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FOTOSSÍNTESE

COMO SISTEMA
AUTÔNOMO DE
EVOLUÇÃO ABERTA
Por Maisa Moraes Gonçalves Ferreira
Introdução: O que é a fotossíntese?
• A fotossíntese produz todo o carbono orgânico necessário para a vida. Ela é
realizada por bactérias (sulfurosas verdes ou púrpura), algas e vegetais. Nas algas
e nos vegetais, a fotossíntese ocorre em organelas chamadas cloroplastos, que
evoluíram de organismos parecidos com cianobactérias por endossimbiose. A
fotossíntese compreende reações dependentes e independentes da luz. Nas
plantas, as reações dependentes da luz ocorrem nas membranas do cloroplasto. A
energia luminosa é absorvida por pigmentos (principalmente clorofila) e provoca
uma sequência de reações catalisadas por uma cadeia transportadora de elétrons
que converte água em oxigênio e produz dois compostos ricos em energia,
chamados trifosfato de adenosina (ATP) e fosfato de dinucleotídeo de
nicotinamida adenina (NADPH). Esses compostos são utilizados pelo Ciclo de
Calvin – formados pelas reações independentes da luz – para fixar o CO2 nos
carboidratos dentro dos
• Cloroplastos. Esse ciclo produz uma molécula com 3 carbonos (C3) e ocorre nas
células do mesófilo foliar das plantasC3, utilizando a enzima RuBisCo - que é
provavelmente a proteína mais abundante da Terra. Alguns vegetais, conhecidos
como plantas C4, separam a assimilação de CO2 das reações dependentes da luz.
• Síntese: A fotossíntese converte o dióxido de carbono (CO2) e água em
carboidratos utilizando energia luminosa.
• Dissecação: O CO2 é absorvido da atmosfera pela fotossíntese. Entre 40% e
70% desse processo ocorre em ecossistemas marinhos, limitado pela
quantidade de ferro necessária para a cadeia transportadora de elétrons da
fotossíntese. Cientistas já tentaram espalhar ferro no mar para aumentar a
fotossíntese e a fixação de CO2 com o objetivo de conter o aquecimento global.
Atenção: Para que
possamos de fato
entender a fotossíntese
como sistema autônomo
de evolução aberta, é
preciso passarmos por
alguns conceitos
históricos e filosóficos
sobre a definição de vida.
Assim, antes de
chegarmos ao ponto
principal dessa atividade,
vamos seguir uma ordem
cronológica explicativa
para que os conceitos e
argumentos sobre esse
tema não fiquem vagos
para o orientador.
Autores e suas percepções sobre a vida
• No século XIX, o conceito de vida ganha destaque no que diz respeito ao meio
científico. Para Foucault (2000), explicar a vida possui grande importância; visto
que, até esse momento, só existia o estudo sobre a vida no que diz respeito aos
seres vivos em si.
• De acordo com Coutinho (2005), apesar do conceito de vida se tornar um foco
somente no século XIX, antes disso, alguns autores da filosofia clássica, como
Aristóteles, já buscavam entender o que seria a conceituação de vida.
• Para Mayer, em meados do século XX, a biologia passa a compreender os seres
vivos como compostos pelos mesmos elementos da matéria inanimada, negando
a existência de uma "substância" particular aos seres vivos. Ademais, Mayer
destaca certo ceticismo em relação à possibilidade de se definir a vida. Assim, esse
autor deixa claro que, pode-se definir os processos da vida, mas não a vida em si.
Aspectos históricos e filosóficos do
conceito de vida
• O primeiro filósofo a tentar definir a vida foi Aristóteles, em seu tratado
denominado "Da Alma". Para ele, todos os seres contêm dois princípios básicos: a
matéria e a forma, que segundo o autor Ross (1987) são compreendidos como
inseparáveis. No entanto a matéria ainda que necessite da forma, continua
existindo na ausência dela; e, também, a forma, para a sua existência, requer não
qualquer tipo de matéria, mas a matéria de uma determinada espécie.
Para se definir de fato o que é a forma e a matéria, tem-se as seguintes
conceituações: a matéria é, em geral, o "potencial"; a forma, é o "corpo em ação".
Logo, Aristóteles exprime que o ser é a "enteléquia"¹ de um corpo orgânico
potencialmente dotado de vida.

1 - Enteléquia, na filosofia aristotélica, é a realização plena e completa de uma tendência, potencialidade ou finalidade
natural, concluindo um processo transformativo de todo e qualquer ser animado ou inanimado do universo. É o ser em
ato, isto é, plenamente realizado, em oposição ao ser em potência.
Correntes filosóficas da definição de vida:
vitalismo, organicismo e mecanicismo
• Vitalismo: Posição filosófica que acredita em um impulso/força vital sem a qual a
vida não poderia ser explicada. Dessa maneira, a força vital seria uma força
específica que teria como resultado a vida. Logo, o vitalismo acredita que a
matéria viva distingue-se das entidades inertes por possuir essa força vital, que
não é de origem física nem química.
• De acordo com Hull (1974), o vitalismo pode ser visto de acordo com duas
vertentes: o fluído vital (o fluído poderia ser transmitido de corpo para corpo, por
meio da reprodução) e a força vital (algo inerente a matéria viva).
• Organicismo: Entende que os organismos apresentam propriedades relacionadas
ao todo, ou seja, que propriedades de um determinado nível de
complexidade pode não decorrer diretamente de suas partes, mas sim da
interação entre elas.
• Mecanicismo: Compreende que os atributos do mundo era a regularidade dos
fenômenos naturais. Opostamente ao organicismo (que concebia o mundo como
um organismo vivo orientado para um fim), o mecanicismo observava a natureza
como um mecanismo cujo funcionamento era regido por leis precisas e rigorosas.
• Dessa maneira, essa vertente é regida por dois princípios básicos: toda a ciência é
derivada da mecânica e que os seres/criaturas vivas poderiam ser operados como
máquinas
O conceito de vida na ciência
contemporânea
• De acordo com Mayer, a partir de 1930 o vitalismo foi erradicado do meio
biológico, principalmente devido ao fracasso dos experimentos para comprovar a
sua existência. Concomitantemente à queda do vitalismo surgiu entre os biólogos
um certo tipo de ceticismo sobre a possibilidade de se definir a vida.
• Contudo, apesar desse ceticismo, com o surgimento da Biologia Teórica há novas
tentativas de formular definições de vida que funcionem como uma rede
conceitual dentro da biologia. De acordo com essa nova fase na ciência, Emmeche
e El-Hani (1999) apontam que uma definição apropriada de vida deva abranger os
seguintes critérios:
- Ser geral e abranger todos os tipos de vida;
- Ser coerente com o entendimento dos sistemas vivos na ciência moderna;
- Ser geral e abranger todos os tipos de vida;
- Ser coerente com o entendimento dos sistemas vivos na ciência moderna;
- Possuir "elegância" conceitual, com conceitos claros e bem definidos;
- Possuir especificidade para distinguir sistemas vivos de não vivos.
Amparados a essas condições de definições de vida, podem-se destacar na
literatura contemporânea as seguintes definições: vida como autopoiese, vida como
seleção de replicadores, vida como interpretações de signos em uma abordagem
biossemiótica e vida como sistemas autônomos de evolução aberta.
Sistema autônomo de evolução aberta
• Essa definição busca relacionar a ideia de que os seres vivos são redes de
interações complexas que se automantém (algo semelhante a autopoiese) com os
processos evolutivos e seletivos. Dessa forma, o que caracteriza os seres vivos são
determinadas formas de "registros" de informações (indo além do DNA, podendo
ser também a própria estrutura e as vias de interação), podendo ser passadas para
as próximas gerações, permitindo que os sistemas vivos sejam selecionados em
um longo prazo.
• Ruiz-Mirazo, Peretó e Moreno (2004) afirmam que a vida poderia ser
elucidada como qualquer sistema autônomo com capacidade evolutiva aberta.
Entretanto, o que de fato significam esses conceitos? Para esses autores, o
seguinte:
• Sistemas autônomos: É um sistema que está longe do equilíbrio, se constituindo
e se mantendo por meio de uma identidade organizacional própria, uma unidade
funcionalmente integrada (homeostática e ativa), baseada em um conjunto de
acoplamentos endergônicos¹-exergônicos² entre processos construídos
internamente, bem como outros processos de interação em seu ambiente.
• Capacidade evolutiva aberta: É o potencial de um sistema em reproduzir a sua
dinâmica básica constitutiva e funcional, possibilitando uma variedade ilimitada
de sistemas equivalentes, de formas de expressão dessas dinâmicas, que não
estão sujeitas a qualquer predeterminação superior de complexidade
organizacional (mesmo que ainda tenham restrições energéticos-materiais
imposta por um ambiente finito e por leis físico-químicas universais).

1 - Endergônico" ( anabolismo) significa que a energia é absorvida através de uma fonte externa. Por exemplo, uma vez
que as plantas absorvem energia, água, dióxido de carbono e clorofila para iniciar o processo, a fotossíntese é
considerada endergônica. Nela, são formadas ligações entre as moléculas que transportam energia.
2 - Reações exergônicas (catabolismo) → que liberam energia para o trabalho celular a partir do potencial de degradação
dos nutrientes orgânicos. Por exemplo, a liberação da energia contida na molécula da glicose no processo de combustão,
onde é produzida energia excedente ao sistema.
Fotossíntese como sistema autônomo de
evolução aberta
• A base de entendimento para "sistema autônomo de evolução aberta" é a
automanutenção, algo que se encaixa perfeitamente no processo da fotossíntese.
Isso porque, as bactérias sulfurosas verdes e púrpuras, as algas e os vegetais
possuem uma característica muito importante no quesito de automanutenção: o
autotrofismo.
• Esses seres autotróficos são caracterizados pela sua capacidade de sintetizar
seu próprio alimento a partir de material inorgânico devido à energia obtida
da luz. Para alcançar tal feitio, esses seres possuem em suas células estruturas que
contém a clorofila, substâncias que possuem a propriedade de reter um pequeno
percentual de energia contida na descarga de fótons das radiações luminosas que
incidem sobre a sua molécula. Estudos indicam que cerca de 3% da luz que incide
sobre uma planta é retida pela clorofila dos seus cloroplastos, aproveitando para
ativar as reações químicas que irão resultar na produção da glicose.
• Dessa maneira, pode-se notar que a fotossíntese está diretamente relacionada
como um sistema autônomo. Mas e quanto à capacidade de evolução aberta?
• Essa característica pode ser notada diante da definição já proposta (o potencial de
um sistema em reproduzir sua dinâmica básica constitutiva e funcional). Isso
devido ao fato de que as plantas se reproduzem mantendo algumas características
semelhantes entre si, mesmo sendo de espécies e obtendo classificações
diferentes. Assim, vemos que, apesar das divergências, as plantas convergem na
característica de sua automanutenção para a sobrevivência e perpetuação no
planeta Terra.
• Por exemplo, as briófitas apresentam reprodução assexuada, enquanto as
gimnospermas possuem tanto reprodução sexuada quanto assexuada,
dependendo da situação em que se encontram e da necessidade de
variabilidade genética.
Referências
• BOM DIA, biologia! Esquema da fotossíntese. Disponível em :
https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbr.pinterest.com%2Fpin%2F634866878714154436
%2F&psig=AOvVaw26sNaxazlL8bODyvN-
62EO&ust=1654096627216000&source=images&cd=vfe&ved=0CA0QjhxqFwoTCNiak9eFivgCFQAAAAAdAA
AAABAD. Acesso em 31 de mai. 2022.
• CORRÊA, André Luís. SILVA, Paloma Rodrigues. MEGLHIORATTI, Fernanda Aparecida. CALDEIRA, Ana Maria
de Andrade. Aspectos históricos e filosóficos de vida: contribuições para o ensino de biologia. Disponível
em: http://www.abfhib.org/FHB/FHB-03/FHB-v03-02-Andre-Correa-et-al.pdf. Acesso em 31 de mai. 2022.
• FERREIRA, Fabrício Alves. Metabolismo energético. Disponível em:
https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/metabolismo-energetico.htm. Acesso em 01 de jun. 2022.
• KEZIRIAN, Alexis. A fotossíntese é um processo endergônico ou exergônico? . 20/11/2021. Disponível em:
https://www.ehow.com.br/fotossintese-processo-endergonico-exergonico-sobre_315633/ . Acesso em 01 de
jun. 2022.
• BETTEY, Nick. FELLOWES, Mark. BIOLOGIA: 50 conceitos e estruturas fundamentais explicados de forma
clara e rápida.

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