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Resumo do trabalho

Ficha de questões sobre a obra "Memorial do Convento" de José Saramago,


realizado no âmbito da disciplina de Português (12º ano).

1. Na ação da obra distinguem-se três histórias. Identifique-as.


Em memorial do convento podemos destacar três núcleos narrativos: a construção do
convento de Mafra, a construção da passarola e a história de Baltasar e Blimunda.

2. A construção do Convento de Mafra teve origem numa


promessa. Refira-a.
A construção do convento de Mafra teve origem na promessa que se a rainha desse um
filho ao rei este levantaria um convento de Franciscanos em Mafra.

3. Indique dois traços caracterizados de D. João V, Ana de Áustria


e de D. Francisco.
 João V - Autoritário e infantil (quer que a inauguração do convento seja no seu dia
de anos)
 Ana de Áustria – Fútil e superficial.
 Francisco – Ganancioso

4. Baltazar estabelece a relação entre as narrativas da construção


do convento e da passarola. De que modo?
Baltasar estabelece a ligação entre os três núcleos da narrativa porque participa nas duas.
No convento para construir o sonho do rei, na passarola para construir o seu sonho. Numa
como construtor, e noutra como ajudante.

5. Considere as personagens Baltasar Sete-Sóis e Bartolomeu


Lourenço.
5.1. Quando se conhecem?
Baltasar Sete-Sóis e Bartolomeu Lourenço conheceram-se no auto-de-fé num Domingo,
no Rossio, em que a mãe de Blimunda foi condenada.

5.2. Que tipo de relação se estabelece entre os dois?


Tornam-se amigos cúmplices, partilham as mesmas ideias e sonhos (a construção da
passarola) confidenciais.

6. Caracterize Blimunda.
Madura, responsável, corajosa, persistente, fiel ao companheiro, espiritual, misteriosa,
genuína, verdadeira, vê por dentro das pessoas.

6.1. Em que se distingue das outras pessoas?


Blimunda distingue-se das outras pessoas porque tem a capacidade de ver por dentro das
pessoas quando em jejum.

6.2. Como se torna útil a Bartolomeu Lourenço?


Torna-se útil a Bartolomeu Lourenço porque consegue recolher “vontades” necessárias ao
voo da passarola.

7. Interprete o fim trágico das personagens ligadas à passarola.


Ao contrário de Blimunda, Baltasar e o padre Bartolomeu Lourenço acabam por morrer.
Blimunda na obra não morre porque é espiritual. Baltasar morre queimado num auto-de-fé.
O padre morre louco perseguido pela inquisição. Scarlatti morre metaforicamente.

8. O sonho é uma linha de força da obra. Fundamente a


afirmação.
O sonho é uma linha de força da obra porque para realizarmos um sonho necessitamos de
força e de vontade. Na obra o sonho da construção da passarola é uma vontade comum
em que as personagens envolvidas lutam todas pelo mesmo fim. A vontade do ser
humano tem grande importância. A partir da leitura da obra podemos verificar que o
convento é parte do sonho dos franciscanos. O sonho de 1 padre é o sonho de todos, o
sonho é passado para Blimunda e Baltasar. Os desígnios do padre passam a ser os
desígnios dos 3. Querem passar os limites e voar.

9. Distinga personagens referências de personagens ficcionais.


Em memorial do convento existe 2 tipos de personagem: Personagens ficcionais: Julião
Mau Tempo, João Elvas, Baltasar, Blimunda, etc. inventadas pelo autor. D. João V, D. Ana
de Áustria, Scarlatti, e o Padre Bartolomeu são personagens que existiram na realidade.
São todas as personagens que estão referenciadas na história.
10. A construção do Convento assenta no sacrifício de heróis anónimos.
Caracterize-os.

10.1. Registe um acontecimento marcante na vida desses


trabalhadores.
 O transporte da pedra, desde Pêro Pinheiro até Mafra.
 Quando Francisco Marques é esmagado.
 O facto de os homens terem sido obrigados a irem para trabalhar no convento.

11. Apresente o ponto de vista do narrador sobre a construção do


convento de Mafra.
Era um capricho do Rei, era absurdo gastar tanto dinheiro na construção do convento.

12. Os espaços Mafra e Lisboa são privilegiados na obra. Que


imagem física e social nos é dada da capital?
Lisboa é uma cidade suja, levando ao aparecimento de doenças como a peste.
Física - Local onde tudo é imundo, povoado por gente ignorante. Por outro lado gente fútil,
sem princípios (clero).
Social - Existia a extrema miséria por um lado (povo) e a estrema riqueza por outro
(realeza).

13. O clero é observado de forma crítica e irónica. Justifique,


recorrendo a exemplos concretos.
O clero é uma classe enganadora e pecadora, não cumpre as leis da igreja, exemplo dado
é quando o padre fica nu na varanda da casa de uma mulher e depois anda nu pelas ruas
de Lisboa ou quando o padre tenta violar Blimunda.
14. Delimite cronologicamente a ação principal.
A ação começa em 1711. Em 1711 foi colocada a primeira pedra. Em 1790 é o casamento
arranjado de D. José com Mariana Vitória e de Maria Barbara com D. Fernando. O
convento de Mafra é construído a 22 de Outubro de 1930, dia de anos do Rei. Sendo a
acção da construção do convento, começada a 1711 e acabada a 1730.
MEMORIAL DO CONVENTO
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Resumo do trabalho
Resumo/Apontamentos sobre a obra "Memorial do Convento" de José Saramago,
realizado no âmbito da disciplina de Português (12º ano).

Memorial do Convento - José Saramago


 Ação, tempo, espaço, personagens, narrador
 Temáticas
 Classificações tipológicas
 Simbologias

José Saramago
Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do
Ribatejo, em 1922. Os seus pais emigraram para Lisboa quando ele não havia ainda
completado dois anos. A maior parte da sua vida decorreu, portanto, na capital, embora
até aos primeiros anos da idade adulta fossem numerosas, e por vezes prolongadas, as

suas estadas na aldeia natal.


Fez estudos secundários que, por dificuldades económicas, não pôde prosseguir. O seu
primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois diversas
profissões: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor,
jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance,  Terra do Pecado, em 1947, tendo
estado depois largo tempo sem publicar (até 1966). Trabalhou durante doze anos numa
editora, onde exerceu funções de direção literária e de produção. Colaborou como crítico
literário na revista  Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redação do jornal Diário de
Lisboa, onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante cerca de um
ano, o suplemento cultural daquele vespertino.
Pertenceu à primeira Direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de 1985 a
1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre Abril e
Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do jornal  Diário de Notícias. A partir de 1976 passou
a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como
autor. Em Fevereiro de 1993 decidiu repartir o seu tempo entre a sua residência habitual
em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha).

Ação
 Construção do convento de Mafra (Personagem principal: povo)
 Construção da Passarola (Personagens principais: Baltasar, Blimunda e padre
Bartolomeu Lourenço)
 História de Baltasar e Blimunda (Personagens principais: Blimunda e Baltasar)

Tempo
17 Nov.
(1624) 1711 1730 1739
1717

21 Out
Quiseram a – desapareciment Blimunda
Data da
construção do Início o Baltasar encontra
inauguração
convento da Baltasar a
do convento 22 Out
ação ser
de Mafra – Inauguração do queimado
convento

Duração da ação – 28 anos

Baltasar - 26 Baltasar - 54
anos anos
Blimunda - 19 Blimunda -
anos 47 anos

Espaço
Mafra/Lisboa (Rossio e S. Sebastião da Pedreira)
Memorial do Convento é uma história cíclica porque Baltasar e Blimunda conhecem-se
num auto-de-fé e encontram-se pela última vez noutro auto-de-fé.

Temáticas
 Amor (D. João V e D. Maria Ana/Baltasar e Blimunda)
 O sonho
 O religioso (Inquisição, Autos-de-Fé, Procissões) vs. o profano (Entrudo, touradas)
 Crítica social, política e religiosos
 Os verdadeiros construtores do convento
Classificação tipológica da obra
Memorial do Convento não pode ser considerado um romance histórico no verdadeiro
sentido da palavra na medida em que nela se entrelaçam a verdade e a verosimilhança, o
objetivo e o subjetivo, o real histórico e o real “ficcionado”. Deste modo, é-nos apresentada
uma reconstituição histórica através da recriação de ambientes próprios da época, em jeito
de crónica de costumes, com recurso, tanto quanto possível, à linguagem da época, à
reconstituição pormenorizada de vestuários, usos e costume. Convém também lembrar a
interação entre personagens históricas e personagens ficcionadas. Assim, Memorial do
Convento é um romance que se aproxima da classificação de Romance Histórico, embora,
tendo em conta o atrás exposto, também se possa falar de Romance de Espaço Social,
uma vez que somos confrontados com a sátira sobre o Portugal da primeira metade do
séc. XVIII (1711/1739). Verifica-se uma preocupação co a realidade social exercida sobre
os operários e a apresentação dos modos de viver, ser e estar de uma época através dos
quadros como as procissões, os autos-de-fé, as touradas, a vida nos conventos, entre
outros.

Cap. X – Comparação entre os dois amores


D. João V e D. Maria Ana (Cap. I)
 Casamento aristocrático, material para servir interesses políticos

Objetivo – conceber herdeiros para assegurar a descendência real

 Sem amor
 Mulher vista apenas como função de procriar
 D. João V, infiel, adúltero
 Relação superficial
 D. Maria Ana desfrutava da relação, era submissa e sonhava com o cunhado D.
Francisco, irmão do Rei.

Baltasar e Blimunda (Cap. V)


 Conheceram-se num auto-de-fé
 Um amor ao acaso
 Não havia infidelidades
 Apenas conviviam
 Casamento espiritual, não religioso apesar de ter sido abençoado pelo padre
 Amor verdadeiro e sincero

Personagens
D. João V
À partida poderia parecer que era ele o herói do Memorial mas tal não acontece porque à
medida que o narrador vai falando do Rei, vai tecendo juízos de valor e comentários
críticos que não enaltam a sua figura como Rei. Este surge com uma faceta múltipla e
contraditória. Assim se por um lado é o beato fanático que assiste aos autos-de-fé e outros
acontecimentos religiosos e desvia os dinheiros públicos para alimentar as suas fantasias
e desejos de grandeza bem como por outro lado é p Rei curioso pelas descobertas
científicas, protetor das artes, tentando por o país a par das transformações que ocorriam
na Europa contrariamente é um Rei absolutista e autoritário que não olha a meios para
atingir os seus fins, abusando do seu poder. É infantil e inconsequente, casa por obrigação
e compromisso real. Mantem relações fora do casamento, sobretudo com freiras,
desrespeitando assim as leis da sagrada igreja.

D. Mariana Ana
Encara o papel da esposa submissa, fútil e superficial, que tenta a todo o custo dar
herdeiros à coroa, cumprindo assim o objetivo político do seu casamento. Apesar de não
lhe ser dada grande importância dentro da obra, Saramago tenta humaniza-la e torna-la
mais agradável ao olhar do leitor quando revela que, como qualquer mulher normal que
não é feliz no casamento, tenta sê-lo através dos sonhos.

Baltasar
É a figura central do romance e aparece, no início deste, com 26 anos, vindo da guerra de
Espanha, escorraçado por já não ter a mão esquerda, não servindo para nada.
Simbolicamente representa a metáfora da mudança e da evolução do ser humano em
direção da sua plena realização. O sete é simbólico no seu nome, bem assim como o Sol,
é o sete da plenitude, é o sete da formação do mundo, são os sete dias da semana, sete
representa cada período lunar, sendo 28 a completude da lua (7x4=28) e 28 é o numero
de anos que dura a ação do romance, desde a sua chegada a Lisboa, em 1711, até à sua
morte, em 1739, altura em que Blimunda o encontra a ser queimado num auto-de-fé, ao
fim de 9 anos de procura é a sua sétima passagem por Lisboa.
Com Blimunda viveu um amor pleno, puro, verdadeiro e cúmplice, à margem das regras e
convenções sociais e religiosas, mas ausente de qualquer mancha de pecado.
Com o Padre Bartolomeu atinge a sua plena realização enquanto ser humano, atingindo
também a dimensão espiritual e divino ao voar na passarola.
Com o padre e com Blimunda forma a trindade terrestre, uma trindade perfeita, à qual mais
tarde se junta um quarto elemento. Domenico Scarlatti, conseguindo-se a plenitude
absoluta.

Blimunda
Quando inicia o romance tem 19 anos É um elemento mágico, de grande espiritualidade
que consegue ver por dentro das coisas e das pessoas, permitindo-lhe compreender a
essência e as verdades mais profundas do mundo. As suas capacidades como vidente
conferem-lhe uma sabedoria muito própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro que
partilha com Baltasar.
Está presente no auto-de-fé, participa no projeto da passarola, partilhando o sonho de
Bartolomeu com Baltasar, recolhe as vontades e procura incessantemente o seu homem.
A sua relação com Baltasar é predestinada, ultrapassando as regaras e os códigos
estabelecidos; a atribuição do nome de sete-luas associa a simbologia do número sete à
da lua, complementar do sol, com quem forma a plenitude.
Ela apresenta-se sob múltiplas facetas: ela é a mágica, a vidente, a sábia, a mulher do
povo, a inseparável companheiro do seu homem, a única sobrevivente da trindade,…
O projeto da passarola, através a recolhas das vontades, só possível pelas suas
características de vidente, permite-lhes dar um sentido positivo ao seu dom, visto
negativamente e condenado pela igreja.
Comentário ao excerto do capítulo XI – Páginas 130/131
Neste excerto o padre Bartolomeu Lourenço regressa da Holanda, com a resposta ao que
é o éter. Nos seus estudos fia a saber que não é o que realmente pensava e que não é
algo que se possa ensinar. O éter é na verdade algo que vive dentro dos homens, não a
alma como pensou Baltasar, mas sim as vontades dos vivos, que pode ser separada do
homem estando ele vivo, ou a separa dele a morte.
É da vontade do homem que o padre necessita para que a passarola possa voar, para tal
pede a Blimunda que as recolha, ao que esta afirma não saber como é. O padre diz-lhe
que veja Baltasar por dentro, mas Blimunda recusa-se, vê então o padre a pedido do
mesmo, ao que afirma “Graças a Deus, agora voarei”.
Retratamos aqui a temática do sonho, o sonho da criação da passarola, sonho esse que
apenas será possível concretizar com as vontades do homem, vontades essas que na
obra são recolhidas por Blimunda no auto-de-fé. Vemos neste excerto que podemos ter
tudo para realizarmos o nosso sonho, mas o mais importante é a vontade e fé para lutar
por ele. “Onde couber uma, cabem milhões, o um é igual ao infinito”.
Um sonho é sempre um objetivo pessoal que temos na vida, um objetivo para o futuro,
pelo qual não devemos desistir.
TÓPICOS EM FALTA NO COMENTÁRIO AO EXCERTO

 Todos os seres humanos têm sonhos, mas nem todos os sonhos são realizados,
pois nem todos têm vontade.
 O valor da amizade / O valor da família (Diferença)
 Diferença entre alma e vontade. A alma nasce e morre connosco, enquanto que a
vontade pode desprender-se de nos caso não tenhamos força para prosseguir com
os nosso sonhos. A vontade não nasce connosco, nos é que a temos de procurar.
A vontade nunca é demais.

A temática do sonho – a construção da passarola


(Personagens: Padre Bartolomeu, Baltasar, Blimunda, Domenico Scarlatti)

 Encontro do Padre Bartolomeu com Baltasar, no auto-de-fé, em Lisboa (Rossio)


em 26 Julho de 1711 (Cap. V)
 João Elvas informa Baltasar do apelido do padre – O Voador. Baltasar inquira o
Padre sobre a razão do seu apelido de voador. (Cap. VI)
 O Padre confidencia a Baltasar o segredo da máquina e vão a S. Sebastião da
Pedreira.
 Proposta/convite de trabalho de Bartolomeu e Baltasar (Construção da passarola).
(Cap. VI)
 Baltasar e Blimunda mudam-se para S. Sebastião da Pedreira para estarem perto
da máquina (Cap. IX) – o padre viaja para Holanda para trazer o éter.
 Em virtude de ainda não haver a certeza do voo da máquina, param-se os
trabalhos e Baltasar e Blimunda vão para Mafra. (Cap. IX)
 O padre regressa da Holanda com o “éter – afinal, o que faz voar a passarola são
as “vontades”. (Cap. XI)
 O padre vai para Coimbra mas antes distribui tarefas – quando ele mandar “irão os
dois para Lisboa, tu (Baltasar) construirás a máquina, tu (Blimunda) recolheras as
vontades”. (Cap. XI)
 Baltasar e Blimunda partem para Lisboa a pedido do padre. (Cap. XII)
 Continuação da construção da passarola. (Cap. XII)
 Recolha de vontades na procissão do corpo de Deus. (Cap. XIII)
 O padre revela a Scarlatti o segredo da máquina. - Ida a S. Sebastião da Pedreira
onde o padre apresenta a máquina e a tríade. (Cap. XIV)
 Blimunda finaliza a recolha das vontades durante a epidemia – doença de
Blimunda e cura com a música de Scarlatti. (Cap. XV)
 O padre é perseguido pelo santo oficia o que leva à fuga da tríade na passarola.
Aterragem forçada na serra do Barregudo, no Monte Junto. (Cap. XVI)


Importância da vontade do ser humano na concretização dos sonhos e a questão do valor
da amizade (os esboços do padre + o trabalho físico de Baltasar + dimensão espiritual de
Blimunda na recolha das vontades) – esforços conjugados na concretização do sonho de
todos.
Implicações simbólicas – engrandecimento do ser humano que atinge outra dimensão para
além da terrestre.

Personagens
Padre Bartolomeu de Gusmão
Para além de padre, foi também um cientista e um visionário, atormentado sempre por
grandes dúvidas de carácter religioso, foi perseguido pela inquisição por suspeita de
bruxaria. Foram estes aspetos que levaram à criação de uma personagem lendária que
representava o sonho de liberdade do ser humano, o sonho de se transcender e de
ultrapassar os limites do homem. Para tal, junta o seu saber ao trabalho manual de
Baltasar e à magia e espiritualidade de Blimunda, apoiados pela música de Scarlatti – a
vontade de todos levou ao voo da passarola. Simbolicamente este padre representa um
ser dividido entre a religião e a curiosidade/paixão pela ciência levando-o a descrer dos
dogmas da igreja, a ser perseguido e morto. Mitologicamente podemos compara-lo com
Prometeu*. Podemos concluir que o voo da passarola surge aqui como uma espécie de
trampolim que, aliado às virtudes, projeta o ser humano para uma outra dimensão fora da
terrestre. A vontade divina foi substituída pela vontade humana, ascendendo o homem à
categoria de um Deus.
Prometeu* - É a figura mitológica que roubou o fogo aos Deuses para o dar aos homens.
O homem simboliza o conhecimento e a vida que deveria ser apenas obra de deus. Por tal
atrevimento, Deus/Júpiter castigou-o e acorrentou-o a um rochedo sendo o seu fígado
diariamente devorado por uma águia. Este ato de Prometeu simboliza a revolta e a
constante insatisfação do homem que procura sempre igualar-se ao divino apoiado numa
vontade interior muito grande. Moral da história: Todo aquele que tenta ultrapassar os seus
limites e conquistar outros elementos (ar, água, fogo) que não o seu (terra) sofrerá sempre
um castigo.

Domenico Scarlatti
A música é a mais aérea de todas as artes conhecidas e vem, através de Scarlatti integrar
a realização plena da passarola acrescentando-lhe a componente estética que lhe faltava.
A convite do padre Bartolomeu é aceite pela tríade, passando a acompanhar com
regularidade o processo de construção acompanhando com música. A música é muito
importante também porque ajuda na recuperação de Blimunda e é um dos elementos que
ajuda a elevar a passarola nos ares juntamente com as vontades. Na obra, Scarlatti
simboliza a transcendência que vem da música que, aliada ao dom de Blimunda, constitui
a maravilha da obra. É a música que permite entender o sonho. Partilha o segredo com a
tríade e morre metaforicamente depois de ajudar a máquina a voar quando destrói o cravo
atirando-o para dentro de um poço.

Temática do sonho – a construção do convento


 Desejo dos franciscanos desde 1624 de ter um convento em Mafra. (Cap. II)
 Promessa do Rei (Cap. I)
 Confirmação da promessa do Rei apesar de decepção. (Cap. VII e IX)
 Decisão do dia da inauguração. (Cap. VIII)
 Escolha do local para a edificação do convento – Auto da vela em Mafra. (Cap.
XIII)
 Expropriação de terrenos e início da preparação dos terrenos. (Cap. X e XI)
 Lançamento da primeira pedra. (Cap. XII)
 Discurso das obras de construção/azáfama e lentidão dos trabalhadores.
 Transporte da pedra-mãe - o povo (personagem principal). (Cap. XIX)
 Recrutamento de homens por todo o reino para trabalhar em Mafra. (Cap. XXI)
 Inauguração do convento (22-10-1730) – dia do 41º aniversário do Rei (Cap. XXIV)

A construção do convento surge associado à figura do Rei como o principal responsável


da obra, no entanto a sua figura é ridicularizada porque a única obra que ele consegue de
facto construir é uma miniatura da basílica de S. Pedro de Roma com pedacinhos de
madeira.
O trabalho de construção da passarola é diferente do trabalho de construção do convento
porque o objetivo principal da obra é contar a história das relações do homem com o seu
objeto de trabalho, com o sei produto e com o sonho. Assim,

Construção da passarola
Ação – Aliada ao sonho – o resultado da obra não é indiferente aos trabalhadores da
mesma que crescem à medida que vão realizando a obra.
Construção do convento
Ação – Alienado do sonho – o resultado da obra é indiferente aos trabalhadores, não é o
sonho deles (os trabalhadores aniquilam-se e sofrem).

POVO – Herói pícaro coletivo (Cap. XVIII, XIX, XXI)


9  Aquele que tem que andar de um lado para o outro para sobreviver
Oposto à classe dominante, surge este povo anónimo coletivo, trabalhador que construiu o
Convento de Mafra à custa de muito esforço, sofrimento, sacrifício e mortes. O narrador
define-o pelo seu trabalho, pela sua miséria física e moral, pela sua devoção e humildade,
e é este povo o verdadeiro construtor do convento que alimentou a megalomania do Rei e
concretizou o sonho deste. Não há diferença entre tijolos e homens, estes são apenas a
massa bruta que trabalha. Vemos os homens a escavar os alicerces, a arrotear terras, a
transportar pedras, a erguer paredes, a abrir caboucos, apinhados, sujos, miseráveis,
agrilhoados. Alguns, por desejo do autor, ganham rostos e nomes, tais são os casos de
Francisco Marques, José Pequeno, Manuel Milho, Joaquim da Rocha, João Anes, Baltasar
Mateus … Todos estes ganham individualidade e é-lhes concedida, aqui na obra, a
importância que a História lhes retirou. No entanto este facto que confere ao povo algum
valor, não impede o narrador de criticar esta personagem coletiva e de mostrar todos os
podres físicos e morais e a sua ignorância. Nesta parte é o povo estúpido e fanático que
assiste deliciado aos autos-de-fé gozando e atirando imundices aos que vão ser
queimados. “Aquela gente que esta cuspindo para mim e atirando cascas de melancia e
imundices” (Cap. V)
 

Quando o narrador deixa de ser omnisciente, passa a contar a história como se fosse uma
das personagens, portanto só pode ser interno.
Na obra, temos um narrador plurivocal que descreve paisagens, situações,
acontecimentos, factos, ambientes, estados de alma, que apresenta a sua opinião
exprimindo juízos de valor, refletindo, comentando e ironizando, que usa e reinventa
provérbios e ditados populares, que faz referencias a obras e a autores, que domina a
história em todos os seus aspectos, que recorre no discurso escrito a marcas constantes
da oralidade, que fala de factos comprováveis e fidedignos ou que por e simplesmente os
inventa. É um narrador conhecedor da época, intimo da corte, personagem, testemunha,
observador, critico do presente, contemporâneo do leitor, a voz do próprio Saramago,…
Temáticas:
 O amor – casamento, a construção do convento
 O sonho de voar
 A religiosidade da época (procissões, autos-de-fé, casamentos, funerais – Infante
D. Pedro e sobrinho de Baltasar
 Atos profanos, ou não religiosos (ex.: festas do entrudo e touradas)
 A riqueza da coroa e do clero vs. miséria do povo
 Acontecimentos esporádicos (casuais – a peste, epidemia)

Vertentes: Religiosa, histórica, económica, sócia


Tempo da história ou tempo histórico – época de D. João V entes 1711 e 1739;
Tempo do discurso – tempo do narrador onde podemos encontrar elipses (omissão do
tempo que se passou) – 9 anos que nada se sabe;
Resumos, analepses (momentos passados no tempo) e prolepses (avanços no tempo)
Ex.: Terramoto de 1730, revolução de Abril 1724, e os cinemas e aviões que ainda não
surgiram.

Estilo e Linguagem – Excerto Cap. XXV


“Milhares de léguas andou Blimunda … num farol de nevoeiros” (última página)
Ex.: Comparação – “tornou-se espessa, ferida como uma cortiça.”
“Portugal inteiro esteve debaixo destes passos” – Metáfora/Sinédoque
“Algumas vezes atravessou a raia de Espanha porque não via no chão qualquer risco a
separar a terra de lá da terra de cá.” – Ironia/Antítese/Repetição
“Não se lembra de mim, chamavam-me Voador” – Inexistência de pontos de
interrogação
“Ai pobrezinha” – diminutivo/registo de língua popular
“Sobre a sua mão outra mão se pousava” – Aliteração
“Cardumes de cristal e prata” – metáfora
“Sob as águas escuras do rio” – Adjetivação
“Como um farol de nevoeiros” – comparação
“Foi das praias e das arribas do oceano à fronteira, depois recomeçou a procurar por
outros lugares, por outros caminhos” – progressão
“Em dois anos foi das praias e das arribas... Onde nasceu” – Gradação
“Praias, arribas, oceanos”; “Archotes, fumo negro, fogueiras” – Enumeração
“Dorsos escamosos e lisos” – Dupla adjetivação

Simbologia
Três
De acordo com a numerologia simbólica, podemos constatar, que ambos os nomes
(Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas) representam perfeição, totalidade e até magia,
sugeridas pela extensão trissílaba  (e aqui reside a simbologia do número três, revelador
de uma ordem intelectual e espiritual traduzida na união do céu e da terra).

Quatro
O número quatro está associado à transgressão religiosa já que a junção de um quarto
elemento, Domenico Scarlatti, faz com que se deixe o número divino (três) para se passar
ao símbolo da totalidade e à imagem da Terra.
Quatro são as fases da Lua, cujo ciclo influencia a vida de Blimunda Sete-Luas, que
quando é Lua Nova pode estar em jejum sem que veja o interior das coisas.

Numero Sete
Data e hora da sagração do convento; sete anos vividos em Portugal pelo músico Scarlatti;
sete vezes que Blimunda passa por Lisboa à procura de Baltasar; sete igrejas visitadas na
Páscoa; sete bispos que batizaram Maria Francisca; sete sóis de ouro e de prata
colocados no altar-mor.
A sua presença, no nome de Blimunda e Baltasar, tem um significado dual, uma vez que
se liga à mudança de um ciclo e renovação positiva.

Nove
Representa a gestação, a renovação e o nascimento.
O número nove surge a simbolizar insistência e determinação quando Blimunda procura
Baltasar durante 9 anos. Este número encerra também simbolicamente a ideia de procura
pois, o que realmente acontece a Blimunda após os 9 anos de busca é que reencontra
finalmente Baltasar, não como um encontro físico, mas místico e completo.

Sol
Associado a Baltasar e ao povo, sugere a ideia de vida, de renovação de energias  (o povo
trabalha até à exaustão no convento, Baltasar constrói uma máquina, mesmo depois de
amputado).
Como o Sol, que todos os dias tem de vencer os guardiães da noite (mitologia antiga),
também Baltasar vence as forças obscuras da ignorância e da intolerância ao voar.

Lua
Símbolo do ritmo biológico da Terra, traduz a força vital que é representada pelas
vontades recolhidas por Blimunda para fazer voar a passarola.
Tradicionalmente a Lua simboliza, por não ter luz própria, o princípio passivo do sol. No
entanto, a obra revoluciona o conceito da Lua ao dar a Blimunda capacidades
sobrenaturais que dependem das fases da lua, tornando-a tão relevante como o sol. Sol e
Lua: simboliza a união como um todo, porque são o verso e o reverso da mesma
realidade, o dia.

Passarola
Traduz a harmonia entre o sonho e a sua realização. Graças ao sonho, foi possível juntar
a ciência, o trabalho artesanal, a magia e a arte, para fazer a passarola voar.
Simboliza o elo de ligação entre o céu e a terra. É tanto o símbolo da concretização do
sonho, representando assim também a libertação do espírito e a passagem a outro estado
de consciência, uma vez que esta é igualmente um símbolo da ligação do céu e da terra,
pois ousa sair do domínio dos homens e entrar no domínio de Deus. Por outro lado é um
símbolo dual, pois é por sua causa que nasce a Trindade terrestre, mas também é o
motivo de separação desta.

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