Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SANTA C
DE
BRAGANÇA
l9
^ ^JA-^% ^%^ <<^
v
^JL l^L
ïA^fO A -tX^t-ï-^t-f
^
'/
uuL^ec.
/
^-Ç^S^/l
A SANTA E REAL CASA DA
MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
P. JOSÉDE CASTRO
(Da Academia Portuguesa da História)
MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
No prelo:
Parece^me bem que, no prefácio deste livro, eu deva. con' ficação, e fica. muito bem ao lado do notório apreço de
signar as palavras justas, merecidas e exactas, por mim pró' Emílio Hubner, fundador da arqueologia, Entre eles existiu
feridas na. sessão de homenagem da Casa de Trás-os>Montes correspondência epistolar de recíproca admiríção científica
e Alto Douro, em Lisboa, no dia 13 de Dezembro passado, que, infelizmente, os ratos soiiberam roer em grande parte.
tngésimo dia da. sua morte; e não é desacertiido que, ao la- O valor histórico e arqueológico do Abade de Baçal to'
do dd história da. Santa Casa. da Misericórdia - a obra mais ma relevo impressionante se considerarmos que ele trabalhou
interessante da cidade - fique a seguinte página histórica usem dpoto nos esttidos dos cientistas, relativos à geologia,
sobre a pessoa do Abade de Baçal cujo interesse subirá. com a. minerdogia, botânica, zoologia e 'outros ramos do saber,
o decurso dos tempos e, por isso mesmo, com a chamada ]us' longe das bibliotecas e dos arquivos onde se encontram as
tiça da história. fontes que importa averiguar, não dispondo nem do tempo
nem. de meios pecuniários para as ir buscar, e não poder
aproveitasse do 'convívio cultural dos grandes centros», co'
«O Df. Luís Rodrigues, Governador Civil sitibstituto do mo tão justamente disse, no sector de ciências danossú Aço.-
Distrito de Bragança, palestrando comigo acerca do Abade demia, ò notável acadéniico Doutor Silva Carvalho que, à
História da Medicina, tem dedicado anos de intensa acti'
de Baçal, disse que o Doutor Manuel Paulo Mereia., seu
vidade.
professor da Históriade Direito Português, na. Universidade:
de Coimbra, -recomendou ao seu curso que, nos ócios das fé- Com exacti'da.0 se pcfde afirïnar e gdrantir que o trabíl-
rias, descobrissem forais. O Dr. Rodrigues falou do nosso lho do Abâdé de Baçal é quase único no nosso País. A sua.
Abade que, ü seu tempo, lhe mandou uma lista. Ficou en' obra colossal não é só constituída, pêlos II tomos das suas
cantado o Professor Mereia, e, em lição adequctda., disse da Memórias. Além da sua 'colaboração erudita, em 20 jornais
sua admirdção pelo Abade. Por insinuação do Dr. Rodrigties, e 7 revistas, escreveu 12 opúsculos sobre assuntos vários: mo'
o Abade ofereceu-lhe os qua.tro primeiros tomos, e o Doutor nografias «lê vilas, como M. oncorvo e Vimoso, trabalhos de
Mereia, a 6 de Agosto de ip'27, agradeceu-:lhe a dádiva, com dpologética, como a defesa do bispo Dom José Mari^ e o
estas palavras:
trabalho regional, «A Restauração de 1640 no distrito de
«Por amável oferta de V. Ex.li possuo os quatro tomos Bragança». No seu espólio foram encontrados três manuscri'
das uMemóruis'Arqueológico'históricas»,obra que tenho em tos .que, a. seu tempo, tera. o a merecida, e desejada publici'
muita estima e que, sem o menor vislumbre de lisonja, con' dade. Comprende^se bem porque os institutos científicos e
sidero um . auxiliar precioso e imprescindível de quem quer literários do País, e alguns do estrangeiro, lhe disputaram a
honra de o ter no -rol dos seus membros mais ilustres.f
que, entre nós, empreenda estudos históricosicom probidade
e consciência. Pelo menos eu não a dispenso, co'mpulso'0, it Nesta hora ide luto nacional para a cultura portuguesa,
cada momento, e dela tenho extraído utilíssimos elementosv. têni'se desfolhado sobre a sua venera-nda meniória., palú'
A opinião do insigne .medievalista. vúle por uma gíon' vras de nobre justiça. Todos ique da, sua 'obra se têm ocupa'
10
11
do, lhe passaram certificado de intelectual, na. mais pura nossa raça, dentro da agrestia dos nossos montes, e à roda,
acepção do termo, . dando d máxima importância à sua 'ohm e à sombra dos nossos campanários.
incomparável, mina riquíssima de notícias e esclarecimentosr
Não é atrevida esta afirmúçao: o prestígio do nosso
próprios a auxiliar vdlwsamente quem, em todos os sectores Abade ainda não é o que merece, úinda. não esta, defini'
da vida. da nossa província, pretenida 'reconstruir o nosso tivamente consolidado, nem a, sua, pessoa devidamente apre'
passado. Hoje como amanhã, e amanha, como hoje, se admi' ciada» Mas o prestígio consolidar-se'á e será. cada. vez ma-ior
ra e exaltará ú obra que lhe consagra., a par de um labor na medida, em que os estudiosos se «cuparem do distrito.
beneditino, a. erudição baseada principalmente na. probidü' Suceder-lhes-á o mesmo que a mim. sucedeu. Então a sua
de e no escrúpulo. Honesto em tudo o Abade, tinha, portan' figura intelectwil, científica e regionalista. tornará imensas
to, em si e nos seus escritos, a mais difícil .das honestidades
proporções, e será, para nós, tão agigantada, como o sempre
- a honestidade intelecttud.
consultado Dom António Caetano de Sousa, notabilíssimo
Com notável brilho e verdade, escreveu o Professor oratoriano.
Doutor Vitorinó Nemésio: t.i. Uma. 'obra de erudição vasta e Vem a talho dizer que o nosso Abade se fezpaleógrafo
consistente como a sua, um labor de mdagação de tudo o por si mesmo. Dotado de uma paciência de santo e de uma
que importa, ao estabelecimento de uma tradição provincialf
formidável memória, visual, não se lhe dava de gastar mew
ia. abrindo caminho e fez escola. A sua. sombra sente-se que ano na leitura de um documento medieval. Paciência, me'
amrna e serve de exemplo do patriotismo local. As suds «Me- mória, intuição histórica, enfim - uma. grande vocação.
monas» tomam^se, naturaltnente, o pergaminho da altivez Sinto particular prazer em lhes narrar .o seguinte facto.
trasmontana».
A embrulhar uns quilos de bacalhau, um pergaminho roto,
Ndo podia o Professor Nemésio di^er melhor. O Abade delido e sugíssimo. De Baçal a. camponesa, fe^ do pergami'
de Baçal, sem , que pretendesse, passou a, ser, ptíra todos
o
nho um presente do Abade. O Abade rejubilou. Betjá-lo-wt,
nós, ú nossa melhor vaidade, o nosso regional orgulho, d se não estivera, tão imundo. Conseguiu lê-lo, estudou-o, e
nossa bandeira, o santo querido do nosso bairrismo. E se concluiu que, no governo diocesano de bispo. Dom Anfo-
amcw é dar. se amar é imitar, se amar é imolaçãopelo ideal, mo Pinheiro, houve em Bragança, o Colégio de São Pedro,
aqui estou eu para. afirmar que, seduzido pelo seu exemplo, fundado em 1561. De ráctocínio em raciocínio, pôde recons'
alguns .anos e muitos síicrifícios tenho passado e feito para tituí'lo, onde era e como era. Mais nada sobre a. matéria. O
dar, no campo da cultura. histórica-, ao bispado e à terra, assonibro está em que, pela larga documentação por mim en'
muito da ïninha vida. e o .pbuco ád inmkd bolw. centradano Arquivo Secreto do Vaticano, pude verificar o
Não -importa, pam o caso, a. quantidade e a qualidade. faro histórico, a inteligência penetrante e a. enorme ca-pa'
Interessa dizer que pouco ou muito, bom, sofrível ou mau, cidade de raciocínio do nosso Abade. O pergaminho roto,
é .dado e feito por a-mor ao distrito, à cidade, à aldeia owde quase desfeito e suglssimo, dera, ao Abade .de Baçal, uma
vive, grúças 'a Deus, a raça da nossd gente e a. gente da
12 13
certeza, e uma evidência que não foi desmentida pelas pre- ganad-o porque é muito boa, . muito antiga. Não há outra.
ciosas fontes do Vaticano. por aqui. Ca.para mim é de duzentos anos antes de Cristo',.,-
Diga'se agora, o que todos sdbem. Este sábio era padre, Escusado é diyr que fiquei arrazado..
um padre de inicmtiva, amigo do seu povo e da sua. cias' O Abcode de Baçal foi sempre um padre digníssimo. A
se. Neste padre, um sábio e uma pessoa de bem. Esteve opinião pública apontou^o sempre como padre exemplar e
em Maims, concelho de Chaves, .desde 1889 a 1896; e em emmente. Quase todos os bispos lhe quiseram bem, todos o
Baçal, concelho de Bragança, esteve desde essa data até à admiraram e alguns o visitaram. Nunca foi repreendido, nun-
morte. Müiros foi, portanto, o seu primeiro amor paroquial. ca foi censurado. Ft^eram-no reitor e a-bítde, e morreu, como
Foi em Mairos que atou a sua, amisade com o Presidente, da. .
O senhor Mário de Soa não se amofinou com a excla" o Abade calçara meias de diuis cores: - nuni pé, um.a meia
maçao do Abade diante dos dois a. a, do seu apelido. Tratou' branca; e noutro pé, uma meia vermelha.
-o, admirou-lhe o saber, e ficaram amigos. Ora isto não significa, mconformismo; exprime um au-
Que qualidades hipnotizantes tinha, o Abade para con- têntico nao-^te-rales, próprio de quem não cuida de cousas in'
centrar à roda de si, a. ternura, dos pobres, a admiração dos significantes.
ricos, a luz dos intelectuais, a simpatia dos artistas, e até a Suponho que acerca do Abade, é melhor dizer assim:
graça, das senhoras? o Abflde de Bucal era soberanamente grande, e, por isso,
Tem-se dito e redito que o Abade de Baçal era um in- era grande em toda. a parte. Grande na aldeia, e grande na.
conformista com a vida social, uma espécie de ouriço ca- cidade. Grande no seu cardanho, e grande numa. roda de
cheiro nos ambientes confortáveis e luxuosos^ Ele não era senhoras. Sem o sentir, sabia estar; e onde estava, estava
um inconformista. Era, isso sim, um je mt en fichista perante bem. Sabia estar com toda a gente, e toda a gente saía. en'
as pequeninas e grandes exigências sociais, e estava sempre cantada. Sabia estar em toda à parte, e, em toda a. parte,
muito à sua vontade. Depois das festas em sua honra, em em sempre o pnmeiro.
Abril de 1935, fácil foi convencer o Abade da obrigação de Em duas circunstâncias solenes, vi o Abade: num sd-
vir a agradecer ao Senhor Presidente da Repiíblica,
Lisboa lão de senhoras, portadoras de nomes aristocráticos, e num
ds provas de apreço por Sua Excelência dadas no momen- jantar do maior requinte e apuro - nas iguarias, na bai^
to; nem lhe foi difícil dispender umas centenas de escudos xela, no serviço e nos convivas. O Abade de Baçal foi gran-
para uma roupa, digna de entrar nos salões do palácio de de, sem deixar o tratdm>ento de vós. Deu a impressão, pelú
Belém. Tudo muito bem, só as bota^ muito mal. Desde que sinipUcidade e espontanevddde, que nascera. em palácio au-
as comprara, nunca a. graxa, passara, por elas. Notaram isto cal, e sempre se assentara à mesa de príncipes.
o Dr. Ráw! Teixeira e o saudoso Dr. Francisco Correia, no Que qualidades tinha, então, este homem? pergunta-se
Largo do Rossio. Mas as botas estavam de tal modo que novamente.
'reststwam à primeira investida do engraxante... Este homem tinha em, si todas as soberanids. Dai a
la sua.
outro. fee«em pela sua terra, 0'que'eÍefa^a AfrânioPeixoto que muito o tratou durante a. sua estadia em
Bragança. Dele disse, no seu livro «Viagens na minha terra»:
O emmente_sábzo, Professor Egas Moniz, em decurso «É um sábio e um santo. O homem parece um castanheiro
memorável de hádms, profenu estúspaüvras.de ouro: aFm secular, .de um desses soutos de Trâs-os'Montes. Um pedaço
znvestigadoj de arqueólogae hzstónade altaenvergadura, de homem, alto, corpulento que tem 8o ano>s e, se o deixarem,
^ quem o País, e em especial n suaprovínaa de Trâs^Mon- irá aos 160. Rude e primitivo, como um. a lasca de pedra de
tes, devem altos serviços. Homem simples e modesto. Ex^ dolmen . ou anta, plantada em terra . ermd. Ingénuo e bom,
traordináno trabalhador, Arqueólogo, etnologo e hzstonador como uma velhinha devota porque lhe .deram um caldo de
esmzuçava, como poucos, os assuntos qw estudava. Os seus H carne à sexta'feiw>'>. «Por tudo, esse homem é íidmirável, e
volumes sãoumreposztórzo demuztose bem documentados mais, é único. Ndo creio que haja outro assim, simples e sábio
22 23
como um filósofo grego. Pobree despre^dor de bens e hon' - Aquela ladram A lebre. Aquela sugeita que me dá cd'
rãs, como um cremtta cnstào, .ou arcaico mínimo franciscano». bo da horta.
Mas eu creio que, no corpo do montanhez, nado e cria' E depois reflecte: - Paraque matá-la., se elatem direito
do na agrestia de uma aldeia e no desabrigo dasua casa, con' à vida?
tando no lombo quase 83 anos, havia,uma alma,línca de 20 Sem tirar nem pôr, surgiu a meus olhas o trapista. ^Du
unos, haviauma alma deliciosamente franciscana, ou melhor, Champ de 'la bataiüe à la trape» que viu ressuscitados em si.
havia, um misto de trapista e fra.ncisca.no. os 'brios bélicos de antigo coronel, diante de uma lebre que
Sem nunca ter entrado numa trapa, vivia aquelas míx^ lhe devorara uma couve'flor.
mas que São Bernardo mandou escrever no refeitório de Digam^me, agora, se o Abade de Baçal não tmha alma
Chiaravale: «Noussommes ici pour gagnerlêcidsiibeauque de trapista!,...
possible. Lêplaisir de mourir sans peine, vaut bien la peme Melhor. Tinha, alma, de franciscano. A casa.do Abade'... .
devívre sansplaisir». E o Abade ganhouo céuporqueviveu Uma. casa de linhas romanas, qt iadrada, com janelas irregula'
e morreu como um justo. Morreu sem pena porque se deu réspara.a rua,portaswteriores para.a.varandaemtodo o quü'
à pena de passar uma vida longa, dividida entre o trabalho drúdo, e d varandapara o pátio onde muito à vontade estão
manual e o estudo dos manuscritos e das pedras. os porcos, mail'a. bezerra branca, a burra e as galinhas. Mas
Estudo, trabalho e oração são a trilogia do twpista.. De tudo irregular, tudo desarticulado, tiido a pôr o Credo na
manhae à Urde, oração.Durante o diaestudoe trabalhoque, boca. À frente .da casa, a coluna vegetal de um cipreste, a
com olhos em Deus, sãomodos de re^ar. sDepois do almoço, flor rara da murta., o Arbusto do acanto a lembrar-lhe os ca'
escreveu algures o Abade, e antes do luscofusco, passo duas piteis da velha. Grécia., tudo sombYCúdo por negrilhos altos
hmas na .cortinha, saahando, mondando, sementando, regan' e seculares, moradia de melros e rouxinóis. A um canto do
do, hortando, levantando pedras, tapando boqueiros, limpan' pátio, uma nesperetra na.babescamente adubada, ea. espirra'
do árvores,podando videiras, rachando madeiraparaa Ïarei- deira cor de rosa, certa de que, nem na índia, sua terra de
m, prepawnde aprestos agrícolas, antes de entrar na labuta origem, nem nos jardins de gente rica, tinham as suas raízes
liteMrio-píiroq uial». mais opíparo banquete. A sombra dela um grilo afina, de
Era ele que semeava, e comprasse em ver crescer as quando em quando, o instrumento para. saudar o pôr do sol.
alfaces, as couves e os repolhos. Na horta, tudo erafilho do Atrás da. casa, um rústico jardim, debruado de ale.crim
seu amor, sobretudo um repolho que era o mais dobrado e e alfazema, mesa posta às abelhas mfatigâveis. Mais atrás,
mais viçoso. Aquele repolho era o seu orgulho de hortelão. uma cortinha 'onde o verde alface das videiras é relevado pelo
Um dia, ao vê-lo roído, todo ele, o Abade, era uma fúria. verde duplo das oliveiras que ele plantarei. A um canto da,
-Se a apanho, mato'a. cortinha., um pompal; e junto deste, utna mesatosquíssima -
-Mata o quê, Senhor Abade? a suasecretána. - e junto damesa, um grande seixo que trou/
xera às bostas de Lamelas, termo de Rabal a mais de três qui'
24
25
lómetros .de distância, muito
desconfi ado de que o seixo era
Autor do Cântico do sol, a.ma as pombas e Zela pela sua. ah'
um rico exemplar arqueológico.
mentaça.0. E tudo isto, encastoado no largo fundo de vvdei'
- Que lutaparao trazer atéBaçal! Se eraa descer, bem rãs, oliveiras e negrilhos, fü^lembrar S. Francisco junto dos
estava, dizta o Abade. Eu o empurrava, e, aos poucos, lávi. Cárceres de Monte Subásio,festejado pela colorida e canora
nha. Se era a subir, punhad o às costas, e eram metros
de cada ve^.
uns
corte dos pássaros, ou, se quiserem melhor, nas alturas do
Monte Alverne no qual os pássaros o recebiam com aleluias
-E porque o não trouxe num carro de bois, per. de festa, ou aindamelhor, no vale alegre da.Umbriasempre
guntei.
verde, a cantar, como em toda a. parte, a irma. liui, o irmão
-^Vósnão conheceis esta gente. Doseixoninguém faz só;, ús irmãs estrelas, a irma, água e até a irmã morte.
caso.Se»trouxesse no carro, o povo dvoroçav^se^ulgando Desafio quem tenha pena mais 'ordináriado que o Aba'
que valw uma fortuna. Trouxer às escon^das e de'noite. de, e, no entanto, esta pena modelou monumentos de saber.
0 Abade ainda se admirava do esforço empregado. Este
.
S.Fnnctsco. que a voz dorouxmol vence a voz do trovador. As íindorinhas voltarão na próximaprimavera.. Acharão
O mesmo franciscanmm se nos depam na casa. Tudo os ninhos no beirai ,da.varanda,,poderãopousar nas lages pré'
tosco, tudo rústzco,tudo pobre. Nas estantes desartKuladas'e tas ,do telhado, talvez tenham mesafarta, masnãoterão o Se-
sobre tábuas baüadeiras moram Uvros. papéis, objectos"'de nhor Abade...
uso. A desordem das cousas é substüuída pela ordem das Como o seu coração de criança vibrava, diante de um fio
ideias. Pelas paredes, a par de um relógzo de sol. nomes dos de luz, de umaréstea de sol, do palpitar das folhas, do ^um-
votantes, desenhadosa pzncel.É o relicáriodosamtgos. bido das abelhas'.... É que as abelhas voejavam em torno
Como o santo Trovador daUmbria, o Abadetmhapelas dele, pousayam'lhe na cabeça, passeavam pelo casaco e pela
andormhas um amor .enfütado pela lenda. Não arwn^am mão, nunca o picando, nunca o mordendo, talvez cientes de
elas demansinho, os espinhos da coroade Cristo, e,pelo ter no Abdáe umfl abelha humana, a. suga.r, pacientemente,
horwr datmgédzadoCalvário, nãosevestíramdelutopor dolorosamente, herbicamente nos manuscritos e nas pedras,
28 29
o fácil, cómodoe utílíssimo mel da. ciência,para os. .. outros. tziu, tziu, 'como agradecimento dos meus disvelos». (.iQuando
Não lhes dava, no inverno, Como o seu homónimo de na.o tem fome, iipíinha. o cibaco e vai debicá'lo para cima de
Assis, favos de mel nos eremitériúsde Ravociccino, em Siena, uma pedra., ali perto, deixando-o cair muitas vezes e muitas
de Celas, em Cortona, de Monte Casal, na terra de Petrarca, veï. es reapanhfindo'0'i).
Mas dava'lhes, na. ourela do jardim e ao longo da cortinha., Pensou o Abade que em breve morreria, e neste volume
os arbustos que no inverno mal perdem a flor, e o próprio despediu-se do pisco, e destamaneira: «.Pisquinho, meu pis'
mel, por elas depositado, nos alvéolos do seu cortiço. quinho, pisquinho meu amor, a nossa, convivência está por
Se o Poeta do Cânticodo Sol palestrava com a irma ci- umfio. Brevemente nwrcharáspara o teu 'haibítat- estivai, e eu
garra e com o i-rnwo falcão que, no Monte Alverne, o açor. para. o regelo dos 8o janeiros. Se, na volta, me ndo encontra.'
dava para Matinas, e, com a .cigarra, e a irmã ovelha, entoa. rés aqui na. cortinha, procura'tne, tdém no cemitério do adro
va os louvores do Senhor, .o Abade de Baçúl palestrava com da igreja} leva, à negra. algidez do meu sepulcro, o brilho do
o seu pi sco, um passarinho metade de um pardal, de cor cm- teu olhar, o ^c<dor da tua. 'amizade gwta; devora asJarvas ne'
Zenta, vermelho no peito. Uma migalha de pão era para o fastas das rosas e malvüs que o envoïvem, 'que eu pedirei ao
pwco um lauto jantar. Ave emigratória,chegaem Novembro Altíssimo a graça, de inspirar, em alma bondosa, a caridade
e parte no fim deFevereiro. O Abade esperav^o impaciente. de te -esmolar umas migalhas de pão, e de te enterrar, se aqui
No peitoril da janela do quarto, aguardava-o com migalhas te finiires, no meu .coval».
depão, e, com outras migalhas, esperava-o numapedra junto Digam-wie, senhores, se isto não é genuíno lirismo frdn'
ao escritório do pombal. ctscano!
A sua chegada era um acontecimento no pvesbiténo. O Dias antes de morrer, perguntou: - Já chegou o pisco?
seu pw inste era. uma, alvorada de alegria. Ainda não chegou, padrinho.
-
Padrinho, chegou o pi sco, informava, o Barnabé. - Olha que eu ouço o grito do pisco, Barna.béí
- O pisco chegou, padrinho, noticiava, jubilosa, a Luzia. E, no entanto, não podia ouvir ó pássaro porque estava
O Abade ia à sua procura. O pisco, muito surdo.
vendo-o, voava para
cima. da pedra, fitava o firmamento, eriçava as penas como O pisco voltou após um mês da siui morte. Por lá an-
os cais alçam o rabo. da, à volta da casa, inquieto e saudoso. Se no peitoril da jd'
O Abade falava-lhe: - Gomo passaste a noite? Tiveste nela, espreita o quarto vasio do Abade. Se junto do pombal,
muito frio? Tens fome? salta, e pia de um lado pdra outro. O Barnabé e a Luzia chá'
E o pisco, uenvolvendo'nïs, escreveu o Abade no IIovo' mam por ele, dao'lhe tudo. O pisco tudo engeita, porque o
lume, com o seu olharpenetrante, aveludúdo, fulgente, como seu tudo era o Senhor Abade. Talvez se não enterre na seu
esmaltado emfinapérola, naümpidezaquática,agitaasasas, coval. Talvez. Mas ficará, modelado em 'bronze, nd sua. se'
à semelhança do cSo quando faz festas'com o rabo, esboça pultura, memória ferpvtua. de um gentil amor.
aquele gesto tão seu de se lançar ao espaço, e solta o grito A sua mortel Vaticinou^a de longe, ao ca.ir das folhas,
30
31
no outono. Vaticínio, infelizmente, certo. Que sofrimentos, e yndo com naturalidade de artista, pondo em cada palavra
que coragem, em suporta'losl
um traço de ternura, põe'se a recitar versos de João de Lemos.
Eis como soube morrer.
Num pobríssimo leito de ferro, arqueado pelo tempo e-
pelo peso, entre vobertores caseiros, está o nosso Abade. No «É noite; o astro saudoso
quarto, abaixo .de modestíssimo, dois retratos: o dele, ainda. Rompe a custo o plumbeo céu:
na.força, vital, e o damãe, o seu grande amor. Atrás do leito, Tolda'lhe o rosto formoso
a Bênção Apostóhca do Santo Padre. No ambiente, a lu^. Alvacento, húmido véu
frouxa de uma lanterna de petróleo mal descobre os vultos
dos parentes e amigos. Foi na tem dos verdores,
A cabeçaonde coube tanta.ciência,tem a serenamages- Na p&tria. dos meus amores
tade de sempre. Os olhos de Pátria do meu coração.
uma lu^ viva e suave fixam um
P. José de Castro
A Santa Casa
gaçoes e ordens religiosas dentro e fora aosconven t t10' ta D. Beatriz que fundou com seu marido em Beja, em 1469,
riram e ifmtificaram milagrosamente a caridade.Um mundo um hospital: criada na corte de D. Afonso V, cuja livraria
de cousas boas - hospícios, albergarias, hospitais, asilos, ga' era notóriae onde as tradições de cultura do Rei D. Duarte
ïrias. ~monte-pios. corporações de misteres, .construtores de e ,'Infante D. Pedro se mantiveram sempre; possuindo ela
ammlios,pontese faa.rcos p. araosrios,testamentosemfavor própria 231 livros, pelo menos; coniheceiido evidentemente
destas obras<2) vero tomar a vida maisfácil, amenizar os só/ os esforços 'feitos por D. iAfonso V e D. João 11para pôr co-
frimentos do próximo e fazer mais suportável a dor. bro aos abusos verificados nas instituições hospitalares e os
A lláade Média foi a idade de ouro da assistência em to. obstáculos que a .rotina e os interesses criados opunham à
dosossectoresdadesgraçahumana.Foia épocadoscavalei/ concentração dos pequenos hospitais em hospitais maiores;
ros da caridade. Houve confrarias para todas asobras de mi- convivendo com pessoas que conheciam os grandes hospitais
sencórdia. Esta cuidava dos doentes. aquek libertava os ca- da Itália e França, resultaiites da-fiisao d.e velhas casas hospi-
tivos, aqueroutra enterrava osmortos e muitas dascorpora/ talares; educada nos mais puros princípios do Cristianismo e
coes mantinhain ho.spitais para agasalho dos membros po' tão interessada pela sua divulgação que promoveu a -publi-
bres. Daí uma vida difícil pe,k dispersão de esforços e recur^ caçaoda Vita Christi; piedosíssima e tendo dado sobejas pro-
sós,e depois umavida impossível pela exiguidadeou total vás da sua piedade e amor do próximo, conhecendo as vidas
carência de meios. dos santos e tendo . particular culto por S. Francisco, Santa
Fernando Correia, no seu magnífico livro <(, 0ngem e Isabel da. Ungria e Rainha D. .Isabel de Portugal, então ain-
formaçZo das Misericórdias^ oo.nta-nosque ° lpríncíPe Re' da não- .canonizada» (4), foi a grande rem-cxlela. dora da assis-
genteDomJoão,o futuroDomJoãoM,animadopeloprece- tência ao começar o último quartel ,do século XV, tfortem. ente
dente de Évora que, no século- XiV, agrupara, numa so^casa amparada por Dom João .U e auxiliada,prinripalmente, pelo
hospitalar, vários^e pequenos hospi
tais . e albergarias, pediu ao
^^t^m°^awl:w:m?l:u^
nossos wnos. se
na'^ forma , e rn^ra que no dzta reg^entose^ Mssr dltj existente I3I6> -^^^^^.
á em
^Ê^S^^ï
termo, tornou o
e . seu
^ns;Íramcomo -^"do^^n^
servil ço feito a "-
vam as crianças abandonadas decerto antenor ao ano^
1248,poisneste anojáexistiaa albergariadeLamasdeUre- ^S;omo cumpriameles-pïï^T^ï
1(9) Idern, idem_-pág. 579- ,. u.--^. ;. ^ . ^r - Vol. 2
m^ït^'ïFí^:^1^-
-"^Naodeixava, .pesardisso:Dom-Man;Ï^^^
('^) !lAWe ^7"B^al~^ 'Memórias Históricas, efc. - Vol. 2
^2) Ahlde de Baftd - ^. ,cit.- vol. 2 .
p^gi)Ferndndo Correia. - ob. cit.- pág. 332- <i3) láem, idem, Ídem -'pag"^^. voi' 2' pág. 288.
45
44
Desde quando existe a Misericórdia de Bragança?, tor-
p^vedo.,osofe^se osirmãos.-soo!de^^:^ na'se a perguntar.
^ro^la'sempre cumprirem asdisposiçSes do C^^ A nossa Santa Casa já existia no ano de 1586, porque,
^^^^'. ^T^Z:^^ neste ano, já pôde hospedar as três freiras da Ordem de San-
s0^^^^iuda"e favor»,porser^^^ ^1 ta Clara que, dentro dela, esperaram que se ultimasse 0'con--
^^^^^-Ï;^ Ï, ^^^a
^^^qui'séfez:mas aindadarazo. .judae favorpa.a
vento para o dirigirem t17^. Também 'já existia em 20 de Ju'
lho de 1571 .porque é desta data o despacho .régiode El-Rei
se faça muito melhor». Dom .Sebastião ao .requerimento dos Padfes do Coilégio do
Com^o compromisso de 1516, ficou a díngir/se e gover- Santíssimo Nome de Jesus em que pediam autorização para
nar-s7a"Mi,sericordiad.e Lisboa,«amaisnotávele completa
,
possuir uma quinta em Bragança, chamada Rica-Fé,compoá-
^Zn a'de caridade de que há emória P^ugal^q^
n. em
ta de diversas propriedades, compradas a diferentes indiví'
^pa. teAlguma^ mundo seas^ala na stó^mstitu. duos, sendo uma delas à Misericórdiade 'Bragança(18). Já vi-
çâo^omprïrama maisvasto,perfeito^w)^^ 'via a nossa Santa Casa, a 3 de Dezembro de 1569, porque,
50'a'de'Lisboa?
Pelo Compromisso
Não. ^l^b1 ss
iMisericórdia (21).
;idoTÏ3'<Íe Dezembro de 15". e sob a totela <k>smor^' iFoi a 6 de Julho de 1518 que E'1-Rei Dom Manuel deu
^"protegida pek> digito de padroaáo; servia po^n^
é
Compromisso à 'nossa Santa Casa, assinado por sua própria
^tmrïÏor^ualinente. que"tratam com muito cuidado mão, e fundou-se na 'igreja dedicada ao Espírito Santo doníl^
doTpobres, 'doentes, viúvas, órfãose encaïcerados e outras
necessidades dos indigentes W. 1(17) Abade de Baçal - ob. cit. vol. 3-pág. 207.
1(18) lidem, idem-vol. 2 - pág. 289, 288.
1(19) lidem, idem-vol. 3-. pág. 221.
"(^Fernando Correu*-^ct^^t^ ^, 557' 57 1(20) Idem, rdem, idem-:pág. 215.
1:1SSfcS^^^s. ^»- . <- (ai) Idem, idem, idem-pág. 291.
46
a rua tomar o seu nome, isto é 20 anos depois da Rainha
ID. Leonor fundar, em 1498, a genial instituição de carida.
de, a Santa Casa da Misericórdia (2Z>.
, Foi dito que, em 1641, Dom João IV concedeu à nossa
Santa Casa as mesmas isençõese privilégios da Santa Casa CAPÍTULO II
de Lisboa. Poisuma das isenções .era a de não poder ser vi-
£al zê4a Dou-
sitada . pêlos visitadores da diocese. Intentou .
o
tor António da Costa, deâo da Séde Miranda, em 1685, vi. A Irmandade da Misericórdia
sitador ordinário. Capitulando que, na igrqa da Santa Casa,
A sua finalidade - Direitos, deveres e sanções - O juramento
não houvesse .Santíssimo . Sacramento que até ali se adminis- de bem servir - Irmãos com limpeza de sangue, irmãos com lim-
trava aos enfermos do hospital, opuseram-se os irmãos e pró- peza de mãos, e irmãos com limpeza de intenções - A bandeira
vedor e levaram recurso à coroa. E .porque o deao Doutor da Irmandade - As opas dos irmãos.
António da Costa obrigara com censuras a consumir o sá-
erárioo primeiro doscapelâesque celebrasse, nãomaisceie/ Júlio de Castilho, extratado pelo Conde de Sabugosa,
braramos capelaes enqua.nto durou o litígio, valendo-se para no seu admirável livro «A Rainha D. Leonor», referindo.-se
a renovação do Santíssimo de religiosos castelhanos. O açor- ao Compromisso da Misericórdia de Lisboa, que é o mesmo
dão 'favorável da coroa, dando razão à mesa da Santa Casa, compromisso de todas as misericórdias de Portugal, escreveu
foi dado a 19 de Tunho de 168?;t23' estas palavras de ouro: «iLê'lo é estudar a aplicação prática
dos mais'santos, dos mais purosditames do Cristianismo. Ali'
imentar famintos e sequiosos, vestir os que nem andrajos, se'
quer, possuem para se cobrirem, levar a esmola de uns ina-
ravedis aos presos e aos doentes, hospedar vagabundos, reái-
mir do cativeiro os pobres soldados, que o serviço áa Pátria
retinha nas mouramas, dar o último leito em chão portu-
guês aos portugueses desamparados, tudo isto já é muito e a
Irmandade cumpria'0. Mas não se limitava a essas <ïbras me'
ramente corporais; sabia que a parte mais nobre e mais alta
do ser humano, a alma também padece '(e bem cruéis) as
suastornes, as suas sedes, as suas dores, os seus desamparas,
as suas nudezas, os seus cativeiros, e como o sabia, a llrman.-
dade consagrou a esses outros deveres espiritiiais os cuidados
1(22) Idem, idem, idem - pág. 288, 28 mais carinihosos. Pelas predicas espalhava o bom conselho e
1(23) Idem, idem, idem-ipág. 291.
48
a doutrina sá, .pelas escolas do seu recolhim.ento de èïía. s, en-
sinava a ignorância; pelas visitas aos hospitais e às cadeias,
condimentava o pão negro do enca. rcera. do; 'pela sua devota
compaixão aos condenados, consolava as tristezas congénitas
do 'ser ihumano; pelas suaves penalidades que o regulamento
ampunha aos contraventores dos deveres estatuídos, castigava
os erros, filhos da. .nossa fraqueza moral; promovia (era letra
.
expressado iCompromisso) pazes e reconciliaçõesentre quais'
quer .pessoas que se soubesse andavam desavindas e induzia-
<-a.s a. .perdoar irajúrias, em nome da caridade crista, sofria
com .paciência os desmandos aïheios; e enfim cum. pridos em
vida os deveres fraternais para com as almas, nem então
aifrouxava; continuava-thosdepois da morte, em sufrágiosde
todo .o género. !Se há nada mais espaïitoso do que este sua'
víssimo ilnstituto ilisbonense!» (1).
Não se pode dizer nem mais nem melhor acerca da fí-
nalidade da Santa Casa da. Misericórdia, e, por consequên-
tia, aquilatar da grande honra de pertencer a esta não sei
(quantas vezes 'benem'érita Irmandade, que tem 'por padroeira
Nossa Senhora da. 'Misericórdia,razão pela qual os 'seus fun-
dadores 'e irmãos resolveram solenizar o dia em que Nossa
Senhora foi visitar a sua prima Santa Isabel(2).
O Compromisso 'de 1516 e depois o de 1618 exigiam
>que os Irmãos, sobre iserem homens de boa consciência e
(fama, tementes a Deus, modestos, caritativos e humildes, ti-
vessem 7 condições: .primeira - que fosse limpo ide sangue,
sem alguma traçade mouro ou de judeu;segunda- que fos'
se livre de toda a itííâmia, de facto .e de direito; terceira
'que fosse de idade 'conveniente, nunca menos de 25 anos
oompletos; quarta-que não servisse a Casa por salário;
i(ii) Conde de Sabugosa. - A Rainha D. Leonor - pág. 260.
A primitiva bandeira da Misericórdia
(z) Compromisso de 1618 - pág. 5.
49
quijita-'que tivesse tenda ou oficina própria; sexta - que
soubesseler e escrever;® sétima-quenãoestivesse em con-
diçoes de necessitar da Misericórdia.
O candidato a irmão da Santa Casa tinha de declarar
na petição os nomes dos pais e avós seus e de sua mulher
e as terras de onde todos eram naturais, o ofício que tinham
e bairro em que pousavam e, no fim, declarar a sua confor-
midade com as condições do Compromisso, que eram as se-
guintes: aceitar os encargos com toda a caridade e ihumilda-
de crista, achar-se na Casa da Misericórdia 5 vezes no ano
- no dia da Visitaçao de Nossa Senhora para a eleição da
mesa, no dia ide Todos os Santos para acompanhar a procis-
são das ossadas dos 'justiçados, no saimento por todos os ir--
mãos delfuntos, e, na quinta-feira de Endoenças, para acom-
panhar a procissão dos penitentes que, naquele dia, se fazia
em memória da Paixão de Jesus Cristo e visitar o Santo Se-
pulcro nas igrejas da cidade.
Aceito o candidato para irmão, era convidado a com-
parecerperante a Mesa parafazer .o seguinte juramento: «Por
estes'. Santos'Evangelbos em que ponho as mãos,juro de ser-
vir a esta irmandade, conforme ao Compromisso dela, e em
particular de acudir a esta Casa da Misericórdia, todas as 've-
zes que ouvir a campairiha, com a insígnia da. Irmandade, ou
.
por chamado do Provedor e Mesa para servir a Deus e a Nos'
sá Senhora, e icumprir as obras de iMisericórdia, na forma
em que por eles me 'for ordenado, não tendo legítima causa
.
corras aos mendigos doentes e a esmola aos presos nos dias Como os compromissos anteriores, este de 1856, pré-
designados aos irmãos que, para o serem, se lhes exigia, ao vê a exclusão de irmãos: perante um delito grave contra
menos a idade de 25 anos, boa saúde, boa conduta moral e o Compromisso, regimento interno e deliberações da Mesa,
civil, atestada a saúde pelo médico, a iboa reputação pelo a difamaçao da Irmandade por escrito ou palavras, acusa-
pároco ou administrador do concelho, e o juramento se- cão não provada de qualquer irmão, obstinaçâo na falta
guinte, 'feito diante da Mesa, após a sua admissão: «Por es' não olbstante sucessivas admoestações, declaração pública de
tes Santos Evangelhos, em que ponho minhas mãos, juro desobediênciaà Mesa, recusa em servir cargos para que lê-
servir a Irmandade, na forma do seu Compromisso: juro galmente fora nomeado, recusa de prestar contas dos car-
votar nas eleições e mesas a que assistir, sem ódio, suborno gos servidos, subornar outros ou deixar'se subornar nas elei-
ou afeição, mas somente como a mtnha. consciência me di' coes, perturbar os usos da Irmandade, a.leiloar, para si ou
Ur, para o aumento da Santa Casa. e Glória de Deus: juro por interposta pessoas, 'bens ou rendas da Santa Casa, e
guardar sigilo em tudo o que debaixo de sigilo me for in- pronúncia em crime infamante <7).
cumbido, mandado ou tratado, menos no que for relativo Ë no compromisso de 2 de Julho de 1856 que, pela
a ordens e disposições da Autoridade». primeira vez, aparece a distinção de irmãos ben.eméritos e
Aceitar e servir os cargos da Irmandade, comiparecer irmãos efectivos. ((Beneméritos, diz o § i.° do art. 5.°, serão
.
na Santa Casa para a (Mesa geral, oi bedecer ao Provedor em todos aqueles que forem julgados dignos de tal título por
harmonia e na conformidade do Compromisso, acompanhar dádivas, doações, ou outros quaisquer benefícios, que a Ir-
à sepultura os irmãos falecidos, conduzir-se fraternalmente mandado considerar de grande valia», passando a gozar de
com os mais irmãos e solicitar a caridade pública em bene- todas as regalias, direitos e benefícios que competem aos
fício da Santa Casa, eram os deveres dos irmãos. Qlue os mais irmãos, 'com isenção de todos e qualquer trabAo pes-
direitos consistiam em tomar assento, apresentar propostas soai <8).
e indicaçõesnasMesasGerais; ser elegível para os cargos da. Em apêndice dá-se a lista de 40 pessoas, declaradas be-
Irmandade; ser tratado gratuitamente no hos.pital quando neméritas da Santa Casa no espaço de tempo que vem
(y) Idem - art. 4, a'rt. 6, art. 7, ar.t. 14, art. 12, art. 11.
i(6) Compr. 2 de Julho de 1856. <8) lidem - Art. 5.
56
de 1856 até nossos dias, e também dos beneméritos que,
na sala do despacho, gozam a honra de ter o seu retrato.
Nessa lista de bondade e de glória descobrem.-se nomes da
maior consideração da qual nos agrada desta'car quatro: o
Bispo Dom José Alves de Mariz, Monsenhor António José
da Ro'c'ha, Major Luís Ferreira Real e o Dr. Diogo Albino
de ;Sá Vargas, incontestàveimente o maior 'benfeitor da San-
ta Casa de todos os tem.pos, pois o seu legado deverá ir aci'
ma de um milhão de escudos.
O Bispo Dom JoséAlves de Mariz, recebido o diploma
de irmão ibenem'érito, mandou ao Provedor esta carta que
merece registo: «Estou de posse do .muito honroso diploma
de irmão da caridosa e benemérita Irmandade da Miseri-
córdia de Bragança que V. Ex.a, na qualidade de seu digno
Provedor e mais Irmãos que constituem a Mesa gerente
da Santa e Real Casa, houveram por bem mandar passar com
aprovação de todos. É um dos títulos mais distintos com
que a ilustre cidade de Bragança podia nobilitar o seu
lado Diocesano. Agradeço pois com muito reconhecimento
o quanto ele vale, fazendo ardentes votos pelas prosperi-
dades da Santa Casa 'da Misericórdia desta, e desejando ter
ocasiões de poder servi-la com o meu insigniËcante au-
xílio» <9).
Foi o Bispo Diocesano aclamado !benem'érito da Santa
Casa no dia 18 de Junho de 1892, na mesma ocasião eni
que o foi iMonsenhor Cónego António Joslé da Rocha, pro-
fessor do liceu e seminário, que haveria de deixar os seus
bens de Caçarelhos e as suas economias (10). Digna de re-
.
à igreja da Misericórdia
A capela da Madalena primeiro, do Espirito Santo depois -
Festas e despesas - Fundação da Misericórdia em Bragança -
Frontaria e retábulo do altar-mor - Fala-se de imagens, altares, sa-
cristia, . móveis e paramentos - O sino da Misericórdia.
Consta do arquivo da Santa Casa que lá. desde o ano i9'ir'i912- E saibe-se porquê. Receou'se que a festa deitasse
abaixo a República...
de 1658a 1682,foram sepultados 46 pobres, e sódeixou o
adro de ser sepultura quando foi aberto o cemitério público, É certo que, em 1316, já existia em Bragança a con-
fraria do Espírito . Santo, aliás não se teria instalado na ca-
sendo para .este transportadas asossadas. Antes do cemitério
páblico.a IrmandadedaMisericórdiaia,anualmente,aoadro pela de Santa Maria Madalena. Foi por esse tempo, o tem-
da Madalena, em visita colectiva, nodiados FiéisDefuntos. po da Rainha Santa Isabel, que outras se instituiram, entre
Reduzlram-seasdimensõesdoadro,mercêdoalargamanto do nós, à imitação do que se fazia noutros países. Como o Es-
hospital do lado norte, em 1749 entrando-se no cemitè- pinto Santo, consolador dos aflitos, acende no coração huma-
rio por uma porta de granito que no alto, tem estadata, e no o fogo amoroso da caridade, desde remotos tempos se
reduziram-se ainda mais, em 1868, quando se alargou a. lhe consagraram os hospitais. Fundada a primeira na cida-
Rua Marques de Pombal, se aumentou a enfermaria dos de de 'Florença, tendo por fim valer a misérias isoladas e
homens pelo lado nascente e se abriu, pela mesma rua, criar instituições próprias a realizar, ao máximo, obras de
uma entrada para o hospital. misericórdia, em ibreve se espalhou pelas grandes cidades
Que foi o cemitério, prova-se, ainda hoje, porque, não da Idade Media em cujos prédios se punha, em lugar visí/
olbstante a remoção das ossadas, descobrem-se ossos huma-- vel uma pomba, símbolo do Espírito Santo, como é de.se
nos quando se cava fundo no quintal. ver, actualmente, no altar-mor da igreja da Misericórdia. Em
Absorvida a capela pela igreja do Espírito Santo e ap.ro- Roma existe ainda o Hospital do Espírito Santo, na sua pri-
priada esta pela Santa Casa, não morreu o culto a Santo mitiva. pureza, o centro de variada assistência pois é de
Maria Madalena atraviés dos ssculos. Os compromissos de sa'ber que esta confraria, sobre fundar aLbergarias para pe-
1877 decretaram a obrigação da missa cantada, no dia 22 regnnos e celebrar com pompa grande a festa do seu ora-
de Junho <2). Missa cantada a órgão celebrou^se em 1658, go, instituía hospitais, destinados a tratamento de doen-
custando 600 réis; missa cantada, simples, em 1856, teve tes <4).
a despesa de 840 reis; missa cantada, desde 1863 a 1876, A Santa Casa da Misericórdia, senhora da igreja dedi-
exigiu o gastode 5.070 reis; de 1877 a 1912.a despesafoi cada a Jesus Cristo e ao Espírito Santo, não íhe suprimiu
de 1.700 reis» subindo de 1914 a 1923 à quantia de 3.500 o culto, nem deixou de lhe administrar as rendas. Ainda
reis, e em 1930 a despesa foi de 120 escudos (3). lhe nom-eava mordomos para a sua administração em 1676,
Em 427 anos que tantos são os da Santa Casa, man- pessoas de categoria social, como foram, em 1659, o Licen-
teve-se ininterrupta a tradição de Santa Maria Madalena. ciado Paulo de Mesquita e João Esteves; e. se os compro-
Só houve um ano em que a festa se não fez. Foi o ano missas de 2 de Julho de 1856 e de 12 de Maio de 1877
consideram facultativas as novenas e festa, não dispensaram
^,(2) Compr. de 2 de Julho de 1856-00»*^ d_e_187^.
~
[Nos: .enhora da Misericórdia (particular do retábulo do altar-mor) (22) Idem, 1907-1919, foi. 63.
1(23) Inv. 1783 - Inv. 1852, foi. 42V.
'(z4) Inv. 1892- Acórdãos, 1832, foi. 577.
70 71
deram-1'he andor novo em 1906, restauraramAe a imagem em resultado não ser mais celebrada depois do ano de
em 1930 (25>. 1877 <30'.
Nossa . Senhora da Soledade aparece, no inventário de A Via'Sacra que o inventário de 1852 registou, foi
1^83, com esplendor de prata, camisa, anagua, duas túni-- substituída ipor outra em 1855 que custou 3. 840 reis <3U e o
cãs, um lenço, um vestido inteiro de gala e um manto de confessionário de madeira teve substituto em 1930, e os
seda, tudo preto. Tinha mais duas toucas e seis mantos (26). candieims de parede, comprados em 1895 por 2. 700 reis,
Em 1846 a imagem foi encarnada e teve um manto e ves- foram inutilizados pela luz eléctrica que custou 1. 140,80 es-
tido novo <27>. Mas no de 1852 há mais a registar: 4 sa- cudos, 'instalada em 1929 <32). Foi neste ano que se com-
nefas de damasco roxo com franja para o andor; i vestido praram 30 velas automáticas que custaram 227 escudos,
novo, preto, de nobreza, outro de sarja preta, 3 lenços de ro- foi em 1935 que se fizeram os bancos da igreja, em 1937
binet, de escomilha faordado a fio de prata e lantejaulas e: que se compraram esteiras, em 1939 que se adquiriram 2
outro de cambraia; 3 capas ^ uma de seda azul clara, ou^ crucifixos e em 1940 que foi autorizada a colocação da
tra de pano branco com renda, outra de setim preto e ainda- imagem do Sagrado Coração de Jesus w\
outra de sarja preta; 4 mantos, sendo um de damasco de. ÍDiga-se, antes de me referir à sacristia, que no ano de
cores (28). Em 1897 dao-Íhe melhor vidraça para o altar^ 1930 se reparou novamente o soalho da igreja no que se
em 1906 oferecem-l. he um andor novo, em 1930 restauram' áispendeu a quantia de 550 escudos<34).
'lhe a imagem e em 1947 dao4he um riquíssimo manto de A sacristia, em 1667, era térrea e no. soalho feito gasta-
seda azul (<29)). ram-se 2. 120 reis. Foi forrada em 1864, sendo a despesa
Encerrado, o mosteiro de Santa Escolástlca (S. Bento) de 30.000 reis <35). Em 1906, porque a sacristia era escura,
pela morte da última religiosa, a imagem da Senhora das pi incipalmente depois do alargamento de uma das enferma-
Dores foi transferida para a igreja da Misericórdia. A Mesa- rias, fizeram-se obras no sentido de melhor a iluminar <36>.
ficou contente, e resolveu colocá-la ao altar de Nossa Se- Na sacristia nãofaltam, na cómoda grande com gavetas, no
nhora da Soledade e celebrar anualmente no dia próprio uma guarda-roupa e no armário W, paramentos suficientes e ofa/
missa cantada .por 3 padres, i ajudante e 6 cantores. O Com' jectos para o culto. Missais do princípio do século XVIIÍ,
promisso de 1856 declarou esta missa facultativa que deu
<3o) Acórdãos, 1832. fol. ^53-Comf>r. de 1856- Com 1856,
.
palio e frontal roxo, cortinas de damasco vermelho e pavi- Jamaisbadalou para as procissões'de festa. Se nasprocissões
Íhoes para o sacráno,.cortinas de seda roxa e panos de seda do Enterro do Senhor, a sua voz é substituída pelo som
para as estantes, castiçais dourados e castiçais de madeira, cavo e triste das matracas. Se grita para a procissão do Se-
casulas, dalmáticas. pluviais, sanguinhos, corporais, véus de rihor dos Passos, a sua voz tem a amargura de uma tragé-
dia em marcha.
cálicese tudo o que é necessário para o culto, pobre, simples»
discreto como convém a uma casade pobres <38).
Em 1677 havia 2 lanternas de prata que custaram
120.000 reis, e os paus 200 reis. O concerto de uma custou
em 1681 a quantia de Soo reis, e o mesmo outra em 1710.
Lâmpada de 13 arráteis, apreçada em 166.400 reis, da
igreja de S. Bento, foi oferecida pelo Ministro dos Nego'
cios Eclesiásticos e da Justiça, em Dezembro de 1864 <39>,
que foi .concertada, no ano seguinte, por 6.640 reis. Turí-
bulo de prata e naveta, teve-os em 1667, e depois outros,
em 1897que custaram 47.700 reis (40-).
importa agora dar notícias do sino da Misericórdia, cu-
jo som é tão distinto e tão conhecido por todos nós. Quando
todos os sinos da cidade tocam a chamar os confrades para
os enterros, o sino da Misericórdia é o que mais nos im'
pressiona por ter já tocado por membros da nossa família.
O sino que bimbalha e repica ao de cima da fachada de
azulejos, está ali, há mais de quatro séculos. A ferrugem
tem-lhe devorado, por vezes, a ferragem, o tempo tem'1'he
apodrecido a cabeça e as cordas, mas o sino, esse, conti-
nua piedoso e infíexível. Iriflexível a anunciar a morte. Pie'
doso a pedir sufrágios pêlos mortos. Nunca cantou alegrias
de batisado, nem esperanças áe matrimónio 'feliz. Nunca.
Capelâes e Sacristâes
Número de capelaes através dos. séculos - Os seus direitos e
deveres - De como se chegou à total ausência de capelaes - Fa-
la-se do organista e do sacristão - Obrigações e estipêndios.
missa do meio-tlia, não se acompanhavam os cadáveres ao Nesta ocasião,dois capelaes haviam ificado com o lega-
cemitério, e o povo damava. Em face desta insistência, o do de Salvador Lopes Colmieiro e seus herdeiros. Estes pás-
Prelado respondeu . estar muito preocupado com o proiblema. saram a receber mais 2.000 reis por ano do que os outros,
Por um lado falta de clero, por outro a impossibilidade da .
quem nada se esconde. Antes da eleição haviam rezado 3 Prestado o juramento cantava-se a Ladainha, finda a
Ave-Marias, de joelhos, a implorar o auxílio e a protecção quala Mesa se dirigia à sala do despacho, e entrava em exer-
da Senhora da Misericórdia; e depois da .eleição cantaram a CICIO.
Ladainha de Nossa Senhora, empossaram.-se imediatamente Ela, a Mesa, era, segundo o Compromisso de 1856, res-
dos seus cargos e assistiram à festa da Visitaçao de Nossa ponsávápor todos os seus actos, e incumbia-lhe organizar o
Senhora <2). regimento interno, interpretá-lo e executá-lo, acompanhar os
A festa da Visltaçao que, por economia d:e palavras, se enterros, . admitir e riscar irmãos, restando a estes o recurso
passou a chamar, festa de Santaisabel, foi sempre declara- à MesaGeral, dar a estaconta dareceita e despesadurante o
dí obrigatória em todos os .compromissos: no de 1516, no ano, decidircomo e quando se deviam fazer'asfunçõesreli-
de i6i8, no de 1856 e no de 1877 <3>. Missa cantada sempre giosas, tendo em consideração as posses da Santa Casa, man-
com organista ou com tíharamela, com sermão ou sem ser- dar reunir Mesa Geral quando julgasse necessário, aáminis-
mão, houve-a sempre, excepto no ano em que se proclamou trar os bens da Irmandade e autorizar, com a sua assinatura,
a República. Nos primeiros anos, o celebrante recebia um as suasdeliberações,escrituras de dívida, foros e prazos con-
vintém, em 1658 já recebia um tostão. Porque toda a festa, traídos com a.Santa Casa, e lembrar e vigiar o cumprimento
em 1679 custou 500 réis<4) e em 1847, custou 2.00 réis<5). das ofarigaçoes de 'ca'da um dos empregados.
Depois foi subindo, a pouco .e pouco a des.pesa até dobrar, Além destes encargos, tinha a Mesa obiígaçao de fazer
como em 1915, a triplicar como em 1921, e a multlplicar-se executar asdelilberaçoesda MesaGeral, de exigir dos empre-
por 6o como foi em 1930 que custou 120 escudos<6>. gados os esclarecimentos necessários para o bom e regular an-
damento dos negócios da Santa Casa, de fazer cumprir os
1(2) Compr. ï de 'Julho de 1856. sufrágios pelas almas dos irmãos e dos 'benfeitores dos lega-
1(3) Idem - Compr. de. 1877, .pág, 27.
<4) 1679, foi. 7 v.
i(5) 1845, foi. 9, 4.
<6) C. Con. 1907-1913, foi. 2-IC. Corr 1924. tol- 45. i°9- 1(7) Compr. ás 1877, pág. 13.
88 89
dos. e de fixar o número dos doentes pobres e o preço das dimentos da Santa Casa; e bem assim contratar, fazer tran'
diárias dos pensionistas (8). sacçoes sobre heranças, ou doações de propriedade vindas à
Desde sempre os poderes da Mesa foram limitados. Se- Casa, ou sabre dívidas de que esta seja credora, quando de
gundo o Compromisso de Dom ManueL não podia passar re- semelhantes transacções resulte vantagem à Santa Casa, ob-
cïbos de contas de cousas que não viu; receber de novo ir' servando-se sempre as disposições das leis civis a este rés'
.
mãos que houve de riscar; prometer cousas fora do ano da peito (10).
gerência; dispender dinheiro à conta do que 'havia de co- Ate ao ano de 1856 em que El-Rei Dom Pedro V apro-
brar; emprestar paramentos ou pratas da ca;sa; dar sepultura vou novo Compromisso, a Mesa era constituída por 13 mem-
perpétua ou .pôr letreiros nobres na igreja da Misericórdia; e bros, sete de condiçãonabre e seis de segunda condição(11).
aceitar capelas e instituições d'e encargos desta qualidade. Em 1856, além do Provedor, escrivão e tesoureiro, havia vo'
Tambémnãopodia a Mesa vender ou trocar rendas, perten- gais e um procurador, tendo'se sempre em vista o estado,
centes à Santa Casa, 'por qualquer título e via que fosse, fa- idade e prolfissao de cada um que lhes permitisse a o'bservân'
zer concertos ou transacção sobre herança, de propriedades cia dos seus deveres. Em 1877, o número de vogais passou
que se deixassem à SantaCasa, miidar ou alterar o que fosse a ser de nove, e a Mesa', em vez de assistir à missa cantada
determinado por assento de alguma Mesa, lançado no livro depois da posse, como nos compromissos anteriores, recebia
dos Acórdãos,nem podia reservar para si fazendaalguma, ou a ib&nçâo do Santíssimo, dada pelo capelâo(lz).
juro in perpetuum das heranças livres sem o parecer da Me- Note-se que este Compromisso, redigido pelo Dr. José
sá Geral W. António Franco, provedor ao tempo, 'e aprovado pelo Go-
A Mesa Geral, ou Assembleia. Geral, não é só criação vemador Civil IDr» Cláudio Mesquita da Roza, sendo Secre-
do Compromisso primitivo; ela vem consignadanoscompro- tário Geral do Governo Civil, Conselheiro Henrique Ferreira
misses .posteriores, tanto o de 1856 como o de 1877. de Lima, multa em 230 gramas de cera o memibro da Mesa
A Mesa Geral é a reunião de todos os irmãos, debaixo que 'falte três vezes às sessões, e exclue-o se não pagar a
da presidênciado IProvedor. Hámesas geraisordináriase ex- multa ou não justificar as faltas (13).
traordinárias. As ordinárias no Dommgo anterior ao dia 2 Neste tempo, .era das atribuiçõesdo Governador Civil a
de Julho. As extraordinárias quando convocadas pelo Prove- reforma dos .estatutos das confrarias. Que, em 1856, ela de-
dor ou' Mesa administrativa. É da sua competência eleger a pendia de El-Rei, como se vê por esta carta régia de Dom
Mesa, discutir matérias apresentadas pela Mesa ou por algum Pedro que aqui se transcreve:
dosirmãos,julgar e decidirdaex.clusaodos irmãos,feita pela «Dom Pedro, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos
Mesa, tomar contas a esta do ano da sua gerência, autorizar Algarves, etc.
a venda ou troca de foros, pensões ou outros quaisquer ren- 1(10) Cofnpr. de i85'6 - Compr. de 1887, 'pág. io, 15.
iCll) 1679, foi. 13.
1(8) Compr. 1856. (12) Compr. 1856 - Compr. 1877, 'pág. li.
1(9) Compr. 1618, pág. 15 v. (13) Compr. 1877 - pág. 51, 49. - Compr. 1856.
90 91
Faço saber dos que esta minha Carta virem que: Aten' mendou' que fosse escolhido entre os irmãos ncrbres, exem-
dendo 0.0 que Me foi representado por parte do Governador pi lar em tudo. «Homem honrado, de autoridade, virtuoso, de
Civil do Distrito de Bragança, acerca da necessidade, e con' faoa fama muito humilde e paciente», «dada a. psicologia dos
veniência de dar um- Compromisso especial à Irmandade da. necessitados e as desvairadas condições dos homens com que
Santa Casa .ád Misericórdia, da mesma cidade, no qual se de- há-de usar e praticar» (14). «O Provedor será sempre um ho-
finüïn os direitos, e obrigações dos respectivos Irmãos, e se mem fidalgo, de autoridade, prudência, virtude, reputação e
estabeleçam as regras necessárias para o bom governo, e ad' idade, de maneira que os outros irmãos o possam reconhecer
niinistração daquele piedoso Instituto, em harmonia, com as por cabeça,e lhe ofaedeçamcom mais facilidade e, ainda que
Leis, Regulamentos, e necessidades actuais; e tornando em por todas as sobreditas partes o mereça, não poderá ser elei'
consideração o projecto que elaborara a Comissão Adminis' to de menos idade de 40 anos. Será muito sofrido pelas dês'
trativa da mesma Santa. Casa, e que sendo discutido pela Ir- vairadas condições das pessoas iom que há-de tratar; e pes-
mandade, cbnvocada. para esse fim, fora aceito por ela: Hei soa desocupada para que se possa empregar nas ocupações de
por bem confirmar e aprovar o dito Compromisso, porque seu cargo com a frequêênciae cuidados necessários, e para
há-de reger-se d'ora, em diante a. I»mandade da Santa Casa. que tenha notícia conveniente não será eleito Provedor ne'
da Misericórdia de Bragança. : o qual contendo dezoito capí' rihum irmão no primeiro ano em que for recebido na Ir'
tulos e sessenta e seis artigos, baixa com esta Carta, e dela. mandado», pois terá de providenciar sobre a. substituiçãodos
faz parte, assina.do pelo Ministro e Secretário de Estado dos mesários, tirar informações soibre pessoas e negócios, dar pa'
Negócios-do Reino; e vai escrito em vinte e duas meias fo- recer sobre despesas, assinar certidões de presos e cartas de
lhas de papel selado, rubricadas pelo Conselheiro Oficial guia e presidir a. todas as sessões (15).
Maior Secretário Geral do Ministério do Reino, Joaquim José Todos os meses, ia acompanhado do escrivão visitar to'
Ferreira Pinto da Fonseca. Teles. Pelo que ordeno a todos os dos os presos, visitar todos os enfermos, doentes hospitaliza'
Tribunais, Autoridades e mais pessoas, a quem o conheci' dos e pobres envergonhados, com o fim de se informar e
mento desta Carta pertencer, que a cumpram e faça-m cum' verificar se faltava alguma cousa.
prir e guardar tão inteirdmente como nela se contém. Abaixo do Prcyvedor, havia o veador, ou Vice-Provedor,
Não pagou direitos de mercê nem de selo por não os que devia ser «pessoa de 'bem, caridosa, de 'bom zelo e sá'
haver. E por firmeza do que dito é, lhe mandei passar a ber» (16). Era o substituto do Provedor, na «maior parte dos
presente Carta., que vai por Mim assinada e selada com o seus impedimentos, incumbindo'lhe, especialmente, dirigir a
selo das Armas Reais. Dada no Paço das Necessidades aos organização das dietas iprescritas pelo médico, assistir às re-
oito de Julho de 1856. El Rei Pedro R... ». feições dos doentes das enfermarias». Além disso, era o fis'
A Mesa da Santa Casa é presidida pelo Provedor. À da-
ta da fundação das misericórdias, El-Rei Dom Manuel reco- 1(114) Fernando Correia - ob. ..ci.t. pág. 544.
1(15) Co-mpr. 1616, , pág. 9.
1(16) Fernando Correia - ob. cit. pág. 94!5.
92 93
cal geral de todos os serviços, visitando o refeitório e man' gios que dizem e documentam o régio interesse pelas miseri-
dando tocar a sineta às horas precisas<17>. córdias,privilégios cuja .execuçãose recomendou aos desem-
Cargo tão alto e de tanta responsabilidade como era, e bargadores, corregedores, juizes e justiças e mais autoridades
é, a direcção da Santo Casa da Misericórdia, sob o padroado porque o Rei entendia estarem todos obrigados a cumprir as
régio, teve de El-<Rei Dom Manuel, em 15 de Novembro de Obras de Misericórdia <18).
1516, uma carta de extraordinários privilégio. s que são, em Compreende-se agora poïque os grandes nomes das fa-
verdade, a gl.orifka.çâodesta instituiçãoque meÏhor, nem .tio mílias fidalgas desta cidade se enfeitaram e honraram com o
'boa se encontra nos países de notória assistência social, e, título de Provedor da Santa Casa. Por tíla, através de 425
por consequência, honrosíssimos para os que lhe tornavam
. anos de existência,passaram os Figueiredos, os Pimenteis, os
a presidência. Sarmentos, os Ferreiras, os Nóbregas, os Morais, os Colmiei-
Tanto os provedores como o;s mesários eram dispensa- ros, os Madureiras, os AIbuquerques, os Louzadas, os Sepul-
dos, durante o ano da sua. gerência, de exercer cargos e ofí- vedas, os Vales e Sousa, os IPinto de Avelar, e outros e ou-
cios do concelho. As suas casas não podiam ser tornadas pa' tros onde se vêm afaades e priores, mestres de cdmpo e pro-
m nelas .pousar, fosse quem fosse. Estavam isentos de pagar fessc-s da Ordem de Cristo, corregedores e capitaes-mores,
impostos, quer reais, quer municipais, . e até de fornecer rou- governadores e capitães de cavalos, fidalgos da casa real e
pás de cama 'para aposentadorias contra sua vontade. Eram brigadeifos, tenentes generais dos exércitos e altas patentes
despachados imedia.tame.nte pêlos almotaceis e camiceiros na na reforma, e até houve um bispo - Dom 'Frei Joséde Len-
compra de carne para doentes e presos. A Misericórdia tinha castre - que deu à Santa Casa o prestígio da sua mitra.
quatro quintos dos objectos apreendidos. Havia para eles to- Não obstante tantos privilégios, nem sempre foi de
das as facilidades. Os presos, por sua intercessão, podiam ir grande interesse o ambiente da Misericórdia. No ano de
para o degredo do ultra-mar sem pagar as dívidas de custas. I754> não havia quem quisesse servir a Santa Casa, razão
A seu pedido, os corregedores tinham de ir, de 15 em 15 pela qual o Rei Dom Joséil mandou com a data de 5 de Ju-
dias, 'fazer audiênciaà cadeia e os juizes todos os 8 dias, ti- ü!ho esta carta:
rando o carcereiro as cadeias aos presos para mais livremente «Por várias -repi vsentações que se me têm feito, me
requererem a sua justiça. Primeiro a ser ouvido em todas as constou, que de tempos a. esta parte não haviaquem quises-
audiências era o procurador da Misericórdia. ,Só a Misericór- se servir na Mesa dessa Misericórdia; e que os bens e ren'
dia .podia fazer peditórios a favor dos presos, entrevados e das tinham padecido gravíssimo detrimento e 'diminuição,
envergonhados. Só os oficiais da Misericórdia . estavam dis- faltando'se por esta causa ao cumprimento dos seus encar-
pensados de se incorporar, contra vontade, em procissões, or' gos e obrigações; e desejando atalhar estes inconvenientes
ganizadas pêlos vereadores, 'juizes e oficiais. E outros privilé- com a eleição de Pessoas de quem espero conforme a con-
No 'Compromisso, aprovado e sancionado pelo Rei Dom Desde 1930 não houve mais Mesa da Santa Casa, eleita
Pedro, já se não. exige, nem a limpeza de sangue, nem a lim- pêlos irmãos.
peza de mãos, nem carta genealógica para o cargo de Prove' De 1930-1936, foi Presidente o Dr. Manuel de Jesus
dor. Basta que seja sempre uma pessoa que, por sua hafaili' Fernandes léorres.
dade, prudência, virtude, zelo e posição na sociedade, se tor- De 1936. 1933, foi o Capitão JoséLuís da Cruz.
digno deste cargo, irmãos, conhecendo
ne e a quem os rei seus.
De I943-I944. foi o Capitão José Luís Ferreira.
merecimentos, respeitem e tenham como chefe, não devendo De 1944-1945, foi o Dr. Luís António Rodrigues.
.
ter menos de 30 anos de idade (19>. De 1945-1946, foi José António Guerra.
Uma outra vez a nomeação do Provedor pela autori- De 1946. 1947, Tenente António dos Santos Subtil.
dade, foi a 29 de Julho de 1853, 99 anos depois da nomea- De 1947-1948, foi o Dr. Afonso Henriques LeitãoBan-
.
ma. Na obra, com .estuques e armários, gastam-se 70.000 no ano de 1852? Pelo inventário deste ano averigua-se que
réis, e-.-com sobradar e forrar o baixo da entrada, argamassar tin'ha 4 ventosas, i 'balsemeiro, 2 garrafas para remédios, 2
deliso e fazer para ele uma porta de viáraça, d despesa foi de facaspara os mesmos, i seringa e um par de muletas de pau.
99'ooo réis ^12^ Neste ano foi preciso aposentar o fogão de Em 1860, as ventosas já eram 8, e, em 1898, já existia uma
1867, comprar outro de ferro pelo preço de 31.000 réis e estante para arrecadar reniédios'que custou 16.090 néis(15>.
substituir a louça d'e lata 'pela de cerâmica,dando-se por duas Bacia e gomil de estanho. existiam desde longuíssima
tigelas e três pratos 150 réis. Mais tarde, em 1913, a cozinha data <16> substituídos em 1856 por outros de lata que custa-
ram 560 réis <17> e em 1890 por outros de ferro estanhado
cujo custo foi de 580 réis. Em 1892 compraram-se 3 lavató-
1(7) Idem, foi. 3.
1(8) Actos, 1903, foi. 21 v. i(i3) 1845, foi. 16 - C. Corr. 1834. ,fol. 3.5.
(g) 1679, foi. 6 v. - 1845, foi. 8. (14) C. Corr. 1924, foi. 199.
i(io) 1852, inventario, foi. 3 - C. Corr lï 4, foi. 25. < 15) 1852, inventário, foi. 3, 115.
(ii) IC. Corr. 1854, foi. 67, 75.
. '(i6) Idem, idem.
<i2) Actas, 1884, foi. 88, Sc. ;(i7) 1845, foi. 84.
102 103
rios de ferro com seus pertences por 3. 200 réis, e mais 2, em ameaçava ruína. 'Urgente repará-la. Resultado foi que a
1898» por 2.990. E para banhos dos doentes? Tinha o hos' pesa de aparência somenos subiu a 432. 000 réis. Mas a obra
.
pitai um caixão para banhos de pernas, comprado em 1852 nãoficou defínitiva. Dali a dez anos, em 1868, a Santa Casa.
por 2.660 réis. Só, em 1865, se adquiriu uma banheira por gastou mais 80.000 réis para meter debaixo da varanda uma
2.400 réis, e, em 1881, uma tina para banhos dos enfermos trave nova para segurança, para altear e sobradar o soalho,
pelo preço de i2.02'2 réis. Em 1894 o hospital tinha o luxo para lhe concertar o forro e para forrar e telhar o quarto e
de ibanheira de chuva que havia custado 4. 500 réis a8 ).
uma cozinha próximos <22).
Um altar de damasco branco dominado por um Cruci- Para maior comodidade dos doentes, em 24 de Março
(fixo, ladeado pelas imagens de Nossa Senhora e SãoRoque» de 1865, pretendeu a Mesa da Santa Casa aumentar o hospi-
estava ao fundo da enfermaria em 1852 (19) e neste mesmo tal com uma enfermaria onde se pudessem recolher os afec-
ano viam-se uma mesa, 3 mesas de cabeceira, 6 escarradei- tados de moléstias contagiosas, devendo ser construída nos
rãs e i comadre de chumbo <19). Depois, em 1860, era de 9 baixos que serviam de acomodação» daí arrematar-se, a 3 de
o número de mesinhas de cabeceira, e em 1889 já se via um Abril imediato, por 98.680 réis, a enfermaria da casa da tu'
relógio de sala, oferta do bragançano Silvino de Morais, re- i.ha, abertura de um portal de comunicação do pátio com a
sidente no Rio de Janeiro. Em 1891 o número de bacios era actual Rua Marquês de Pomibal e fazer a parede do quintal
de 6, e os quadros das papeletas eram 12. O número de ba' que ficou mais estreito. Realizada a obra, a Mesa, a 30 de
cios subiu a 8, em 1898. Que, em 1902, havia 2 comadres e Junho de 1866, achou que o 'hospital podia receber 5 ou 6
li mesinfaas de cabeceira (zo). doentes por maior capacidade do edifício <23>.
E o serviço sanitário? Calcula-se como seria no sécu' Se em 1866 a enfermaria dos homens satisfazia as aspi'
lo XVI, e nos seguintes até ao princípio do século XIX. rações da Mesa, o mesmo não sucedeu com a .Mesa de 1904.
Neste a latrina tinha um cano de exgoto cujo concerto 'cus- Entendeu ampliá-la de modo a poder abrigar 14 doentes,
tou 13.910 réis, no ano de 1866 no qual se fez a.comunica' valendo'se do prestígio do Consellheiro Abílio Beca que do
cãocom o cano geral por 18.000 réis.'Em 1898, compraram' Ministro do Reino, Conselheiro Híntze Ribeiro, obteve o suib-
'se 4 cifoes e as respectivas bacias que, logo no ano seguinte, sídio de 600. 000 réis, sendo a obra arrematada por Agosti'
foram reconstruídos, e em 1906 tiveram ligação com o cano nho Paulino Pires ;por 565.000 réis, comprometendo-se a dá-
condutor da Rua Marquês de Pombal, e em 1909 foi insta' -la pronta no prazo de 6o dias <24). Grande foi a festa da
lado por 8. 170 réis um ourinol no pátio do hospital <21). inauguração no dia 11 de Juniho de 1905, ficando a enfer-
Em 1858 a varanda à volta do pátio estava podre e
1(22) C. Corr. 1854, foi. 25, 35 - L. áe arrematações, 1864,
;(i8) Idem - Ifol. 43, 77 - 1852, inuentário, ifol. 3. .
dios, organizar as dietas, lavar os doentes, mudar-lhes a rou' do próximo, fidelidade, e que em tudo seja apta para exer-
pa, varrer e limpar as enfermarias, amortalhar os defuntos e cer o seu mister que demanda o maior carinho e devoção (8).
dispor os cadáveres na casa mortuária para se proceder ao en- Neste ano, deu-,se 'ao enfermeiro 3.000 réismensais, e no ano
terro (2). Está-sea. ver que o enfermeiro tiriha de ser homem -seguinte, 1857, por causa do aumento dos preços, deu-se-lhe
caridoso e de ho.i condição, trabalhando, mais «para servir a ;a .gratificação de 1.800 réis<9).
Nosso Senhor que por esperar outro algum interesse» (3). E como os preços têm subido sempre, o ordenado do en-
Presumoque, na SantaCasa de Bragança,o cargo de en- ïermeiro tem subido também. Se em 1860 garihava 4.000
fermeiro era acumuladocom o cargo de hospitaleiro. Primei' réis mensais, em 1861 recebia 5.000 réis, em 1863 ó.ooo com
ro popque em documentos do século XVI não encontrei alu- os competentes 30 alqueires de pão, propina que senrpre te-
soes à função de enfermeiro, e segundo porque noutros do vê desde antigos tempos'10). Propinas que recebeu até ao
séculoXIX não se alude ao cargo de hospitaleiro. Num açor' ano de 1877, juntamente com o ordenado anual de 100. 000
dão de 9 de Março de 1835, vi que o enfermeiro teve au- reis (11).
mento de ordenado: aumento de 20 réis diários aos 40 réis O Compromisso de 1877 determina com mais clareza e
que já tinha, enquanto durasse a carestía do carvão (4). A precisão as obrigações do enferme. iro. Ele não deve ter me-
crise continuou. E a Mesa determinou que, além de 1.200 -nos de 30 anos, nem exceder os 41; ele não deve ter filhos,
réis «para carvão, recebesse 20 alqueires de centeio por ano, Tnenores de 25 anos, nem maiores de 55; ele deve ter saúde
4 quartilhos de azeite por mês para alumiar a erifermaria, e e róbustez, fcoa conduta religiosa, moral e civil; ele deve sa-
8 para a lâmpada do Santíssimo <5). ler ler, escrever e contar; ele deve ter alguns bens de seu
1844 'foi um ano mau para a Santa Casa.Resultado? Re' ou prestar caução pelo extravio dos objectos que lhe forem
gresso aos 1.200 réis mensais e ao consumo de carvão - 800 confiados, e morar no 'hospital onde tem casa e economia.
réis. Reclama o enfermeiro em 1845. Consequência? Aumen- Ele, o enfermeiro, 'é o res'ponsável administrador das enfer--
to mensal de 500 réis. Em 1851, o ordenado mensal era de -manas, a. quem incumbe: cumprir as ordens do médico no
i.Soo réis, e o subsídio para carvão era de 600 réis<6). Em exercício do serviço clínico; fazer aviar o .receituário e mi-
.
campainha de gente pobre ou de sangue menos limpo (30). fornecido à custa da Santa Casa, diz o Compromisso de
Em 1903, comprou-se para o .campainha, por 4.340 réis, 1856 (38). E o Compromisso que ainda rege e governa actual-
uma opa azul, opa que, em 7 de Abril de 1909, foi substi- mente a Misericórdia,diz expressamente: «deverá ser um in'
tuída por outra e que custou 3. 000 réis <31). divíduo estranho à confraria; pode, porém, ser irmão do Se-
Curioso saber-se: quanto garihava este 'benemérito da nhor dos Passos,humilde, e de bons costumes, nomeado pe-
cidade? la Mesa solb proposta do Provedor, e que não tenha menos
Em 1836 (para trásnada pude averiguar) ganhava 1.500 de 18 anos: usará de balandrau de la azul, fornecido pela
ïéis mensais. Desde 1840 a 1863, o ordenado foi de 1.800 Casa. Jncumfce-lhe: coadjuvar o enfermeiro enquanto não
reis <32) pois, neste ano, o ordenado subiu a 2.400, para des- houver ajudantes para o serviço do ho.spital; auxiliar o sá-
cer de novo a 1.800 em 1865 (33). 3.600 réis ganhava o cam- cristão na limpeza e asseio do templo, sacristia, vasos e mais
painha em 1870, e continuou a recebê-los até 1883 (34). De- guisamentos; avisar os irmãos para quaisquer funções religio-
pois, porque a Santa 'Casa deixou de lhe dar a propina anual sãs, para os enterros, ou para qualquer reunião ou serviço da
de pão que em 'geral orçava por 4.500 réis, o ordenado, a Casa; tanger o sino, tanto para as missas e funções da Casa,
partir de 1885, foi de 5.400 réis mensaisaté 1898 que passou como para anunciar a morte e o enterro dos irmãos, ou de
a ser de 6.600 réis <35). Em 1899 foi de 7. 700, e em 1906 foi outras quaisquer pessoas; acompanhar a Mesa e a Irman-
de 8.300 réis<36), e ainda em 1920 foi de 15 escudos<37). dade, precedendo-a com a campainha; servir de porteiro ou
Ao campainha, e aos seus serviços, dedicaram os com- contínuo, quando funcionar a Mesa, ou a assembleia geral;
promissos de 1518, de 1616, de 1856 e de 1877, artigos es- e cumprir as ordens da Mesa e dos demais empregados da
peciais. 'Para os dois primeiros, o campainha era parte inte- Casa <39>.
grante da Santa Casa. Nada se fazia sem ele. Era a voz so- Este Compromisso ainda não foi revogado. Continua
nora da 'Misericórdia. Era o. jornal vivo das notícias fúnebres sendo a letra por onde se rege hoje a Santa Casa da Miseri-
da cidade. Era o clamor dos pobres a suplÍGar a misericórdia córdia. É uma disposição legal que se deixou de cumprir e
dos ricos. Era o grito dos mortos a implorar sufrágios. Era não se sabe porquê. Uma disposição utilíssima cujo cum.pri-
.
da vez, numa igreja onde a assistência ouvia sermão e rece- de Bragança, presidente da Câmara e vereadores, Juiz de fora
ihia a bênçãodo Santíssimo. Dez procissões, dez sennoes cujo e autoridades militares. Atrás do pálio roxo, os homens e as
estipêndio em 1614, foi de 600 réis^. Desde 1883 os ser- mulheres que alternavam com o clero os versículos do Mt-
mões passaram a ser pregados na igreja da Misericórdia<4> e serere e a toada triste e ckorosa do «Senhor Jesus Misericó'
tanto o Compromisso de 1856 como o de 1877 fizeram os dia», enquanto que os sinos das igrejas bragançanas colabo-
sermões facultativos <5>. Em 1869, ainda se pregaram na Mi- ravam, com o timbre das suas vozes, naqueles actos públi-
sericórdia os sermões quaresmais pêlos quais o beneficiado cos de penitência quaresmal.
JoãoEvangelista Vergueiro recebeu 15.000 réis, isto é 1.500 Mas havia um Domingo da Quaresma de mais interesse,
réis por cada um W. de mais vibração religiosa: era o Domingo, consagrado à pró'
IDesde aquele ano até 1883, reduziram-se as procissões cissâo do Senhor dos Passos.
Nem sempre se fez. Se a procissão, por este motivo ou
(2) Idem - foi. io v. 'por outro, se não fazia, faziam-se as novenas com missa an-
1(3) i679, foi. 6 v.
1(4) Aconáaos, 1832, foi. 4. tada ou simplesmente missa cantada sem novenas. Missa-
1(5) Compromisso de 2 de Julho de iSy6. - Novo Compro' cantada só a houve de 1881 a 1883, de 1887 a 1891, em.
mtsso de 1877.
<6) C. Corr. - 18314, foi. 95. 1902, em 1919 e em 1927 cuja despesa foi subindo de 1.200
124 25
réis a 120 escudos. Novenas com missa cantada, houve-as Perguntas se: e a despesa com a procissão?
em 1865, de 1894 a 1898, de 1900 a 1905, de 1911 a 1913, Com a procissão feita no ano de 1641 gastou-se em cera
de 1915 a 1918, de 1920 a 1928, em 1933 a 1946, gastan- 968 réis, o que representa muito dinheiro, com a de 1651 a
do-se desde a quantia de 9.440 réis, como foi em 1865, a despesa com os passos e com toda a Semana Santa foi de
6i9$85 escudos, em 1928. 9.684, que dá a certeza de que, em épocas tio distantes, já
Por exclusão sabe-se agora-quando a procissão do Se- existia, a. imagem e a devoção ao Senhor dos Passos. Em
nhor dos Passos foi feita. Ate 1836 .é de crer que se tivesse j 845» passados dois séculos, a despesa foi de 38.945 réis. Só-
realizado ininterruptamente. Não se fez em 1851 por causa be, em 1864, a 56.540 réis; sobe mais, em 1893, a 80.030
das obras no 'hospital, e depois do Compromisso de 1856 réis; sobe mais ainda, em 1899, a 108. 500 réis; e sobe des-
passou a ser facultativa<7), ao contrário do último Compro- medidamente, em 1926, a 498 escudos t12) o que infelizmen-
misso de 1877 que a faz obrigatória, com sermão do Preto' te não significa esfaanjamento.
rio e do Calvário, no segundo Domingo da Quaresma ou Se a procissão ao Senhor dos Passos se fazia já no ano
no dia para que for transferida pela Mesa. E quando por al- de 1641, é porque já existia a imagem e existiam passos. E
.
gum motivo grave se não possa fazer a procissão, e a Mesa como a capela só existiu em 1795, natural seria que os pás-
.
assim o resolva, nem por isso deixará de .haver missa canta- so.s se fizessem improvisadamente, e estes só fossem cons'
da. ao Senhor e sermão. É assim que reza o n.° 4.° do art. truídos pouco depois, como efectivamente 'foram.
61 W. Desde 1788 a 1805, pelo menos, foi Provedor da Santa
lFez'se a procissão desde 1879 a 1887, e tornou a fa- Casa da iMisericórdia Manuel Jorge Gomes de Sepulveda, Te-
zer-se no,s anos 1892 e 1893 e de iB98 a 1906. Houve-a de- nente General dos Exércitos e Governador das Armas da
pois em 1911 e 1914 t9>. Nos últimos anos a procissão fez-se
.
o campainiha recolhia esmolas nas novenas, pela cidade cor- o Espírito Santo e Nossa Setíhora da. Misericórdia estavam
ria em geral uma subscrição,e muitos particulares concorriam em lugar muito seu. Ao seu espírito de crente e à sua ini-
com donativo. s. Se .houve um ano em que a sulbscriçao ren- ciativa de comandante, acudiu uma ideia que logo pôs em
deu apenas 6.'24o réis, como em 1853, outros houve, como execução. Junto da 'Igreja, do lado direito, havia uma casa
o de 1864 que rendeu 116. 120 réis (11>. A renda dependia, da qual fazia parte a que hoje serve de secretaria. ,Sóali, em
como sempre, do prestígio pessoal de quem a promovia. metade dtíla, se podia fazer a. capela. E ali, com poderes dis'
crecionários, a construiu e a torre do sino (13). Edificada a ca-
<7) Acórdãos, 1832, foi. 12, 57 - Comï>fomuso de 1856.
(8) Compromisso áe 1877^^pág. 27.
.
<ç) Actos, 1884, foi. 76 v - Corr. i8&4-ig29 - Corr. 189,4- 1(12) 1845, foi. 5 -C. Corr. 1924, fola 34 - Acórdãos, 1832,
-1923, 'foi. 52 v - Actas, 1907-1919, foi. 94. foi. g6 v.
<io) Actas, n. 16, foi. 78, i66-i8o v.'
<ii) 1854, foi. 52 v -C. Corr. 185,4, foi. 52 v. (13) Tombo I - foi. 112.
126 127
pela, mandou fazer o altar que terminou em 1799, e lá co' um crucifixo de metal amarelo, três sacras de lata, uma lâm-
locou a. imagem do Serihor dos 'Passos cujo nicho foi envidra- .
Em 1865 foi iforrada de novo a capela e reformado o te- dos Passos umas galhetas de prata (21); em 1903, D. Maria
Ihado (16) e, em 1870, concertaram-se a torre e o altar, mu- do Céu Pimentel dçu-lhe uma sanefa de veludo roxo e qua-
daram-se as grades da capela e adaptaram-seao arco da mes- tro laços, guarnecidos a galao e franja dourados; Francisco
ma, pôs's.e uma lâmpada de metal amarelo, no que se gás' Inácio Teixeira um rico esplendor de prata; D. Joana dos
taram 25.830 réis W. Em 1884, o Governo concedeu-lhe Prazeres Rodrigues Braga um véu de seda preta; e a Mar-
uma lâmpadade prata, vinda da igreja de S. 'Bento; um de- quesa da Fronteira e Alorna uma túnica, usada no ano ante-
voto ofereceu-lhe, em 1895, um par de jarras para o altar; rior ipelo Senhor dos (Passosda Graça(22>; em 1904, Alberto
e a Mesa de que era Provedor o Major Luís Ferreira Real, Rodrigues, bragançano residente no Rio de Janeiro, ofereceu
reconstruiu-lhe, em 1897, o soalho que se achava em estado uma riquíssima túnica, de veludo roxo de seda, largamente
de completa deterioração <18>. Em 1907, reformaram-se os vi- bordadaa ouro, que pela primeira vez saiu na procissão, dia
.
dros dos camarins e pintou'se novamente a apela. Necessá- 27 de Março <23>; e em 1909, o Cónego António José da Ro-
rio dizer-se que a sua fachada foi revestida de azulejos em chá ofereceu-lhe uma cabeleira (24>.
1873. O Tenente 'General Manue-l Jorge 'Gomes de Sepulveda,
Não se garante que a actual imagem do Senhordos Pás' construída a capela do Senhor dos Passos, ou ao mesmo tem-
sós seja a mesma existente, em 1641; mas assegura-. se ser a 'po, construiu ps passos espalhados pela cidade. O passo do
mesma que regista o inventário de 1783 com sua túnica» ca- pretório fazia-se de improviso na. capela, e o passo do Cal-
faeleira e esplendor de prata e quatro ramalhetes(19>. O in- vário erguia-se na igreja de S. Francisco. Os outros eram de'
ventáriofeito, em 1852,dá,como pertencente ao Senhordos ifinitivos, e foram construídos: um na esquina da Rua dos
Passose à sua capela, os seguintes objectos: um esplendorde Oleiros e da Rua do Passo, outro no lugar onde estáo Lac-
prata, duas túnicas, uma nova e outra velha, uma .camisa de tário, outro atrás da Sé, mais ou menos em frente da porta
monm, um 'véu roxo, quatro sanefas de la e cinco cortinas do Liceu, outro em frente da igreja de .S. Vicente, ao lado
de seda roxa, um frontal de damasco roxo, uma banqueta e do ohafariz, e outro na esquina da igreja de S. Bento onde
principia a grade do largo do governo civil.
1(14) Acórdãos, 1832, foi. 57 v
1(15) i7&j, inventário. 1(20) 1785, mven. târio.
1(16) L. de arreniatações, 1864, foi. 6. 1(21) Actas, 1884, foi. 122 v.
<i7) C. Corr. 1854, foi. 104. ' 22) Actas, 1903, foi. io, IO v, 2 V
<i8) Corres?. 1884-1929. 1(23) Idem, foi. 9 v.
(119) Actas, 1884, foi. 121. '(24) C. Corr. 1907-1915, foi. 29.
128
a luz dos archotes, das velas e das tochas, projectando cla- como obrigatória (9). De com o projectado es-
roes para as casas, para a multidão e para o céu estrelado ou plendor ou por motivo de obras na igreja, a procissão do
escuro.
Enterro do .Senhor saía da igreja de Santa Clara, e nuns
Entra a procissão em cada igreja onde o Santíssimo es' tempos, maisque noutros, a sua majestade e a riqueza tornou
tá no sagrado sepulcro para actos de adoração; e os que não tais proporções que fazia lembrar a majestade e a grandeza
podem entrar, que são a grande maioria, continuam acom- da procissão do Corpo de Deus, principalmente desde 1865 a
panhando a Ladainha de Todos os Santos, gritando e gemen-- 1898, na qual, consoante a tradição de tempos remotíssi-
do as respostasde «rogai por nós», de «tende compaixão de mos, iam as forças armadas da ci<lade, como retaguarda de
nós»; enquanto que ali, como em todo o trajecto, os pa- um cortejo que atraia, gente de perto e de longe. Ainda
decentes se flagelam a si próprios, na medida da sua fé e pelas aldeias distantes de Miranda do Douro e não menos
da sua contriçao, enchendo de equimoses o corpo e fazendo distantes de iMirandela, há velhos que recordam saudosa e
estalar a pele pela violência dos flagelos, ao lado dos pa- piedosamente o brilho e a imponência da procissão de Sex-
ta^Feira Santa W.
decentes, irmãos da Misericórdia com alguidares lavavam as
costas retalhadas, e ozitros forneciam-lhes pedaços de mar- Alguns anos, como o de 1887, fez-se na igreja da Mi'
melada como recorifortante (4). sericórdia a impressionante cerimónia do Descendimento
A procissão dos fogaréus ainda se fazia em 1721 com de Cruz. E quando não se fazia aqui, realizava-se na igre-
máximo esplendor (5) e com a mesma fé e o mesmo espírito já de ,S. Francisco. Sobre um estrado alto, em forma de
de penitência no ano de 1783 (6), e mais raramente de 1852 monte, cercado de pinheiros, atapetado de cortiça e mus-
para cá (7). Depois caiu em desuso e perdeu'se até da me- go, uma Cruz onde a imagem de Cristo está dependurada
mória dos ibragançanos. Nos anos 1920, 1921 e 1930, a Quin' de cravos. Figuras vivas faziam de Manas e de judeus que,
ta-<Feira Santa foi lembrada na igreja da Misericórdia com a. à voz do pregador, executavam todos''os movimentos até
exposição do Senhor dos Passos, feita com abundância de- que a figura de Cristo passava dos braços da Virgem para
corativa de flores (8). o sepulcro, disposto ao lado que o recebia. Ainda hoje, na
Uma outra procissão fazia e continua fazendo a Santa igreja da Santa Casa, uma ou outra vez, se arma o sepul-
-cro no dia de sexta'£eira santa (11).
Casa da 'Misericórdia: a procissão do Enterro do Senhor.
Todos os Compromissos, incluindo os de 1856 e 1877, a dão Em 1911 não se fez a procissão, dando'se como pretex-
to a proibição da presença das autoridades e áa força pú-
Mica (12). Houve reacção, em 1914, que se realizou com a
1(4) Compromisso, 1618, foi. 32. Conde de Sabugosa - ob.
cit. pág. 262. (9) Compr. 1856 - Compr. de 1877 - pág. 27.
(ï) Abade de Baçal - ob. cit. vol. 2, pág. 291. i('io) Copiador - 1882, n. i, .4, 14, 15, iç, 39 - Corresp. i8'75'
i(6) 1783, inventÁrio. -1894» íol- 7 - Corres^». 1894-1923, foi. 9 v.
1(11) Actas, 1884, foi. 15.
1(7) 1852, idem, foi. 47.
(8) C. Corr. 1924, foi. 113. 1(12) Actas igoj-igig, foi. 55.
140 141
pompa possível, e depois, nos outros anos, com a disponi- ]os e profetas, e saiam as três 'Manas vestidas de preto, co-
bilidade de fracos recursos, mas sempre, com autorização do bertas de 'véus que, em determinados pont03 do percurso,
administrador do concelho (13). A despesa, desde 1846 até mostravam a 'verónica - imagem do rosto de Cristo numa
1888, nunca foi menos de 15.000 reis nem mais de 20.000 tela que se dobrava e desdobrava - entoando o «Vüí
reis, que desde 1889 para cá até 1910 sempre orçou por omnes qui transitis per viam, atendite et videte, etc. ». As
30.000 reis. Em 1923 subiu a 230 escudos, e subiu ainda- insígnias que iam da cana às escadas, foram pintadas de no-
mais em 1941 à quantia de 2.000 escudos (14). vo, em 1671, por 900 reis, e os vestidos das Manas cus-
A imagem do Senhor Morto foi pintada por 600 reis, taram, no mesmo ano, 1.900 reis (20). Elas, por cantar, rece-
no ano de 1676, e teve um volante de prata para ser co' 'biam 200 réis, cada uma.
berto que custou, naquele ano, 1.800 reis. Em 1909, D. No ano de 1677, apareceram três figuras noyas: São
Maria Augusta de Moura ofereceu-lhe um véu de seda, pri' João e José d'Arimateia e São Matias, cujos trajes custaram
morosamente bordado, como em 1898 Íhe havia oferecido 7oo reis (21). Em 1838, às figuras dos anos anteriores, jun-
outro a D. Francisca de Jesus Pires (15). taram-se mais duas: a do Bispo e a de Santa Maria Madale-
(Por vestir a imagem do Senhor Morto receibia o cape' na (22). Em 1842, apareceram as mesmas e mais 6 profe-
lao-mor, em 1833, a propina de 480 reis, o mesmo que o tas (23). IDepois, até 1911, com mais ou menos anjos e com
enfermeiro e mais do que o campainha porque este re-' mais ou menos profetas, a procissão do Enterro do Senhor
cabia 320 reis (16). Esta imagem teve camarim novo, em Morto se 'fez com majestade impressionante, sobretudo no
1870, para o que se tiraram esmolas na soma de 13. 540 tempo em que foi Provedor o Major Luís Ferreira Real
reis <17). (1890-1898), pessoa 'que tornou muito a sério o esplendor do
A (Imagem . do Senhor iMorto sai num esquife que, em culto, de modo a restaurá-lo como se fazia nos antigos tem'
1668, foi feito por 30.000. Em 1710 foi substituído por pôs, vatendo-se do seu prestígio e da sua famüia, e não dei'
outro que custou 49.340 reis, envernizado em 1848 por xando de recorrer às sanções penais consignadas nos Esta-
6. 6oo a8 ),
reis e guarnecido de quatro sanefas de damas- tufos, sempre que os irmãos se descuidavam de aparecer nas.
co preto com galâo dourado em 1852 (19>. vigílias do Senhor dos Passos, nos turnos dos enterros, nas
Como na procissão dos fogaréus, as insígnias da Pai' procissões do Enterro do Sen'hor, ou quando deixavam de
.
xao e Morte de Jesus Cristo saiam sempre levadas por an' apresentar a figura que lhes era destinada pela Mesa. No
tempo do Major Real, como noutras gerências, as multas
1(13) 'Corresp. 1884-1929. eram infalíveis e imperdoáveis. De meio arratel de cerca
<i4) 1845, foi. - C. Corr. 1854, 1856 - C. Corr. 1907 - C.
Corr. 1924 - C. Corr. 1936 - Actas, 16 foi. 79. em 1848, de 1.500 reis em 1877, de 2.000 reis em 1901,
(15) C. Corr. 1884-1929 - Actas,. 1907-1919, foi. 15 v.
1(16) Acórdãos, 1832, foi. 2 v
1(17) IC. Corr. 1854, foi. 102 v, 104. l(2l) 1671, foi. 12 V.
<i8) 1845, foi. 12. (22) Corresp. 1838.
(ig) 1852, inventario, foi. 40 v. '(23) Acórdãos, 1832, foi. 31 v
142 143
de 3.000reis em 1902<24>eram as penas aos irmãosdesobe- categoria. Vai à frente, atrás do guiao roxo. As referidas
dientes; e quando estes se recusavam ao pagamento, era cer. frarias aproximam-se do pálio na razão directa da sua anü-
to serem riscados do rol dos irmãos. guidade. Chega agora da igreja dos jesuítas (hoje Sé) a con-
Diga.se a tempo que as figuras apresentadas na pró/ fraria de Nossa .Senhora dos Prazeres, constituída pêlos alu-
cissao recebiam de presente caixinhas de marmelada. No sé- nos do colégio do Santíssimo Nome de Jesus (1667) seguida
calo XVIII e XIX, a marmelada foi substituída por cartu. pela confraria de São Bento que vinha da igreja de Santa
chos de amêndoas que .eram o delírio das crianças do meu Escolástica (1682) com os seus hábitos pretos, e pela confra-
tempo.
ria de Nossa Senhora do Carmo (1686) com batina carme-
No Enterro do Senhor compareciam as irmandades, mas sim e capa branca vinda,da igreja de S. Vicente. Já próxi-
sem cruzes e guioes.
mas da irmandade da Misericórdia, iam na procissão do En'
Com os dados que temos, podemos reconstituir lima terro do Senhor a confraria das Almas (1715) com opas ver'
procissão do século XWH, a época mais faustosa dos corte- dês e brancas, chegada da igreja, de Santa Maria, a confra-
jos religiosos. ria de Nossa Senhora da Boa Morte (1741) saída da igreja
Saída áa procissão, às 4 horas. De todas AS igrejas vi- de São Francisco, a confraria do Santíssimo Sacrainento
nhamasconfrariase dispunham-se pelaRuadeTrás,segundo (1720) vinda da igreja de São João Baptista, com as opas
a suaantiguidade. E serápor estamesma antiguidade que as escarlates, e a Ordem Terceira de São Francisco (1781) com
disparei nocortejo. Vindada matriz de SantaMana. Aega os seus 'hábitos cinzentos, vinda da igreja do mesmo nome.
a confraria dosclérigosde S. Pedro (1583) com hábitos pré- Dentro das alas das irmandades, levando as insígnias <la
tos; da.igrpja de .SãoJoão Baptista chega a confraria do No. Paixão e Morte de Jesus Cristo, como na procissão dos foga-
me de Jesus (1602) com opas brancas; da igreja de São réus, vão anjos, profetas, varões, e as três Marias vestidas
Francisco, com opas azuis e 'brancas, a confraria de Nossa de preto, cobertas de véus espessos que vão atrás do andor
Senhora áa Conceição (1603); da igreja de São Vicente, com de Nossa Senhora da Soledade, e este atrás do andor de São
um guiao roxo que no alto tem as seguintes letras: S. P. Vestindo opas da Irmandade da Misericórdia viam-se
Q. R. que, atrás de si, um irmão ergue uma cruz preta com as pessoas de maior categoria no artesanato bragançano; os
uma grande toalha pendente dos braços. A irmandade, dona mestres barbeiros, sapateiros, alfaiates, carpinteiros, emxam'
do cortejo e a mais antiga (1518) ocupa o lugar de menos bkdores, serralheiros, albardeiros, ferreiros e forneiros, em
boa camaradagem com os sirgueiros, os teceïoes de seda e de
veludo, os tosadores e os tingidores; e todos 'estes, em santa
(24) ïdem, foi. 26.
144
frateïnidade crista, com barbeiros, sangradores, cirurgiões,
físicos e facultativos, com advogados, bacharéis, licenciados
e doutores.
Atrás do pálio, fazendo coroa ao Provedor e à Mesa, os
padres, ábaáes,capelâes, cónegos e arcediagos, o procurador
do Duque de Bragança, o presidente da Câmara e vereado-
CAPÍTULO X
rés, o corregedor da .comarca com o juiz de fora e todo o pes-
soai da justiça: escrivães do judicial e do juízo geral, o alcai-
.
de da cadeia e o meirinho geral. Pobres, presos e enfermos
À frente das forças armadas, o Tenente General dos
Pão para os pobres nas festas do ano - Vestir os nus - Die-
Exércitos e Governador Geral da Província, cercado pelo -tas e receitas a dinheiro - Movimento de doentes no hospital -
Brigadeiro e Governador da Praça, sargento-mor da comarca, Pensionistas e o seu movimento.
.
pêlos pobres foi de 37 alqueires, sendo o preço do serôdio a. 1895 a I9I4- '^m I^ a ^e Pobres foi tão grande
ioo réis e do trigo a 6o réis. Mas no ano de 1659, a distri- que 'houve de recorrer à polícia para assegurar a ordem W.
buiçao foi muito maior: 466 alqueires de pão e 6.260 réis^ JMo bodo aos .pobres de 1915, fez'se a despesa de 61 escu-
em dinheiro. Mas logo, em 1661, o gasto da Santa Casa já dos, e com as esmolas em 1919 gastaram-se 100 escudos.
foi menor - 36 alqueires ao preço de 8o réis, e 15.527 réis. Desapareceu dos hábitos da Santa Casa o cumprimento
em dinheiro. Aos pobres pensionados pela Santa Ca^a a es- de duas obras de misericórdia: dar de comer a quem tem
.
mçla variava, segundo as necessidades. Vê'seque, em 1667^ fome e, por isso mesmo, darde 'bebera quem tem sede.
houve pobres que recebiam mensalinente 56 réis, outros 84 Como se está longe do tempo em que, nos ihospitais, se
e outros 100 réis. Uns eram subsidiados mensalmente, e ou' via esta inscrição: Christo in pauperibus! Por Cristo aos po-
tros pelo tempo de 8 e 15 dias. Assim é que desde i §45 a bres. Pobre não'ésóo que estáenfermo sem recursos; é tam-
1914» a Santa Casa dispendeu com esmolas a domicílio a. bem o que sem recursos não pode viver. Cuidar dos enfer-
quantia de 3.378.025 réis <3>. jnos pobres 'é grande obra de misericórdia, mas esta obra
Mas havia dias no ano nos quais a .Santa Casa gostava não exclui nem dispensa o exercício da outra - dar de co"
de favorecer os padres. Era no Natal, nas quartas-feiras da mer a quem tem fome.
Quaresma, em Quinta-ifeira Santa e, nos primeiros dois sé^ Porque se não ressuscita o costume secular de fornecer
culos, no dia de Páscoa. O último ano em que houve distri' aos pobres, ao menos no Natal e na Páscoa, um bodo em gé-
buiçao de pão pêlos pobres, foi em 1650-119 alqueires de tri' ïieros? Dar com a direita, às escondidas da mão esquerda,
go. No Natal distribuía a Santa Casa pêlos poibres uma me' está bem, e .é assim mesmo, no domínio da caridade particu'
dia de 125 alqueires de trigo em grão e a quinta parte - 25 lar e individual. Mas no domínio da caridade colectiva, já
alqueires - cozido. E quando algum pobre estava mais ne- não pode ser .da mesma maneira. O exemplo público da ca-
cessitado, recebia um presente de mais vulto. ridade colectiva serve para Iformar o carácter da própria co-
Nas quartas-feiras da Quaresma, além do pão em grão lectividade. As povoaçõesnão são como os indivíduos. Aqui
e cozido, havia pêlos pobres a distribuição de arroba e meia e neste caso, o que dá,devedar ao público a seduçãodo ^eu
de peixe, assim como na Quinta-Feira Santa fazia distribui' exemplo; e o que recebe não deve ter a vergonha de a ïe-
cão de quartilhos de azeite, de arrateis de peixe, quartas de ceber. Não a têm os que têm o hábito de pedir. E os que a
grãos de bico, moletes de pão cozido e esmolas em dinheiro.. têm por serem pobres envergonhados, receberão a esmola a
Em 1661, as esmolas montaram a 4.820 réis, e, em 1710, a. -ocultas, como é próprio do espírito e da letra da Santa Casa
conta chegou a 22. 142 réis. Desde 1847 a 1866, não houve da 'Misericórdia.
distribuiçãode génerospêlos pobres, apenas se deu dinheiro» Quem dá aos pobres, empresta a Deus, disse um dia São
De 1866 a 1874, fez-se novamente; e novamente se fez de João Crisóstomo. A Santa Casa, socorrendo-os, acuniuta um
(3) Acórdãos, 1832, foi. 51 v, 53 v, 53 v. - C. Corr. 1854,. <4) Actos, 1903, tfol. 22 - C. Corr. 1907-1915, foi. 35 -
foi. 25, 32 - C. Corr. 1856, foi. 4, ç, 25. Corres?. 1894-1923, foi. 46.
149
148
restabelece o hábito edificante de fazer, o maior número de
capital de caridade, bem necessário .parao exercício dasou/ vezes, a distribuição 'de roupas pêlos pobres? Porque, dentro
trás obras de misericórdia.
Em vestir os nus, consiste a terceira obra de misencór- dela, à velha maneira, não institui a rouparia dos pobres, on-
.
vi a revelar interesse pêlos pobres: um vestido de mulher, divina do que as outras. É porque no exercício dela, a Santa
em 1894, pelo preço de 2.586 réis; tïês camisas a pobres, Casa faz as vezes do bom samaritano que abraça e cuida do
em 1895, que custaram 630 réis; roupa para dois pobres, em desgraçado doente, achado à beira do caminho, dos santos
1902, no que se dispenderam 1.880réis; compra de muletas que aos empestados consagraram cuidados e vida, e do pró'
e chinelos, em 1903, pelo preço de 740 réis; um enxoval prio Cristo quando deu saúde aos enfermos e movimento
completo para um recém-nascido, em 1920, oferecido por aos paralíticos. Foi o exame da caridade da .Santa Casa que o
D. Alice Gonçalves Silvano (7). grande santo alentejano. São João de Deus, extraiu a funda-
IPergunta-se: porque é que a Mesa da Misericórdia não cão da sua ordem - Os Irmãos da Misericórdia.- (1617)
tão conhecida em todo o mundo pelo especial cuidado dos
1(5) Fernando Correia - db. cit. pág. 275. loucos e que na Itália têm o simpático nome de Fate-bene^
i(6) C. Corr. 1854, foi. 94, 75. 'fmtelli, expressão usada pelo Santo quando, ao toque da
.
(7) Actas, n. 16, foi. 177 v
151
150
mseparávelcampainha, convidava o povo à prática .dacari- 1867, recebendo cadadoente a .diáriade 16o reis <11).Com
dade: Fazei 'bem, irmãos. rações domiciliarias que custaram 70.660 reis, foram socorri'
A Santa Casa tem por obrigação cuidar dos doentes po- dos 43 doentes em 1868, e 71, em 1870, que deram a des-
bres, ou no hospitalou na própriacasadosdoentes. Visível pesa de 51.210 réis. (12).
que o doente tratado no ambiente familiar tem um amparo O Compromisso de 1877 legisla sobre os doentes ex-
moral que não tem no hospital. Visível também que no ternos que não querem ou não podem ser tratados no hos-
hospitaltem o doente um amparo clínico quenãopode ter pitai e que, por isso mesmo, têm direito ao Aono de me'
na sua casa. Diante destas duas evidências, aparece o meio dicamentos e dietas, devendo-se'lhes consignar verba no or-
termo que se pode concretizar neste pensamento: assistir aos çamento. Abonos somente concedidos com atestado jurado
doentes na sua própria casa, na medida do possível. do pároco acerca da pobreza dos pretendentes. Para ter lu-
Este critério foi sempre empregado desde a origem da gar o abono de dietas para os doentes externos, é mister que
Santa Casa. O doente era visitado pelo mesário, e logo de'- o facultativo assistente do doente declare na receita qual a
pois eraassistido pelo facultativo que receitava, pelo boticá- dieta que lhe pode ser abonada e por quantos dias. E sus-
rio que aviava o receituário, e.pelo enfermeiro quelhe en- pende-se o abono quando se esteja certo de que o doente
vïava a dieta ou pelo tesoureiro que lhe mandava a esmola ou sua família vendem ou dão as rações abonadas. Aos doen'
em dinheiro. tes que careçam de banhos ou caldas ou que precisem de
Em i651, a nossa Santa Casa atendia a dois doentes no se 'tratar noutros hospitais, passam-se, sendo pobres, cartas
domicílio a quem dava mensalmente a esmola de 55 réis, o de guia para o hospital da localidade a que se destinarem <13).
que perfazia a quantia anual de 1.320 réis. Em 1658, eram Em quatro anos, 1930-1933, o número de dietas, dis-
trêsosdoentesquerecebiam a esmola mensalde 8o réis.Em tribuídas a doentes ao domicílio foi de 7. 118; e em três
1669, os .doentes eram seis no que se gastou, anualmente, a anos, 1940'1942, o número desceu a 1. 190.
soma de 5.560 réis,despesa menor do que, em 1671, que foi De 1942 para cá parece ter cessado o abono das die-
de 6.240<8'. Até 1680, o número de doentes atendidos foi tas. Apenas vi o abono de leite a cinco pobres que por doença
de 8 (9> e de 1681 em diante o número de doentes, atendi- contagiosa não podiam ser recolhidos ao hospital no ano
dos em sua casa, foi, mais ou menos de 12, número que se de 1943; e, em 1944, a mesma concessão a três tubercu'
fixou até ao ano de 1862 (10). losos <14>.
Foi de 20 o número dos doentes tratados em sua casa Não posso crer que, nestes anos, tenha desaparecido
no ano de 1863, e de 28 no ano de 1866, e logo de 21 em de iBragança a pobreza em condições de ser auxiliada na
sua própria casa.
Pelo primitivo 'Compromisso, «nenhumdoente podia ser saída dos doentes; arquivar as tabelas diárias e rações e en-
admitido sem consulta prévia do físico e cirurgião, únicos tregá-las ao escrivão (17).
juizes das admissões no que respeitava à classificação das Vejâ-se agora como, desde 1880 a 1942, subiu o nú-
doenças, embora elas fossem superiormente determinadas mero de dietas e, consequentemente, subiu a despesa. De
pelo Provedor que assiste a todas as consultas de aceitação, 188o a 1899 vão 20 anos. Nestes 20 anos, a despesa total
com as visitas. Os incuráveis não podiam ser admitidos». das dietas foi de 8.694.982 reis, equivalente à média anual
«O vereador substïtuia o Provedor nos seus impedimentos. de 434. 749 réis. Outros 20 anos, de 1900 a. 1920. Despesa to-
Na consulta da aceitação dos doentes, era substituído pelo tal de 18. 135.790 reis, o que dá por ano a despesa de
físico ou pelo cirurgião interno, conforme a doença de que 906.780 reis.
se tratasse. Quando qualquer doente não podia ir à con- O valor dos géneros sobe. O valor do dinheiro desce.
sulta, era visitado em sua casa pelo Provedor, acompanha' Consequência? Aumento do custo da vida. De 1920 a 1931
do do físico e do cirurgião interno que iam sozinhos, se vão 12 anos. Nestes 12 anos, a despesa foi de 201.484,92
o Provedor estivesse impedido, resolyendo-se se sim ou não escudos, resultando a despesa anual de 16. 790, 41 escudos.
devia ser internado e transportado para o .hospital» <15). A ascensão da despesa é sempre maior. De 1933 a 1942
Com esta norma, se procedeu sempre na Santa Casa ou vão io anos, nos quais se gastou a soma de 460. 816, 28 es-
se devia ter procedido. A despesa, em 1667, com os doen/ cudos, correspondente à despesa anual de 46.081,62 escudos.
tes internados foi de 23. 103 reis; e em 1671, foi menos de Que longe se está do ano de 1667 em que a despesa
metade -' 10.500 reis (16). Em 1681, foi 'de 30.736 reis; anual com os doentes internos foi de 23. 103 reis!... E tam-
e em 1710, foi de '20.000 reis. Veja-se, agora, o que a San' bem que longe se está do espírito da Santa Casa da Mise'
.
ta Casa gastou com dietas aos doentes internos desde 1845 rkórdia, não socorrendo desde 1942, com dietas os pobres
a domicílio. Poderá ter sido uma boa medida económica.
a 1858 - li anos. Foi de 1.255. 074 ceis, o que dá a média
de 114.095 reis. De 1860 a 1879, a despesa anual sobe - Não 'é decerto uma medida crista.
6. 128.613 reis, quantia que dividida por 20 anos, dá a média É tempo de perguntar: quantos doentes pobres na San-
ta Casa?
de. 306. 430 reis.
O Compromisso de 1877 legisla sobre os deveres do Em 1668, foram tratados 16, sendo um destes da d'
mordomo a respeito das 'dietas aos doentes hospitalizados. da'de. Em 1669, a Santa Casa recebeu 11, dos quais da
Compete-lhe: inquirir discretamente do enfermeiro e dos cidade eram dois, e todos morreram, sendo i o enterrados no
doentes a natureza e destino das dietas; formular de véspera adro da Madalena. Em 1672, o número de doentes subiu a
o vale para o fornecimento de géneros; visitar o hospital 22, saindo curados 14, e recebendo, à saída, esmola para a
duas vezes por dia; . inspeccionar os assentos de entrada e viagem (IS).
.
(15) Fernando Correia - eb. cit. pág. 539. (17) Compromisso de 1877.
i(i6) 1671, foi. ii. (i8) 1669, foi. 20 - ,1671, foi. 23 v.
154 155
(Por estes algarismos, se averigua a frequência incuráveis, ou mulher casada afectada de molësüa
hospitalar, concluindo'se que os doentes da cidade eram sifilítica, os doentes de tinha, e os doentes'sem gravidade
cuidados na sua casa e que, para o hospital, iam os que que podem ser tratados em suas casas ou no Banco. Também
na cidade não titíham o agasalho de uma casa e o amparo não podem ser admitidos no hospital: os militares, os alie-
de uma pessoa. O hospital até 1837 não tinha mais que nados não pacíficos, e os pacíficos em quartos particulares,
três 'barras de madeira (19). os estrangeiros fora de perigo de vida.
Deste ano em diante, o movimento hospitalar subiu. Ficou determinado que a admissão dos doentes se fí'
Em 1852, o número de doentes foi de 69 e o de mortos zesse, diariamente, pela manha, logo que o médico tivesse
foi de 4. De 7 mortos e 75 doentes, foi o movimento, em feito a visita ao hospital, e nos casos urgentes todo o dia,
I&53- E assim por diante. Vê'se que o horror pelo trata- e apenas se admitirá o número de doentes, corresponden-
mento no hospital diminue, ou que aumentaram as dificul' te à receita presuntiva de cada mês, .excepto em casos de
dades à assistênciadomiciliaria. Tanto assim que o Compro- epidemia, de desastre ou outros em que a caridade e a hu'
misso de 1856 abriga a um maduro exame da receita e manidade reclamam pronto socorro. Evidente que têm pré-
despesa, para, em face dele, ser fixado o número de doen- ferência os irmãos pobresÜaconfraria, os doentes de maior
tes que diária e gratuitamente podem ser tratados no hos- gravidade e, em igualdade de moléstias, os que são chefes de
pitai (20). família, ou os mais pobres (23).
Porque os rendimentos da Santa Casa aumentaram e a Em 1884, a Santa Casa só pôde admitir 6 doentes, e
enfermaria foi ampliada, a Mesa resolveu admitir doentes em 1889 apenas 4, mas em 1891 volta S receber 6, e assim
até ao número de. 8 (21\ Este número subiu a io, por delifae- se mantém até 1894 que permite a entrada de 8, e com
ração da Mesa, em 20 de Março de 1864 (22). Desta sorte, a este número, a Santa Casa se aguenta até ao ano de 1906
média- dos doentes, desde esta data ao ano de 1873, foi de que pôde manter a média diária de 12 (24). 12 doentes foi
84 doentes e 9 mortos. a média diária até ao ano de 1926, porque, neste ano, foi
Mercê das pretensões à assistência hospitalar, a Mesa fixado em 18 o número de doentes pobres a. serem tra'
da Santa Casa, decretou, pelo Compromisso de 1877, o se- tados gratuitamente no hospital <25). Em 1931, por moti-
guinte: que só podem ser admitidos no hospital doentes vo de obras no 'hospital, deckrou a Mesa só poder receber
pobres e com moléstias e ferimentos que não possam ser tra- 14 doentes pobres, devendo as duas últimas vagas ser preen-
tados senão com dieta e de cama; que não podem ser ad' chidas pêlos doentes de urgente gravidade, de forma a ha'
mitidos, ainda que sejam pobres, os doentes de moléstias ver possibilidade a qualquer caso de absoluta gravidade.
Santa Casa 53.043 escudos, o que representa a renda anual são de 15 escudos; e de terceira com a diária de io escudos.
de 3.788 escudos. Mais ainda: a contribuição média durante Mas no preço da pensão não está incluída a assistência mé-
3 anos foi de 6.518 escudos, porque o total-destes três anos dica, nem os serviços cirúrgicos, nem, para os de primeira
foi de 19.554 escudos. e segunda classes, a importância dos medicamentos (34).
Assombrosa a média anual de 1940 a 1945: - 95-4^7 Para as pensionistas de primeira classe, foi elevada, em
escudos porque os pensionistas entraram com a receita seis. 8 de Abril de 1936, a diária de 20 escudos a 25; e 17 de
vezes maior. Maio de 1943, subiram todas as taxas dos pensionistas, e
A 4 de Julho de 1920, acordou a Mesa da Santa Casa desta maneira: primeira classe, a 30 escudos; segunda clas-
fixar em 1.500 reis a diária dos doentes pensionistas com di- se, a. 22, 50 escudos; e terceira classe, a 15 escudos.
reito a dieta do hospital, assistência médica, enfermagem e. Mas não parou aqui a ascensão dos preços. Em 20 de
medicamentos, e em 2. 000 reis o subsídio a pagar pêlos Maio de 1946, resolveu-se que, a partir de i de Junho ime-
doentes que desejassem tratar-se em quarto particular, com <iiato, a taxa das diárias seja a seguinte: - primeira classe
direitos iguais aos outros. Fez-se isto, .em consideração da. - 4° escudos; segunda classe - 35 escudos; terceira classe
alta dos preços. Mas os preços estavam mais altos, em 1921. - 3° escudos (35).
Resultado,foi fixar a taxa de 2 escudos para os pensionis- Veja-se agora o movimento dos pensionistas desde 1925
tas, tratados na enfermaria -comum, e 3 escudos, para os. a 1944. IParte'se de 11 em 1925, chega-se a 36 em 1931,
de quarto particular. a 57 em 1939, a 593 em 1944. Em face dos algarismos da
Maior alta de preços, em 1925. Consequência? io es- escrita da Santa lCasa, vê'se que desde 1925 a 1944 inclu'
cudos para os da .enifermaria geral, e 15 escudos para os de: sive, 'passaram pelo hospital 2.587 pensionistas, o que re-
quartos particulares (32). presenta imenso, se atendermos à pequenez das nossas insta'
Continuou a alta dos preços em 1931. A Mesa da San- laçoes hospitalares.
ta Casa viu-se obrigada a aumentar dez por cento nas diá-
rias e trinta por cento sobre a percentagem hospitalar de:
operações cirúrgicas, destinando estes acréscimos ao pessoal.
do 'hospital - enfermeiro, serventes e cosinheira - aten"
dendo à pequenez dos seus vencimentos (33).
O Regulamento Geral de 1932 divide em três classes
os doentes pensionistas: de primeira em quarto de primeira
com a pensão diária de 20 escudos; de segunda com pen'
Ãssisíênda técmca
Cagtgal pediu a .exoneração <") pedido que foi retirado a pe- rios Civis, cabendo'lhe o direito de recurso para o Tribunal
didodaMesa. Também não sei porquê, o Ministro do Tra' competente (2l). Evidentíssimo que este artigo - o art. 22.®
baÍho, a 22 de Setembro de 1932. considerou nulas as no' - do Regulamento Geral"põe a salvo os médicos do hospi-
meações do Dr. Adento Madeira e Dr.a D. Laura Torres. tal de eventuais injustiças da Mesa da Santa Casa; e eviden-
razão pela qual a Mesa agradeceu a estes dois médicos os tissimo que o mesmo artigo 'vem embaraçar a administração
serviços gratuitos prestados à Misericórdia(181. Mas se^ por- da Santa 'Casa qundo um medico ou médicos seja ou sejam
que a 9 "de Junho"de 1927, o Dr. Cagigal .pediu, e foi.lhe obstáculos à boa harmonia e paz que devem existir entre a
concedida, a exoneração de director clínico, depois de 14 Mesa e o Corpo Clínico. Parece-me, no entanto, que a difí-
anos. Tinha-se colocado em Lláboa (19). culdade foi resolvida, há 431 anos, pelo Compromisso de
Na sua vaga, foi nomeado interinamente o Dr. Manuel 1516 que ÍEl-iRei Dom Manuel decretou e impôs a todas as
Fernandes de JesusTorres, em Abnl de 1930; e, em Setem- Misericórdias de Portugal e seus domínios, compromisso,
bro de 1931,com ordenado anualde 100escudos, foram no' aliás, que sófoi publicado após 18 anos de experiência, pois
meados o Dr. Aderito Mendes Madeira e D. Laura Domin- começou a ser executado, experimentado e condnuamente
gues Torres t20». rectificado desde 1498, ano da fundação da Misericórdia de
A 3 de Abril de 1932, é o Dr. Fernandes Torres nomea' Lisboa. .Segundo este Compromisso, e dos mais que se lhe se-
guiram, os empregos da Santa Casa não são vitalícios, mas
' ,(14) Actas, 1919-1932. M- i3> 14 v - Correi. 1894-1923, í°l- anuais. Nem o'brigam as Mesas, nem obrigam os funcioná-
i6i.
Idem, foi. 19 'v- nos. Os.cargos da Santa Casa não são fontes de renda. se é
(Í6) Ïdem, iol. 23 - Corresí». 1894-1923.foL, I65_v^
Corresf. 1884-1929 - Actas, 1919-1932. »!. ^ v- que se pode chamar renda à parca gratificação mensal que
(i8~) Corresp. i?S4--ig29 - Actos, 1919-932, tol. 30 v.
(iç) Corresp. . 1884-1929; (21) Reg. Gemi de 1932, pág. 12.
<2o) Actos, 1919-1932, foi. 59 v.
68
rectíbem. Os cargos áa Misericórdia são, sobretudo . e princi-
palmente, encargos, desempenhados por espírito de fé e ca'
ïidade. Segundo o espírito 'e a letra de todos os compromis'
sós, desde o Provedor ao último servente, todos os encargos
são de anual duração e que, por isso mesmo, anualmente se
renovavam. Não se compreende bem esta privilegiada singu- CAPITULO XII
laridade de exercício miédico vitalício numa instituição que^
maUçâo do fomecimentt) de medicamentos ao hospital mi' fim - aumento de receita e maior distribuição de rem.édios
litar-t11). aos pobres - e na 'certeza de ser difícil a sua fiscalização
Termina o ano 1905-1906, e a Mesa observa com pra' por parte das Mesas, foi proposta e aprovada a venda da far-
zer que se .havia apurado a quantia de 795. 610 réis t12) e o macia, e votada em assembleia de 27 de Novembro, sendo
arrematada, a 18 de Fevereiro de 1911, havendo apenas um
Exemplos: 1668 - Despesa com bacalhau, vi- O dia 5 de Abril de 1900 é o dia da morte do jantar
nho, 'azeite e grãos ...... ... ... ... .... ... ... 3. 585 aos presos da cadeia.
1672-2 arrobas de bacalhau e 5 quartas de Em sessão, deliberou-se 'empregar 10.000 réis na melho-
trigo ... ... ... ... ... ... ...... ... ... ... ... 2. 420
ria do rancho dos presos, Quinta-feira Santa por intermédio
1676-Vinho, bacalhau, azeite e grãos ... ... 2. 200 do Delegado do Procurador Régio. Resolveu-se mais: aumen-
Mais ou menos se fez esta despesa em todas as quar' tar o número de raçõese distribuídas pêlos pobres necessita-
tas-feiras da Quaresma até ao ano de 1711, no qual a Mesa dos, no mesmo dia destinado antigamente aos presos e aos
determinou que, alem do habitual, se cosessem 6 alqueires pobres. ,E dava-se esta razão: ser espectacultoso o cortejo do
de trigo e '5 de centeio. jantar aos presos da cadeia tl9).
.
Ë na Quinta-iFeira Santa? O jantar aos presos assumia Não se nega aqui o espectáculo do cortejo. E não se es-
a maior imponéncia. conde aqui a predilecçao pela esmola silenciosa e oculta. Isto
A despesa era um pouco mais do que -os jantares das deve Ifazer-se quando se trata de particular para particular e
quartas-lfeiras. Em 1848, foi de 7.435 réis(14) em 1854, su- mesmo à 'ctolectividade quando não haja interesse de maior.
biu a '2'i. 47o réis a5> em 1862, subiu mais a 32.205 réis <16>.
O interesse d'e maior, neste caso, está em dar às gerações no-
Desde o ano 1865, aos presos civis eram associados os vás uma lição pública, solene e impressionante de afecto aos
desgraçados que, longe da família e da liberdade, gemem e
(io) Idem, foi. 25 v, espiam o peso da justiça humana. É uma lição vivida, e tão
(i i) C. Corr. 1854, foi. 24 v.
(iz) Idem, foi. 58 v. vincadamente, que ela se não risca da memória de quem
;(i3) Ahade de 'Qaçal - ob. cit. vol 2, pág. 291.
(14) 1845, foi. li.
(15) Idem, foi. 62. 1(17) Idem, foi. 104.
<i6) C. Corr. 1854, foi. 47. (18) Acórdãos, 1832, foi. 3 v.
(19) Actas, 1884, foi. 159 v.
84 185
uma vez a presenciou. Depois é .um acto público de santa Em sete ceiras se recolhiam as esmolas para o jantar dos
fraternidade, porque os presos, com serem presos, não dei- presos porque cada um dava para o jantar o que podia; e,
xam de ser nossos irmãos. É o convívio entre a justiça que em dois caldeiroes de cobre, se levava o jantar. Estes caldei-
condenou e os réus condenadtos. É a doce certeza para quem roes 'foram üferecidos ao 'Museu a 8 de Fevereirü de 1931 (19).
safre de que não está esquecido nos grandes dias festivos. Desde 1891, para dar um jantar aos 'presos, era neces-
Foi uma pena 'que a Santa Casa da. Misericórdia deixasse
. sário pedir licença ao Delegado do Procurador Régio (20) e
os presos sem Misericórdia no augusto dia de Quinta'Feira quando, no mesmo dia, se dava um bodo aos pobres, recor-
Santa... ria-se ao Comissário de Polícia para enviar guardas a conter
Tenho aqui diantede mim duascontas da despesafeita o grande número de mendigos (21).
com o jantar dos prestos: uma do ano de 1659, e outra de De manha os presos haviam feito a desobriga. Na sala
1891. livre da cadeia, enfeitada para a comunhato pascal, todas as
mesas estavam dispostas para o jantar. Senhoras da melhor
A primeira: sociedade bragançana haviam distribuído flores por todas
Alqueire e meio de grãos ... .... ... 500 réis elas. Da igreja da Misericórdia saía às 11 horas da manha o
Três arrobas de bacalhau ... ... ... ... .. 3. 000 » cortejo, descia pela Rua de Trás, dobrava à direita junto da.
'De pão para os presos ............... .. 8o » igreja de São Vicente, descia ao iPrincipal e entrava na ca'
.
De vinho para eles .................. .. 680 » deia. Se havia presos na cadeia militar, ]á tinham sido con-
Seis caixas de marmelada ......... .. .. 1. 410 » duzidos para lá. Também eles, militares, eram filhos de Deus.
À frente a bandeira da. Misericórdia. Atrás da bandeira,
Total ... ... ... ... ... ... . .. 6.390 » e em filas, a melhor 'gente da mocidade 'bragançá.na, vestida
A segunda: de preto, levando ao omfaro esquerdo toalhas de linho, rica'
Três cargas de lenha .. ... ..... .. 720 » mente bordadas, e nas mãos uma riqueza de pratas, empres-
Uma carga de carvão e urzes .. ......... 440 » tadas alegremente 'pelas melhores casas da cidade. As toa'
Almoço para as mulheres ......... .. .. 460 » lhas eram em geral floridas de camélias 'e de violetas. As pra'
Geira de três mulheres (3 dias) ... ... 2.400 » tas, jarros, gomis e salvas! Uma riqueza que só vinha à rua,
Gelras de servente (3 dias) .. ... ... 360 » na Quinta-Feira Santa ou no Senhor aos enfermos.
i6 litros de vinhto ......... ..... ... 1.600 » Logo a seguir toda a 'Irmandadeda 'Misericórdia. Dentro
Rações pagas a dinheiro ..... .. ......... 2. 000 » das alas vinham as ceiras com moletes de trigo, garrafas de
Géneros .............. ... ......... 21. 880 » vinho, marmtílada e ifruta seca. Depois vinham os caldeiroes»
Bilhetes para dar rações ..... . ........ 70 » Neles fumegava o arroz de polvo, e desafiavam o apetite as
Uma carta de alfinetes .. ............ . 70 »
1(20) Corres?. 1884-1929.
Total 30. 000 1(21) Corresp. 1894-1923.
186
187
pataniscas e as fofas de bacalhau. O arroz doce, o querido
devendo os carcereiros dar seguras infonnações sobre a po'
doce do.s pobres e dos ricos, o pai de todos os doces como
breza e desamparo dos presos. Havia presos condenados a.
lhe chama pessoa da minha amizade, lá vinha noutro caldei-
degredo'para o ultramar por motivo de dívidas de custas ou
rao polvilhado de canela, a dar-lhe cor e mais delicado pala- outras, que davam ocasião a grandes despesas à Misericórdia
dar. Em salvas de prata, fatias de pão servindo de base a
para os sustentar. Esta tinha o privilégio de por cobro a to'
grossas fatias de queijo.
dos os obstáculos ao prosseguimento do seu destino. Para
Atrás dos caldeiroes a Mesa da Santa Casa com as auto-
ridades da terra: o Juiz de Direito e Delegado da comarca, o
que a ijustiça fosse breve» o Corregedor tinha de ir quinze-
nalmente à cadeia fazer audiência e os Juizes de oito a oito
Coronel de Caçadores300 Coronel de Cavalaria 7. E logo a
dias a ffím de ouvirem os presos, desamarrados das correntes
seguir uma das !fílarmónicas da terra e muito povo.
pêlos carcereiros para mais livremente requererem a sua jus'
Porque não se ressuscita este acto de solidariedade hu- tiça <22).
mana e crista?
Pertencia ao mordomo dos presos cuidar-lhes da líber'
Que mal advirá à Misericórdia em dar, segundo o velho
dade e sustento, com caridade e diligência, próprias de quem
e secular espírito da Santa Casa, uma demonstração pública
serve uma causa tão do agrado de Deus, com fundamento
de afecto fraternal a quem dentro de uma cadeia expia a ]'us-
na ]usti'ça e na razão, tendo'se em conta a pofareza e desam-
tiça da terra? Acto de vaidade? Se há vaidade em dar e re'
ceber, .bendita e louvada seja esta vaidade. Dar em público
paroda pessoa, e só de acordo com ela. Os presos com have'
rés não tinham a protecção total da [Misericórdia. Esta inter-
ou dar em particular, .é sempre dar; e dar é acto de soibera-
vinha a favor destes, como dos outros, para alcançar perdaç»
nia. Quem dá, parece-se com Deus.
da parte acusadora quando este perdão era de se pedir sem
Dar em público... A cadeia é pública, a expiação dos
escândalo.Acercado livramento dos presos, o mordomo ou o
presos é pública. Pública, portanto, a demonstração de afec-
solicitador eram obrigados a dar, todos os Domingos, conta-
to aos presos, e, 'para a formação do carácter colectivo, uma à Mesa dos termos em que iam os feitos e do modo com.
forte lição de amor a vincar'se pela vida fora.
que secorria com eles; e, sobre os deveres religiosos dos pré'
Repare-seno carinhocom que El^ReiDomManuel, a 15
sós, o mordomo insinuava a recepção dos Sacramentos na
de Novemfaro de 1516, cercou de privilégios a Santa Casa
Quaresma e nos quatro jubileus do ano: Nossa Senhora da
da Misericórdia a respeito dos presos. Os almotáceis e carni-
Assunção, Todos os Santos, Natal e Espírito Santo <23>.
ceiros deviam servi-los, primeiro que a ninguém, sob pena de
E a Santa Casa da Misericórdia de Bragança servia os
multa de 2.000 réisa favor dos presos. Os carcereirosdeviam
presos com a solicitude inculcada pelo seu Compromisso e
abster-se de opor o mínimo obstáculo à entrada dos oficiais
da Misericórdianas cadeias, ao contrário do que se fazia. Os
utilizava-se dos privilégios concedidos por El-Rei Dom Ma-
nuel?
mordamos passavam a ter livre .entrada nas cadeias para pró-
verem àsnecessidadesdos presos,'limpar asprisões,visitámos, .
rem (l). lio a quem o pede ou popque não há quem peça. Qualquer
Muito grande deveria ter sido o movimento de peregri- destas hipóteses pode ser verdadeira ou pode ser íalsa. Num
nos no ano de 1667! A cada peregrino dava a esmola de 84 caso ou noutro, documenta que a Santa Casa de- hoje não
réis, e no entanto gastaram-se com eles 5.840 réis. No ano exerce a. quinta obra de misericórdia, aliás não se pensaria,
seguinte, a despesa cresceu. Foi de 6.500 réis. Baixou em e muito bem, em instituir um albergue para os pedintes an-
1671»porque a despesafoi de 3.850 réis(2). dantes, ressuscitando-se assim uma obra anterior às iMisericór-
Pobre de hospitaliáade foi 1676 porque a Santa Casa só dias e nas Misericórdias incorporada.
gastou 300 réis. Mas nos outros, desde 1677 a 1710, a média Remir os cativos é a sexta obra de misericórdia. Para a
dos gastoscom os peregrinosandou por 4.000 reis. Em 1711 redençãodos cativos, numa épocaem que os muçulmanos le-
a despesa sulbiu a 8.370 réis, e nos anos seguintes o mesmo» vavam para. o cativeiro muitos cristãos, fundaram'se no sécu-
Depois no século XIX a vida foi outra. Menos peregri- lo XII as Ordens da Santíssima Trindade e dos IVercedários
nos. talvez menos miséria e talvez menos... hospitalidade. de cujas benemerências, sobretudo dos trinitários, está cheia
As contas correntes de 1850 para sá fornecem-nos casos iso' a historia portuguesa e a própria história da. Santa Casa que
lados. Aqui (1850) é a esmolade 16o réis a uma velhinha tem, em iFrei Miguel de Contreras, um extraordinário pala-
que vai para Chaves <3) .é outra de 120 réis a um pobre de- dino e propagandista. As duas Ordens, dois alfofares de már-
Lamego t4> são dois pobres de fora que recebem 240 réis. tires dos bárbaros. Uns 900 foram martirizados em favor de
Ali (1855) é um viandante que recebe o auxílio de 1.220 um milhãode cativos que libertaram.
réis. Alem (1857) são quatro pübres de passagem pêlos quais 'Padres destas duas Ordens peregrinavam pelo país a
a Santa Casa desembolsa 18.080 réis <5). De 1866 a 1879, a mendigar esmolas para o resgate dos cativos, e batiam, como
despesa com passageiros foi de 89.920 réis. era natural, à porta da Santa Casa. Para eles nunca faltou a
Nove anos se passam sem exercício de hospitalidade.. esmola de 200 réis, o que era no século XVI esmola muito
de apreciar. Com 200 réis compravam-se 6 alqueires e meio
de centeio, correspondente hoje a 70 escudos.
(i) Fernando Correia. - ob. cit., pág. 544. Enterrar os mortos é a sétima obra de misericórdia.
(2) 1671, foi. II V.
.
(3) Acórdãos, 1832, foi. 49. Releia-se o Evangelho. Veja-se Tobias enterrava
(4) Idem, foi. 50 v.
($) Corres?. 1856, foi. 9.
192 193
os mortos em Ninive, no tempo do cativeiro, como os ha- do ficou reservado para os irmãos e pessoas que tivessem este
bitantes de Naim acompanharam o cadáverdo filho dá viú- privilégio, como eram mulheres e filhos de irmãos. Se alguém
va, como José de Arimateia e Nicodemos deram sepultura a- o pedisse, teria de dar 6.000 réis <8).
Jesus Cristo. É .que enterrar os mortos é fazer>lhes uma obra- A 14 de Setembro de 1681, deliberou a 'Mesa que o es-
de caridade que não poderão pagar. quife velho se pusesse a 600 réis, não sendo pobre, para com
Precursora da .Santa Casa, na piedosa caridade de enter- eles pagar a 4 homens que o levassem à sepultura.
rar os mortos, foi em Bragança a confraria de Santa Cruz. Por um inventário .feito em 1783, se averigua que na
Esta conlfraria estava erecta na antiga e desaparecida capela Santa Casa existiam 3 tumbas: uma coberta de veludo preto
de Santa Catarina, mais tarde incorporada na igreja de São e colchão almo!fadadodo mesmo; outra coberta de pano pré'
Francisco, e transferiu-se, depois de 1641, para a igreja de to com galoes de seda amarela e franja preta com colchão
São Vicente, valendo'se da concessão do bispo Dom Antó.- almofadado d'e milão preto; e outra de madeira tingida de
nio Pinheiro, a 6 de Setembro de 1569, de que ainda não ti' preto com colchão almofadado do mesmo tecido (10). Supo-
nham usado ^. n'ho que, assim com três tumbas, serviu a Santa Casa os
Coni a fundação em Bragança da Santa Casa, tornou es'- mortos da cidade até 17 de Fevereiro de 1833, .pois foi nes-
ta a si a tartífa de enterrar os mortos, fiel ao Compromisso te dia que resolveu fazer uma tumba para. .crianças desde á;
dado por El-<Rei Dom 'Manuel, entregando-a à obrigação do- idade de 7 anos, p'elo preço de 800 réis, sendo levadas à se-
mordomo da capela, que elegia, todas as sextas-feiras, qua- pultura pêlos filhos dos irmãos (11>. A 2 de Julho de 1833
tro irmãos para acompanhar as tumbas da Casa (?). estendeu-se às irmãs solteiras dos irmãos clérigos de Ordens
Em 1667, a 'Mesa mandara comprar para o equife, e por Sacras o privilégio da tumba que outrora se havia concedido,
15.000 réis, '20 cavados de veludo preto, tecido na cidade, às mulheres e filhas dos irmãos (12).
e ao mesmo tempo mandou fazer bandeira nova. Desta ma- Em 1852 fez-se um inventário. Havia 2 tumbas ricas,
neira se 'habilitou para deliberar que o pano e bandeira ape- 3 tumbas poibres e i tumba para crianças<l3). Mas uma das
nas servissem para o enterro dos irmãos, mulher e filhos, sem ricas, com grade e pirâmides douradas, foi vendida por inu'
darem cousa alguma, o que não sucederia com os não irmãos til por se terem adoptado os caixões. Ficaram então dois:
a não ser que dessem io cruzados de esmola. Também po' caixão rico coberto de veludo e franja dourada, e uma tum-
deriam levar o pano e bandeira as pessoas que dessem io ba dos pobres, coberta de pano novo, com galao branco.
tostões, levando o esquife velho. No ano seguinte, 2 de Ju'
lho de 1669, a Santa Casa mandou fazer um esquife rico-
bronzeado,ficando entãocom três esquifes. Pelo velho levar' (8) i668, foi. 77.
'se-iam 500 réis e pelo outro 3. 000 réis. O novo e bronzea^
.
eram riscados do rol. Nos séculos passados a multa variou. Após a tumba um servente de opa azul com uma caixa na
ï20 réis no século XVI e meio arratel de cera no século XIX. mão, pedindo, em voz alta, esmola para as obras de mi'
Se o irmão era mesário a multa, era, em 1819, de um arratel sericórdia, e a seguir os clérigos, religiosos, confrarias e po-
de cera <26>. Em 1895 a multa subiu a 840 reis. Em anos» bresquecom ceraacompanhavam o defunto. Esquecia-me de
como 1893, 1894e 1903, foram riscados 11 irmãos (27). Coni dizer que a irmandade ia logo adiante da tumba, em duas
multas e exclusoes a Santa Casa garantia o exercício da s'é- alas, com tochas de cera, recitando em voz alta 14 PaiNossos
tima obra de misericórdia - enterrar os mortos. e 14 Ave-Marias.
Como se faziam os enterros? O número de tochas era na razão directa dos recursos e
Antecipadamente o campanhia de opa azul anunciava da vontade da família do falecido <28), assim como as con/
pelas ruas o nome do falecido, a sua morada e a hora do trarias iam, ou não, se o defunto tinha ou não sido seu con-
enterro. Com este tríplice aviso, feito por todas as ruas e frade. Se o falecidohavia pertencidoa todas asconfrarias d.i
calejas da cidade, ficavam os hafeitantes inutilizados para cidade, seria espectáculo digno de ser visto o seu desfile com
apresentar a escusa da ignorância no respeitante ao cumpn- o colorido das suas opas, com as suas 'insígnias e os seus
mento desta obra de misericórdia. À hora e local indicados^ capelaes. 'Ele eram a confraria. de Nossa Senhora dos Prazeres
acorriam as irmandades com as suas opas características e as e a do .Santíssimo, vindas da igreja do Colégio; ele era a
confraria de Nossa Senhora das Graças, de Santa Clara;
eram as confrarias do,s Clérigos áe S. Pedro, de Santo Es-
(25) 1671, foi. 4'3-
{a6) Matr. de irmãos, 1834, Ifol. 277.
1(27) Actos, 1884, foi. 182 v. - Actos, 1903, foi. 4 - Cor-
resp. i894'i923, foi. 3. (28) Comfromisso de 1618, ,pag. 33 v.
200 201
tevão e das Almas da igreja de Santa Maria; eram as con- firmou os antigos direitos dos irmãos da Misericórdia, e
frarias de Nossa Senhora da Conceição, de Nossa Setíhora- acrescentou, digo extendeu'os a pessoas da sua família, e
da Boa Morte, da Ordem Terceira de São Francisco, da. permitiu o depósito gratuito na igreja para efeito de exé-
igreja dos franciscanos; eram as confrarias do Senhor Jesus. quias. E enquanto aos pobres, deliberou-se que o pregão
de S. Vicente e de Nossa . Senhora do Carmo, da igreja de. da. sua morte e enterro fosse feito com campainha de se-
S. Vicente; eram as confrarias do Nome de Jesus e do San' gunda classe, tendo por companhia o sacristão e o campai-
tíssimo, da igreja de São João Baptista; e era a confraria de nha da casa e seis irmãos de segunda condição com seis to-
São Bento, da sua igreja. chás acesas (32).
Se o lugar das confrarias não permitia questiúnculas O 'Compromisso de 1856, sobre tíbrigar a Mesa a com-
.
de precedência, porque se seguia o critério da antigui- parecer nos enterros de todos os irmãos da Misericórdia e
dade, já não sucedia o mesmo entre os mesmos capelaes da. dos que à Santa Casa pagavam a devida taxa, ordena que,
Misericórdia, entre os capelaes desta e os das confrarias, e além do público aviso do campainlia, o sino da igreja dê
os capelaes e respectivos párocos. Para aquietar a ritual dois sinais pelo falecido: um ao anoitecerde vésperae outro
consciência dos capelaes, a Santa Casa determinou a cate' pela manha, a fim de que os habitantes da cidade lhe sufra-
goria das posições e distribuiu-os segundo a ordem da an- gassem a alma:, dentro de suas casas (33>. Esta medida sobre
tiguidade na função ^; para a solução ao con'flito entre o toque do sino é confirmada pelo Compromisso de
-capelaes das confrarias a respeito da precedência nas enco- 1877 <34).
mendações dos defuntos, o 'bispo, Dom Frei José de Len' Quando se renovou o pavimento da igreja da ÍMiseri-
castre, a 26 de Abril de 1678, determinou que os cada' córdia e houve de fazer-se uma caixa de ar, no ano de
veres fossem encomendados pêlos capelaes das confrarias 1897» entendeu-se, e muito bem, que se devia fazer prara
à medida que fossem chegando, sem esperarem pelo cape' o cemitério a remoção das ossadas. Foi no dia 2 de Novem'
lâo da Misericórdia (20); e, para a questão de direito ede- bro. As conifrarias convidadas assistiram ao ofício cantado
siástko levantada, entre a Santa Casa e as paróquias, ficou às li horas. A seguir a trasladaçao dos ossos para o cerni'
assente, depois de longa controvérsia, que as paróquias tl- tério. À passagem do cortejo, os sinos da Sé dobraram a
nham precedência fora da igreja da Misericórdia e nunca finados. No cemitério um sermão adequado às circunstân-
dentro dela. Excluia-se, já se vê, o pobre viandante ou o po- cias <35). Para o transporte das ossadas mandou-se fazer uma
bre sem domicílio certo porque so<bre o cadáver de um e urna. Esta urna foi aproveitada para se fazer uma eça, à
de outro, 'havia somente a jurisdição da Santa Casa (31). qual se ajustaram os degraus necessários (36).
A 15 de Novembro de 1838, a Mesa da Santa Casa con-
1(32) Acórdãos, 1832, foi. 21.
(33) Compromisso de 1856.
(29) Idem, pág. 25 v. (34) Compromisso de 1877, pág. 28.
(30) Arquivo Distrital - Cónegos. .
(3'5) Corresp. 1894-1923, foi. 39.
(3i) 1671, foi., 95. (36) Actas, 1884, foi. 133.
202 203
Uma outra vez, mas de forma particiilar, se traslada' quem sabe se com o pensamento da Casa mandar
ram ossos 'humanos para o cemitério. Foi em Setembro de celtíbrar missas por sua alma. Com o produto delas, man-
1901, após a sua descoberta no quintal da Santa Casa, anti- dou a Misericórdia celebrar-lhe ofício, a 6 de Outubro de
quíssimo cemitério, o adro da Madalena (37). 1887 (38). Depois deste ano, não sei mais nada. Sei apenas
Entre os privilégios de El'Rei Dom Manuel, concedi- que, desde 1895 a 1901, de esmolas ao José Jorge, apurou
dos a 15 de Novembro de 1516, às Misericórdias, existe o de a Santa Casa a quantia de 247. 450 réis, e que o servente,
assistir e enterrar os condenados à morte por justiça. por tratar da capeliriha, recebeu, a 30 de Junho de 1908,
No dia 3 de Abril de 1843 deu'se, em Bragança o en- a gratificação de 2.525 reis (39>.
forcamento de José Jorge. Se por ventura em séculos pás' Como se deu a execuçãodo José Jorge?
sados alguém foi justiçado, esse alguém não ficou na tra- Dadaa sentençade morte, e conduzidoà cadeia,o mor-
diçao. Só ficou um - José Jorge. Ficou envolvido pela domodabotica foi aocárcerecom o mordomoda mesma lê'
piedosa tradição, de um erro judiciário. Daqui esta impres- var-lhe o vinho e o mais que ,se costumava levar para con-
sionante compaixão que se conserva intacta após um se' sokçâo (40>. Eram trêsdias de oratório. Um padre, convidado
culo. Compaixão e devoção. Reza-se ao José Jorge como se pelo mordomo dos presos, foi confessá-lo e consolá-lo. No
reza a um santo dos altares. Enterrado a um canto do novo segundo dia armou<se na cadeia um altar para José Jorge
cemitério, a Câmara Municipal fez'lhe uma singela capeli- assistir á missa e comungar. Neste dia o campainha andou
nha onde, com frequência, arde o azeite da caridade crista, pelas ruas a dar o aviso e a convocar padecentes que qui-
e se desfolham flores, postas ali por gratidão. Não raro sessem flagelar-se no enterro para bem da alma do conde-
tranças de mulher deitadas por mãos agradecidas caiem no nado. No terceiro dia, novamente missa na cadeia, e no-
térreo pavimento, e o linho em rama de flor azul docu- vãmente os sinos das igrejas dd cidade tocaram longamente,
menta a lavradeira que, no justiçado de 1843, põe a do' ifünebremente, dolorosamente a mortos. O padecente porjus-
mestiça esperança do aumento do seu bragal. Esquece-se tiça, como então se chamava ao condenado à morte, espe-
esta ou aquela sepultura, ou mesmo são esquecidas as de rava a irmandade da Misericórdia, ouvindo as palavras con-
muitos que trataram .connosco e connosco viveram. Com a soladoras, ditas pelo capelao. Os sinos continuam a tocar.
campa de José Jorge já não sucede assim. Todos sabem on' Era de tarde. Da igreja já saíram todos os irmãosde balan-
de é, e muitos, ao passar por ela, deixam cair dos lábios um drau preto, todos os capelaes acompanhando o Crucifixo de
Pai Nosso por sua alma. É a eterna compaixão da galeria tochas,acesas.Atrása [bandeiradaMisericórdia,e atrásdela o
pe'la vítima. É o protesto do coração humano contra as ine- povo que quis assistir ao enforcamento. Ouve-se. na Rua
vitáveis injustiças deste mundo. de Trás, o tilintar da campainha, e, em toda a cidade, ou-
Uns deitam flores, enfiam muitos, pelas grades, moedas
(38) Actas, 188,4, foi. 19 v.
1(39) C. corr. 1907-1915, foi. i3.
(37) C. conr. 1901. 1(40) Compr. 1618, pág. 23.
204 205
vem-se as vozes tristes dos sinos. Para o Crucifixo, erguido altos, clamorosos, veementes, os gritos de piedade e compai-
ao alto por um capelâo de sabrepeliz, erguem-se mãos postas xâo para o desgraçado sobre o qual o verdugo saltou, e a cor-
a pedir misericórdia, e cintilam com mais brilho as lágrimas da o asfixiou, e o capus envolveu a cabeça sem vida.
da ibondade humana. As Vozes dos capelaes erguem-se ao alto a entoar rés-
A Irmandade está à frente da cadeia. Está ali tudo. pensos por sua alma. Ao alto ergue-se o .hissope para aljofrar
Autoridades, tropas e tambores. -Funcionários da justiça e de água benta o cadáver do condenado por justiça. Ao alto
gente de todas as idades. Vestido de branco e manietado» ergue-se a 'bandeira da .Misericórdia para recolher o cadáver
surge à porta da cadeia José Jorge, de rosto pálido e ma- e ver se ainda, lhe aproveita um resto de vida (41).
cerado pelas agonias. O capelao d'eu'lhe o Crucifixo a bei- Para quê?
jar. Depois toda a multidão ajoe-thou e entoou a Ladainha. «Corre, cümo tradição piedosa, disse o Conde de Sabu-
de Todos os Santos a pedir a divina demência para a alma gosa que, rebentando o laço e caindo o padecente ainda
dele. Ao chegar ao ponto em que se invoca (i. Santa Maria,. com vida, abatia sobre . ele a bandeira da Misericórdia, e fi-
ora pró eo», todos se levantam e se dirigem pela mesma or- cava a coberto da perseguição da justiça, o condenado. Di-
dem em que vieram, excepto o Crucifixo que ficou junto de zia-se até que muitas vezes a Irmandade, com o fim huma-
José Jorge. A Ladainha continua a ser cantada, e os sinos nitário de intervir por este modo, .no salvamento dos seus
continuam a ddbrar a finados. O préstito vai Rua Direita protegidos, fornecia cordas passadaspor água forte».
acima, passa pela iPraça do Colégio e sofae. Rua dos Olei'
ros. Gente das aldeias, do raio de uma légua, comprime-se
pelas ruas, o cortejo desfila lentamente, e as crianças, por
obrigação legal, choram pelas bofetadas dos pais, para que
fique como lemibraaça, e fixam de olhos grandes o pobre
condenado, de mãos amarradas, vestido de branco e capus
na cabeça, desmaiado, sem forças físicas, cambaleando, tal'
vez sequioso de chegar depressa ao tablado da forca, er-
guida ao alto, 'junto ao muro do cemitério.
E os sinos tocam. Rufam os tamfaores. José Jorge só
tem a liberdade dos lábios para beijar, pela última vez, o
Crucifixo, para pedir perdão em alta voz dos seus pecados,
perdoar aos seus inimigos, e protestar a sua inocência.
Já sobe os degraus do patíbulo. Já os capelâes da Mi'
sericórdia entoam a antífona «Ne recorderis Domine», e os
sinos ainda tocam, e tos tambores ainda rufam, e ouvem-se, (41) Idem, pág. }^
CAPÍTULO XV
Misericórdia espiritual
Crianças ao desamparo - Paz entre desavindos - Rogar a
Deus pêlos vivos e defuntos - Exéquias pelo Duque de Bragança
Sufrágios.
averiguar que, nem mesmo neste doloroso capítulo da infân- lo da paz dom.éstica e social. A paz de todos ao serviço do
cia abandonada, a Misericórdiadeixou de ter por ela o du- 'bem comum, eis a divisa traçada às Misericórdias por uma
pio amor de benevolência e beneficência. Em meados do sé- Ra.itíha. e por um Rei que encheram Portugal de ventura.
culo XVilI, quando estava em plena prosperidade a indús' A par das misericórdias corporais, a Santa Casa teve sem"
tria da seda e do veludo, pagava 16o réis mensais a um te- pré na melhor conta as sete misericórdias espirituais. Viu-se
celao que ensinasse .e mantlvesse o mínimo deixado sem mãe. .
nos capítulos passados, e até neste, quanto a Santa Casa em
Nos primeiros anosdo séculoXIX,vi que a SantaCasacriou proveito destas - dar 'bom conselho, ensinar os ignorantes,
e edu-cou um mudo. 'E ainda é da minha lembrança pessoal -.consolar os tristes, castigar os errados, perdoar as injúrias, so-
a existência na Misericórdia de um exposto, chamado Ar' írer pacientemente as fraquezas alheias - quando, no exer'
naldo. «cíçio da sua missão sagrada, alimenta os famintos, sacia os
Outrü fim, não menos benemérito da Misericórdia, foi sequiosos, veste os nus, visita enfermos e encarcerados, aga-
estabelecer a paz .entre as pessoas desavindas. Safaendo'se que saïha os peregrinos, resgata os cativos e enterra os mortos.
Mas de todas as obras de misericórdia a. mais tocante,
«algumas pessoas estão postas em inimizade escandalosa ou
em discórdia que se sigam males públicos» o Provedor e os -aquela que mais respeita ao culto da gratidão e da saudade,
mesários deviam empregar todos os meios para as reconci- é a que se denomina - rogar a Deus pêlos vivos e defuntos.
liar, ou falando-lhes por si ou pelas pessoas que lhes pare- A oraçãopêlosbenfeitores, vivos e mortos é um dos mais be-
cessem maisacomodadas,até se perdoarem as injúrias, e dei- los actos que um crente pode fazer pelo seu semelhante. O
xarem o ódio e voltarem a ser amigos consoante manda a re- pobre sem ter que dar, pede a Deus que o substitua na gra-
ligiâo professada. tidao e ao reconhecimento. Outrora houve hospícios, desti-
Nunca a Santa Casa trataria de questões de honra e de nados ao abrigo de pessoas cuja missão era rezar pêlos seus
.
fazenda de cuja paz resultasse algum vexame para uma das benfeitores. E ainda foi do meu conhecimento que, na cida-
partes, nem se meteria em conseguir a paz entre dois inimi- <le do Porto, havia pessoas que viviam de assistir a missas
gos da qual resuhasse dano para o ifaem público <2>. pela intenção de quem lhes dava esmola. A própria Miseri'
.
Com esta orientação compreende-se admiràvèlmente o córdia de Lisboa tinha asilos a que 'dhamava mercearias para
'bem que a Santa Casa tem 'feito através dos séculos da sua abrigar «mulheres pobres, viúvas ou que não tivessem casa-
existência, sobretudo se pensarmos que a Misericórdia teve do»,, de 50 anos de idade pelo menos, «de boa fama, virtuo-
como orientadores e governadores as pessoas de mais prestí' sãs e honradas», mas não tcmulheres doentes ou aleijadas»,
apenas foram cobrados 100 alqueires <25). Em iS5i desceu dinheiro caia no cofre do tesouro para depois cair nas mãos
aos necessitados. Os que pediam tinham o nome de mampos-
e só socegaram quando o tesoureiro acudiu ao motim. A de- Neste caso, nem a cadeia inculcada pelo Dr. Franco,
sordem repetiu-se na manha de 29. Isto, dizia o Provedor» nem a manga larguíssima do Provedor Miguel Pinto. Con-
não podia continuar. Depois nos Estatutos da Casa não ha' cilia-se um pouco a caridade e a moral, adoptando um pavi-
viacastigo algum para osdoentes revolucionários porque mal Íhâo ou sala de isolamento.
pensaria o legislador que a Santa Casa viesse a ser cubículo Tratando'se das fontes de receita, é preciso não esque'
de toleradas. Não se pode dizer que não háoutro lugar para. cer a Câmara Municipal. Em 1860-1861, deu, para sustento
elas, dizia o Provedor, pois na cadeia havia quartos ao cimo dos doentes, 119.890 reis (5); no ano 1873-1874,deu 300.000
. da escada. Este lugar era mais próprio para elas do que o reis (6) dê 1926 a 1932, deu, em 7 prestações, 20.500 es-
hospital, uma casas&ria onde só devia entrar gente séria <2). cudos (7) de 1933 a 1945, deu, em 17 prestações, 132.375
Em 1878 volta o Provedor a queixar-se ao Governador -escudos <8); a 25 de Maio de 1934, deu, para ajuda da com-
Civil. Desta vez a queixa é de ordem financeira. Em 1874' pra de um aparelho de diatermia, 2.500 escudos (9); para a
-i875» o Governo havia decretado o subsídio de 186.370 montagem de um ca'bo eléctrico, deu, a 4 de Setembro de
reis, e continuou a providênciacom a verba de 200.000 reis. I937»2.000 escudos (10); e, em multas por infracção ao có-
Em 1875-1876, o Governo prometeu verba igual e nãocum' digo da caça, deu em 23 prestações, 9. 198, 55 escudos <11).
priu. Findara-se o ano de 1876-1877, e ainda nada se rece' Não se pode dizer que a Câmara Municipal não tem
bera. O Hospital não pode abonar mais (3). ajudado a .Santa Casa da Misericórdia.
Em 25 de Fevereiro de 1881, o Provedor que era Mi' Subsídios do Estado. Pelo art. 7 da lei de 7 de Abril,
guel Maria Pinto tem outra orientação. Escreve ao Gover' de 1892, começou a Santa Casa a. receber, pelo Ministério
nadar Civil a interceder por elas, pedindo que consiga do <}o Reino, o subsídio anual de 172.800 reis perfazendo, até
Governo um subsídio para o hospital as poder receber (4). ao ano de 1910, a quantia de 3.283.200 reis (12>. A 25 de
Chegou o subsídio de 204. 800 reis, em 1891-1892, e depois Junho de 1901, recebeu um .certificado de 5 contos, n. 1619,
foi fixado o abono diário de 400 reis para cada uma, ele' aveAado à 'Misericórdia, e em Fevereiro de 1905, para A
vado logo depois a 500 reis (5).
O sufasídio do Estado neste capítulo foi: de 1892 a <5) Corres?. 188,4-1929 - Actas, 1884, foi. 64 v.
1895, de 2.649. 400 reis; de 1895 a 1900, foi de 6.668. 470 (6) C. Corr. 1854, foi. 36 v.
(y) Idem, 1924, foi, 39v, 70 .v. 76 v, 98 v, 100v, 113 v, 127 v.
reis; e de 1901 a 1922, foi de 9.999,60 escudos. De 1925 <8) íáem, foi. 1.62 iv, 178 v, 201 v - C. Corr. 1935, foi. ' 12,
36, 6o, 87, i2i, 131.
(9) C. Corr. 19124, foi. 180.
<io) Idem, 1935, foi. 53.
(2) Idern, foi. 7. 1(11) Idem,_íoï. 6, 8, i6, 18, 20, 24, 30, 36, 38, 55, 6o, 87,
(3) Idem, foi. io. 92' I/31'.~1 c' corr-_I924> foi. 197 v. - Actas, 17, foi. 43 v, 43.
(12) Corres?. 1884-1929.
(4) Idem, foi. 17 v
232 233
ampliação da enfermaria dos homens, o Estado concedeu o Mais subsídios ainda. Da Junta Geral do Distrito, desde
subsídio de 600. 000 reis. 1930 a Maio de i93'2,.22.500 escudos. Da Junta da Pró-
Nos termos da lei n.° 870, do art. 2.° do Decreto n.° vínoia de Trás-os-Montes, desde 1938 a 1944, 49.400 escu-
16. 142, de 13 de TSíovembro de 1928, da Lei 1017 de 6 dos, e em 1944-1945, 2.500 escudos. Do Governo Civil,
de Agosto de 1920, dos fundos realizados nos-termos das em 9 prestações,a Santa Casa recebeu 30.784 escudos<21).
leis 1274 e 1349, respectivamente de 5 de Junho e 12 de Se' Como fonte de receita e cultura, a Santa Casa tinha
tembro de 1922, concedidos pelo Instituto de Seguros Só' precisamente onde está hoje o Teatro Camões, casa de es-
ciais Obrigatórios e Previdência, da lei 870, a Santa Casa pectáculosque, em '1817, ainda existia com o nome ds. Casa
recebeu, em subsídios do Estado, desde 1919 a 1931' 3°5-I25 da. Comédia, título que, em geral, tinham os teatros no sé'
.
cedeu/lhe quase 62.000 escudos (14>. Quase 215.000 es- A SantaCasa, a 27 de Julhode 1817, deliberou pôredi-
cudos lhe deu a Direcção Geral da Assistência, desde 1933 tais para a sua venda <24). Parece que houve licitantes porque,
a 1942, e 78. 000 escudos no ano de 1943 <15). E nestes úl- 3. 6 de Novembro de 1839,AntónioManuel Ramires e Antó-
timos anos o subsídio foi de 532. 000,00 (16). nioMaurício Jorge de Lima seus proprietários ofereceram à
Mais subsídios. Da Comissão Distrital de Assistência Santa Casa os aprestos indispensáveis para a Casa do Teatro
Pública, desde 1914 a 1932, recebeu a Santa Casa 114.000 funcionar e, assim, de aluguer a companhias dramáticas, ti'
escudos <17>. Do iPresidente da República Dr. Sidónio Pais» rar proveito. A Santa Casa aceitou jubilosa, e nomeou uma
i.ooo escudos (18). Do Administrador do Concelho, desde comissão para, ao Administrador Geral, pedir autorização a
1919 a I927» 710 escudos. Do Ministro da Justiça, Dr. Lo- fim de receber depois as tíhaves e inventário da Casa do
mil escudos a9 >. Teatro <25).
pés Cardoso, 1920, y
nos anos 1919 e
Da Caixa Geral de Depósitos, destinado a cobrir o déficit 'Esta casa de espectáculosnas mãos da Santa Casa, a Ca-
orçamental, 3.986 escudos(20). sá do Teatro passou a ter o velho nome - Casa da Come-
<áia -.. que rendia, por cada recita, . a quantia de 2.400
(ï3) C. Corr. 1924, foi. 129 v, 108 v, 100 v, 99 v, 98 v, 96, réis <26).
v, 46 v, 68 v, 66 v, 58 v, 6 v, 30 v, 40 v, - Actas, ig'ig-1932,
foi. '35 v - Corresp. 1884-1929. Não sei quando a Casa da Comedia foi adquirida pela
(Í4) C. Corr. 1924, foi. 162 v, 20 i V - C. Corr. 1935, ü- Câmara Municipal, e esta lhe deu o nome de Teatro Brigan-
"(i5) Actas, 17, foi. 38 - C. Corr. 1924. f°l- 177 v - C. Corr. tino. Mas sei que, no ano de 1845, se deram dois benefícios
1935' f°l- 4» io, 26, 30, 50, 6o. que renderam 46. 590 réis. Desde o ano de 1849 a 1864, no
, Ci6) Idem, foi. 82 v.
1(17) Corresf. 1884-1929 - C. Corr. 1924, foi. 8, 20 v, 39 v,
6o v, 90 , v, 139 v, 144 v. (21) Idem, foi. igS v, 197 v, 202 v
.
(27) IC. Corr. 1854, foi. 36 v - 1845, foi. 19 v, 35, 35 v, 5" <3°) 1845» íol- 82 v - 1856, foi. i v - Acórd&os, 1832,
.
foi. 65 v.
(28) Idem, foi. 58 v, 73 v, 82 v, ^ v_io3, v, 130 v, 139 v i(3'i) Actas, 1884, foi. 78 v, 82, Si v,
Corresp. iS^yiSw, fol-/4 -Copiadora
-
1882.
<29) Actos;'1884, 'foi. 66 - Corresi?. 1894-1923, ^5 v - ACM^ (32) Corresp. -884-1929 - Actas, 1903, foi. 42.
(33) C. Corr. 1854, foi. 52 v.
X907^9i9."foÍ.-'i°6--v - Corresp. 1884-1929- C. Corr. 1924, foi. (3,4) C. Corr. 1924, foi. 182 v - C. Corr. 1935, foi. 26.
44 v, 122 v. .
(35) C. Corr. 1854, foi. 65 v.
1(36) C. Corr. 192.4, foi. 174.
236 237
do Arcebispo) à noite. A Santa Casa alugava cadeiras em que dá 4 galinhas, aquela aldea que oferece um saco de es-
seu benefício nas noites de Domingo, ao preço de 50 réis, topa e um que oferece um cabrito, não ficam diminuídos
cada uma. Durante estes anos, conseguiu a renda de 48.350 diante do titular que dá um conto de réis, nem em face do
réis<3". comerciante que presenteia 29 lençóis de pano cru. Porque
Rifas. A i de Maio de 1927, o Dr. Francisco de .Sousa tudo 'brotou da sagrada raiz do coração para servir a Deus
Esteves de Oliveira ofereceu à Santa Casauma. moto para ser na pobreza e a pobreza em Deus. O citadino que ofereceu à
rifada. A rifa rendeu 900 escudos W. No mesmo ano (a io igreja um Senhor 'Crucificado, acamarada com outro conter-
de Junho) a Santa Casa resolveu rifar uma junta de bois, râneo do Rio de Janeiro que desafoga saiidades e amor ao
uma charrua, uma espingarda caçadeira e uma bicicleta. A Senhor dos Passos, na riquíssima oferta de uma túnica de ve-
3i de Agosto de 1933, recebeu a Santa Casa, da percenta- ludo e ouro. As galhetas de prata ao Divino Senhor, como
gem da rifa de um automóvel, a quantia de 360 escudos <39> concisamente lhe chamava o Major Real, tem brilho maior
e. a 3i de Agosto de 1934, de uma tombola, realizada na junto do rico esplendor de prata, oferecido por um grande
Praça Camões, recebeu i.ooo escudos (40). bairrista. A senhora que deu um simples lençol, não fica mal
Sessões de cinema.. Em benefício dos pobres da Misen' junto de outra que durante anos ofereceu dúzias de lençóis.
córdia,desde 30 deDezembro de 1931 a 5 de Junhode 1936, Tudo está magnlficamente bem, divinamente bem. Aquele
deram-se quatro sessões de cinema que produziram 937 es- advérbio «divinamente» saiu'me; sem querer. Mas adopto'o
cuáosW. e perfílho-o, com todas as forças da minha convicção.Porque
'Sempre com a finalidade de provocar simpatia pela San' querer bem aos pobres, dar o mais possível aos pobres, é pre-
ta Casa da Misericórdia, de espevitar a generosidade dos lei- ceito divino, é querer e dar divinamente. Dar à maneira de
tores e de lhes sugerir iniciativas, neste capítulo e no ante - Deus, dar do modo que Deus quer.
cedente, fizemos desfilar todas as boas obras, realizadas em E os que dão, safaem-no por deliciosa experiência, sen-
proveito dos pdbres. Em apêndice, publica-se a lista dases- tem, dentro de si mesmos, o mdhor prazer do mundo, que,
molas, oferecidas pêlos particulares, encontradas no pobns- uma vez experimentado, se procura repetir o mais possível.
simo e incompletíssimo arquivo da Santa Casa. Nãohouve a Façam a experiência os que ainda não deram.
intenção da lisonja. Houve, isso sim, a preocupação de su-
gerir esmolas, na medida das possibilidades de cada um.
Na longa lista, há esmolas que enternecem. O anónimo
O novo hospital
A sua grande necessidade - Várias tentativas - O serviço
de Banco - O magnífico depoimento dos números - A primeira
operação - O instrumental cirúrgico.
(y) Actas, 1907-11919, foi. 63. (.io) Corres?. 1894-1923, .foi. 142, 142 v - Corresp. 1884-1929.
<8) Idem, foi. 70. '(ii) li dem, foi. 144 v.
(ç) Idem, foi. 94.
.
(12) Actas, ipoy-igig, foi. 104.
244 245
tirar pela cidade uma subscrição de linho fios (17>. A 16
dispêndio resultasse <13'. Depois, em Agosto de 1916 e em
Abril de 1918, foi comprada a tubagem para o encanamento de Agosto de 1876, o Provedor Dr. José António Franco.
que custou 39i>94 centavos. E mais tarde, a 30 de Outubro num ofício ao 'Governador Civil, garantia não existir na Mi-
de 1916, foi lavrado o contrato com a Companhia Nacional sericórdia um posto m.édico, um banco para curativos, nem
dos Caminhos de Ferro para esta fornecer água para explo- o podia criar por falta de recursos. Não o tinha e nem mês-
ração do Hospital Civil, sendo o preço de 300 réis por cada. mo para acudir às .ocorrênciaspoliciais, se pelo cofre do co'
metro cúbico, e válido por tempo indeterminado, enquanto missariado de polícia lhe não fosse concedida a verba neces-
conviesse aos contratantes (14). sária para esse fim. Também o Provedor se não podia res-
Claro que houve mobilar o hospital, aproveitando em- ponsabilizar pêlos presos doentes por não ter cómodos com a
bora o pobre material do antigo, gastando-se no transporte respectiva segurança<18>. Por isto mesmo, o Compromisso
do velho e na compra do novo esta quantia: 351 escudos. de 1877 obrigava o facultativo da Casa a fazer estes cura-
Na mcrbília do hospital, além de referida despesa, gastaram^ üvos, e o enfermeiro a fazer os primeiros curativos em casos
'se desde 1920 a 1930, 7. 756 escudos, havendo'se compra- repentinos <19).
do: borracha para camas dos doentes, artigos de enfermaria, Só, em 15 de Abril de 1892, por proposta do médico
máquina de escrever, objectos de ferro e cutelaria, máquina Dr. António Gonçalves Braga, se adoptou o uso do algo-
de costura, tabuleiros de madeira, grelha e panos de cozinha. dão fenicado e hidrófilo em substituição dos fios de linho t20)
Também dentro da referida soma se adquiriram guardana' e, em Outubrode 1898,.secomprou uma estantepara os me-
pôs,cadeiras, regadores, baldes, relógio de parede, objectos de dicamentos que custou 16.090 réis. Maca com correias só
cozinha, pedra mármore, estufas, e também se conta a pi n- existiu em Maio de 1988 pelo preço de 75 escudos, faem me-
tura de mobiliário, um lavatório com espelho e camisas para nos do que outra, comprada em Junho de 1930 pelo preço áe
os doentes <15). 787 escudos (21). Que a 31 de Dezembro de 1934 foi compra-
Desde i9'20 a 1930,as despesasde caiaçâo,telhas, caixi- do por 1.335 escudosum carro de curativos e pensos com la-
vatório (Z2).
lhos e grades para as janelas, de cadeiras, de relógio, de col-
choes e peças de mobiliário foi de 6.695 escudos <16). Para o serviço do Banco, o Regulamento Geral, de 4 de
Com a parte central do actual edifício do ihospital tudo Junho de 1932, dedicou quatro artigos. Neles se decreta haver
ficou melhor, não só o serviço de Banco como o serviço de no hospital um serviço permanente para todos os doentes,
cirurgia. Que diferença dos tempos passados! Ai 4 de Janei' necessitados de serviço urgente, o depósito de medicamen'
ro de 1881, a Mesa da Santa Casa incumbiu três irmãos de
(i7) Corresp. 1875-1894, foi. 17.
(18) Idem, vol. 6 v.
1(13) Corres?. '1894-1923, foi. 146 1(19) Compromts. 1877, ,pág. 45.
(20) Actas, 1884, foi. 65.
(14) Actos, 1907-1919, foi. 118 v. (z. i) Corresp. 192,4, foi. . 115.
(15) Corres?. 1884-1929. (22) Conta corr. 1924, foi. 196.
(i 6) Idem.
246 247.
tos e artigos necessários para a boa execução dos serviços. s Santa Casa. Estou em dizer que dificilmentehaverá um hos-
o material cirúrgico indispensável, serviço feito pelo enfer. pitai de província que maior quantidade de.serviços preste
meiro, auxiliado pelo pessoal das enfermarias, excepto quan- do que o de Bragança.
do. pela natureza ou gravidade dos tratamentos, se exija a. O progresso evidentíssimo que nos últimos anos se ob-
presença do médico, sendo absolutamente gratuitos para os serva no nosso hospital e paralelo ao que se observa no sec-
doentes, reconhecidamente pobres <2Z). tor da cirurgia.
Paraque se veja quanto é impressionante o serviço do O primitivo Compromisso obrigava o cirurgião a duas
Banco no hospital da Misericórdia, dá.se aqui a estatístiu visitas diárias aos doentes, com obrigação de indicar para ca-
dasconsultas, curativos, injecções e receitas, desde i de Abril da doente o tratamento a fazer. Era o serviço de cirurgia
de 1930 a 3i de Dezembro de 1942. indispensável para a boa marcha do hospital(24). Evidente
que desta obrigaçãoestavam naturalmente excluídas as San--
consultas in]ecçoes receitas
Anos curativos
tas Casasde pouco movimento como sempre foi a nossa. Mas
1930 659 2. 912 tudo tem a sua medida. Mas a Santa Casa da Misericórdia
i. i8o 6. 444 112
i93i de .Bragança não precisou de ter medida porque o capítulo
1932 1.470 9. 000 1. 190 176 cirurgia foi cousa que só .existiu no mundo dos possíveis.
i933 1.643 10. 021 i.6o5 1.519 A 7 de Fevereiro de 1892, o hospital nada tinha. Foi o
i.68o 11.647. 1.904 i.68o
i934 Dr. António Augusto 'Gonçalves Braga que, nesta data, re'
11. 250 1. 250 2. 112
i935 2. 112 ctíbeu de Paris uma caixa de amputaçoes e recepções que cus-
1936 2.352 10.944 670 2. 352 tou 146.665 réis, um aspirador Dieulafoy que custou 10.800
i937 2.536 14. 189 1.536 2.536 réis, e um forceps Famier pelo preço de 20.400 réis <2S). E
14. 597 i.o59 2.402
1938 2.402 como, no ano de 1893, se comprou uma estante para material
2. 120 13.858 i. i8i 2. 120
cirúrgico por 12.000 réis, pude averiguar que, desde este
i939
1940 2. 147 I5.B58 953 2. 147 ano a 1902, se gastou a quantia de 278. 470 réis.
2.029 12. 174 929 2. 029
i94i A pouco e pouco o progresso cirúrgico instala-se na San'
1942 i.79i 13. 566 1.529 i.79i ta Casa. Em Janeiro de 1906, já adquiriu duas mesas para
operações e uma cantoneira para os instrumentos por 9. 400
24. 121 146. 190 13.806 1.791 réis e se mandou pintar outra mesa e duas estantes por 7.000
réis, por sinal que foi Francisco Joaquim Martins que fome'
Estes algarismos merecem, com toda a justiça, o adjec-
céu gratuitamente a ferragem necessária (26).
tivo de extraordinários porque dizem, a um tempo, da po-
breza da nossa gente e dos serviços grandes prestados pela
(24) Fernando Correia - ab. cit. pág. 546.
1(25) Actas, 1884, foi. 63, 7i v.
(23) Regul. geral de 1932, .pág. X4. (26) Actas, 190.3, foi. 33.
248 249
A primeira operação realizada no hospital da Santa de 1921, pôde tomar as seguintes deliberações: operar gra-
Casa, foi feita pelo iDr. Francisco José Martins Morgado, tuitamente somente os pobres da cidade e seu concelho; que
auxiliado pelo Dr. António da Silva Barbosa, ao jornalei- o clínico opera<lor tinha o direito de cobrar aos doentes pen'
ro das Obras iPúblicas, Pedro Gonçalves, de Macedo de sionistas, dando à Misericórdia uma parte; que o clínico ope'
Cavaleiros, no mês de 'Fevereiro de 1907 (27). Foi o mes- radar seria auxiliado pêlos médicos do hospital, e por ele
mo operador que, no dia 23 do mesmo mês e ano, deu-ao remunerados; e que o dia das operações seria marcado de
hospital um autodave que comprara com a esmola de 30.000 acordo com o director do hospital <33).
réis, dada pelo 'Governador Civil Visconde da Bouça (28) com Estas resoluções indicam evidentemente certo movimen-
um perfurador de ossos 013 gramas de fio de prata que ha- to cirúrgico e capacidade para ele, como é de verificar pela
viam custado 3. 200 réis(29). despesa feita desde Novembro de 1920 a Setembro de 1923,
Depois só vi que, em 1909, se compraram objectos ci- e que foi de 3. 497 escudos.
rúrgicos por 10.400 réis, e que a Mesa, em 4 de Julho de Mesmo assim, a sala de operações, em 5 de Março de
1913' resolveu convidar o clínico do hospital a dizer em re' 1925» tinha muito a desejar. Os médicos reclamavam mate'
latório quais os objectos cirúrgicos que urgia adquirir para rial mais moderno e adquado que, a pouco e pouco, se'foi
se orçamentar a respectiva despesa, e bem assim quais os adquirindo desde este dia até Setembro de 1926, no que a
melhoramentos que a higiene exigia no hospital(29). Efec- Santa Casa dispendeu a quantia de 18.000 escudos (34). Por'
tivãmente desde 1914 a 1916 a despesa com objectos cirúr- que o 'capítulo perfeição não tem fim, os médicos quiseram
gicos '}á'foi de 514.690 réis(30). mais alguns ferros que consideravam de grande necessidade,
Já no hospital novo, a Mesa da Santa Casa, a 5 de Ju- de modo que desde este mês e ano até 1932 a despesa, em
lho de 1919, podia falar de alto, e deliberar que os seus ins- material cirúrgico,foi de 9.996 escudos <35) e o Regulamento
trumentos cirúrgicos só poderiam ser emprestados desde que Geral de 1932 estabeleceu doutrina sobre o que ele chama.
o pedido fosse feito por escrito com a declaração de ser o pomposamente arsenal cirúrgico. Assim é que, em três arti-
interessado irmão da Misericórdia (31) e podia afoutamente gos, decreta que o material deve ser guardado numa sala
pedir ao Dr. Martins Morgado o favor de operar um indi- tíhamada «Arsenal Cirúrgico», entregue à guarda, arruma-
gente, o que fez gratuitamente (32). cão e conservação do Director Clínico do Hospital, adquirin'
Pode dizer-se que nesta data se iniciou o movimento ci- do-se dentro dos limites da verba orçamental, sempre enco-
rúrgicono hospital, e de tal modo que a Mesa, a 17 de Abril mendadas por ele, ouvidos os directores das enfermarias e a
Mesa da Santa Casa <36'.
Mais um pavilhão
Passos para mais um pavilhão - Laboratório de radiologia
- Novc^ construção - O desaterro - O lactário e seus benefícios
Aparelho de diatermia - Dispensário de higiene social _ Ce-
dência da escola «Adaes Bermudes» - Modificação das insta-
lagoes - Assistência de Religiosas.
Enxovais 25
substitua com vantagem, será entregue de plena posse á
Peças de vestuário - 3"
Câmara'Municipalquesóo poderáutilizarparafimdaassis.
tência às classes pobres. A directora passou a vencer mensal-
mente 150 escudos,auxiliadapor umaempregadacomo or. Diga-se que, a 25 de Maio de 1935, se inaugurou no
denado mensal de 90 escudos<27>. lactário um posto de protecçãoà infânciaque teve, sobretu-
~0 prédiodolactário.é lindoe modestonaslinhasa^qui- do, a 22 de Maio do ano seguinte, a distribuição de enxo-
tectónicas do século XVIIIIe foi solidamente construído. Dês. vais pelas crianças pobres e pequenos pacotes de bolacha, tu-
de a sua fundação apenas se fez uma chaminé e se^caiou e do confeccionado pelas senhoras(29).
Duas palavras sobre o importante melhoramento' da Ca.-
pmtou"umaveznoquesegastaram4 milescudosW.^ sá Mortuária.
Para se avaliar da sua despesa, necessário é consignar
O Regulamento 'Geral de 1932 diz que se destina ao de-
^qui aTgarismos que digam, a um tempo,
d^re"ita^e d0^ pósito dos cadáveres, durante as 24 horas que a lei prescre-
b^nefíaos distribuídos pelas crianças pobres. Desde 1931 até
vê, e àsanálisese autópsiasque os clínicos entenderem dever
;937-^clusive, pudeverqueo cofredo governo^ivil^on^ fazer. Depois da verificaçãodo clínico respectivo, o cadáver
tAuiu com 40.400 escudos; a assistência até 1938deu 28^
es'cudos;a CâmaraMunicipal entrou com 14.978 escudos, a é removido para lá, fazendo-se com isso uma obra de carida-
Junta Geral do Distrito com 10.661,70 centavos; e vários de aos outros doentes (30). Custou a quantia de 31. 520 escu-
contribuintes deram 6.747 escudos. _ . . ., . dos, tendo contribuído a Câmara Municipal com 2.500 (il)
"Interessantíssimo o rol de benefícios feitos pelo l; e na compostura do altar e dois quadros a quantia de 148 t32).
desde a sua inauguração atéao fim do ano de 1942. Foi inaugurada no dia 28 de Maio de 1932, com forno
(29) Actas, n. 16, foi. ,44 v, 66.
"(^Idenr, foi. ii5 - Actas, n. 16. foi. 14 v - Actas, n. (30)
(31)
Reg. Geral de. 1932, pág. 35, 3.6.
C. Corr. 1924, foi. 144 v, 135.
17, fol.^3'5. (32) Idem, foi. 145.
(z8) Actos, 17, íol. 39-
260 261
crematório, estufa de desinfecção e palheiro, com assistência A Mesa da Santa Casa entendeu adquirir um aparelho
do povo que manifestou o seu agrado (33). de Diatermia. Adquirido em Junho de 1934 por 13.337,50
Os melhoramentos no hospital continuam. Em Feverei- centavos, resolveu-se ser gratuito o tratamento para os po-
ro de 1932 gastam-se nas calhas do telhado 2. 109 escu- fares, e o preço de io escudos por cada sessãoou de 50 por
dos <34). Em Abril seguinte, colocam-se os mastros para a séries de 6 sessões<4D. pude averiguar que desde a aquisi-
bandeira, no que se dlspenderam 151, e d&sde 30 de No. cão do aparelho atéao fim do ano de 1942, se fizeram 1526
sessões.
vembro de 1932 a janeiro de 1939-em reparações, mate-
riais, calaçâo,tintas, vedações de madeira, reparações na co- Outro melhoramento existe dentro do recinto do hospi-
zintia, feitura do quarto n.° 2, salários e obras de conserva- tal da Santa Casa: o dispensário de higiene social. Permitiu
cão - a. despesa foi de 10.672 escudos (35>. Em móveis, de a Mesa, em sessão de '24 de Maio de 1935, que o dispensa-
1932 a 1938, gastaram-se quase 6 mil escudos <36) e ein pm- rio. dirigido pelo Dr. Francisco Inácio Teixeira Moz funcio-
taras, de 1933 a 1939, a despesa foi de 8.370 escudos <37). nasse no 'hospital até conseguir instalação em casa própria.
As enfermarias do hospital estão divididas em duas sec- Foi inaugurado no dia seguinte. Depois com autorização da
coes completamente isoladas uma da outra: a primeira sec- Mesa, a 15 de Maio de 1938, o dispensário foi construído
cão destinada aos doentes do sexo masculino, e a segunda dentro da áreada cercado hospital. Neste dispensaria foram
secção aos doentes do sexo 'feminino. Os serviços técnicos tratados 115 homens, 169 mulheres, deram-se 253 consultas,
áe cada. uma das secções estão a cargo de um clínico com a tendo. se feito 5.489 tratamentos. Isto desde a fundação ao
designação de director da enfermaria de homens ou de mu- fim do ano de 1940<42>.
Iheres <38>. No hospital continuam os melhoramentos. A 4 de Já-
Construído o hospital, sentiu-se, a 5 de Fevereiro de neiro de 1939, resolveu a Mesa da Santa Casa que, nas en-
I933» a necessidade de construir o muro de vedação, e ar- fermarias, ã semelhança das escolas, se colocassem os Cru'
borizar a cerca. Debalde se tentou a comparticipaçao do Es- cifíxos, cerimónia que se realizou a 15 de Maio de 1939, co-
tado. No muro gastaram'se 14. 717 escudos (39> e na arbori- locando também as imagens de São Josée Nossa .Senhora de
zaçao fez-se a despesa de 1. 100 escudos (40). Fátima W. A seguir, , é o médico Dr. António da Circunci.
são Pires que faz à Mesa a oferta de consultas e tratamento
<33) ldem i9i9-i932', foL I_35-
<34') C. Corr. 1924, foi. 158, 163.
da clínica de patologia ocular, numa secção independente,
<35) Idem, foi. '154. 163,' 190. 192. 197 - c- corr- ^35. ofertaqueteveo resultadodedaremtrêsanos- 1942-1944
foi. 18, 29, 50, 57» 92< 96- - 4-960 consultas W\ Depois, em Maio de 1944, arrema-
(36) C. Corr. 1924. foi. 156, 145, 170, 179, 182, .i»4, 194»
.
tou-se nova caiaçao e pintura do hospital pela quantia de soes diáriasdos doentes pensionistas(49>. Desde logo deiíbe-
6.5oo escudos<45>e depoisainda,a 3 de Dezembro de 1945» rou pôr em arrematação, por empreitada, a obra de pintura
a resolução .de fazer um tanque para lavar a roupa, compro-- e caiaçâodo edifício da escola <50) que se fez, em 19 de De-
metendo-se a Câmara a fornecer a água gratuitamente <46)» zemfaro de 1943, pela quantia de 4.500 escudos<51>.
Em Abril de 1943, houve grande alegria na Mesa da A io de Janeiro de 1944, a Mesa da Santa Casa apre-
Santa Casa. A Direcção Geral da Fazenda Pública comuni/ ciou a necessidade de se modificarem as instalações hospita-
cou, com a data de 7 de Abril, ao Governador Civil, que a.
,
lares, em virtude de se encontrarem em via de conclusão as
escola «Adâes Bermudes» do ensino primário fora cedida para. novas dependênciasno edifício «Adae^ Bermudes», resolven-
a Misericórdia. A escritura ou auto da cessão foi assinada a <lo'se fazer nestes serviços as seguintes transformações: en-
19de Abril de 1943 para ampliaçãodassuasinstalaçõesihos- fermaria de medicina a instalar na enfermaria dos homens,
pitakres, dispondo'se a Mesa a servir-se do prédio para ma- destinada a doentes pobres; enfermaria demedicina parapen-
temidade, para o que gastou avultadas quantias na adapta- sionistas de terceira classe, em metade da enfermaria das mu-
cão, motivo porque, a 4 de Dezembro seguinte, participou ao ilheres; enfermaria de cirurgia na outra metade; enfennaria
Director Geral da Assistência a sua próxima inauguração, ao de clínica geral para mulheres e crianças no pavilhão da ala
mesmo tempo que pediu um donativo, destinado a fazer fa' esquerda, do edifício; enfermaria para parturientes na meta-
ce aos encargos, pois precisavam de um pouco mais de 35. 000 de do pavilhão da ala direita do edifício; enfermaria de doen-
escudos <47). Este pedido teve bom .despacho porque, a 2 de cãs venéreas na outra metade desse pavilhão. Claro que so-
Fevereiro de 1944, o Subsecretário da Assistência autorizou. bre estas deliberações resolveu-se consultar o corpo clíni-
CO(52>.
a Misericórdia a dispender a importância de 50. 000 escudos,
nas obras da adaptação da escola «Adaes Bermudes», impor- Reunidos o corpo clínico . e a Mesa, a 12 de Abril de
tância a retirar do produto de propriedades, autorizada peli i944» £cou definitivamente combinado o seguinte: o pavi-
portaria de 9 <le Julho de 1943 (48). Ihao da ala esquerda destinado para mulheres; o da direita,
Estando quase concluídas as obras de adaptação,do edi- metade para pensionistas e crianças, e a outra metade para
fício escolar, a Mesa pensou na sua utilização. Por isso resol' partunentes; o quarto contíguo à cozinha para o trabalho
véu: rever o quadro dos médicos e do pessoal, tendo em de partos, e o da entrada para toleradas. Os quartos do pri-
conta as necessidades prováveis do serviço; escolher artigos. meiro andar foram destinados para doentes pensionistas (M).
de mobília e material indispensável para o funcionamento- Não é inútil saber-se a quanto montou a despesa feita
de todos os serviços hospitalares; e alterar os preços das pen- com a adaptação da escola «Aáâes Bermudes». Por isso dei-
(49) Idem, foi. 48.
(50) Idem, foi. 27 v.
(45) Actas, 17, foi. 46, 46 v. (511) Idem, foi. 39.
<46) Idem, foi. 78 v. (52) Idem, foi. 41.
.
(47) Idem, foi. 27 v. (53) Idem, foi. 44 v.
(48) Idem, foi. 47 v.
264 265
xam-se aqui estes algarismos: com a luz, 3.927,25 centavos; pré um benefício extraordinário que só Deus pode calcular
com o fornecimento de móveis, pintura e material fornecido» e recompensar.
30.326, 65 centavos; com obras de reparação, 4.602, 25 centa- Já. em 29 de Junho de
^Ji ^, a Mesa de que era Prove-
vos; com mão de obra em Agosto, 2.926, 50 centavos; com dor o Dr. Manuel da TrinSade Gonçalves Miranda, tinha
as janelas, 4.500 escudos; com o fio eléctrico, 2.548 escudos; pensado muito seriamente em religiosas para o hospital. Deu
com mdbiliário, 3.662 escudos; e com instalação de luz eléc' passos 'junto das irmãs Franciscanas Hospitaleiras Portugue-
trica, 5. 20'2 escudos. sãs que a 9 de Agosto imediato, responderam afirmativa-
É preciso dlzer-se que a enfermagem do hospital está mente, logo que tivessem pessoal<54>. Mais feliz foi a Mesa
entregue a religiosas, velha aspiração da Santa Casa que só de que era Provedor o Capitão JoséLuís Ferreira que as con'
muito dificilmente as pôde conseguir, e por duas razoes. A seguiu. Foi depois o Provedor , Dr. Luís António Rodrigues
primeira é que será difícil encontrar um 'hospital no país que que as recebeu, em Abril de 1945, a fim de tornarem conta
não tenha, no alto do rol das suas maiores aspirações, con- da administração e enfermagem do hospital, resolvendo^se
seguir religiosaspara o serviço de enfermagem; e a segunda- que fossem provisoriamente instaladas em dois quartos par-
é que é muito difícil obtê-las pela sua escassez. Portuguesas ticulares do pavilhão «Adaes Bermudes» até que fossem fei-
estão agorano início das suasfundações,e as poucas religio' tas as obras necessárias à sua definitiva instalação (55>.
sãs que anualmente saem dos novkiados e casas de forma- Para a instalação das Religiosas foram adjudicadas as
cão, são tão poucas que lhes é impossível atender pedidos obras pela quantia de 5.500 escudos. Na antiga casa do en-
de ihospitais mais centrais e de maior categoria ao que um fermeiro, foram demolidos o lar e a chaminé, transformaram
pobre hospital de província afastada, como é o de Bragança» a antiga cozinha em sala de jantar, fazendo-lhe uma taipa
Resta para a maioria dos nossos hospitais o recurso ao pés- com forro de pinho, de forma a evitar que da escada se veja
soai congreganista estrangeiro. E aqui a dificuldade, se não o que se passa nesse compartimento (56>. A 30 de Junho, foi
é maior, é igual. Além de terem de atender às necessidades inaugurada a capela com a assistência das autoridades ecle-
nacionais, têm de resistir aos convites que lhes chegam .de fo- siásticas e civis <57), ficando, desta maneira, realizada a gran-
dos os pontos -do mundo, sobretudo da América onde é axio- de aspiração de muitos anos, sendo o nosso hospital mais fe-
mático não abrir hospitais, sem primeiramente contar com a liz do que muitos outros.
assistência das religiosas, hoje estrangeiras e amanha nado-
nais à medida que vão .surgindo entre nós as vocações pa-
ra a. mesma congregação. De sorte que, sobre ser uma bênção
de Deus a sua assistência, é um favor de tal ordem que não
há agradecimento suficiente. Por mais senões que possa ter <54). Corresp. 1884-1929.
uma congregação religiosa ao serviço de um hospital, é sem- <55) Actos, 17, foi. 68.
(56) liem. foi. 68 v.
(57) Idem, foi. 72.
CAPÍTULO XX
Sugestões finais
Assistência aos pobres e doentes a domicílio - O que falta
à Santa Casa - A rouparia e albergue dos pobres - O jantar
aos presos da cadeia - Procissão do Divino Senhor dos Passos e
o Enterro do Senhor - O campainha.
FIM
APÊNDICE
Provedores da Santa Casa da
Misericórdia (1)
i04i'i642 .
Sebastião de 'Figueiredo Sarmento.
1665'!666-Roque de Seixas.
i666'i667-Manuel da Rocha Pimentel.
1667'1668-Padre Francisco Ferreira Sarmento, Abade <1;
S. João.
dem de Cristo e António Ferreira' de Castro 1876'1878-Padre Doutor José António Franco
i878'i88o-Cónego João Evangelista Vergueiro
Figueiredo i88o-i88i -Miguel Maria Pinto
i823'i825 - António Joséde Novais da Costa 1881-1882-Francisco Eugênio da Silva Barras
1825-1826 -António Ferreira de Castro Figueiredo 1882-1883-José António Macedo Baptista e depois Doutor
1826-1827 - Francisco António do Vale e Sousa António de Oliveira Dias
1827-1828 -Rafael Francisco de Sepulveda i883'i884-'Doutor António Augusto de Oliveira Dias
1828-1829 - António Ferreira de Castro Figueiredo 1884-1885-Miguel Luís Pinto Pimentel
1829-1830 _Francisco António do Vale e Sousa 1885'1886-Albino José de Carvalho e Castro
1830-1832 -Bacharel António Manuel do Vale e Sousa 1886-1887-JoséLuís Macias
1832-1834 -(Padre Alexandre Manuel Coelho e Melo, Aba-
i887'i889-José António Teixeira
de de Quiraz
1889-1890-^Augusto César Novais Pinto de Azevedo
1834-1837 _Francisco de Figueiredo Sarmento, ^dalgo da 1890'1898-Major Luís Ferreira Real
Casa Real e Cavaleiro da Ordem de Cristo^
-Inácio Xavier de Novais, e, ,por morte deste 1898-1903-Abílio de Lobao Soeiro
1837-1838 1903-19°5-'José Júlio Chaves de Lemos
José António Pimentel
1905-191o-Albino José de Carvalho e Castro
284
i9io'i9i2 Engenheiro Olímpio Artur de Oliveira Dias,
e depois Presidente da Comissão Dr. António
Manuel Santiago
1912-1913 Joséde Morais Neves
i9i3'I9I8 br. Artur Camatího Lopes Cardoso
i9i7'I9I8 Idem - Desde Outubro Presidente da Comis/
são Dr. Eduardo Ernesto Fana
1918-1922- Idem - Desde Fevereiro, de 1919, Eng. Olím- Legados à.Santa Casa da Misericórdia
pio Artur de Oliveira Dias.
I922-I923 - Doutor Francisco José Martins Morgado
1923-1924- Idem - Desde Dezembro Eng. Olímpio Artur
3 666-D. Ürsula, mulher que foi de João de Morais Lava-
de Oliveira Dias do, de Bragança, deixou uma casa na vila de Al-
meida.
1924-1930-- Dr. Manuel da Trindade Gonçalves Miranda
1930-1936- (Presidente da Comissão Dr. Manuel de Jesus
.
1667-António Gomes Mena, escrivão da Câmara, deixou
. Fernandes Torres 6o alqueires, sendo a maior quantidade de Parada,
Paredes e Carocedo.
i936'I942 - Capitão José Luís da Cruz
1942-1944. Capitão JoséLuís Ferreira -Salvador Lopes Colmieiro deixou 206 alqueires de
1944'1945 . -Dr. Luís António Rodrigues serôdio de foro, com obrigação de se lhe dizer por
1945-1946 José António Guerra sua alma uma missa quotidiana para sempre por um
1946-1947 .
Tenente António dos Santos Subtil capelâo.
1947'J948- Dr. Afonso Henriques Leitão Bandeira, e logo - O tio de Francisco de Sales, deixou 2. 000 réis.
depois Tenente António Augusto Cordeito 1669-'O Inquisidor de Coimbra, Mateus Homem Leitão,
deixou i oo. ooo réis que foram dados por Bartolo-
meu 'Garcia, de Bragança.
1675-António Gomes Mena deixou 70 alqueires de trigo.
1676-Francisco Colmieiro de Morais deixou 20.000 réis.
1838-0 Padre Pedro Vieira deixou 500.000 réis da casa e
quinta de José Columbano.
1849-Simao Gcwcia., de Carregai de Comenda, Espanha,
deixou uma casa que tinha na Vila.
1867-Manuel Pinto, de Peredo, de Macedo de Cavaleiros,
deixou 10.854 réis.
- D. Ermelinda da. Cunha. Pires, dos Cortiços, Macedo
delxouuma .casa com quintal, na Caleja do Forte. T934--António Gonçidves deixou metade de uma cortinha
-António Mwtms dos Santos deixou i^.ooo. ooo^eis. e metade de uma casa no largo da Domus Munici'
1926 palis que foram vendidas por 3.333$oo escudos.
1926 . ManuelPinelo, tambémconhecidopor ManuelAton-
só, em Espitíhostíla, povoação^ da sua ï-esldënaa^ 1934- Engenheiro AntónioAugusto Soaresdeixou6.ooo$oo
em Gondezende. deixou 24 prédios dos quais 20 tem escudos.
o"rendlmento colectável dí 22.580^escudos. 1935-10 se Borges do Vale deixou: na freguesia de No'
1928 . D~. Lídia A. aos Passos Furtado deixou 3.000.00 es- gueira 18 prédios dos quais 16 têm o rendimento
cudos. colectável de 2.292$93 escudos; e em Reibordaos i
1929 . Alberto Rodrigues deixou em testamento a^ casa as: prédio com o rendimento coletávei de 52^36 escudos.
da morte
morada Rua de Fora depo rtas, depois
na - D. Adelaide da. Encarnação Peixoto deixou 4.ooo$oo
de sua irma LeopoldinaRodrigues.
. 'ÁlvaroMdcbfláo'deixouuma casa na Rua -Padre Domingos Bernardino Videira deixou a. casa.
Hercukno, com o rendimento colectável de 424-&0 que tinha em Rabal.
escudos, sendo usufructuária vitalícia D. Arminda_ 1936-António Teixeira Lopes deixou 10.000 escudos com
Rodrigues Morais. o encargo de uma missa anual.
193° ÏoAntómo ]osé da Rochd deixou 26.318.00 es- 1937-Maria da Conceição Fernandes deixou uma caaa
, cudos°e mais 15 prédios em Caçarelhos,^sua terra na. na Rua Alexandre Herculano com o rendimento co-
tal~com o rendimento colectável de^358.00 escudos. lectável de 2.368$oo escudos, e metade de uma vi-
s"a"sua"morte, a sua criada Belizanda da Luz, nha com o rendimento co-lectável de 6j^6 escudos.
ent<:ont"rouïhe--no ' espólio 56.ooo$oo escudos que. Engenheiro Olímpio Artur d'Oliveira Dias deixou:
honradamente entregou à Santa Casa.^ ^ a Quinta das Cantarias e um prédio no sítio daMi'
-Cónego Antómo dos Santos Rtbeiro deixou 200^00 íhada, ambos com o rendimento colectável Ae
escudos. _ . , _, , ., __. L-_. 5.oi9$52 escudos, sendo usufructuária vitalícia D.
-Cownel Albino dos Santos Pereim Lobo deixou bens Alibina Margarida Monteiro.
queforam avaliados em i8.ooo$oo escudos. I939-'-CaroUno Serrano deixou i.ooo$oo escudos.
i93i _D, Alexandnna Sarmento deixou 2oo$oo^escudos. -Manuel do Senhor, de Serapicos, deixou 3.ooo$oo
1932 .
]osé António de Carvalho, residente em Bl'aS^?a' escudos.
deixou'em Lamalonga a quarta_ parte de io - Dr. Diogo Albino de Sá Vargas deixou: a casa que
com o rendimento colectávd de ii4$74 escudos, foi vendida em 1941 por 25o. ooo$oo escudos ao
>os a morte de D. Albertina Amélia Carneiro, e a Banco de Portugal; a Quinta da Treijinha com o
quarta parte da dívida de 4 devedores, ou sejam rendimento colectável de 7.972$3Ó escudos; uma
6. i22$oo escudos. morada de casas n. 104 na Rua Abílio Beca com o
1932 _ D. Ltbânia Borges deixou 2.ooo$oo.
rendimento colectável de 2.43o$oo escudos; a Quin'
ta de Fonte Arcada com o rendimento colectável de
i933 -D. ^Cdmüa dos"Prazeres Martins deixou i.oool>oo
escudos. 4'53i$94 escudos; oito prédios na freguesia de Pi-
10
290
nelacomo rendimentocokct^el de_8^ooescu^s^
SFpSLs"^^guesVde_MO, z. de,sortes com °
^ndim^nto colectaye
l de
467^6e^udo^^^ ^^
-Dno sïÏugémo Tezxswa de^u d^casas^ u^
_
O Bispo Dom José Manuel de Lemos deu 9. 000 reis. - Manuel Rodrigues Cepeda ofereceu um Senhor Cru-
1858 O mesmo deu 280.500 reis. cificado, apresentado à mesa pelo Padre João d>Al-
O mesmo deu 22. 150 reis. meida Pessanha.
i859-
1864 A Exposição Agrícola, rendeu 51.425 reis. - O Bispo Dom JoséAlves de Mari^,deu 27.000 reis.
1865 Padre Paulo Miguel Marques deu 36. 000 reis. 1891-A Rainha Dona Maria Pia. deu 100. 000 reis.
Três anónimos deram 17. 000 reis. -- D. Balbina Eugenia Mendes Pereira deu 200. 000 reis.
O Bispo Dom João de Aguiar deu 5. 180 reis. Lino Augusto Leão, de Lisboa, deu 20.000 reis pa-
Henrique Maurício Jorge de Lima ofereceu os re- ra sufrágio da alma de sua mãe.
médios durante o mês de Março. - D. Luísa 'de Castro, 2 lençóis de morim.
António José Tetxeira ofereceu os remédios durante -D. Conceição Gouveia Osório, 2 travesseiros de
o mês de Abril. pano cru.
i866 Hennque Ferreirti Lima. deu 21.080 reis. Por intermédiodo Bispo Dom JoséAlves de Mariz a
1868 O Governador do bispado João José Martins, deu Rainha, D. Maria Pia e a Rainha D. Amélia deram
4.6oo reis. respectivamente 100. 000 reis e 50. 000 reis.
1869 Joaquim Pinto áe Albuquerque Jordão deu 4.500 1892-O Padre António José da Rocha deu à igreja um
reis. terno vermelho de seda que foi estreado na festa
1875- 0 Governador do bispado deu 4.500 reis.
.
do Espírito Santo.
O mesmo deu 9. 600 reis. 1893-Miguel Carlos Alves, negociante em Lisboa, deu
José António Teixeira, deu durante um mês os re- 20. 000 reis.
médios para sufragar a alma de seu pai. 1894-O Cónego António Augusto Rodrigues deu 200.000
1876- Manuel Guerra deu 4. 500 réis. reis.
O Bispo Dom José Maria da. Silva Fermo de Ca.rva' 1896-0 Bispo Dom José Alves de Mari^ deu 10.000 reis.
lho Martens deu 4. 500 reis. -Padre António José da Rocha deu 4.600 reis.
António Bernardo Teixeira, deu 9.000 reis. - O Bispo Dom José Alves de Mariz deu 15.000 reis.
O Gouemdáor Civil deu 11.900 reis. 1896-O Padre António José da Rocha ofereceu um tuíí-
Henrique Ferreird de Lima. deu 4.500 reis. ibulo de prata que custou 47. 700 reis.
Manuel Guerra Temeiro, de Freixo, deu 4.500 reis. -JoséLuís de Andrade,de SantoTirso, deu 1.096.370
i88i Herdeiros de D. Rosa Joaquina Dias deram 15.000 reis.
-. António Augusto Mora. 2o$oo escudos. - Manuel Pinto de Azevedo deu: 50 coibertores de al-
-Um anónimo ii8$6o escudos. godâo, 4 peças de tecido de algodão para lençóis,
-D. Cândida de Sá M. orais, io5$6o escudos. 5o cobertores de algodão, la para 25 cobertores.
-Dr- José Hipólito Carmona ioo$oo escudos. - Comando da Polícia, da. Segurança. Pública, 20o$oo
- Associação dos Artistas 40^00 escudos. escudos.
- Cândido Carneiro 5o$oo escudos. -Comissão Reguladora do Comércio Local 7.5oo$oo
-D. Maria do Amparo Banos 5o$oo escudos. escudos.
-^Ernesto Estevinho, de Parede, 5o$oo escudos. Heuri Emiel Ayon i.ooo$oo escudos por intermédio
do Dr. Alípio de Abreu.
i942 - LUM 5etAs 22^50 escudos. -'D. Alice Cunha. 200^00 escudos.
Um anónimo 5$oo escudos.
-Festa de São Pedro 3oo$oo escudos. Domingos Manuel Lopes ioo$oo quilos de la para
cobertores.
-Dr. António da Circuncisão Pires ioo$oo escudos.
-Dois anónimos 57$75 escudos. -Corporação dos Bombeiros Voluntários 5é3$6o es'
D. Maria Matilde Cepeda. io$oo escudos. cudos, correspondentes a io alqueires de centeio e
---Anónimo ioo$oo escudos. quilos de batata.
Aníbal dos Santos Pais 50^00 escudos. -Dom Duarte Nuno de Bragança i.ooo$oo escudos.
-D. Cândida Vergueiro 5o$oo escudos. -Manuel Francisco Afonso, de Alimonde, 4oi$oo es-
cudos.
D. Ana, Costa Veiga. Rodrigues 50^00 es-cudos.
Aníbal Augusto Pires e esposa 3 peças áe pano cru.
ig43-Multa do Tribunal Judicia.1 ioo$oo escudos. I945-' D. Ldum Torres deu 4 lençóis de algodão, 2 toalhas
- D. Francisco, de Jesus Pires deixou ao Senhor Morto de lavatório.
um véu grande de seda. D. Maria. Inácia,de Vila Boa, 2 lençóisde linho.
-D. Guilhermina Maria Teixeira 6 lençóis.
D. Maria, Clara. Rodrigues e marido deram metade
-D. Lauro. Lopes Torres generosa oferta de medica', de uma casa, sita no lugar da Curralada da freguesia de Moz.
mentos.
ip47-Esposa de Aníbal Augusto Pires um manto de seda
-Ernesto Augusto Rebelo, deu à Santa Casa um cré- azul para a Senhora da Soledade.
dito de 900 escudos.
- Manuel Pinto de Azevedo, Porto, 200 quilos de la
50 cobertores.
303
188o-1908-Confraria de Nossa Senhora
da Ribeira ... ... ... ... ... 16.940 »
188o-Confraria do Santíssimo ... 15.000 »
1880-1933-Confraria do Senhor dos
Chãos ... ... ... ... ... ... ... 280.000 »
1902-Confraria de Nossa Senhora
do Rosário de Tuiselo ... ... 15.000 »
Subsídios das confrarias 1903-Confraria de Nossa Senhora
da Assunção de Vilas-Boas 100. 000 »
1852-1894 Confraria de Santa Bárbara, 1912-1933-Confraria de Nossa Senhora
de Mithao ... ... ... ... ... 27. 510 da Serra ... ...... ... ...... 1.816.900 »
186o-193° Confraria do Senhor Jesus de 1933- Confraria de Nossa Senhora
São Vicente ... ... ... ... ... 361. 000 do Rosário de Fontes Barroso 15.000 »
i86i'i933 Confraria do Senhor Jesus de
Cabeça Boa'... ... ... ... ... 808. 100 Soma 13. 104.236
1862-1913 Confraria do Santo Cristo de
Outeiro ... ... ... ... ... ... 6.937.000
1865-1924 Confraria de Nossa Senhora
do Balsemao ... ... ... ... ... 267.500
1865-1933 Ordem Terceira de São Fran'
cisco, de Bragsaça ... ... ... 336. 210
1865-1871 .
Confraria de Vale d'Asnes... 7.lio
1865-1903 .
Confraria, das Almas de Babe i33«57c>
1867 Confraria da Santa Cruz de
Bruçó ... ... ...... ... ... ... 21.081
1868-1896 Confraria de Santo Antão da
Barca ... ... ... ... ... ... ... 590. 085
1868-1908 Confraria de Nossa Senhora
das Graças ... ... ... ... ... 132.600
1868-1934 Confraria das Almas de Santa
Mana ... ... ... ... ... ... ... 344-78o
i87o'i9i8 Confraria do Santíssimo Sa-
cramento da Sé ... ... ... ... 144. 145
1870-1918 Confraria de Nossa Senhora
do Carmo ... ... ... ... ... ... 73.800
i87i'i9i7 Confraria das almas de Izeda 561. 105
i87i'i9i7 Confraria das Almas de Baçal 12.600
1877-1930 Confraria do Santíssimo Sá-
cramento de Salsas ... ... .. 92.200
305
de cera com que por diferentes vezes benefí-
ciou a Santa Casa.
-António José Teixeira, Administrador do Con-
celho pêlos legados pios não cumpridos e li-
quidados na atiministraçâo e enviados à Santa
Casa, e outras esmolas*
Cla.udmo Augusto Césa.r Garcia, 2.° oficia.l do
Governo Civil, pelas avultadasesmolas que fez
Irmãos benemériíos da Santa Casa entrar na Santa Casa, resultantes das exposi'
coes agrícolas de que foi encarregado.
- Padre Paulo Miguel Marques, pela esmola de
1864'1865 -Gaspar Pereira, da Silva, Ministro dos Negócios 36.000 réis.
Eclesiásticose de Justiça., pelaconcessãode uma
lâmpada de prata cuja graça solicitou de El'Rei. -José Manuel de Castro, farmacêutico, pelas es-
molas em medicamentos.
Conselheiro José António de Lima, Desembar'
gddor da Relação de Lisboa., pelo auxílio pres- -Henrique Maurício José de Lima, farmacêutico
tado à Mesa para obter ^ lâmpada de prata. pelo mesmo motivo.
CUudino Mesquita da Rosa., Governtidor Civil, D. Teresa Maria Emília d'Affonseca e Sousa,
pela importante esmola das sobras das contra- pela esmola de 4.500.
rias e irmandades. Cónego António Joaquim de Oliveira Mo^, pe-
-Conselheiro Henrique José Ferreira de Lima, ias esmolas de cera oferecidas à Santa Casa.
Secretário Geral do Governo Civil, por ter fei- 1868-1869-Comissãopromotora de um basar de prendas
to incluir nos Estatutos de diferentes confra- do qual resultou a. compra da casa e constru'
rias e irmandades a obrigação de concorrer com cão da actual que serve de secretaria actual-
a décima parte do seu rendimento para a San- mente. A comissão era constituída por: Dr.
ta Casa, e outras esmolas que deu e promoveu. Joaquim Guilherme Cardoso de Sá, Dr. Aníbal
- José de Almeida Pessanha, Administrador do Gomes Pereira, Miguel Luís Pinto Pimentel,
concelho de Macedo de Cavaleiros, pêlos lega' Adriano Acácio de Morais Carvalho e Eugênio
dos pios não cumpridos, liquidados e enviados de Castro.
para a Santa Casa. Dr. Joaquim Pires Albuquerque Jordão, Brasil,
- Rev.mo João José Martins, Governador do Bispa' pela esmola de 4. 500 réis.
do, pelas esmolas de cera, dadas por diferen- 1892-1893-' O Bispo da .diocese, Dom José Alves de Mariz,
tes vezes à Santa Casa. pelas avultadas esmolas dadas à Santa Casa.
' -A Câmara Municipal, pela importância dotação - Cónego António José da Rocha., professor do
com que concorre para a Santa Casa. liceu, por suas dádivas à Santa Casa.
Direcção da Assembleia Brigantina., «pela filan' .
Despesa .. 996.580 »
IDespesa .. 1. 185.945 »
Despesa 1.332.234 »
Despesa 150.364 »
i909'i9IC> Receita 2.901.935 ».
1667'1668 Receita .. 238. 465 »
Despesa 2.864.435 »
Despesa . »
Despesa 963.505 »
[Despesa 508.330 »
1920-1921 Receita 18.479-740 »
Despesa 440.519 »
Despesa ... ... .. 315. 787.610 »
Despesa 373-o8o ))
Despesa 655.950 »
1864-1865- Receita . .
531.781 »
Despesa .
519-055 »
Despesa :.359-726 »
3. ° Que iiáo seja criado de servir; como a minha consciência me ditar, para o aumento da. Santa Casa,
4. ° Que não esteja impossibilitado pela idade ou moléstia de <e Glória de Deus; juro guardar sigilo em tudo o que debaixo de
cumprir as obrigações que lhe são inerentes. sigilo me for incumbido, mandado ou tratado, menos no que for
§ único- Em igualdade de circunstlâncias será preferido o Telativo a ordens e disposições da Autoridade'.
que souber ler e escrever. Art. 11. °-O Irmão que tiver sido riscado, poderá ser no-
Art. 7. ° - A admissão será requerida pelo pretendente, de- vãmente admitido, quando ele o requeira, e dois terços, pelo ine-
clarando seu nome, idade, filiação, estado e naturalidade, tudo do- sós, da Mesa votem pela sua admissão. Exceptuam-se os com-
aumentado, bem como atestado do Administrador do Concelho ou preendidos nos §§°s i. °, 2. °, 5. ° e 6. ° do artigo 15. ° que nunca
Pároco, da sua conduta moral e civil, . se assim o exigir a Mesa ad- poderão ser admitidos.
mimstrativa.
Art. 8.°-Nunca se poderá resolver a admissão de qualquer CAPITULO III
Irmão sem haverem . decorrido pelo meiios oito dias, depois da apre-
sentaçãodo requerimento e documentos à Mlesa, pai-a esta.conhecer
da capacidade ou incapacidade do requerente. Dos , _.. --, Regalias, Deveres e Penas idos Irmãos
§ único- A admissão será decidida por escrutínio secreto
por meio de esferas brancas e pretas, indicando o maior número, Art. 12. ° Todos os Irmãos serão iguais em direitos, e deveres,
sendo pretas a regeição e brancas, a admissão. salva a diferença proveniente do exercício de seus cargos na Ir-
Art. g.o -Admitido que seja, não poderá gozar dos respecü- inandade, ou classe, a que pertencerem.
vos direitos e regalias, nem ser inscrito no livro da Irmandade, en- Art. 13. ° - A qualquer Irmão competem os direitos seguintes:
quanto não apresentar a sua opa ou balandrau, feito à sua custa, i. ° Tomar assento, apresentar propostas e indicações tenden-
e para seu uso e serviço. tes aos fins e aumento da Irmandade nas Mesas gerais;
§ i. ° Se dentro do espaço de dois meses a contar da data i. ° Discutir e votar;
do despacho, o Irmão admitido não der cumprimento a este artigo- 3. ° Ser elegível para os cargos da. Irmandade;
ficará de-nenhum efeito a sua admissão, o que somente poderá con- 4. ° Ter livre ingresso no Hospital, com preferência a outro
seguir requerendo novamente à Mesa. apresentando os motivos, qualquer enfermo, que não seja Irmão, onde; quando de todo lhe
que deram causa a semelhante falta. faltem os meios, será tratado gratuitamente.
2. ° Se os motivos apresentados forem tais, que justifiquem § único - Se o Innáo que for recebido no Hospital tiver
o requerendo poderá ser readmitido. lavrando-se-lhe o assento nes- meios, com que possa, abrigando-se ali, tratar-se-á à sua custa,
ta data. pagará diariamente o que a Mesa arbitrar, sempre menos do que o
Art. io. °-O auto de admissão será exarado no livro pelo taxado . para os que não forem Irmãos, e em iguais circunstâncias.
.
Escrivão, declarando ter prestado o juramento de fielmente cum- 5. ° 'Examinar os livros da correspondência, da receita e des-
prir as disposições deste Compromisso, e ter apresentado a sua pesa, das actas, e do Inventário da Santa Casa;
6. ° Ser elevado a benemérito, se os seus merecimsnLos o fí-
opa ou balandrau. Este auto será assinado pelo Provedor e Irmão.
§ i.° O juramento será prestado sobre os Santos Evangelhos, zeram digno de tal.
nas mãos do Capelâo da Igreja e em presença da Mesa. 7. ° Representar à Mesa Administartiva por escrito, assinado
§ 2. ° A fórmula do juramento será a seguinte: «Por estes por mais seis Irmãos; e motivada a necessidade de qualquer Mesa
319
318
3. ° Quando acusar qualquer Irmão, e perante a Mesa não
geral extraordinária, quando se derem casos em que os :nter. i&s°s provar o objecto da acusação;
e decoro da Irmandade assim o reclamem; 4. ° Quando tenha sido por mais de três vezes sucessivas ad-
8.° Ser gratuitamente levado pela Irmandade na tumba rica moestado pelo Provedor e Escrivão, e não mostre emenda, come-
ao cemitério, falecendo nesta Cidade; esta regalia será extensiva EL tendo as mesmas faltas;
mãe, mulher, cu viúva não casada do Irmão, que também falece- 5. ° Quando declarada e publicamente desobedecer-às ordens
rem nesta Cidade; às filhas ou filhos de Irmãos, enquanto estive-
da Mesa, ou do Provedor, dadas dentro da esfera de suas respec-
rem debaixo do pátrio poder, e ainda depois da morte do Ii-CT. ão. tivas atribuições;
contanto que não excedam a vinte anos de idade, ou não estejam 6. ° Quando se recuse a servir os cargos, para que legalmente
às Irmãs de Irmãos, eles viverein dsbaijeo
já estabelecidos, se com
for nomeado, devendo para ter ou não lugar tal comunicação, aten.
do mesmo tecto e dependência. der-se à sua, idade, capacidade, e serviços anteriormente prestados
9. ° Gozar de todos os sufrágios, que se fizerem pflos Irmãos à [Santa Casa e Irmandade;
vivos e defuntos. 7. ° Quando não preste, ou se recuse a prestar contas dos car-
Ari. 14. ° - Todo o Irmão efectivo tem a cumprir os deveres. gos que servir;
seguintes: 8. ° Quando se prove ter sido subornado, ou subornar para si,
i. ° Aceitar e servir os cargos da Irmandade para que íôr -e- ou para outrem, votos lias eleições;
galmente nomeado ou eleito, salvo impedimento grave, cuja par- 9. ° Quando por mais de uma vez perturbar os actos da Ir-
ticipação fará oportunamente; mandade;
2. ° Comparecer na. Santa Casa. para a Mesa. geral e nos dias e io. ° Quando, sendo Membro da Mesa, lançar em leilões de
hora marcados pela Mesa. dministrtiva.; bens ou rendas da. Santa Casa por s:, ou por interposta pessoa.
3. ° Assistir a todos os actos religiosos da Irmandade; 11.° Quando for pronunciado em crime, que por Lei o torne
4. ° Obedecer às ordens do Provedor, dadas em harmonia e infame, depois de sentenciado.
na conformidade do Compromisso; Art. i6. ° - Ouvido e convencido o Irmão .perante a Mesa de
5. ° Acompanhar e levar à sepultura os Irmãos que falecerem- ter incorrido em qualquer das faltas designadas nos números do
nesta Cidade; artigo antecedente, se procederá à votação por esferas brancas e
6. ° Satisfazer, no que estiver ao seu alcance, às consultas e pretas, da qual, resultando dois terços pele menos de votos contra,
deliberações das Mesas, mandadas executar pelo Provedor . será riscado.
11
322 323
as comissões das penas duma Comissão composta de sete Irmãos, que tenham servido na
marca os deveres dos Irmãos, e
mais próximas Mesas transactas, à qual depois de se ter eferido o
nos casos omissos: ^ _ ^
juramento aos Santos Evangelhos nas mãos do Capelão <1e resolver
'§"i~'. ° Finda a leitura, toda a Irmandade de Íoelhos eem_vc;z em sã e recta consciência lhe será incunibida a decisão i io protesto
alta, resará^trê7Ave Manas implorando o auxílio e ProtpcÇao. _de ou reclamação;
NossaSenhora, tornará depois assento, e fechadaa urna, examina- § 2. ° Resolvida que seja a validade da reclamação ou protesto,
da"que"nada dentm contém, principiará o Escrivão a fazer a cüa- pela decisão da Comissão, se procederá novamente à eleição no ir.es-
mLdïdos Irmãos pela lista, em que irá pondo as descargas, escr^- mo dia ou no imediato, tendo sempre em vista as disposições deste
.
"endoo seu apelido à margem do nome do votante,esteà proporção Compromisso;
lançar
qu7^ada-um ent regar a lista dobrada ao Provedor, e a
administrativa.
ÍaTZsc7rgas7e~em Seguida sefarâo apuramento dosvotos, lendo o Art. 31. °-No dia dois de Julho por oito horas da manhã se
<:apelão~em"voz alta aslistas queo Provedor lhe for entregando e reunirá na Igreja da Santa Casa toda a Jrinandade, com suas vestes,
fazendo a carga dos votos o Escrivão e Tesoureiro; à qual presidirá a Mesa eleita.
§ 4. ° Terminada, a leitura das listas, e o apuramento ^oà ^ § i. °. Logo em seguida cantar-se-á unia Missa com toda a
tos, ficarãoeleitos aqueles, que para cadaum dos cargosobtiverem solenidade.
maioria absoluta de votos; 2. ° Terminada que seja, o Capelão, ainda parameiitado, se
§ 5. ° Acontecendo haver empate, preferirá o mais velho colocará nQ lado do Evangelho, voltado para . o poyp, e tornará
§ 6. ° Logoem seguida sefarãoduaslistas daMesa fcleita- c010' nas mãos os Santos Evangelhos, deferindo a. Mesa. eleita o jura-
candose uma^ia porta principal da Igreja e outra na dav^^_ (nento, cuja fórmula lida pelo Escrivão ajoelhado do lado da Ëpís-
'§"7.0-Concluída afeição, se lavrará a competente acta tola será a seguinte:
peloEscrivão^assinadapeloProvedor, Escrivão,Tesoureiro e Ca- «Por estes Santos Evangelhos, em que pomos as mãos, jura-
ramos cumprir religiosamente todas as obrigações, .que nos impõe
\ 8.° Estaactadeverácontero nomedoseleitoscomdesigna- o compromisso desta Santa Casa da Misericórdia».
Cão os cargos e tíúmero de votos, da qual s.e enviará cópi^a ao Pro- O Provedor e Mesários -ajoelhando sucessivamente e pondo a
^edoT. e'outra ao Escrivão, novamente cleros, para expedirem avi- mão direita sobre o Evangelho, dirão «assim o jur0)>.
sós ao resto dos Mesários. §3-° Prestado o juramento, se cantará a Ladainha de Nossa
Art"29. ° - Se no acto do apuramento, algum dos eleitosime-
ale- Senhora, finda a qual, a Mesa eleita dirigindo-se à casa do despa-
.
gar
motivasse escusa, fortes e atendíveis, recairá a eleição no
cho entra em exercício.
diato em votos.
Art, 30. ° - Quando haja alguma reclamação ou protesto so-
bre qualquer matéria relativa à eleição,dos
^esta só será__atendlda- £e
for apoiada pela terça parte pelo menos
IrmãosPresfn1:es;^^^
7.o-Apoiada que seja, proceder-se-á imediatamente â eleição
324 325
CAPITULO VI o bom e regular andamento dos .negócios da Santa Casa e seu
Hospital;
Da Mesa Administrativa, seus deveres e atribuições i4. ° Assinar os despachos nos requerimentos a ela dirigidos;
i5. ° Passar todos os anos quitações ao Tesoureiro, ou a qual-
Art. 32. ° - A Mesa administrativa é responsável por todos quer Empregado, ou a outra pessoa, sobre saldo de contas ou en-
os seus actos, e incumbe-lhe o seguinte: trega de objectos;
i. ° Organizar o regimento interno, no qual se designarão os i6. ° Fazer cumprir os sufrágios . pelas almas dos Irmãos, e
deveres de cada um dos Empregados, e os meios de levar a efeito os legados que a Innandade tenha por ónusou obrigaçãoa bem das
o determinado neste compromisso; almas dos benfeitores da Santa Casa;
2. ° Executar na parte relativa, e fazer executar .inteiramen- 17. ° Fixar o número dos doentes que diária e gratuitamente
te este Compromisso e regimento interno, que serão entendidos no podem ser tratados no Hospital, o que nunca fará sem um madu-
sentido literal, e as palavras em que são concebidos, na cignifica- ro exame da receita e despesa apresentada pelo Tesoureiro;
cão vulgar, e prática comum, sem admitir interpetrações; i8. ° Taxar os preços aos doentes, que, tendo meios de sub-
3. ° Assistir às reuniões, festividades religi. osas e actos de be- sistência, quizerem sr tratados no Hospital.
neficência; Art. 33.° - É expressamente proibido à Mesa despender ou
4. ° Acompanhar à sepultura as pessoas designadas no n. " S." hipotecar os rendimentos dos anos futuros, e quando por justís-
do art. " 13. ° cap. 3. ° e todas as mais, de cujos enterros a Banta simos motivos isso se tome necessário, não o poderá fazer, sem
Casa perceber a taxa marcada no regimento interno; prévia consulta da Mesa Geral.
5. ° Nomear, demitir e arbitrar os ordenados aos Empregados Art. 34. ° - Nenhum será legal, sem o voto e assinatura da
da Casa; maioria dela.
6. ° Admitir e riscar os Irmãos, e julgar da sua culpabilidade, Art. 35. °-A Mesa administrativa que, sem prévia, autori-
jicando eles com recurso à Mesa geral; zação da Mesa geral, praticar algum dos actos referidos no ^.úme-
7. ° Dar uma conta à Mesa geral da receita e despesa do ano ro n. ° do art. 22. °,. capítulo 4. ° pagará uma multa de seis mil a
<ia sua gerência, de quem, como e quando foi recebida, e em que vinte quatro mil reis, além de responder por seus bens pêlos pre-
.
despendida; juízos causados à Santa Casa.
8° Decidir, tendo em consideração as posses da Santa Casa.
<omo e quando se devem -lazer as Funções religiosas, que são fa- CAPITULO VII
-cultativas;
9. ° Mandar reunir Mesa geral, quando o julgue necessário; Do Provedor, seus deveres e atribuiç&es
io. ° Administrar os bens da Irmandade, e autorizar com a.
sua assinatura as suas deliberações, escrituras de dívida, foros, ou Art. 36. ° - Compete ao Provedor:
prazos, contraídos com a Santa Casa; i.° Presidir a todas as Mesas, reuniões e actos públicos da
11.° Lembrar e vigiar o cumprimento das obrigações de cada Irmandade;
iim dos Empregados, quando haja negligência; 2'. ° Mandar convocar, abrir, interromper ou fechar as Mesas,
12.° Fazer executar na parte relativa qualquer deliberação da nas quais terá voto dicisivo no caso de empate.
Mesa geral, sendo responsável pelo prejuízo, que da sua parte hou- 3. ° Manter a ordem e respeito, conceder ou negar a palavra
ver na demora da execução; aos Mesários que a pedirem, não admitindo discussões sabre objec-
i3. ° Exigir dos Empregados os esclarecimentos precisos para tos diversos da matéria em questão, proibindo imediatamente
326 327
13. ° Nomear, lia falta do Escrivão, um Irmão de Mesa, pa-
quaisquer propostas ou interpelações, envolvam política ou
ra o substituir, quando aquele não excede a trinta dias, exceden-
personalidade;
do, será chamado, o que serviu anteriormente, e se este não acei-
4. ° Rubricar todos os livros da escrituração, assinar os autos
tar, será eleito pela Mesa administrativa.
ou termos dos . assentos dos Irmãos, cartas de guia, portarias de
despeza. Diplomas dos Irmãos beneméritos, e mais objectos da ad-
CAPITUI-0 VIII
ministração da Casa;
5. ° Conceder, e dar as babcas ao Hospital não podendo admi-
tir doente algum excedente ao uúmej-o fixado pela Mesa, em con- Do Escrivão, seus deveres e a+rrbuiç&es
formidade do n. ° i. ° do artigo 32. °, Cap. 6. °.
§ i. ° Exceptúam-se os casos extraordinários de epidemia, acon- Art. 37. ° - Compete ao Escrivão:
tecimento fortuito ou acidental em que o decoro e humanidade re- i. ° Lavrar todas as actas, despachos das Mesas, autos ou ter-
clamem os socorros da Santa Casa, de que dará imediatamente raos de assentos, riscar e fazer notas aos Irmãos, passar Cartas de
parte à Mesa geral, convocando-a para tal fim, para ela indicar guia aos pobres, certidões, formar listas, e finalmente concorrer
à Mesa Administrativa os meios necessários para remediar tais ne- com toda a escrituração da Casa;
cèssidádes. 2. ° Liquidar as adições a receber, das quais passará e assina-
§ '2. ° Também ficam exceptuados os casos compreèadídos no ra guias, que depois de rubricadas pelo Provedor, o Tesoureiro re-
n. ° 4'do art. 13. ° cap. 3. °.' ceberá, passando delas recibo ou quitação;
§ 3. ° No número dos doentes fixado'pela Mesa administrativa, 3. ° Passar e assinar as ordens ou portarias de pagamento das
não serão inclúidos os que pagarem a ïaxa fixada 110 n. ° 5. ° do verbas de despesa previamente aprovadas pela Mesa, Administrati-
precitado art. 13.° va, as quais ordens ou portarias depois de rubricadas pelo Prove-
' 6. ° Admoestar e repreender os Empregados, quando omissos dor, serão pagas pelo Tesoureiro.
no cumprimento de'seus deveres, e em casos graves susüendê-los § i. ° Tanto as ordens de pagamento, como as guias de recei-
dando parte à Mesa na primeira reunião; ta de que tratatn os dois números antecedentes, serão guardadas
7. ° Fiscalizar todos os bens, rendas, foros ou outros quaisquer para documentar as respectivas contas.
proventos, que a Santa Casa possua, ou haja de possuir; § 2. ° Toda a escrituração compreendida nos n. °s 2. ° e 3. ° des-
8. ° Estabelecer e íazer conservar o melhor sistema e ordem te artigo, que houver de ser feita nos livros da Casa, os despachos
na escrituração, tornando-a fácil e inteligível; bem como a regula- das Mesas, as actas, e Diplomas de Irmão benemérito, serão feitos
ridade na administratação dos rendimentos, legados e foros, ou. pelo Escrivão, nos mais casos bastará subscrever e assinar;
quisquer donativos, que em benefício da Santa Casa, ou da po- 4. ° Ter, sob sua inspecção e responsabilidade todos os livros,
breza enferma lhe tenham sido ou forem doados; escrituras, inventários, documentos e mais papeis da Santa Casa,
9. ° Legalizar as despesas da sua gerência; o que tudo receberá do seu antecessor por inventário, lio qual se
io. " Admoestar os Irmãos, instando pelo exacto cumprimento lavrará termo de entrega, tirando-ss uma cópia do mesmo Inven-
de suas obrigações; tário, que depois de conferida e assinada pêlos dois Escrivães, se-
li. 0 Fazer ciente a Mesa dos bons ou maus serviços dos Ir- ra entregue ao Provedor;
mãos, para serem devidamente avaliados; 5. ° Fazer anualmente um inventário de todos os objectos
12. ° Empregar todos os meios ao seu alcance para conciliar existentes na Santa Casa, classificando as suas qualidades e valor
os Irmãos que estiverem em desarmoniât admòestando-os perante aproximado, bem como o bom ou mau estado, em que se acham,
a Mesa, e fazendo-lhes ver o escândalo, e mau exemplo, que dão do qual inventário tirará uma cópia, que entregará ao Provedor;
à Irmandade com tal procedimento; 6. ° Tomar todos os anos, e quando a Mesa Administrativa o
328 329
determinar, contas ao Tesoureiro, para se dar cumprimento ao n. ° tamentária, o Tesoureiro receberá em separado os seus produtos,
7. ° do art. 32. ° cap. 6. °; e deles não distrairá quantia alguma, sem que os respectivos en-
7. ° Servir de Provedor, quando a ausência deste não exceda cargos se achem plenamente satisfeitos, ainda mesmo que para
a seis meses;
isso haja ordem expressa do Provedor, Mesa geral ou Adminis-
8. ° Ler em Mesa as matérias apresentadas; trativa.
9. ° Conservar sempre na melhor ordem e classificação os pa- § único. Se as heranças ou legados forem em bens de raiz,
peis e documentos existentes no arquivo; ou da natureza daqueles que ihes são equiparados, não se julga-
io. ° Exercer como Escrivão, relator nato e Delegado das
rão adquiridos para a Irmandade sem a expressa Licença Régia.
Mesas as funções que lhe são inerentes.
CAPITULO IX CAPITULO X
móveis,, semoventes ou de raiz, a Mesa pedirá à Mesa Geral a pré- 2. a Que se apresentem os títulos por que se possuem tais bens,
via autorização para os poder vender ou aforar, o que fará perante ou pelo menos prova de antiga e pacífica posse;
si em hasta publica, cujos termos o Escrivão lavrará no livro a que 3. a Que o valor dos mesmos não seja inferior ao duplo do va-
alude o § único do artigo 52. lor a q,ue vão ficar sugeitos;
Art. 55. °-As disposições exaradas nos três artigos antece- 4. a Que o fiador seja chão e abonado, que se obrigue como
dentes, ficam, pelo que diz respeito à aquisição e alienação de bens principal pagador, igualmente com sua Mulher, sendo casado, à
ou fundos, dependentes, como é de Direito, da autorização Régia. satisfação do capital e juros, assinando as escrituras;
na conformidade das leis vigentes. 5. a Que o requerente tenha conceito estabelecido de homem
Art. 56. ° - A Mesa administrativa ou geral não poderá dis- probo, de boas e rectas contas.
trair quantia alguma do produto dos testamentos ou deixas, sem Art 59. ° - Preenchidas as cláusulas do artigo aatecedente,
que primeiro estejam cumpridos todos os legados externos â Santa a Mesa deferirá ao requerimento^ e no acto da entrega do dinheiro,
Casa.
334 335
fará lavrar escrituras públicas do livro de Notas, assinada pelo re- Bragança e sala da casa do despacho da Santa Casa da Mise-
ricórdia dr' Bragança, 29 de Maio de 1856.
querente, fiador e mulheres, sendo casados.
§ único. O indivíduo, que receber o dinlieirOi mandará ex-
O Presidente -. Manuel Nunes de Matos
trair pelo respectivo Tabelião um traslado da escritura, que en-
tregará ao Escrivão da Mesa para ser lançada no Inventário e ar- O Vogal - Firmino António Trancoso
O Logal - João Evangelista Vergueiro
quivada, fazendo o dito Escrivãoesclarecimentos de tiido no livro
competente.
Art. 6o. °-É expressamente proibido dar dinheiro a juros Aprovado por Decreto desta data. Paço de Mafra em dois de
aos Irmãos que forem Membros da Mesa Administrativa. Julho de mil oito centos e cincoenta e seis.
Art. 6i. ° - As fcscrituras de juros não poderão ser distratadas
senão a rogo dos devedores ou íiadores, ou quando por qualquer 7. <?. da Silva Sanches
incidente imprevisto corra risco a sua segurança: nesta segunda hi-
pótese a Mesa geral decidirá da necessidade do distraio, auton-
zando a Mesa Administrativa a proceder a ele.
Art. 62. ° - A Mlesa, que infringir as disposições deste Capí-
tulo, pagará por seus bens um por todos e todos por um os prejuí-
zos que resultarem à Santa Casa.
CAPÍTULO XVIII
Disposições gerais
Art. io. 0 Os irmãos da Misericórdia, depois de eleitos e de Art. i6. ° Todos os irmãos são iguais em direitos e obrigações,
lavrado o respectivo termo de admissão, prestarão juramento de na classe a, que pertencerem, e assim:
fielmente cumprir as disposições deste compromisso. Este auto será. i. ° Aos irmãos da Misericórdia competem os segumtes di-
assinado pelo Provedor e irmão. reitos:
§ i." O juramento será prestado sobre os Santos Evangelhos i. ° Gozar de todos os sufrágios que se fizerem pêlos irmãos
nas mãos do capelão da Confraria e em presença üa mesa. vivos e defuntos, e das indulgências que forem concedidas â Con-
§ z. ° - A fórmula do juramento será o seguinte: Por estes fraria;
Santos Evangelhos, em que ponho minhas mãos, juro servir esta 2. ° Ser o seu cadáver depositado na igreja da Misericórdia
Confraria na forma do seu compromisso; juro votar nas eleições e gratuitamente, e alumiado por quatro brandões, e ser conduzido,
mesas a que assistir, sem ódio, suborno ou afeição, mas somente também gratuitamente, na tumba rica ao cemitério pela irmandade,
como a minha consciência me ditar, fará o aumento da Santa Casa falecendo nesta cidade;
e glória de Deus; juro guardar sigilo em, tudo o que debaixo de 3. ° Ser admitido no hospital de preferência aos que não fo-
sigilo me for incwmbido, man. da. do ou tratado, menos no que for re- rem irmãos, e aí tratado gratuitamente sendo pobre, e se tiver meios
lativo a ordens ou disposições da iw. toridade. e quizer recolher-se ao hospital e ser nele tratado, pagará a metade
§ 3-° Aos irmãos do Senhor dos Passos, depois de inscritos, do que estiver arbitrado para os doentes em iguais circunstâncias
passar-se-á uma carta ou diploma, sem dependência de juramento, e que não forem irmãos;
§ 4-° Uns e outros serão inscritos no livro do registo dos ir- 4. ° Tomar assento, apresentar propostas e indicações . teriden-
mãos, com a sua respectiva classificação. tes aos fins e aumento da Confraria, na assembleia geral;
Art. 11. ° O título de irmãos beneméritos poderá ser conferido 5. ° Discutir e votar;
340 341
6. ° Ser elegível para os cargos da Confraria, sabendo ler e es- 3. ° Aquele que sendo só irmão do Senhor dos Passos não pa-
crever; gar três anuidades consecutivas;
7. ° Examinar os livros da correspondência, da receita e des- 4. ° O que for pronunciado por crime a que corresponda pena
peza, das actas e do inventário da Santa Casa, na secretaria da maior;
mesma. 5. ° O que não cumprir o disposto 110 art. 9. °.
§ 2. ° Aos irmãos da Misericórdia incumbem as seguintes obri- § único. A exclusão de qualquer irmão deve ser discutida. e
gaçoes; votada por dois terços dos laesários presentes, e só se tornará efec-
i. ° Aceitar e servir os cargos da Confraria, para que forem tiva depois de confirmada, pela assembleia geral.
legalmente nomeados ou eleitos, excepto no caso de impossibilidade
física ou moral, legalmente comprovada, e cuja apreciação perten- CAPITULO III
cera à mesa gerente;
z. ° Comparecer na Santa Casa para a assembleia geral nos iDo assem.bleia geral
dias e horas marcados pela mesa gerente;
3. ° Assistir a todos os actos religiosos da. Confraria; Art. i8.° A assembleia geral é a reunião de todos os irmãos
4. ° Obedecer las ordens do Provedor dadas em harmonia e na do sexo masculino e de maior idade, sem distinção de classe e sob
conformidade do compromisso; a presidência do Provedor.
5. ° Acompanhar e levar lá sepultura os imiãos que falecerem Art. 19. ° A assembleia geral reunir-se-á ordinária e extraor-
nesta cidade, estando de turno; dinàriamente. A reunião ordinária terá lugar no penúltimo do-
6. ° Satisfazer, no que estiver ao seu alcance, as consultas e mingo anterior ao dia 2 de julho de cada ano.
deliberações da mesa, mandadas executar pelo Provedor; Art. 20. ° A assembleia geral não se haverá como constituída,
7. ° Conduzir-se fraternalmente com os mais irmãos, respei- nem poderá deliberar sem que estejam presentes, pelo menos, a
tando e fazendo respeitar o compromisso, regulamento interno, deli- maioria dos irmãos residentes na cidade.
berações da mesa e ordens do Provedor; único. Se no dia designado no artigo antecedentes não se
8. ° Solicitar a caridade pública em benefício da Confraria e reunir número legal de irmãos, ficará a sessão espaçada para o do-
seu hospital, por meio de subscrições, esmolas, doações ou outros mingo seguinte, e então funcionará com o número de irmãos que
meios lícitos e em harmonia com os fins e instituições da. Coiifra- aparecerem, qualquer que ele seja.
ria, e bem assim em favor dos encarcerados.
Art. 21. ° À assempbleia geral compete:
§ 3-° Aos simples irmãos do Senhor dos Passos, competem os i. ° A eleição' da mesa administrativa;
direitos enumerados nos n. 08 i. °, 2. °, 3. °, 4. ° e 5. ° do § i. ° deste 2. ° A admissão de irmãos beneméritos, sob proposta da mesa;
artigo, e incumbem-lhe as obrigações designadas nos 11. °' 2. °, 3. °, 3. ° Confirmar ou não a exclusão dos irmãos, proposta pela
4. °, 5-°> 6-°> 7-° e 8. ° do § antecedente. mesa;
Art. 17. ° Perde a qualidade de irmão: 4. ° Deliberar sobre a venda, troca ou inversão dos fundos da
i. ° Aquele que não acatar e cumprir as deliberações da mesa, Confraria, e aceitação de doações oneradas com legados, ou outros
e que sem motivo justificado recusar o cargo para que for eleito, encargos, observando-se as disposições das leis civis a este respeito;
ou o serviço que lhe for incumbido; 5.
° Deliberar sobre quaisquer outras medidas, reformas cu riC-
2. ° Aquele que tendo servido algum cargo que importe res- gócios de interesse para a Confraria.
ponsabilidade, se recusar a prestar contas, sem que esta pena o único. Na sessão ordinária da assembleia geral poderá tra-
.
exima da respectiva acção judicial; tar-se, além do objecto para que ela é convocada, qualquer outro
assunto de interesse para a Confraria.
342 343
Art. ia'.0 A assembleia extraordinária- reunir-se-á:
§ único. Não podem votar:
i. ° Quando o Provedor ou a mesa a convocar; i. ° Os irmãos do sexo feminino;
2. ° Quando doze irmãos, pelo menos, o requererem à mesa. 2. ° Os menores de z'i anos;
devendo neste caso declarar-se na petição qual o objecto e motivo Art. 26. ° Ao acto eleitoral precederá a recitação, ou canto
da convocação. da Ladainha de Nossa Senhora, a qual será entoada ou principia-
§ único. A esta reunião extraordinária é aplicável o disposto
da pelo capelão da casa no altar-mór e em presença do Santíssi-
no art. 20.°
mo Sacramento, terminando com o versículo Vem Sançte isfiritus
etc., e oração do Espírito Santo.
CAPITULO IV
Art. 27. ° A mesa da eleição será formada pelo Provedor, Pie-
sidente, e por dois escrutinadores e dois secretários, que serãc» elei-
Da mesa, sua eleição e atribuições tos por aclamação dentre os irmãos presentes, e a mesa provisó-
ria será nomeada pelo Provedor.
Art. 23. ° A administração e gerência de tudo quanto perten- Art. 28. ° A mesa da. eleição é competente para decidir todas
cer à Confraria estará a cargo de uma mesa eleita anualmente em as questões e dúvidas que se suscitarem sobre a validade do acto
assembleia geral dos irmãos. eleitoral, salvo porém o recurso para a assembleia gerai, que pelo
Art. 24. ° A mesa será composta de um Provedor, um Escri- Provedor do ano anterior será convocada para o resolver.
vão, um Tesoureiro, seis vogais e um procurador, com voto ünica- Art. 29. ° Quando na. eleição' para qualquer cargo houver
mente cor. sultivo.
empate na votação, será preferido o mais velho, e se ambos os
A eleição de Provedor deverá recair em pessoa qualiíicada eleitos tiverem a mesma idade, o que for irmão mais ant-lgc, e se
pela sua posição, saber e virtudes, e que não tenha menos de trinta assim houver empate, decidirá a sorte.
anos de idade.
Art. 30. ° A mesa eleita entrará em exercício no dia. 2 de iu-
Para os outros cargos devem ser escolhidos irmãos de rcconhe- lho, reunüido-se por oito horas da manhã lia igreja da Santa Ca-
cido mérito, aptidão e probidade, e que pela sua profissão, idade sá todos os irmãos com as suas vestes sob a prssidência da mesa
ou moléstia, não estejam impossibilitados de exercer o cargo. eleita.
§ único. Não podem ser eleitos membros da mesa: § i. ° À posse precederá uma missa cantada, à qual assisti-
i. ° Os que não souberem ler e escrever; rão todos os irmãos.
2. ° Os que forem devedores de qualquer quantia à Confraria, 2. ° Finda a missa o capelão, ainda paramentado, se co-
ou os que forem fiadores dos devedores; locará ao lado do Evangelho voltado para o povo, e tornará nas
3. ° Os que tiverem feito parte da mesa dissolvida pela auto- mãos os Santos Evangelhos, deferindo à mesa eleita o juramento,
ridade, não poderão ser votados na eleição subsequente a essa dis- cuja fórmula., lida pelo Escrivão ajoelhado do lado da Epístola, 'se-
solução. ra a seguinte: Por estes Santos Evangelhos em- que pomos as .mãos,
. Art. 25. ° A eleição da mesa gerente será feita na igreja da juramos cumprir religiosa-mente todas as obrigações que nos impõe
Misericórdia em assembleia geral dos irmãos e no penúltimo domingo o compromisso áesia Santa Casa. da Misericórdia; o Provedor e me-
anterior ao dia 2 de julho, procedendo-se a este acto por escrutí- sários ajoelhando sucessivamente e pondo a mão direita sobre o
nio secreto à pluralidade de votos da maioria dos irmãos residen- Evangelho dirão: Assim o juro.
tes em Bragança, e observando-se as formalidades decretadas e §3-° Prestado o juramento se cantará a Ladainha de Nossa
geralmente usadas nos actos eleitorais, convidando-se os irmãos Senhora, finda a qual, a mesa eleita dirigindo-se lá, casa do despa-
pelo modo que a mesa entender mais conveniente. cho entra em exercício.
344 345
Art. 31. ° A nova mesa receberá nesse mesmo dia da mesa Art. 35. ° Incumbe à mesa gerente:
cessante: i. ° Administrar bem e fielmente os fundos e bens da Confra-
i. °As contas da receita e despesa, em vista do competente or- ria, dando-lhes a legal aplicação;
çamento devidamente aprovado, e relativas ao tempo decorrido des- 2. ° Confeccionar e discutir todos, os anos o orçamento de re-
de a aprovação das últimas contas; ceita e despeza, e fazê-lo aprovar pela autoridade competente;
2. ° As alfaias, paramentos, dinheiro, títulos e todos os outros 3. ° Organizar o regulamento interno da casa» no qual se es-
objectos entregues e os que constarem do inventário. pecifiquem e definam as obrigações de cada um dos empregados e
Art. 32'. ° Todos os cargos da mesa são obrigatórios e gratui- a maneira prática de cumprir as prescrições do presente compro-
missa e de executar os diferentes serviços da casa;
tos, excepto o de procurador, e só poderão ser dispensados deles os
irmãos em quem se der alguma das seguintes causas de escusa: 4. ° Cumprir e fazer cumprir inteiramente o compromisso e
i. ° A idade de 65 ou mais anos; o regulamento interno;
z. ° Moléstia crónica de que resulte impossibilidade de assis-
5. ° Nomear os empregados da casa e arbitrar-lhes os ordena-
tir às reuniões da mesa e ao desempenho das obrigações. dos e gratificações, vigiar se eles cumprem as suas obrigações, de-
3. ° Mudança de domicílio para fora de alguma das freguesias miti-los, se para isso derem motivo, e nomear outros;
6. ° Tomar contas de três em três meses aos cobradores e
da cidade;
4. ° O facto de ter servido como mesário no ano imediata- procurador, ou a. quaisquer outros empregados a quem esteja co-
mente findo. metida a arrecadação, administração ou aplicação de alguns fun-
dos da Confraria;
i. ° A alegação dos motivos de escusa .será feita pelo inte-
7. ° Assistir às festividades religiosas, actos de beneficência
ressado dentro dos primeiros oito dias depois da eleição e peran-
e caridade e aos enterros, nos termos do art. 66. °;
te a nova mesa, que conhecerá deles, concedendo ou recusando a
escusa como fôr justo. 8. ° Deliberar em harmonia com os recursos da casa quais as
§ 2. ° A mesa reunir-se-á impreterivelmente e resolverá sobre festividades facultativas que podem e devem celebrar-se, como e
as escusas nos oito dias seguintes ia, apresentação delas, e se ou quando;
pelo número dos escusandos ou por outro motivo não houver nú- 9. ° Fazer celebrar com decência e com possível esplendor
mero legal para se constituir, serão convocados os mesários mais as festividades obrigatórias e mandar cumprir os sufrágios por al-
votados da mesa. cessante para preencher o número legal. ma dos irmãos, e os que a Confraria tem ou venha a ter a seu car-
§ 3-° O' Procurador receberá a gratificação que a mesa lhe go a bem dos seus bemfeitores;
arbitrar. io. ° Apresentar ia assembleia geral, no dia da eleição, um
relatório da, sua gerência e dos factos ocorridos durante ela, e bem
Ari. 33. ° As vacaturas dos mesários preencbidas pêlos ir-
mãos mais votados na última eleição, e na falta destes e também assim um mapa gorai da receita e despeza, o qual depois de exami-
no impedimento dos efectivos, serão chamados os do ano antece- nado pela assembleia geral, será afixado nas portas da igreja;
ii. ° Admitir irmãos e excluir os que o já forem, salvo neste
dente, segundo a ordem dos cargos que tiverem exercido, prefe-
rindo os mais votados aos menos e os mais velhos aos mais novos. último caso o disposto no § único do art. 9. ° e n. ° 3. ° do art. 21. °;
Art. 34. ° A mesa só poderá funcionar estando presentes, p.f- 12. ° Fixar no princípio de cada mês o número dos doentes
lo menos, a metade e mais um, ou cinco dos seus membros. 0's que podem ser tratados gratuitamente no hospital, isto em harmo-
nia com os recursos da casa, com as necessidades acorrentes e com
negócios serão decididos 'à pluralidade de votos dos presentes, e
havendo empate decidirá o Provedor, . que neste caso terá voto de as obrigações^a esta respeito contraídas com irmandades ou ou-
qualidade. De tudo o que a mesa deliberar se lavrará acta em li- trás corporações;
vro para isso destinado, autenticado pelo Provedor
346 347
13. ° Taxar o preço diário do tratamento dos doentes, que fraria e assiná-las com o Provedor, registando-as no livro respec-
quizerem recolher-se ao hospital, mediante retribuição; tivo;
i4. ° Fixar a taxa do depósito dos cadáveres na, igreja. 4. ° Passar os documentos de cobrança e assiná-los com o
Art. 36. ° Compete ao Provedor: Provedor e Tosoureiro;
i. ° Convocar os irmãos para a assembleia geral e os mem- 5. ° Passar as cartas de guia, que serão assinadas pelo Pro-
bros da mesa para as sessões, presidir a umas e outras e regular vedar somente;
os trabalhos delas;
6. ° Fazer a escrituração das contas anuais para serem pre-
2.° Rubricar todos os livros da escrituração, assinar os ter- sentes â autoridade competente, e organizar o mapa geral da recei-
mos de admissão de irmãos, os diplomas de irmãos &eneméritos ta e despeza para o fim indicado no art. 35. ° n. ° io. °;
e as cartas de guia; 7. ° Tomar, com o Provedor e Tesoureiro, contas gerais no
3. ° Ordenar o pagamento das despezas da Confraria em har- fim de cada ano aos cobradores e Procurador;
inonia com o orçamento e assinar as respectivas portarias; 8. ° Organizar as relações dos devedores com designação dos
4. ° Admitir os doentes no hospital e dar-Ihes baixa, não po- seus débitos e entregá-las ao Tesoureiro, fiscalizar a cobrança e
dendo exceder o número fixado pela mesa, precedendo as formali- apresentar à mesa, no fim de cada ano, a relação dos devedores
dades prescritas nos artigos 85. ° e seguintes. omissos para serem demandados;
§ único. Exceptuam-se os casos extraordinários de epidemia 9. ° Lançar no livro da matrícula os nomes dos irmãos elei-
e os de urgente necessidade, em que a humanidade e a caridade tos e inscritos, e lavrar o termo de admissão dos primeiros;
reclamam a pronta admissão, do que o Pro.vedor dará conta à me- io. 0 Fazer a descarga dos irmãos falecidos, excluidos ou que
sá. Neste caso qualquer mesário poderá ordenar a admissão; se' despedirem, extrair relações dos falecidos; 'entregando-as ao ca'
5. ° Fazer o abono de medicamentos e dietas aos doentes ex- pelão para este mandar fazer os sufrágios;
ternos;
íi. ° Fazer as relações dos turnos de irmãos para os enterros,
6. ° Superintender em todos os negócios da casa, vigiar sobre
organizando para isso uma tabela ou escala, nomear, também por
todos os empregados, adverti-los quando forem omissos e suspen-
escala, os irmãos que hão de pegar ao pálio e aos andores, ou le-
dê-los quando as faltas forem graves, dandoaparte à mesa na pri-
var outras insígnias ou fazer algum outro serviço nas festividades
meira reunião;
ou procissões da casa, ficando salvo aos nomeados o recurso para
7. ° Conciliar os irmãos que estiverem em desarmonia, adver- a. mesa;
tindo-os em particular ou perante a mesa, e restabelecendo a união 12. ° Fazer oportunamente a distribuição das figuras para a
e espírito de caridade entre eles; procissão do-Enterro do Senhor-em vista do respectivo livro,
8. ° Providenciar em todos os negócios e ocorrên.cias de mo- podendo, os que se julgarem agravados, reclamar perante a mesa;
mento que demandem pronta solução, dando oportunamente con- 13. ° Guardar debaixo da sua responsabilidade todos os livros
ta à mesa das medidas adoptadas. e mais papeis pertencentes à Confraria, os quais conservará na
Art. 37. ° Compete ao Escrivão: melhor ordem, respondendo por qualquer extravio 011 alteração
i. ° Lavrar as actas de todas as sessões tanto da mesa como a que der causa;
da assembleia geral; i4. ° Lavrar todos os termos, autos e diplomas, e Jazer toda
2. ° Escriturar os livros da receita e despesa da Confraria e a correspondência a cargo da mesa e da assembleia geral;
fazer inventário de todos os objectes dela, ou rectificá.- o já exis- i5.° Substituir o Provedor no impedimento deste, ou na au-
tente; senda,, que não poderá exceder a seis mezes.
3. ° Passai as portarias para pagamento das despesas da Con- Art. 38. ° Incumbe ao Tesoureiro:
i. ° Cobrar e arrecadar todos os rendimentos da Confraria,
348 349
mediante os documentos que para esse fim lhe forem entregues pelo CAPÍTULO V
Secretário;
2. ° Pagar todas as despesas à vista das portarias que lhe ío- Dos empregados da. Confraria e suas atribuições
rem apresentadas assinadas pelo Provedor e Secretário, cobrando
nelas recibo dos interessados; Art. 41. ° Haverá na Confraria os seguintes empregados: um
3. ° Lançar no diário e arrecadar todas as verbas de receita capelão-mór, outro menor, um sacristão, um servente, cobradores,
tanto eventuais como as que lhe forem entregues pêlos cobradores um facultativo e um enfermeiro.
e bem assim o juro das inscrições; § único. Quando os recursos da casa o permitirem, e o desen-
4. ° Prestar contas à mesa, sempre que lhe forem exigidas. volvimento do hospital o exigir, haverá, além destes, um ou mais
§ i. ° Além das qualidades enunciadas no art. 24. °, o Tesou- ajudantes do enfermeiro.
reiro deve ser irmão abonado, que tenha bens pêlos quais respon- Art. 42. ° Os capelães devem ser presbíteros de reconhecida
da por qualquer alcance em que incorra. ciência, virtude e capacidade, que não sejam devedores à Confra-
§ 2. ° No seu im^iedimento será substituído por um irmão da ria,. Serão nomeados pela Meza, sob proposta do Provedor e com
sua escolha e confiança, por cujos actos responderá. aprovação do Ordinário. Em igualdade de circunstâncias, serão
§ 3-° se o Tesoureiro não nomear quem o substitua nos seus proferidos os eclesiásticos que forem irmãos da Confraria, devendo
impedimentos, ou se falecer, compete à mesa a nomeação do subs- residir nesta cidade.
tituto, ou doutro Tesoureiro.
Art. 43. ° Os capelães não poderão ser exonerados senão
Art. 39. ° Compete aos vogais assistir às reuniões da mesa e quando faltarem- ao cumprimento dos seus deveres, e quairJo se
a todos os mais actos e festividades religiosas da Confraria, e de- tornarem incapazes do serviço ou indignos do seu ministério. Em
sempenhar quaisquer encargos que a mesa lhes confiar. qualquer destes casos, a Mesa é competente para os dsmitir, ou-
Art. 40. ° O Procurador; além de saber ler e escrever, deve vindo-os pi èviamente, e no caso de demissão, dsve logo nomeai
saber contar - incumbe-lhe:
outros que <j3 substituam.
i. ° Promover a cobrança dos foros, juros e mais rendimentos Art. 44. ° Incumbe ao capelão-mór:
da Confraria;
i. ° Celebrar missa na igreja da Santa Casa todos rs dias,
2. ° Vigiar se os cobradores cumprem com os seus deveres; aplicando-as por alma dos irmãos vivos e defuntos.
3. ° Executar as ordens do Tesoureiro, no que disser respeito § único. A missa nos domingos e dias santificados será dita
à cobrança; ao meio dia. .
4. ° Acompanhar os enterros e tomar nota dos irmãos do tur- 2. ° Oficiar em todas as funções da Confraria, sem invasão dos
no que faltarem, para ò fim designado nos art. 6. ° e 68;°; direitos que competem ao respectivo pároco;
5. ° Pedir a esmola para o Senhor dos Passos nas missas dos 3. ° Confessar e sacramentar os doentes do hospital e assiïti-
domingos e dias santificados; -los quando moribundos;
6. ° Promover o andamento de quaisquer processos judiciais 4. ° Acompanhar a M:esa e a irmandade em todas as procis-
ou administrativos, em que a Con.fraria seja interessada, distribuir soes; enterros, e em quaisquer outros actos públicos;
as insígnias nas funções e procissões e dirigir estas. 5. ° Fazer a encomen.dação dos irmãos falecidos;
6. ° Vigiar pelo asseio do Templo, e velar pe]a guarda c con-
servação de todos os ornatos, roupas, alfaias, vasos e mais guiza-
mentos, que servem para o culto;
7. ° Convida, r os clérigos para as funções da Confraria; excep-
to para pregar;
350 351
8. ° Mandar sufragar as almas dos irmãos falecidos, em har- 6. ° Cumprir as ordens da mesa e dos capelães:
monia com a relação que para este fim lhe for entregue pelo se- § i.° O sacristão usará de batina, volta e sobrepeliz, em todas
cretário, .preferindo para estes sufrágios o capelão-menor, e exe- as funções, procissões, enterros ou outros actos públicos, e quan-
cutar as deliberações da mesa respeitantes ao serviço da igreja, do ministrar nas missas das sextas-f eiras e domingos.
quando não forem contrárias à Sagrada Liturgia; § z. ° São aplicáveis ao sacristão as disposições dos artigos
9. ° Lavrar os assentos de óbito dos doentes que falecerem 43. ° e 46. °.
no hospital, e remeter ao pároco respectivo as indicações precisas Art. 49. ° Ficam a.bolidas e extintas as propinas e emolumentos
para lavrar o competente assento dos capelães, sacristães, ou outros empregados por qualquer serviço
da casa.
Art. 45. ° Incumbe ao capelão-menor:
i. ° Celebrar missa, em todas as sextas-feiras, domingos e dias. Art. 50. ° O servente deverá ser um indivíduo estranho à Con-
santificados na capela do Senhor dos Passos, e por intenção dos fraria; pode, porém, ser irmão do Senhor dos Passos, humilde e de
irmãos vivos e defuntos; bons costumes, nomeado pela. mesa, sob proposta do Provedor, e
§ único. A liora destas missas será às oito da manhã, desde que não tenha menos de 18 anos: usará de balandrau de lã azul,
o dia. i. ° de março a 31 de Outubro, e às 9 horas, desde i. ° de íornecido pela. casa. Incumbe-lhe:
novembro ao 'ultimo, de fevereiro. i. ° Coadjuvar o enfermeiro enquanto não houver ajudantes
2. ° Coadjuvar o capelão-mór, substitui-lo;, nos seus impedi- para o serviço do hospital;
mentos é. cuaiprir as ordens legais que este lhe der; 2. ° Auxiliar o sacristão na limpeza, e asseio do Templo, sg-cris-
3. ° Assistir às funções .da Confraria, e acompanhar esta nas tia, vasos e mais guizamentos;
procissQçs'e. outros actos pi úbUcos; : , :. :. ,. ... . 3. ° Avisar os innâos para quaisquer funções religiosas, para
4. °. Celebrar as missas de sufrágio.pelas, almas dos irroãog que os enterros,, ou para qualquer reunião ou serviço da casa;
falecerem,,, segundo, a relação que lhe. der o capelão-mór... . 4. ° Tanger o sino, tanto para as missas e funções da casa,
Art. 46. ° Os capelães perceberão o ordenado que lhes for como para anunciar a morte e o enterro dos :rmãos, ou doutras
arbitrado . pela mesa, e consignado no o.rçameato. devidamente apro- quaisquer pessoas;
vaâo. Esse . ordenado será propõrcioiiado aos encargos e serviços 5. ° Acompanhar a mesa e a irmandade, precedendo-a com a
de cada um deles. , ; . ... . . campainha;
Art. 47-° O' sacristão será um clérigo minorisfa, tonsurado ou. 6. ° Servir de porteiro ou continuo, quando funcionar a mesa,
simplesmente licenciado, que não terá menos de quatorze anos de ou a assembleia geral;
idade, virtuoso, humilde e decente. A sua iiomeação será feita pe- 7. ° Cumprir as ordens da mesa e dos demais empregados da
la mesa sob proposta do Provedor. casa.;
ArtJ 48. ° Incumbe ao sacristão: § único. São aplicáveis aos serventes as disposições dos arti-
i. ° Conservar em seu poder e sob sua responsabilidade, as gos 43. ° e 46. 0.
chaves do Templo; Art. 51.° Os cobradores dos foros,, anatas e mais reditos da
2. ° Fornecer vinho e hóstias para as missas da casa; casa, serão irmãos de provada honradez e capacidade, que tenham
3. ° Abrir todos os dias e fechar a hora conveniente, as por- alguns bens de fortuna próprios, e que saibam ler e escrever. Serão
tas da igreja, e ajudar às missas da casa; nomeados pela mesa gerente, que fica responsável pêlos prejuízos
4. ° Cuidar da limpeza e asseio do Templo, da sacristia, dos que causarem.
vasos e mais guizamentos; Art. 52. ° Os cobradores deverão proceder à cobrança, nas
5. ° Assistir a todas as funções da casa, acompanhar os enter- épocas designadas pela mesa, recebendo, do secretárioos documen-
ros, e ministrar aos capelães sempre que oficiarem;
352 353
tos respectivos, dos quais deixarão recibo na mão do mesmo secre- § i. ° O enfermeiro residirá sempre no hospital, onde terá a
tário. sua casa e economia.
Art. 53. ° Feita a cobrança, deverão os cobradores apresentar § 2. ° S aplicável ao enfermeiro o disposto nos artigos 43.°
em mesa as suas contas ao provedor, escrivão e tesoureiro, entre- e 46. °.
gando as quantias que se liquidarem. § 3-° A mulher, mãe, irmã ou filha do enfermeiro coadjuvará
Art. 54. ° Os cobradores receberão uma gratificação propor- este e terá a seu cargo o serviço das enfermarias das mulheres, sob
cionada ao seu trabalho, a qual será arbitrada e votada pela. mesa responsabilidade do enfermeiro.
todos os anos no respectivo orçamento, e, não o sendo, regulará o Art. 6o. ° As obrigações do enfermeiro são as que constam do
arbitramento do ano anterior.
capítulo 8.°, secção 2'. a, artigo 84.° do presente compromisso, e as
único. O' número dos cobradores será fixado pela mesa, em.
roais que forem consignadas no regulamento interno da casa.
harmonia com o desenvolvimento que a Confraria tiver, e com o
aumento ou diminuição dos rendimentos.
CAPITULO VI
Art. 55.° Haverá na Santa. Casa um facultativo externo, que
tenha o curso legal da faculdade de Medicina da Escola Médico-
-Cirúrgica do Porto ou de Lisboa. Festividiades, sufrágios e encargos religiosos da Santa Caso
Art. 56. ° A nomeação do facultativo pertence à mesa, pre-
cedendo concurso público por documentos, e preferindo os que pro- Art. 6i. ° São obrigatórias as seguintes festividades, sufrágios
varem mais habilitações científicas e merecimento clínico. e encargos religiosos:
Art. 57.° Ê aplicável ao facultativo a disposição dos artigos i. ° Uma missa diária pêlos irmãos vivos e defuntos;
43. ° e 46. °. 2. ° A missa das doze horas em todos os domingos e dias SEUI-
tificados;
Art. 58. ° As obrigações do facultativo são as que constam do
capítulo 8. °, secção 2. », artigo 83. ° do .presente compromisso, e as 3. ° A missa do Senhor dos Passos, na sua capela, nas sextas-
mais que forem consignadas no regulamento interno da casa. -feiras, domingos e dias santificados, nos termos do artigo 45. °, nu-
mero i e seus parágrafos.
Art. 59. ° Haverá um enfermeiro, que será nomeado pela me-
4. ° Missa cantada e procissão de Passos, com sermões de Pré-.
sá, precedendo concurso documental, sendo preferido o que reunir
todas ou maior número das qualidades seguintes: tono e Calvário na segunda dominga da quaresma ou no dia para.
i. ° Não ter menos de trinta anos de idade, e não exceder a que for transferida, pela mesa.
quarenta e um;
§ i.° Quando por algum motivo grave não se poder fazer a
2. ° Ser casado e sem filhos, solteiro ou viúvo, que tenha em procissão dos Passos, e a mesa assim o resolver, nem por isso dei-
xará de haver missa cantada ao Senhor e sermão.
sua companhia irma, filha ou mãe, não menores de vinte e cinco
anos, nem maiores de cincoenta e cinco.
5. ° Missa cantada à Visitação de Nossa. ISenhora, no dia 2
de Julho;
§ único. Quando não aparecer indivíduo algum, que reuna. li-
6. ° Missa cantada a Santa Maria Madalena, no dia 22 de
teralmente alguma das condições do número 2, a mesa escolherá
Junho;
o que relativamente as preencher melhor.
3. ° Ter saúde e robustez; 7. ° Ofício geral no dia 3 de Novembro, pêlos irmãos defuntos;
8. ° A procissão do Enterro do Senhor;
4. ° Ter boa conduta religiosa, moral e civil;
9. ° Missa do Espírito Santo;
5. ° Saber ler, escrever e contar;
6. ° Ter alguns bens de seu, ou prestar caução pelo extravio io. ° As missas que forem impostas por legados pios, aceites
pela Confraria;
dos objectos que lhe tenham sido entregues.
11. ° Três missas por alma de cada irmão que falecer, pagando
12
354 355
seus herdeiros a lutuosa designada no art. 15. ° e as anatas em dí- sais compostos de doze irmãos da Misericórdia, não mesános, e de
vida. Se o irmão defunto tiver servido algum cargo, na casa, terá outros doze irmãos do Senhor dos Passos, residentes nesta cidade,
mais uma/ missa. procedendo nessa nomeação com toda a igualdade, e podendo os no-
§ i. ° Estes sufrágios serão reduzidos, se os fundos da Confra- meados reclamar perante a mesa, quando julgarem injusta a sua
ria não chegarem para os cumprir integralmente; e quando os re- nomeação.
cursos da mesma. Confraria, o consentirem, celebrar-se-á também § único. Logo que o ruúmero de irmãos o permitir, os turnos
um ofício de corpo presente, do número de seis padres, por cada serão mensais.
um dos irmãos. Art. 66. ° Os mesários concorrerão também aos enterros pela
2. ° A. mesa. incumbe fixar estes sufrágios no princípio do forma seguinte:
ano da sua gerência em harmonia, com os recursos da irmandade. § l. ° O provedor, escrivão e tesoureiro formarão turno entre si,
Art. 62. ° Sã.o facultativas as seguintes funções, as quais se- desempenhando cada um este serviço durante quatro meses do ano,
rão celebradas quando a mesa o deliberar, tendo em atenção o ren- ou acordando-se de maneira, que compareça sempre um deles;
dimento da casa: § 2. ° Os seis vogais formarão três turnos de dois, servindo
i. ° Novenas e festividades do Espírito Santo; cada um desses turnos quatro meses.
2. ° Missa cantada ao Senhor dos Passos em todas as sextas- § 3-° O procurador comparecerá sempre;
-feiras da quaresma; § 4-° se o enterro for de algum irmão que tenha, servido na
3. ° Missa cantada a Nossa Senhora das Dores; casa algum cargo, comparecerá a mesa toda.
4. ° Procissão de Quinta-Feira Santa; Art. 67. ° O irmão que estiver de turno poderá, substituir-se
5. ° Sermões nas domingas da quaresma. por outro.
§ i.° O irmão que estando de turno não comparecer nem se
CAPITULO VII
fizer substituir, ou não justificar legalmente a sua falta, pagará
de cada uma, vez que faltar 115 gramas de cera, ou o seu valor,
para a casa.
Dos enterros
§ 2. ° O que faltar três vezes sem se substituir, nem pagar a
Art. 63. ° À Confraria da Misericórdia incumbe acompanhar multa ou sem justificar a falta, será avisado de ordem do Prove-
todos os enterros em que sair a tumba chamada- RKa,- ; quer dor, pelo Procurador, lembrando-Ihe qual a disposição do compro-
eles sejam de irmãos da Misericórdia, quer de simples confrades do misso, e marcando-lhe um praso para pagar as multas, ou para. se
Senhor dos Passos, quer de pessoas estranhas. Este serviço será re- justificar. Se dentro desse praso não cumprir, será riscado.
guiado pela maneira, declarada nos artigos seguintes: Art. 68.° O Procurador tornará nota dos irmãos, que estando
Art. 64. ° .Logo que faleça um irmão seja da Misericórdia seja de turno laltarem, e entregá-la-á no fim de cada mês ao Escrivão
do Senhor dos Passos, e que desse facto tenha conhecimento o Pro- para o fim designado no artigo antecedente.
vedor, mandará este' pelo servente dar um sinal no sino da casa, ao Art. 69. ° âaverá um livro especial autenticado pelo Prove-
anoitecer da véspera do enterro, para anunciar à Confraria que fa- dor, no qual serão lançados pelo Escrivão os nomes dos irmãos de
tum. 0, notando-se em casa especial ao lado do nome de cada ir-
.
leceu um dos seus membros, a fim de q.ue orem por ele e fiquem
prevenidos para o enterro, e lio dia deste pela manhã,,logo depois mão, as faltas que cometer e se foram justificadas ou pagaram as
inultas.
do toque da Santíssima Trindade, dar-se-á outro sinal, e depois o
servente avisará da hora do enterro aos irmãos^ segundo o costu- Art. 70. ° Os enterros dos pobres que não íorem irmãos e cu-
me da casa. jas famílias não tiverem absolutamente meios para os fazer enter-
Art. 65. ° O escrivão nomeará para este serviço turnos tnmen- rar, serão feitos a expensas da Santa Casa.
357
356
§ único. Cada verba não poderá exceder a. dois terços das
§ i. ° Para isto deverão os interessados apresentar ao Prove- sobras dos rendimentos anuais e cessará quando se tiverem cons-
dor atestado jurado do regedor e pároco respectivos, no qual se truido e reformado as enfermarias necessárias para. o movimento
declare aquela circunstância, sem o que não poderá ordenar-se o médio dos doentes, yotando-se neste caso só a verba necessária para
enterro gratuito. reparos.
§ 2. ° A disposição do § antecedente não é aplicável aos doen- Art. 76. ° A mesa promoverá por todos os meios ao seu al-
tes que falecerem no hospital da Santa Casa. cance, subscrições, donativos e esmolas com aplicação a estas obras.
§ 3-° A condução dos cadáveres dos pobres para o Art. 77. ° Das esmolas, legados ou doações que forem feitas
tério será feita por seis homens à escolha do Procurador, obser- à Santa Casa, sem aplicação especial designada pêlos benfeitores,
vando-se o uso e costume estabelecido emquanto à remuneração empregar-se-á a metade nas obras mencionadas até à sua con-
deste serviço, ou arbitrando-a a mesa. clusão.
4. ° Acompanharão o cadáver - o servente levando a ban- Art. 78. ° A disposição das enfermarias, as classes de doentes
deira da Confraria, e o sacristão, sempre que o respectivo pároco para que devem ser destinadas, as condições de higiene e tudo o
comparecer. mais que respeite às matérias do hospital, será determinado no re-
Art. 71. ° O disposto nos art. 63.° a, 69. ° é aplicável ao en- gulamento interno.
terro dos irmãos do'Senlior dos Passos, que sendo domiciliados fo-
ra de Bragança, vierem residir a esta. cidade, ou que achando-se SECÇÃO II
nela acidentalmente, aqui falecerem.
Do pessoal
CAPITULO VIII
Art. 79. ° O pessoal do hospital compõe-se do Provedor, que
Do Hospital é enfermeiro-mor. dum mordomo, um facultativo, um enfermeiro
e um servente.
SECÇÃO I
único. Quando os recursos da o permitirem e o mo-
Do material do Hospital vimento do hospital o exigir, haverá um ou mais ajudantes do
enfermeiro.
Art. 72. ° O hospital continuará na parte do edifício da Santa. Art. 8o.° Ao Provedor, como enfermeiro-mor e chefe supe-
Casa destinado para ele. lior do hospital, compete:
Art. 73. ° Haverá enfermarias separadas para homens, para. l°. Exercer suprema inspecção sobre o hospital, sobre todos
mulheres, para doentes de moléstias sifilíticas e para os presos. os empregados dele e sobre os doentes, fazendo manter a ordem e
civis, e além disso haverá. quartos para particulares que quiserem cumprir as disposições do presente compromisso e do regulamento
tratar-se no hospital à custa deles, os quais quartos serão tantos interno;
quantos comportarem as proporções do edifício, os recursos da casa. 2. ° Fazer observar a mais rigorosa decência e honestidade,
e a concorrência de doentes.
tanto aos empregados como aos doentes, comunicando à mesa as
Art. 74. ° As enfermarias devem ser espaçosas, convenien- infracções que descobrir, para serem os seus autores punidos nos
temente ventiladas e nas condições de higiene prescritas pela. termos deste compromisso e do regulamento interno;
ciência.
3. ° Propor à mesa a requisição e sortimento das roupas neces-
Art. 75. ° A mesa votará todos os anos, no orçamento, uma. sanas, e ordenar que as camas dos doentes tenham os que lhe per-
verba para reparos e melhoramentos das enfermarias existentes e tencsm e estejam com limpeza e decência;
para a construção de outras.
358 359
4. ° Averiguar se nos géneros fornecidos para o hospital há conferirá quando dele as receber, relacionando também as que
algum desperdício ou descaminho e por quem cometido, dando lhe forem dadas à lavadeira, conferindo-as no acto da recepção;
parte à mesa dos abusos que a este respeito descobrir; io. ° Passar um vale para pagamento da lavagem da roupa,
5. ° Propor à, mesa todos os melhoramentos de que o hospital em vista do qual o Escrivão passará a competente portaria;
carecer. li. 0 Inspecionar o serviço da, cozinha, vigiando se ele se faz
Art. 8i. ° O mordomo é um delegado da mesa, junto do hos- com limpeza, e fazer o fornecimento do combustível para o mês,
pitai, para o seu bom regime. Este cargo será exercido aos meses passando, um vale da sua importância, o qual será entregue ao Es-
pêlos seis vogais da mesa e segundo a distribuição que ela fizer em crivão para por essa importância passar a respectiva porfaria;
sessão no princípio do ano do seu exercício, lançando-se na respec- i2. ° Vigiar se as dietas e as rações que se distribuem aos doen-
tiya acta essa distribuição. tes externos lhes são entregues fielmente;
Art. 82. ° Incumbe ao mordomo: i3. ° Dar conta ao Provedor de todas as irregularidades que
i. ° Visitar o hospital pelo menos duas vezes no dia, de ma- observar no serviço do hospital.
nhã uma ou duas horas antes de se distribuir o jantar aos doentes Art. 83.. ° Incumbe ao facultativo da Santa Casa:
e de tarde uma hora antes da ceia, e extraordinariamente de ma- i. ° Visitar os doentes dela todos os dias o mais tardar às dez
nhã antes do almoço ou da hora da limpeza e à noite antes ou horas da manhã no' inverno e às nove no verão;
depois da hora do recolher, vigiando sempre se os empregados cum- 2. ° Fazer segunda visita de tarde, às horas que lhe parecer,
prem as suas obrigações e inspeccionando pelo menos duas vezes aos doentes que carecerem ser observados mais de uma vez por dia;
no dia as enfermarias; 3. ° Ouvir e tratar os doentes com caridade e paciência, exa-
2. ° Inquirir dos doentes por maneira discreta, se o enfermei- minando-os com atenção e aplicando-lhes, com o maior escrúpulo,
ro reparte fielmente o pão, as dietas e rações, e se ou pelo enfer- os remédios convenientes;
meiro ou pêlos próprios doentes, são dadas ou vendidas para fora; 4. ° Fazer o receituário e lançá-lo no livro competeiite, indicar
3. ° Formular diariamente, em presença do mapa das dietas o modo e condições da aplicação dos medicamentos e prescrever as
e rações, o vale para o fornecimento dos géneros para o dia se- dietas e rações, escrevendo tudo nas papeletas;
guinte, mandaii. do-0 em seguida ao Provedor para o visar e entre- 5. ° Fazer o diagnóstico da moléstia e escrevê-lo na papeleta
gando-o depois ao enfermeiro; na parte respectiva, até ao terceiro dia depois da entrada do doente
4. ° Fazer entrar nas enfermarias todos os remédios e o livro do no hospital. Se, porém, ainda ao terceiro dia o facultativo não pu-
receituário, até à hora e meia da tarde impreterivelmente; der fazer o diagnóstico, descreverá os principais sintomas que po-
5."Observar se o facultativo visita regularmente os doentes dem caracterizar a moléstia, - mas no quinto dia impreterivel-
â hora marcada; mente será descrita a moléstia;
6. ° Inventariar e pôr em arrecado o espólio dos doentes na 6. ° Observar se as aplicações que tiverem sido feitas na vi-
sua entrada para o hospital, entregando-o ao doente quando sair sita antecedente, foram observadas e cumpridas, e vigiar pela qna-
curado, ou ao Tesoureiro se o doente falecer: lidade e distribuição dos remédios;
7. ° Inspecionar se o enfermeiro lavra os assuntos de entrada. 7. ° Determinar e conceder, de véspera, as altas, e declarar iia
e saída dos doentes e se' o capelão lavra os assentos de óbitos; papeleta o resultado que a moléstia teve;
8. ° Arquivar durante o mês e, findo este, entregar ao Escri- 8. ° Participar ao Provedor directamente, ou por intermédio do
vão, as tabelas diárias das dietas e rações, para serem conferidas enfermeiro ou mordomo, a necessidade de se convocar qualquer con-
com os vales em poder do fornecedor; sulta ou conferência, designando o dia e hora em que ela deve ter
9. ° Ter sob sua guarda e responsabilidade as roupas do hos- lugar;
pitai, fornecer as que o enfermeiro exigir, fazendo .um rol que
3.60 361
9. ° Indicar com a nota de Viético e União, que deve escrevsr 6. ° Tomar conta da roupa, dinheiro, papeis ou outros objectos
lias papeletas, os doentes que. estiverem em necessidade .de serem que os doentes trouxerem, descrevendo esses objectos nas costas tia
sacramentados e ungidos, evitando sempre, debaixo de sua rcspon- papeleta e entregando-os logo ao mordomo;
sabilidade, que faleçam sem os sacramentos; 7. ° Receber do mordomo os vales para o fornecimento dos gé-
io. ° Participar ao Provedor, sempre que careça coadjuvação neros alimentícios para os doentes, ir, ou mandar, recebê-los do
de outro ou outros facultativos, para executar alguma operação; fornecedor, examinando se são de boa qualidade;
11. ° Inspeccionar os géneros alimentícios e a casinha, quando 8. ° Mandar fazer a comida e dieta para os doentes e distribuir-
o julgar necessário, ou para isso for chamado; -lhas às horas marcadas no regulam-ento interno, ou designadas pelo
iz. ° Fazer autópsia nos cadáveres .dos doentes que falecerem, Mordomo ou pelo Provedor;
sempre que o julgue conveniente, ou quando, por outras circuns- 9. ° Fazer ou mandar fazer diariamente, e a horas convenientes,
tâncias, isto se torna.r iiecessário; a limpeza do hospital, desinfectar a,s enfermarias e fazer toda a
i3. ° Dar o seu parecer sobre as condições da admissibilidade polícia delas;
no hospital, dos doentes que para esse íiui lhe forem apresentados; io. ° Requisitar do fornecedor as rações ou dietas para os doen-
14. ° Fazer os curativos no Banco; tes externos, em vista dos abonos feitos pelo Provedor, e distribui-
15. ° Propor à mesa, verbalmente ou por escrito, as providên- -los, o mais tardar, até às 9 horas da manhã;
cias e medidas necessárias para o bom serviço do hospital, e as 'e- li. " Vigiar que nas enfermarias se mantenha o maior silêncio,-
formas a fazer no material e pessoal do mesmo; participando ao Mordomo qualquer falta praticada pêlos doentes;
i6. ° Fazer as tabelas das dietas e rações, ou alterar a existente, i2. ° Mandar chamar extraordinariamente o facultativo quando
a qual será submetida à aprovação da mesa; o estado dos doentes assim o reclamar;
i7. ° Cumprir as demais obrigações que lhe forem prescritas no i3. ° Auxiliar o facultativo nas operações que se fizerem;
regulamento interno. i4.° Ter no Banco sempre prontos aparelhos para qualquer cu-
Art. 84. ° O enfermeiro é o administrador das enfermarias e é rativo, fazer as principais aplicações em casos repentinos, mandan-
responsável por todos os objectos que lhe tiverem sido entregues do chamar logo o facultativo;
por inventário, ao qual se procederá pela secretaria da mesa, quan- 15. ° Chamar o capelão para confessar e sacramentar os doentes,
do for nomeado o enfermeiro e antes de se lhe dar posse. - Incum- a que o facultativo tiver posto a nota de Viátwo e Unção;
be-lhe: i6. ° Admitir nos domingos ou nos dias que forem designados,
i. ° Cumprir as ordens que o facultativo lhe der no exercício üo as visitas de pessoas de família, ou de amizade aos doentes, quan-
serviço clínico; do estas lhes não sejam proibidas pelo facultativo, e despedi-las
2. ° Fazer aviar o receituário até a hora indicada no art. 82.° passada que seja meia hora;
n. ° 4. °, e ministrar os remédios aos doentes, informaiido-o de qual- i7.° Fazer remover os cadáveres para a igreja ou para a casa
quer alteração que as moléstias tiverein feito e do resultado que mortuária, quando o facultativo o determinar;
houverem produzido as aplicações anteriores; i8.<> Fornecer ao capelão os esclarecimentos para este tomar o
4. ° Receber os doentes q^ue apresentarein ordem de admissão assento de óbito dos doentes que falecerem no hospital;
no hospital, dando-lhes entrada, na eníermaria respectiva, mandan- iç.° Representar ao Mordomo ou ao Provedor qualquer pro-
do-os lavar e limpar, dando-lhes roupa da casa para se mudarem, vidência ou medida que seja necessária, para o -bom serviço das en-
cama e os mais misteres; fermarias;
5. ° Inscrever os nomes dos doentes no livro de entrada, procu- zo. ° Cumprir todas as mais obrigações que lhe forem impos-
rando satisfazer, quanto possível, aos dizeres do mesmo, dar-lhes tas no regulamento interno.
baixa quando morrerem ou saírem;
362 363
SECÇÃOIII parao hospital, será feita pelo facultativo da casa e pelo Mordomo,
Art. 124. ff Aos doentes pobres que não quizerem oa não pude. O» admimstra-çSo económica da Confraria
rem ser tratados no hospital, abonar-se-ão medicamentos e dietas;
para o que a mesa consignará uma verba no orçamento. Art. 134. ° À mesa compete administrar os ftíndos da Confra-
Art. I2.5. 9 Estes abonos- serão feitos pelo Provedor, apresen.tan- ria e aplicá-los da maneira mais vantajosa para esta, relatando
ao os pretendentes atestado jurado do pároco, de que são pobres. anualmente perante a assembleia geral, e nos termos do número io
Art. 126,° Com este atestado., e verificada por quaisquer outros do artigo 35. °, a maneira porque se houve neste assunto.
368 369
Art. 135. ° Não poderá a mesa repudiar herança ou legado al- Art. 143. ° Os mesários responderão solidariamente e pêlos seus
gum, os quais aceitará sempre a benefício de inventário nos ter- bens, por qualquer prejuízo causado por dolo ou simples negligên-
mos da lei civil. cia à Confraria.
imo.biliários, a mesa promoverá a sua alienação e inversão em fun- 2.° Se nem pagar a multa nem justificar as faltas, será excluí-
dos consolidados, dentro do praso marcado na lei civil, e nas !eis do, guardadas as formalidades do artigo 67.° e seu § 2.°,
de desamortização. 3.° O irmão da Misericórdia a quem tocar vestir figura para
§ único, ge a Confraria carecer adquirir alguns bens -Imobi- a procissãodo Enterro do Senhor, e que se recusar a isso, pagará
liarias, que sejam indispensáveis para o desempenho dos seus d'e- i$5°o reis, para a casa mandar fazer esse serviço, e se se recusar
veres, e cumprimento do fim social, pedirá para isso ao Governo a ao pagamento, será riscado.
legal licença. 4.° O irmão que não fizer a hora de vigília ao Senhor dos Pas-
Art. 139. ° A mesa promoverá a remissão ou venda dos foros, sós, no dia de Passos e de Quinta-feira Santa, segundo lhe per-
censos e pensões, da Confraria, pela maneira mais vantajosa para tencer por escala, ou que não fizer cumprir por outro esse' serviço,
esta, dentro do mais curto praso, em harmonia com as leis respec- pagará 115 gramas de cera para a casa, e se por três vezes faltar,
tivas, invertendo em fundos consolidados, e nos termos da lei, o ou se se recusar a pagar, será riscado.
produto dessas alienações.
Art. 140. ° É proibido mutuar ou emprestar a juros, dinheiro, CAPÍTULO XI
quaisquer que sejamos fundos da Confraria.
único. No caso de haver saldo de receita, será esse saldo em- Disposições gerais e transitórias
pregado em fundos consolidados.
Art. 141. ° A mesa promoverá o pagamento dos capitais actual- Art. 145. ° A mesa fará o regulamento interno da casa em har-
mente mutuados, e dos respecticos juros, para lhes dar a aplicação monta com o presente Compromisso, e em quanto o não fizer, pro-
designada no § únxo do artigo antecedente. videnciará para os casos omissos da. maneira que lhe parecer mais
§ único. A cobrança dos capitais mntuados e a sua inversão em conforme aos fins da Confraria.
fundos consolidados, eíectuar-se-á no prazo de quatro anos, fican- Art. 146. ° A mesa promoverá que nas condições dos partidos
do a mesa responsável por qualquer negligência ou omissão a este médicos do concelho de Bragança, se consigne a obrigação de os
respeito. facultativos providos neles concorrerem gratuitamente às confe-
Art. 142.° A mesa não poderá despender quantia alguma, que rências, juntas ou operações que tiverem lugar no hospital, e para
não esteja autorizada em orçamento ordinário ou suplementar. as quais forem convidados pelo Provedor.
ÍNDICE
PREFÁCIO ... ... ... ... ... ... ... .... ... ... ... ... ... ... . ... 7
Capítulo I - A SANTA CASA - O grande 'preceko da caridade
- A formosa lição do Apóstolo S. Paulo - A caridade através dos tem-
pôs - Traça-se o perfil da Rainha D. Leonor - As primeitas miseri-
.
Capítulo Xll - OS MEDICAMENTOS- Nos iprimreiros séculos - Provedores da Santa Casa da-Misericórdia ... 279
Grandes despesas - A farmácia privatíva do hoapital - A smdicância Legados à Santa Casa da [Misericórdia 285
- Como acabou a farmácia - Grandes números 'de uma grande Esmolas de particulares â Santa Casa 2g i
despesa I( Sulbsídios das confrarias 302
Irmãos beneméritos da Santa Casa 304
Capitulo XIII - ASSIST1ÊNGIA AOS (PRESOS - O mordomo Actual [património da Santa Casa .da Misericórdia 3o8
dos_.presos - Água_e ^. âo - Nas Quartas-Feirasáa Quaresma e na Quin- Receita e despesa 'da Santa Casa 3'12
ta-Feira Santa - Duas cartas muito 'expressivas ^ O jantar . aos pre- Compromissos - Compromisso da Santa Casa da misericórdia, de
sós - Os privilégios A Dom Manuel ... ... ... ... ... ... . '.. ... ... \-jq Bragança, de 1856 ... '... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 314
Novo compromisso da Sa.nita Casa da Misericórdia de
Capitulo XIV - PEREGRINOS,CATIVOS E MORTOS - Cama, de 1877 .. ... ... ... ... .. ... ... ... ... ... ... ... 336
água_,e lume - A confraria de Santa Cruz - Tumbas, caixões e urnas
- Um Bpisódio j.und.ico - Como se faziam os enterros - Remoção
de ossadas- O enforcamento de JoséJorge ... ... ... ... ... ... ... 189
Capitulo XV - dVCISERICÜRDlIiAESPIRITUAL- Crianças ao de-
.