia social.
O segundo ponto é que um organismo animal não muda, no curso de sua vida,
A
seu tipo estrutural. porco não vira hipopótamo.
(O desenvolvimento do animal desde a germinação até a maturidade não é típico da
em todos os seus
processo
desde os estágios Por outro lado, uma sociedade no espécie.) mudança de tipo
curso de sua história pode e muda seu tipo estrutural quebra de continuidade.
sem
qualquer

Pela definição aqui oferecida, "função" é a contribuição que uma atividade parcial
faz à atividade total da qual faz parte. A função de uma vida social particular como o
é a contribuição que faz para o uso total
funcionamento do sistema
social total. Tal visão implica que um sistema social (a estrutura social total de uma
sociedade junto com a totalidade do social de que depende para sua existência
em que essa estrutura e em qual
continuada) tem um usos, aparece
certo tipo de unidade, que o define como uma condição em
nós
podemos falar como uma unidade funcional. Nós
poderia
qual tudo
partes do sistema social trabalham juntas com um grau suficiente de
harmonia ou consistência interna, ou seja, sem produzir conflitos persistentes que
não podem ser resolvidos nem regulados.3 Essa ideia da
curso, a
unidade funcional de um sistema social é, por hipótese. Mas é algo
que, para o funcionalista, parece valer a pena testar pelo exame sistemático dos fatos.

Há outro aspecto da teoria funcional que deve ser brevemente

mencionado. Para retornar à analogia da vida social e da vida orgânica, reconhecer

entendemos que um organismo pode funcionar de forma mais ou menos eficiente e,

acima assim, estabelecemos uma ciência especial da patologia para lidar com todos os fenômenos de
Distinguimos em um organismo o que chamamos de saúde e doença. Os gregos do
século V aC pensaram que se poderia aplicar a mesma noção à sociedade, à cidade-
estado, distinguindo condições de eunomia, boa ordem, saúde social, de disnomia,
desordem, doença social. No século XIX, Durkheim, ao aplicar a noção de função,
procurava lançar as bases de uma patologia social científica, baseada numa morfologia
e numa fisiologia. ele tentou encontrar critérios objetivos pelos quais julgar se

3 A oposição, isto é, o antagonismo organizado e regulado, é, naturalmente, uma característica

essencial
social. do
todo
sistema
4 Para o que aqui é chamado de disnomia, Durkheim usou o termo anomia (anomia em francês). mente
Isso é para
inapropriado. Saúde e doença, eunomia e disnomia são essencialmente
meus termos relativos.
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398 ANTROPÓLOGO AMERICANO [N. s., 37, 1935

uma dada sociedade em um dado momento é normal ou patológica, eunômica ou

disnômica. Por exemplo, ele tentou mostrar que o aumento da taxa de suicídio nos
em
muitos países durante parte do século XIX é sintomático em sua terminologia,
disnômicos ou, anomic, condição social. provavelmente lá
nenhum sociólogo sustentaria que Durkheim realmente conseguiu estabelecer uma
base objetiva para uma ciência da patologia social.5 Em relação às
estruturas orgânicas, podemos encontrar critérios estritamente objetivos para
distinguir doença de saúde, patológico de normal, pois a aquilo que ou ameaça o
organismo de morte (a dissolução de sua estrutura) ou interfere nas atividades que
são características do tipo orgânico. As sociedades não morrem no mesmo sentido
em que morrem os animais e, portanto, não podemos definir a disnomia como aquela
que leva, se não for controlada, à morte de uma sociedade. Além disso, uma
naquilo
sociedade difere de um organismo, ela pode mudar seu tipo estrutural ou
pode ser absorvida como parte integrante de uma sociedade maior. Portanto, não
podemos definir a disnomia como uma perturbação das atividades habituais de um
tipo social (como Durkheim tentou fazer).
Voltemos por um momento aos gregos. Eles concebiam a saúde de um organismo
e a eunomia de uma sociedade como sendo, em cada instância, uma condição do
trabalho harmonioso de suas partes. unidade funcional ou consistência interna de
um sistema social, e sugere-se que para o grau de unidade funcional de uma
determinada sociedade seja possível estabelecer um critério puramente objetivo.sug
Reconhecidamente, isso não pode ser feito no momento; mas a ciência da poderia

sociedade humana ainda está na infância. De modo que, enquanto um organismo

em seu extremo
que é atacado por uma doença virulenta reagirá a ela e, se sua reação
ser que devemos dizer
falhar, morrerá, uma sociedade que é lançada em uma condição de desunião ou
inconsistência funcional (por isso agora identificamos provisoriamente com
disnomia ) não morrerá, exceto em casos comparativamente raros como uma tribo
australiana dominada pela força destrutiva do homem branco, mas continuará a lutar
por algum tipo de eunomia, algum tipo de saúde social e, no decorrer disso, mudará
sua estrutura tipo. Este "funcionalista" tem amplas oportunidades de observar, nos
dias de hoje, nos povos nativos submetidos ao domínio das nações civilizadas, pode
o
e nas próprias nações'. processo,parece,

6 Pessoalmente, concordoem geral com as críticas de Roger Lacombe (La Méthode

Sociologique de Durkheim, 1926, cap. IV) à teoria geral da patologia social de Durkheim e
com as críticas ao tratamento de Durkheim sobre o suicídio apresentadas por Halbwachs, Les
Causas do Suicídio.
6 Veja, por exemplo, o Quarto Livro da República de Platão.
7 Para evitar mal-entendidos talvez seja necessário observar que essa distinção de
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RADCLIFFE-BROWN] CONCEITO DE FUNÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS 399

O espaço não permitirá uma discussão aqui de outro aspecto da teoria

funcional, a saber, a questão de saber se a mudança do tipo social depende
ou não da função, isto é, das leis da fisiologia social. Minha opinião é que
existe tal dependência e que sua natureza pode ser estudada no
desenvolvimento das instituições legais e políticas, dos sistemas econômicos
e das religiões da Europa nos últimos vinte e cinco séculos. Para as pré
sociedades letradas com as quais a antropologia se ocupa, não é possível
estudar os detalhes do tipo. O único tipopode de
o antropólogo de longo processo de mudança que
observar é a desintegração da sociedade
estruturas. No entanto, mesmo aqui podemos observar e comparar movimentos
espontâneos em direção à reintegração. Temos, por exemplo, na África, na
na América o aparência Oceania e nas novas religiões que podem ser
interpretadas a partir de uma hipótese funcional como tentativas de aliviar uma
condição de disnomia social produzida pela rápida modificação da vida social pelo contato
civilização branca.

O conceito de função como definido acima constitui uma

"hipótese de
trabalho" pela qual uma série de problemas são formulados para investigação.
Nenhuma investigação científica é possível sem alguma formulação de
hipóteses de trabalho. Duas observações são necessárias aqui. Uma é que a
hipótese não requer a afirmação dogmática de que tudo na vida da cada
comunidade tem uma função. Requer apenas a suposição de que maio
ter um, e que estamos justificados em procurar descobri-lo. o segundo é
parece usar serfunções
o mesmo social em duas sociedades que o que ter
diferentes nas duas. Assim, pode
a prática do celibato na Igreja Católica Romana de hoje tem força na igreja
cristã primitiva. Em outras muito funções diferentes das do celi
palavras, para definir um e, portanto, para fazer comparações válidas entre o,
uso
social, considere não apenas sua função, mas também sua função. Com
utiliza de diferentes povos ou períodos é necessáriobase nisso, por
a forma do uso exemplo, a crença em um Ser Supremo em uma
sociedade simples é algo diferente de tal crença em uma comunidade civilizada
moderna.
A aceitação da hipótese funcional ou ponto de vista descrito acima resulta
no reconhecimento de um vasto número de problemas para a solução.

condições sociais eunômicas e disnômicas não nos dão "bom" ou avaliação dessas sociedades como
qualquer
"mau". Uma tribo que pratica a poligamia, o canibalismo e pode possivelmente ser selvagem
unidade feitiçaria
mostra um grau de
ou consistência funcional mais alto do que os Estados Unidos de 1935. Esse julgamento objetivo, pois assim
deve ser para ser científico, é algo muito diferente de qualquer julgamento. quanto a qual dos dois sistemas
sociais é o melhor, o mais desejável ou aprovado.
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400 ANTROPÓLOGO AMERICANO

[N. s., 37, 1935

ção da qual são necessários amplos estudos comparativos de sociedades de tipos e

diversos
muitos também estudos intensivos de tantas sociedades individuais quanto
possível. Nos estudos de campo dos povos mais simples, leva, antes de tudo, a um
estudo direto da vida social da comunidade como funcionamento de uma estrutura
social, e disso há vários exemplos na literatura recente. Como a função de uma
atividade social deve ser encontrada examinando seus efeitos sobre os indivíduos,
estes são estudados, seja no indivíduo, seja nos indivíduos
Além médios e excepcionais.
média disso, a hipótese leva a tentativas de investigar diretamente a consistência
ou unidade funcional de um sistema social e determinar, na medida do possível, em
cada caso, a natureza dessa unidade. Tais estudos de campo serão obviamente
diferentes de estudos realizados a partir de outros pontos de vista, várias maneirasde
por exemplo, aquele que enfatiza a difusão. Não temos o ponto etnológico desse
que ver se é melhor que o outro, mas apenas que são diferentes, dizer único ponto
e determinada obra deve ser julgada em referência ao que ela pretende fazer. qualquer

Se a visão aqui delineada for tomada como uma forma de "funcionalismo", algumas
observações sobre o Dr.
Lesser tornam-se permissíveis. Ele faz referência a uma
diferença de papel de "conteúdo" em funcional e não funcional. Do
antropologia.
ponto de vista aqui apresentado, o "conteúdo" ou assunto da antropologia é toda a
social
vida social de um povo em todos os seus aspectos. Por conveniência de
manuseio, muitas vezes é necessário dedicar
necessário
atenção especial a alguma parte ou
aspecto particular da vida social, mas se funcionalismo significa alguma coisa, significa
a tentativa de ver a vida social de um povo como um todo, como um conjunto funcional.
unidade.
O Dr. Lesser fala do funcionalista como enfatizando "os aspectos psicológicos da
cultura". Eu que ele aqui se
narefere
vida, ao reconhecimento funcionalista de que os efeitos
ou seja, no usos de uma sociedade funcionam ou "funcionam" apenas
através de seus pensamentos, sentimentos e ações de indivíduos.
O ponto de vista "funcionalista" aqui apresentado implica, portanto, que devemos
investigar o mais minuciosamente possível todos os aspectos da vida social,
considerando-os uns em relação aos outros, e que uma parte essencial da tarefa é a
investigação do indivíduo e do modo como o seu modo é moldado ou ajustado à vida
social.
Passando do conteúdo para o método, o Dr. Lesser parece encontrar algum conflito
entre o ponto de vista funcional e o histórico. Isso lembra as tentativas feitas
anteriormente de ver um conflito entre a sociologia e a história. Não precisa haver
conflito, mas há uma diferença.
Não há, e não pode haver, nenhum conflito entre a hipótese funcional e a visão de
que o sistema social é o
resultado
acidentes
final
históricos.
de qualquer cultura, de qualquer série única de
O de desenvolvimento do processo
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RADCLIFFE-BROWN] CONCEITO DE FUNÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS 401

cavalo de corrida de seu ancestral de cinco dedos foi uma série única de
acidentes históricos. Isso não entra em conflito com a visão do fisiologista de
que o cavalo de hoje e todas as formas antecedentes se conformam ou
existência orgânica. conformam às condições fisiológicas necessárias da
As leis paleontológicas, ou seja, as leis e a fisiologia não estão em conflito.
Uma "explicação" do cavalo de corrida pode ser encontrada em sua história - como ele se
Outra "explicação" totalmente independente é mostrar como o cavalo é uma
exemplificação especial das leis fisiológicas. Da mesma forma, uma
"explicação" de um sistema social será sua história, onde o conhecemos - o
relato detalhado de como veio a ser o que é e onde está. Outra "explicação"
do mesmo sistema é obtida mostrando (como o funcionalista tenta fazer) que
ele é uma exemplificação especial das leis da fisiologia social ou do
funcionamento social. Os dois tipos de explicação não são conflitantes, mas
se complementam. do
antagonismo a essa abordagem.

Uma é a teoria da cultura dos "pedaços e remendos", designação tirada de

uma frase do professor Lowie9 quando ele fala sobre "aquela miscelânea sem
planos, aquela coisa de fragmentos e remendos chamada civilização". A
concentração da atenção no que se chama de difusão dos traços culturais
tende a produzir uma concepção de cultura como uma coleção de entidades
díspares (os chamados traços) reunidas por puro acidente histórico e tendo
apenas relações acidentais umas com as outras. A concepção raramente é
atualizado e mantido com
formulada com precisão, mas como um ponto
de vista, parece controlar o pensamento de meio inconsciente de muitos etnólogos

8
Não vejo razão alguma para que os dois tipos de estudo - o histórico e o funcional não devam ser
conduzidos lado a lado em perfeita harmonia. Na verdade, há quatorze anos leciono tanto
e o estudo histórico
geográfico dos povos sob o nome de etnologia, em estreita associação com a arqueologia, quanto o estudo
funcional dos sistemas sociais, sob o nome de antropologia social. Eu acho que há muitas desvantagens
em misturar os dois assuntos e confundi-los. Ver The Methods of Ethnology and Social Anthropology (South
African Journal of Science, 1923, pp. 124-47).

9 Primitive Society, 441. Uma declaração concisa desse ponto de vista é a seguinte passagem de The
Concept of the Guardian Spirit in North America, da Dra. Ruth Benedict (Memoirs, American Anthropological
Association, 29, 1923), página 84: "É, até onde podemos, sua ver, um
fato último da natureza humana que o homem constrói
cultura a partir de elementos díspares,
combinando-os e recombinando-os; e até que tenhamos abandonado a superstição de que o resultado é um
organismo funcionalmente inter-relacionado, seremos incapazes de ver nossa vida cultural objetivamente. ,
ou para controlar suas manifestações." Acho que provavelmente nem o professor Lowie nem o dr. Benedict
manteriam, atualmente, essa visão da natureza da cultura.
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402 ANTROPÓLOGO AMERICANO [N. s., 37, 1935

curso, em conflito direto com a hipótese da unidade funcional do

sistemas.
A segunda visão que está em conflito direto com a hipótese funcional é a
visão de que não há leis sociológicas significativas que possam ser descobertas,
como o funcionalista está buscando. Sei que cerca de dois ou três etnólogos
sustentam essa opinião, mas descobri que é impossível saber com base em
dizem que que tipo de evidência (racional ou empírica) eles classificariam o
eles querem dizer, basear sua alegação. Generalizações
sobreassunto
qualquer como sendo de
dois tipos: as generalizações da opinião comum , e generalizações que foram
verificadas ou demonstradas por um exame sistemático de evidências fornecidas
por observações precisas feitas sistematicamente. Generaliza
ções deste último tipo são chamadas de leis científicas. Aqueles que sustentam isso lá

não há leis da sociedade humana não podem sustentar que não há generalizações
sobre a sociedade humana porque eles próprios mantêm tais generalizações e
até fazem novas por conta própria. Eles devem, portanto, sustentar que, no
campo dos fenômenos sociais, em contraste com os fenômenos físicos e
biológicos, qualquer tentativa de teste sistemático de generalizações existentes
ou para a descoberta e verificação de novas é, para alguns, como o Dr. Radin
fútil, ou, O argumento contra tal coloca, "chorando pela lua." razão inexplicável,
afirmação é inútil ou mesmo impossível.
UNIVERSIDADE DE CHICAGO
CHICAGO, IL.