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O Estruturalismo e a Teoria da
Burocracia
5.1 Introdução
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Tecria Geral da Administração = Editora Thonsor
5.2 Origens
A palavra “estrutura” é proveniente de emprego muito antigo, tanto nas
ciências físicas quanto nas sociais, e em termos amplos significa tudo o que
a análise interna de uma totalidade revela, ou seja, os elementos internos
de um sistema, suas inter-relações e sua disposição. O conceito de estru-
tura é especialmente importante para a ciência, porque pode ser aplicado
a coisas diferentes, permitindo a comparação entre elas. De fato, embora a
popularização da expressão estrutura social tenha ocorrido após 1930, seu
uso na língua inglesa remonta a um período anterior ao século XVI, quando
designava simplesmente o modo pelo qual um edifício era construído. Poste-
riormente, a palavra estrutura foi empregada também para denotar as
inter-relações entre as partes componentes de um todo, sentido este
usado pela biologia. A introdução da expressão nas ciências sociais deve-se a
H. Spencer (1858), que a utilizou associando-a com o conceito de função, em
uma analogia às funções anatômicas. Essa mesma utilização, mais tarde
retomada por Émile Durkheim, perdurou no organicismo de Radceliffe-
Brown e no estruturalismo de Lévi-Strauss.
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Carmao 5 - O Estruturalismo e a Teoria da Burocracia ms Motta / Vasconcelos
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Teoria Geral da Administração m Edita Thomson
amente os indivíduos da
a reengenharia (downsizing), excluindo-se subit
o que descobre o caráter ideo-
organização como recursos que sempre foram,
paternalista antes adotada
lógico do discurso de proteção social e da ética
estudos, em teoria crítica, ado-
por esses sistemas organizacionais. Vários dos
como à padronização
tam essa linha de análise, criticando fenômenos
da “melhor maneira” de ana-
padrões culturais nas organizações (imposição
homogeneização cultural das
lisar dados, refletir e decidir, tentativa de
organizações etc.).
ação na organização além
Atualmente, criticam-se outras formas de alien
críticos de autores neomarxis-
da alienação marxista tradicional. Os estudos
, uma alienação identitária
tas como Seeman e Sevigny relatam, atualmente
e formas de comportamento
derivada da imposição de “modelos mentais”
ciam o risco de se alienar
únicos aos indivíduos. Assim, esses estudos denun
atórias”. Nessa perspectiva, a
no trabalho pela adoção de «identidades obrig
formas de alienação relativas,
exploração cultural consiste na difusão de
os modelos impostos pelo sis-
forçando as pessoas a se moldarem segundo
(Sainsaulieu, 1977; Seeman,
tema como necessários ao seu funcionamento
Walker e Guest, 1962;
1967; Sevigny, 1970; Sevigny e Guimond, 1970;
p. 76-77).
Vollmer, 1960, p. 75; Dubin, apud Etzioni, 1973,
(essa última analisada
Seeman diz que as consequências de alienação
trabalho) podem levar o indi-
como uma insatisfação profunda em relação ao
siva até uma atitude radical-
víduo a desenvolver desde uma frustração agres
a tentar preencher o “vazio”
mente hostil. A alienação pode levá-lo, ainda,
s atividades (Sainsaulieu,
de sua vida profissional integrando-se em outra
lho não é o único lugar em que
1977). Quando o universo cotidiano de traba
menos 08 efeitos da exploração
o indivíduo investe afetivamente, ele sente
e na organização.
do que outro que se concentra prioritariament
0 homem moderno pela
Os trabalhos de Robert Sevigny caracterizam
, na sociedade moderna,
teoria rogeriana da atualização do ego. O homem
ação e enfrenta conflitos
pertence a vários ambientes e universos de inter
A alienação pode ser
de papéis nas múltiplas situações que vivencia.
em vista as diferentes
considerada um obstáculo à coerência do ego, tendo
dos seus múlti plos universos de
imagens de si mesmo que o homem retira
ns pode consti tuir um obstáculo
interação. Essa diversidade de auto-image à auto-
e à sua consci ência,
à congruência, à simbolização da experiência e a
Essa pesqu isa propõ
nomia e à aceitação da mudança (Sevigny, 1970). s nos
os siste mas sociai
hipótese de que as contradições vividas nos divers da
de alien ação profu nda
quais a pessoa está inserida pode ser fonte
personalidade.
como vimos, neste capítulo
Descrevemos rapidamente esses estudos, mas,
weberianos que fazem parte
nos concentraremos na análise dos autores
do estruturalismo fenomenológico.
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Capmuto 5 — O Estruturaismoe à Teoria da Burocracia m Matta/ Vasconcelos
Radcliffe-Brown
Estruturalismo Concreto —+» é Gurvitch
ID
5.3
Estruturalismo Fenomenológico
129
Teoria Gera! da Administração mm Editara Thomsan
130
Carmuio 5 — O Estrutuealismo
é 3 Teoria da Burocracia m Motta
/ Vasconcelos
Ea URSS: |
|Conhecimento | — | Apreender objetivamente a significação das |
intenções do outro a partir de suas condutas.
131
Teoria Geral da Administração m Edita Thomsom
Burocracia
E Lug) sessao
(er CRE pe mi
Mojo) poe a adoro eae
a e pu re ER
PRE co ga (o E e Cope ae
« Racionalidade instrumental
5.3.2 Merton
133
Teoria Geral da Mâministração = Ecitora Thamsan
134
Capiquuo5 — O Estruturalismo é a Teoria da Burocracia m Motta
/ Vasconcelos
Cet go
5.3.3 Gouldner
Nos anos 50, Gouldner fez uma série de estudos em uma mina de gesso. Cons-
tatando que os membros de uma organização não têm os mesmos inte-
resses e objetivos, propôs que as regras burocráticas representavam os
135
Teoria Geral da Administração Ediura Thomson
136
Cartao
5 — 0) Estruturaliseno
é a Tecria da Burocracia m Mara
/ Vasconcelos
O Trabalho de Gouldner
137
Teoria Geral da Administração ms Editora Thomson
| Aumentam a impessoalidade
na organização
Restringem a arbitrariedade e
legitimam a sanção
138
Caruco 5 - O Estrutucatismo e a Teoria da Burocracia m Moita/ Vasconcelas
5.3.4 Selznick
Na mesma linha, Phillip Selznick vê, no nível da delegação de autoridade,
iorças geradoras de ineficiência na burocracia, pela criação de condições
“avoráveis à bifurcação de interesses. Sua obra mais conhecida é Liderança
“a administração — uma interpretação sociológica. Selznick analisou, em 1949,
= Tennessee Valley Authority (TVA), descrevendo como o excessivo apego à
regra leva ao não-atingimento dos objetivos organizacionais. A TVA foi
«ma instituição criada em 1933 pelo Congresso norte-americano com o obje-
úvo de promover a gestão de uma fábrica de fertilizantes à base de nitrato
= uma usina elétrica localizada em Muscle Shoals, Alabama, Estados Unidos.
4 fábrica e a usina foram inauguradas durante a Primeira Guerra Mundial
e havia uma discussão se essas iniciativas deviam ser geridas pelo Estado
»u pelos particulares. A criação da TVA foi uma vitória para os que defen-
diam uma gestão direta pelo Estado desses ativos econômicos. A partir de
1933, a instituição redefiniu suas prioridades para desenvolver ações como
> planejamento e a administração da bacia do Tennessee, a melhoria e a
instalação da usina produtora de energia elétrica e a melhoria de condições
ie navegação fluvial e produção de fertilizantes na região. A direção da
TVA preocupou-se assim em planejar de forma integrada o uso racional dos
recursos naturais disponíveis. Como a estrutura formal da organização era
sequena, contou-se com o apoio da comunidade local para tomar decisões
sobre a alocação desses recursos, compra de propriedades, distribuição de
“ertilizantes e contratação de pessoal. A direção da agência resolveu con-
sultar a comunidade local de forma democrática. A idéia do grass roots foi
iesenvolvida como a política oficial da TVA, na construção desse sistema de
zestão democrático.
A TVA definiu sua política grass roots a partir de três princípios:
taduais e federais.
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Teoria Geral da Adminisiração m Editora Thomsom
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Cogiro 5 — O Estruturalismo €:m Teoria da Burocracia m Motta / Vasconcelos
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Capinuto 5 — O Estrulurasismo & a Teoria da Burocracia m Marta / Vasconcelos
a) Ação coletiva
Para Crozier, a ação social em grupo (a ação coletiva) não é um fenômeno
natural. Trata-se de um construto social. A organização é uma estru-
turação da ação coletiva que visa oferecer soluções específicas para a
concretização de objetivos do grupo social. As regras burocráticas corres-
pondem a soluções criadas por atores sociais relativamente autônomos,
que buscam regular e instituir a cooperação para atingir objetivos e
metas comuns ao grupo social. As soluções organizacionais são contin-
gentes (indeterminadas e arbitrárias), mudam com o tempo e são relativas
a cada grupo organizacional. As generalizações e os modelos são limi-
tados. Devem-se sempre observar as regras, características culturais e
os jogos de ator de cada sistema organizacional.
b) Efeitos inesperados (effects pervers)
Os efeitos inesperados (effects pervers) correspondem à descrição das dis-
funções burocráticas feitas pelos autores mencionados anteriormente
(Merton, Gouldner, Selznick etc.). Eles devem-se ao fato de que existem,
nas organizações, indivíduos com interesses múltiplos e divergentes, várias
racionalidades e “lógicas de ator” igualmente válidas. No sistema orga-
nizacional, cotidianamente, os atores sociais tomam diversas decisões
de acordo com seus interesses específicos. Cada decisão, na sua esfera, é per-
feitamente racional dentro do pressuposto da racionalidade limitada (o que
não quer dizer necessariamente consciente, como vimos no Capítulo 4).
O conjunto de decisões, no entanto, produz incoerências e incertezas no
sistema organizacional. São esses os efeitos inesperados descritos nesse
capítulo e que, segundo Hirschmann, são compensados pelo slack organi-
zacional ou reserva de recursos de que a organização dispõe e pode utilizar
para compensar as incoerências do sistema.
c) Problemas da ação coletiva
Como vimos, para Crozier, as organizações são soluções institucionali-
zadas e construídas por um grupo com interesses em comum. Trata-se de
soluções artificiais que geram problemas de coordenação (efeitos inespe-
rados ou disfunções). A obtenção da cooperação entre diferentes atores
sociais é um dos problemas principais da organização. Para o autor, a
integração dos indivíduos e grupos à organização se faz normalmente
de três formas:
* A coerção, quando os atores sociais submetem-se às regras organi-
zacionais por serem obrigados a tanto ou por submeter-se às pressões
do sistema organizacional.
* A manipulação afetiva ou ideológica.
* A negociação entre os grupos organizacionais,
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Teoria Geral da Adminestração m Editora Thomson
d) Conceito de organização
A organização é um sistema de jogos estruturados. As regras e estru-
turas organizacionais operam de modo indireto e não determinam o
comportamento dos atores sociais, mas induzem jogos de poder e com-
portamentos. Os atores sociais podem colaborar ou não, buscando nego-
ciar melhores condições de inserção no sistema e obter maior controle de
recursos, atendendo aos seus objetivos e interesses pessoais. No entanto,
ao lutar pela realização de seus interesses pessoais, os atores sociais de-
vem jogar a partir das opções fornecidas pelo sistema e, assim, estarão,
mesmo dentro de um nível mínimo, cumprindo em parte os objetivos
organizacionais.
e) As incertezas e o poder
O controle dos recursos organizacionais é distribuído de modo desigual.
As organizações dependem de recursos materiais, tecnológicos e de cer-
tos tipos de competência técnica para o atingimento de suas metas formais.
Alguns desses recursos são fundamentais para o funcionamento do sistema.
Os atores sociais que controlam esses recursos detêm maior poder. Esses
recursos constituem “zonas de incerteza pertinentes”. Os atores sociais que
controlam essas zonas de incerteza pertinentes, ou seja, que possuem as com-
petências fundamentais para o funcionamento da organização, competências
das quais a organização depende para o seu funcionamento e lucratividade,
podem decidir colaborar ou não, disponibilizar ou não esses recursos,
competências técnicas e conhecimento. Sempre existe a ameaça velada
de esses profissionais não colaborarem e privarem o sistema de seus
recursos fundamentais.
Os atores sociais que controlam os recursos fundamentais para a orga-
nização poderão se impor aos outros, influenciando os rumos do sistema
organizacional, ganhando maior poder. No entanto, as situações são con-
tingentes e mudam. As zonas de incerteza de hoje não serão as mesmas
de amanhã. Quando uma tecnologia é substituída e um novo sistema é
implementado, quando ocorre a mudança organizacional, um novo siste-
ma de regras e normas é criado. Novas competências tornam-se essenciais
para a organização e o novo sistema de regras deve contemplar o novo
sociograma (alianças políticas e coalizões locais), ou seja, conferir maior
poder para os indivíduos que detêm os recursos essenciais para o fun-
cionamento da organização.
A mudança organizacional redistribui as zonas de incerteza perti-
nentes e o controle de recursos, provocando logicamente resistências dos
que se vêem privados de recursos, uma vez que a disputa por recursos nz
organização é um jogo de soma zero: como esses recursos são limitados,
quando alguns ganham, outros necessariamente perdem. A direção dz
organização deve gerir a mudança com cuidado, negociando soluções com
os atores organizacionais que continuam detendo poder no sistema. Essas
soluções são sempre contingentes e específicas, porque os cenários e =
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Corstuuo 5 — O Estruluralismo é 2 Teoria da Burocracia m Morta / Vasconcelos
nas para “constar”, “para inglês ver”, como descrevem Caldas e Wood Jr.
em suas pesquisas (Caldas e Wood Jr., 1999). Os estudos do neo-institucio-
nalismo aplicado às organizações, como veremos em um capítulo posterior,
relatam a função da ferramenta, modelo de gestão ou tecnologia, que
existe apenas para adequar a organização às pressões isomórficas de seu
ambiente institucional, auxiliando-a a obter legitimidade externa.
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Teoria fieral da Administração m Editora Thomson
Outro nome que não pode ser omitido é o de Peter M. Blau. Suas obras, entre
as quais A dinâmica da burocracia, A burocracia na sociedade moderna
COR Ce LR ER A ET
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Tecria Geral da Administração m Edifora Thomson
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Carnao 5— O Estruturalismo
a a Tecria da Burocracia = Motta
/ Hascancalos
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Teoria Geral da Administração m Editora Thomson
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Carmuio 5 — O Estnuturalismo e a Teoria da Burocracia a Marta 4 Vasconcelos
governam o compor
refere-se às oposições existentes entre os princípios que
que govern am o compo rtame nto profissional.
tamento burocrático e aqueles
séries de princíp ios, mas há também muitas
Há muito em comum entre tais
entar os interesses de
diferenças. Assim, enquanto ao profissional cabe repres
organização; enquanto =
seus clientes, ao burocrata cabe representar 0s da
legal, a do profissional
autoridade do burocrata se baseia em um contrato
técnica. Thompsom
baseia-se no conhecimento que existe de sua especialização
como já vimos, que a ca-
deu especial destaque a esse aspecto, afirmando,
na é o desequilíbrio
racterística mais sintomática da organização moder
no modelo burocrático se
crescente entre a capacidade e a autoridade, que
a formal (Thompson,
baseia na estrutura hierárquica definida por um sistem
ata devem ser governa-
1967, p. 13). Além disso, as decisões de um burocr
as dos seus superiores,
das por uma concordância disciplinada com as diretiv
s profissionais inter-
enquanto as de um profissional devem sê-lo por padrõe
de um burocrata não &
nacionalizados e, finalmente, quando uma decisão
o, enquan to, no caso de um
bem aceita, o julgamento final cabe à administraçã
dos seus colegas de profissão.
profissional, esse julgamento cabe ao grupo que as
result am da necess idade
As dificuldades que tais diferenças impõem buro-
tanto profiss ionais quanto
organizações modernas têm de empregar entre
r, focaliz ou a diferen ça
cratas. Gouldner, estudando uma escola superio
e os locais dos burocr atas.
as orientações cosmopolitas dos profissionais
ao planejamento
O terceiro dilema analisado por Blau e Scott refere-se
O avanço tecnol ógico no mundo moder-
administrativo e à iniciativa.
enorm e esforço criativ o, que permita sua
no exige das organizações um
0 destino das organiza-
sobrevivência e seu crescimento. Isso quer dizer que
vidade individual.
ções depende em grande medida da iniciativa e da criati
com ela, a de controle.
Entretanto, a necessidade de planejamento persiste e,
o, inibe a iniciativa
A maior parte dos mecanismos de controle, no entant
detalhadamente por
e a criatividade individual. Esse problema é analisado
a nova estratégia
Thompson em Burocracia e inovação, no qual propõe
e Richard Scott acredi-
administrativa baseada na slack theory. Peter Blau
do dilema maior entre
tam que tais dilemas são, na verdade, manifestações
esses autores
ordem e liberdade. Longe de lastimar tais oposições, porém,
olvime nto das organi-
sustentam que são elas as responsáveis pelo desenv
antigos , novos problemas
zações. De fato, no processo de resolver problemas
não é perdid a, pois con-
são criados, mas a experiência ganha na resolução
proble mas, sugeri ndo que 0
tribui para a busca de soluções para os novos
so essenc ialmen te dialéti co (Blau
desenvolvimento organizacional é um proces
e Scott, 1970, cap. 9.).
à moda. Estudos sobre
Atualmente, o tema paradoxo organizacional voltou
autore s como Bates on e Varela mostram
processos cognitivos realizados por
sistemas organizacionais
que, a fim de atribuir sentido e compreender os
os indivíduos têm a ten-
complexos e ambíguos nos quais estão inseridos,
ntos contraditórios e
dência a polarizar suas percepções em torno de eleme
disso, eles começam a
opostos (Lewis, 2000; Vasconcelos, 2001). A partir
152
Caríruia5 = O Estnuturalismo & é Teoria da Burocrava m Morta/ Vascanceias
A forma pela qual foi tratado o problema dos incentivos pelas Escolas de Admi-
nistração Científica e de Relações Humanas é, para os estruturalistas, a
conseqiiência de uma visão fragmentada da realidade da organização e
da natureza humana. Entendendo organização como um sistema formal, no
qual o trabalhador tinha um papel absolutamente passivo, e a natureza
humana como egocêntrica e voltada tão-somente para fins econômicos, os
incentivos eficientes teriam necessariamente que ser monetários e tal foi real-
mente a receita dada pelos teóricos da administração científica. Entendendo
a organização como um emaranhado de grupos informais que colaboravam
ou não com a administração, à medida que esta lhes oferecesse ou não status,
prestígio e circunstâncias favoráveis ao desenvolvimento da amizade e do
companheirismo, a Escola de Relações Humanas, por sua vez, teria de superes-
timar os incentivos e as recompensas psicossociais.
Na verdade, é indiscutível a importância das compensações sociais para a
dedicação do homem à organização, não sendo poucos os exemplos de pessoas
que trocam empregos por outros menos rentáveis, mas que lhes conferem
maior prestígio. Tais exemplos são muito comuns entre juízes, que pode-
riam ganhar muito mais em escritórios de advocacia, entre professores
universitários, que poderiam também ganhar bem mais em empresas, e
mais raros no nível do trabalhador industrial, embora também lá sejam
encontrados, não há dúvidas de que o pleno reconhecimento da importância
de tais compensações é um mérito da Escola de Relações Humanas.
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Teoria Geral da Administração = Edifva Thomson
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Capinno S — O Estnsuralismo e a Teoria da Burocracia Moita/ Vascancáios
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Teoria Geral da Admnistração m Editora Thamsan
5.5 Críticas
As críticas feitas ao estruturalismo têm sido, em sua grande maioria, respos-
tas aquelas perguntas formuladas pelos estruturalistas. Nessa linha, Howard
Baumgartel, por exemplo, afirma que muita gente confunde relações
humanas com ser amável com as pessoas, levando tal amabilidade à dis-
plicência para com a realização das tarefas. Para responder a esse tipo de
crítica, Baumgartel analisa dois aspectos do problema: em primeiro lugar,
lembrando que há um grande volume de pesquisas demonstrando a maior
produtividade dos empregados sob a supervisão do tipo relações humanas
e, em segundo, o fato de que o esforço dos instrutores e administradores em
aplicar as conclusões dessas pesquisas no aperfeiçoamento das relações
interpessoais no trabalho vai muito além da simples transmissão de como
ser amável com as pessoas, visando desenvolver melhor compreensão de
como os fatores humanos envolvem-se na criação de situações nas quais as
pessoas podem atingir uma produtividade ótima e um sentido de realização.
Outro tipo de crítica que esse autor considera frequente é aquela que
confunde relações humanas e dinâmicas de grupo aplicadas de acordo com
a pressão grupal. Para ele, esse tipo de crítica vê relações humanas como o
estabelecimento do acordo grupal como um objetivo acima de todos os
outros e, portanto, como a colocação da mediocridade acima da validade, da
qualidade, da correção e da criatividade na solução de problemas. Aqui ele
também analisa o problema sob dois prismas. Em primeiro lugar, lembrando
que há pesquisas fidedignas que demonstram que os grupos significativos
aos quais uma pessoa pertence exercem maior influência em suas ações e
opiniões do que qualquer outra força e, em segundo, da superioridade do
grupo em relação ao indivíduo, em termos de eficiência, na solução criativa
de problemas. Afirma ainda que a Escola de Relações Humanas tem sido
acusada de ensinar métodos permissivos de liderança, supervisão e, por
conseguinte, de paternalismo. Concorda que as conclusões das pesquisas
dessa escola na área de liderança levaram à ênfase no valor dos métodos demo-
cráticos, mas sustenta que tais métodos são os mais difíceis de serem
observados na prática, além de contrastarem fortemente com o que muitas
vezes é chamado liderança laissez-faire.
Discordando ainda da crítica de que a Escola de Relações Humanas não
admite o conflito, afirma que um estudante bem treinado em relações huma-
nas deve conhecer algo sobre o mundo que quer ajudar a construir e de como
traduzir suas idéias em ações, lutando por elas. Finalmente, com relação ao
caráter manipulativo que a Escola de Relações Humanas teria, segundo argu-
mento enunciado pelos estruturalistas, sustenta que a ciência compor-
tamental vê a interação humana como um processo contínuo de influenciação
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Capinxo 5 — O Estruturalismo e a Teoria da Burocraca m Moita/ Vasconcelos
157
Teoria Geral da Admnistação = Editora Thomson
bem como pela ênfase nova nas relações entre as partes da organização.
tais como grupos e outros elementos formais e informais, os vários níveis
hierárquicos, as recompensas e incentivos sociais e materiais, além do des
taque dado às relações entre a organização e seu ambiente, que preparou »
campo para a análise baseada na teoria geral dos sistemas abertos.
Atações Concepção da
Concenção da i Sistemas de ,
Organização ond Incentivos e Resuitados
ADM. | REL. ADM. | REL. ADM. | REL. ADM. | REL. ADM, | REL.
=| HUM. = HUM. cem Hum. CHENT. | HUM. CIENT.| HUM.
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Homem
Organizacional
Satistatórios
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