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OBRAS DO MESMO AUTOR:

Pela primeira vez na vida reli- OURO, INCENSO E MIRRA (Re-


glosa da cidade de Angra dos Reis, portagens históricas sôbre Angra
so tenta um levantamento· sério da dos Reis) - No prélo.
ntuação eficiente e benéfica dos ELENCO BIOGRAFICO DE VUL-
frades franciscanos, ali estabele-
cidos durante o século dezessete.
TOS ANGRENSES - Em preparo. .·
HERóiS ANGRENSES NA SEGUN-
Trabalho árduo e que demandou DA GUERRA - Em preparo.
pesquisas em arquivos e bibliotecas,
de que é prova a longa documen- NOTíCIA HISTóRICA E GEOGRÁ-
tação e relação de obras consulta- FICA DE ANGRA DOS REIS es-
das, eis o fruto da paciência bene- crita por Honól'io Lima, anotada e
ditina de Alipio Mendes que se in- ampliada por Alipio Mendes - Em
tegra, com o "O Velho Convento", preparo.
na linha de um gênero literário CALENDARIO HISTóRICO DE
muito ao sabor das primeiras ma- ANGRA DOS REIS - Em com-
nifestações culturais luso-brasilei- pilação.
ras: a historiografia, em sua ma-
nifestação inicial, através das
crônicas. O leitor verá diante de
seus olhos cansados do tumulto da
vida ,moderna, "O Velho Conven-
to" com seus monges franciscanos
à porfia de um ideal nobre e hu-
mano: disseminar nas plagas li-
torâneas da região Sul do Estado
do Rio de Janeiro o espírito do
Poverello de Assis.

I
O VELHO
CONVENTO

I
AL ÍP IO MENDES
(SÓCIO EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO FLUMINENSE
E SÓCIO MILITANTE DA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA)

O VELHO
I

CONVENTO
(A HISTóRIA DOS FRADES FRANCiSCANOS
EM ANGRA DOS REIS)

CAPA DE DARWIN
Ci\R.TA-I' REFACIO DE FR E.l J ACINTO l'ALAZZO LO
JL USTRAÇOES DE DARWIN E OUTROS
EDIÇAO DA "GAZETA DE ANGRA"
VERSOS DE BRASIL DOS R EIS
1 967
A MEMóRIA INOLVIDAVEL DE MEU PAI
OSTIANO MENDES, IRM/CO DA VENElU.VEL OR·
DEM TERCEIRA DA PENITENCIA DE ANGRA
DOS REIS

À MINHA M/CE EURIDICE DE OLIVEIRA


MENDES, BEUSSIMO EXEMPLO DE CORAGEM E
RESIGNAÇÃO

À MEi\fóRIA DA MINHA PRTMEIRA PRO·


FESSORA DONA ANA BENEDITA DA SILVA SAN·
TOS, QUE ME ILUMINOU A ESTRADA DA VIDA,
ENSINANDO-ME AS I'IUMETRAS LETRAS

À RETIERENDISSIMA IRMtl MARIA ANTIDA


DE SilO JOSÉ, NO SÉCULO, MARlA DO CARMO
MENDES, MANA DILETA QUE RENUNCIOU O
MUNDO POR AMOR A DEUS

A MINHA FILHA CELESTE AURORA NA·


TAL/NA MENDES, NO POEMA DE SEU NOME
/

CARTA- PREFACIO
)
Ilustríssimo Senhor A líjJio Mendes :

Lí e muito ajn·eciei seu brilhante trabalho


" O VELHO CONVENTO" f'mto de pacientes
pesquisas1 inspiradas pelo amor ao culto cívico da
cidade que lhe é cara.
Conhecí Angra dos Reis e o Velho Convento)
em 1·ápida visita) no ano de 1924 1 quando convi-
dado pelos festeiTOS 1 jJreguei o panegírico de Nossa
Senhora da Conceiçtio. Isto se deu clois anos ape-
nas1 dejJois de ter assistido a queda1 em, jJerlaços,
do Convento (hosjJício) e da Igreja da antiga Sé
do Morm do Castelo. Minha .tristeza diante do
abandono e ruínas do Convento Franciscano de
Angra dos Reis fez-m.e reviver as dolorosas emo-
ções do desajJa?·ecimento da Igreja e Convento de
São Sebastião no Rio de ]aneim.
Seu trabalho acaba de p·restm· oportuno e útil
J serviço à história de Angra dos R eis1 tão celebrada
por PizarT01 ilustmndo a o1·igem e as fases da vida
de um edifício sôbre o qual1 e clent·ro dele, adejam
\ J jJalpitan.tes séwlos de vida ado·rm ecida. O histo-
1·iaclor e o estudioso vão além do edifício ele j;edm,
evocam a luz espi·ritual daquele recinto sagmdo
/

onde almas privilegiadas imolaram suas vidas ao


serviço de D eus pelos votos monásticos~ na contem-
plação das coisas celestes, sem esquecer o próximo
ao qual servi-ram com dedicação e amor dentro do
clima histórico, iluminando as almas com as luzes PRIMEIRAS NOTAS
do saber e o esplendm· da virtude. Po1· toda essa { )
legião de eminentes frades basta lembra,- o maiot :
- Frei Fabiano de Cristo !
Ao ler o seu trabalho lemb1·ei-me das palavTas
de Plínio, o velho : "é ve1·gonhoso viver na Pátria
e desconhecer-lhe a histó1·ia" e nós, humildes rabis-
cadores, sempre em contato com os poeirentos ar-
quivos esquecidos, encontramos consolação nas sá-
bias jJalavras do a:ut01" da Vida de Dom FTei Barto-
lomeu dos Mârti·res~ Frei Luís de Souza: "Que
na verdade escrever história com. as partes que ela
requer, é mais uma obra da fnovidência divina que
de fô-rças humanas. Porque considerando o traba-
lho de escrever e os descontos que a escritura (ainda
que seja a mais acertada) tem po-r prêmio de juizes
to1·cidos e muitas vêzes errados do que lê; se não
houve1· instinto 110 cén, que movera esjJíritos, Jôra
imjJossível haver nenlwm sizudo~ que se sujeitam
a tamanha carga".
Pambéns, caro amigo, e não desanime no ca-
minho jJed1·egoso de histoTiador e jornalista.
Com estima e aprêço, servo e amigo em ]. C.
\ J
Fadre Frei J acinto Palazzolo
O. F. l\·f . Cap.
Qualquer escritor que se propuser a escrever
sôbre a história ou fatos relativos à vida de Angra
I I dos R eis, terá que fa lar, forçosamente, de três
Ordens R eligiosas- a dos Carmelitas, a dos Bene-
ditinos e a dos Franciscanos.
Muito antes de existir Angra dos Reis, edifi-
cada no local atual, já os frades da Ordem de Nossa
Senhora do Monte do Carmo tinham o seu Conven-
to em nossa terra, cuja construção data do ano de
l . 593, sendo seu fundador Frei João Viana. Os
Beneditinos, por sua vez, se estabeleceram tamb ém
com seu Mosteiro em Angra dos Reis em l . 598,
sendo a casa monacal fundada por Frei Gregório
Batista.
Finalmente vieram os frades da Ordem de São
Francisco, de quem vamos tratar neste nosso traba-
lho, que não é mais completo porque a Provfncia
Franciscana, sediada em São Paulo, não nos permi-
tiu buscas e pesquisas em seus arquivos.
Antigamente quase todo território angrense
pertencia às três Ordens R eligiosas que citamos.
- Carmelitas, Beneditinos e Franciscanos. Os ter-
renos de um confinavam-se com os dos outros.
Assim sendo, com os elementos que possuímos,
vamos narrar algo sôbre os Frades franciscanos e

13
seus Conventos em Angra dos Reis. Sôbre o assun-
to já escreveram os historiógrafos Francisco Mateus
Cristiancs, Frei Miguel de São Francisco. Monse-
nhor Pizarro, Frei Apolináro da Conceição, Frei
Basílio R ower, Honório Lima, Brasil dos R eis, Pelas vetustas arcadas
Benedito J ordão de Souza e muitos outros. Nós, Que a mão do tempo fendeu,
Passam sombras apressadas
porém, vamos acrescentar algo nôvo pacientemente
Que a saudade ensandcceu.
pesquisado nas mais diversas e difíceis fontes_, sô~re
o mesmo assunto. Não nos move outro mtmto
São almas imaculadas
que não seja o de contribuir, embora muito modes-
Que não têm nada de seu,
tamente, com os presentes subsídios para que al-
Ou apenas, almas penadas
guém de maior cultura e de maiores ~abed~is ~e De quem com culpa moneu.
inteligência, um dia escreva a verdadeira h1stóna
de Angra dos R eis. Convento de Santo Antônio,
Exorcismas do Demônio
Quem jungido pela dor,

Ajoelhado ante o cruzeiro,


Reze ao monge b rasileiro
Frei Simão do Salvador I

(" POSTAIS ANGRENSES" - Brasil dos R eis)

14 15
ANGRA DOS REIS E OS
FRADES FRANCISCANOS
O caminho dos Frades Franciscanos que de-
mandavam os seus conventos de Santos e de São
Paulo, era sempre por Angra dos Reis que era
pouso de descanso e abastecimento quase obriga-
tório para os religiosos de São Francisco, quando
não eram obrigados pelos temporais a invernar por
estas plagas.
A convivência dos F1·ades com os habitantes
de Angra dos Reis, fêz nascer um interêsse mútuo
para que se criasse um estabelecimento de francis-
canos em nossa tena, estando à fTente do movi-
mento o Capitão Manuel de Carvalho, homem de
muitos haveres e proprietário de muitos terrenos,
que atendendo aos desejos dos angrenses e ao inte-
rêsse demonstrado pelos frades, comunicou-se com
os Superiores da Ordem Franciscana, conseguindo
que no ano de l . 650: o Superior Frei Sebastião do
Espírito Santo, mandasse à Angra dos R eis Frei
Pantaleão de Santa Catarina e o Irmão Leigo Frei
Manuel dos Anjos com a missão de estudar as
possibilidades da fundação de um Convento e con-
seguir as doações das terras necessárias.
Chegados a Angra dos Reis, os Frades não só
constataram a beleza c propriedade do local, como
acharam magnífica a idéia da construção de uma
casa religiosa por ficar Angra dos Reis no meio da
viagem para Santos e São Paulo onde fl·equentc-
mcnte tinham que ir.

19
Em rcumao havida com os superiores da e para o sertão águas vertentes como consta da es-
Bahia em 21 de novembro de 1 . 650, ficou decidida critura de venda e auto de posse que apresentou
a ereção de um Convento Franciscano em Angra o que tudo eu tab elião ví e lí; as quais terras lhe
dos Reis. No entanto, um ano se passou sem qual- vendeu o Capitão Bartolomeu Antunes Lobo c sua
quer providência para o início da construção, cujas mulher Maria da Costa Sá, defuntos, as quais du-
primeiras diligências só foram executadas quando zentas braças de terras, disse êle, dito Capitão Ma-
o Superior Frei Sebastião do Espírito Santo, pes- nuel de Car:·~lho dava e doava dês te d ia para sem-
soalmente, veio em Angra dos Reis tratar do assun- pre aos Rehgwsos de São Francisco para nelas fa-
to e aceitar a doação feita pelo Capitão Manuel zerem um Convento com seu muro c com o título
de Carvalho do terreno para a construção do Con- do Senhor São Bernardino de Sena e para poderem
vento, o que foi feito no dia 8 de março de 1 . 652, na forma, q~e por sua Ordem lhes é permitido
conforme a escritura lavrada nas n otas do tabelião por seu S1nd1co vender, dar, doar, comuLar e aco-
Gaspar da Costa Ferreira que a seguir passamos a modar a tôdas e q_uais9.ucr pessoas que em qual-
quer partJe desta VIla livremente largarem ou que
transcrever :
"Saibam quantos êste público instru mento de se tomar~m a~guns outro~ chãos necessários para
melhor sltuaçao e comodidade do dito Convento
escritura de doação de terras virem que, no ano do
e sua ,cêrc~ que correrà diretamente águas verten-
Nascimento de Nosso Senhor J esus Cristo, na era
tes é~t~ o p1co _da serra, tendo de testada quanto os
de mil c seiscentos e cinquenta e dois anos, aos oito
Rehgws.os gUlscrcm em a várzea, c a todo o tempo
dias do mês de março do dito ano nesta Vila de
gue se fecharem ou murarem por detrás do Con-
Angra dos Reis da Ilha Grande, Capitania de São
vento tanto quanto dos Religiosos lhes parecer ne-
Vicente, no tocante à repartição do Senhor Dom
cess<irio para não serem devassados ou desacomo-
Diogo de Faro e Sousa, Donatário perpétuo por
dados, com tôdas as águas e pedreiras que aí hou-
Sua Ma jcstadc etc. etc. nesta Vila diLa, em pousa-
ver e pelo tempo adiante se descobrirem e para
das do Capitão Manuel de Carvalho, adonde eu
terem as lenhas, madeiras e pastos que forem ne-
tabelião ao adiante nomeado fui chamado, e sendo
cessários ao serviço, comodid ade c uLilidade do
lá, por êle foi dito em presença das testemunhas ao
Convento, e tudo o mais que sobejar das ditas ter-
adiame nomeadas e assinadas, que êle tinha e pos-
ras na várzea de uma c outra parte da cêrca até
suía nesta dita Vila duzentas braças de terra de
águas vertent:es ficarão sempre sendo o dito doador
testada, panindo com os R eligiosos de São Bento
21
20
e seus herdeiros com a obrigação de não poderem forma e costume dos demais padroeiros e que lhe
nunca fazer casas, nem as pessoas a quem venderem faria escritura o dito Síndico em todo o tempo de
ou permitirem, em forma que devassem o recolhi- sua obrigação. Em fé e testemunho de que assi-
mento e clausura e cêrca do Convento, em roda da no e prometeram, outorgaram e mandaram todos o
qual há de haver por uma e outra parte do muro comum consentimento e o dito Capitão Manuel
uma rua livre e apartada dêle quarenta palmos. E de Carvalho empossou logo da dita data de tena
para que em nenhum tempo algum de seus her- ao dito Sargento-Mor Manuel da Costa Pinto como
deiros possa encontrar esta sua livre doação, disse Síndico do novo Convento e Ecônomo de Sua San-
a tomava em sua têrça e se obrigava a fazê-la sem- tidade, me mandou que esta lançasse nas m inha
pre boa. E por a tudo estar presente o R:everendo notas aonde todos se assinaram com as testemunhas
Padre Custódio Frei Sebastião do Espírito Santo que presentes foram a saber: - Domingos Alves
d isse q ue pelo Sargento-Mor Manuel da Costa da Costa, Domingos Casado I tamozo, Domingos
Pinto, que tamb ém presente estava, c em nome Martins Homem, aqui moradores pessoas ele mim
de Sua Santidade aceitava como de fato aceitou a tabelião reconhecidas, e, eu, Gaspar da Costa Fer-
tal doação na form a que lhe era lícito e permitido reira tabelião do público judicial e notas desta Vila
por su a Regra e Declarações dos Sumos Pontífices que o escrevi. Manuel de Canralho, Valéria ele
e que na mesma forma e pelo mesmo Síndico, não Carvalho, Manuel da Costa Pinto, Frei Sebastião
só permitia c concedia ao dito Capitão Manuel de do ~spírito Santo, Domingos Martins Homem,
Carvalho e a seus legítimos herdeiros,-ascendentcs Dommgos Casado Itamozo,- o qual traslado, eu,
e descendentes e aos que a êstes sucederem, perpé- ~~par da Costa Ferreira, tabe,l ião do público ju-
tuo jazigo e sepultura no cruzeiro da igreja nova cltctal e notas desta Vila, fiz escrever e subscrevi
que se havia de fazer com título do Senhor São bem e fielmente do próprio original que em meu
Bernardino de Sena, mas que também lhe permi- poder fica, ao que me reporto e vai na verdade sem
tiria e concederia a Capela-Mor do dito Convento coisa que dúvida faça, e o corri e consertei em o
com as condições c obrigações que o Condi io qual me assinei de meu sinal público e razo que
Trentino aponta e os usos c costumes, estilo e cons- tais são consertados por mim tabelião, Gaspar da
tituição de sua ordem e desta Santa Província per - Costa Ferreira".
mitirem e ainda o de padroeiro do dito Convento, Na mesma reunião que ficou deliberada a
querendo o dito Capitão aceitá-lo c obrigar-se na construção do Convento, foi constituída a Comis-

22 23
são fundadora, que se compunha de Frei Cosme da
Piedade, Frei J ácome da Purificação, Frei Pauta-
leão de Santa Catarina e os Irmãos Leigos Frei
Simão do Salvador e Frei Antônio de São Louren-
ço, que no dia 28 de março de 1. 652 chegaram à
Angra dos Reis.

2·1

IMAGEJ'I'f DO ORACO Si\0 13ERNARDI NO DE SENA


/

O PRI MEIRO CONVENTO


DE SÃO BERNARDIN O

l.
É Frei Miguel de São Francisco. A história
Seu nome há de passar, gloriosamente,
E circundado de celeste glória,
Há de ficar no coração da gente.

No silêncio da tarde merencória


í.le escreve o seu livro, suavemen te,
Arrancando-o dos meandros da. memória
Ou dos velhos l:orais, pacientemente.

Assim, num tempo que já vai tão longe,


As memórias traçando do mosteiro,
Trabalha o humilde e venerando monge.

E no "Livro do Tombo" o frade encerra


Seu ego e abre o capítulo primeiro
Das santas tradições de nossa t,e rra.

("BRASõES ANGRENSES" - Brasil dos Reis)

29

I
Tomada posse do terreno doado, perante o
tabelião, o Juiz Pedâneo e as testemunhas no dia
~~ 4 de agôsto de I . 652, os fundadores ficaram resi-
i dindo em u m recolhimen to construído pelo povo
u
"'~ em apenas dezesseis dias, junto da Igreja de Santa
t: Luzia, dando graças a Deus pelo bom acolhimento
<
"'
,!g
que os angrenses lhes estavam dispensando, fabri-
~
CJ
cando uma moradia muito bem acabada e com ce-
o v Ias assobradadas para residência dos frades que vi-
zf-4 "' nham designados para iniciar a construção do pri-
zo~ ~ meiro Convento de São Bernardino de Sena de
Angra dos Reis, tão bem construido que, apesar
u
o "'"'.. dos grandes temporais que assolaram Angra dos
]
~ g
p.,
cJ
Reis, nos primeiros dias do mês de agôsto de 1. 652,
nem uma simples goteira se fêz sentir no recolhi-
o mento dos franciscanos ao lado da ermida de Santa
~ Luzia .
.2
-~
o O resto do ano de 1 . 652 (oi gasto pelos piedo-
< CJ
sos frades para conseguir os materiais necessários ao
"O
o início da construção do Convento, no que muito
"ãli( lhes auxiliou o benemérito Capitão Manuel de
e.
<i
Carvalho, fazendo novas doações em madeira e
outros materiais para a obra.
Elaborada a planta e feita a demarcação do
terreno por Frei Simão do Salvador que era exímio

31
arquiteto, cujos restos mortais, foram sepultados
junto ao cruzeiro, aos 14 de abril de 1. 653 foi
muito solenemente colocada a pedra fundamental
do primeiro Convento de São Bernardino de Sena,
que existiu no local, então denomi nado "Cachoei-
ra", onde está hoje a rua Dr. Moacir de Paula
Lobo, que também já se chamou rua das Palmeiras,
e onde até há pouco tempo ainda se viam ruínas
do antigo monastério.
A pedra fundamental foi b enzida pelo Vigá-
rio Genl e Visitador Apostólico Padre Manuel de
Araujo que, durante a missa cantada pelo Superior
dos franciscanos Frei Sebastião do Espírito Santo,
pregou um magnífico sermão.
A construção fo i muito lenta e difícil dada a
falta de recursos pecuniários e a pobreza da popu-
lação angrense. Assim, só aos 12 ele i:evereiro de
l . 659 (oi possível inaugurar o Convento de São
Bernardino (o primeiro que existiu na atual rua
Doutor Moacir de Paula Lobo), sendo que alguns
dias após foi efetuada a mudança da comunidade
do recolhimento visinho à ermida de Santa Luzia
para o seu nôvo Convento, cujo primeiro Guardião
foi Frei Inácio ele J esus, a quem em vários guardia-
natos, sucedeu Frei J oão da Conceição Sanches,
grande pregador franciscano.
A situação de pobre·za de Angra dos Reis e
~
de seus habitantes era fato fàc ilmente notado na-
O CRUZEIRO DE MARMORE, PRESENTE DE D. JOSÉ I
DE PORTUGAL
32
quela época, por isso o Superior Frei Sebastião do Na Igreja do primitivo Convento existia além
Espírito Santo tratou logo de conseguir com Sua do altar-mor que era de talha dourada, dois alta-
Majestade o Rei Dom João IV de Portugal, a con- res laterais pintados.
cessão de uma ajuda financeira para a manutenção E foi nesse primeiro Convento franciscano da
do recém-fundado Convento da Vila da Ilha Gran- Vila de Angra dos R eis da Ilha Grande, que ingres-
de, o que foi atendido pelo Soberano conForme se sou na Ordem Primeira de São Francisco o maior
vê na Carta-Padrão de 6 de novembro de 1 . 653 exemplo de virtudes e de fé religiosa - o eleito
que concedeu ao Convento uma ajuda anual de d.o Senh~r, Frei Fabiano de Cristo, suprema, gló-
na francrscana e orgulho de nós angrenses.
uma pipa de vinho, uma quarta de azeite, uma
quarta de farinha e duas arrôbas de cêra, tudo no Em nossas dificílimas pesquisas conseguimos
valor de noventa mil réis anuais, que foi pontual- apurar que no primeiro Convento habitaram além
de Frei Inácio de J esus, q ue foi seu primeiro Guar-
mente pago até o ano de l. 820.
dião, Frei João da Conceição Sanches, segundo c
No primitivo Convento de São Bernardino de
várias vêzes Guardião; Frei Boaventura de Santa
Sena de Angra dos Reis, que funcionou durante
Catarina, Guardião; Frei João do Monte Alverne,
cento e quatro anos, após sua inaugnração e no
Guardião; Frei Miguel de São Francisco, cronista
guardianato de Frei Inácio de Jesus, habitava uma autor do livro tombo; Frei Miguel de São Francis-
comunidade religiosa de mais de vinte e cinco cos (2.0 ), missionário; Frei Cosme da Piedade, Frei
hades. Jácome da Purificação, Frei Simão do Salvador,
O edifício contudo não era muito grande, o arquiteto do V E L H O ·C O N V E N T O ;
pois, con(orme veremos no decorrer deste trabalho, Frei Antônio de São Lourenço, Frei Francisco do
[oi necessária a construção de um outro Convento Amparo de J esus Maria, missionário; Frei llento
com maiores cômodos para os religiosos e com de Sant'Ana, Frei José de J esus Maria Reis, Frei
maior lgTeja para con ter OS católicOS que, sempre Francisco dos Remédios Carvalho, Comissário Vi-
devotos de Santo Antônio, prestigiavam os frades sitador da Ordem Terceira da Penitência; Frei
franciscanos com sua presença nos atos litúrgicos, Francisco de São José elo Destêrro, Frei João de
mesmo assim, serviu de lgTeja lVIatriz, enquanto Santa Catarina Tanguá, Frei Domingos da Con-
não foi constru (da a nossa atual. ceição Antunes, Frei João de Jesus Maria, Frei

34 35
Antônio de Santa Catarina de Sena, Frei Inácio da . . Apesar. da pouca e desorganizada tropa para
Conceição Morais, Frei Luís do Nascimento, Frei dciesa da VIla, o Governador João Gonçalves Viei-
Tomé de J esus, Frei António das Chagas, conhe- ra enfrentou os atacan tes, tendo na luta mon-ido
cido por " Frei Perneta", Frei Bernardo de Sant' um Alferes das tropas de terra.
Ana, Frei Antônio da Vitória, natural de Paratí; Bombardeado pela poderosa artilharia das be-
Frei Guilherme de Sant'Ana, Frei Martinho de lonaves francesas, o Convento de São Bernardino
Santa Catarina, Frei João da Conceição Fragoso, fi cou muito danificado, tendo o Padre Guardião
Comissário da Ordem Terceira da Penitência; Frei Frei João da Conceição Sanches, com a ajuda do
João de Santa Clara Pinto, Mestre de Canto Chão povo angrense e do Governador Capitão João Gon-
e Frei Fabiano de Cristo, de quem fa laremos no çalves Vieira, levado vários mêses para a reconstru-
capítulo seguinte. ção do edifício.
No primeiro Convento de São Bernardino da Existiu com regularidade c com elevado
Vila de Angra dos R eis da Ilha Grande, foi insta- número de religiosos e com seu noviciado em fran-
lado um noviciado que funcionou ininterrupta e co p rogresso o primitivo Convento de São Bernar·
intensamente até o ano de 1. 735. ?ino, durante cento e quatro anos, até que, em
Durante os ataqu es da esquadra do Almirante JUnho de 1. 76 3, por impropriedade do local onde
J ean François Du Clerc à cidade do Rio de J anei- fôra construído, na antiga localidade conhecida por
ro escorraçados de lá, vieram os franceses atacar "Cachoeira" (atual rua Dr. Moacir de Paula Lobo)
por ser o terreno muito pantanoso e eivado de
A~gra dos Reis no ano de 1. 710, que então se cha-
;~pos, cobras c outros animais dos que geralmente
mava Vila da Ilha Grande. Aqui estiveram do dia
'ao encontrados em charcos, mudou-se a comu-
27 de agôsto até 8 de setembro, ten tando por várias
nidade para o seu nôvo claustro. O atual e arrui-
vêzes o desembarque. nado Convento de São Bernardino . .
Valentemente repelidos pelo Governador, o
Capitão de I nfantaria J oão Gonçalves Vieira, resol-
veram os invasOiies bombardear in;tensamente a
Vila o que fizeram durante todo o dia 7 de setem-
bro de 1. 710, alvejando, deliberadamente o Con-
vento do Carmo e o dos franciscanos.

36 37
FREI FABIANO DE CRISTO
EM ANGRA DOS REIS

Ir
I
I

Pelas tristes arcarias,


Um monge passa, rezando,
Enquanto nas lajes frias
Vão seus passos se arrastando.

Pai-nossos e Ave-Marias
Vai seu rosário marcando ...
(São mortas as alegrias
Para o monge venerando).

De alma pura, a tudo alheia


Mesmo ao céu que azul se arqueia,
Que tão belo não foi visto,

No Convento centenário,
Vai rezando seu rosário
O Frei Fabiano de Cristo.

("POSTAIS ANGRENSES" - Brasil dos Reis)

41
/
I
I sua casa comercial em Paratí, foi o impulso vio-

I len to e decisivo dado por D eus para que João Bar-


bosa, tornando-se franciscano, cumprisse o seu
apostolado na terra.
Frei Fabiano de Cristo que se chamou no No ano de l. 704 estava o Padre Provincial da
século João Barbosa, nasceu na aldeia de So~ng.as, Província Franciscana da Imaculada Conceição,
Freguezia de São Martinho, Conselho da R1be1ra Frei Boaventura de J esus, em visita ao Convento
de Soás, Comarca de Guimarães em Port'ugal, no de São Bernardino de Angra dos Reis, quando
dia 8 de fever-eiro de l . 676, sendo filho de Ger- João Barbosa se apresentou ao referido Provincial
vásio Barbosa e de dona Senhorinha Gonçalves e "se lhe proston aos pés e com voz ente1·necida e
Barbosa. demonstração afetuosa lhe suplicou, que pelo amor
Vindo de sua Pátria, chegou ao Brasil e foi de Deus lhe desse o santo hábito", conforme rezam
para Minas Gerais onde não permaneceu por mui- os documentos da época.
to tempo, pois, logo se mudou, J oão Barbosa para Após rigorosos exames canônicos foi o nosso
Paratí, onde constituiu uma sociedade comercial futuro Frei Fabiano cientificado de que seria rece-
e estabeleceu-se com casa de negócio. Em Paratí bido na Ordem Seráfica. Tomado de grande con-
fêz logo amizade com o Vigário Padre Simão Peres tentamento, desfêz-se de todos os seus haveres em
e fundou a Confraria das Almas na Igreja Matriz Paratí, doando larga esmola para o Convento de
de Nossa Senhora dos Remédios. Porém, um acon- São Bernardino de Angra dos Reis, apresentan-
tecimento lamentável encheu de tristeza o espí- do-se no VELHO CONVENTO da "Cachoeira"
rito de João Barbosa.- Na localidade denomina- no dia 8 de novembro de l . 704 para ser admitido
como noviço.
da "Aparição", distante seis léguas de Parati, uns
Recebido pelo Padre Guardião Frei Boaven-
desalmados assassinaram bárbara e covardemente
tura de Santa Catarina, foi João Barbosa entregue
o seu sócio comercial e leal amigo.
aos cuidados do Mestre de Noviços do Convento
Já no coração do nosso futuro Frei Fabiano de Angra dos Reis. TTês dias ficou o nosso santo
de Cristo, de há muito ardiam as chamas do amor João Barbosa numa cela, orando sob a orientação
religioso e o firme desejo de ingressar numa con- do Padre ·Mestre, preparando-se para a solenidade
fraria católica. E o crime ocorrido com o sócio de da vestição.

42 43
Magnífico raiara o dia 11 de novembro do
ano de 1. 704 em Angra dos Reis. Tôda a comuni-
dade do VELHO CO NVENTO estava reunida na
igreja, quando J oão Barbosa, ajoelhado diante do
altar-mor, foi revestido pelo Padre Guardião, Frei
Boaventura de Santa Catarina, do tão aspirado
burel fran ciscano, símbolo da pobreza e da hu-
mildade.
De acôrdo com a antiga regra franciscana, pas-
sou João Barbosa um ano no noviciado do Con-
vento de São Bernardino de Sena de Angra dos
R eis, cumprindo santamente tôdas as prescrições e
obedecendo cegamente a seus superiores.
Ainda de acôrdo com a severa regra, no dia
12 de novembro de 1. 705, dia consagrado pela
Igreja à festa de São Diogo, durante a solene missa
especialmente celebrada para tal fim, João Barbo-
sa fêz sua profissão de fé, prometendo diante do
altar-mor e do Padre Guardião, obediência, pobre-
za e castidade, tendo nessa mesma ocasião recebido
o nome religioso de Frei Fabiano de Cristo.
D eterminava a rígida regra franciscana que os
neo-professos permanecessem um ano após a pro-
fissão, no mesmo Convento. Deveria, pois, Frei
Fabiano ficar em Angra dos Reis até fins de 1 . 706.
Entretanto, tais eram as qualidades do nôvo frade
q ue o Superior Frei BoavenLura de Santa Catarina
deteminou que Frei Fabiano, no mesmo ano de
sua profissão, no mês de dezembro, fôsse para o
FREI FAIUANO DE ClUSTO
45
Convento do Rio de J aneiro para exercer as fun-
ções de porteiro.
No convento de Santo Antônio do Rio de Ja-
neiro foi Frei Fabiano de Cristo um exemplo de
Santidade. Por sua intercessão foram conseguidas O ATUAL CONVENTO DE
muitas graças que continuam a sê-lo após mais de SÂO BERNARDINO DE ANGRA DOS REIS
dois séculos de sua morte, ocorrida no Rio de Ja-
neiro em 17 de outubro de 1. 747.

16



lhe doou o Capitão Manuel de Carvalho, em cujas
terras têm situado o Convento e poderão usar delas
como suas que são até ao pico com tôdas as tes-
tadas e assim mais das que lhes forem necessárias
No ano de 1. 722 deliberaram os Superiores da (1ue estiverem devolutas, junto das su as, não es-
Ordem Franciscana que deveria ser construído um tando povoadas por outrem ainda que por data
nôvo Convento em Angra dos Reis, visto que o de sesmaria lh e fossem dadas, visto, as não povoa-
primitivo, edificado na "Cachoeira" e num pân- rem nos dois anos do estilo, lhes dou de sesmaria
tano, .estava em p éssimas condições de conservação e as mais que lhes forem necessárias para pastos de
e já era muito pequeno para abrigar uma comu- gados c lenhas que ao pé das suas estiverem, e lhes
nidade de mais de vinte e cinco frades, tendo ainda confirmo as duzentas braças de tenas que a escri-
u m noviciado em pleno funcionamento. tura faz menção com suas testadas até ao pico, dan-
Terreno existia, pois o Capitão-Mor Miguel do-lhes de sesmarias caso na escritura houvesse al-
Teles da Costa, em 1 . 702, havia feito a seguin- guma dúvida ou embargo a isso pelo poder que
te doação, quando da sua estada em Angra para isso tenho <.lo donatário desta Capitania e
dos Reis, naquela época : "Miguel Teles da procuração s:ua e de El-Rei meu Senhor poder para
Costa, Capitão-Mor e Governador desta Capi- o fazer e por esta minha vida dava-lhes e dou para
tania de Nossa Senhora da Conceição de Ita- sempre, e para tudo o que fôr elo serviço elo Con-
nhaem por Sua Majestade que Deus guarde, com vento e serviço de Deus Nosso Senhor J esus Cristo:
poder pelo dito Senhor de dar terras de sesmarias dada na Ilha Grande c sob meu sinal e sêlo, aos
e confirmar as que estiverem dadas na forma das vinte e dois de janeiro de mil setecentos c dois
doações do donatário da dita Capitania e Senhor anos. Miguel T eles da Costa".
da Ilha do Príncipe, etc etc. - Faço saber aos que Tôda madeira ele lei, pedras e cal de marisco
a presente virem, que pelos Religiosos da Ordem foram extraídas respectivamente, no morro de
do Seráfico São Francisco desta Vila da Ilha Gran- Santo Antôn io, nas terras elo Convento e nas Ilhas
de, me enviaram a dizer que êles eram senhores e da baía de Angra dos Reis que eram propriedade
possuidores e estavam de posse de duzentas braças elos hades franciscanos.
de terras de testada com todo o sertão até ao pico No dia 18 de j ulho de 1. 758 foi muito solene-
do outeiro, como tudo constava de escritura que mente colocada a pedra !'undamenLal elo atual Con-

50 51
vento de ~ão Bernardino de Sena de Angra dos João Batista, São João Evangelista, Nossa Senhora
Reis, pelo Yadre Provincial Frei Francisco da Pu- da Conceição (que atualmente se encontra na sa-
rificação, sendo no ato celebrada missa cantada cristia da nossa Igreja Matriz), Sant' Ana, São José,
pelo Padre Guardião do Convento da "CachoeiTa", São Joaquim, Nossa Senhora elo Rosário e Senhor
Frei João d·o :Monte Alverne. As solenidades foram Morto.
assistidas pelo Vigário da Paróquia Padre Manuel Após a inauguração do atual Convento no alto
Antunes Proenca, o Prior do Convento do Carmo, do outeiro, entre as terras pertencentes aos frades
o Juiz Pedâneo: o Senado da Câmara com seus Ca- da Ordem ele São Bento de um lado e de outro com
maristas encorporados e pessoas gradas desta Angra as dos frades do Carmo, o povo angrense passou a
dos Reis, que naquele tempo era apenas Vila. chamar o local de Morro ele Santo Antônio como
Cinco anos gastaram os religiosos e a popula- ainda hoje se denomina.
ção de Angra dos Reis para construir o atual Con - Funcionou o VELHO CONVENTO de São
h 1
vento de São Bernardino de Angra dos Reis. Assim, Bernardino de Angra dos Reis, elo qual atualmente
no dia 20 de maio de 1 . 763, o seu primeiro Guar- só restam ruínas, initerruptamente desde sua fun-
dio, Frei Inácio de Jesus Maria, procedeu a benção dação até meados no ano de l . 859, sendo seu últi-
do nôvo Convento, na presença do Padre Provin- m~ Guardião Frei Manuel de Santa Isabel Bran-
cial Frei .Manuel da Encarnação e de uma comu- dão, que era filho ela Vila de Inhomirim e quando
nidade de mais de vinte e cinco frades. foi Superior do Convento de Angra dos Reis con-
tava apenas vinte e nove anos de idade.
Mudaram-se os franciscanos para a nova casa
no dia 22 de maio daquele mesmo ano, em solene No apogeu do seu funcionamento moravam
procissão, conduzindo o Santíssimo Sacramento no Convento cêrca ele trinta frades, entre sacerdo-
tes e leigos, e até 1 . 819 encontramos sempre um
para o taberné:kulo da igreja do recém-construído
religioso no Convento de São Bernardino exercen-
Convento e transladando as imagens do arruinado
do o carg·o de Comissário da Ordem Terceira, cuja
templo da "CachoeiTa". No préstito processional
funda ção se deu no tempo do Convento da "Ca-
foram conduzidas as imag·ens do orago São Bernar- choeira".
dino de Sena, de São Benedito (a atual que ainda G rande, intenso mesmo era o movimento do
hoje é venerada pelos angrenses), São Boaventura, Convento de São Bernardino. Apesar de no atual
Santo Antônio, Santa Bárbara, São Francisco, São Convento nunca ter existido noviciado, era enor-

53
me a sua movimentação tendo funcionado no mes-
mo uma Escola de Canto-Chão, cujo Mestre era o
Padre Frei João de Santa Clara Pinto, falecido
em 1. 825.
Possuiam os franciscanos grandes áreas de ter-
ras e mui tas ilhas em Angra dos R eis e nos seus
arr edores. Isso fêz com q ue a Câmara de Verea-
dores, em sessão realizada no dia 17 de maio de
1. 788, fizesse um requerimen to ao R ei de Portu-
gal, pedindo que fôsse desapropriado algum terre-
no para ampliação da Vila, dado o pouco espaço
existente na várzea, não tendo, porém, obtido
sucesso.
Dissemos que grandes eram as propriedades
dos frades francisçanos em Angra dos Reis, porque
possuíam duzentas braças de frente, com fu ndos
até as vertentes e tantas mais quantos os religiosos
q uisessem, pela doação feita pelo Capitão Manuel
de Carvalho, possuíam ainda as terras concedidas
pela Carta de Sesmaria datada de 1 . 702 e as da
doação feita pelo Síndico Apostólico Baltazar Men-
des de Araujo em 1. 750, além das seguintes ilhas:
dos "Cabritos", da "Caieira" e da "Sundara" na
baía da Ribeira.
No ano de l . 761 os Superiores deter minavam
ao Padre Guardião do VELHO CONVENTO,
Frei J oão do Monte Alverne qu e não vendesse a
cal de mariscos, feita nas ilhas de propriedade dos
INTERIOR DA IGREJA DO CONVENTO, OBSERVANDO-SE VESTíGIOS
DO COR O
54
/
franciscanos, por ser necessária para a construção
do nôvo •Convento que se estava construindo.
Em I. 790. como existissem moradores que
não queriam reconhecer a Ordem Franciscana
como proprietária das ilhas, resolveram os Supe-
riores vendê-las, sem contudo encontrar pretenden-
tes imediatamente.
Assim, só em 21 de outubro de I. 922 o Padre
Provincial Frei Diogo de Freitas, efetuou a venda
das ilhas ao Dou tor Ciro Tôrres, pelo prêço de
três contos de réis.
Era modesto, porém, austero o edifício do
atual Convento. A parte conventual mede qua-
renta e oito por trinta e oito metros, tendo doze
de altura.
Era um prcdio de dois andares, tendo a tôrrc
quatro, possuía dois clausLro guach·angulares com
arcos laterais c no andar térreo estavam localizados
a cosinha, refeitório, cárcere, sacristia, parlatório,
salão dos capítulos, portaria, dispensa, corredores
claustrais e outras dependências que não consegui-
mos identificar.
No andar superior, além elas celas, de mais
um cárcere, dos corredores, salões e mais cômodos,
estavam localizados o arquivo e a biblioLCca, que
ficavam exatamente por cima do refeitório, no ân-
gulo direito do prédio, com janelas para a frente
do Convento e para o lado da atual rua Doutor

56

l
Moacir de Paula Lobo. tsse salão onde estava lo- dre Guardião, Frei Manuel de Santa Isabel Bran-
calizado o cartório do Convento, tinha o fôrro rica- dão, deixou empenhado por dívidas, quando se
mente decorado com motivos franciscanos. retirou para o Convento de Santo Antônio, no Rio
de Janeiro, em l. 859.
Na saleta da portaria, no andar inferior estava, Sendo uma casa conventual de grande movi-
como ainda hoje se vê, o altar esculpido em ma- mento, possuía uma biblioteca com duzentos e qua-
deira, inspirado no motivo de uvas e parreiras, em renta volumes, entre obras profa nas, ascéticas, sa-
cujo nicho existia uma imagem de São Bern;lrdino gradas escrituras, sermões, teologia moral, história
de Sena, miniatura perfeita da do orago entroni- sacra e história profana e muitos outros livros sôbre
zada no altar-mor da igreja. diversos assuntos, no cartório do Convento- como
Na sacristia via-se artística pia de mármore era denominado o arquivo - existiam muitos
que, juntamente com o Cruzeiro que ainda existe documentos, dentre os quais os Livros do Tombo,
ao pé da ladeira de acesso e os portais da porta prin- cinco de Contas, dois livros de Registro de Eleições,
cipal, foram doados por Dom José I, de Portugal. dois livros Copiadores de Pastorais, um livro de
Característica digna de registro era de o Con- Profissões e Recepções de Noviços, um livro das
vento possuir água encanada que vinha dos ma- Profissões da Confraria do Cordão, um livro de
nanciais existentes no . morro trazida por um Registro de Casamento e Batilados, três de óbitos
aqueduto. dos Religiosos do Convento, um livro de Inventá-
Procurando descrever internamente o Con- rio dos Bens do Convento, um livro de Registro de
vento de São Bernardino, dissemos que não havia- óbitos de Escravos, dois livros ela Irmandade de
mos conseguido identificar a finâlidade de muitos Sant'Ana, um livro para assentamentos de Missas
cômodos na parl'e térrea do prédio. rezadas na Igreja elo Convento, cento e setenta e
Possu indo o Convento um grande número de quatro documentos catalogados alfabéticamentc
escravos, naturalmente, algumas dessas dependên- um pacoté contendo vinte c seis documentos avul-
cias seriam senzalas. No ano de l . 808 possuíam os sos, um maço com seis testamentos nos quais o
franciscanos em Angra dos R eis, trinta e três ne- Convento de São Bernardino era o beneficiado e
gros cativos, sendo vinte e quatro homens e nove onze papéis diversos perLencentes à Beata, (nada
mulheres, e no último ano de funcionamento do conseguimos apurar a respeito dessa indecifrável
Convento, apenas um escravo existia, o que o Pa- (l ' Beata. Acreditamos que fossem manuscritos refe-

58 59
rentes à jovem Maria Isabel da Visitação Corrêa,
que faleceu em 23 d e julho de l. 822, em odor de
santidade, cujo corpo mumificado se encontra nE>
cemitério da Ordem Terceira do Carmo). Todos
êsses livros c documentos foram remetidos para o Na sua cela humílima e vasia
Convento de Santo Antônio, no Rio de J aneiro, Triste o Santo medita. A tarde desce.
E a sua alma na sombra se angustia
que era a casa capitular, pelo Síndico Apostólico
Ao dealbar do crcpüsculo. Anoitece.
em l. 859, logo após ter o VELHO CONVENTO
deixado de funcionar.
A essa hora espiritual da Ave-Maria,
Sob o confôrto místico da prece,
O Santo monge sente a nostalgia
Do claustro e o peito opresso ar fa e estremece.

Ele pensa no mundo, pensa, orando,


Na maldade dos fmpios, na desdita
Dos que da fé não tem o alívio brando.

E do Convento o meigo Irmão porteiro


Seu rosário a rezar com fé contrita,
Resa a Deus pelo povo brasileiro.

("BRASõES ANGRENSES" - Brasil dos Reis)

,,
60 61
A IGREJA DO VELHO CONVENTO
Quem entra hoje nas ruínas da Igreja do Con-
vento de São Bernardino de Sena de Angra dos
Reis, não pode, nem consegue saber da simplici-
dade artística e da beleza arquitetônica e pictórica
do velho templo franc iscano. O que atualmente
é ruína, foi monumental, foi grandioso ! ...
Nós tivemos a ventura de vê-lo ainda intacto
em 1. 926 e nela assistimos a muitos atos religiosos
Acompanhe-nos o leitor, entremos na Igreja na-
quele ano.
No altar-mor todo trabalhado em talha com os
frisos folheados a ouro, em seu trono, um belíssimo
crucifixo de jacarandá; no nicho a artística ima-
gem do Orago São Bernardino de Sena, protegida
por grossa vidraça; nas pequenas peanhas laterais,
as imagens de Santo Amônio à direita e a de São
Boaventura à esquerda; o presbitério guarnecido
com grades de madeira torneada possue seis tri-
bunas laterais envidraçadas; no corpo da nave mais
qua tro altares laterais. No primeiro, à esquerda de
quem entra, no nicho central a imagem de Sant'-
Ana, encimada pelo emblema do Divino Espírito
Santo esculpido em madeira e folheado a ouro
e dos lados, entre colunas, as imagens de São
J oaquim e de São J osé; no segundo, ainda à es-

65
querela, a imagem de São Francisco de Assis la- Ienes e tradicionais Missas Cantadas c das poéticas
deada pelas de São João Batista e São J oão Evan- trezenas de Santo Antônio, rezadas ao mês de junho
gelista; do outro lado, isto é, do direito a tradicio- no VELHO CONVENTO.
nal imagem de São Benedito, a mesma que veio do Do outro lado, majestoso arco escavado na pa-
primiLivo Convento da " Cachoeim", e que ainda rede, cuja finalidade desconhecemos, desconfian-
hoje é venerada por todos os angrenses e cultuada do, porém, que na construção do templo se proje-
pela secular e Venerável Irmandade de São Bene- tasse erigir uma capela lateral, como era uso nos
diLO; finalmente no último altar vamos enconLrar conventos, idéia depois abandonada.
a de Nossa Senhora da Conceição, excelsa padroei- Passando por uma por:ta lateral na Capela-
ra de Angra dos Reis, que atualmente se encontra -Mor vamos ter na sacrislia. De um lado, artística
na sacrislia da Igreja Matriz, a qual sai nas procis- pia de mármore, presente de Dom J ose I, de Por-
sões do dia oito de dezembro. tugal; defronte, um enorme arcaz de jacarandá e
Nesse último altar a Virgem da Conceição sôbre êle uma cruz de madeira com a imagem do
t·e m aos lados as imagens de J esus Menino e a de Crucificado em prata portuguêsa.
SanLa Agueda. Quanta grandeza contrastando com a decadên-
D etalhe importante é o de que São Benedito, cia do presen te ! ...
no seu allar, não tem as indefectíveis imagens la- Leitor, volla conosco à Igreja, levanta a vista
terais, talvez porque no tempo do cativeiro os se- e olha o riquíssimo lustre de cristal que pende do
nhores de escravos em Angra dos Reis não permi- teto na altura do arco·cruzeiro. Só nêle são acesas
Lisscm que Santos brancos, ladeassem o Orago da cem velas que juntamente com as dos globos pen-
Irmandade dos negros seus escravos. De outra for- dentes das paredes c as dos ricos castiçais ele ma-
deira dos altares, produzem as luminárias nas noi-
ma não compreendemos.
tes de ladainhas ou nas solenidades noLUrnas da
Ainda do lado direito de quem penetra no
Quaresma.
samuário vemos magnífica obra de talha folheada
Não esqueça meu caro leitor, que estamos no
a ouro- é o púlpito, no qual tantas vêzes o verbo ano de 1 . 926. O templo está mal conservado, po-
inflamado e convincente do franciscano angrensc rém, intacto, perfeito. O fôrro e o assoalho estão
Frei José de São Boaventura, foi ouvido contrita em bom estado. Sôbre a grade do côro vê-se um des-
e respeitosamente pelos fiéis frequentadores das so- lumbrante docel de madeira trabalhada, tendo na

66 67
parte interna a imagem de Jesus Crucificado e na tudo como velharia inútil na Capela-Mor, vedan·
externa, um alto relêvo representando São J e- do-a com tá~oas arrancadas elo assoalho, como que
rônimo. tomados de mconoclasto vandalismo l
Sob o côro, na porta principal, servindo de Nos séculos dezesseis a dezoito, quando o Con-
paravento, uma cortina de damasco carmezim, com vento de São Bernardino estava em funcionamen-
bordados a ouro. to e nêle moravam cêrca de trinta frades, grandes
eram as festividades religiosas que se realizavam
Mas se encontramos intacta a Igreja do Con-
em sua Igreja.
vento de São Bernardino em 1 . 926, devemos agra-
As mais pomposas eram as comemorações em
decer aos Síndicos Apostólicos Antônio Francisco
louvor ao Orago São Bernardino no dia 20 de maio
Corrêa Viana e Vitorino José Coutinho e final-
de cada ano, que sempre eram precedidas de no-
meu te aos · abnegados angrenses já falecidos, Antô-
venário realizando-se grandes missas cantadas mui-
nio José Moreira, Antônio Simeão dos Reis, Fran-
to concorridas, e a ele Santo Antônio, com sua tre-
cisco João do Rosário, João Graciano da Rosa,
zena, fogueira no adro ela Igreja, balões, fogos de
An.tônio Ca~atau , Ger.a ldo Pedro Fernandes e Joa-
artifício e farta distribuição ele cará e melado, pre-
qunn Francisco de Lnna que, como irmãos-mesá-
parado pelos escravos do Convento.
rios da Venerável Irmandade de São Benedito, em
Notáveis, também, eram as solenidades da
princípi?s do ano de l. 904, com o seu próprio tra-
Quaresma, que se iniciavam com a célebre procis-
balho,. VISto que eram todos operários, e com a aju-
5ão do fogaréu na quarta-feira de cinclas, quando
da financeira da Mesa Administrativa da Irmanda-
saíam em andores todas as imagens que ainda hoje
~e, fizeram reparos gerais na Igreja, numa tentativa
se conservam e estão sob a guarda da Ordem Ter-
f-rustrada de conservar tão preciosa relíquia do
ceira da Pen itência.
passado.
Porém, a mais concorrida e porque não dizer
Dizemos tentativa frustrada, porque, abando-
a mais tradicional e bela, era a ele São Benedito
nada pelas autoridades civis e religiosas, foi, final- feita pela sua Venerável Irmandaçle na segunda~
mente, não reparada, mais destruída pelos próprios -Jeira ele p<Íscoa.
Superiores ela Ordem Franciscana, quando em A Irmandade ele São Benedito foi fundada
1 . 927, mandaram inacreditàvelmente, desmontar ainda no VELHO CONVENTO da ((Cachoeira"
os altares e destelhar o corpo ela Igreja, jogando A
pe1os pretos escravos de Angra dos Reis, dela só
'

68 • 69
podendo fazer parte os cativos ou alforriados. Por família africana, analfabeto, simples Irmão-leigo
isso se chamava "Irmandade de São Benedito e franciscano, chegou - mercê de suas virtudes - às
Nossa Senhora do Rosário dos Homens Prêtos" culminâncias de Guardião do Convento de Santa
conforme se vê do alvará de aprovação do primeiro Maria de Jesu s, em Palermo.
compromisso. É por isso que a festa do glorioso São Benedi-
Mui ta gente acha estranho que a festa de São to, em Angra dos Reis se realiza na segunda-feira
de páscoa.
Benedito em Angra dos Reis se realize na segun-
Não vamos descrever para o leitor as tradi-
da-feira da páscoa, e não no dia do próprio Santo
cionais procissões de São Benedito. Vamos dar-lhe
que é 3 de abril.
prazer maior. Em companhia do Doutor Johann
Em nosso paciente e difícil trabalho de pes- Emanuel Pohl, sábio médico austríaco que es-
quisa da história angrense, conseguimos elucidar a têve em Angra elos Reis em 1 . 818, vamos assistir
questão. - Os senhores de engenho quase todos da a procissão realizada na segunda-(eira, dia 23 de
zona interiorana de Angra dos Reis e Ilha Grande, março daquele ano, transcrevendo na fntegTa sua
possuíam casas ou sobrados na atual cidade, que descrição contida no livro "VIAGEM AO INTE-
eram zeladas por seus escravos e que nelas residiam, RIOR DO BRASIL", de autoria do referido mé-
para permanecerem quando estivessem na sede do dico, editado em Viena, no ano de 1. 837. - "A
burgo angTe nse, quer para tratar de negócios, quer festa inicia-se por uma Missa Cantada, depois da
para curar enfermidades e muito principalmente qual se faz uma procissão solene no Convento diri-
para virem às festas religiosas, especialmente as so- gido pelos frades franciscanos. O conjunto oferece
lenidades da Semana Santa, quando assistiam as aspecto peculiaríssimo. ~ brem o cortejo negros
procissões da Via Sacra, do Entêrro, do Encontro, com capas de sêda roxa , com velas acesas na
a malhação do Judas no sábado de alelúia e afinal mão, e bandeiras ondeantes. Outros trazem em
a procissão da R essurreição no domingo de páscoa. andores figuras de madeira talhada, e afinal apa-
Aproveitando a estada dos senhores na sede da rece a imagem em tamanho natural, de São Bene-
comuna, os escravos que obrigatoriamente vinham dito, conduzida por prêtos. Todo o povo se ajoe-
acompanhando os seus donos, resolveram, com a lha. I mediatamente atrás da imagem vem o Padre
aquiescência dos mesmos, comemorar e festejar seu que debaixo de um pálio conduz o Santíssimo.
protetor São Benedito, que oriundo de humilde Então separado por um pequeno intervalo aparece

70 71
/

um prêto caracterizado de Rei) com uma corôa 1


dourada na cabeça, um cetro de madeira dourada
na mão e envolto num manto de sêda. Um menino
sustém a cauda do manto, vendo-se aos seus lados,
em trajes oficiais diversos, os dignatários. À êstes Festa de São Benedito.
se segue, em traje oriental, com turbante na cabe- O programa é "assim" de bão!
ça, a Rainha) com seu séquito feminino. Fechando E logo à noite é meu fito
o cortejo, soldados descobertos de seus capacetes, T er de assistir o leilão.
com as a1mas em funeral. Ressôa música e fogue-
tes enchem o ar". " ttal Festejo bQnito!"
Não era muito diferente da de hoje a festa de Diz o povo em comoção.
São Benedito em 1 . 818. Só não chegaram até os (O povo que mui contrito
dias atuais as figu ras do R ei e da Rainha. Acompanha a procissão.)
Infeliz abolição. Não se deve nem se tem o
direito de acabar com a tradição. A falta de tradi- De noite é o Leilão de prendas;
ção representa a pobreza histórica de um povo. Dôces, segredos) prebendas
A última vez que os sobemnos fizeram parte E tudo mais que tiver!
da procissão de São Benedito foi no ano de 1 . 898
e foram representados pelos ex-escravos Adão João E eu conto a minha potóca,
Fernandes - Adão Canasco - como era vul- Prá cima de uma chinóca
garmente conh ecido e a preta Catarina Maria Que vai ser minha mulher!
Antônia.
"POSTAIS ANGRENSES" - Brasil dos R eis

72 73
/
r

A LENDAS DO

e\
CONVENTO DE SÃO BERNARDIN O

.D..-.,.._..,~
A-:~u- IJ6'/."

.JA NELAS DOS CARCERES, DANDO PARA O SECUNDO


CLAUSTRO
l
Não podiam os frades franciscanos e seus Con-
ventos em Angra dos Reis passar sem ter suas len-
das, suas estórias.
Como já vimos no decorrer dêste nosso tra-
balho, duran te a invasão francesa de 1 . 71 O, esti-
vera a esquadra de Duclerc bombardeando a vila
e deliberadamente o VELHO CONVENTO , ao
tempo do guardianato de Frei J oão da Conceição
Sanches.
Com os poucos recursos de que dispunha, o
Governador enfrentou o ataque. Com a vila cada
vez mais bombardeada, com o ·Convento de São
Bernardino sendo muito alvejado, a população-
diz a lenda - refugiou-se no primitivo Convento
dos franciscanos, localizado na " Cachoeim" e oran-
do fervorosamente implorou a proteção Divina .
. . . Rezava a população angrense j untamente
com os piedosos monges do Convento, quando uma
certeira bôca de fogo francesa alveja a porta prin-
cipal do Convento. N esse momento a imagem do
Orago São Bernardino de Sena, como que receben-
do vida, desce de seu nicho no altar-mor e começa
I I
a aparar as balas com as mãos I

77
Brasil dos Reis, o laureado poeta angrense, eram os frades que andavam evangelizando os
nos seus ((Postais") assim nos retrata a lenda: índios do nosso litoral. Uns eram sacerdotes, ou-
tros, simples irmãos-leigos.
Conta uma lenda bonita Constantemen te esses religiosos viajavam a pé
Que a gente antiga encantou, ou a cavalo vindo e indo dos aldeiamentos paulis-
A história de uma desdita tas, até os da Ilha Grande, que os silvícolas che-
Que na vila se passou. fiados por Cunhãbebe denominavam de Ypau-gua-
çú. Êsse hábito e a necessidade de tais caminhadas
Uma galera maldita persistiram até mesmo depois da construção dos
Qu e a mão do Demo empurrou, Conventos de Angra dos R eis.
Em nossa plaga bendita Como ponto de apôio, mantinha a Ordem
Franciscana um Síndico Apostólico na vila de Pa-
Um dia aziago aportou.
ratí, para tratar da matolotagem e das jJousadas dós
Logo um tiro os ares corta . . . frades, conforme dizem os documentos antigos que
compulsamos. Um dos últimos Síndicos franc isca-
Do Convento à larga porta
nos na referida vila de Parati fo i Gaspar Mar tins
Cai - e enquanto em confusão,
Figueira.
Numa dessas rotineiras viagens, via de regra
A rebaLc Loca o sino,
tranquilas, depois de ter sido assistido pelo Síndico
Desce o altar São Bernardino
de Paratí, onde naturalmente teria se 1·e[rescado de
E apanha a bala com a mão ! tão árdua quão penosa viagem, u m piedoso frade,
como tantos outros, tomou o destino da vila de
Outra lenda inLeressarite é a do "Morro do Ilha Grande.
Frade". Atualmente dizem que a denominação se Com certeza, conhecendo o idioma de Cunhã-
deve ao fato de o pico do morro representar a for- bebe, vinha o frade ministrando aos índios a ver-
ma de um monge com capucho alçado. Nada disso. dade de Deus.
A razão é muito outra, vamos contá-la. - Antes Descon fiados e sobretudo muito enganados
da fundação das casas franc iscanas nestas paragens pelos estrangeiros que, incl usive, os escravisavam
c mesmo depois da ereção dos Conven tos, muitos os silvícolas do aldeiamento de Mambucaba, n ão

78 79 .
acreditando na pregação de fé do religioso francis-
cano, resolveram liquidá-lo; não com ritual pró-
prio dos prisioneiros de guerra, mas de maneira
diferente.
Caminhavam todos. . . O frade doutrinando DECADQ.NCIA, REQUISIÇõES E RUíNAS
os índios e estes esperando o momento oportuno
DO VELHO CONVENTO
para abatê-lo, conforme instruções do Cacique.
Finalmente, quando transpunham a majestosa
montanha, que hoje é denominada "do Frade", u m
dos selvagens desfechou certeira e mortal pancada
com seu tacape na cabeça do indefeso franciscano.
. . . E daí para cá, a montanha ficou conhe-
cida como " Morro do Frade".

I,
I
I

80
Começou em 1 . 831 a decadência do Conven-
to, pois, daquele ano em diante, somente moravam
nêle dois frades - o Guardião e um Irmão Lei-
go - e de l . 838 para frente encontramos apenas
o Guardião residindo no Convento.
Nesse estado de abandono começaram as au-
toridades da Província e mesmo as de Angra dos
Reis a solicitar o edifício para as mais diversas
finalidades, como adiante veremos.
Necessitando ser reparado o prédio do Semi-
nário de Jacuecanga em l. 824, o Govêrno da Pro-
víncia solicitou aos Superiores franciscanos que
fôssem abrigados no Convento de São Bernardino
os internos do referido Seminário que eram meni-
no pobres e na maioria órfãos, tendo o Padre Pro-
vincial, depois de ouvir o Guardião do VELHO
CONVENTO, Frei Mateus de Cristo, atendido o
pedido do Governador.
Em 23 de fevereiro de I . 825 novamente vol-
taram os alunos do Seminário da Santíssima Trin-
dade de J acuecanga para o Convento de São Ber-
nardino sendo recebidos e hospedados piedosamen-
te pelo Padre Guardião, Frei H enrique de Sant'-
Ana, porquanto as obras de reparos do prédio do

83
,
educandário fu ndado pelo Irmão Joaquim do Li- cação, implorava ao seu Superior que revogasse o
vramento, assim o exigiam. contrato que havia permitido o funcionamento do
Cada vez mais arruinado o prédio do Seminá- Liceu no Convento, porquanto a população an-
rio de J acuecanga e precisando de grandes conser- grense não ajudava mais aos frades franciscanos,
tos, voltaram outra vêz os seus meninos para o alegando que tinham alugado a casa e também
Convento de São Bernardino em setembro de para sossêg·o dos frades residente no Conven to, pos-
1. 831, no Guardinato de Frei Francisco de Santa suindo o curso apenas um aluno internado e pou-
Clara. cos estudando.
Mais uma vêz o Govêmo Provincial em l . 839 Por falta de alunos o Liceu Provincial cessou
pretendeu o Convento de São Bernardino. Desta suas atividades antes do término do prazo contra-
feita, porém, queria trocá-lo pelo edifício do Semi- tual com os frades franciscanos.
nário de Jacuecanga para nêle instalar o Liceu Pro- Manifestando-se uma epidemia de febre ama-
vincial recém-criado, tendo a êsse respeito endere- rela em Angra dos Reis, em setembro de l . 855, o
çado carta de 6 de junho ao Padre Provincial, Frei Presidente da Província voltou a pedir aos dirigen-
Joaquim de São Jerônimo Sá, sendo negada a pre- tes da Ordem franciscana que cedessem um dos
tensão governamental pelo ddinitório dos fran- salões do Convento de São Bernardino para nêle
ciscanos. instalar uma enfermaria de emergência, para tra-
tamento dos enfermos indigentes, tendo o Padre
Como que tomado por uma idéia fixa, o Vis-
Provincial, Frei Antônio do Coração de Maria
concordado, e mais, determinado a~ Padre Guar~
conde de Baependi, que governava a Província do
Rio de Janeiro, da qual Angra dos R.çis era com- dião, Frei Luís de Santo Ambrósio, que era o úni-
ponente, voltou em carta de julho de l . 840 a pos- co morador do Convento, que desse assistência reli-
tular a cessão do Convento, mas mediante uma giosa aos enfêrmos, dando sepultura aos que vies-
espórtula e pelo prazo de nove anos, tendo então sem a fa lecer, no cemitério dos escravos, nos fundos
os Superiores franciscanos aceitado sua proposta. do Convento.
Somente em 1 . 843 foi instalado o Liceu Pro- Debelada a epidemia, tomou o Govêrno Pro-
vincial no Convento de São Bernardino. Escreven- vincial a querer fazer funcionar novamente o Li-
do ao Padre Provincial em carta de 4 de abril de ceu no · Convento. Para tal determinou que um
l . 849, o Padre Guardião, Frei Bernardo da Purifi- engenheiro do corpo de funcionários da Província

84 85
viesse à Angra dos R eis examinar o estado cie con- Casa de Misericórdia e Ordem Terceira de São
servação do edifício e apresentasse orçamento para Francisco da cidade de Angra dos Reis, cabe-me
as obras, que seriam custeadas pelo tesouro do participar a Vossa Excelência que a Administra-
Govêrno. ção da Ordem, fundada em ponderosas razões, e à
Orçou o engenheiro em quatorze contos de vista dos embaraços que obstaram a realização do ·
réis (atualmente NCR$ 14,00) os reparos gerais do contrato projetado acêrca do Convento da cidade
prédio. Todavia, tais obras não se realizaram. de Santos, resolveu ultimamente não alienar mais
Como que condenado a fugir de sua finalidade, O casas, terrenos, ou outros objetos que lhe perten-
VELHO CONVENTO de São Bernardino Sena
cem, quer por cessão gratuita, quer por venda ou
de 'Angra dos Reis, depois de ser colégio e isola-
qualquer título, exceto o da desapropriação legal,
mento de doentes, quase virou Santa Casa.
quando o reclamar a utilidade pública. Como
Para isso a Irmandade da Santa Misericórdia, Vossa Excelência não ignora, alguns dos nossos
em 1 . 860, pediu aos Superiores franciscanos que Conventos e terrenos hão sido generosamente ce-
doassem o Convento c suas terras para o hospital didos pela Corporação que, apezar de pobre, ne-
da Santa Casa. nhuma retribuição tem procurado até hoje, além
Também a Ordem Terceira Franciscana de da honra de ser útil à Pátria, não pode, porém,
Angra dos Reis pretendeu o Convento no mesmo dar o pouco, que lhe resta, nem sacrificar-se, pare-
ano de 1 . 860. Tanto a Santa Casa como a Ordem ce que é tempo de tocar também a glória a outras
Terceira tiveram seus pedido rejeitados pelo defi- Ordens mais opulentas, e que talvez por isso, suas
nitório, em sessão realizada no dia 11 âc setembro Casas não são apetecidas. Os Religiosos estão no
daquele mesmo ano, conforme se podenl. ver da firme e inabalável propósito de nada perderem -
carta q ue passamos a transcrever, e que foi dirigida
daqui em diante, senão pelo poder da lei, ou da
ao Presidente da Câmara de Vereadores- de Angra
fôrça, contra a qual não há resistência e nestes
dos R eis, Comendador João Pedro de Almeida,
pelo P adre Provincial: " Ilustríssimo e Excelentís- princípios, apezar do respeito e alta consideração
simo Senhor. Em resposta à carta que Vossa Exce- que Vossa Excelência nos merece, pedimos-lhe
lência fêz-nos a honra de dirigir com data de ontem, vênia, por não acedermos ao pedido que se nos
solicitando a solução dos requerimentos da Santa faz, por. sua valiosa intercessão.

86 87
Desejando a Vossa Excelência e à sua nobre
família saúde perfeita e tôdas as felicidades, temos
a honra de subscrevermo-nos. De Vossa Excleên-
cia, humilde servo. O Provincial, Frei Antônio do
Coração de Maria Almeida".
Graças às informações desfavoráveis do Síndi··
co Apostólico Antônio Francisco Corrêa Viana
- na nossa opinião - devemos o desabamento do
VELHO CONVENTO, pois, acreditamos que se
o Provincialato franciscano tivesse permiLido que
a Ordem Terceira de São Francisco de Angra dos
R eis zelasse pelo seu Convento e pelo seu patrimô-
nio, o Convento e a Igreja de São Bernardino não
estivessem em ruí nas, como não está a Capela de São
Francisco da referida confraria, que sendo da idade
do Convento es lá em perfeitas condições de con-
servação e em funcionamento, graças ao amor dos
terceiros franciscanos pela sua casa religiosa em
Angra dos Reis. O Dcfinitório Franciscano, no
dia 11 de setembro de 1. 860, indeferindo o pedi-
do da Administração da Ordem Terc~ ira , conde-
nou o Convento de São Bernardino de Angra dos
Reis à ruína.
Numa tentativa desesperada para salvar êsse
verdadeiro monumento, testemunha muda. mas
eloquente, da grandeza c da fé do povo angrense, o
Sindico Apostólico Antônio Francisco Corrêa Via-
na mandou fazer no ano de 1. 860, por sua conta,
obras no Convento, retirando as goteiras e subs-
PORTA DE ENTRADA DO CÁRCERE TtRREO
88
tituindo o madeirame estragado e mandando fa.z er tônio de São Miguel, falecido no Convento em
pintura externa. 1. 838; Frei J osé de São Boaventura, natural de
Conforme já dissemos, êste nosso escrito pode- Angra dos Reis, em l . 823 era Comissário ela Or-
ria ser muito mais completo, se as nossas súplicas dem Terceira; Frei Manuel elo Coração de Maria,
tivessem sido atendidas pelo Provincialato francis- falecido no Convento em julho de 1. 835; Frei Ale-
cano sediado em São Paulo, para nos permitir con- xandre de Santa Dorotéia Mourão, Comissário da
Ordem Terceira em 1. 768; Frei Dionísio de Santa
sultar o seu arquivo.
Pulquéria, falecido no Convento em junho de
Como, porém, isso não nos foi possível, con- 1. 81 1; Frei Manuel da Conceição Salgado, Por-
tamos, apenas, com os escassos elementos consegui- teiro do Convento ele 1. 786 à 1. 787; Frei Custó-
dos em fontes menos férteis. dio de Santa Clara Silva, falecido como Guardião
Assim, apuramos que no atual Convento de do Convento em 29 de outubro de 1. 800; Frei
São Bernardino de Sena de Angra dos Reis habi- Antônio da Natividade Martins, Lente de moral
taram, além de muitos outros, os seguintes frades: do Convento em 1 . 781; Frei Manuel Luís da Con-
Frei Antônio de São José, Comissário da Ordem ceição Teixeira, Comissário da Ordem Terceira
Terceira em 1. 754; Frei Luís de São J osé, faleci- em" 1. 780; Frei Luís de São Bernardo Alber-
do no Convento aos 28 de dezembro de 1. 796; garia, Lente de moral no Convento em 1. 787; Frei
Frei Eleutério de Santa Rosa de Viterbo, falecido Antônio da Natividade Costa, Comissário da Or-
no Convento em 10 de j unho de 1. 797; como Co- dem Terceira em l. 809; Frei J oaquim ela Santís-
missário da Ordem T erceira; Frei Francisco dos sima Trindade Neto, Comissário de Ordem Ter-
Remédios Carvalho, Comissário de Or<km Tercei- ceira em 1 . 784; Frei Bernardo da Purificação, na-
ra em 1 . 783; Frei João de Santa Clara Pinto, que tural de Angra dos Reis, Guardião em 1. 838; Frei
durante 40 anos foi Mestre de canto-chão no Con- Manuel do Coração de Maria, falecido no Conven-
vento; Frei João da Conceição, falec ido na Vila to em julho ele 1. 835; e Frei Manuel de Santo
de São João Marcos em 1. 825, quando esmolava Olavo, que era angrense, e que, após secularisar-se,
para o VELHO CONVENTO; Frei Sebastião de veio a ser o Vigário da Paróquia de 1. 874 à 1. 877
Nossa Senhora da Penha, falecido no Convento em e de 1 . 882 à 1 . 887, com o seu nome secular de
16 ele abril ele J . 833; Fre i Manuel de Santa Veri- Padre Manuel Olavo de Souza. O ex-[rade fran.-
eliana, Porteiro do Convento em 1. 819; Frei An- ciscano angrense Padre Manuel Olavo de Souza

90 91
era filho de Sebastião Gonçalves de Souza e de bilidade da instalação daquele estabelecimento de
Dona Rosa da Conceição, ingressou na Ordem Se- ensino militar em Angra dos Reis, por não haver
ráfica em 6 de setembro de 1 . 848, tendo feito sua na circunvizinhança do Convento planície suficien-
profissão solene em 8 de setembro de 1. 840, rece- te para os exercícios de ginástica e ordem-unida dos
bendo ordens em 4 de agôsto ele 1 . 850 e faleceu alunos, concluindo que fôsse o mesmo erigido
no cargo de Vigário ele Angra dos Reis em 6 de na Côrte.
fevereiro de: 1 . 887. Continuando desabitado, cada vêz mais foi se
Quando o nosso ilustre conterrâneo General arruinando o Convento, apezar do zêlo ele Síndico
Honório de Souza Lima era deputado à Assembléia Apostólico Antônio Francisco Corrêa Viana e de
Provincial, no ano de 1 . 883, numa tentativa vã de ter numa das dependências a Mesa Administrativa
salvar o edifício do Convento de São São Bernar- da Venerável Irmandade de São Benedito. Mes-
dino, apresentou no dia 18 de setembro daquele mo assim continuava a ser cobiçado o malsinado
ano, o projeto de lei n. 0 3. 280, que propunha o monastério para os mais diversos fins.
estabelecimento de u m depósito de menores no Em 1. 865, durante a guerra do Paraguai, apa-
já arruinado monastério. Tal proposição, no en- receram alguns casos de varíola em Angra elos Reis,
tanto, não chegou a ser objeto ele deliberação, fi- tendo a Câmara de V ereaclores solicitado ao Pro-
cando arquivada, sem qualquer solução. vincial Franciscano, em pedido assinado pelo seu
Apesar de não ter obtido sucesso na sua pri- Presidente Manuel de Almeida :Marques, junta-
meira investida para preservar o prédio da tradi- mente com os demais membros da Colenda Câmara,
cional casa franciscana de Angra do~ Reis, mais que naquela época se compunha dos Vereadores
tarde voltou o nosso abnegado conterrâneo a suge- Manuel Jordão da Silva Vargas, Luís da Cunha
rir ao Govêrno que fôss·e aproveitado o VELHO Pinto, Antônio José da Silva Júnior, Padre Domin-
gos Fernandes Vieira, Antônio Francisco da Silva
CONVENTO como depósito geral para imigrantes.
Lima, Manuel de Souza Dias, Antônio José de Car-
No ano de I. 889 quiz o Govêrno Imperial valho e Julião Pereira Maia, além elo Presidente,
instalar no Convento ele São Bernardino de Angra que permitisse a instalação de uma enfermaria no
dos Reis, o Imperial Colégio Militar. Criada uma Convento. Após ter sido ouvido o Síndico Apos-
comissão para opinar sôbre o assunto, depois de tólico Antônio Francisco Correa Viana, foi final-
ter vindo examinar o edifício, concluiu pela invia- mente dado permissão.
92 93

I 11
Ao tempo do Padre Provincial Frei J oão do Barreto nunca mais se tapou uma goteira, se fêz
Amor Divino Costa, em l. 871, mais uma vez foi uma limpeza no telhado, se substituíram madeiras
o Convento transformado em hospital para isola- estragadas ou se remendou uma parede. Foi o
lamento de enfermos atacados de varíola, ocupado abandono total e criminoso.
manu-militari pela Câmara de Vereadores, que Cheio de goteiras, com as paredes caindo, mui-
naquele período era composta quase que exclusiva- to a1Tuinado, não mais foi requisitado o Convento
mente por militares e estava assim constituída: e ficou inabitado até ruir completamente.
Doutor Dinis Frederico de Vilhena, Presidente; Falecendo o Síndico Apostólico Vitorino José
Major José Francisco Magalhães, Capitão Bento Coutinho, obteve patente para substituí-lo o abas-
J osé Travassos, Capitão João Alvarenga da Rocha, tado fazendeiro angrense Manuel Joaquim da Fon-
Major Francisco Figueiredo de Andrade, Tenente seca Júnior, que, entretanto, deixou que o" edifício
Luís Antônio de Sousa, Capitão Bernardo Teixei- do Convento de São Bernardino de Scna de Angra
ra da Cunha Lousada, Capitão Francisco Gonçal- dos R eis, com um passado de tantas grandezas e
ves da Nóbrega e Alferes José Joaquim Pinto Mon- tradições desabasse funebremente nos primeiros
teiro, Vereadores; de nada valendo os protestos anos dêste século.
do Síndico Apostólico Antônio Francisco Corrêa Duas alas de corredores, no andar superior, re-
Viana. sistiram às intempéries e numa delas permaneceu
Tendo falecido Antônio Francisco Conêa instalada a Administração da Irmandade de São Be-
Viana em setembro de l. 879, foi nomeado Síndico nedito até bem pouco tempo, isto é, até se mudar
Apóstólico o Vice-Cônsul de Portugal em Angra para a Igreja de Santa Luzia.
dos Reis, Vitorino J osé Coutinho, que no ano de Essa ala, como que num desafio ao tempo e ao
1. 892, auxiliado pelo benemérito angrense João abandono, ou para testemunhar a glória de um
Raimundo da Câmara Barreto, procedeu a novas passado e o esplendor de uma vida, ainda hoje está
obras no VELHO CONVENTO, tendo o Padre de pé. A outra foi demolida por se ter constituído
Provincial Frei João do Amor Divino Costa se em perigo para os visitantes das ruínas.
prontificado a indenizá-los e a dar uma quantia Mas não foi só um corredor que se manteve de
mensal para limpeza e conservação do prédio. pé, resistindo à fttria do tempo c o descasso dos
Depois dos reparos mandados fazer por Vito- homens, para trazer até nós o reflexo de um esplen-
rino J osé Coutinho e João Raimundo da Câmara dor longiquo. Apesar de várias vêzes defeituoso e

94 95
muitas outras re"parado, continua até hoje, teimo-
samente. batendo as horas no smo do VELH O
CONVENTO, o não menos velho relógio, de fa-
bricação germânica, instalado na tôrre, logo após a
inauguração da casa.
] á esteve parado em diversos períodos, e, em
1. 855 o Delegado de Polícia, Coronel J oão H uet
Bacelar Pin to Guedes, escrevia ao Padre Provin-
cial, pedindo que fosse consertado o utilíssimo
relógio, gue se achava danificado, pois era muito
necessário para a população o toque das dez horas
da noite, anunciando o silêncio e o repouso da
comuna.
Pelos superiores francisc anos foi então deter-
minado ao Padre Guardião do Convento de São
Bernardino, Frei Moisés Lino de Santa Agueda,
que providenciasse para que o relógio voltasse a
funcional·, no que foi atendido.
Recentemente, a Ordem Terceira fra nciscana
e o hábil relojoeiro angrcnsc Mário Pires, têm feito
os concertos e zelado pela conservação c fu nciona-
mento de tão preciosa relíquia histórica, c por isso
ainda hoje, sob as ruínas do VELHO CONVEN -
TO, tôda população continua escutando o plan-
gente b adalar das horas no sino grande, como o
pulsar de u m coração renilentc ao corpo de um
moribundo inerte.

97
muitas outTas reparado, continua até hoje, teimo-
samente, batendo as horas no smo do VELHO
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bricação germânica, instalado na tôrre, logo após a
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inauguração da casa.
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1. 855 o Delegado de Polícia, Coronel João Huet
Bacelar Pinto Guedes, escrevm ao Padre Provin-

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cial, pedindo que fosse consertado o utilíssimo
relógio, que se achava daniricado, pois era muito
necessário para a população o toque das dez horas
m da noite, anunciando o silêncio c o repouso da
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o comuna.
Pelos superiores franciscanos foi então deter-
minado ao Padre Guardião do Convento de São
Bernardino, Frei Moisés Lino ele Santa Aguecla,
que providenciasse para que o relógio voltasse a
funcionar, no que (oi atendido.
Recentemente, a Ordem Terceira franciscana
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97
REMONTAGEM DO ALTAR DA
ANTIGA IGREJA

NOTAS FINAIS
Conforme constatamos, todas as associações re-
ligiosas franciscanas de Angra dos R eis foram fun-
dadas ainda no tempo do VELHO CONVENTO
da "Cachoeira". Naquela primeira casa dos frades
de São Francisco foram criadas a Ordem Terceira
da Penitência, a Irmandade dos Homens Pretos
de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, a
Confraria do Cordão e a Irmandade de Sant'Ana,
s·e ndo que estas duas últimas não chegaram até os
nossos dias.
A Irmandade de São Benedito c Nossa Senho-
ra do Rosário, que no tempo do cativeiro só acei-
tava para irmãos os negros escravos ou forros, não
possui em seus arquivos qualquer elemento que
permita verificar a data de sua origem em Angra
dos R eis.
A penas são conservados no seu desfalcado ar-
qu ivo, alguns livros de registro de irmãos e o nôvo
"compmmisso" aprovado em 7 de novembro
de 1. 854.
Como curiosidade, vamos contar a origem da
imagem do Menino J esus, a que sai na procissão
do Orago da Irmandade, juntamente com a de
Nossa Senhora do Rosário.

101
Em 18 de abril de I . 838 o Irmão mesano determinações do seu ((Compromisso") a II·manda-
Tomás Antônio Dias promoveu uma subscrição de fêz proceder ao sorteio para a liberdade de. um
entre os irmãos menores da Irmandade c adquiriu seu membro, tendo sido contemplado o Irmão -
a tradicional ~magem de J esus Menino, que ainda escravo Antônio Catatau, de propriedade da famí-
hoje é venerada por todos os angrenses. Do mesmo lia Travasses. Cientificado o seu Senhor do propó-
modo qu e esclarecemos a aquisição e o aparecimen- sito da Mesa Administrativa da Irmandade de
to do Menino Jesus na procissão de São Benedito adquirir o negro Antônio Catatau, que por sinal
de Angra dos Reis, vamos ver também como foi era um excelente campina) não se conformou o
instituída a ({caixinha" para coleta de donativos mesmo com o prêço oferecido - um conto de réis.
entre os fiéis devotos de São Benedito. No ano de Diante do impasse, resolveram os Irmãos-Me-
1 . 836, em 18 de abril, sendo tesoureiro da Vene- sários ir à Justiça, invocando as disposições de seu
rável Irmandade de São Benedito o con(Tade An- ((Compromisso'' e solicitando a desapropriação do
dré dos Santos Lima, saiu às ruas, levada pelos prêto em favor da Innandade. Tão simpática e
irmãos-mesários, a tradicional ((caixinha" que ain- legal era a pretensão da Irmandade que a Justiça
da hoje percorre as ruas e arrabaldes da cidade, le- em breve tempo houve por bem desapropriar a
vada por um Irmão devidamente revestido da opa favor ela Irmandade de São Benedito, para ser afi-
branca com cabeção roxo, angariando donativos. nal alforridado, o Irmão escravo, mestre Antônio
Um fato digno da menção neste nosso traba· Catatau, o mesmo que nos princípios dêste século,
lho é o do Irmão escravo Antôn io Catatau. No juntamente com outros, trabalharia nas obras da
tempo da escravidão era uso na Irmandade de São igreja elo VELHO CONVENTO.
Benedito de AngTa dos Reis, após as festividades A respeito ela Venerável Ordem T erceira de
em louvor ao Orago, que em reunião da Mesa São Francisco da Penitência, infelizmente, também
Administrativa, se puzessem os nomes de todos os em seu arquivo, possuindo apenas alguns livros e
Irmãos escravos numa sacola e um dos irmãos me- documentos muito deteriorados pelo tempo e mau
ninos procedia a um sorteio, retirando um dos trato, quase nada conseguimos apurar em nossas
nomes, que a Irmandade, do seu cofre, adquiria a pesquisas.
carta de liberdade. Asua Capela, contígua à Igreja elo "VELHO
Acontece que nos últimos anos em que exis- CONVENTO", é posterior ao ano de 1. 750, pois,
tiram escravos no Brasil, obedecendo a praxe e as naquele ano ,no dia 2 de fevereiro, é que o Síndico

102 103
r-- /
Apostólico Capitão Baltazar Mendes dt Araújo, ças de terras corrente ao atravéz da igreja do Con-
devidamente autorizado pelo Padre Provincial e vento onde estão os botaréus da porta da Capela-
pelo Padre Guardião do Convento de São Bernar- -mor para o norte e daí doze braças para leste a
dino procedeu à doação do tereno necessário para fazer quadra que venha findar no muro do pátio
I'
a construção da Igreja dos Irmãos T erceiros, sendo da igreja; para que nesta terra possa fazer sua Cape-
Irmão :Ministro o Alferes Sebastião Gonçalves Mar- la ele exercício e consistório para serventia da dita
tins, conforme se vê da escritura lavrada nas notas Venerável Ordem Terceira, para tal efeito fica con-
li
do tabelião Manuel Antônio Freire, a seguir trans- cedida licença e faculdade de poder abrir e romper
crita: "Saibam quantos êste público instrumento de as paredes, da Igreja e formar uma orla entre os
escritura de doação virem que, no ano de nascimen- dois botaréus que abrem para a dita parte do norte,
to de Nosso Senhor J esus Cristo de mil setecentos e a qual orla servirá de entrada para Sua Capela nova
cinquenta, aos dois dias do mês de fevereiro do que fizerem e outrossim, concedia a poderem abrir
dito ano, nesLa Vila de Angra dos Reis da Ilha uma porta de frente para correspondência da por-
Grande, em o Convento de São Bernardino desta taria do Convento para que sirva de serventia
Vila em o consistério que serve aos da muito Ve- fácil e pronta para sua Capela que lhe devení. ficar
nerável Ordem Terceira da Penitência aonde eu no pátio interno da dita terra doada, acautelando
tabelião adiante nomeado fui chamado e o sendo porém como logo acautelado tem que a presente
ali presente o Síndico atual Capitão Ba1taza1· Men- doação e concessão que lhe fazia não poderia ter
des ele Araújo de uma parte e ela outra o Irmão- em tempo algum seu inteiro efeito e valor sem as
-Ministro Alferes Sebastião Gonçalves Martins e condições seguintes: -A primeira que a diLa Ve-
ma is irmãos da Mesa da Venerável Ordem T ercei- nerável Ordem Terceira seria a fazer e continuar a
ra, todos moradores desta Vila e pessoas reconhe- Capela pelos mesmos alicerces que já estão feitos,
cidas de mim Labelião c pelas mesmas testemunhas continuando as paredes pelos mesmos botaréus ela
aqui nomeadas e assinadas. E em presença das mes- igreja e firmando na parede da dita igreja um arco
mas testemunhas pelo dito Síndico me foi dito que forte e permanente que possa firmar e segurar a
êle doador em nome da Santa Sé Apostólica e como parede da igreja em têrmos que não padeça ruína
seu procurador legftimo dava e doava desde agora a qual por esta escritura será a mesma Ordem obri-
para o sempre, a Venerável Ordem T erceira de gada a preservar de todo o dano e risco. A segunda
Nosso Seráfico Padre São Francisco, dezessete bra- condição que feito o dito arco na parede do lado
I I
104 105
querendo, que fica fir me, valiosa e perpetua e na
melhor forma de direito. E logo pelo dito Irmão- A Igreja dos Irmãos Terceiros é simples e de
-Ministro e mais Irmãos da Venerável Ordem T er- construção pobre. Possui um só altar - o mor.
ceira abaixo assinados, me foi dito que êks por si É tôda pintada de branco, não tem dourados nem
e em nome da dita Ordem aceitavam esta escritura púlpitos e o côro é despido de qualquer ornamento
de doaç:ão por suas pessoas e seus presentes e futu- artístico. No único altar, em seu trono, està a ima-
ros, havidos. e por haverem a cumprir em todas as gem do Seráfico Orago da franciscana confraria,
! I
cláusulas expressadas nesta escritura por si e pelos tendo aos lados as imagens de São Francisco, em
seus sucessores que por êles aceitavam e nesta for- simbolismos diferentes. No consistório da capela
ma me pediam lhes fizesse esta escritura nestas da Ordem Terceira encontram-se algumas das
notas a qual aceitavam, e eu, como tab elião aceito imagens de Santos franciscanos ainda do tempo do
como pessoa pí1 blica estipulante e aceitando assi- VELHO CONVENTO, guardadas alí, após a ruí-
no total da Igreja do atual Convento.
nará com as testemunhas presentes gue também
Ao lado do templo, conservado em relativo
assinam Salvador Garcia da Silva e Miguel da Silva
estado de zêlo, graças a um grupo de abnegados
Gomes, moradores desta vila e pessoas reconhecidas franciscanos, acha-se o cemitério da Ordem, com
de mim tabelião Manu el Antônio Freire que escre- catacumbas seculares e ricos mausoléus, alguns de
vi e assino com os doadores. Eu, sobredito tabelião personalidades ilustres da terra angrense.
a escreví e declarei, (aa) Baltazar Mendes de Arau- Nós angrenses não compreendemos como
jo, Síndico; Sebastião Gonçalves Martins, Minis- pode permanecer tão abandonado o que ainda resta
tro ; Custódio Gomes da Silva, Secretário; Bento de do VELH O CONVENTO. O Serviço do Patt·i-
Magalhães Teixeira, Síndico; Luiz F. da Silva Go- mônio Histórico e Artístico Nacional nada faz para
mes, Definidor; Burguignon de Carvalho, Defini- impedir o desaparecimento total do outrora tão im-
dor; Miguel Barbosa, Definidor; Miguel da Silva portante monastério!
e Salvador Garcia da Silva". Ainda no dia 26 de julho de I . 964 um grupo
Como vimos, a edificação da Capela da Vene- de Irmãos da Veneràvel Ordem T erceira ela Peni-
rável Ordem Terce ira da p,e nitência de Angra dos tência, a cuja administração e gu arda está entregue
Reis, deu-se depois de l. 750, ano da doação do o Convento de São Bernardino, num esfôrço inau·
terreno. dito e numa demonstração insofismável de amor
( I
ao que resta do patrimônio histórico de Angra dos
108
109
Reis, com ajuda da população católica da cidade, Que misto de alegria e tristeza, contrição e fé
conseguiu restaurar o altar-mm·· do VELHO· CON- naquela massa crédula e confiante de que um dia
VENTO, tendo sido naquele memorável dia cele- ainda o VELHO CONVENTO há de funcionar
brada solene Missa na tradicional Igreja, abando- com seu edifício totalmentle restaurado, com sua
nada desde o ano de 1 . 927. Igreja reconstruída, para maior glória e cul to de
A Santa Missa foi oficiada pelo Padre Frei seu Orago São Bernardino; para maior glória de
Graciano Studt, .Ç-uardião do Convento de Santo Deus e para maior orgulho dos angrenses.
Antônio do Rio de Janeiro, tendo Frei Mateus
Haers feito belíssimo sermão alusivo às tradições
de tão celebre e celebrada casa franciscana. Esti-
veram presentes além dos dois Frades já citados,
mais os monges franciscanos: Frei Faustino Wesse-
ly, Frei Felipe Alves, Frei Omar Wekrs e Frei Cri-
sólogo de Masena.

Foi um espectáculo comovente e cheio de sau-


dades para os velhos angrenseso Quase tôda popu-
lação católica de Angra dos Reis e arrabaldes acor-
J:1eu ao VELHO CONVENTO de São Bernardino,
atendendo o repicar sonoro de seus sinos seculares,
tal como fazia no seu tempo de apogeu! ... Tal
como anLes da criminosa desmontagem de l. 9271
A Banda de Música local tocou as mesmas
marchas e os mesmos dobrados tradicionais, revi-
vendo a Lradição e nos transportando às épocas
passadas oo.

110 Jll
FONTES CONSULTADAS

FREI FABIANO DE CRISTO - Frei João José Pedreira


de Castro
O CONVENTO DE SANTO ANTôNIO DO RIO DE JA-
NEIRO - Frei Basílio Rower
PÁGINAS DA HISTóRIA FRANCISCANA NO BRASIL-
Frei Basílio Rcnver
OS FRANCISCANOS NO SUL DO BRASIL - Frei Basílio
Rower
SÃO BENEDITO, O SANTO PRtl:TO - Monsenhor Ascâ-
nio Brandão
NOTiCIA HISTóRICA E GEOGRAFICA DE ANGRA DOS
REIS - Honório Lima
GUIA TURíSTICO DE ANGRA DOS REIS - Brasil dos
Reis
LIVRO DE NOTAS N.0 21 - Cartório do 2. 0 Ofício da
Comarca de Angra dos Reis
DIETÃRIO DOS FRANCISCANOS - Seção de manuscri-
tos da Biblioteca Nacional
COLEÇÃO DA "GAZETA DE ANGRA" - G entilmente
cedida para consulta pelo Dr. Camil Capaz
ANGRA DOS REIS - Monografia do Conselho Nacional
de Estatística (IBGE)
ESBôÇO HISTóRICO DE ANGRA DOS REIS - Edição
do Departamento Estadual de Estatística
VIAGEM NO INTERIOR DO BRASIL - João Emanuel
Pohl
ECO SONORO - Frei Apolinário dct Conceição
COLEÇAO DO ALMANAQUE MERCANTIL E INDUS-
TRIAL DA CCRTE E PROVíNCIA DO RIO DE JA-
NEIRO - Biblioteca Nacional
MEMóRIAS H ISTóRICAS DO RIO DE JANE1RO - Mo-
senhor José de Souza A. Pizarro e Araújo ÍNDICE
ELENCO BIOGRAFICO DOS RELIGIOSOS ANTIGOS -
Frei D iogo de Freitas
LIVROS DO TOMBO DA PARóQUIA DE N. S. DA CON- Carta-Prefácio 9
CEIÇAO DE ANGRA DOS REIS - Arquivo Paroquial
Primeiras Notas ...... ...... . ................. ... . 13
f.ANTUARIO MARIANO - F rei Agostinho de Santa Maria
Angra dos Reis e os Frades Franciscanos 19
POSTAIS ANGRENSES (Versos) - Brasil dos Reis
O Primeiro Convento de São Bernardino· 31
I'RASõES ANGRENSES (Versos) - Brasil dos Reis
OS FRANCESES NO RIO DE JANEIRO- Augusto Tasso Frei Fabiano de Cristo em Angra dos Reis 42
Fragoso O Atual Convento de São B ernardino de Angra dos
DADOS ESPARSOS coligidos no arquivo particular do Reis 50
poeta e historia dor Brasil dos Reis
A Igreja do Velho Convento ..................... . 65
DOCUMENTOS AVULSOS no arquivo da Venerável Ir-
mandade d e Sã o Benedito de Angra dos Reis As Lendas do Convento de São Bernardino de Angra
dos Reis ................................... . 77
IDEM, da Paróquia de N. S . da Conceição de Angra dos
Reis Decadência, Requisições c Ruínas do Velho Convento 83
PRECIOSOS INFORMES VERBAIS prestados p elo Prof.
Ben edi to P ereira R ocha, ex-Irmão Ministro da Ordem Remontagem do Altar da Antiga Igreja. Notas Finais 101
Terceira da Penitência de Angra dos Reis Fontes Consultadas .............................. . 113
U:vt COPIOSO Act!:RVO DE DOCUMENTOS MANUSCRI-
TOS do Instituto Histórico z Geogr áfico Brasileiro,
do Arquivo Nacion al e da Biblioteca Nacional

N. do A. - !nfelizmen te, apesar das muitas cartas, in-


tercessão de historiadores e sacerdotes ami-
gos. n ão conseguimos perm issão para consul-
Lar o arquivo do Provincialato Franciscano,
sediado em São Paulo, onde na certa colhe-
ríamos elementos para 'escrever um trabalho
m ais completo e documentado.
COM I'OSTO 1\ IMl'RESSO

NAS OFICINAS DA

GRÁHCA od~ii'ICA EDITÓilA, LTDA.

RIO DE JA:-I EIRO - BRASI L

.
'

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