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27/04/2022

Segunda Geração
da poesia do
Romantismo brasileiro

Outras denominações

Ultrarromântica
• Prefixo → excessivo, extremado, exagerado.

• Levou ao ápice os ideais do Romantismo, cultivando o


desespero e a sentimentalidade excessiva.

Byroniana
• Porque os autores da Segunda Geração do Roman-
tismo brasileiro receberam influências de Lord Byron.

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Quem foi Lord Byron?


A ele estão associados termos como:

▪ o spleen;
▪ mau humor;
▪ melancolia.

Esses, geralmente, eram causa-


dos por:

▪ amores frustrados;
▪ desesperança em relação à
vida e à realidade;
▪ aversão aos valores da so-
ciedade burguesa.
Lord Byron (1788-1824)

Características
Apego a valores decadentes e imorais, como a
bebida, o satanismo e o vício.
Gosto pela noite, pelo soturno e lúgubre;

Gosto por temas mórbidos, como o sofrimento


e a morte;
Solidão e individualismo (egocentrismo);

Emocionalismo excessivo (irracionalismo);

Melancolia, tédio e pessimismo (mal do sécu-


lo)

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Características
Idealização do amor e, principalmente, da mulher,
quase sempre retratada como virginal, sublime, per-
tencente a outra dimensão.

Vem, anjo, minha donzela,


Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Álvares de Azevedo

A melancolia, obra de Constance-Marie Charpentier, 1801.

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Locus horrendus: a natureza tempestuosa.


O cenário preferido pelos poetas ultrarromânticos é tempestuoso, soturno.
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AUTORES
O autor mais famoso desta fase é:

<<Álvares de Azevedo>>

Mas podemos ver tendências ultrarromânticas tam-


bém em:
Junqueira Freire;
Casimiro de Abreu;
Fagundes Varela.

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ÁLVARES DE AZEVEDO (1831-52)

• É o nome mais importante da


poesia ultrarromântica brasi-
leira, embora tenha tido, co-
mo seus colegas de geração,
uma vida muito curta;

• Toda a sua obra, escrita em-


tre 1848 e 1852, no período
em que estudou na Faculda-
de de Direito de São Paulo,
foi publicada postumamente.

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ÁLVARES DE AZEVEDO
Temas recorrentes:
• Seus poemas falam constantemente do tédio da vida, do
sentimento da morte e da frustração amorosa.

• Em seus versos, a mulher ora aparece como um anjo, pura


e virginal, ora como uma figura fatal, sensual e envolvente.

• Nos dois casos, porém, é


sempre inacessível ao eu
lírico, que vive mergulhado
numa triste solidão, sofren-
do com as desilusões amo-
rosas.

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Soneto
[...]
Morro, morro por ti! na minha aurora Sem que última esperança me conforte,
A dor do coração, a dor mais forte, Eu – que outrora vivia! – eu sinto agora
A dor de um desengano me devora... Morte no coração, nos olhos da morte!

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PRODUÇÃO

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LIRA DOS VINTE ANOS


• A principal obra de Álvares de Azevedo reflete em
seu título uma característica comum a toda a ge-
ração ultrarromântica: a juventude e a imaturida-
de;

• Ele mesmo afirma no prefácio:

“São os primeiros cantos de um pobre


poeta. Desculpai-os. As primeiras vo-
zes do sabiá não tem a doçura dos
seus cânticos de amor.”

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LIRA DOS VINTE ANOS

• A primeira e a terceira
partes, mostram um Álva-
res de Azevedo adoles-
cente, casto, sentimental
e ingênuo;

• Ele mesmo chama de a


face de Ariel (entidade
mitológica popular que re-
presenta o bem).

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Soneto
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria


Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando...


Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!


Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!

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LIRA DOS VINTE ANOS


• A segunda parte contrapõe-
se às outras duas e substitui
o escapismo visionário pelo
realismo irônico;

• “O poeta acorda na terra”,


conforme suas próprias pa-
lavras no prefácio.

• Constitui a face de Caliban


(entidade que representa o
mal).

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É ela! É ela! É ela! É ela!


É ela! é ela! – murmurou tremendo,
E o eco ao longe murmurou – é ela!
Eu a vi minha fada aérea e pura –
A minha lavadeira na janela!

Dessas águas-furtadas onde eu moro


Eu a vejo estendendo no telhado
Os vestidos de chita, as saias brancas;
Eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevido


Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! que profundo sono!...


Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado!
(...)
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Álvares de Azevedo e as faces de Ariel e Calibam


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LEMBRANÇA DE MORRER
No more! O never more! (Shelley)

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,


Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura


A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio


Do deserto, o poento caminheiro,
– Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

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Como o desterro de minh’alma errante,


Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – dessas sombras


Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe! pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,


Poucos – bem poucos – e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoidecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

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Se uma lágrima as pálpebras me inunda,


Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,


Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

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Descansem o meu leito solitário


Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida. –

Sombras do vale, noites da montanha


Que minh’alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d’aurora


E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa!
Álvares de Azevedo

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MAIS LIVROS...
• Além dos poemas, Álvares de Azevedo deixou uma obra
dramática:
Conta a história de um personagem que,
em uma viagem de estudos, faz amizade
com um desconhecido e descobre ser
ninguém mais, ninguém menos que o
próprio satã.

Não há menções sobre o nome da ci-


dade em que eles se encontram, porém,
há referências diretas à cidade de São
Paulo.

Assim, o poeta aproveita para fazer uma


crítica à devassidão na qual a cidade
estava imersa.

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MAIS LIVROS...
• E uma obra em prosa, o livro de contos:

Alguns jovens contam histórias maca-


bras de paixão, morte, crime, perver-
são sexual e violência, num clima de
sonho e delírio.

Os personagens de Noite na taverna


expressam um pessimismo doentio,
uma descrença absoluta nos valores
sociais, morais e religiosos.

E as histórias que contam terminam


sempre em morte ou loucura.

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JUNQUEIRA FREIRE (1832-55)


• É o autor mais angustiado do
Ultrarromantismo;

• Aos 18 anos, na tentativa de


solucionar uma crise moral,
tornou-se monge benediti-
no, mas inadaptado à vida
religiosa, abandonou o con-
vento em 1854;

• Morreu do coração aos 23


anos.

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JUNQUEIRA FREIRE: OBRAS


• Sua obra poética, composta de dois livros, reflete
as contradições e atribulações de sua vida:

Inspirações do Contradições
claustro poéticas

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Morte
(Hora de delírio)

Pensamento gentil de paz eterna,


Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dous fantasmas que a existência formam,
- Dessa alma vã e desse corpo enfermo.
[...]
Amei-te sempre: - e pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra, - esse elemento
Que não se sente os vaivéns da sorte.

Junqueira Freire in: Contradições poéticas.


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O arranco da morte

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CASIMIRO DE ABREU (1839-60)


• Como a maioria dos ultrarromân-
ticos, morreu cedo, aos 21 anos,
vítima de turberculose.

• Com uma linguagem simples, é


considerado um dos poetas mais
populares do Romantismo brasi-
leiro.

• É dono de um estilo brando e gracioso, carregado de


lirismo e afetividade.

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CASIMIRO DE ABREU
Sua poesia centra-se em dois temas fundamen-
tais:
infância

a saudade vida familiar

natureza brasileira

o lirismo amoroso.

Massaud Moisés: “Sua poesia saudosista guarda um não


sei quê de infantil.”

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Poema
“Meus oito anos”

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Minh’alma é triste

I Minh’alma é triste como a rola aflita


Que o bosque acorda desde o albor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.

II Minh’alma é triste como a voz do sino


Carpindo o morto sobre a laje fria;
E doce e grave qual no templo um hino,
Ou como a prece ao desmaiar do dia.

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III Minh’alma é triste como a flor que morre


Pendida à beira do riacho ingrato;
Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Nem doce canto o sabiá do mato!

IV Minh’alma é triste como o grito agudo


Das arapongas no sertão deserto;
E como o nauta sobre o mar sanhudo,
Longe da praia que julgou tão perto!

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Minha
Oh l‘amour d’une mère !
— amour que nul n’oublie!
V. Hugo.
Da pátria formosa distante e saudoso,
Chorando e gemendo meus cantos de dor,
Eu guardo no peito a imagem querida
Do mais verdadeiro, do mais santo amor:
— Minha Mãe! —

Nas horas caladas das noites d’estio


Sentado sozinho co’a face na mão,
Eu choro e soluço por quem me chamava
— “Oh filho querido do meu coração!” —
— Minha Mãe! —

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FAGUNDES VARELA (1841-75)


• Nasceu no estado do Rio de Janei-
ro. Estudou direito em São Paulo,
onde se casou com uma prostituta.

• Juiz de Direito, teve sua vida mar-


cada por uma tragédia pessoal: seu
primeiro filho morreu com apenas
três meses de vida.

• A dor provocada por essa perda levou-o à vida boêmia


e ao alcoolismo.

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Eras na vida a pomba predileta


Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. – Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintila
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de uma amor sublime.
Eras a glória, - a inspiração, - a pátria,
O porvir do teu pai! - Ah! No entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, - caíste! - Crença, já não vives!
[...}

* Pegureiro: pastor de rebanhos


* Messe: colheita
* Estio: verão
* Idílio: amor poético.
* Acerbo: amargo.
* Lousa: pedra que cobre a sepultura
Cântico do calvário
À memória de meu filho morto a 11 de dezembro de 1863.
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FAGUNDES VARELA
Deixou uma obra extensa e variada:
▪ Noturnos (1863);
▪ O estandarte auriverde (1863);
▪ Vozes da América (1864); P
▪ Cantos e Fantasias (1865); o
e
▪ Cantos do Ermo e da Cidade (1869);
s
▪ Cantos meridionais (1869);
i
▪ Anchieta, ou Evangelho na Selva (1875); a
▪ Cantos religiosos (1878);
▪ Diário de Lázaro (1880).

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FAGUNDES VARELA
Temas frequentes: Influência do spleen de Álvares de Azevedo
• Parte da sua obra, aborda os temas mais caros aos ultrar-
românticos, como a solidão, a morte, a inadaptação social;

Noturno
[...]

Quero morrer! Este mundo


Com seu sarcasmo profundo
Manchou-me de lodo e fel!
Minha esperança esvaiu-se,
Meu talento consumiu-se
Dos martírios ao tropel!

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Quero morrer! Não é crime


O fardo que me comprime
Dos ombros lançá-lo ao chão;
Do pó desprender-me rindo
E, as asas brancas abrindo,
Perder-me pela amplidão!

Vem, oh! morte! A turba imunda


Em sua ilusão profunda
Te odeia, te calunia,
Pobre noiva tão formosa
Que nos espera amorosa
No termo da romaria!

[...]

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FAGUNDES VARELA
Temas frequentes: influência do nacionalismo de Gonçalves Dias
e da ingenuidade de Casimiro de Abreu

• Vários poemas giram em torno do amor, da pátria, da


natureza e da temática religiosa.

• Deus e a natureza têm função semelhante na sua o-


bra:
• a de refúgio; e
• de consolo

• São entidades que mantêm com o eu lírico uma re-


lação de cumplicidade acolhedora.

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FAGUNDES VARELA
Temas frequentes: influência da poesia social de Castro Alves

• Também escreveu poemas que denunciam pro-


blemas sociais, como, por exemplo:

• as injustiças; e
• a exploração dos escravos.

• Por tal motivo, antecipa a temática central que


será desenvolvida pela 3ª geração da poesia do
Romantismo, o Condoreirismo.

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A cidade
[A meu predileto amigo o Sr. Dr. Betoldi]

A São Paulo
A cidade ali está com seus enganos,
Seu cortejo de vícios e traições,
Seus vastos templos, seus bazares amplos, Terra da liberdade!
Seus ricos paços, seus bordéis salões. Pátria de heróis e berço de guerreiros,
Tu és o louro mais brilhante e puro,
O mais belo florão dos brasileiros!
A cidade ali está: sobre seus tetos
Paira dos arsenais o fumo espesso,
Foi no teu solo, em borbotões de sangue
Rolam nas ruas da vaidade os coches
E ri-se o crime à sombra do progresso. Que a fronte ergueram destemidos bravos,
Gritando altivos ao quebrar dos ferros:
- Antes a morte que um viver de escravos!
A cidade ali está: sob os alpendres
Dorme o mendigo ao sol do meio-dia, Foi nos teus campos de mimosas flores,
Chora a viúva em úmido tugúrio,
À voz das aves, ao soprar do norte,
Canta na catedral a hipocrisia.
Que um rei potente às multidões curvada
Bradou soberbo: - Independência ou morte!
A cidade ali está: com ela o erro,
A perfídia, a mentira, a desventura... [...]
Como é suave o aroma das florestas!
Como é doce das serras a frescura!

[...]

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