• A Geração de 30 – ou Segunda Geração Modernista – tem como base as temáticas sociais,
assumindo uma postura de denúncia contra problemas como a seca, a miséria, as relações de trabalho injustas, o coronelismo etc. • O regionalismo também figura como assunto nas produções do período, no entanto, sem o teor sentimental e idealista das obras românticas. • Essa geração é responsável, em certa medida, pela apresentação de um Brasil desconhecido e esquecido das páginas da Literatura. • Escritores da chamada Geração de 30 apresentaram propostas de retomada de algumas formas literárias e alguns temas poéticos, como o soneto, o amor romântico e a reflexão sobre a existência.
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A PROSA
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A PROSA • Nesse momento, após as conquistas formais e temáticas da geração anterior, os ficcionistas passaram a reutilizar moldes literários já consagrados, como o romance realista, apresentando categorias da narrativa, o espaço e o tempo, por exemplo, de modo demarcado. • Congresso Regionalista de Recife, em 1926, organizado pelo sociólogo Gilberto Freyre e pelos escritores José Lins do Rego e José Américo de Almeida. • Os autores da Geração de 30 trabalharam a relação entre a terra e o ser humano, e o texto deles ganhou um caráter social, político e participativo. Buscando mostrar o desenvolvimento da região da seca, mas, ainda, destacando a permanência de desigualdades e impasses
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JOSÉ LINS DO REGO: FICÇÃO E MEMÓRIA
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JOSÉ LINS DO REGO • José Lins do Rego destacou-se por retratar a desestruturação da velha oligarquia açucareira do Nordeste. Em seus livros, narra-se a decadência dos senhores de engenho, cuja supremacia passou a ser contestada pela proliferação das usinas de açúcar. • A sua obra romanesca pode ser dividida em três eixos principais: o ciclo da cana-de-açúcar (componentes autobiográficos, os quais remetem à vida do escritor no engenho do avô ou às lembranças da época de internato), o ciclo do cangaço, misticismo e seca (descreve a luta pela sobrevivência no Sertão nordestino) e as chamadas obras independentes.
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"Fogo morto" é a expressão utilizada no Nordeste para denunciar a inatividade de um engenho.
OBRAS
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RACHEL DE QUEIROZ: UM OLHAR PUNGENTE PARA O SERTÃO E PARA O MUNDO
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RACHEL DE QUEIROZ • Rachel de Queiroz é considerada a principal responsável pela consolidação do romance regionalista de temática social, denominado, por alguns críticos literários, como “romance de tese”, por estabelecer um firme compromisso com a divulgação dos problemas sociais e com a investigação dos dramas humanos da realidade brasileira. • No conjunto, a prosa de Rachel de Queiroz apresenta como principais características o dinamismo e a concisão. Tais efeitos são alcançados por meio do uso de uma linguagem coloquial e por meio da utilização do discurso direto, cujo propósito é construir diálogos com naturalidade e realismo. Do ponto de vista temático, por vezes, há predomínio da análise social e, por vezes, da análise psicológica. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 10 RACHEL DE QUEIROZ • Deve-se também destacar o papel desempenhado pela autora em favor da renovação da representação da condição feminina na literatura brasileira. Em suas obras, a mulher figura, quase sempre, como protagonista e persegue sua independência em uma sociedade patriarcal e autoritária. Tal desejo de emancipação manifesta-se de diversas formas. Leia o seguinte trecho do romance O quinze:
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RACHEL DE QUEIROZ Maciamente, num passo resvalado de sombra, dona Inácia entrou, de volta da igreja, com seu rosário de grandes contas pretas pendurado no braço. Conceição só a viu quando o ferrolho rangeu, abrindo: — Já de volta, Mãe Nácia? — E você sem largar esse livro! Até em hora de missa! A moça fechou o livro, rindo: — Lá vem Mãe Nácia com briga! Não é domingo? Estou descansando. Dona Inácia tomou o volume das mãos da neta e olhou o título: 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 12 RACHEL DE QUEIROZ — E esses livros prestam para moça ler, Conceição? No meu tempo, moça só lia romance que o padre mandava... Conceição riu de novo: — Isso não é romance, Mãe Nácia. Você não está vendo? É um livro sério, de estudo... — De que trata? Você sabe que eu não entendo francês... Conceição, ante aquela ouvinte inesperada, tentou fazer uma síntese do tema da obra, procurando ingenuamente encaminhar a avó para suas tais ideias: — Trata da questão feminina, da situação da mulher na sociedade, dos direitos maternais, do problema... Dona Inácia juntou as mãos, aflita: — E minha filha, para que uma moça precisa saber disso? [...] 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 13 OBRAS
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JORGE AMADO: LITERATURA E MILITÂNCIA
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JORGE AMADO • Narra-se, nas obras de Jorge Amado, a luta pela sobrevivência dos trabalhadores, em condições precárias, impostas por coronéis em suas plantações. • A obra romanesca de Jorge Amado é comumente dividida em dois momentos ou fases. O período que se encerra com a trilogia Os subterrâneos da liberdade é considerado a “fase partidária” ou “fase partidarizada” do autor. Nela, sua escrita se volta para as questões sociais críticas, apresentando a miséria, o abandono e a exploração de classes sociais brasileiras. Nos romances desse período, a formação ideológica do autor se sobrepõe, apontando uma diferente forma de governo capaz de sanar a desigualdade social. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 16 JORGE AMADO • Os subterrâneos da liberdade, obra composta por três volumes,é a obra mais radical de Jorge Amado. Nela, a temática social é revisitada, mas sob uma nova perspectiva. • As obras tematizam a luta social durante o período de vigência do Estado Novo. Por conseguinte, representa-se, em parte ficcionalmente, a luta de reconstrução do Partido Comunista durante o período varguista. Em consequência do ideário do autor, a luta de classes se faz presente, e as personagens são divididas em dois polos: por um lado, as personagens populares são movidas pela vontade de transformação social; as personagens burguesas, por outro lado, agem conforme os interesses imediatos de preservação de seu status quo. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 17 JORGE AMADO • O romance Gabriela, cravo e canela, que inicia a segunda fase literária de Jorge Amado, é publicado em 1958, momento em que o Brasil passa por substanciais transformações econômicas, sociais e políticas. O “nacional-desenvolvimentismo”, promovido pelo governo do presidente Juscelino Kubitschek, impregnou a indústria e os setores da economia formal. • Nesse contexto, há uma reordenação da obra de Jorge Amado. Constata- se a incorporação de novos elementos ao seu projeto literário, como a valorização do humor e a busca por um sentimento de brasilidade.
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OBRAS
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ERICO VERISSIMO: TEMPO E MEMÓRIA
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ERICO VERISSIMO • Nos romances de Verissimo, por sua vez, constrói-se o panorama da formação da sociedade gaúcha, cujo principal alicerce é o poder dos criadores de gado, possuidores de vastas extensões de terra. Em ambos os autores, constata-se a análise crítica dos jogos de poder que caracterizaram cada uma das regiões. • De estilo simples e despojado, construiu sua prosa de ficção com base em técnicas narrativas como o discurso indireto livre, o monólogo interior e o ritmo cinematográfico de ações e acontecimentos. Em suas obras, narram- se, paralelamente, os destinos individuais das personagens e os desdobramentos da vida coletiva. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 21 ERICO VERISSIMO • Na primeira fase do romancista, descrevem-se os costumes da elite e o cotidiano da sociedade gaúcha, com ênfase nos problemas sociais, sem deixar de lado o lirismo e o psicologismo. São exemplos dessa fase os romances Clarissa (1933), Caminhos cruzados (1935), Música ao longe (1936), Um lugar ao sol (1936). • Na segunda fase, predomina o romance histórico de caráter regionalista. Esse período literário abrange a trilogia O tempo e o vento, dividida em O continente (1949), O retrato (1951) e O arquipélago (1961). Nesses romances, Verissimo descreve a origem do povo gaúcho sob a ótica de duas famílias: os Terra Cambará e os Amaral. Por meio da ação de personagens, constrói-se o painel da região sul do país.
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ERICO VERISSIMO • O autor, na última fase de sua produção literária, dedica-se a obras com temáticas políticas e satíricas. Trata-se de uma literatura de caráter engajado, com a denúncia do autoritarismo dos governos militares e das violações dos direitos humanos. O senhor embaixador (1965), O prisioneiro (1967) e Incidente em Antares (1971) são obras produzidas nessa fase. • Em Incidente em Antares, Erico Verissimo faz uma sátira política contundente e hilariante que, mesmo lançada em 1971, em plena ditadura militar, abordou temas como a tortura, a corrupção e o autoritarismo.
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Uma greve geral na cidade de Antares, aderida também pelos coveiros, impede o enterro dos mortos. Os defuntos, já em putrefação, resolvem reivindicar o OBRAS direito de serem enterrados – caso contrário, assombrarão a cidade. Seguem pelas ruas e casas e denunciam as mazelas e a desonestidade local. O mau cheiro de corpos espelha a podridão moral que ronda a cidade.
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AS ALMAS SECAS E RUDES DE GRACILIANO RAMOS
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GRACILIANO RAMOS • Sua prosa apresenta uma linguagem concisa, composta por frases curtas, bem como uma sintaxe simples, marcada pela economia no uso de advérbios e adjetivos. Na literatura regionalista, notabilizou-se pela sondagem psicológica de suas personagens, geralmente homens brutos do sertão, cujo comportamento compunha um retrato da vida desumanizada desses indivíduos. Por isso, para muitos estudiosos, o escritor é responsável por resgatar e renovar a estética realista do século XIX. • Na escrita de Graciliano Ramos, são equilibradas análises psicológicas e sociais. Por um lado, ocorre a observação apurada dos sentimentos e pensamentos das personagens; por outro, a denúncia das injustiças sociais. Em consequência disso, suas figuras humanas experimentam uma sensação de incompatibilidade com o meio em que estão inseridas.
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GRACILIANO RAMOS • Nos romances de Graciliano Ramos, as condições degradantes impostas pelo ambiente implacável do sertão nivelam todos os seres, os quais competem pela sobrevivência. Por isso, uma palavra que se repete na obra do escritor é “bicho”, termo cujo emprego enfatiza o processo de desumanização e de rebaixamento moral que atingia os homens simples do interior nordestino.
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SÃO BERNARDO Bichos. As criaturas que me serviram durante anos eram bichos. Havia bichos domésticos, como o Padilha, bichos do mato, como Casimiro Lopes, e muitos bichos pra o serviço do campo, bois mansos. Os currais que se escoram uns aos outros, lá embaixo, tinham lâmpadas elétricas. E os bezerrinhos mais taludos soletravam a cartilha e aprendiam de cor os mandamentos da lei de Deus. Bichos. Alguns mudaram de espécie e estão no exército, volvendo à esquerda, volvendo à direita, fazendo sentinela. Outros buscaram pastos diferentes.
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SÃO BERNARDO Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera. […] — Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
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VIDAS SECAS Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era um homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: — Você é um bicho, Fabiano. Isso para ele era motivo de orgulho. — Sim senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades.
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OBRAS
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A POESIA
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A POESIA • No século XX, eventos históricos como o crash da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, e a Era Vargas, iniciada em 1930, influenciaram a produção artística na segunda fase do Modernismo, que consolidou conquistas artísticas sugeridas pela Geração de 1922. • Nesse contexto, a poesia levantou questionamentos sobre o papel do poeta no mundo e a inevitável reflexão sobre o fazer poético, por vezes, revelando uma natureza religiosa, espiritual.
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JORGE DE LIMA: A POESIA EM METAMORFOSE
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JORGE DE LIMA • Entre as principais características das obras de Jorge de Lima estão o diálogo do extraordinário com o comum, do universal com o regional e do tradicional com o novo. Essa combinação de elementos reflete a natureza de um artista multifacetado, que mesclou estilos. Por esse motivo, percebe-se, em seus textos, ora a religiosidade de inspiração barroca, ora o apuro formal parnasiano, ora o regionalismo modernista. Em outras palavras, nota-se uma consciência poética em permanente estado de mudança e de busca por diferentes modos de expressão.
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JORGE DE LIMA Madorna de Iaiá que Iaiá tem vontade de dormir. Iaiá está Com quem? na rede de tucum. [...] A mucama de Iaiá tange os piuns, Iaiá ferra no sono balança a rede, pende a cabeça, canta um lundum abre-se a rede tão bambo, tão molengo, tão como uma ingá. dengoso, 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 36 JORGE DE LIMA Para a mucama de cantar, balança a rede, tange os piuns, tange os piuns, cala o ram-rem, canta um lundum abre a janela, tão bambo, olha o curral: tão molengo, — um bruto sossego no curral! tão dengoso, que Iaiá sem se acordar, Muito longe uma peitica faz si-dó... se coça, si-dó... si-dó... si-dó... se estira e se abre toda, na rede de tucum. Antes que Iaiá corte a madorna, Sonha com quem? a moleca de Iaiá 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 37 MURILO MENDES: RELIGIOSIDADE E SURREALISMO
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MURILO MENDES • Murilo Mendes fez parte de um grupo de escritores dos anos 1930 e cujos textos voltavam-se para a religiosidade. • Em sua poesia, Murilo passou a assumir temas além do mundo físico, seguindo o Surrealismo como influência. • Como exemplo de sua inovação estilística, é possível destacar, principalmente em suas últimas produções literárias, a utilização de dualismos, neologismos e do espaço em branco da página. Seus poemas curtos, batizados de “murilogramas”, tornaram-se bastante conhecidos. Neles, o poeta homenageia autores de sua predileção, entre os quais encontram-se Baudelaire, Camões, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 39 MURILO MENDES
Homo brasiliensis O homem é o único animal que joga no bicho.
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MURILO MENDES Vocação do poeta Vim para ignorar os grandes e consolar os pequenos Não nasci no começo deste século: Não vim para construir a minha própria riqueza Nasci no plano eterno, Nem para destruir a riqueza dos outros. Nasci de mil vidas superpostas, Vim para reprimir o choro formidável Nasci de mil ternuras desdobradas Que as gerações anteriores me Vim para conhecer o mal e o bem transmitiram. E para separar o mal e o bem. Vim para experimentar dúvidas e Vim para amar e ser desamado. contradições. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 41 MURILO MENDES Vim para sofrer as influências do máquina, tempo E que a palavra essencial de Jesus E para afirmar o princípio eterno de Cristo onde vim. Dominará as palavras do patrão e do Vim para distribuir inspiração às operário. musas. Vim para conhecer Deus meu Vim para anunciar que a voz dos criador, pouco a pouco, homens Pois se O visse de repente, sem Abafará a voz da sirene e da preparo, morreria. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 42 CECÍLIA MEIRELES: SENSIBILIDADE E MEDITAÇÃO POÉTICA
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CECÍLIA MEIRELES • A poesia de Cecília Meireles é considerada, por muitos estudiosos, uma experiência literária neossimbolista, destacando muitas vezes a vocação espiritualista de sua poesia. Isso porque, além das impressões sinestésicas constantemente evocadas em seus versos, encontra-se a presença de símbolos como a água, o mar, o ar, o tempo, que são característicos da atmosfera etérea e de comunhão com o universo do Simbolismo do século XIX. • No plano temático, os assuntos mais recorrentes dizem respeito à efemeridade da vida, à transitoriedade das coisas, à solidão e à dor. Tudo isso se expressa por meio de uma poesia lírica de extrema sensibilidade e delicadeza. Como resultado, nos poemas da escritora, vê- se um eu lírico com postura contemplativa e extática em relação aos mistérios da vida e da morte, do ser e do não ser. Muitos dos versos assemelham-se a uma espécie de meditação, cujo propósito é a compreensão de si e do mundo à sua volta. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 44 CECÍLIA MEIRES Retrato Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Eu não tinha este rosto de hoje, Que nem se mostra. Assim calmo, assim triste, assim magro, Eu não dei por esta mudança, Nem estes olhos tão vazios, Tão simples, tão certa, tão fácil: Nem o lábio amargo. — Em que espelho ficou perdida a minha face? Eu não tinha estas mãos sem força, 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 45 VINICIUS DE MORAES: MÚSICA E POESIA
07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 46
VINÍCIUS DE MORAES • Obra dividida em dois períodos. No primeiro, influenciado por sua formação religiosa e pelo misticismo católico, mesclam-se motivos cristãos e elementos simbolistas. Essa fase inicia-se com O caminho para a distância (1933), e encerra-se com o poema Ariana, a mulher (1936). No segundo período, inaugurado pela publicação de Cinco elegias (1943), sua obra adquire, de acordo com o próprio Vinicius, aspectos de uma poesia mais viril, sensual, aproximando-se do mundo material e pragmático e refutando o abstracionismo das primeiras obras. • É importante notar que, para além de sua produção poética tradicional, Vinicius de Moraes teve participação relevante na composição de canções populares, criando parcerias com diversos compositores brasileiros e exercendo papel de influenciador nos rumos da música popular no Brasil. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 47 VINÍCIUS DE MORAES • Obra dividida em dois períodos. No primeiro, influenciado por sua formação religiosa e pelo misticismo católico, mesclam-se motivos cristãos e elementos simbolistas. Essa fase inicia-se com O caminho para a distância (1933), e encerra-se com o poema Ariana, a mulher (1936). No segundo período, inaugurado pela publicação de Cinco elegias (1943), sua obra adquire, de acordo com o próprio Vinicius, aspectos de uma poesia mais viril, sensual, aproximando-se do mundo material e pragmático e refutando o abstracionismo das primeiras obras.
07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 48
VINÍCIUS DE MORAES Soneto de separação De repente da calma fez-se o vento De repente do riso fez-se o pranto Que dos olhos desfez a última Silencioso e branco como a bruma chama E das bocas unidas fez-se a espuma E da paixão fez-se o pressentimento E das mãos espalmadas fez-se o espanto E do momento imóvel fez-se o drama
07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 49
VINÍCIUS DE MORAES De repente não mais que de repente Fez-se do amigo próximo, Fez-se de triste o que se fez distante amante Fez-se da vida uma aventura E de sozinho o que se fez errante contente De repente, não mais que de repente
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CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: O POETA DE SEU TEMPO
07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 51
CARLOS DRUMMOND DE ANDREADE • Vivendo às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Carlos Drummond de Andrade captou as dores de um mundo apreensivo e com medo. Por isso, muitos de seus poemas são marcados e lembrados pelo pessimismo e pela melancolia. No entanto, deve-se destacar que Drummond foi um poeta multifacetado, movido por interesses temáticos variados e por tipos de versificação diversos.
07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 52
CARLOS DRUMMOND DE ANDREADE “Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor de cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos. Infelizmente, exige-se pouco do nosso poeta; menos do que se reclama ao pintor, ao músico, ao romancista...”
07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 53
CARLOS DRUMMOND DE ANDREADE Congresso internacional do medo o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, Provisoriamente não cantaremos o amor, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, não cantaremos o ódio porque este não existe, depois morreremos de medo existe apenas o medo, nosso pai e nosso e sobre nossos túmulos nascerão flores companheiro, amarelas e medrosas. 07/02/2024 TÍTULO DA APRESENTAÇÃO 54