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6. Caracterize Blimunda.
Madura, responsável, corajosa, persistente, fiel ao companheiro, espiritual, misteriosa,
genuína, verdadeira, vê por dentro das pessoas.
Resumo do trabalho
Resumo/Apontamentos sobre a obra "Memorial do Convento" de José Saramago,
realizado no âmbito da disciplina de Português (12º ano).
José Saramago
Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do
Ribatejo, em 1922. Os seus pais emigraram para Lisboa quando ele não havia ainda
completado dois anos. A maior parte da sua vida decorreu, portanto, na capital, embora
até aos primeiros anos da idade adulta fossem numerosas, e por vezes prolongadas, as
Ação
Construção do convento de Mafra (Personagem principal: povo)
Construção da Passarola (Personagens principais: Baltasar, Blimunda e padre
Bartolomeu Lourenço)
História de Baltasar e Blimunda (Personagens principais: Blimunda e Baltasar)
Tempo
17 Nov.
(1624) 1711 1730 1739
1717
21 Out
Quiseram a – desapareciment Blimunda
Data da
construção do Início o Baltasar encontra
inauguração
convento da Baltasar a
do convento 22 Out
ação ser
de Mafra – Inauguração do queimado
convento
Baltasar - 26 Baltasar - 54
anos anos
Blimunda - 19 Blimunda -
anos 47 anos
Espaço
Mafra/Lisboa (Rossio e S. Sebastião da Pedreira)
Memorial do Convento é uma história cíclica porque Baltasar e Blimunda conhecem-se
num auto-de-fé e encontram-se pela última vez noutro auto-de-fé.
Temáticas
Amor (D. João V e D. Maria Ana/Baltasar e Blimunda)
O sonho
O religioso (Inquisição, Autos-de-Fé, Procissões) vs. o profano (Entrudo, touradas)
Crítica social, política e religiosos
Os verdadeiros construtores do convento
Classificação tipológica da obra
Memorial do Convento não pode ser considerado um romance histórico no verdadeiro
sentido da palavra na medida em que nela se entrelaçam a verdade e a verosimilhança, o
objetivo e o subjetivo, o real histórico e o real “ficcionado”. Deste modo, é-nos apresentada
uma reconstituição histórica através da recriação de ambientes próprios da época, em jeito
de crónica de costumes, com recurso, tanto quanto possível, à linguagem da época, à
reconstituição pormenorizada de vestuários, usos e costume. Convém também lembrar a
interação entre personagens históricas e personagens ficcionadas. Assim, Memorial do
Convento é um romance que se aproxima da classificação de Romance Histórico, embora,
tendo em conta o atrás exposto, também se possa falar de Romance de Espaço Social,
uma vez que somos confrontados com a sátira sobre o Portugal da primeira metade do
séc. XVIII (1711/1739). Verifica-se uma preocupação co a realidade social exercida sobre
os operários e a apresentação dos modos de viver, ser e estar de uma época através dos
quadros como as procissões, os autos-de-fé, as touradas, a vida nos conventos, entre
outros.
Sem amor
Mulher vista apenas como função de procriar
D. João V, infiel, adúltero
Relação superficial
D. Maria Ana desfrutava da relação, era submissa e sonhava com o cunhado D.
Francisco, irmão do Rei.
Personagens
D. João V
À partida poderia parecer que era ele o herói do Memorial mas tal não acontece porque à
medida que o narrador vai falando do Rei, vai tecendo juízos de valor e comentários
críticos que não enaltam a sua figura como Rei. Este surge com uma faceta múltipla e
contraditória. Assim se por um lado é o beato fanático que assiste aos autos-de-fé e outros
acontecimentos religiosos e desvia os dinheiros públicos para alimentar as suas fantasias
e desejos de grandeza bem como por outro lado é p Rei curioso pelas descobertas
científicas, protetor das artes, tentando por o país a par das transformações que ocorriam
na Europa contrariamente é um Rei absolutista e autoritário que não olha a meios para
atingir os seus fins, abusando do seu poder. É infantil e inconsequente, casa por obrigação
e compromisso real. Mantem relações fora do casamento, sobretudo com freiras,
desrespeitando assim as leis da sagrada igreja.
D. Mariana Ana
Encara o papel da esposa submissa, fútil e superficial, que tenta a todo o custo dar
herdeiros à coroa, cumprindo assim o objetivo político do seu casamento. Apesar de não
lhe ser dada grande importância dentro da obra, Saramago tenta humaniza-la e torna-la
mais agradável ao olhar do leitor quando revela que, como qualquer mulher normal que
não é feliz no casamento, tenta sê-lo através dos sonhos.
Baltasar
É a figura central do romance e aparece, no início deste, com 26 anos, vindo da guerra de
Espanha, escorraçado por já não ter a mão esquerda, não servindo para nada.
Simbolicamente representa a metáfora da mudança e da evolução do ser humano em
direção da sua plena realização. O sete é simbólico no seu nome, bem assim como o Sol,
é o sete da plenitude, é o sete da formação do mundo, são os sete dias da semana, sete
representa cada período lunar, sendo 28 a completude da lua (7x4=28) e 28 é o numero
de anos que dura a ação do romance, desde a sua chegada a Lisboa, em 1711, até à sua
morte, em 1739, altura em que Blimunda o encontra a ser queimado num auto-de-fé, ao
fim de 9 anos de procura é a sua sétima passagem por Lisboa.
Com Blimunda viveu um amor pleno, puro, verdadeiro e cúmplice, à margem das regras e
convenções sociais e religiosas, mas ausente de qualquer mancha de pecado.
Com o Padre Bartolomeu atinge a sua plena realização enquanto ser humano, atingindo
também a dimensão espiritual e divino ao voar na passarola.
Com o padre e com Blimunda forma a trindade terrestre, uma trindade perfeita, à qual mais
tarde se junta um quarto elemento. Domenico Scarlatti, conseguindo-se a plenitude
absoluta.
Blimunda
Quando inicia o romance tem 19 anos É um elemento mágico, de grande espiritualidade
que consegue ver por dentro das coisas e das pessoas, permitindo-lhe compreender a
essência e as verdades mais profundas do mundo. As suas capacidades como vidente
conferem-lhe uma sabedoria muito própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro que
partilha com Baltasar.
Está presente no auto-de-fé, participa no projeto da passarola, partilhando o sonho de
Bartolomeu com Baltasar, recolhe as vontades e procura incessantemente o seu homem.
A sua relação com Baltasar é predestinada, ultrapassando as regaras e os códigos
estabelecidos; a atribuição do nome de sete-luas associa a simbologia do número sete à
da lua, complementar do sol, com quem forma a plenitude.
Ela apresenta-se sob múltiplas facetas: ela é a mágica, a vidente, a sábia, a mulher do
povo, a inseparável companheiro do seu homem, a única sobrevivente da trindade,…
O projeto da passarola, através a recolhas das vontades, só possível pelas suas
características de vidente, permite-lhes dar um sentido positivo ao seu dom, visto
negativamente e condenado pela igreja.
Comentário ao excerto do capítulo XI – Páginas 130/131
Neste excerto o padre Bartolomeu Lourenço regressa da Holanda, com a resposta ao que
é o éter. Nos seus estudos fia a saber que não é o que realmente pensava e que não é
algo que se possa ensinar. O éter é na verdade algo que vive dentro dos homens, não a
alma como pensou Baltasar, mas sim as vontades dos vivos, que pode ser separada do
homem estando ele vivo, ou a separa dele a morte.
É da vontade do homem que o padre necessita para que a passarola possa voar, para tal
pede a Blimunda que as recolha, ao que esta afirma não saber como é. O padre diz-lhe
que veja Baltasar por dentro, mas Blimunda recusa-se, vê então o padre a pedido do
mesmo, ao que afirma “Graças a Deus, agora voarei”.
Retratamos aqui a temática do sonho, o sonho da criação da passarola, sonho esse que
apenas será possível concretizar com as vontades do homem, vontades essas que na
obra são recolhidas por Blimunda no auto-de-fé. Vemos neste excerto que podemos ter
tudo para realizarmos o nosso sonho, mas o mais importante é a vontade e fé para lutar
por ele. “Onde couber uma, cabem milhões, o um é igual ao infinito”.
Um sonho é sempre um objetivo pessoal que temos na vida, um objetivo para o futuro,
pelo qual não devemos desistir.
TÓPICOS EM FALTA NO COMENTÁRIO AO EXCERTO
Todos os seres humanos têm sonhos, mas nem todos os sonhos são realizados,
pois nem todos têm vontade.
O valor da amizade / O valor da família (Diferença)
Diferença entre alma e vontade. A alma nasce e morre connosco, enquanto que a
vontade pode desprender-se de nos caso não tenhamos força para prosseguir com
os nosso sonhos. A vontade não nasce connosco, nos é que a temos de procurar.
A vontade nunca é demais.
↓
Importância da vontade do ser humano na concretização dos sonhos e a questão do valor
da amizade (os esboços do padre + o trabalho físico de Baltasar + dimensão espiritual de
Blimunda na recolha das vontades) – esforços conjugados na concretização do sonho de
todos.
Implicações simbólicas – engrandecimento do ser humano que atinge outra dimensão para
além da terrestre.
Personagens
Padre Bartolomeu de Gusmão
Para além de padre, foi também um cientista e um visionário, atormentado sempre por
grandes dúvidas de carácter religioso, foi perseguido pela inquisição por suspeita de
bruxaria. Foram estes aspetos que levaram à criação de uma personagem lendária que
representava o sonho de liberdade do ser humano, o sonho de se transcender e de
ultrapassar os limites do homem. Para tal, junta o seu saber ao trabalho manual de
Baltasar e à magia e espiritualidade de Blimunda, apoiados pela música de Scarlatti – a
vontade de todos levou ao voo da passarola. Simbolicamente este padre representa um
ser dividido entre a religião e a curiosidade/paixão pela ciência levando-o a descrer dos
dogmas da igreja, a ser perseguido e morto. Mitologicamente podemos compara-lo com
Prometeu*. Podemos concluir que o voo da passarola surge aqui como uma espécie de
trampolim que, aliado às virtudes, projeta o ser humano para uma outra dimensão fora da
terrestre. A vontade divina foi substituída pela vontade humana, ascendendo o homem à
categoria de um Deus.
Prometeu* - É a figura mitológica que roubou o fogo aos Deuses para o dar aos homens.
O homem simboliza o conhecimento e a vida que deveria ser apenas obra de deus. Por tal
atrevimento, Deus/Júpiter castigou-o e acorrentou-o a um rochedo sendo o seu fígado
diariamente devorado por uma águia. Este ato de Prometeu simboliza a revolta e a
constante insatisfação do homem que procura sempre igualar-se ao divino apoiado numa
vontade interior muito grande. Moral da história: Todo aquele que tenta ultrapassar os seus
limites e conquistar outros elementos (ar, água, fogo) que não o seu (terra) sofrerá sempre
um castigo.
Domenico Scarlatti
A música é a mais aérea de todas as artes conhecidas e vem, através de Scarlatti integrar
a realização plena da passarola acrescentando-lhe a componente estética que lhe faltava.
A convite do padre Bartolomeu é aceite pela tríade, passando a acompanhar com
regularidade o processo de construção acompanhando com música. A música é muito
importante também porque ajuda na recuperação de Blimunda e é um dos elementos que
ajuda a elevar a passarola nos ares juntamente com as vontades. Na obra, Scarlatti
simboliza a transcendência que vem da música que, aliada ao dom de Blimunda, constitui
a maravilha da obra. É a música que permite entender o sonho. Partilha o segredo com a
tríade e morre metaforicamente depois de ajudar a máquina a voar quando destrói o cravo
atirando-o para dentro de um poço.
Quando o narrador deixa de ser omnisciente, passa a contar a história como se fosse uma
das personagens, portanto só pode ser interno.
Na obra, temos um narrador plurivocal que descreve paisagens, situações,
acontecimentos, factos, ambientes, estados de alma, que apresenta a sua opinião
exprimindo juízos de valor, refletindo, comentando e ironizando, que usa e reinventa
provérbios e ditados populares, que faz referencias a obras e a autores, que domina a
história em todos os seus aspectos, que recorre no discurso escrito a marcas constantes
da oralidade, que fala de factos comprováveis e fidedignos ou que por e simplesmente os
inventa. É um narrador conhecedor da época, intimo da corte, personagem, testemunha,
observador, critico do presente, contemporâneo do leitor, a voz do próprio Saramago,…
Temáticas:
O amor – casamento, a construção do convento
O sonho de voar
A religiosidade da época (procissões, autos-de-fé, casamentos, funerais – Infante
D. Pedro e sobrinho de Baltasar
Atos profanos, ou não religiosos (ex.: festas do entrudo e touradas)
A riqueza da coroa e do clero vs. miséria do povo
Acontecimentos esporádicos (casuais – a peste, epidemia)
Simbologia
Três
De acordo com a numerologia simbólica, podemos constatar, que ambos os nomes
(Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas) representam perfeição, totalidade e até magia,
sugeridas pela extensão trissílaba (e aqui reside a simbologia do número três, revelador
de uma ordem intelectual e espiritual traduzida na união do céu e da terra).
Quatro
O número quatro está associado à transgressão religiosa já que a junção de um quarto
elemento, Domenico Scarlatti, faz com que se deixe o número divino (três) para se passar
ao símbolo da totalidade e à imagem da Terra.
Quatro são as fases da Lua, cujo ciclo influencia a vida de Blimunda Sete-Luas, que
quando é Lua Nova pode estar em jejum sem que veja o interior das coisas.
Numero Sete
Data e hora da sagração do convento; sete anos vividos em Portugal pelo músico Scarlatti;
sete vezes que Blimunda passa por Lisboa à procura de Baltasar; sete igrejas visitadas na
Páscoa; sete bispos que batizaram Maria Francisca; sete sóis de ouro e de prata
colocados no altar-mor.
A sua presença, no nome de Blimunda e Baltasar, tem um significado dual, uma vez que
se liga à mudança de um ciclo e renovação positiva.
Nove
Representa a gestação, a renovação e o nascimento.
O número nove surge a simbolizar insistência e determinação quando Blimunda procura
Baltasar durante 9 anos. Este número encerra também simbolicamente a ideia de procura
pois, o que realmente acontece a Blimunda após os 9 anos de busca é que reencontra
finalmente Baltasar, não como um encontro físico, mas místico e completo.
Sol
Associado a Baltasar e ao povo, sugere a ideia de vida, de renovação de energias (o povo
trabalha até à exaustão no convento, Baltasar constrói uma máquina, mesmo depois de
amputado).
Como o Sol, que todos os dias tem de vencer os guardiães da noite (mitologia antiga),
também Baltasar vence as forças obscuras da ignorância e da intolerância ao voar.
Lua
Símbolo do ritmo biológico da Terra, traduz a força vital que é representada pelas
vontades recolhidas por Blimunda para fazer voar a passarola.
Tradicionalmente a Lua simboliza, por não ter luz própria, o princípio passivo do sol. No
entanto, a obra revoluciona o conceito da Lua ao dar a Blimunda capacidades
sobrenaturais que dependem das fases da lua, tornando-a tão relevante como o sol. Sol e
Lua: simboliza a união como um todo, porque são o verso e o reverso da mesma
realidade, o dia.
Passarola
Traduz a harmonia entre o sonho e a sua realização. Graças ao sonho, foi possível juntar
a ciência, o trabalho artesanal, a magia e a arte, para fazer a passarola voar.
Simboliza o elo de ligação entre o céu e a terra. É tanto o símbolo da concretização do
sonho, representando assim também a libertação do espírito e a passagem a outro estado
de consciência, uma vez que esta é igualmente um símbolo da ligação do céu e da terra,
pois ousa sair do domínio dos homens e entrar no domínio de Deus. Por outro lado é um
símbolo dual, pois é por sua causa que nasce a Trindade terrestre, mas também é o
motivo de separação desta.