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25/04/2022

Terceira Geração
da poesia do
Romantismo brasileiro

TERCEIRA GERAÇÃO
• A Terceira Geração se desenvolveu entre as dé-
cadas de 1860 e 70.

• Se distanciou das gerações anteriores por de-


fender causas sociais, aproximando-se, assim, do
Realismo.

• Entretanto, está em perfeita sintonia com o Ro-


mantismo, pois defendeu causas nacionalistas e
libertárias, como a Proclamação da República e o
abolicionismo.

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PORTANTO:
• Opõe-se ao nacionalismo ingênuo, idealizado e
ufanista da Primeira Geração;
– Em vez de cantar unicamente as belezas da pátria, a
poesia enxerga e denuncia seus problemas, denun-
ciando-os.
• Opõe-se ao sentimentalismo exagerado e ego-
cêntrico da Segunda Geração.
– A poesia deixa de ser apenas um lamento senti-
mental ou uma queixa amorosa para ser também
um grito de protesto político ou de reivindicação
social.
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OUTRAS DENOMINAÇÕES
Hugoana
• Os poetas dessa geração fo-
ram inspirados pelos ideais li-
bertários defendidos por Vic-
tor Hugo.

“a arte não deve buscar


apenas o belo, mas
sobretudo o bem”.

Também ficou conhecida como

Condoreira
pois os poetas desta geração tinham
como ave-símbolo o CONDOR.

Como a águia, o falcão, o albatroz e Ave que habita a


outras aves, o condor simboliza a li- região dos
berdade. Andes e é capaz
de alçar voos
Os condoreiros, assim como o con- altos, solitários e
dor, acreditavam-se capazes de enxe- de enxergar a
gar distante e, por isso mesmo, guiar longas
distâncias.
a humanidade rumo à liberdade.

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ROMANTISMO EUROPEU
• Na Europa, os condoreiros se ocuparam especial-
mente com a causa dos oprimidos:
operários da indústria;
camponeses.

A obra Os miseráveis, de Victor Hugo, é


um dos melhores exemplos da literatura
condoreira da época.

ROMANTISMO BRASILEIRO
• No Brasil, como a força de trabalho era predominan-
temente escrava, o Condoreirismo assumiu feições
abolicionistas.
• Além de lutar pelo
fim da escravidão, os
condoreiros, no Bra-
sil, vão se engajar no
movimento republi-
cano, que pedia o fim
do Império.

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A luta pelo fim da escravidão e pela República ganha as ruas

e o poeta se vê como

do povo.

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LINGUAGEM DA POESIA CONDOREIRA


• O foco da poesia social desloca-se do “eu” para o “ou-
tro” ou para o “assunto”, ou seja, da realidade interna
para a externa;
• A poesia aproxima-se da oratória. Não raro os poemas
eram declamados para o público em praças e reuniões;

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LINGUAGEM DA POESIA CONDOREIRA


• O tom dos poemas era retórico e grandiloquente (pom-
poso, solene, empolado e persuasivo);

• Objetivava sensibilizar os ouvintes para a causa em


questão, angariando sua simpatia.

• Utilização de muitas hipérboles, metáforas e antíteses


que conferem ao poema uma intensa carga de drama-
ticidade;

• Emprega muitos vocativos (ou apóstrofes), cuja fina-


lidade era chamar a atenção do leitor/ouvinte ou de ou-
trem para a causa defendida;

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PRINCIPAIS NOMES

Castro Alves
é a principal expressão poética do
condoreirismo brasileiro.

Além dele, destacam-se:


- Tobias Barreto;
- Pedro Luís;
- Pedro Calasãs;
- Sousândrade.

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Por sua poesia social, Castro Alves recebeu o epíteto de:

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CASTRO ALVES

• Nasceu em Curralinho na Ba-


hia, em 1847, e faleceu com 24
anos, em 1871;

• Hoje, sua cidade natal chama-


se Castro Alves, em homena-
gem ao poeta;

• Além de Salvador-BA, viveu em


Recife, Rio de Janeiro e São
Paulo, onde estudou Direito.

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Obra poética

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“Vozes d’África”

“Navio Negreiro”

Livro de publicação póstuma, conferiu tal fama ao au-


tor que, durante muito tempo, foi identificado quase
que exclusivamente em função de sua poesia social
abolicionista.
Nessa obra, estão coligidos poemas de temática abolicionista.

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Morte
Amor
Temas Sensualidade
feminina
Liberdade
Único livro publicado em vida pelo poeta, já quando estava
com seu estado de saúde abalado. Por isso, o tema da
morte é recorrente. Mas não recebe o mesmo tratamento
que obtivera na segunda geração.
O título refere-se à transitoriedade da vida humana: como as es-
pumas do mar agitado, a vida passa, deixando um rastro que se esvai.

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Poesia condoreira

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Navio Negreiro
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NAVIO NEGREIRO

• O poema foi escrito em 1868, época em que o


tráfico de escravos já era proibido no Brasil.

• Contudo, a escravidão e seus efeitos desumanos


ainda persistiam fortemente.

• É para denunciar essa condição miserável dos


escravos que o poeta valeu-se do drama enfren-
tado pelos negros durante sua travessia da
África para o nosso país.

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NAVIO NEGREIRO
Navio negreiro, cujo título geral é Tragédia no mar, co-
meça com uma longa e belíssima descrição do oceano;
Até que o poeta, postado nas alturas, avista um barco que
parece navegar alegremente.

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NAVIO NEGREIRO
Então o poeta solicita ao albatroz que lhe empreste suas
asas para se aproximar da embarcação.

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,


Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
(última estrofe do Canto I)

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NAVIO NEGREIRO
Ao sobrevoar o navio, descobre a realidade em todo o seu
horror.
As cenas que se sucedem são impressionantes e revelam a
violência opressiva dos traficantes.

(...)
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
(Canto III )

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Navio negreiro, de Johann Moritz Rugendas (1830)

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Era um sonho dantesco...O tombadilho


Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar...

Almas se contorcendo no estágio da Ira, um dos 9 estágios do inferno de Dante.

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Estágios do Inferno em forma de funil. Representação feita por Mundo Estranho.

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DANÇA TRISTE

Alguns traficantes
levavam grupos de
escravos adultos para
o convés e os
obrigavam a fazer
exercícios físicos. Sob
a ameaça da chibata,
os negros tinham de
dançar e cantar. O
resultado era um
“espetáculo”
melancólico, que
dominava o navio.

Mundo Estranho

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Negras mulheres suspendendo às tetas


Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães.
Outras, moças... mas nuas, espantadas
No turbilhão de espectros arrastadas
Em ânsia e mágoa vãs.

E ri-se a orquestra, irônica, estridente...


E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala
E voa mais e mais...

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Presa nos elos de uma só cadeia,


A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

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No entanto o capitão manda a manobra,


E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
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E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .


E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

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Diante de tanto horror, o eu lírico:


✓ se vale de apóstrofes exasperadas, dirigindo-se
tanto a Deus quanto às forças mais grandiosas da
natureza;
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
(primeira estrofe do Canto V)

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Diante de tanto horror, o eu lírico:


✓ expressa o seu repúdio à bandeira nacional que
cobre tanta iniquidade;

Existe um povo que a bandeira empresta


P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

(primeira estrofe do Canto VII)

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Diante de tanto horror, o eu lírico:


✓ por fim, apela aos heróis do Novo Mundo para que
deem um basta à espantosa tragédia.

Fatalidade atroz que a mente esmaga!


Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
José Bonifácio de Andrada e Silva (última estrofe do Canto VII)
“Patriarca da Independência”

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Poesia lírica

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POESIA LÍRICA
• Paralelamente à poesia social, Castro Alves também com-
pôs belos poemas líricos;

• Marcados por uma sensualidade explícita, esses poemas


substituem as virgem inacessíveis, dos poetas ultrarromân-
ticos, por mulheres reais, lascivas, sedutoras;

• Ela participa ativamente do envolvimento amoroso. Obser-


ve-se, no poema a seguir, como Teresa se entrega aos
beijos apaixonados do eu lírico;

• Em alguns casos, a mulher perde os traços de perfeição


inatingível, como desenhada pelos poetas da 2ª Geração.
(Note-se que Teresa não hesita me trocar o eu lírico).

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O "ADEUS" DE TERESA

A vez primeira que eu fitei Teresa,


Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala...

E ela, corando, murmurou-me: "adeus."

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...


E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"

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Passaram tempos... sec'los de delírio


Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
...Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — "Voltarei! ... descansa! ..."
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

Quando voltei... era o palácio em festa! ...


E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! ... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa! ...

E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

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POESIA LÍRICA
• O amor é uma experiência viável, concreta, capaz de trazer
tanto a felicidade e o prazer como a dor;

• Portanto, o conteúdo da lírica do poeta é uma espécie de


superação da fase adolescente do amor e o início de uma
fase adulta, mais natural, que aponta para uma obje-
tividade maior, prenunciando o Realismo.

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ADORMECIDA

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia


Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste


Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,


Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.

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Era um quadro celeste!... A cada afago


Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante


Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...


Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

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Eu, fitando esta cena, repetia


Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! — tu és a virgem das campinas!
"Virgem! — tu és a flor da minha vida!..."

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Mocidade e morte

Oh! eu quero viver, beber perfumes


Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
— Árabe errante, vou dormir à tarde
A sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma voz responde-me sombria:


Terás o sono sob a lájea fria.

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Morrer... quando este mundo é um paraíso,


E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher — camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas,
Minh'alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas ...

E a mesma voz repete-me terrível,


Com gargalhar sarcástico: — impossível!

(...)

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