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(Da Ac-ideinia Portuguesa d História)

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A SANTA E REAL CASA DA
MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
P. JOSÉDE CASTRO
(Da Academia Portuguesa da História)

A SANTA E REAL CASA DA

MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA

Tip. da «União Giáflca»


Rua de Santa Marta, 48
LISBOA - 1948
Do autor:

A Roma e à Terra Santa (5.° milhar) esgotado


.

São iFranrisco de Assis (2. a edição) - 9.° milhar


esgotado À queridíssima e veneranda memória
Terras de S. Francisco (6.° milhar)
'Portugal em Roma - Vol. I (3.° milhar) do Padre Francisco Manuel Alves - Abade de Baçal
.

Portugal em Roma- Vol. II (3. ° miíhar)


D. Sebastião e D. Henrique (2.° milhar) o maior bragançano de todos os tempos
O Prior do Grato (2.° milhar)
O Cardeal Nacional (esgotado)
Portugal no Concílio de Trento - Vol. I O. D. e C.
Portugal no Concílio de Trento - Vol. 'II
Portugal no Concílio de Trento - Vol. III o

iPortugal no Concílio de Trento - Vol. IV


Portugal no iConcílio de'Trento - Vol. V autor
Portugal no Concílio de Trento - Vol. VI
Bragança e Miranda (bispado) - Vol. I
Bragança e Miranda (bispado) - Vol. II
Venerável .Bartolomeu dos Mártires (esgotado)
Associação dos Artistas de Bragança
A Santa Casa de Bragança

No prelo:

Bragança e Miranda (bispado) - Vol. ÍII


PREFÁCIO

Gostou muito o Abade de Baçal que eu publicasse o


livro sobre â «Associação de Socorros Mútuos dos Artistas
de Bragança», e, por ve^es, lamentou que eu, por mingua
de materiais, não pudesse fazer o mesmo à Santa Casa. da. Mi'
sericórdia. Seria um trabalho interessantíssimo, muito digno
de aparecer ao lado da. obra aBragdnça. e ÍAiranda», diffú'me.
A par da lamentação do Abade, surgiu o desejo insis'
tente de bra-gançanos ilustres - Dr. Fmncisco Martins Mor'
gado, Dr. Francisco Mo^ e José Furtado Montanha - que,
após alguma hesitação, me levou a. um penoso e 'demorado
estudo - tão penoso que ainda, agora me assusta.- do qual
resultou este livro, apresentado agora. ao público.
Com muita frequência inda.gava o Abade do estado das
pesquizas, das .conclusões a que chegava, e da. arrumdçao dada
ao Assunto, não obstante atormentado pela. gravidade da sua
doença. Quero ver, di^ia'me, icomo vós conseguis fa^er um
Francisco Manuel Alves (Abade de Baça!) a trabalho de reconstituição histórica apenas . com relações de
cuja memória é oferecido este livro 'receita e 'despesa.
A amiúde e adfnira. ça.o que sempre tive pela sua ex^
traordináriapersonalidade, juntas à grande inágua. que con-
tinuo a ter peld sua morte, bem, certo de quz, no dia 13 de
Novembro áe 1947, morreu o maior bragançano de todos os
tempos, levou'me a dedicar à sua queridíssima e veneranda
memória este livro que, pela natureza e fmalidade do assun'
to, terá certa utilidade e repercuçao.
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Parece^me bem que, no prefácio deste livro, eu deva. con' ficação, e fica. muito bem ao lado do notório apreço de
signar as palavras justas, merecidas e exactas, por mim pró' Emílio Hubner, fundador da arqueologia, Entre eles existiu
feridas na. sessão de homenagem da Casa de Trás-os>Montes correspondência epistolar de recíproca admiríção científica
e Alto Douro, em Lisboa, no dia 13 de Dezembro passado, que, infelizmente, os ratos soiiberam roer em grande parte.
tngésimo dia da. sua morte; e não é desacertiido que, ao la- O valor histórico e arqueológico do Abade de Baçal to'
do dd história da. Santa Casa. da Misericórdia - a obra mais ma relevo impressionante se considerarmos que ele trabalhou
interessante da cidade - fique a seguinte página histórica usem dpoto nos esttidos dos cientistas, relativos à geologia,
sobre a pessoa do Abade de Baçal cujo interesse subirá. com a. minerdogia, botânica, zoologia e 'outros ramos do saber,
o decurso dos tempos e, por isso mesmo, com a chamada ]us' longe das bibliotecas e dos arquivos onde se encontram as
tiça da história. fontes que importa averiguar, não dispondo nem do tempo
nem. de meios pecuniários para as ir buscar, e não poder
aproveitasse do 'convívio cultural dos grandes centros», co'
«O Df. Luís Rodrigues, Governador Civil sitibstituto do mo tão justamente disse, no sector de ciências danossú Aço.-
Distrito de Bragança, palestrando comigo acerca do Abade demia, ò notável acadéniico Doutor Silva Carvalho que, à
História da Medicina, tem dedicado anos de intensa acti'
de Baçal, disse que o Doutor Manuel Paulo Mereia., seu
vidade.
professor da Históriade Direito Português, na. Universidade:
de Coimbra, -recomendou ao seu curso que, nos ócios das fé- Com exacti'da.0 se pcfde afirïnar e gdrantir que o trabíl-
rias, descobrissem forais. O Dr. Rodrigues falou do nosso lho do Abâdé de Baçal é quase único no nosso País. A sua.
Abade que, ü seu tempo, lhe mandou uma lista. Ficou en' obra colossal não é só constituída, pêlos II tomos das suas
cantado o Professor Mereia, e, em lição adequctda., disse da Memórias. Além da sua 'colaboração erudita, em 20 jornais
sua admirdção pelo Abade. Por insinuação do Dr. Rodrigties, e 7 revistas, escreveu 12 opúsculos sobre assuntos vários: mo'
o Abade ofereceu-lhe os qua.tro primeiros tomos, e o Doutor nografias «lê vilas, como M. oncorvo e Vimoso, trabalhos de
Mereia, a 6 de Agosto de ip'27, agradeceu-:lhe a dádiva, com dpologética, como a defesa do bispo Dom José Mari^ e o
estas palavras:
trabalho regional, «A Restauração de 1640 no distrito de
«Por amável oferta de V. Ex.li possuo os quatro tomos Bragança». No seu espólio foram encontrados três manuscri'
das uMemóruis'Arqueológico'históricas»,obra que tenho em tos .que, a. seu tempo, tera. o a merecida, e desejada publici'
muita estima e que, sem o menor vislumbre de lisonja, con' dade. Comprende^se bem porque os institutos científicos e
sidero um . auxiliar precioso e imprescindível de quem quer literários do País, e alguns do estrangeiro, lhe disputaram a
honra de o ter no -rol dos seus membros mais ilustres.f
que, entre nós, empreenda estudos históricosicom probidade
e consciência. Pelo menos eu não a dispenso, co'mpulso'0, it Nesta hora ide luto nacional para a cultura portuguesa,
cada momento, e dela tenho extraído utilíssimos elementosv. têni'se desfolhado sobre a sua venera-nda meniória., palú'
A opinião do insigne .medievalista. vúle por uma gíon' vras de nobre justiça. Todos ique da, sua 'obra se têm ocupa'
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do, lhe passaram certificado de intelectual, na. mais pura nossa raça, dentro da agrestia dos nossos montes, e à roda,
acepção do termo, . dando d máxima importância à sua 'ohm e à sombra dos nossos campanários.
incomparável, mina riquíssima de notícias e esclarecimentosr
Não é atrevida esta afirmúçao: o prestígio do nosso
próprios a auxiliar vdlwsamente quem, em todos os sectores Abade ainda não é o que merece, úinda. não esta, defini'
da vida. da nossa província, pretenida 'reconstruir o nosso tivamente consolidado, nem a, sua, pessoa devidamente apre'
passado. Hoje como amanhã, e amanha, como hoje, se admi' ciada» Mas o prestígio consolidar-se'á e será. cada. vez ma-ior
ra e exaltará ú obra que lhe consagra., a par de um labor na medida, em que os estudiosos se «cuparem do distrito.
beneditino, a. erudição baseada principalmente na. probidü' Suceder-lhes-á o mesmo que a mim. sucedeu. Então a sua
de e no escrúpulo. Honesto em tudo o Abade, tinha, portan' figura intelectwil, científica e regionalista. tornará imensas
to, em si e nos seus escritos, a mais difícil .das honestidades
proporções, e será, para nós, tão agigantada, como o sempre
- a honestidade intelecttud.
consultado Dom António Caetano de Sousa, notabilíssimo
Com notável brilho e verdade, escreveu o Professor oratoriano.
Doutor Vitorinó Nemésio: t.i. Uma. 'obra de erudição vasta e Vem a talho dizer que o nosso Abade se fezpaleógrafo
consistente como a sua, um labor de mdagação de tudo o por si mesmo. Dotado de uma paciência de santo e de uma
que importa, ao estabelecimento de uma tradição provincialf
formidável memória, visual, não se lhe dava de gastar mew
ia. abrindo caminho e fez escola. A sua. sombra sente-se que ano na leitura de um documento medieval. Paciência, me'
amrna e serve de exemplo do patriotismo local. As suds «Me- mória, intuição histórica, enfim - uma. grande vocação.
monas» tomam^se, naturaltnente, o pergaminho da altivez Sinto particular prazer em lhes narrar .o seguinte facto.
trasmontana».
A embrulhar uns quilos de bacalhau, um pergaminho roto,
Ndo podia o Professor Nemésio di^er melhor. O Abade delido e sugíssimo. De Baçal a. camponesa, fe^ do pergami'
de Baçal, sem , que pretendesse, passou a, ser, ptíra todos
o
nho um presente do Abade. O Abade rejubilou. Betjá-lo-wt,
nós, ú nossa melhor vaidade, o nosso regional orgulho, d se não estivera, tão imundo. Conseguiu lê-lo, estudou-o, e
nossa bandeira, o santo querido do nosso bairrismo. E se concluiu que, no governo diocesano de bispo. Dom Anfo-
amcw é dar. se amar é imitar, se amar é imolaçãopelo ideal, mo Pinheiro, houve em Bragança, o Colégio de São Pedro,
aqui estou eu para. afirmar que, seduzido pelo seu exemplo, fundado em 1561. De ráctocínio em raciocínio, pôde recons'
alguns .anos e muitos síicrifícios tenho passado e feito para tituí'lo, onde era e como era. Mais nada sobre a. matéria. O
dar, no campo da cultura. histórica-, ao bispado e à terra, assonibro está em que, pela larga documentação por mim en'
muito da ïninha vida. e o .pbuco ád inmkd bolw. centradano Arquivo Secreto do Vaticano, pude verificar o
Não -importa, pam o caso, a. quantidade e a qualidade. faro histórico, a inteligência penetrante e a. enorme ca-pa'
Interessa dizer que pouco ou muito, bom, sofrível ou mau, cidade de raciocínio do nosso Abade. O pergaminho roto,
é .dado e feito por a-mor ao distrito, à cidade, à aldeia owde quase desfeito e suglssimo, dera, ao Abade .de Baçal, uma
vive, grúças 'a Deus, a raça da nossd gente e a. gente da
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certeza, e uma evidência que não foi desmentida pelas pre- ganad-o porque é muito boa, . muito antiga. Não há outra.
ciosas fontes do Vaticano. por aqui. Ca.para mim é de duzentos anos antes de Cristo',.,-
Diga'se agora, o que todos sdbem. Este sábio era padre, Escusado é diyr que fiquei arrazado..
um padre de inicmtiva, amigo do seu povo e da sua. cias' O Abcode de Baçal foi sempre um padre digníssimo. A
se. Neste padre, um sábio e uma pessoa de bem. Esteve opinião pública apontou^o sempre como padre exemplar e
em Maims, concelho de Chaves, .desde 1889 a 1896; e em emmente. Quase todos os bispos lhe quiseram bem, todos o
Baçal, concelho de Bragança, esteve desde essa data até à admiraram e alguns o visitaram. Nunca foi repreendido, nun-
morte. Müiros foi, portanto, o seu primeiro amor paroquial. ca foi censurado. Ft^eram-no reitor e a-bítde, e morreu, como
Foi em Mairos que atou a sua, amisade com o Presidente, da. .

viveu, em pleno uso das suasjurisdições.Nãose pode dizer


Repúblicd, Sua Excelência, o Senhor Marechal Ca-rmona, e mais? Pode. Quando da, glorificação, em 19-35, promovidA
fm láque deixou um perpétuo documento da sita actividade feio distrito, o bispo Dom António Luís de Almeida, em
pdstoral -
a capeü do Senhor dos Aflitos. Fez em Mairos documento público e solene, associou-seà glorificação,deçla^
roM-o benemérito e f)romoveu'o ao título de Aí><táe. Não se
p que, mais tarde, faria na. freguesia de Ba^al onde ergueu,
na coïina a cavaleiro da aldeia de Saçoias,.a capela de Nos' pode .dizer mais? Pode. QiMndoa.Lei de Separaçãode. 1911
sá, Senhora da. Assunção. entendeu que o clero português era objecto de compm e
O Abade, sempre que falava, forejava aëncia, sem venda, o Abade de Baçal, 'digno como a própria dignidade,
querer. As expressões (.ibisantino, românico, histórico, pré- recusou a.pensão, e doeu-se muito que um primo seu, Aba'
'histórico, pmto-histórico, gótico, visigótico, antes de Cm' de de Cicouro, a, tivesse açeita.do. Iniciara p Abade de Ba'
to, depois'de Cnsto», sa.iam-lhes dos lábios, e caiamnos ou' cal o volume IV átís «Memónas» áníeí áa Let de Separa-
vidos daquela boa gente que as emprega como fazendo par' cão, e íledicara-o ao primo. Concluiu-se o volume depois
te do idioma, do paraíso. O idioma do Senhor Abade. Cinco da Lei. Que faz o Abade de Baçal? No fi.m do volume, es-
anos depois da. inauguração da. capela referida, em 1910, tigma.tiza'0 com estas palavras de fogo: aEste volume vem
fui pregar eu. Eu era, naquele tempo, um ra-paz. A capeÏA oferecido ao Senhor Abade de Cicouro, oferta que damos
ainda não tinha reboco, e o pavimento em térreo. No Altar como de nenhum efeito, por razões que ele e muita. gente
de rústicapobreza, uma Nossa Senhoramuito ingénua,mui' sabe, enquanto não voltar a ser o nosso primo muito caro d-e
to sem feições, mmto não se» qi ië, uma. tmagem cujo es' outros tempos, volta, que a sua. dignidade e pundonor uv'
cultor fizera, decerto, promessa de na-o a apresentar numa gentemente estão reclamílndo-»,
exposição de arte... Esta. atitude prova violentamente quanto o Abade pre^
No regresso a Sacoias, falei ao juiz da festa na igreja. sava a sua dignickde e a dignidade dos colegas. Espírito m-
e na tmagem. dependente, apaixona-do pela. liberdade intelectual, era mm-
-A igreja.. ^ assitn... assim, mas a imagem... disse eu. to da conf/raria dos colegas e dos amigos.
Mas o jui^ atalhou convictamente: - Está muito en' No caminho do Lombo, de Montezinho para França,
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morreu de um desastre a. cavalo, o seu amigo Padre Gfln- do o então Ministro da Justiça, Conselheiro Lopes Cardoso,
dtdo. A pi edade popular, à velha maneira
trasmontana, lê. em sessão solene na, Câmara Municipal, lhe entregou o
vantouà beira do caminho uma Cru^. Aquela Cruz, assim diploma, de comendador da Ordem de Santiago da Espada.
aos safanões do vento, e sujeita às vergastas da chuva e Sabe^se .que o Aba.de de Baçid atraia sem querer atrair,
daneve, corriarisco de tombar e apvdrecer. E então o Aba. conqui.stavíi sem querer conquistar. Um simples conta. cto,
dequandotinha depassarpor aUe quasesempre acompa^
nhado,
sugeriauma. ami^fids que se atavapara sempre. Querer bem
fazia que todos levassem pedra ao Abade, admirá'lo, visitá-lo na. sua casa, chegou a ser mo'
umd e a deposi.
tossem .em redor daCruz. Junto daCruz, tírava o chapéu, da agrúda-vel. Ir a Bragança, sem ir a Baçal, era, quase o mês'
e, de cabeça curvada, regava com todos um Pa^Hosso. na mo que ir a Roma e não ver o Santo Padre.
atitude^concentra^a e comovidaque nósvemos no quadro O sábio Doutor Afrãnio Peixoto escreveu: «A maior
de Mület, à reza das Ave Manas quando o sol'caldo"no curiosidade de Bragança e do seu museu, é o próprio Aba.-
horizonte envolve a terra w meia luz do crepúsculo. De de de Baçal».
pedras toscasse fe^ .o pedestal daCruz; e,paraa furtarão E porquê? O Abade não tinha casa confortável. O Aba'
chicote do vento e à humidade da neve, meteu^ewbr^ de, ao pa.o e presunto que oferecia, punha, à guisa de toc^
cos entre lages, a lembrar esses Cnstos que os tírole^ er. lha, um jornal. O vinho era oferecido em copos, pouco ha'
guem nos camznhos e à entrada das aldezas. ou a recordar bituados à água corrente. O Abade não fazia, coríe^uts,
fcero» trapt sta de
o
Chautard, que ao seu camamd-a dague~r. nem dava. a. ninguém o tratamento de Vossa Excelência,
ra fmnc^pmsstana, morto pela Pátria, ergueu uma Cr^~de nem de 'Vossa, Senhoria, nem de Vossa Mercê. A todos, -
pedr^, a únicacousaque a suapobrezalhe podiaoferecer. fosse quem fosse - dava. a segunda pessoa, do plural - Vós
Se este episódio me fez evocar um pintor célebre e um uío, vós aquilo, vós aqueloutro. Aos que o procuMvam, re'
escntor premiado pela Academia Francesa, também me dês. cebia como estava, e onde estavíi.
perto a lembrança de São Francisco de Assis, cercado de O grande litemto Aquilino Ribeiro contou este epi só'
rapazes, sugestionados pela sua linda vo^ de tenor, a cctrre. dio, úbsolutamente exúcto: «0 Mário de Saa, com a. sua.
gar pedras para reconstruir a capela .da Porcnïncula e a des^ agilidade física e mental, e seu misto de i . farfadet» e jovem
mantelada igreja de São Damiao., rajah, quando andou na homerica tentativa de querer dne-
Veremos depois que, entre São Francisco e o Abade xar a Gdlizci, empreendeu, antes de múis nada, conciliar os
de Baç^ hápontos de contacto. Por agora, quero wnduÍr grandes valores à sua, causú. O Abude de Bdçflí era. um e
que o Abade de Baçal foz um'padre de iatína sem mancha, botou'se a. Bragança. - Mora aqui o senhor Abade de Ba'
um padre querido pêlospadres. Recorda. se aqwa ofertape. cal? Tem a bondade de lhe apresentar o meu bilhete...
lo clero de «m cáUx de valorartístíco, nahora em que os Dali a pouco, surgia o bom do ancião, em casaquinho ruço
twmontanos lhe ofereceram uma pena de marfim, fiUgra. de bater, tendo nos dedos o cartão do visitante, e nos id'
nadaa ouro.penaquesóumavezserviu- emi^oquan. bios um rictus de pasmo: - Sá com dois aa7 Catrino!»
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O senhor Mário de Soa não se amofinou com a excla" o Abade calçara meias de diuis cores: - nuni pé, um.a meia
maçao do Abade diante dos dois a. a, do seu apelido. Tratou' branca; e noutro pé, uma meia vermelha.
-o, admirou-lhe o saber, e ficaram amigos. Ora isto não significa, mconformismo; exprime um au-
Que qualidades hipnotizantes tinha, o Abade para con- têntico nao-^te-rales, próprio de quem não cuida de cousas in'
centrar à roda de si, a. ternura, dos pobres, a admiração dos significantes.
ricos, a luz dos intelectuais, a simpatia dos artistas, e até a Suponho que acerca do Abade, é melhor dizer assim:
graça, das senhoras? o Abflde de Bucal era soberanamente grande, e, por isso,
Tem-se dito e redito que o Abade de Baçal era um in- era grande em toda. a parte. Grande na aldeia, e grande na.
conformista com a vida social, uma espécie de ouriço ca- cidade. Grande no seu cardanho, e grande numa. roda de
cheiro nos ambientes confortáveis e luxuosos^ Ele não era senhoras. Sem o sentir, sabia estar; e onde estava, estava
um inconformista. Era, isso sim, um je mt en fichista perante bem. Sabia estar com toda a gente, e toda a gente saía. en'
as pequeninas e grandes exigências sociais, e estava sempre cantada. Sabia estar em toda à parte, e, em toda a. parte,
muito à sua vontade. Depois das festas em sua honra, em em sempre o pnmeiro.
Abril de 1935, fácil foi convencer o Abade da obrigação de Em duas circunstâncias solenes, vi o Abade: num sd-
vir a agradecer ao Senhor Presidente da Repiíblica,
Lisboa lão de senhoras, portadoras de nomes aristocráticos, e num
ds provas de apreço por Sua Excelência dadas no momen- jantar do maior requinte e apuro - nas iguarias, na bai^
to; nem lhe foi difícil dispender umas centenas de escudos xela, no serviço e nos convivas. O Abade de Baçal foi gran-
para uma roupa, digna de entrar nos salões do palácio de de, sem deixar o tratdm>ento de vós. Deu a impressão, pelú
Belém. Tudo muito bem, só as bota^ muito mal. Desde que sinipUcidade e espontanevddde, que nascera. em palácio au-
as comprara, nunca a. graxa, passara, por elas. Notaram isto cal, e sempre se assentara à mesa de príncipes.
o Dr. Ráw! Teixeira e o saudoso Dr. Francisco Correia, no Que qualidades tinha, então, este homem? pergunta-se
Largo do Rossio. Mas as botas estavam de tal modo que novamente.

'reststwam à primeira investida do engraxante... Este homem tinha em, si todas as soberanids. Dai a

De outra feita, a convite da Liga de Profilaxia, uma sua reale^a.


conferência do nosso Abade no salão de festas do Cliibe dos Vejamos:
Fenianos, do Porto, sobre o intercâmbio de Portugal e Ga' Com um grupo de amigos, deu uma volta pelo País.
liza. Na. tribuna o Dr. António Pires Quintela a ler a, con- Bons hotéis, bons solares, festas ao Senhor Abade. No BM-
ferëncia, como ele sabe ler - aiitëntica leitum de artista caco, instalaram'se no Palace Hotel. No fim de jantar,
e fazendo parte da. Mesa o Abade de Baçal. Na. primeira o champanhe. E depois deste, palestra na varanda, manue'
fila, duas senhoras aflitas porque o riso pretendia desaUr- lina, em frente dos cedros, formosamente verdes. Assunto?
-se em gargalhadas. Que sucedera? Elas tinham visto que Impressões do hotel e do banquete. Quúl a. do Abade? Vi'
.

ra-se para o Dr. Raul Teixeira, e diz'lhe: Olha, Raul, es-


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creve ao Padre António que vá pondo em venda, aquele ú corroborar, a rectificar ou negar com razões eruditas de
lameiro que tenho na estrada de Rabal. causar assombro.
A sua. sinceridade. Subsecretário das Finanças, o ilus' Ainda ultimamente lhe disse: - Não sei porque, se'
tre trasmontano Doutor Águedo de Oliveira. Em BraganfOy nhor Abade, se cha,ma, entre nós, burro aos estúpidos, quan'
foi recebido este membro do Governo com certa solenidade <io nd Astd Menor o burro simboliza a inteligência, e na
no Museu. Grande roda. de amigos, chefiados pelo Abade Bretanha se apresenta como a. viva expressão do bom senso.
que, ao champagne, leria uma saudação, adrede feita pelo -E vós tendes ra^ío, acudiu logo o Abade.
Dr. Raul Teixeira. Começou de lê-la, o Abade. Porque a lu^ Após um autêntico luxo de erudifão, sobretudo de or-
em insuficiente, o Abade voltou-se para o Dr. Raul, e ais- dem histórica, ilustrou a tese 'com factos, 'ocorridos com a
se'lhe: - Como foste tu que a fizeste, acaba, tu de a ler sua jumenta. Prendeu-a na. loja.. Com os dentes roeu a
que eu não posso. corda, e com os beiços tirou o caravelho à porta. O rapaz
Fez isto com tão elegante sinceridade, que todos acha' que a levou ao lameiro, escondeu na parede a merenda e
ram muito bem.
£obriu'a com uma lage, para mais livremente »r armdr es-
Mais ainda. O Abade estava no Porto. Com o seu gran' f anelas aos pássaros. Quando o rapA Z foi buscar a merenda,,
de amigo, Dr. Raul Teixeira, foi de passeio a Leça. As bo' viu que a. aumenta., com ois beiços, removera, a, la. ge e comera.
tas de borracha, . altas até à coxa, . dos pescadores que iam ú nterenda,.
para o mar, puseram-no em delírio. Botas iguais servir4he' A conversa do Aba-de revelava, a um tempo, clareia,
'mm para. os lamaçais de Baçal, para. os charcos de Vale de intelectual, espínto vivaz, frescura de memória, verve espon'
Lamas, saltaria com elas as enxurradas e poderia até vadear tanea e humor mutto saudável.
os ribeiros. À Rua, da, Alfândega, foi comprar umas. Ajusta' À Umpidez do seu carácter, á sua. bondade impenitente,
do o preço, perguntou: - Quanto tempo duram? - Olhe, üo seu aprumo moral e físico, ao seu trato Ihano, à franqueia.
senhor Abade, respondeu o negociante, quanto menos as tim' e lealdade dos seus actos, à devoção pêlos amigos, à sua pru-
par e lavar, mais duram. E o Abade: - Se o senhor me co' dência e juí^o imparcial, se podem e devem pedir responsa-
nhecesse, escusava de me fazer essa recomendação. bilidades da enorme legião de amigos e admiradores, espa'
Ao Abade não faltava a soberania de conversador, Pa' ïhados em todos os sectores da opinião pública portuguesa.
lavra singela, ática, profunda, levemente irónica. A palestra. O Abade dominavapela modéstia. A i de Setem,bro de
saía'lhe límpida, escorreita, espontaneamente erudita, ilus' 19^0, foi avisado pela. Chancelaria, das Ordens Portuguesas
irada, aqui e além, com anedotas de sabor gracioso, quase que, por proposta do Ministro da. Instrução, fora agraciado
sempre em espanhol, a que chamava Ihonas, ditas com chis- com a comendo, da Instrução Pública, e deveria, por isso, en-
te, e sublinhadas pela vivacidade dos seus olhos castanhos. viar 410 escudos. Que fe^ o. Abade? Nada. Nem respondeu.
Se alguém introduzia uma afirmação, logo vinha ele Quando da festa da sua glorificaçao, a ç de Abril de
1935' a bolsa, do distrito abriu-separa. ciistear'lhe um monu'
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mento, trabalho magnífrco do escultor Sousa Caldas, znau. estudos que ficarão, através idos tenipos, a celebrar o seu no"
gurado diante dos maiores valores intelectuais do Pa.ís. Que me». itComo bom trasmontano, vivendo em áspera, paisagem
fez o Abade? Assistiu à suaapoteose? Não.Ewonde^se, e peáregosa, às lages ia buscar fonte de ensirKimento onde os
esc reveu uma carta ao Dr. Raul Tetxeira, »Raúl amigo.. Sá. olhos dos viandantes não encontravam motivo de detença ou
besquanto te esümo, e seiquanto te devo. Masperdoa. me, observação».
nãotenhocomgem deasststír à festancadobusto-^ndapen^ .
Dias 'antes de morrer, perguntou'wie: - ]á vistes o IIo
sei que podia, masimpossível, nãoposso, nãopegono/wer. volume?
vos, caio fulminado se lá vou.
- Já. É o mais precioso de todos, O capítulo das supers'
^Ter^nada a parte referente ao busto, estoupronto a tições 'e crendices vale p livro, Senhor Abade.
^apareço no museu sem.falta, c -aguento atéfzrwh. Olhos felizes me deitou o santo varão, e acrescentou: -
Nãomu o bustonaquele dza.Os'seusolhosnunca. pou. £ isso mesmo. Eu também penso assim.
5^m no monumento, apesar de ter -u^do mazs 12 Unos. Era profundamente bairrista, no sentido português e no
^ Fm como prometem à sessão solene onde grandes va. sentido trasmontano. Insistentemente .o convidei a ir d Roma.
danossaterrapuseram em wrdênciaas suas was, lm. ande teria excesso de material para as suas pesquisas. Rés'
e extmordznárias quaUdades. Dezxou. se condecorar com posta: - Isso não me interessa. Eu só quero saber de Portu-
o ^mnáe ofi^lato da Ordem de Santíago; ^ depozs, ~no gol servindo Bragança, eu só quero saber de Bragança, ser^
;m aa apoteose, não profenu uma palwra. O seu sAênczo vindo Portugal.
MMS que a prata da sua palavra-foi de ouro. Os traços dominantes da sua grande personídidade, po-
Fm
l
b^rzstano sentido nobre dapalavra. Ser'b^rr^a dem ser abraçados e resumidos por estes dois - sctbedoria e
parie ' nosentido me^inho, , em t^canhez de espínto por virtude.
en^er mávontade contra outros .distrztos. PortugdÏ Viui o bem.o saudcfslssimo amigo de Portugal, . o brasilei-
sempre , s^uo grande amor. Depozs da pátrw gmnd^, ríssimo dutor da- «Márid Bonita» 'e «Frwcta ao Mato», Doutor
u pá.
chica. Çue
tm

la sua.
outro. fee«em pela sua terra, 0'que'eÍefa^a AfrânioPeixoto que muito o tratou durante a. sua estadia em
Bragança. Dele disse, no seu livro «Viagens na minha terra»:
O emmente_sábzo, Professor Egas Moniz, em decurso «É um sábio e um santo. O homem parece um castanheiro
memorável de hádms, profenu estúspaüvras.de ouro: aFm secular, .de um desses soutos de Trâs-os'Montes. Um pedaço
znvestigadoj de arqueólogae hzstónade altaenvergadura, de homem, alto, corpulento que tem 8o ano>s e, se o deixarem,
^ quem o País, e em especial n suaprovínaa de Trâs^Mon- irá aos 160. Rude e primitivo, como um. a lasca de pedra de
tes, devem altos serviços. Homem simples e modesto. Ex^ dolmen . ou anta, plantada em terra . ermd. Ingénuo e bom,
traordináno trabalhador, Arqueólogo, etnologo e hzstonador como uma velhinha devota porque lhe .deram um caldo de
esmzuçava, como poucos, os assuntos qw estudava. Os seus H carne à sexta'feiw>'>. «Por tudo, esse homem é íidmirável, e
volumes sãoumreposztórzo demuztose bem documentados mais, é único. Ndo creio que haja outro assim, simples e sábio
22 23
como um filósofo grego. Pobree despre^dor de bens e hon' - Aquela ladram A lebre. Aquela sugeita que me dá cd'
rãs, como um cremtta cnstào, .ou arcaico mínimo franciscano». bo da horta.
Mas eu creio que, no corpo do montanhez, nado e cria' E depois reflecte: - Paraque matá-la., se elatem direito
do na agrestia de uma aldeia e no desabrigo dasua casa, con' à vida?
tando no lombo quase 83 anos, havia,uma alma,línca de 20 Sem tirar nem pôr, surgiu a meus olhas o trapista. ^Du
unos, haviauma alma deliciosamente franciscana, ou melhor, Champ de 'la bataiüe à la trape» que viu ressuscitados em si.
havia, um misto de trapista e fra.ncisca.no. os 'brios bélicos de antigo coronel, diante de uma lebre que
Sem nunca ter entrado numa trapa, vivia aquelas míx^ lhe devorara uma couve'flor.
mas que São Bernardo mandou escrever no refeitório de Digam^me, agora, se o Abade de Baçal não tmha alma
Chiaravale: «Noussommes ici pour gagnerlêcidsiibeauque de trapista!,...
possible. Lêplaisir de mourir sans peine, vaut bien la peme Melhor. Tinha, alma, de franciscano. A casa.do Abade'... .
devívre sansplaisir». E o Abade ganhouo céuporqueviveu Uma. casa de linhas romanas, qt iadrada, com janelas irregula'
e morreu como um justo. Morreu sem pena porque se deu réspara.a rua,portaswteriores para.a.varandaemtodo o quü'
à pena de passar uma vida longa, dividida entre o trabalho drúdo, e d varandapara o pátio onde muito à vontade estão
manual e o estudo dos manuscritos e das pedras. os porcos, mail'a. bezerra branca, a burra e as galinhas. Mas
Estudo, trabalho e oração são a trilogia do twpista.. De tudo irregular, tudo desarticulado, tiido a pôr o Credo na
manhae à Urde, oração.Durante o diaestudoe trabalhoque, boca. À frente .da casa, a coluna vegetal de um cipreste, a
com olhos em Deus, sãomodos de re^ar. sDepois do almoço, flor rara da murta., o Arbusto do acanto a lembrar-lhe os ca'
escreveu algures o Abade, e antes do luscofusco, passo duas piteis da velha. Grécia., tudo sombYCúdo por negrilhos altos

hmas na .cortinha, saahando, mondando, sementando, regan' e seculares, moradia de melros e rouxinóis. A um canto do
do, hortando, levantando pedras, tapando boqueiros, limpan' pátio, uma nesperetra na.babescamente adubada, ea. espirra'
do árvores,podando videiras, rachando madeiraparaa Ïarei- deira cor de rosa, certa de que, nem na índia, sua terra de
m, prepawnde aprestos agrícolas, antes de entrar na labuta origem, nem nos jardins de gente rica, tinham as suas raízes
liteMrio-píiroq uial». mais opíparo banquete. A sombra dela um grilo afina, de
Era ele que semeava, e comprasse em ver crescer as quando em quando, o instrumento para. saudar o pôr do sol.
alfaces, as couves e os repolhos. Na horta, tudo erafilho do Atrás da. casa, um rústico jardim, debruado de ale.crim
seu amor, sobretudo um repolho que era o mais dobrado e e alfazema, mesa posta às abelhas mfatigâveis. Mais atrás,
mais viçoso. Aquele repolho era o seu orgulho de hortelão. uma cortinha 'onde o verde alface das videiras é relevado pelo
Um dia, ao vê-lo roído, todo ele, o Abade, era uma fúria. verde duplo das oliveiras que ele plantarei. A um canto da,
-Se a apanho, mato'a. cortinha., um pompal; e junto deste, utna mesatosquíssima -
-Mata o quê, Senhor Abade? a suasecretána. - e junto damesa, um grande seixo que trou/
xera às bostas de Lamelas, termo de Rabal a mais de três qui'
24
25
lómetros .de distância, muito
desconfi ado de que o seixo era
Autor do Cântico do sol, a.ma as pombas e Zela pela sua. ah'
um rico exemplar arqueológico.
mentaça.0. E tudo isto, encastoado no largo fundo de vvdei'
- Que lutaparao trazer atéBaçal! Se eraa descer, bem rãs, oliveiras e negrilhos, fü^lembrar S. Francisco junto dos
estava, dizta o Abade. Eu o empurrava, e, aos poucos, lávi. Cárceres de Monte Subásio,festejado pela colorida e canora
nha. Se era a subir, punhad o às costas, e eram metros
de cada ve^.
uns
corte dos pássaros, ou, se quiserem melhor, nas alturas do
Monte Alverne no qual os pássaros o recebiam com aleluias
-E porque o não trouxe num carro de bois, per. de festa, ou aindamelhor, no vale alegre da.Umbriasempre
guntei.
verde, a cantar, como em toda a. parte, a irma. liui, o irmão
-^Vósnão conheceis esta gente. Doseixoninguém faz só;, ús irmãs estrelas, a irma, água e até a irmã morte.
caso.Se»trouxesse no carro, o povo dvoroçav^se^ulgando Desafio quem tenha pena mais 'ordináriado que o Aba'
que valw uma fortuna. Trouxer às escon^das e de'noite. de, e, no entanto, esta pena modelou monumentos de saber.
0 Abade ainda se admirava do esforço empregado. Este
.

Desafio quem tenha tido mais reles mesa. de trabalho, convi-


sezxo, concavo naparte superior, em a cadeiraonde o Abade do a secretariamais rica a gabasse de ter suportado mais pá-
seassentavade invernoparaescreveraosol,e deverãopara ginas de sabedoria. Páginasde papel ordinário, de vários ta-
escrever à sombra. Não trocana o seixo pela mais nca e flr- mdnhos, de várias cores porque o Abade, escrevendo sem rãs-
tístzca cadezrado mundo. Ao lado, e ü trepar pelo pombal, cunho, de qualquer papel se valia.- Nos últimos anos, o papel
uma roswa, e, em frente, a fazer. lhe companhza, debato da era mais homogéneoporque encontrara utilidade no emprego
terra, o saudosorafezro,o Lafrau;emczma, estirado,narelva das listas eleitorais que, pelo Governo Civil, lhe eram fome'
selvagem e macia, .o Prmze seu companheiro detodas asho. cidas aos milhares, aos pacotes completos.
rãs, ea gata, a Muxeninha enstnando a dar saltos à Chibeca. Na pujançavital .dd sua. cortinha, amanhadapelo seu la-
sua filha.
bor de trapista, uma velha e doentíssinia oliveira definhava
O^rafeiroeosgatosobedecem.lhe.Quepulem, e elespu. junto à parede. Folhas escuras, azeitonas poucas e mirradas,
Iam.
eles
Quese deitem, e elesdeitam.se.Quesewoembom, "e galhos secos, tinha, dentro áe si e fora de si, os sintomas da
vão^e, deztando para trás olhos de obedzêncm'destr a. morte. O Abade tornas se de compeiixã'0. A oliveira era, filha
dável.
de Deus. Raspa'lhe o tronco, amputa'lhe os galhos, liberta-a
Imaginemos o Abade de Baçal s.entadv no sezxo, encos. dos mamõis, mata-lhe a sede de verão, míita4he a fome dia a
aopombal, com a guarda de uma rosaraflonda, tendo dia, ferttít'^-4 ele próprio. E a oliveira, sabe corresponder ao
^ frente o róo^o. gatos, e no alto o voo ,e revoo'das"pom. diário carinho do Abade, toma melhor cor, o tronco animas se,
basquendas. Nadama,s bucóUcodoque este cenário'nada as azeitonas são gordas e grandes .e a folhagem tem a. saúda'
mais^franczscano do que o Abade. Como o Trovador de ~As. vel cor idaprata fosca. Diante das -outras oliveiras, já é uma
szs,dáementaàsirmãsabelhas.Comoo Pobre^nhode~Deus senhora 'de respeito; e o Abade, apresentando^ aos amigos,
com o lobo de Gubbio, traz à obedtênüao mfeiro. Como"o chama-lhe a oliveira do milagre.
26 27
De Baçal para Rabal, a frequência à escola primária; todos os séculos? No beirai da varanda, estavam quatro m-
deBaçala Braganfa,asidas e vindas aoliceu e semináno; de nhos à espera, de quatro indefectíveis casais de andorinhas, e,
Rafaiparatodo o .distrito o Abadenão conheceu outro frdns- ao longo do corrimao, o banquete .de festa - o pão esmiu'
porte que o bara.tíssimo e higiénico cavalo de São Francisco çadopelo Senhor Abade. Àsuachegada, era'lhe delícia, obser^
- a pé. var4hesa descidaem voos de linha,quebradaque Vítor Hugo
Desdemoçoassistiuaonascer dosolpor detrásdaespi. observou e descreveu, até ckegar ao pátio, pipilando em re-
nha da Lombada, e üo pôr do soÍ por detrás ,da silhueU ^o- dor da varanda, fazendo ao Abade círculos de afecto, muito
lacra s serras. E se ele, à guisa de S. Franczsco, rwo ^guw
certas que daquela casa eram elas senhoras e dominadoras.
aoalto os braços, e dagarganta de ouro, nãosaía, emjarros A corwivência com .as andorinhas era. diária. Não saíam
de harmoma, o Lodato sia mio Signorcon tutte lê tue'crea- sem dar os bons'dias ao Abade, a esvoaçar dentro da varan-
ture, sentia dentro de si mesmo a música silenciosa, doce e da, nem se .a.moitavam nos ninhos sem dar ao Abade as boas'
swve^ .dasalmas que amam a luz ,e a vida porque a vida e a 'noites 'da sua amiZAde.
luz são filhas primogénitas de Deus. ]â muito doente o Abade. No alto, no céu azul, milhares
DeRaçal^a Bragança, o atalho do MoinhodosPadres, à de andorinhas,prontas -para.a longa viagem. Só as do Abíide
bem dorio Sabor.Vznhaporláo Abade,mwtocedo,e vd. não têm pressa. Esvoaçam, pousam, pipilam. Tornam a es'
tavaporU muzto tarde. Aquelas horas,nos salguews e ne. vwiçar, a pousar, a pipilar. São tentativas de despedida. De'
grilhos, osrouxinóistêma gargantamaisafznada,a voztem pois, como quem se arroja a um acto heróico, abrem corado'
mais arpejos e nrnts requmte nas .escalas. O Abade, ouvindo somente as asas, e, num voo de linha quebrada, vão juntar'
os
rouxznó^ não trava, um despi que de harmonzas 'se, lá em cima, às companheiras, seguindo com elas, a, fita
como São
Francisco^ margens aono Amo.Fzca d. epésobreaponte, azul do rio Sabor e do rio Douro, para a longa travessia do
^ recordar o bucoUsmo .de Bernand^m Rtbezro, e opmacomo mar.

S.Fnnctsco. que a voz dorouxmol vence a voz do trovador. As íindorinhas voltarão na próximaprimavera.. Acharão
O mesmo franciscanmm se nos depam na casa. Tudo os ninhos no beirai ,da.varanda,,poderãopousar nas lages pré'
tosco, tudo rústzco,tudo pobre. Nas estantes desartKuladas'e tas ,do telhado, talvez tenham mesafarta, masnãoterão o Se-
sobre tábuas baüadeiras moram Uvros. papéis, objectos"'de nhor Abade...
uso. A desordem das cousas é substüuída pela ordem das Como o seu coração de criança vibrava, diante de um fio
ideias. Pelas paredes, a par de um relógzo de sol. nomes dos de luz, de umaréstea de sol, do palpitar das folhas, do ^um-
votantes, desenhadosa pzncel.É o relicáriodosamtgos. bido das abelhas'.... É que as abelhas voejavam em torno
Como o santo Trovador daUmbria, o Abadetmhapelas dele, pousayam'lhe na cabeça, passeavam pelo casaco e pela
andormhas um amor .enfütado pela lenda. Não arwn^am mão, nunca o picando, nunca o mordendo, talvez cientes de
elas demansinho, os espinhos da coroade Cristo, e,pelo ter no Abdáe umfl abelha humana, a. suga.r, pacientemente,
horwr datmgédzadoCalvário, nãosevestíramdelutopor dolorosamente, herbicamente nos manuscritos e nas pedras,
28 29
o fácil, cómodoe utílíssimo mel da. ciência,para os. .. outros. tziu, tziu, 'como agradecimento dos meus disvelos». (.iQuando
Não lhes dava, no inverno, Como o seu homónimo de na.o tem fome, iipíinha. o cibaco e vai debicá'lo para cima de
Assis, favos de mel nos eremitériúsde Ravociccino, em Siena, uma pedra., ali perto, deixando-o cair muitas vezes e muitas
de Celas, em Cortona, de Monte Casal, na terra de Petrarca, veï. es reapanhfindo'0'i).
Mas dava'lhes, na. ourela do jardim e ao longo da cortinha., Pensou o Abade que em breve morreria, e neste volume
os arbustos que no inverno mal perdem a flor, e o próprio despediu-se do pisco, e destamaneira: «.Pisquinho, meu pis'
mel, por elas depositado, nos alvéolos do seu cortiço. quinho, pisquinho meu amor, a nossa, convivência está por
Se o Poeta do Cânticodo Sol palestrava com a irma ci- umfio. Brevemente nwrcharáspara o teu 'haibítat- estivai, e eu
garra e com o i-rnwo falcão que, no Monte Alverne, o açor. para. o regelo dos 8o janeiros. Se, na volta, me ndo encontra.'
dava para Matinas, e, com a .cigarra, e a irmã ovelha, entoa. rés aqui na. cortinha, procura'tne, tdém no cemitério do adro
va os louvores do Senhor, .o Abade de Baçúl palestrava com da igreja} leva, à negra. algidez do meu sepulcro, o brilho do
o seu pi sco, um passarinho metade de um pardal, de cor cm- teu olhar, o ^c<dor da tua. 'amizade gwta; devora asJarvas ne'
Zenta, vermelho no peito. Uma migalha de pão era para o fastas das rosas e malvüs que o envoïvem, 'que eu pedirei ao
pwco um lauto jantar. Ave emigratória,chegaem Novembro Altíssimo a graça, de inspirar, em alma bondosa, a caridade
e parte no fim deFevereiro. O Abade esperav^o impaciente. de te -esmolar umas migalhas de pão, e de te enterrar, se aqui
No peitoril da janela do quarto, aguardava-o com migalhas te finiires, no meu .coval».
depão, e, com outras migalhas, esperava-o numapedra junto Digam-wie, senhores, se isto não é genuíno lirismo frdn'
ao escritório do pombal. ctscano!
A sua chegada era um acontecimento no pvesbiténo. O Dias antes de morrer, perguntou: - Já chegou o pisco?
seu pw inste era. uma, alvorada de alegria. Ainda não chegou, padrinho.
-

Padrinho, chegou o pi sco, informava, o Barnabé. - Olha que eu ouço o grito do pisco, Barna.béí
- O pisco chegou, padrinho, noticiava, jubilosa, a Luzia. E, no entanto, não podia ouvir ó pássaro porque estava
O Abade ia à sua procura. O pisco, muito surdo.
vendo-o, voava para
cima. da pedra, fitava o firmamento, eriçava as penas como O pisco voltou após um mês da siui morte. Por lá an-
os cais alçam o rabo. da, à volta da casa, inquieto e saudoso. Se no peitoril da jd'
O Abade falava-lhe: - Gomo passaste a noite? Tiveste nela, espreita o quarto vasio do Abade. Se junto do pombal,
muito frio? Tens fome? salta, e pia de um lado pdra outro. O Barnabé e a Luzia chá'
E o pisco, uenvolvendo'nïs, escreveu o Abade no IIovo' mam por ele, dao'lhe tudo. O pisco tudo engeita, porque o
lume, com o seu olharpenetrante, aveludúdo, fulgente, como seu tudo era o Senhor Abade. Talvez se não enterre na seu
esmaltado emfinapérola, naümpidezaquática,agitaasasas, coval. Talvez. Mas ficará, modelado em 'bronze, nd sua. se'
à semelhança do cSo quando faz festas'com o rabo, esboça pultura, memória ferpvtua. de um gentil amor.
aquele gesto tão seu de se lançar ao espaço, e solta o grito A sua mortel Vaticinou^a de longe, ao ca.ir das folhas,
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31
no outono. Vaticínio, infelizmente, certo. Que sofrimentos, e yndo com naturalidade de artista, pondo em cada palavra
que coragem, em suporta'losl
um traço de ternura, põe'se a recitar versos de João de Lemos.
Eis como soube morrer.
Num pobríssimo leito de ferro, arqueado pelo tempo e-
pelo peso, entre vobertores caseiros, está o nosso Abade. No «É noite; o astro saudoso
quarto, abaixo .de modestíssimo, dois retratos: o dele, ainda. Rompe a custo o plumbeo céu:
na.força, vital, e o damãe, o seu grande amor. Atrás do leito, Tolda'lhe o rosto formoso
a Bênção Apostóhca do Santo Padre. No ambiente, a lu^. Alvacento, húmido véu
frouxa de uma lanterna de petróleo mal descobre os vultos
dos parentes e amigos. Foi na tem dos verdores,
A cabeçaonde coube tanta.ciência,tem a serenamages- Na p&tria. dos meus amores
tade de sempre. Os olhos de Pátria do meu coração.
uma lu^ viva e suave fixam um

ponto vago. Semruído, tínhíimos entradoeu, o Dr. Raul Tet-


xeira (o seu filho, como lhe chamou na doença) e o infatí^ .
Portugal
gável Dr. Francisco Moz, o Chico, o seu querido Chico.
Ao sentir.nos, os seus olhos grandes deitam brilho e do' £ o Abade, como quem saboreiaum rebuçado delicioso,
cura. E, numavo^. clara, carinhosae bemtimbrada, exclama: repete: Portugal! Portugal! E depois continua.:
- Vós sois a minha luz, a mmha alegria, a mmha providên.
cuí. Fui, e sou, uma grande, cavalgadwa que vós fizestes um

santo e um sábio. «Lá onde nasce o tom-ilho


E explica em provérbio espanhol: Por más que la mona Onde há fontes de cristal,
se vista de seda, si mona és, mona si queda. Láonde viceja.a rosa,
Aqui a humildade do sábio. Onde a leve mariposa
A cada um de nós, uma palavra de úfecto. - Adeus, Se 'espaneja á luz do sol;
Raul, meu filho - Chico, não sei como púgar. vos.- Fizestes Lá onde Deus concedera
do meu corpo um crivo. Que em noites de primavera
Aqui o amigo do seu amigo. Se escutílsse o rouxinol.
Silêncio. Muito surdo o Abade. Eu de pé, o Dr. Raul
Teixeira sentado, e o Dr. Francisco Moz, em redor do leito, .
mas Deus igual
em seruiço clínico.
Não quis dúr4he a lindeza
Os olhos doarqueólogo insigne passeiam por todos. De' Do teu e meu Portugal.
pov, numa voz que nunca lhe conheci, batendo as sílabas, at-
32 33
'O Abctde, como que reflecte, pâm e recita: Tií me mueves, Seíior; mueveme el verte
cla.vado en una cruz y escarnecido;
«Em minha Pátria, uma aldeia, Mueveme ver tu cuerpo tan herido;
Por noites de lua cheia Mueveme tus afrontas y tu muerte.

Amo as casinhas da serra, Mueveme al fin, tu amor, y en tal manera,


És a lua da minha terra Que aunque no hubiera cielo yo te amara,
Nas terras do meu Pdu». y aunque no hubiera infierno te temiera.

Aqui o patriota, o ena.moríido da terra fecunda e verde.


No mo tienes que dar porque te quiera;
É o hino à natureza,, à sua roseira, à sua murta e ao rosma- Pues aunque lo que espero no esperara,
Lo mismo que te quiero te quisiera».
ninho. É a alnia, franciscanct que tem saudades do pisco, e se
comprar em conteniplar a <íàgua casta, e inocente», o «.fogo
Depois desta declaração de amor desinteressado a Cristo
robusto e forte», o esvoaçar das dndorinhas e pombas. É o
cravado numa Cru^, o Abade fatigou'se.fala. ainda de novo.
serrano convicto a despedisse da sua aldeia, é o patriota raia'
no ique sonha, e canta. e vibra como um cUnm com as letras A voz sa.i'lhe mais entemeci-da.. Em versículos latinos, pede,
e sílabas -de Portugal.
paraa sua.alma, a.DivinaMisericórdia.E recita: Mise.rere mei,
Nos estátuas de assombro e comoção. Naquele velho,
Deus, secundum magnam miserioordiam tuam. Meu Deus,
quase com 83 anos, com voz moça a saudar Portugal, sentia"
tende compaixão de mim pela vossa misericórdia. Delícta ju-
ventutis meae, ,et rgnorantias meas ne memineris. Não recor'
mos a eterna mocidade dd Pátria.
.
O sábio eminente, o padre de batina limpíssima, fala
deis, Senhor, os pecados e asignwâncias daminha, juventude.
novamente. O seu pensamento entrara por terras de Espanha^ Amplius lava me 'ab iniquitate mea: et a peccato meo munda
abrira .as portas da cidade de Ávila, subira ao Ccirnielo, e ou' me. Lavai-me, o mais possível, das minhas iniqwdades, é Um'
ipai-me dos meuspecados.
vira dos lábios de Santa Teresa a. 'mara.vilha. de amor, despida
de interesse e receio, posta em 14 versos milagrosos. E o O Dr. Francisco Moz empurrapara dentro lágrimasque
teimam em vir para. fora.. O Dr. Rdiíl Teixeira encolhe-ss na.
Abade recita com unção comovida:
cadeira, e derrete'se em lágrimas. Os camponeses amigos sen'
tem que algo de muito grande se passa.
«No me mueve, mi Dias, para quererte, E o Abade de Baçal repete, como num eco, Amplius. .
El cielo que me tienes prometido, Amplius... E chegará, Padre Castw?
Nt me nïtieve el infierno tan temido, A minha resposta: - Tem ali, Senhor Abade, a.Bênção
Para dejar por eso de ofenderte. Apostólica do Santo Padre.
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Um olhdr wvíssimo comenta, a minha resposta, fecha os
olhos e cai ensimesmado.
Dois . dias depois, de novo o Abade, cercado dos seus
amigos predilectos, entre os -quais José Montanha, seu ami'
go em todasas coiisas, em todas as horas, boas e más. O Aba-
de esteve à espera deles para morrer. Morrer? Voítdr-se para.
o outro lado desta vida, para, a .outro que não tem fim.
Assim acabou o Abade de Baçal - um padre cheio de
ciusteridcide, um patriota de dltíssirao vidor, um grande sábio
cristão, o maior bragançano de todos os tempos.
Depois a apoteose do enterro. A comoção nacional.
.
O Doutor Correia Pinto, chantre da Sé do Porto, lavrou'
'lhe o epitáfio nesta frase imortal: «Bragança perdeu uma
grande luz ie um 'grande amor».

Prestada esta homenagem à memória do insigne arqueó'


logo e sábioeminente Abade de Baçal, é'me muito agmdavel
deixar aqui uma palavra de agradecimento a. Sua Ex.a o Sub-
Secretário da Assistência, Dr. Joaquim Trigo de Negreiros
pelo carwvhoso e solicito interesse que lhe têm merecido as
Santas Casas de Portugal e particularmente a. Santa Casa de
Bragança.

Bragança, 25 :de Dezembro de 1947.

P. José de Castro

Sua Ex.ua Dr. Joaquim Trigo de Negreiros,


Subsecretário da Assistência
CAiPITULO I

A Santa Casa

O grande preceito da caridade - A formosa lição do Apóstolo


São Paulo - A caridade através dos tempos - Traça-se o perfil
da Rainha D. Leonor - As primeiras misericórdias de Portugal -
Obras em Bragança, precursoras da Santa Casa - Desde quando a
nossa Misericórdia?

Lindo e expressivoeste tíïulo: Santa e Real Casa da.Mt-


sericórdia. Santa porque é filha de Deus. Real porque ampa-
rada por El-Rei, agora substituído pelo Estado. Casa da Mi-
sericórdia porque alimentada pelo coração em proveito dos
necessitados. Uma trilogia que se impõe. Uma ordem, vinda
do Céu, oibedecida pelo que de mtílhor existe em nós-' o
coração.
Nas táibuas da Lei do Monte Sinai, se o quinto, sétimo
e décimo mandamentos nos proíbem de causar dano ao pró-
ximo, o primeiro mandamento é um pregão de amor, solta-
do à humanidade e aos séculos. Amor de benevolência que
conduz ao de benefícência. Querer bem e fazer bem é a or-
dem de Deus, no espaço e no tempo. E esta ordem corrobo-
ra-se, exempliifíca-se e documenta-se no facto históricoda re-
dençaodo mundo e, de um modo particular, pêlospobres aa
razão directa dos nossos recursos e da alheia d.esgraça. Quer
dizer: dar mais os que mais possuem, dar mais aos que mais
precisam.
36 37
Seia ou não seja do nosso agrado, os bens que .possui- correr às obras de misericórdia corporais, ao espírito a
inas. ~n.ao;sâonossos. 'Somos apenas usufructuários ou admi- luz da verdade? Necessário o ensino e o consellho. Carece o
mstradores. Este usuÏruto e esta administração têm de ser espírito de boa vontade? Vem a talho a correcção, a pacien-
regulados peh vontade do seu único proprietáno - Deus cia e o perdão das injúrias. 'Mergulha o espírito em tristeza?
- que, em passo notável do 'Evangelho, nos ordena. - Impoe-se aqui o sagrado dever da consolação. E quando, por
Presta-me contas da tua administração. Portanto, na admi- isto ou por alquilo, se tem a bolsa vasia e nos sentimos amar-
nistraçâodosbensque possuímos, poucosou muitos, valia- rados por impossibilidades, ainda há o recurso da alma que
sósou-desvaliosos, a vontade de,Deus tem de ser, e e, um bate à porta de Deus a pedir auxílio para os desgraçados.
imperativo de consciência, a norma regukdora danossa acti/ Note-se que este preceito de caridade não é, como antes
vidade, de Cristo, somente extensivo aos amigos, aos homens nasci-
Ouça/se a linguagem de Jesus Cristo ao falar do Juízo dos no mesmo país e aos homens livres. Extende-se aosho-
Final': «Possuí o remo dos céus que vos estápreparado desde mens de todo o mundo, aos escravos e aos estrangeiros, e
a formaçãodo mundo, pois tive fom.e e vós me destes de até aos inimigos.Fazerbem semolhar a quem, diz uma sen-
comer; tive sede e vós me destes de beber; fui estrangeiro e tença popular; e esta sentença é uma síntese maravilhosa do
código da moral crista.
peregrino, e vósme destes pousada; andei nu^e vós me ws/
tistes; estive na^prisão e vós me visitastes». E depois: «Em A doutrina de Cristo trouxe ideias novas: a. exaltação
verdade vos digo que o que fizerdes a um dos meus irmãos, da ibondade, a glorifkaçao do perdão e a dignificação da hu-
a mim o fareis». mildade. O Cristianismo, mostrando os tesouros de bondade
Evideiite que JesusCristo encarna em si todos os po- que existem ocuiltos na alma humana, procurou humanizar
a humanidade a>.
fores, e, por todos e cada um, oferece e dá a recompensa.
Evidente tamtóm que, neste passo evangélico, reside o pré- Recorde-se aqui o formosíssimo hino de Paulo de Tarso,
ceito rigoroso de soconer os necessitados. Preceito dbriga. na Epístola aos .Coríntios, â virtude .da caridade: «'Se eu fa-
tono para todos: pobres e ricossebem que são os-pobres lar. as línguas . dos 'homens e dos anjos, mas não' tiver cari-
mais liberais do que os ricos no prazer de dar. É que sabem. dade, sou como o metal que :soaou como o sino que toca.
.
por experiência,quanto dura é a necessidade e a pobreza. ,
Se .eu tiver a fé que transporta montanhas e não tiver cari-
Com absoluta 'verdade se chamam obras de misericórdia da.de,nadasou. Seeudistribuir todos osmeus'bensparasus-
os socorros aos necessitados porque misericórdia é o sentr tento dos pobres, e se entregar o meu corpo para ser quei-
mento que nasce e brota .da parte mais nobre do nosso ser mado, mas não.tiver caridade, nada disto me aproveita». Dá
.
o coração.E porqueasnecessidadessãodo-corpo .e does- a seguir a razão que é. por'igual, uma página admirável só-
pírito. as'inisericÓTdias dividem. se em corporais e espi ntuus. bre a natureza da caridade. «A caridade e paciente, é be-
melhores: falta próximo mida,
Por outras pákvras e ao
co ^i^Fernando Correia - Origens e formação das Santas Ca-
bdbida.vestuário,pousada, liberdade, saúdeou vkla? Háre- sãs da iMiserioórdia - :pág. 153.
38 39
a. A can-dade .nãoé invejos. a.nãoactua precipitadamen- Papa Xisto IV, 'em 1479, lhe fosse permitido fazer o mesmo
te°nâo se .ensobeAece. não é ambiciosa; nãobu^a os .eus ma cidade de Lisboa <3),.podendo lançar a primeira pedra, no
Interesses^ irrita,
não se suspeita mal, não folga sob-e^a
não
ano de 1491, do Hospital de Todos os Santos, iim pouco
ÍniÏudade^mas alegram com a verdade, tudo sofre, mais tarde .(seis anos) do que o hospital das Caldasà custa
crê, tudo espera, tudo suporta». .
das rendas pessoais da Rainha D. Leonor, a primeira miseri-
Com esta lição inculcada pêlos evangelistas e a.p cárdia, criada .por ela.
e praticadae .vividaatravésdos tempos, o mundo'passou a
xiliados
Quem era a Rainha D. Leonor?
^melhor. Bispos párocos, párocos
e bispos, au
e
«Era uma senhora de grande cultura, diz-taos Fernando
diaconisas, depois Pelhs coaëre-' Correia no livro já citado. Filha da ilustrada e piedosa Infan-
primeiro pêlos dláoonos e
e

gaçoes e ordens religiosas dentro e fora aosconven t t10' ta D. Beatriz que fundou com seu marido em Beja, em 1469,
riram e ifmtificaram milagrosamente a caridade.Um mundo um hospital: criada na corte de D. Afonso V, cuja livraria
de cousas boas - hospícios, albergarias, hospitais, asilos, ga' era notóriae onde as tradições de cultura do Rei D. Duarte
ïrias. ~monte-pios. corporações de misteres, .construtores de e ,'Infante D. Pedro se mantiveram sempre; possuindo ela
ammlios,pontese faa.rcos p. araosrios,testamentosemfavor própria 231 livros, pelo menos; coniheceiido evidentemente
destas obras<2) vero tomar a vida maisfácil, amenizar os só/ os esforços 'feitos por D. iAfonso V e D. João 11para pôr co-
frimentos do próximo e fazer mais suportável a dor. bro aos abusos verificados nas instituições hospitalares e os
A lláade Média foi a idade de ouro da assistência em to. obstáculos que a .rotina e os interesses criados opunham à
dosossectoresdadesgraçahumana.Foia épocadoscavalei/ concentração dos pequenos hospitais em hospitais maiores;
ros da caridade. Houve confrarias para todas asobras de mi- convivendo com pessoas que conheciam os grandes hospitais
sencórdia. Esta cuidava dos doentes. aquek libertava os ca- da Itália e França, resultaiites da-fiisao d.e velhas casas hospi-
tivos, aqueroutra enterrava osmortos e muitas dascorpora/ talares; educada nos mais puros princípios do Cristianismo e
coes mantinhain ho.spitais para agasalho dos membros po' tão interessada pela sua divulgação que promoveu a -publi-
bres. Daí uma vida difícil pe,k dispersão de esforços e recur^ caçaoda Vita Christi; piedosíssima e tendo dado sobejas pro-
sós,e depois umavida impossível pela exiguidadeou total vás da sua piedade e amor do próximo, conhecendo as vidas
carência de meios. dos santos e tendo . particular culto por S. Francisco, Santa
Fernando Correia, no seu magnífico livro <(, 0ngem e Isabel da. Ungria e Rainha D. .Isabel de Portugal, então ain-
formaçZo das Misericórdias^ oo.nta-nosque ° lpríncíPe Re' da não- .canonizada» (4), foi a grande rem-cxlela. dora da assis-
genteDomJoão,o futuroDomJoãoM,animadopeloprece- tência ao começar o último quartel ,do século XV, tfortem. ente
dente de Évora que, no século- XiV, agrupara, numa so^casa amparada por Dom João .U e auxiliada,prinripalmente, pelo
hospitalar, vários^e pequenos hospi
tais . e albergarias, pediu ao

i(3) Idem, idem - pág. 498.


1(2) Idem, idem - pág. 179- 1(4) Idem, idem - ipág. 499.
41
40
pado em que !fundou a sua vila das Caldas o mais antigo hos-
CardealDomJorgedaCosta (o CardealAlpedrinha) e Frei pitai termal do mundo cuja primitiva organização é, ainda
Miguel de Contreras (5'. ^^ _^^_ ^ ^^^ hoje, admirada por nacionais e estrangeiros cultos; animando
'"OwrffldeD.Leon.orcontinua. «DignamulherdoPrín- e auxiliando Gil Vicente, apesar das suas irreverências, cer-
pSito;'mâe dedicada e esposa amorosa; Rainhaque tam. ente por as julgar úteis, ao «'castigar os que erravam»
^r^quando a sua opinião em acçãopodia influir a (u:ma das dbras de iMisericórdia) isto numa época em que,
bem"dos-negóciosdo Estado; defendendo ,os.do seu sangue sem o seu apoio, elas podiam custar-lhe a vida; ajudando os
como era seu dever, contra a teia de intrigas ou exag primeiros .passos decisivos da imprensa em Portugal e prote-
interpretações que. apesar da ,sua intervenç^, vltimaram_a^ gendo uma pléiade esplêndida de artistas, pintores, arquitec-
guns: mas tendo con.egu.doque um deles ^^^suces^ tos e escultores; fundando obras pias, destinadas à oração e
So"rri-seu marido^ que" do seu sangue era^também^m^er ao culto divino, como o convento da Madre de Deus, a igreja
Zloro. a~que-vm morrer o filho único, e irma carinhosa a O das Caldas e a da Merceana, e auxiliando, ao que parece, as
o marido, matou o irmão e mandou matar o cunhaao^ merceeiras de Óbidos;'vendeftdo as suas jóias e as suas terras
Rainha que viveu em quatro reinados, durante os quais^so 'para fundar e manter o Hospital das Caldas, onde, desde o
ela era a Rainha; dedicando/se com amor à protecção princípio, houve cem camas e consulta medica, nele se tra-
^imMe^ e~^"tod°s os infelizes, com amorse en.regar.do tando de graça enfermos pobres de qualquer terra do País;
também'à protecção das behs artes, não apenas depois de ï Rainha iD. Leonor deixou, por tudo isto, um nom. e justa'
viúva,mas ainda em vida do mando que ajudou^^por exem/ mente aureolado na História de Portugal» ('6\
^. Zfu^dar o Hospital dasCaldas; s^endo escolher os seus Amiga predilecta 'das Ordens de :S. Francisco e S. Do-
Soradores^entre melhores. dandoAes^ apoio mcon^
os
mingos, fundou o convento da Madre de iDeüs para as cia-
Sï^mo parece terfeito a FreiMiguelContas, o das ristas e o da Anunciada para as dominicanas, tendo ela pró-
Misericórdias, a Mestre António, o Físico que ^táo pria adoptado o 'hábitode .Santa Clara que sempre usou des-
^cAeu^ondehaviamdeserasCaldas. .o CardealdeAipe- de a sua viuvez em 1495 at'é à .sua morte, a 17 de Novem-
^hfc.^consdheiro. a GilVicente,o dosautos,a Valen. bro de 1525 <7).
tim Fernandes seu escudeiro, seu tradutor ^ impressor, a Elm 1498, por mi andado' da Rainha D. Leonor, foi fun'
Cristóvão 4e Figueiredo, pintor, e a outros arü^s.^entre ^s dada a confraria da Misericórdia de Lisboa- a primeira da
Z^skos. ^^s imagÍnános da Batalhae daMadre ^ série definitiva de todas as de Portugal W. E sete meses de-
£us. da^do origem a uma obrade auxíUo aosdesproteg. pois de instalada. Dom Manuel, a 14 'de Março de 1499, es-
dos da sorte, ,a dasMisericórdias, que ainda,agora nos creveu aos juizes, vereadores, procurador, ifídalgos, cavaleiros
^rvi7d7modelo neste .séculoemque tanto secuida (ou an- e hom.ens bons do 'Porto para que''fundassem outra idêntica,
tes,'se7ak)dos direitosdosinfelizes;ergu.endonodesçam- .
(6) lidem, idem - pág. 477, 478.
(7) Idem, idem-'pág. 481.
1(5) Idem, idem - 'pág. 602. '(8) lidem, idem - pág. 498.
42
43
dizendo: .rfolgaruimos muüoque emtodas as ^ades'vüas ahao(Mirandela) no tempo deDomSanchoN (12). jáexi.
7;«g^ pnnc^s de f^s. al con^' a ia

^^t^m°^awl:w:m?l:u^
nossos wnos. se

na'^ forma , e rn^ra que no dzta reg^entose^ Mssr dltj existente I3I6> -^^^^^.
á em

tem» W. Esta fundou-se em 1502, três anos ma.is^


"a deco dois
ra,
tarde que
e
de Coimbra. Dom
mais a ll m^^bm;nos. I458t hÏïal^Íéri^:
m

junto á igreja de ,Sao Vicente W. ^


um

' ~" ~~'&"u>


Manuel e Dona Leonor deram.se devotada.mente a grande
oÍrrd as" Misericórdias, abando albergaria hospi com
tais rBm^I5I4'DomManuel mandou Public"° ^gimento
^Sa s- tíospitais> diploma Ü^-^l- Zn^ï
,

e orfanatrofios decerto convencidos «que tratavam estas^01-


sas"Dor"tantasmãosqueo maisseconsumiaentreasdosPró. GZ^SeïA detodasasinstituiÏ^c^a^:^
vedores e outros ofírio. s que foi o.bra pia e muato necessa- SdT°;^I5I6> -81°" TOnfímao"^-p-^°I<lM i^s
::dld ^b°"apos * ^-^ - =-'
ria» <10'.
À Misenrórdia de Lisboa foi dado regimento a^ 14
^úro de 1504. Reunindo em si as rendas de 43 hospi
encargo de cumPnr
tal^
as^ ^^ ^Sí^S'^^^
capi tal

^Ê^S^^ï
termo, tornou o
e . seu

ç.õ^"expressas nosseuscompromissos, quer a de tratar doen-


^sïquer a dedar .pousada'aosperegrinos. A parAsso. rece-
^^engeÍtados. procurandocriá-los,ensmá-los,onentá.los
, e colocais, a partir dos 7 anos. e mantinha uma merceam
com io ca,mas;. dando .pensões a m,als merceeiros, não aioia/
sslii^ss
^^^^^^^^^^^
dos no hospitaÏ W.
^m^Z^ P^e^nd^,^^<^
À data em que El-Rei IDom Manuel ordenou, em^ S e^emadwLdesemba^dwÏ"-eS:^]^::
as povoaçôeslm portantes, a Íu^o de todas
^r5adena-. gema.l obra dasMisericórdias, existiam em Bra.
". instituiç°e^ =st S=r:S^S:
garrça uma Àergaria,destinada a^ali
^erJgrinos
abrigo dos t^eúntes,
tiriham, Pel0
decrépitos
menost S;S^JÍE=S
SS^'sSS
e velhos que

'^saFlumee cama,uma .casaonde s. etragamnde


osenfermos.
as"partunentes e
mortos.
se enterravamse_edu'u;
^ e ol

^ns;Íramcomo -^"do^^n^
servil ço feito a "-
vam as crianças abandonadas decerto antenor ao ano^
1248,poisneste anojáexistiaa albergariadeLamasdeUre- ^S;omo cumpriameles-pïï^T^ï
1(9) Idern, idem_-pág. 579- ,. u.--^. ;. ^ . ^r - Vol. 2
m^ït^'ïFí^:^1^-
-"^Naodeixava, .pesardisso:Dom-Man;Ï^^^
('^) !lAWe ^7"B^al~^ 'Memórias Históricas, efc. - Vol. 2
^2) Ahlde de Baftd - ^. ,cit.- vol. 2 .
p^gi)Ferndndo Correia. - ob. cit.- pág. 332- <i3) láem, idem, Ídem -'pag"^^. voi' 2' pág. 288.
45
44
Desde quando existe a Misericórdia de Bragança?, tor-
p^vedo.,osofe^se osirmãos.-soo!de^^:^ na'se a perguntar.
^ro^la'sempre cumprirem asdisposiçSes do C^^ A nossa Santa Casa já existia no ano de 1586, porque,
^^^^'. ^T^Z:^^ neste ano, já pôde hospedar as três freiras da Ordem de San-
s0^^^^iuda"e favor»,porser^^^ ^1 ta Clara que, dentro dela, esperaram que se ultimasse 0'con--
^^^^^-Ï;^ Ï, ^^^a
^^^qui'séfez:mas aindadarazo. .judae favorpa.a
vento para o dirigirem t17^. Também 'já existia em 20 de Ju'
lho de 1571 .porque é desta data o despacho .régiode El-Rei
se faça muito melhor». Dom .Sebastião ao .requerimento dos Padfes do Coilégio do
Com^o compromisso de 1516, ficou a díngir/se e gover- Santíssimo Nome de Jesus em que pediam autorização para
nar-s7a"Mi,sericordiad.e Lisboa,«amaisnotávele completa
,
possuir uma quinta em Bragança, chamada Rica-Fé,compoá-
^Zn a'de caridade de que há emória P^ugal^q^
n. em
ta de diversas propriedades, compradas a diferentes indiví'
^pa. teAlguma^ mundo seas^ala na stó^mstitu. duos, sendo uma delas à Misericórdiade 'Bragança(18). Já vi-
çâo^omprïrama maisvasto,perfeito^w)^^ 'via a nossa Santa Casa, a 3 de Dezembro de 1569, porque,
50'a'de'Lisboa?
Pelo Compromisso
Não. ^l^b1 ss

iieste dia, se realizou a cerimónia do lançamento da primeira.


têm'dirigi^^governado todasasmisericórdiasdaNação, pedra do convento d'e Santa Clara, no sítio e campo de trás
e -portanto, a de Bragança. das casas do Espírito Santo i-19). Já existia a Santa Casa no
Desde quando? ano anterior, a 9 de Fevereiro de 1568, quando o bispo Dom
Foi evidentem. ente antes de 1641 . porque, . neste ano, António fPinlheiro, com o juiz de fora e dois vereadores -
[El^ri Dom JoãoIV lhe .concedeu as mesmas iseníõese pn- respectivamente Doutor António Monteiro, Estevão Dourado
^ÏÏÍo. daSantaCasadaMrsericórdiade^m-^ e^ e Cristóvão'Novais - disseram ser velho pensamento da Ca'
^1nTz 6. 9VP-lue à
,
^Sant. Ca.
^ ^^
nossa a se
ma-ra -edificar um mosteiro de freiras na Casa da Misericór-
l^da^~Jtímm^ aoPaç.a Urbano Vffl, o-bispai dia t20). E tami bém 'já existia em 1540, porque um acórdão da
^rl do'Douro.'DomJorge'deMelo^e^m^s^^al^ lCâmara deste ano se refere à Rua do Ho.spital Velho, o que
^^xÏsteï confrariada^ntaCasad^Mis^córd^sob implicitamente acusa a existência de um 'hospital novo, o da
r^ed^FOWodos Reis, e. rectaporDomM^^
.

iMisericórdia (21).
;idoTÏ3'<Íe Dezembro de 15". e sob a totela <k>smor^' iFoi a 6 de Julho de 1518 que E'1-Rei Dom Manuel deu
^"protegida pek> digito de padroaáo; servia po^n^
é
Compromisso à 'nossa Santa Casa, assinado por sua própria
^tmrïÏor^ualinente. que"tratam com muito cuidado mão, e fundou-se na 'igreja dedicada ao Espírito Santo doníl^
doTpobres, 'doentes, viúvas, órfãose encaïcerados e outras
necessidades dos indigentes W. 1(17) Abade de Baçal - ob. cit. vol. 3-pág. 207.
1(18) lidem, idem-vol. 2 - pág. 289, 288.
1(19) lidem, idem-vol. 3-. pág. 221.
"(^Fernando Correu*-^ct^^t^ ^, 557' 57 1(20) Idem, rdem, idem-:pág. 215.
1:1SSfcS^^^s. ^»- . <- (ai) Idem, idem, idem-pág. 291.
46
a rua tomar o seu nome, isto é 20 anos depois da Rainha
ID. Leonor fundar, em 1498, a genial instituição de carida.
de, a Santa Casa da Misericórdia (2Z>.
, Foi dito que, em 1641, Dom João IV concedeu à nossa
Santa Casa as mesmas isençõese privilégios da Santa Casa CAPÍTULO II
de Lisboa. Poisuma das isenções .era a de não poder ser vi-
£al zê4a Dou-
sitada . pêlos visitadores da diocese. Intentou .
o

tor António da Costa, deâo da Séde Miranda, em 1685, vi. A Irmandade da Misericórdia
sitador ordinário. Capitulando que, na igrqa da Santa Casa,
A sua finalidade - Direitos, deveres e sanções - O juramento
não houvesse .Santíssimo . Sacramento que até ali se adminis- de bem servir - Irmãos com limpeza de sangue, irmãos com lim-
trava aos enfermos do hospital, opuseram-se os irmãos e pró- peza de mãos, e irmãos com limpeza de intenções - A bandeira
vedor e levaram recurso à coroa. E .porque o deao Doutor da Irmandade - As opas dos irmãos.
António da Costa obrigara com censuras a consumir o sá-
erárioo primeiro doscapelâesque celebrasse, nãomaisceie/ Júlio de Castilho, extratado pelo Conde de Sabugosa,
braramos capelaes enqua.nto durou o litígio, valendo-se para no seu admirável livro «A Rainha D. Leonor», referindo.-se
a renovação do Santíssimo de religiosos castelhanos. O açor- ao Compromisso da Misericórdia de Lisboa, que é o mesmo
dão 'favorável da coroa, dando razão à mesa da Santa Casa, compromisso de todas as misericórdias de Portugal, escreveu
foi dado a 19 de Tunho de 168?;t23' estas palavras de ouro: «iLê'lo é estudar a aplicação prática
dos mais'santos, dos mais purosditames do Cristianismo. Ali'
imentar famintos e sequiosos, vestir os que nem andrajos, se'
quer, possuem para se cobrirem, levar a esmola de uns ina-
ravedis aos presos e aos doentes, hospedar vagabundos, reái-
mir do cativeiro os pobres soldados, que o serviço áa Pátria
retinha nas mouramas, dar o último leito em chão portu-
guês aos portugueses desamparados, tudo isto já é muito e a
Irmandade cumpria'0. Mas não se limitava a essas <ïbras me'
ramente corporais; sabia que a parte mais nobre e mais alta
do ser humano, a alma também padece '(e bem cruéis) as
suastornes, as suas sedes, as suas dores, os seus desamparas,
as suas nudezas, os seus cativeiros, e como o sabia, a llrman.-
dade consagrou a esses outros deveres espiritiiais os cuidados
1(22) Idem, idem, idem - pág. 288, 28 mais carinihosos. Pelas predicas espalhava o bom conselho e
1(23) Idem, idem, idem-ipág. 291.
48
a doutrina sá, .pelas escolas do seu recolhim.ento de èïía. s, en-
sinava a ignorância; pelas visitas aos hospitais e às cadeias,
condimentava o pão negro do enca. rcera. do; 'pela sua devota
compaixão aos condenados, consolava as tristezas congénitas
do 'ser ihumano; pelas suaves penalidades que o regulamento
ampunha aos contraventores dos deveres estatuídos, castigava
os erros, filhos da. .nossa fraqueza moral; promovia (era letra
.
expressado iCompromisso) pazes e reconciliaçõesentre quais'
quer .pessoas que se soubesse andavam desavindas e induzia-
<-a.s a. .perdoar irajúrias, em nome da caridade crista, sofria
com .paciência os desmandos aïheios; e enfim cum. pridos em
vida os deveres fraternais para com as almas, nem então
aifrouxava; continuava-thosdepois da morte, em sufrágiosde
todo .o género. !Se há nada mais espaïitoso do que este sua'
víssimo ilnstituto ilisbonense!» (1).
Não se pode dizer nem mais nem melhor acerca da fí-
nalidade da Santa Casa da. Misericórdia, e, por consequên-
tia, aquilatar da grande honra de pertencer a esta não sei
(quantas vezes 'benem'érita Irmandade, que tem 'por padroeira
Nossa Senhora da. 'Misericórdia,razão pela qual os 'seus fun-
dadores 'e irmãos resolveram solenizar o dia em que Nossa
Senhora foi visitar a sua prima Santa Isabel(2).
O Compromisso 'de 1516 e depois o de 1618 exigiam
>que os Irmãos, sobre iserem homens de boa consciência e
(fama, tementes a Deus, modestos, caritativos e humildes, ti-
vessem 7 condições: .primeira - que fosse limpo ide sangue,
sem alguma traçade mouro ou de judeu;segunda- que fos'
se livre de toda a itííâmia, de facto .e de direito; terceira
'que fosse de idade 'conveniente, nunca menos de 25 anos
oompletos; quarta-que não servisse a Casa por salário;
i(ii) Conde de Sabugosa. - A Rainha D. Leonor - pág. 260.
A primitiva bandeira da Misericórdia
(z) Compromisso de 1618 - pág. 5.
49
quijita-'que tivesse tenda ou oficina própria; sexta - que
soubesseler e escrever;® sétima-quenãoestivesse em con-
diçoes de necessitar da Misericórdia.
O candidato a irmão da Santa Casa tinha de declarar
na petição os nomes dos pais e avós seus e de sua mulher
e as terras de onde todos eram naturais, o ofício que tinham
e bairro em que pousavam e, no fim, declarar a sua confor-
midade com as condições do Compromisso, que eram as se-
guintes: aceitar os encargos com toda a caridade e ihumilda-
de crista, achar-se na Casa da Misericórdia 5 vezes no ano
- no dia da Visitaçao de Nossa Senhora para a eleição da
mesa, no dia ide Todos os Santos para acompanhar a procis-
são das ossadas dos 'justiçados, no saimento por todos os ir--
mãos delfuntos, e, na quinta-feira de Endoenças, para acom-
panhar a procissão dos penitentes que, naquele dia, se fazia
em memória da Paixão de Jesus Cristo e visitar o Santo Se-
pulcro nas igrejas da cidade.
Aceito o candidato para irmão, era convidado a com-
parecerperante a Mesa parafazer .o seguinte juramento: «Por
estes'. Santos'Evangelbos em que ponho as mãos,juro de ser-
vir a esta irmandade, conforme ao Compromisso dela, e em
particular de acudir a esta Casa da Misericórdia, todas as 've-
zes que ouvir a campairiha, com a insígnia da. Irmandade, ou
.
por chamado do Provedor e Mesa para servir a Deus e a Nos'
sá Senhora, e icumprir as obras de iMisericórdia, na forma
em que por eles me 'for ordenado, não tendo legítima causa
.

que segundo Deus me escuse: e assim mais juro de votar e


dizer aquilo que mais convém ao serviço d'e Deus e bem da
ÍIrmanda. de, em todas as mesas, juntas e eleiçõessem respeito
algum de alfeiçao, ou paixão contrária, deixando aos outros
irmãos votar livremente, sem lhes .persuadir cousa alguma,
ou os .obrigar a dar voto por pessoa que lihe nomear para
50 51
(Provedor, Irmãos da Mesa, eleitores e mais cargos desta qua' casa das donzelas, sugeitas à administração da Casa, sem or-
lidade, e debaixo do mesmo juramento prometo 'guardar o d'em expressa da iMesa, ou tinham amizade escandalosa ou
isegredo devido em todas as cousas que diante de mim se com pessoas da Casa ou com outras de visita à Santa Casa (3>.
itratarem, assim em 'Mesa como em Junta, 'eleição, e qualquer A .Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tinha 600 ir-
outro acto que debaixo de segredo se 'fizer para serviço áe mãos: 300 nobres e 300 oficiais. Mas a de Bragança tinha
(Deus e bem da dita Irmandade». 200 irmãos: 100 nobres e 100 oficiais (4), ou, como se dizia
Feito o juramento, o novo irmão obrigava-se a dar s.o tempo, irmãos de segunda 'condição (5). Para todos eles
iexemplos de uma vivida iEé crista. Confessar'se'ia e comua' se exigia a limpeza de sangue. Aos que a não provassein, a
garia por devoção todos os primeiros Domingos dos meses, e porta da iMiserrcórdiaestava fechada. Esta preocupa.çâo pela
tfaria o mesmo, por obrigação, nos dias dos 4 jubileus: - limpeza de sangue, desaparece, no rol dos irmãos inscritos,
VNossa Senhora da Assunção, Todos os Santos, Natal, Espí- em 1769, no qual a limpeza de sangue é substituída pela
rito Santo e Quinta-feira de Endoenças; procederia com a limpeza de mãos. Aïé .este ano, ao lado de padres, de fidal-
imaior isenção nos negócios da Santa Casa, certo de que não go's, onde se vêem os meÍhores apelidos d'e famílias nobres
era senhor mas a.dminís. trador dos .bens dos pobres e dos de' como Madureiras, Figueiredos, Sarmentos, Doutel de Almei'
funtos legatários; agiria com toda a inteireza e rifkácia de <la. Sarmento Pimentel, Veiga Cabral, Nóbrega, Colmiei-
molde a nunca se notar nem falta de justiça .e diligência nas ros, Feijós, Sepulvedas, Teixeiras, Barradas, Morais, Lousa-
'obras, nem falta de 'brandura no modo; e teria particular cui- .

das. Soares, Centenas, Coutas, Sampaiose Carvalhos, a enfei-


dado em jamais se pejar de fazer, no serviço da Irmandade, tar oficiais ao exército, fídàïgos da Casa Real e cavaleiros
aquilo que, por obrigação do seu cargo, seria obrigado.
.
professas de Ordens Equestres, alistados nos róis de sangue
Além destes .propósitos e acções, havia contra os irmãos limpo, de nobreza ou do número dos cem, vêem-se, na san-
a sanção da despedida quando eram elementos de perturtba- ta e edffícante fraternidade, os irmãos<le segunda condição,
cão, quando viviam escaodalosamente, quando em acto de
.
como teceloes, ferradores, soldados, forneiros, alfaiates, mo-
Irmandade se proferiam palavras afrontosas ou de notável es- leiros, artiliheiros, . sapateiros, guardas a cavalo, meirinhos,
cândalo, quando em legítima causa deso!bedeciam ao Pro- barbeiros, 'torneiros, cometas, médicos, granadeiros, 'carpin-
vedar e à Mesa, e quando eram castigados ou conveçcidos teiros, meirinhos, . cabos de 'esquadra, alcaides da cadeia, sol-
em 'juízo de algum crime infamante. Também eram despedi- dados infantes e tingidores. iNaohavia nestes pó de nobreza;
dos os que faltavam ao .cumprimento do segredo das resolu' mas a certeza da limpeza de sangue.
coes tornadas, os que dentro da Santa Casa faziam partido Desde 1769 a 1822, 53 anos portanto, a limpeza de san-
para proveito próprio, os que usavam de ardis para haver gue foi substituída pela limpeza de mãos. Co'm esta prova
para si bens em hasta .pública, os que não davam boas con-
tas dos gastos, feitos em seu ofício e os que tratavam casa' 1(3) Idem - pág. rv, 2, 5V, 8.
mento, para si ou para outrem, com as pessoas recolhidas na 1(4) lidem - pág. i.
.

(5) Ano 1669 - ,pág. 23.


52 53
enttaram no rol dos irmãos da Misericórdia sargentos, ofi' 1856, o's irmãos estiveram divididos em duas classes: ir-
. ciais do exército e homens de relevo como João de Sá Car- mãos primeiras e irmãos segundos, aparecendo, de onde
neiro Vargas e Dr. António Rodrigues de Ledesma. em onde, irmãos nobres e irmãos com limpeza de mãos. Per-
O curto período da limpeza de mãos, foi substituído pe' cebe-se aqui a luta entre os abencerragens do absolutismo e
la limpeza áe intenções que o mesmo é intenção de 'bem os paladinos do 'constitucionalismo. E, neste período de 34
cumprir as prescrições do .Compromisso da Santa Casa. E anos, à mistura com coronheiros, prateiros, soldados vetera-
desde então até nossos dias, misturados no rol dos irmãos nos, mestres de oficinas, cometas da Guarda Nacional e di-
da Santa Casa da Misericórdia vêem-se nomes plebeus e fi- gnidades do Cabido, clérigos, reitores e abades, oficiais de
dalgos, todas as artes liberais e todas as profissões. A par infantaria, dfkiais de veteranos, oïiciais de ordenanças, ofi-
de oficiais do exército, advogados, médicos, cirurgiões, de ciais de cavalaria, oficiais anistiados, cirurgiões, médicos, ad-
cavaleiros proÍessos da 'Ordem de Cristo e de juizes e pró' vogados, juizes e fidalgos da Casa Real, como o governador
prietários, vêem-se mestres enxamfaladores, mestres carpin' áa 'cidade, em 1811, Francisco de Figueiredo Sarmento, e,
teiros, mestres sapateiros, mestres teceloes, fabricantes de se' em 1839, Bernardo de Figueiredo Sarmento e João Baptista
da, soldados infantes, furrieis de infantaria, juizes de órfãos, da Fonseca Sepúlveda, Joáé Bernardo Jorge de Figueiredo
anspeçadas, granadeiros e meirinhos. E, a dominar toda es- Sarmento e Morais, cavaleiro da Ordem de Cristo e antigo
ta fraternidade cristianíssima em prol dos necessitados de capitao-mor das ordenanças, e, em 1854, foi admitido ir-
misericórdia, vêm-se nomes de prestígio: os Figueiredos, os mão da Santa Sasa António Fortunato. Pinto Meireles, cava-
Sarmentos, os Veiga CaJbral e Gomes de Sepúlveda. Manuel leiro da Ordem Militar de S. Bento de Aviz .e tenente coro-
Jorge Gomes de Sepúlvedaque, desde 1788 a 1805, foi pró' nel graduado 'de inffantaria.
vedar da Santa Casa, sendo desde 1798 Tenente General Depois de 1856 até nossos dias, onde apenas se exige
dos Exiércitos e Governador das Armas da Província, teve o limpeza de intenções, há nomes que surgem a provocar ad-
prazer de alistar no rol' dos irmãos da Santa Casa pessoas miraçao e saudade, como João António Pires Vilar, o Conse-
da sua família: António Correia de Castro Sepúlveda, fi' Iheiro Afoílio Beca, o Padre Francisco Manuel Vaz, o Major
dalgo da Casa Real e capitão de cavalaria com exercício de Luís Ferreira Real, o Padre António Augusto Teixeira, o
ajudante de ordens do 'governo das Armas desta Província, Cónego António dos Santos Ribeiro, o Dr. José de Oli-
e Bernardo Correia de Castro . Sepúlveda, fambém fidalgo veira, o Dr. António Manuel Santiago, e oirtros e outros
da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo e alferes de in' amigos da Santa Casa que o mesmo é amigos dos pobres.
fantaria, ambos aceites no mesmo dia - 3 de 'Fevereiro de Até 2 de Julho de 1856, dia em que, no 'Paço de Ma-
1805 - ao lado de outros nobres bragançanos, Francisco de fra, J. G. da Silva Sanches aprovou o novo Compromisso
Figueiredo Sarmento, e Bernardo Baptista da Fonseca e Sou' da Santa Casa 'que levava a data de 29 de Março, assi'
sá de Sá Morais, Pereira do Lago, ambos fidalgos da Casa nado pelo Provedor Manuel Nunes de Matos e pêlos vo-
Real. Porque, desde 1822 até ao novo Compromisso de gais Firmino António Trancoso e cónego João Evange'
54 55
lista Vergueiro w a. 'Misericórdia regulou-se pelo Compro' íbe falteni ps meios ou pagar menos consoante os seus re-
missa de 1618, porque assim o ordenara o Rei Dom Manuel. cursos; examinar os livros da Santa Casa, promover com
O Compromisso de 1856, além do culto a Nossa Senho- mais 6 irmãos Mesa 'Geral extraordinária;ser gratuitamente
ra, ordenava o culto ao 'Senhor dos Passos. A prática e re- levado aocemitério na tumba rica, sendo esta regalia ex-
guiar exercício das obras de Misericórdia, a conservação e tensiva à mãe, mulher ou viúva e filhas, não excedendo a
aumento do hospital onde se traUssem os enfermos pobres idade d.e 20 anos, e gozar de todos os sufrágios pêlos irmãos
e desvalidos, consoante suas .pessoas e rendimentos, os só' vivos e defuntos.

corras aos mendigos doentes e a esmola aos presos nos dias Como os compromissos anteriores, este de 1856, pré-
designados aos irmãos que, para o serem, se lhes exigia, ao vê a exclusão de irmãos: perante um delito grave contra
menos a idade de 25 anos, boa saúde, boa conduta moral e o Compromisso, regimento interno e deliberações da Mesa,
civil, atestada a saúde pelo médico, a iboa reputação pelo a difamaçao da Irmandade por escrito ou palavras, acusa-
pároco ou administrador do concelho, e o juramento se- cão não provada de qualquer irmão, obstinaçâo na falta
guinte, 'feito diante da Mesa, após a sua admissão: «Por es' não olbstante sucessivas admoestações, declaração pública de
tes Santos Evangelhos, em que ponho minhas mãos, juro desobediênciaà Mesa, recusa em servir cargos para que lê-
servir a Irmandade, na forma do seu Compromisso: juro galmente fora nomeado, recusa de prestar contas dos car-
votar nas eleições e mesas a que assistir, sem ódio, suborno gos servidos, subornar outros ou deixar'se subornar nas elei-
ou afeição, mas somente como a mtnha. consciência me di' coes, perturbar os usos da Irmandade, a.leiloar, para si ou
Ur, para o aumento da Santa Casa. e Glória de Deus: juro por interposta pessoas, 'bens ou rendas da Santa Casa, e
guardar sigilo em tudo o que debaixo de sigilo me for in- pronúncia em crime infamante <7).
cumbido, mandado ou tratado, menos no que for relativo Ë no compromisso de 2 de Julho de 1856 que, pela
a ordens e disposições da Autoridade». primeira vez, aparece a distinção de irmãos ben.eméritos e
Aceitar e servir os cargos da Irmandade, comiparecer irmãos efectivos. ((Beneméritos, diz o § i.° do art. 5.°, serão
.
na Santa Casa para a (Mesa geral, oi bedecer ao Provedor em todos aqueles que forem julgados dignos de tal título por
harmonia e na conformidade do Compromisso, acompanhar dádivas, doações, ou outros quaisquer benefícios, que a Ir-
à sepultura os irmãos falecidos, conduzir-se fraternalmente mandado considerar de grande valia», passando a gozar de
com os mais irmãos e solicitar a caridade pública em bene- todas as regalias, direitos e benefícios que competem aos
fício da Santa Casa, eram os deveres dos irmãos. Qlue os mais irmãos, 'com isenção de todos e qualquer trabAo pes-
direitos consistiam em tomar assento, apresentar propostas soai <8).
e indicaçõesnasMesasGerais; ser elegível para os cargos da. Em apêndice dá-se a lista de 40 pessoas, declaradas be-
Irmandade; ser tratado gratuitamente no hos.pital quando neméritas da Santa Casa no espaço de tempo que vem
(y) Idem - art. 4, a'rt. 6, art. 7, ar.t. 14, art. 12, art. 11.
i(6) Compr. 2 de Julho de 1856. <8) lidem - Art. 5.
56
de 1856 até nossos dias, e também dos beneméritos que,
na sala do despacho, gozam a honra de ter o seu retrato.
Nessa lista de bondade e de glória descobrem.-se nomes da
maior consideração da qual nos agrada desta'car quatro: o
Bispo Dom José Alves de Mariz, Monsenhor António José
da Ro'c'ha, Major Luís Ferreira Real e o Dr. Diogo Albino
de ;Sá Vargas, incontestàveimente o maior 'benfeitor da San-
ta Casa de todos os tem.pos, pois o seu legado deverá ir aci'
ma de um milhão de escudos.
O Bispo Dom JoséAlves de Mariz, recebido o diploma
de irmão ibenem'érito, mandou ao Provedor esta carta que
merece registo: «Estou de posse do .muito honroso diploma
de irmão da caridosa e benemérita Irmandade da Miseri-
córdia de Bragança que V. Ex.a, na qualidade de seu digno
Provedor e mais Irmãos que constituem a Mesa gerente
da Santa e Real Casa, houveram por bem mandar passar com
aprovação de todos. É um dos títulos mais distintos com
que a ilustre cidade de Bragança podia nobilitar o seu
lado Diocesano. Agradeço pois com muito reconhecimento
o quanto ele vale, fazendo ardentes votos pelas prosperi-
dades da Santa Casa 'da Misericórdia desta, e desejando ter
ocasiões de poder servi-la com o meu insigniËcante au-
xílio» <9).
Foi o Bispo Diocesano aclamado !benem'érito da Santa
Casa no dia 18 de Junho de 1892, na mesma ocasião eni
que o foi iMonsenhor Cónego António Joslé da Rocha, pro-
fessor do liceu e seminário, que haveria de deixar os seus
bens de Caçarelhos e as suas economias (10). Digna de re-
.

gisto 'é a honrada pressa da sua criada Belizanda da Luz'

1(9) Corr. i884'i929 - Mfltrícuífl de irmãos, 1839, íol. 212 -


Abade de Baçal - ob. . cit. vol. 2-pág. 291 - Actas, 1884, ïol. 66. A bandeira actual da Misericórdia
(io) Abade de Baçal - oib. clt. vol 2-pág. 290.
57
de entregar à Santa Casa a quantia de 56 mil escudos, en-
centrada . por ela no espólio ignorado de OVIonsenhor Rocha,
merecendo, por isso mesmo e muito bem, a ihomenagem
prestada à sua honestíssima benemerênda.
A designação de Irmãos Beneméritos é mantida pelo
Compromisso de 12 de Maio de 1877, ao lado de outra qua-
lidade a de Irmãos Subscritores .com a quota mensal não
inferior a 250 réis, com o gozo de todas as regalias e direi-
tos dos outros irmãos e isenção de todo o serviço ((11), e
também ao lado de outra qualidade - irmãos do Senhor
dos Passos.
Neste 'ComprQmisso exige-se que os irmãos sejam ca-
tólicos de maior idade ou emancipados, residentes na cida-
de, com boa conduta religiosa, moral e civil, não podendo
ser criados de servir, praças de pret 'ou guardas da fiscal!'
zaçao externa, por serem estes misteres incompatíveis com
os encargos de irmão. Exigem-se os mesmos deveres do
Compromisso de 1856 e concedem-se os m.esmos direitos,
acrescendo o direito do seu .cadáver ser -depositado na igreja
da [Misericórdia e alumiado por quatro brandões t12^.
IDesde o início teve a Santa Casa um pendão ou painel,
representando em pintura dos dois lados a imagem de Nossa.
Senhora da Misericórdia que o Conde de Sabugosa assim
descreve a respeito da Santa Casa de Lisboa, original de
todas as bandeiras da Misericórdia de Portugal: «Ao alto
a imagem de Nossa Senhora, de manto azul sustentado por
dois anjos, e, em adoração, ajoelhados da banda direita o
Pontífice, cardeais .e frades. Na esquerda uma princesa e um
rei, e, em segundo plano, outros personagens. Entre eles a
figura de Frei Miguel de Contreras, grave, velho, macilen'

Reverso da bandeira actual da Misericórdia 1(11) Compromisso de 1877 - pág. 50.


(;i2) lidem-, pág. i, 4, 5, 7 - Compromisso de 1856-art. i. °.
59
58
enquanto não apresentar a sua opa ou balandrau, feito à
to, de mãos levantadas. É tnnitário com o seu hábito branco
sua custa, e para seu uso e serviço» (16^. O Compromisso de
em cujo peitoral a cruz azul e vermelha da Ordem se dês' 1877 determina: «Ar.t. 3.° - Usarão os irmãos de uma ves-
tacava, e a Rainha com o manto roçagante e a coroa or-
te ou ibalandrau, de cor preta de fazenda de la, do talhe e
nando-lhe a cabeça na atitude de implorar a protecção da
forma dos que actualmente se usam. A veste do Provedor
Virgem» (13). será do mesmo feitio e cor, mas de fazenda de seda, sendo o
Houve sempre duas 'bandeiras: uma rica com cinto de
cordão, borla e forro do capuz, de seda roxa, devendo esta
veludo e outra pobre com cinto de couro, usada uma ou ser fornecida 'pela Santa Casa e propriedade da mesma» t17).
outra, quando o enterro era ou não era de pobres (14). Esta
bandeira continuou a ser adoptada pêlos 'compromissos de
1856 e 1877 e com este artigo: «Continuará a servir-íhe de
divisa uma bandeira guarnecidade veludo preto, tendo, em
cada uma das quatro extremidades,cordões com borlas pré'
tas. Esta ibandeira terá dum dos lados o quadro de Nos-
sá Senhora da 'Misericórdia, e do outro a Visitaçao de Nos-
sá Senhora, rematando com uma cruz preta no centro e no
cimo do quadro» (15).
O restauro da bandeira fez-se em 1907 pelo preço de
30.040 réis, e, em Julho de 1931» foi adquirida outra bor-
dada que custou 433.000 reis.
Se a divisa da Santa Casa era a bandeira de Nossa Se-
nhora da Misericórdia, a divisa dos irmãos era, e é, um ba-
landrau preto de la, distmguindo-se a do Provedor por ser
de seda e usar uma vara de cor preta. Tanto o Compromisso
de 1856 como o de 1877, mais exigentes que os compromis'
sós anteriores, decretaram que os irmãos devem ter opa à
custa própria.O de 1856é categórico no seu art. 9.°: «Admi'
tido que seja (o irmão) não poderá gozar dos respectivos
direitos e regalias, nem ser inscrito no livro da Irmandade,

1(13) Conde de Swbugosa - olb. at. pág. 261.


(i4) 1845, foi. 8 - fnventário, 1852, foi. 40, 122 - Corr. 1854, (i6) Contpromisso de 1856.
.

foi. 35 - Compromisso áe 1856- ait. 2.° 1(17) Convpr.omísso de 1877 - ;pág. 3.


[(15) Compromisso de 1877-pág. 3.
CAPÍTULO III

à igreja da Misericórdia
A capela da Madalena primeiro, do Espirito Santo depois -
Festas e despesas - Fundação da Misericórdia em Bragança -
Frontaria e retábulo do altar-mor - Fala-se de imagens, altares, sa-
cristia, . móveis e paramentos - O sino da Misericórdia.

A Santa Casa da ÍMisericórdia de Bragança foi fundada


'em 1518 na igreja dedicada a Jesus e ao Espírito Santo, exis'
tente em 1316 e reconstruída, dois séculos depois, em 1539.
Quer dizer que foi a 'Santa iCasa que a reconstruiu com ren'
das próprias, da corifraria do Espírito Santo e quiçá de San-
ta. Maria Madalena.. Porque a confraria do Espírito Santo
aproveitou 'para a sua instalação a capela e adro de Santa
Maria Madalena. A capela para a sua igreja, e o adro para a
sepultura dos seus mortos.
O altar de Santa Maria Madalena, com a sua imagem
de vestir, ainda existia em 1783 e 1852 (1). No concerto da
sua capela, gastou a. confraria do Espírito Santo, no ano de
1659» a quantia de 560 reis, e sua administração era feita
'por dois mordomos, nomeados pela Mesa da. Santa Casa.
.

Junto da primitiva capela havia um terreno onde a Santa


Casa enterrava os pobres ïalecidos no .hospital, ao qual deu
sempre o nome de adro da Madalena.
.
(i) Inventário de 1783 - Inventário de 1852, foi. 42v.
62 63

Consta do arquivo da Santa Casa que lá. desde o ano i9'ir'i912- E saibe-se porquê. Receou'se que a festa deitasse
abaixo a República...
de 1658a 1682,foram sepultados 46 pobres, e sódeixou o
adro de ser sepultura quando foi aberto o cemitério público, É certo que, em 1316, já existia em Bragança a con-
fraria do Espírito . Santo, aliás não se teria instalado na ca-
sendo para .este transportadas asossadas. Antes do cemitério
páblico.a IrmandadedaMisericórdiaia,anualmente,aoadro pela de Santa Maria Madalena. Foi por esse tempo, o tem-
da Madalena, em visita colectiva, nodiados FiéisDefuntos. po da Rainha Santa Isabel, que outras se instituiram, entre
Reduzlram-seasdimensõesdoadro,mercêdoalargamanto do nós, à imitação do que se fazia noutros países. Como o Es-
hospital do lado norte, em 1749 entrando-se no cemitè- pinto Santo, consolador dos aflitos, acende no coração huma-
rio por uma porta de granito que no alto, tem estadata, e no o fogo amoroso da caridade, desde remotos tempos se
reduziram-se ainda mais, em 1868, quando se alargou a. lhe consagraram os hospitais. Fundada a primeira na cida-
Rua Marques de Pombal, se aumentou a enfermaria dos de de 'Florença, tendo por fim valer a misérias isoladas e
homens pelo lado nascente e se abriu, pela mesma rua, criar instituições próprias a realizar, ao máximo, obras de
uma entrada para o hospital. misericórdia, em ibreve se espalhou pelas grandes cidades
Que foi o cemitério, prova-se, ainda hoje, porque, não da Idade Media em cujos prédios se punha, em lugar visí/
olbstante a remoção das ossadas, descobrem-se ossos huma-- vel uma pomba, símbolo do Espírito Santo, como é de.se
nos quando se cava fundo no quintal. ver, actualmente, no altar-mor da igreja da Misericórdia. Em
Absorvida a capela pela igreja do Espírito Santo e ap.ro- Roma existe ainda o Hospital do Espírito Santo, na sua pri-
priada esta pela Santa Casa, não morreu o culto a Santo mitiva. pureza, o centro de variada assistência pois é de
Maria Madalena atraviés dos ssculos. Os compromissos de sa'ber que esta confraria, sobre fundar aLbergarias para pe-
1877 decretaram a obrigação da missa cantada, no dia 22 regnnos e celebrar com pompa grande a festa do seu ora-
de Junho <2). Missa cantada a órgão celebrou^se em 1658, go, instituía hospitais, destinados a tratamento de doen-
custando 600 réis; missa cantada, simples, em 1856, teve tes <4).
a despesa de 840 reis; missa cantada, desde 1863 a 1876, A Santa Casa da Misericórdia, senhora da igreja dedi-
exigiu o gastode 5.070 reis; de 1877 a 1912.a despesafoi cada a Jesus Cristo e ao Espírito Santo, não íhe suprimiu
de 1.700 reis» subindo de 1914 a 1923 à quantia de 3.500 o culto, nem deixou de lhe administrar as rendas. Ainda
reis, e em 1930 a despesa foi de 120 escudos (3). lhe nom-eava mordomos para a sua administração em 1676,
Em 427 anos que tantos são os da Santa Casa, man- pessoas de categoria social, como foram, em 1659, o Licen-
teve-se ininterrupta a tradição de Santa Maria Madalena. ciado Paulo de Mesquita e João Esteves; e. se os compro-
Só houve um ano em que a festa se não fez. Foi o ano missas de 2 de Julho de 1856 e de 12 de Maio de 1877
consideram facultativas as novenas e festa, não dispensaram
^,(2) Compr. de 2 de Julho de 1856-00»*^ d_e_187^.
~

^ ^bA^^-'679, M- 7-^^45, ^^ 'J7^c^c0^


^6^. u/6/9w^, ±y -U/C'. Corr: 1854^AcoráSo., '1832. foi. gé.v ,
(4) Fernando Correia - Qb. cit., pág. 197, 347.
-'C. Corr. 1924. foi. 109.
64
a Santa Casa da oibrigaçao da missa cantada (5). Chama-se a.
isto a força da tradição.
Na ifesta de 1658, com novenas - 13 dias - e missa
cantada, a despesa foi grande: com 5 càpelaes, hospitaleiro
e sacristão gastaram'se 1. 100 reis; com os sermões da festa,
pregados pêlos religiosos d.e ,S. Francisco, a despesa foi d&
1. 1 oo reis; e com as novenas o-gasto foi de 800 reis. A fés'
ta de 1669 foi mais rija porque meteu organista que ga-
nhou... 400 reis (6). Mais ou menos com esta despesa, se
fez a festivdade do Espírito Santo. Até 1852 a despesa or-
çou por cinco a seis mil reis, porque a daquele ano subiu
a 22. 940 reis. Explicasse: só de música 10. 560 reis; de fo-
guetes 1.200 reis; e de sermão 2. 400 reis (7).
Dinheiro mais ibarato, vida mais cara, preços mais al'
tos, íesta do Espírito Santo mais dispendiosa. Em 1860 já
o estipêndio de uma missa cantada era de 6.000 reis e o
fogo custava 4.320 reis <8). Depois, de 1861 a 1879, uma
ou outra vez se faziam novenas, uma outra vez se pregava.
sermão, 'havendo uma despesa média de 6.220 reis (9). Em
seguida, de 1880 a 1932, sempre o mesmo, excepto aos úl'
timos quatro anos que a despesa subiu a 135 escudos (10).
Também só houve um ano, o ano de 1911-1912, no qual
o Espírito Santo foi esquecido. Pela mesma razão: a Repú-
'.blica tinha medo da.. . religião.
A confraria tinha os seus rendimentos. Apesar da co-

:^~) Compr. de 2 de Julho de 1856- Cornar. 1877, pág. 27-.


i(6) 669, foi. 40.
(7) 1845, foi. 9> ". I6» 44-
i(8) Mem, foi. 73-C. Corr. 1856, foi. 6 - C. Corr. 1854^
foi. 12, 38.
i(9)'C. Corr. 1854, foi. 45, 47, 55' 60' 68> 75» 84, 113» i2I<-
125, i35» ï44 - Acor. átíos, 1832, foi. gév. Da esquerda para ^ direita: casa do despacho, caipel. o do Senhor dos
<io) C. ' Corr. 1907, íol. 13 - C. Corr. 1924, foi. 40, 68, icç, e igreja da .Misericórdia
145.
65
branca deixar de. ser feita, ainda recebeu, em 1672, de
foros, em pão e dinheiro, 3450 réis(11), e em 1676, 5.300
reis com que se custeava a festa cujos sobejos revertiam pa-
ra a Santa Casa, como sucedeu em 1656 que sobraram 800
reis. Neste ano, ainda a .confraria recebeu foros de 11 casas
que tinha na cidade, sendo o menor de 30 reis e o maior de
200 reis, foro de um moiniho na Ribeira, e 7 alqueires de
serodio de uma vinha no Sapato (12). De foros em pão, de
Samil, S. Pedro, iNogueira, Donai, Castro, . Meixediniho e
Vale de Nogueira, recebeu, ao ano de i667'i668, 49 al-
queires de trigo que renderam 5.202 reis, o que vale dizer
ser a 105 reis o alqueire. Mais ainda: a confraria recebeu
io alqueires de serodio do foro de quatro prédios d'e Al-
íaiao t13).
A administração da Santa Casa, no ano 1678-'!679, foi
exce.pciona;! em receita. Foi ela de 593. 940 reis e deixou um
saldo para o ano seguinte de 85.610 reis, que logo se desti-
nou a obras na igreja. Se .excepcional foi a receita, tam.bém
excepcionalfoi a. despesa-508.330 reis (14). É que este ano
a 'SantaCasa da Misericórdiateve como Provedor o .Bis.po de
Miranda do Douro, Dom Frei José de Lencastre que eni
breve seria removido para Leiria e depois promovido ao al-
tíssimo cargo de Inquisidor Geral da Nação, sucedendo a seu
irmão, o Cardeal Dom Veríssimo de Lencastre, nosso pri-
meiro cardeal nacional.
No ano da suagerência foi arrematada a obra da fron-
taria da igreja e suas paredes e arcos e levantamento da ca-
pela por meio de escritura, feita .peloMestre António da Vei-

'(i x) 671, foi. 41.


O velho hospital (ia) Tombo - i-foi. i44!v.
(13) 669 - foi. 40.
<i4) 679, foi. 8.
66 67
ga pela quantia de 160. 000 reis e 20 alqueires de trigo. Foi de largura «toda a que tiver a capáa nas costas de trás»,
tamibém este Mestre que, nesse mesmo ano, arrematou por com 12 colunas colofarinas, todas revestidas de 'talha a mais
30.000 reis a tribuna, a porta do púlpito, o levantamento perfeita que daria a arte, com quatro nichos para quatro
do arco dacapela,a porta do pátiode cantariacom pardieira evangelistas de relevo inteiro com seus timbres, tendo de
e seus remates e as armas reais em cima, o reboco 'e feitura altura 7 palmos grandes. Ao meio do retábulo e a meio re-
da .parede até à esquina da casa de António Colmieiro (ho- levo, o painel de Nossa Senhora da Misericórdia com 12
ije capela do .Serihor dos Passos), e uma esquina de can- figuras, necessárias para o painel ficar perfeito. No alto do
taria. com a esquina da capela com uma fresta também de retíbulo, um painel da Visitaçao de Nossa Senhora a sua
cantaria. Por conta das abras, recebeu logo o Mestre Veiga prima Santa Isabel, em alto revelo, e em cima do painel da
a quantia d.e 143.640 reis. 'Misericórdia com as armas de meio relevo, a figura do Es-
As dbras de madeira, tanto tosca como apainelaáa - pinto Santo. Em baixo, um sacrário de quatro palmos de
altura
portas da igreja de almofadas, coro e capela - foram arre- em proporção, e o
painéis de meio
banco teria quatro
matadas pêlos mestres Sebastião da Costa e 'Domingos de relevo^ com os quatro passos da Paixão de Cristo nas pilas-
Almeida, carpinteiros, por 150.000 reis, tendo recebido por trás. Em cima, e aos lados do alto relevo de Nossa Senhora
conta 86.400 reis W>. da Visitaçao e à frente de duas colunas colobrinas, asestá-
Estas obras foram executadas, parte na gerência do tuas de ,Sao Pedro e São Paulo proporção de altura. Em ni-
Bispo Dom Frei José de Lencastre, e parte no ano de 1679' cho central, colocar-se-ia o Santo Cristo que seria da casa,
.. i 68o em que foi iProvedor o Abade de Meixeáo,PadreMa' imagem da igreja que se reconstruia agora, e cuja pintura,
.
nuel da Nâbrega de Azevedo. no ano de 1675, havia custado 600 reis.
No ano seguinte de i68i'i682, sendo Provedor Francis' O escultor Manuel de Madureira .recebeu logo a quan-
co de Almeida 'Figueiredo, na sessão de 14 de Agosto, as' tia de 30. 000 reis, como mais 20.000 recebeu no dia 16
sentou-se em Mesa que, para mais decênciado culto divino de imediato outubro W.
e serviço de Deus, se fizesse um retábulo no altar'mor, a Por estas obras se conclui que, apesar de reconstrui-
suibstituir o de então, a fim da igreja ficar melhor ornada. da a igreja do Espírito Santo, em 1539, ela era de fábrica
Ajustou-se por meio de planta e escrituia, com o escultor muito pobre e que maispobre ainda era a priniitiva cape'a
Manuel de Madureira pelo preço de 150.000 reis. de Santa Maria ÍVIadalena.
Dali a um mês, a 12 de Setembro, apareceu, em sés- Não se vêm, no alto do retábulo do altar. mor, as armas
são da IMesa, o escultor Manuel de Madureira para receber reais que o encimariam, a indicar a protecção e o padroado
adiantadamente a quantia de 30.000 reis, e ddfmitivamente real, como consta- da escritura lavrada com o escultor Ma-
assentar o plano do retábulo. Teria 33 palmos de altura e nuel Madureira. No lugar das armas reais .puseram a imagem

1(15) Idem, foi. gv. <i6) 1681, foi. 16.


do Padre Eterno que ao de cima de Jesus Crucificado e do
Espírito . Santo, simbolizado pela pomba, fornecem imedia-
lamente a ideia das três pessoas da Santíssima Trindade. Em
Junho de 1867, a Mesa teve o mau gosto de colocar uma
vidraça no nicho central do retábulo onde está Jesus Cruci-
ficado que ao lado tem as estátuas da Mater Dolorosa e de
S. João Evangelista, vidraça, que custou 7. 200 reis, reti-
raáa afinal nó primeiro quarto deste século.
Só em 1852 se mandaram pintar, no frontespício da
Igreja, as armas da Santa Casa, recebendo o pintor 6.480
reis ^17) concertando-se tamiBém a porta e a fatíhada, no que
se gastaram 4.610 reis (18). Mais tarde, em 1865, argamas-
s<ju'se de novo, pintaram-se as portas da igreja, fizeram^se
reparos em toda ela, fez'se o revestimento de azulejos na
frontaria, tra'balhos que somente terminaram no ano áe
1873 e nos quais se gastaram 543. 890 reis (19).
Novos reparos se fizeram desde 1892 a 1894 - pintu'
ra de portas, vidros nas janelas e envernizamento do púl-
pi to que demandaram despesa de 80. 500 reis; e de-
a
-

pois, em 28 de Janeiro de i897, arrematou-se a reconstnii-


cão do sa^lihQ da igreja por se achar em estado de com-
pleta deterioração, devendo a fiada de cantaria que se
achava em todo o comprimento da igreja ser substituída
por madeira, fazendo-se uma escavação de 50 centímetros
para a caixa de ar (20). O soalho ficou o melhor das igre-
jas de Bragança;e a Mesa animada resoiveu-se a fazer obras
de pintura e de te'l[ha no que gastou 17.415 reis (21) de sorte

(i7) 1845, foi. 43.


(i8) Idem, foi. 42.
, . .
1(19) Livro de termos de arrem., 1864, foi. 6 - C. Corr. 1854,
foi. 76, 95, 104, 125, 135, 144 - Copiador, 1882- ". 5.
, (zo) Actas, 1884, foi. 132. Retábulo do altar-mor
(21) Idem, foi. 132.
69
que a Mesa de 1911 pôde declarar com desvanecimento
que a igreja da iMisericórdia satisfaz plenamente em decên-
cia e capacidade o fim religioso da irmandade (22>. Efectiva-
mente da parte das mesas houve sempre a preocupação do
asseio da sua igreja. Examinando as contas existentes no
arquivo da .Santa 'Casa, apesar de mutilado e muitíssimo
incompleto, a .ponto de faltar a vida de mais de dois séculos,
averiguei que mais de cincoenta vezes ela foi caiada.
A igreja da Misericórdia teve órgãopróprio já porque
o organista era um dos empregatíos já porque no ano de
1659 o tesoureiro pagou uma conta de 1.300 reis, quantia
enorme que exclui a ideia de um órgão portátil.
Pelo inventário feito em 1783, vê-se que a igreja teve
um altar dedicado a Nossa. Senhora ao pé .da Cruz; e, pelo
.

inventáriode 1852,se tem a certeza de que.ao menos desde


essa data, existem as imagens da Rainha Santa Isabel e de
São José, expostas à veneração dos fiéis nos altares late--
rais <23).
Em 1659 já existia um altar para São João Evangelista,
substituído pelo actual que, como o de Nossa. Senhora da
Soledade, foi inventariado em 1852, enviáraçaáo nesse mes-
mo ano e que me parece ter sido feito pêlos anos de 1799
por ser do mesmo estilo do altar do Serihor dos Passos (z4).
Teve naquele ano, o ano de 1659, sacras novas que custa-
ram 390 reis, e os inventários de 1783 e 1852 dâo-lhe um
'hábito de seda verde com capa encarnada, caibeleira, ca-
beçao com sua volta e um arco de .prata. Renovaram-lhe o
ihábito em 1874, envidraçaram-1'he melhor o nicho em 1897,

[Nos: .enhora da Misericórdia (particular do retábulo do altar-mor) (22) Idem, 1907-1919, foi. 63.
1(23) Inv. 1783 - Inv. 1852, foi. 42V.
'(z4) Inv. 1892- Acórdãos, 1832, foi. 577.
70 71
deram-1'he andor novo em 1906, restauraramAe a imagem em resultado não ser mais celebrada depois do ano de
em 1930 (25>. 1877 <30'.
Nossa . Senhora da Soledade aparece, no inventário de A Via'Sacra que o inventário de 1852 registou, foi
1^83, com esplendor de prata, camisa, anagua, duas túni-- substituída ipor outra em 1855 que custou 3. 840 reis <3U e o
cãs, um lenço, um vestido inteiro de gala e um manto de confessionário de madeira teve substituto em 1930, e os
seda, tudo preto. Tinha mais duas toucas e seis mantos (26). candieims de parede, comprados em 1895 por 2. 700 reis,
Em 1846 a imagem foi encarnada e teve um manto e ves- foram inutilizados pela luz eléctrica que custou 1. 140,80 es-
tido novo <27>. Mas no de 1852 há mais a registar: 4 sa- cudos, 'instalada em 1929 <32). Foi neste ano que se com-
nefas de damasco roxo com franja para o andor; i vestido praram 30 velas automáticas que custaram 227 escudos,
novo, preto, de nobreza, outro de sarja preta, 3 lenços de ro- foi em 1935 que se fizeram os bancos da igreja, em 1937
binet, de escomilha faordado a fio de prata e lantejaulas e: que se compraram esteiras, em 1939 que se adquiriram 2
outro de cambraia; 3 capas ^ uma de seda azul clara, ou^ crucifixos e em 1940 que foi autorizada a colocação da
tra de pano branco com renda, outra de setim preto e ainda- imagem do Sagrado Coração de Jesus w\
outra de sarja preta; 4 mantos, sendo um de damasco de. ÍDiga-se, antes de me referir à sacristia, que no ano de
cores (28). Em 1897 dao-Íhe melhor vidraça para o altar^ 1930 se reparou novamente o soalho da igreja no que se
em 1906 oferecem-l. he um andor novo, em 1930 restauram' áispendeu a quantia de 550 escudos<34).
'lhe a imagem e em 1947 dao4he um riquíssimo manto de A sacristia, em 1667, era térrea e no. soalho feito gasta-
seda azul (<29)). ram-se 2. 120 reis. Foi forrada em 1864, sendo a despesa
Encerrado, o mosteiro de Santa Escolástlca (S. Bento) de 30.000 reis <35). Em 1906, porque a sacristia era escura,
pela morte da última religiosa, a imagem da Senhora das pi incipalmente depois do alargamento de uma das enferma-
Dores foi transferida para a igreja da Misericórdia. A Mesa- rias, fizeram-se obras no sentido de melhor a iluminar <36>.
ficou contente, e resolveu colocá-la ao altar de Nossa Se- Na sacristia nãofaltam, na cómoda grande com gavetas, no
nhora da Soledade e celebrar anualmente no dia próprio uma guarda-roupa e no armário W, paramentos suficientes e ofa/
missa cantada .por 3 padres, i ajudante e 6 cantores. O Com' jectos para o culto. Missais do princípio do século XVIIÍ,
promisso de 1856 declarou esta missa facultativa que deu
<3o) Acórdãos, 1832. fol. ^53-Comf>r. de 1856- Com 1856,
.

1. 6-Corr. 185,4. foi. 32, 68-C. Corr. i854,"fol. 68'^'Comír.'


de 1877, foi. 37.
1(25) Inv. 1783-In"ü. 1852, foi. 42v - C. Corr. 1854, foi. 135 <3i) Ïnv. 1852, foi. 43 - 1845.
- Actas - 1884, foi. i3iv - Actas - 1903, íol. 42 - Actas, 1919- (32) íw. _i85.2, foi. 43 - C. Corr.. 1924, foi. 101.
.

-I932. íol. 89 - C. Corr. 1884-1929.


Corr
iC33) C. foi.
Corr. 1924, foi. 100- Ç.Corr. 1935- foi. 41 - C.
1(26) Inv. 1783.. 193.5 93-Actos, n. 16, foi. lyi iv.
1(27) 1845, foi. 9, 12. 1(34) Actas, 1919-1932.
1(28) Inv. 1852, foi. 4i. '(35) L. termos áe drrematdydo, 1864, foi. 3.
1(29) Actas, ~i884, foi. i2iv - Actos, 1903, foi. 42 - Actos, '(36) Actas, 1903, foi. 32v.
i9i9-'i93!2. io1- 89-C. Corr. 1884^1923. 1(37) Inv. 1852, foi. 4ov.
72 73

palio e frontal roxo, cortinas de damasco vermelho e pavi- Jamaisbadalou para as procissões'de festa. Se nasprocissões
Íhoes para o sacráno,.cortinas de seda roxa e panos de seda do Enterro do Senhor, a sua voz é substituída pelo som
para as estantes, castiçais dourados e castiçais de madeira, cavo e triste das matracas. Se grita para a procissão do Se-
casulas, dalmáticas. pluviais, sanguinhos, corporais, véus de rihor dos Passos, a sua voz tem a amargura de uma tragé-
dia em marcha.
cálicese tudo o que é necessário para o culto, pobre, simples»
discreto como convém a uma casade pobres <38).
Em 1677 havia 2 lanternas de prata que custaram
120.000 reis, e os paus 200 reis. O concerto de uma custou
em 1681 a quantia de Soo reis, e o mesmo outra em 1710.
Lâmpada de 13 arráteis, apreçada em 166.400 reis, da
igreja de S. Bento, foi oferecida pelo Ministro dos Nego'
cios Eclesiásticos e da Justiça, em Dezembro de 1864 <39>,
que foi .concertada, no ano seguinte, por 6.640 reis. Turí-
bulo de prata e naveta, teve-os em 1667, e depois outros,
em 1897que custaram 47.700 reis (40-).
importa agora dar notícias do sino da Misericórdia, cu-
jo som é tão distinto e tão conhecido por todos nós. Quando
todos os sinos da cidade tocam a chamar os confrades para
os enterros, o sino da Misericórdia é o que mais nos im'
pressiona por ter já tocado por membros da nossa família.
O sino que bimbalha e repica ao de cima da fachada de
azulejos, está ali, há mais de quatro séculos. A ferrugem
tem-lhe devorado, por vezes, a ferragem, o tempo tem'1'he
apodrecido a cabeça e as cordas, mas o sino, esse, conti-
nua piedoso e infíexível. Iriflexível a anunciar a morte. Pie'
doso a pedir sufrágios pêlos mortos. Nunca cantou alegrias
de batisado, nem esperanças áe matrimónio 'feliz. Nunca.

1845, íol- " - Acorátíos, i832. foL39'v-I845> íol. 35


- Iní7. i852,"fol. 4ov, 43- Actas, 1884, foi. 66 - C. Corr. 1924.
foi. 138.
1(39) Copiador, 1882 - n. 25.
i(4o) Actas, 1884, foi. i2iv.
CAPITULO IV

Capelâes e Sacristâes
Número de capelaes através dos. séculos - Os seus direitos e
deveres - De como se chegou à total ausência de capelaes - Fa-
la-se do organista e do sacristão - Obrigações e estipêndios.

Para cuidar da igreja e do serviço religioso, a 'lAesa da


Santa Casa destacava dois mesários, a que dava o nome de
mordamos. Tiriham o encargo de fazer exercitar os ofícios
'divinos com decência e veneração possíveis. Nos Domingos
e dias santificados, assistiam às missas e pregações, e supe-
rintendiam para que nada faltasse e tudo estivesse na or-
dem <1).
A eleição dos mordamos fazia-se na primeira reunião
da Mesa, e eram escolhidos: um dentre os mesários nobres,
e outro dentre os mesários de segunda condição. No ano
. 1668-1669, .por exemplo, os mordomos eram: o licenciado
Tomás de Castro da classe dos nobres, e o irmão Bernardo
Garcia, da classe dos plebeus (2^.
O.s ofícios divinos eram celebrados pêlos capelaes. Cha-
mavam-se capelaes porque tinham a seu .cargo as capelas,
isto é as missas que QS testadores deixavam à Santa Casa,
retendo, cada uma, o nome do seu instituidor, já para me-

1(1) Compromisso de 1618- pág. 8, 2i.


1(2) 1669, foi. 32,
76 77
l!hor se conservar a sua memória, já para lembrança de ser pacidade, tendo por oibrigaçao celebrar na igreja da Santa
encomendado a Deus. Casa o Santo Sacrifício da Missa, todos os dias, menos às
Deviam os capelaes ter quatro qualidades. Primeira - sextas'feiras que era na capela do Senhor dos Passos, sem'
ser cristãos velhos dos quatro costados; segunda-pessoas pré por alma dos irmãos vivos e defuntos, oficiar em todas
de virtude, ciência e reputação; terceira - ter nunca menos as 'funções da Irmandade, e acompanhar a. Mesa em todas
de 30 anos; quarta-ser bons cantores e dextras em canto as procissões e enterros e outros actos, designados no regi'
de. órgão(3). mento interno (6).
Quantos eram os caipelâes da Misericórdia? Com o novo Com.promisso de 12 d.e Maio de 1877, os
Desde o seu início, a igreja da (Misericórdia teve dois; capelaes voltaram a ser dois - maior e menor - com os en'
um capelao-maior, e outro .capelâo-menor. A pouco e pouco cargos, assim distribuídos: ao capelao-mor incumbia celebrar
o número aumentou, à medida que os 'legados à Santa Casa diariamente na igrep, aplicando as missas por alma dos ir-
deixavam missas para formar capelas. No ano 1658-1658, o mãos vivos e drifuntos, sendo a missa dos Domingos e dias
número subiu a cinco. No ano 1667-1668, já eram seis. Nos santificadosao meio-dia;oficiar em todasas funçõesda con-
anos seguintes, 1669 a 1680, o número desceu a cinco. Sete traria sem invasão dos direitos paroquiais; confessare sacra-
capelâes 'houve desde 1681 a 1710 que teve dez. A partir mentar os doentes do hospital e assisti-los quando moribun-
do ano de 1750, o número de capelaes foi-se reduzindo len- dos; acompanihara Mesa e a Irmandade em todas as procis-
tamente porque lentamente os legados deixaram de. consi' soes, enterros e em quaisquer outros actos públicos; fazer a
gnar missas 'em número suficiente para constituir capelas. encomendaçao dos irmãos falecidos; vigiar pelo asseio do
De sorte que, no ano de 1843, a Santa Casa tinha apenas templo, e velar pela guarda e conservação de todos os or-
três capelaes - o ca.pelao-mor e dois capelaes, chamados natos, roupas, alfaias, vasos e mais guisamentos que servem
segundos (4>. para o culto; convidar os clérigos para as funções excepto
Só dois capelaes havia no ano de 1845: capelâo-mor e para pregar; mandar sufragar as almas dos irmãos falecidos,
capelao-menor <5) e assim se conservou até ao ano 1856, no em harmonia com a relação entregue pelo secretário, prefe-
qual o Compromisso de 2 de Julho reafirma direitos anti- rindo para estes sufrágios o capelao-menor; executar as deli-
gos de padroado, declarando que o capelao da Santa Casa beraçoes da Mesa respeitantes ao serviço da Igreja, quando
deve ser um presbítero, proposto pelo Provedor e aprovado nãofossem contráriasà sagrada liturgia; e lavrar os assentos
pelo Ordinário, homem de merecimento e de reconhecida dos óbitos ocorridos no hospital, remetendo, depois, ao pá'
virtude, não podendo, depois de nomeado, ser despedido, a roço respectivo as indicações precisas para lavrar o compe'
não ser por meio de processo onde se provasse a sua inca- tente assento.
Ao capelao-m. enor incumbia: celebrar missa, todas as
(3) Compromisso de. 1618, pág. 24.
1(4) Acórdãos, 1832, foi. iiv.
.
(5) 1845, foi. 2. <6) AcârdSos. 1832, foi. 43, 46v, 48 - Compromisso de 1856.
78 79
sextas-ifeiras, 'Domingos e dias santificados na capela do ,Se- giosos: - uma Ihostüidade permanente contra os capelaes.
rihor dos Passos, por intenção dos vivos e defuntos, às 8 da Assim foi que desde 30 de Setembro de 1911 a 27 de Outu^
manha, desde o dia i.° de Março a 31 de Outubro, e às 9 bro de 1918, houve 7 (1()).
horas desde i.° de Novembro ao último de Fevereiro; coad' Nada se modificou, é. certo. Mas o administrador do
juvar o capelao-mor, substituí-lo nos seus impedimentos e conceího, em Dezembro do ano seguinte, insiste e quer a
cumprir as ordens legais que este lhe .desse; assistir às funções reforma, aliás ifechar-se-ia a Santa Casa. Então a Mesa, aper'
da confraria, e acompanhar esta nas procissões e outros actos tada pelo enternecido afecto da administração concelhia pela
públicos; celebrar as missas de sufrágio pelas almas dos ir"
.
Lei de Separação, responde, em longo ofício 'no qual termi-
mãos falecidos, segundo a ïelaçao do capelâo-mor(7). na: «... não me parece que esta Santa Casa da Misericórdia
Pouco tempo, depois de publicado este Compromisso, de .Bragança haja necessidade de reformar os seus Estatutos
durou a dupla função d'e capelao'mor .e 'capelao.-menor. Mor- para no todo os 'harmonizar com as disposições liumanitá-
to o capelao-menor, e suibstituído o maior, o capelao .passou rias (sic) da referida Lei de Separação. Por quanto, nem as
a cihamar-se simplesmente capelâo. Só, em Maio de 1902, disposições do seu Compromisso brigam com as da dita liei,
porque o Cónego António José da. Rocha, sempre pronto a nem tão pouco a despesa que anualmente efectua, atinge a
auxiliar a igreja da Misericórdia, ofereceu mais 4 casulas de média .estabelecida, como limite, no art. 38.° da mesma lei,
damasco e seus aprestos e um icálix e patena de prata dou .- como se mostra dos documentos que tendo a honra de enr
rada, houve a lembrança de o nomear capelâo/mor honorá- viar a V. Ex.a, não se me afigurando, portanto, que. pela
rio <8). falta de reforma dos seus estatutos» seja esta confraria incursa
Após a implantação da República, a Mesa, a 30 de De- na pena estabelecida nos arts. 39.° e 169.°, conservando pa-
zemibro de 1911, resolveu reformar o Compromisso da Ir- ra todos os efeitos a sua individualidade jurídica de associa'
mandade, de harmonia 'com as leis de 20 e z6 de Abril (Lei cão de assistência c beneficência»<11).
de Separação) no que re&peitava ao culto e assistência, e Em 1919, a Santa Gasa não tinha capelâo. A opinião
adoptar, desde logo, para seu regulamento» . como sua princi' pública já podia clamar. O Compromisso não se cumpria. A
pai;estatuária,a referida lei, em to<lasas suasdisposiçõesquer Semana Santa estava iminente. E apelou'se para o Prior de
prescritivas quer proibitivas, e assumir a obrigação de cum- Vila que então era o Cóhego António dos Santos Rrbei-
prir as determinações legais (9). ro (12>. 'Em quatro meses houve dois capelaes intermos <13).
Evidente que nada se modificou 'porque nenhuma modi- Falta de clero e insuficiente remuneração. O Provedor, a 23
ficaçao ordenava, a respeito, a célebre Lei d'e Separação, de Maio, a 18 e 22 de Julho de 1922, pede ao Bispo Dom
o acórdão da Mesa dá a medida dos seus sentimentos reli'

(io) Idem, foi. 5ov, 122 - Corr. 1884-1929.


(y) Coinpromisso de 1877, pág. 21. (li) Corr. 1894-19.23, foi. 130.
(8) Actas, 1884, iol. 184. (12) Actas, 1907-1919, foi. 136.
1(9) Actas, igoy-igig, foi. 53. 1(13) Idem, foi. 137, i44'v.
80 81
José Leite de Faria que lhe nomeie um capalao. A Mesa ele' <}ue, por serem muitos os ofícios de irmãos falecidos e te-
vara a 420 escudos anuais o anterior ordenado de 280 escu' rem trabalho, não se atreviam a fazê-lo, recebendo um ut'n-
dos, abrira concurso e nenhum concorrente aparecera. O cul- tem por missa e ofício de 9 'lições e vésperas. A Mesa resol-
to continuava prejudicado. Os sacramentos eram administra- véu dar a cadacapelâomeiotostão de esmok pela obrigação
dos pêlos párocos da cidade, era certo; mas não se dizia a <lte missa e ofício.

missa do meio-tlia, não se acompanhavam os cadáveres ao Nesta ocasião,dois capelaes haviam ificado com o lega-
cemitério, e o povo damava. Em face desta insistência, o do de Salvador Lopes Colmieiro e seus herdeiros. Estes pás-
Prelado respondeu . estar muito preocupado com o proiblema. saram a receber mais 2.000 reis por ano do que os outros,
Por um lado falta de clero, por outro a impossibilidade da .

por terem a missa diáriae a liberdade presa. O seu ordenado


Santa. Casa 'aumentar o subsídio. No entanto não desesperava anual ficou sendo de 12. 000 réis em dinheiro e 15 alqueires
de encontrar uma solução, mais ou menos satiáfatória (l4). <}.e serôdio (18>.
Encontrou-se afinal e definitiva, mas no tempo do bispo A 2i de Julho de.1833, por causa das dificuldades fi-
imediato. Dom António Bento Martins Júnior, actual Arce- nanceiras em que se debatia a Santa Casa, deliberou a mesa
bispo Primaz de Braga. que, nas missas cantadas, o celebrante recebesse 480 réis, os
Diga-se, a tempo, que o Regulamento Geral do Hospi- assistentes 240, e o sacristão 120; que nas vésperas cada um
tal, de 4 d!e Junho de 1932, declara continuar em vigor o Tecebesse 6o réis; que os cantores recebessem, cada um 16o
que o Compromisso de 1877 preceitua a respeito do culto e réis <").
confraria da Santa Casa da Misericórdia (15>. Foi a 6 de Julho de 1835 que a Mesa acordou ser a
Uma pergunta que 'se afigura interessante: qual o esti' -missaconventual, nosIDomingose dias santificados, ao meio.-
pendia, concedido a cada um dos ca.pelâes? -dia, no altar-mor, por um aos capelâesda casa(20>.
Em 1658, havia 5 capelaes. Cada um recebia anualmen-- Em 1836 a SantaCasa estava empenhada.Muitos os en-
te 6.000 réis, i5 alqueires de serôdio, e mais 6 nas festas do termos. Renda insignificante à face da despesa. A Mesa, en-
Natal e da Páscoa.Em 1667, houve o aumento anual de 600 tão, determina que o capelao-mor e o -capelâo menor rece-
réis, oferta do ofício geral (16). Em 1676, o estipêndio era de bam, alem das missas e mais emolumentos, respectivamente,
9.480 réis, 15 alqueires de serôdio, 20 réis por cada ofício e só 40 alqueires de pão meado e 25 alqueires de centeio. Não
8o por cada ;pobre falecido no hospital, e em 1679, subiu a concordaram os caipelaescom a resolução tornada. E a Mesa,
10. 020 réis o ordenado (17). a 12 de Outubro, os deu por despedidos e mandou saldar
iMas, a 20 de Junho de 1680, os capelaes requereram .
contas (21>.
Em 183.8, acha-se mais angustíosa a situação económi-
1(1,4) 'Corr. 1884-1929 - Corr. 1894-192. 3, foi. i7ov (18) íáem, foi. 50.
i(i5) Reg. Geral do Hosfitai - pág. 40. 1(19) Acórdãos, 1832, foi. 7v.
(i6) 1669, foi. 18-167;, tfol. 11, 19. .
(2o) Idem, foi. io.
(i7) 1679, foi. 17. .

(2i) Idem, íol. i2v, i3v.


83
ca da Santa Casa. A Mesa sentiu a impossibilidade de sus- A Santa Casa teve, nos séculos passados, um organrsta,
tentar todas as funções a que estava obrigada. A manuten- que até 1671 recebia por ano a quantia de 4.000 réis e 18
cão do hospital exigiu a supressão das funções, exceptuando alqueires de serôdio com obrigação de tocar em todas as fes-
o oÍício 'geral, no dia 3 de Novembro <22^. tas e missas cantadas do ano e em todas as funçõesda Qua-
Em 1847, o capelao passou a viver jio hospital. Tiniha resma. Depois deste ano, o ano 1671, passou a receber a gra-
um compartimento onde foi construído um lar por 3.220 tificaçao anual de dez tostões <30). Não sei até quando exis-
réis, e no qual, . em Abril de 1856, se desempenou uma ja- tiu na igreja da iMisericórdiao cargo de organista. Sei ape-
nek do quarto por 480 ireis. Mas logo, em 1857, se viu ser nas que ele existiu até 1710.
preferível a moradia fora, suibsidiando-lhe a renda com 6. 000 Auxiliar imediato dos capelâes, foi sempre o sacristão
réis anuais, e em 1859 com 8.840 réis e a gratificação de que por vezes foi um presbítero, ou um candidato ao sacer-
9.6oo para azeite e carvão (23). Com maior ou menor subsí' dócio que, na igreja, se adextrava para as cerimónias litúr-
dio, o capelao, até ao ano 1877, teve direito a casa, azeite, gicas.
sal e carvão (24). E também até este mesmo ano, era-lhe dado
12.000 réisanuaise 20 alqueires de pão, com o dever de
o estipêndio de 140 réis pelas missas semanais e 240 réis fornecer vinho e hóstias, era o ordenado do sacristão, em
pelas dos dias santos, ordenado mensal de 2.400 (em 1865 1833- Este ordenado subiu a 13.800 réisno ano de 1849, a
aumentado a 3.800), e a propina de 5 alqueires de pão, o 2i.6oo réis em 1851 e desceu a 19.200 réisem 1853 (31).
que todas as verbas juntas deram em 1867 o ordenado anual O Compromisso de 2 de Julho de 1856 dizia que o sa-
de 127. 800 réis. cristão devia ser uma pessoa fiel, humilde, virtuosa e decen-
De 70.000 réis foi o ordenado anual do ca.pelao, desde te <32> bem menos exigente que o Com'promisso de 1877,
1877 a 1894 que passou a ser de 100.000 réis(26>, excepto as que exige a qualidade de clérigo minorista, tonsurado ou
missas que já eram a 240 réis (Z7) esmola subida a 500 féis simplesmente licenciado, não podendo ter menos de 14 anos,
para as missas dos dias 'santificados (28). com os encargos de conservar sob sua responsabilidade as
O ordenado anual de 100.000 réis manteve-se, não dbs' chaves da igreja, de fornecer vinho e hóstias para as missas
tante as reclamações até"ao ano de 1911 (29). da casa, de abrir e fetíhar, à hora conveniente, as portas da
1(22) Idem, foi. 20. igreja, de cuidar da limpeza e asseio do templo, de assistir
.
(23) Corr. 1845, foi. 8, 84 - C. Corr. 1854, foi. 25 - C. Corr. a todas as funções da Casa, acompanhar os .enterros e mi-
1856, ifol. 13.
1(24) Idem, 1854, foi. 41, 53, 59 - AcoráSos, 18.3(2, foi. 84. nistrar aos capelaes sempre que oficiarem, tendo de usar ba-
de 127.800 réis (25). tina, volta e sobrepeliz, em todas as funções, procissões, sn-
1(25) IC. Corr. 18415, foi. 15, 8, 33 - C. Corr. 1854, foi. 34, 45,
66, 83. <3p) Ano de 1669, foi. 19 - Ano de 1671, foi. 20 - Ano áe
(26)
.

Actas, 1884, foi. i6v - C. Corr. 1884-1929. J 679, foi. 19.


1(27) Idem, foi. g6v. <3i) Acórdãos, 1832, 'foi. 4, i2v, 44, 47 - C. Corr. 184.5, foi.
1(28) Idem, foi. 130. i2, 38, 58.
1(29) 'C. Corr. 1884-1929. 1(32) Compr. de 2 .de Julho de 1856.
84
terras e outros actos públicos, e quando ajudar às missas nas
sextas-feiras e Domingos (33).
Este Compromisso a'bo'liu e extinguiu as propinas e erno'
lumentos dos capelaes e sacristaes(33) porque uns e outros os
recebiam» O sacristão recebia, até 1877, a propina anual de
22 alqueires de pão meado '(trigo e centeio) a par do orde- CAiPITULO V
nado de 28.000 réis, por ano, que, em 1859, desceu a 24.000
réis, que, em 1861, tornou a subir a 26.400 réis, e depois^ A Mesa da Santa Casa
em 1863, tornou a. subir a 36. 000 réis (34). Este ordenado me-
Ihorou, em 1875, 'sendo de 45.000 réis, e .em 1877, de 54.000 Eleição e posse da Mesa - Os poderes da Mesa, limitados
réis. Em 1914» desceu a 36.000 réis, e, em 19122, subiu a. pela Mesa Geral - Cartas dos Reis Dom José I e Dom 'Pedro V
- As qualidades do Provedor - Os privilégios das Misericórdias
ço.ooo réis que, no ano seguinte teve o aumento de 30 es' e dos Mesários - Comissões Administrativas - Confronto des-
cudos <35>, e mais outro aumento, em 1924, que 'foi de mais conceriante.
24 escudos (36).
Desde o princípio da Santa Casa da Misericórdia até Dada a importância da Santa Casa e a sua finalidade,
meados do século XIX, houve na igreja moços de capela^ comprende'se como seria meticulosa a eleição anual da Me-
em número suficiente para ajudar às missas. Na eleição dês' sá. No dia 2 de Julho, dia da Visitaçao de Nossa Senhora,
tes m.oço.s, a Mesa cuidava de saber se eram limpos de raça. reuniam-se na igreja todos os irmãos, os nobres e de segun-
e pobres, com mostras de boa criação e de capacidade para da condição, com o Provedor e oficiais que terminavam o
o serviço (37). seu mandato. Ao púlpito subia um dos capelâes para ler a
parte do Compromisso que regia acto tão importante. Em
redor da mesa, colocada ao centro da igreja, assentavam-se
artífices e nobres sem género algum de precedência. Tesou-
reiro e escrivão, a postos, junta da urna a recolher os votos
dos quais saia a lista de 13 nomes. Primeiro, o Provedor -
um nobre - e depois 6 nobres e 6 de segunda condição, to-
dos com limpeza de sangue, todos «humildes, e que o inaior
fosse o menor, servindo os outros», todos com humildade e
.
(33) Compr. de 1877, pág. 23. obediência a cumprir e ministrar as Obras de Misericórdia <-rl.
i(3'4) Acórdãos, 1832, foi. 65, 83v C. Corr 1854, foi. 32,
45> 66, ii3, 125. O Provedor fica sendo a imagem de Jesus Cristo, e os
(35) Actas, i9i9'i932, foi. 42.
(36) IC. Corr. 1924, foi. 3. '(i) Fernando Correia -
ob. cit. -pág. 969 -Cmnpi '. 1618
(37) Compr. de 1618, pág. 26. pag. 7.
86 87
membros da Mesa eram como se fossem o.s 12 Apóstolos. Depois do Compromisso de 1877, a audição da missa
Eleitos' e proclamados para dirigir e governar durante o pró- cantada era precedida pela posse da Mesa com balandráus
ximo ano, seriam um vivo exemplo para toda a Irmandade, vestidos que depois prestava juramento sofcre os Santos
no cumprimento de todos os deveres, tendo por modelo Je- Evangelhos, recebido pelo capelao, ainda paramentado, no
sus Cristo e as suas misericórdias. Entrados na Mesa paia qual o Provedor, à frente dos mesários dizia o seguinte: «Por
deliberar e votar com inteira e recta consciência, sem ódio e estes Santos Evangelhos em que pomos as mãos, juramos
afeição, estavam lembrados de que, em verdade, eram admi- cumprir religiosamente todas as obrigações que nos impõe o
nistradores dos 'ben.efícios destinados ao culto divino e à Gompramisso desta Santa Casa da Misericórdia». O Prove-
ipobreza enferma e desva.lida deque lhes seriam pedidas res- dor e mesários, ajoelhados, diziam sucessivamente: Assim o
tritas contas, já pela Mesa Geral já .por Deus Nosso Senhor a juro (7).

quem nada se esconde. Antes da eleição haviam rezado 3 Prestado o juramento cantava-se a Ladainha, finda a
Ave-Marias, de joelhos, a implorar o auxílio e a protecção quala Mesa se dirigia à sala do despacho, e entrava em exer-
da Senhora da Misericórdia; e depois da .eleição cantaram a CICIO.

Ladainha de Nossa Senhora, empossaram.-se imediatamente Ela, a Mesa, era, segundo o Compromisso de 1856, res-
dos seus cargos e assistiram à festa da Visitaçao de Nossa ponsávápor todos os seus actos, e incumbia-lhe organizar o
Senhora <2). regimento interno, interpretá-lo e executá-lo, acompanhar os
A festa da Visltaçao que, por economia d:e palavras, se enterros, . admitir e riscar irmãos, restando a estes o recurso
passou a chamar, festa de Santaisabel, foi sempre declara- à MesaGeral, dar a estaconta dareceita e despesadurante o
dí obrigatória em todos os .compromissos: no de 1516, no ano, decidircomo e quando se deviam fazer'asfunçõesreli-
de i6i8, no de 1856 e no de 1877 <3>. Missa cantada sempre giosas, tendo em consideração as posses da Santa Casa, man-
com organista ou com tíharamela, com sermão ou sem ser- dar reunir Mesa Geral quando julgasse necessário, aáminis-
mão, houve-a sempre, excepto no ano em que se proclamou trar os bens da Irmandade e autorizar, com a sua assinatura,
a República. Nos primeiros anos, o celebrante recebia um as suasdeliberações,escrituras de dívida, foros e prazos con-
vintém, em 1658 já recebia um tostão. Porque toda a festa, traídos com a.Santa Casa, e lembrar e vigiar o cumprimento
em 1679 custou 500 réis<4) e em 1847, custou 2.00 réis<5). das ofarigaçoes de 'ca'da um dos empregados.
Depois foi subindo, a pouco .e pouco a des.pesa até dobrar, Além destes encargos, tinha a Mesa obiígaçao de fazer
como em 1915, a triplicar como em 1921, e a multlplicar-se executar asdelilberaçoesda MesaGeral, de exigir dos empre-
por 6o como foi em 1930 que custou 120 escudos<6>. gados os esclarecimentos necessários para o bom e regular an-
damento dos negócios da Santa Casa, de fazer cumprir os
1(2) Compr. ï de 'Julho de 1856. sufrágios pelas almas dos irmãos e dos 'benfeitores dos lega-
1(3) Idem - Compr. de. 1877, .pág, 27.
<4) 1679, foi. 7 v.
i(5) 1845, foi. 9, 4.
<6) C. Con. 1907-1913, foi. 2-IC. Corr 1924. tol- 45. i°9- 1(7) Compr. ás 1877, pág. 13.
88 89
dos. e de fixar o número dos doentes pobres e o preço das dimentos da Santa Casa; e bem assim contratar, fazer tran'
diárias dos pensionistas (8). sacçoes sobre heranças, ou doações de propriedade vindas à
Desde sempre os poderes da Mesa foram limitados. Se- Casa, ou sabre dívidas de que esta seja credora, quando de
gundo o Compromisso de Dom ManueL não podia passar re- semelhantes transacções resulte vantagem à Santa Casa, ob-
cïbos de contas de cousas que não viu; receber de novo ir' servando-se sempre as disposições das leis civis a este rés'
.

mãos que houve de riscar; prometer cousas fora do ano da peito (10).
gerência; dispender dinheiro à conta do que 'havia de co- Ate ao ano de 1856 em que El-Rei Dom Pedro V apro-
brar; emprestar paramentos ou pratas da ca;sa; dar sepultura vou novo Compromisso, a Mesa era constituída por 13 mem-
perpétua ou .pôr letreiros nobres na igreja da Misericórdia; e bros, sete de condiçãonabre e seis de segunda condição(11).
aceitar capelas e instituições d'e encargos desta qualidade. Em 1856, além do Provedor, escrivão e tesoureiro, havia vo'
Tambémnãopodia a Mesa vender ou trocar rendas, perten- gais e um procurador, tendo'se sempre em vista o estado,
centes à Santa Casa, 'por qualquer título e via que fosse, fa- idade e prolfissao de cada um que lhes permitisse a o'bservân'
zer concertos ou transacção sobre herança, de propriedades cia dos seus deveres. Em 1877, o número de vogais passou
que se deixassem à SantaCasa, miidar ou alterar o que fosse a ser de nove, e a Mesa', em vez de assistir à missa cantada
determinado por assento de alguma Mesa, lançado no livro depois da posse, como nos compromissos anteriores, recebia
dos Acórdãos,nem podia reservar para si fazendaalguma, ou a ib&nçâo do Santíssimo, dada pelo capelâo(lz).
juro in perpetuum das heranças livres sem o parecer da Me- Note-se que este Compromisso, redigido pelo Dr. José
sá Geral W. António Franco, provedor ao tempo, 'e aprovado pelo Go-
A Mesa Geral, ou Assembleia. Geral, não é só criação vemador Civil IDr» Cláudio Mesquita da Roza, sendo Secre-
do Compromisso primitivo; ela vem consignadanoscompro- tário Geral do Governo Civil, Conselheiro Henrique Ferreira
misses .posteriores, tanto o de 1856 como o de 1877. de Lima, multa em 230 gramas de cera o memibro da Mesa
A Mesa Geral é a reunião de todos os irmãos, debaixo que 'falte três vezes às sessões, e exclue-o se não pagar a
da presidênciado IProvedor. Hámesas geraisordináriase ex- multa ou não justificar as faltas (13).
traordinárias. As ordinárias no Dommgo anterior ao dia 2 Neste tempo, .era das atribuiçõesdo Governador Civil a
de Julho. As extraordinárias quando convocadas pelo Prove- reforma dos .estatutos das confrarias. Que, em 1856, ela de-
dor ou' Mesa administrativa. É da sua competência eleger a pendia de El-Rei, como se vê por esta carta régia de Dom
Mesa, discutir matérias apresentadas pela Mesa ou por algum Pedro que aqui se transcreve:
dosirmãos,julgar e decidirdaex.clusaodos irmãos,feita pela «Dom Pedro, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos
Mesa, tomar contas a esta do ano da sua gerência, autorizar Algarves, etc.
a venda ou troca de foros, pensões ou outros quaisquer ren- 1(10) Cofnpr. de i85'6 - Compr. de 1887, 'pág. io, 15.
iCll) 1679, foi. 13.
1(8) Compr. 1856. (12) Compr. 1856 - Compr. 1877, 'pág. li.
1(9) Compr. 1618, pág. 15 v. (13) Compr. 1877 - pág. 51, 49. - Compr. 1856.
90 91
Faço saber dos que esta minha Carta virem que: Aten' mendou' que fosse escolhido entre os irmãos ncrbres, exem-
dendo 0.0 que Me foi representado por parte do Governador pi lar em tudo. «Homem honrado, de autoridade, virtuoso, de
Civil do Distrito de Bragança, acerca da necessidade, e con' faoa fama muito humilde e paciente», «dada a. psicologia dos
veniência de dar um- Compromisso especial à Irmandade da. necessitados e as desvairadas condições dos homens com que
Santa Casa .ád Misericórdia, da mesma cidade, no qual se de- há-de usar e praticar» (14). «O Provedor será sempre um ho-
finüïn os direitos, e obrigações dos respectivos Irmãos, e se mem fidalgo, de autoridade, prudência, virtude, reputação e
estabeleçam as regras necessárias para o bom governo, e ad' idade, de maneira que os outros irmãos o possam reconhecer
niinistração daquele piedoso Instituto, em harmonia, com as por cabeça,e lhe ofaedeçamcom mais facilidade e, ainda que
Leis, Regulamentos, e necessidades actuais; e tornando em por todas as sobreditas partes o mereça, não poderá ser elei'
consideração o projecto que elaborara a Comissão Adminis' to de menos idade de 40 anos. Será muito sofrido pelas dês'
trativa da mesma Santa. Casa, e que sendo discutido pela Ir- vairadas condições das pessoas iom que há-de tratar; e pes-
mandade, cbnvocada. para esse fim, fora aceito por ela: Hei soa desocupada para que se possa empregar nas ocupações de
por bem confirmar e aprovar o dito Compromisso, porque seu cargo com a frequêênciae cuidados necessários, e para
há-de reger-se d'ora, em diante a. I»mandade da Santa Casa. que tenha notícia conveniente não será eleito Provedor ne'
da Misericórdia de Bragança. : o qual contendo dezoito capí' rihum irmão no primeiro ano em que for recebido na Ir'
tulos e sessenta e seis artigos, baixa com esta Carta, e dela. mandado», pois terá de providenciar sobre a. substituiçãodos
faz parte, assina.do pelo Ministro e Secretário de Estado dos mesários, tirar informações soibre pessoas e negócios, dar pa'
Negócios-do Reino; e vai escrito em vinte e duas meias fo- recer sobre despesas, assinar certidões de presos e cartas de
lhas de papel selado, rubricadas pelo Conselheiro Oficial guia e presidir a. todas as sessões (15).
Maior Secretário Geral do Ministério do Reino, Joaquim José Todos os meses, ia acompanhado do escrivão visitar to'
Ferreira Pinto da Fonseca. Teles. Pelo que ordeno a todos os dos os presos, visitar todos os enfermos, doentes hospitaliza'
Tribunais, Autoridades e mais pessoas, a quem o conheci' dos e pobres envergonhados, com o fim de se informar e
mento desta Carta pertencer, que a cumpram e faça-m cum' verificar se faltava alguma cousa.
prir e guardar tão inteirdmente como nela se contém. Abaixo do Prcyvedor, havia o veador, ou Vice-Provedor,
Não pagou direitos de mercê nem de selo por não os que devia ser «pessoa de 'bem, caridosa, de 'bom zelo e sá'
haver. E por firmeza do que dito é, lhe mandei passar a ber» (16). Era o substituto do Provedor, na «maior parte dos
presente Carta., que vai por Mim assinada e selada com o seus impedimentos, incumbindo'lhe, especialmente, dirigir a
selo das Armas Reais. Dada no Paço das Necessidades aos organização das dietas iprescritas pelo médico, assistir às re-
oito de Julho de 1856. El Rei Pedro R... ». feições dos doentes das enfermarias». Além disso, era o fis'
A Mesa da Santa Casa é presidida pelo Provedor. À da-
ta da fundação das misericórdias, El-Rei Dom Manuel reco- 1(114) Fernando Correia - ob. ..ci.t. pág. 544.
1(15) Co-mpr. 1616, , pág. 9.
1(16) Fernando Correia - ob. cit. pág. 94!5.
92 93
cal geral de todos os serviços, visitando o refeitório e man' gios que dizem e documentam o régio interesse pelas miseri-
dando tocar a sineta às horas precisas<17>. córdias,privilégios cuja .execuçãose recomendou aos desem-
Cargo tão alto e de tanta responsabilidade como era, e bargadores, corregedores, juizes e justiças e mais autoridades
é, a direcção da Santo Casa da Misericórdia, sob o padroado porque o Rei entendia estarem todos obrigados a cumprir as
régio, teve de El-<Rei Dom Manuel, em 15 de Novembro de Obras de Misericórdia <18).

1516, uma carta de extraordinários privilégio. s que são, em Compreende-se agora poïque os grandes nomes das fa-
verdade, a gl.orifka.çâodesta instituiçãoque meÏhor, nem .tio mílias fidalgas desta cidade se enfeitaram e honraram com o
'boa se encontra nos países de notória assistência social, e, título de Provedor da Santa Casa. Por tíla, através de 425
por consequência, honrosíssimos para os que lhe tornavam
. anos de existência,passaram os Figueiredos, os Pimenteis, os
a presidência. Sarmentos, os Ferreiras, os Nóbregas, os Morais, os Colmiei-
Tanto os provedores como o;s mesários eram dispensa- ros, os Madureiras, os AIbuquerques, os Louzadas, os Sepul-
dos, durante o ano da sua. gerência, de exercer cargos e ofí- vedas, os Vales e Sousa, os IPinto de Avelar, e outros e ou-
cios do concelho. As suas casas não podiam ser tornadas pa' tros onde se vêm afaades e priores, mestres de cdmpo e pro-
m nelas .pousar, fosse quem fosse. Estavam isentos de pagar fessc-s da Ordem de Cristo, corregedores e capitaes-mores,
impostos, quer reais, quer municipais, . e até de fornecer rou- governadores e capitães de cavalos, fidalgos da casa real e
pás de cama 'para aposentadorias contra sua vontade. Eram brigadeifos, tenentes generais dos exércitos e altas patentes
despachados imedia.tame.nte pêlos almotaceis e camiceiros na na reforma, e até houve um bispo - Dom 'Frei Joséde Len-
compra de carne para doentes e presos. A Misericórdia tinha castre - que deu à Santa Casa o prestígio da sua mitra.
quatro quintos dos objectos apreendidos. Havia para eles to- Não obstante tantos privilégios, nem sempre foi de
das as facilidades. Os presos, por sua intercessão, podiam ir grande interesse o ambiente da Misericórdia. No ano de
para o degredo do ultra-mar sem pagar as dívidas de custas. I754> não havia quem quisesse servir a Santa Casa, razão
A seu pedido, os corregedores tinham de ir, de 15 em 15 pela qual o Rei Dom Joséil mandou com a data de 5 de Ju-
dias, 'fazer audiênciaà cadeia e os juizes todos os 8 dias, ti- ü!ho esta carta:
rando o carcereiro as cadeias aos presos para mais livremente «Por várias -repi vsentações que se me têm feito, me

requererem a sua justiça. Primeiro a ser ouvido em todas as constou, que de tempos a. esta parte não haviaquem quises-
audiências era o procurador da Misericórdia. ,Só a Misericór- se servir na Mesa dessa Misericórdia; e que os bens e ren'
dia .podia fazer peditórios a favor dos presos, entrevados e das tinham padecido gravíssimo detrimento e 'diminuição,
envergonhados. Só os oficiais da Misericórdia . estavam dis- faltando'se por esta causa ao cumprimento dos seus encar-
pensados de se incorporar, contra vontade, em procissões, or' gos e obrigações; e desejando atalhar estes inconvenientes
ganizadas pêlos vereadores, 'juizes e oficiais. E outros privilé- com a eleição de Pessoas de quem espero conforme a con-

(i 7) Idem - pág. 5.42. (i8) láem-pág. 577.


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fiança que delas faço, que com toda a satisfação servirão os riscou dois irmãos por não comparecerem apesar de admoes-
seus empregos, restituindo d Casa .da dita Misericórdia ao seu tados. Os irmãos riscados recorrera-m ao Governador Civil
antigo esiado, assim no Espiritual como no Temporal. que ordenou à Mesa fizesse nova votação. A Mesa reuniu-se
aHei por bem como Protector que sou da dita Miseri- a io de Julho, a decisãofoi confirmada por maioria de vo-
córdia nomear para Provedor dela, Francisco Xavier da Vet- tos, e demitiu-se. Então o Governador, a 29 de Julho, deu
ga Cabral (seguem os nomes dos outros mesârios) sem em' posse, por meio do administrador do concelho, a uma comis-
bargo do dito nomeado não ser actualmente irmão da A- são de que era presidente o P. Manuel Nunes de Matos <z»).
ta Casa.; para o que hei por dispensados os seus Estatutos por Implantada a República, o Governador Civil demitiu a
esta vez somente. Pelo que lereis esta Carta, e metereis de Mesa da Santa Casa de
que era Provedor o Eng. Olímpio
posse de seus cargos aos sugeitos acima nomeados, abe nova. Artur de Oliveira Dias, e nomeou uma comissão, tendo-co-
ordem minha. Escrita em Lisboaa 5 de Junho de 1754».' mo Presidente o Dr. António Manuel Santiago. Foi isto no
Francisco Xavier da Veiga Cabral era comendador da ano de 1911. Depois, a 23 de Outubro de 1918, o Governa-
Ordem de Cristo, das .comendas de Santa Maria de Bragança» dor Civil também demitiu a Mesa de que era Provedor o
de ,S. Romao de Baçal, de Nossa Senliora da Assunção de Dr. Artur Lopes Cardoso, é nomeou uma comissão soifa a
Deilao, e de S. Bartolomeu de Rabal, e era tamibém Tenente pr.esidênciado Dr. Eduardo Ernesto Faria. Logono ano se-
General das Armas de Trás-os-Montes, e pai do Bispo de guinte (1919) este é demitido, e nomeado o Eng. Olímpio
Bragança e Miranda, Dom António Luís da Veiga Cabral e Artur de Oliveira Dias para presidir a uma comissão admi/
Câmara, homem da mais requintada fídalguia. nistrativa.

No 'Compromisso, aprovado e sancionado pelo Rei Dom Desde 1930 não houve mais Mesa da Santa Casa, eleita
Pedro, já se não. exige, nem a limpeza de sangue, nem a lim- pêlos irmãos.
peza de mãos, nem carta genealógica para o cargo de Prove' De 1930-1936, foi Presidente o Dr. Manuel de Jesus
dor. Basta que seja sempre uma pessoa que, por sua hafaili' Fernandes léorres.
dade, prudência, virtude, zelo e posição na sociedade, se tor- De 1936. 1933, foi o Capitão JoséLuís da Cruz.
digno deste cargo, irmãos, conhecendo
ne e a quem os rei seus.
De I943-I944. foi o Capitão José Luís Ferreira.
merecimentos, respeitem e tenham como chefe, não devendo De 1944-1945, foi o Dr. Luís António Rodrigues.
.

ter menos de 30 anos de idade (19>. De 1945-1946, foi José António Guerra.
Uma outra vez a nomeação do Provedor pela autori- De 1946. 1947, Tenente António dos Santos Subtil.
dade, foi a 29 de Julho de 1853, 99 anos depois da nomea- De 1947-1948, foi o Dr. Afonso Henriques LeitãoBan-
.

cãode El-Rei Dom José.Foi o casoque a Mesa do 1852-1853 deira,logo^epoissubstituído peloTenenteAntónioAugusto


da qual era Provedor Joaquim Antóniode Carvalho e Castro^ Cordeiro r21>.

<2o) Acórdãos, 1832, foi. 61.


(19) Compr. de 1856.
<zi) Conesp. 1884-1929- Acteí, 1907-1919, foi. 128, 133
96
Regista-se aqui este confronto impressionante e descon-
certante: a Santa Casa, durante 393 anos de existência, ape-
nas teve 2 comissões administrativas e desde 1911 até hoje^
em 36 anos portanto, teve o governo de io comissões.
Não é esta, decerto, a vontade do Governo. A 11 de
Outubro de 1944» o Subsecretáno da Assistência ordenou CAPÍTULO V,I
que, no prazo de 6o dias, se procedesse à tíleiçâo de nova.
Mesa. Em face desta ordem a comissão administrativa pe-
diu ao Governador Civil a sua demissão colecüva (22), e ,de- O velho hospital
pois o Subsecretário da Assistência, a 6 de Dezembro ime' Roupas da Santo Casa - O número de leitos - Luz, cozinha
diato, autorizou a prorrogação do prazo pelo tempo que se e água - Material médico e mobiliário - O serviço sanitário
julgasse conveniente para a comissãoprocederà eleição. Ampliação da enfermaria dos homens, e enfermaria das mulheres
- Uma carta do Rei Dom Luís - O hospitaleiro e seus proventos.

O velho ho.spital, com a igreja e a casa do despacho,


tem uma área de 991 metros quadrados, e, em 1911, foi
avaliado em 5 ou 6 contos de réis aproximadamente (1). Mas
ele não possuía esta superfície quando, em 1518, se insta-
lou na casa da confraria do Espírito Santo. Esta casa tinha
o espaçocorrespondente à largura das três janelas de canta/
ria que dão para a Rua do Marquês de Pombal. Que as flu-
trás duas de argamassa foram feitas, séculos mais tarde. A
parede das três janelas era o limite de um dos lados do adro
da (Madalena, ihoje quintal da Santa Casa. Este largo foi ta-
pado por um muro que, em 1667, custou 800 réis e dava
para a Rua do Marquês que, ao tempo, tinha o nome de Lar-
go do Terreiro, muro de tão .pouca soÍidês que dali a dez
ano.s, 1677, houve de ser reparado, no que se gastaram 500
reis.

O velho hospital não pode ser julgado pelo critériomo'


demo. Tem de ser visto à luz da. mentalidade do tempo, no
1(22) Actos, 17, foi. 57. .
(i) Actas, 1907-1919, foi. 63.
98 99
qual o hospital era o .recurso extremo dos miseráveis, dos tores muito velhos <2> a indicar que no hospital apenas havia
que não tinham uma mansarda para abrigo, nem uma alma lugar para três doentes. Mas no inventário de 1852, o rol da
que na. doença lhe chegasse uma coÍher de tisana e uma tl' roupa exprime a existência de 6 doentes pois regista 6 en'
gela de caldo. Depois .é preciso .considerar a magresa da po- xergõesde estopa e roupa que no ano anteriorhavia custado
pulaçâo e os limites da cidade, pois no final do século XVI 26. 180 réis <3).
o limite era a casa do Arco da Rua Direita. Para três ou Nos anos seguintes o enxoval aumenta. Compram-se
quatro pobres miseráveis, a .Santa Casa tinha albrigo que faas' chitas e panos crus, cobertas de linho e CQbertas de la, tra-
tasse. Para os outros, os que gemiam e sofriam nas suas ca- vesseiros e frorihas, toalhas e guardanapos a dizer de maior
sãs, não 'escasseava a Misericórdia. De resto, num tempo em frequência de doentes e de maior interesse por eles, desde
que a <ior tinha um sentido moral e servia de vínculo a aper- o ano de 1856 ao ano de 1891, porque, neste ano, há ver-
Ur velhos afectos, o hospital inspirava horror sobretudo pela bas, como esta: 12 mantas e 4 cobertores, 34. 000 .réis (4)..Foi,
solidão do sofrimento. A caridade da Misericórdia era prin-, neste mesmo ano, que, em varas de estopa para toalhas,.em
cipalmente a domicílio, e tinha. largo exercício nas obras de linho para lençóis, em riscado para travesseiros, em cober-
misericórdia espirituais. Assim, com estas ideias preliminares, tores de la, em mantas e guardanapos, a despesa foi de 58.840
estáfacilitada a compreensãoda natureza do velho hospital. réis. Um pouco menor do que, no ano seguinte, na compra
Diga-se ainda que neste tempo, para cá da casa do Arco, es' de 24 mantas e 12 peças de pano cru pelo preço de 80.000
palhados por um terreno inculto, existiam isolados: a Santa réis, e do que, em 1909, na aquisição de roupa de cama na
Ca'sa, o Colégio do Santíssimo Nome de Jesus e, lá muito qualsedispendeu95.000, revelando maiorpopulaçãohospita-
distante, a ermida de Nossa Serihora do 'Loreto com um gru- lar <5>.
po de casinfhas em redor. E, no entanto, quando Dom Frei A aquisição da roupa acompanha o número dos leitos-
Bartolomeu dos Mártires passou por aqui a caminho da Estes, no 'inventário de 1783, eram 3 barras, cada uma com
fronteira de Quintanilha, em direcção da cidade de Trento, 4 tábuas. Estas acham'se, no inventário de 1853, substituí/
achou a cidade de Bragança «.amplíssima», pois é de con' das por 6 barras com pés de ferro que, em 1858, foram re-
siderar que, naquele tempo, a população de Portugal não novadas por 12 que custaram 56.320 réis.Em i9o'2, os leitos
ia. alem de dois milhões e quinhentos mil habitantes. de ferro já eram 14 <6).
Com tudo isto, não é de estranihar nem a pequenez do ,
E a luz? Como seria a luz da Santa Casa? Nos primei'
hospital, .nem a escassez dos seus recursos. E ver'se-á isto
.

ros tempos, a luz era de azeite. Em 1667, compraram-se 2


ao longo destas páginas.
Em 1667, compraram-se 22 varas de linho para 5 len- (s) 1783, inventário.
çóis que custaram 2.350 réis. Nova .roupa se comprou, em (3) 1845, foi. 39, 43 - 1852, inventário,. Ifol. i.
'(4) Idem, foi. 84 - C. Corr. 1834, foi. '6;, 83, 104, 114.
1676, com o legado de 20.000 réu que deixara Francisco .

(5) Corresp. 1884-1929.


Colmieiro de Morais. Em 1783, o inventário acusa 3 caber' <6) 1852, inventário, foi. 3 - C. Corr. 1854, foi. 25, - 1845,
foi. 71.
100 101
lanternas d'e folha de 'Flandres que custaram 1.200 réis, sen- teve o luxo de uma banca de lousa cuja instalação importou
do a luz a mesma em 1852, ano em que se compraram duas em 17.860 réis.
candeias novas <7). De ipetróleo era a luz, no ano de 1892, Não fossem estas miudezas de grande importância his-
porque se compraram 2 chaminés e torcida para os candiei- tónca, e não teria eu torturado os miolos nas suas pesquisas.
.
ros por 260 réis.Eramcandieirosde lata, pintados no ano de Não só 'nos fornecem um pouco do panorama económico do
1898. Em Junho de 1905, o petróleo foi suibstituído pela luz tempo, como nos dizem, com a linguagem eloquente dos al-
a^etílene cup instalação custou 30.000 réis, por ser mais eco' garismos, o estado da Santa Casa no decorrer dos tempos.
nómica e de melhores resultados <8). Depois, em Maio de Acode uma pergunta: , e água? Ainda hoje existe um
1929» a instalação da luz eléctrica custou 1. 140 escudos. poço no pátio do hospital que a fornecia. Em 1675 lhe pu-
Entre-se agora na cozinha, no ano de 1676. Sobre o lu' seram duas pedras de granito que custaram 600 réis, e em
me dois caldei.rôes áe cobre, sobre uma mesa, pratos e copos 1848 l(he concertaram as portas por 3.440 .réisque novos pre-
de estanho de mistura com outros de lata (9). Entre'se agora, gos receberam, em 1860, por 280 réis. ipoi neste ano que
em 1852. À parte as caldeiras de cobre, um tacho de metal teve um balde novo e nova corda por 640 réis<13>. Uma
amarelo e 7 garfos de iferro, tudo é de lata: copos, bules, cho- bomba se assentou em 1864 por 8.700 réis. Mas parece não
colateiras, tigelas, pratos, colheres, panelas, e almotoíias (10). ter dado resultado porque,em 1891, se lhe pôsuma roldana
O império da lata continua pêlos ano.s fora, no meio de al- de ferro pelo preço de quatro tostões. Mas, a 28 de Feverei-
guns utensílios de (ferro, como três potes e seis garfos (11). O ro de 1935, fez-se concerto nas torneiras, .o que indica água
lar: à velha maneira é suibstituído, em 1867, por um fogão encanada no hospitalW>.
que custou 4.980 ipéis.Em 1893, a cozinha sofre uma refor- Ainda outra pergunta: como seria o material médico
.

ma. Na obra, com .estuques e armários, gastam-se 70.000 no ano de 1852? Pelo inventário deste ano averigua-se que
réis, e-.-com sobradar e forrar o baixo da entrada, argamassar tin'ha 4 ventosas, i 'balsemeiro, 2 garrafas para remédios, 2
deliso e fazer para ele uma porta de viáraça, d despesa foi de facaspara os mesmos, i seringa e um par de muletas de pau.
99'ooo réis ^12^ Neste ano foi preciso aposentar o fogão de Em 1860, as ventosas já eram 8, e, em 1898, já existia uma
1867, comprar outro de ferro pelo preço de 31.000 réis e estante para arrecadar reniédios'que custou 16.090 néis(15>.
substituir a louça d'e lata 'pela de cerâmica,dando-se por duas Bacia e gomil de estanho. existiam desde longuíssima
tigelas e três pratos 150 réis. Mais tarde, em 1913, a cozinha data <16> substituídos em 1856 por outros de lata que custa-
ram 560 réis <17> e em 1890 por outros de ferro estanhado
cujo custo foi de 580 réis. Em 1892 compraram-se 3 lavató-
1(7) Idem, foi. 3.
1(8) Actos, 1903, foi. 21 v. i(i3) 1845, foi. 16 - C. Corr. 1834. ,fol. 3.5.
(g) 1679, foi. 6 v. - 1845, foi. 8. (14) C. Corr. 1924, foi. 199.
i(io) 1852, inventario, foi. 3 - C. Corr lï 4, foi. 25. < 15) 1852, inventário, foi. 3, 115.
(ii) IC. Corr. 1854, foi. 67, 75.
. '(i6) Idem, idem.
<i2) Actas, 1884, foi. 88, Sc. ;(i7) 1845, foi. 84.
102 103
rios de ferro com seus pertences por 3. 200 réis, e mais 2, em ameaçava ruína. 'Urgente repará-la. Resultado foi que a
1898» por 2.990. E para banhos dos doentes? Tinha o hos' pesa de aparência somenos subiu a 432. 000 réis. Mas a obra
.

pitai um caixão para banhos de pernas, comprado em 1852 nãoficou defínitiva. Dali a dez anos, em 1868, a Santa Casa.
por 2.660 réis. Só, em 1865, se adquiriu uma banheira por gastou mais 80.000 réis para meter debaixo da varanda uma
2.400 réis, e, em 1881, uma tina para banhos dos enfermos trave nova para segurança, para altear e sobradar o soalho,
pelo preço de i2.02'2 réis. Em 1894 o hospital tinha o luxo para lhe concertar o forro e para forrar e telhar o quarto e
de ibanheira de chuva que havia custado 4. 500 réis a8 ).
uma cozinha próximos <22).
Um altar de damasco branco dominado por um Cruci- Para maior comodidade dos doentes, em 24 de Março
(fixo, ladeado pelas imagens de Nossa Senhora e SãoRoque» de 1865, pretendeu a Mesa da Santa Casa aumentar o hospi-
estava ao fundo da enfermaria em 1852 (19) e neste mesmo tal com uma enfermaria onde se pudessem recolher os afec-
ano viam-se uma mesa, 3 mesas de cabeceira, 6 escarradei- tados de moléstias contagiosas, devendo ser construída nos
rãs e i comadre de chumbo <19). Depois, em 1860, era de 9 baixos que serviam de acomodação» daí arrematar-se, a 3 de
o número de mesinhas de cabeceira, e em 1889 já se via um Abril imediato, por 98.680 réis, a enfermaria da casa da tu'
relógio de sala, oferta do bragançano Silvino de Morais, re- i.ha, abertura de um portal de comunicação do pátio com a
sidente no Rio de Janeiro. Em 1891 o número de bacios era actual Rua Marquês de Pomibal e fazer a parede do quintal
de 6, e os quadros das papeletas eram 12. O número de ba' que ficou mais estreito. Realizada a obra, a Mesa, a 30 de
cios subiu a 8, em 1898. Que, em 1902, havia 2 comadres e Junho de 1866, achou que o 'hospital podia receber 5 ou 6
li mesinfaas de cabeceira (zo). doentes por maior capacidade do edifício <23>.
E o serviço sanitário? Calcula-se como seria no sécu' Se em 1866 a enfermaria dos homens satisfazia as aspi'
lo XVI, e nos seguintes até ao princípio do século XIX. rações da Mesa, o mesmo não sucedeu com a .Mesa de 1904.
Neste a latrina tinha um cano de exgoto cujo concerto 'cus- Entendeu ampliá-la de modo a poder abrigar 14 doentes,
tou 13.910 réis, no ano de 1866 no qual se fez a.comunica' valendo'se do prestígio do Consellheiro Abílio Beca que do
cãocom o cano geral por 18.000 réis.'Em 1898, compraram' Ministro do Reino, Conselheiro Híntze Ribeiro, obteve o suib-
'se 4 cifoes e as respectivas bacias que, logo no ano seguinte, sídio de 600. 000 réis, sendo a obra arrematada por Agosti'
foram reconstruídos, e em 1906 tiveram ligação com o cano nho Paulino Pires ;por 565.000 réis, comprometendo-se a dá-
condutor da Rua Marquês de Pombal, e em 1909 foi insta' -la pronta no prazo de 6o dias <24). Grande foi a festa da
lado por 8. 170 réis um ourinol no pátio do hospital <21). inauguração no dia 11 de Juniho de 1905, ficando a enfer-
Em 1858 a varanda à volta do pátio estava podre e
1(22) C. Corr. 1854, foi. 25, 35 - L. áe arrematações, 1864,
;(i8) Idem - Ifol. 43, 77 - 1852, inuentário, ifol. 3. .

(23) L. de arrematações, 1864, foi. 4 v - Co^tWor, 1888, n.


i(i9) 1852, inventário, foi. 3. 34.
,(20) Idem, foi. 115 - Actas, 1884, foi. 27 v. (24) Abade de Baçal - ob. cit. vol. 2, pág. 290 - Corresp.
1(21) C. Corr. i907-,igi5. I&84--I929 - Actas, 1903, foi. 1.6 v.
104 105
maria ampliada com o nome de «Conselheiro Abílio Be- Clara, avaliado em 260.000 réis e de que a Irmandade já. era.
ca» (25); senhoria directa; a qual doaçãolhe foi feita, em escritura pú'
O pátiofoi empedrado em Junhode 1868 por 6.000 réis. blica, pela comissão promotora dum ba^ar de prendas, sendo
A porta nova, feita e posta, em Janeirode 1892, no lado da por ela adquirida, com o produto do dito ba^ar; e tendo em
Rua Marquês de Pombal, custou 3.500 réis, bem menos que vista a informação do Governador Civil do Distrito e o pa-
o portão de ferro 'feito em 1901 que custou 10. 000 réis. FOL recsr do Ajudante do Procurador Gemi da Coroa, junto do
neste ano que, por 121.000 réis, se arrematou a obra de pe- Ministério do Reino - com qae me conformo - Hei por
dreiro na parte relativa ao portao. jáa entrada para o hospi' bem autorizar a supradita Irmandade a aceitar a doação de
tal, paredes, calçada do corredor e cano para as águas plu- que se trata, observando^se o disposto nalei de 22 de Junho
.
viais <26). de 1866, e mais obrigaçõesem vigor.
No ano 1868, a Mesa da Santa Casa de que era Prove' uPelo que ordeno às Autoridades e tnais pessoas a quem
dor Francisco Eugênio de Sousa Barras, achou que o hospi- o conhecimento destaCartapertencer que, indo por mim as'
tal estava bem pelo que respeitava à enferinaria dos homens» sinada, e selada com o selo das armas reais, a .cumpram e
Era urgente fazer uma enfermaria para mulheres, valendo'se guardem como nela se contém. - Pagou-se de direitos de
de uma .casa, comprada a D. Maria do Carmo de Babe, com. mercê ,e imposto de viação a quantia- de 8.580 réu, como
o produto de um grande bazar que em Bragança foi feito por constou dum conhecimento em forma, passado na estação
uma comissão a que presidiu o Dr. Joaquim 'Guilherme Car- competente, em data de 12 do corrente. Dada no Paço de
doso de Sá. Esta casa foi demolida e, no seu lugar, foi re- Belém, aos 15 de Fevereiro de 1863. El^Rei» (27>.
construída a casa em que está a sala das sessões, em cima, & Com esta doaçãoe com os recursos para obras novas, o
a secretaria da Santa Casa, no rez do chão. Padre Doutor José António Franco, autor do Compromisso
Para a Santa Casa aceitar a doação, foi pedida e conce^ de. 1877, pôdededicar-lheum capítulo «DoMaterialdo Hos-
dida autorização do Rei Dom Luís, em 15 de 'Fevereiro d& pitai», que, em seis artigos, garante alegremente: enferma-
1869» e nestes termos: rias separadas para homens» para mulheres, para doentes de
«Dom Luís, por graça de Deus Rei de Portugal e dos Al- moléstias sifílíticas e para os presos civis, e quartos para par-
garves, . eíc. ticulares que quisessem tratar-se à sua custa. As enfermarias
«Fflço saber aos que esta minha Carta virem que áíen- haviam de ser espaçosas, ventiladas e nas condições higiéni-
dendo ao que m-e representou a. Irmandade da. Misericórdia cãs prescritas pela ciência. As mesas futuras votariam dois
.
de Bragança, pedindo licença para aceitar a doação do 4o- terços das sobras dos rendimentos anuais até construir e re-
mlnio útil duma morad. a. de casas, sitas na Rua de Santa formar as enferinarias necessárias, e promoveriam, por todos
os meios ao seu alcance, subscrições,donativos e esmolas com
1(25) Abade de Baçal - ab. cit. vol. 2, 'pág. 291 - Actas, 1903,
. foi. 24 v. <27) L- áe flrreniditóyoes, 1864, foi. 8 v, 9 'v - C. 'Corr. 1854,
(26) Actas, 1884, foi. 173 v. foi. 95 - Tombo ïl, foi. 135 v.
106 107
aplicação às obras (28). Um lindo sonho, uma espécie de cál- tinham a lista da Mesa, a lista dos benfeitores, a conta cor-
culos â Mofina Mendes que a Mesa da provedoria do Co' rente de cada ano e o movimento dos doentes no hospi-
nego João Evangelista Vergueiro procurou reaLizar em 19 tal <32>. Depois, em 1876, a sala do despacho ijá tinlia 12 ca-
de Janeiro de 1879, com a arrematação feita por José Joa- deiras que foram concertadas em 1892 <B).
quim de Morais Cerdeiro, comprometendo-se este, por A ideia de hospital trás consigo a ideia de hospitaleiro.
479-500 rl els> a demolir e reconstruir a parte do edifício da O ho&pitaleiro era quem cuidava das roupas e da limpe-
Santa Casa, expropriada por -Utilidade públii ca, e a mudança. 2a do hospital e da igreja, o fiscal dos enfermeiros, pois «na
do sino para um campanário sobre a porta da entrada que limpeza da casa consiste e muito a saúde dos doentes». De-
dava para a Rua do Terreiro <29). A obra do baixo da casa» via ser «zeloso de todo o bem», manso de maneiras, homem
onde está hoje a secretaria da Misericórdia, fez-se em De- de responsaJbilidade (34).
zembro de 1893 pelo preço de 185.200 réis. O hospitaleiro tiriha de ordenado anual 2.400 réis e
A enfermaria das mulheres, preconizada pelo Compro- duas patacas por mês que, ao fim de cada ano, lhe rendiam
misso de 1877, iniciou-se em Julho de 1894, foi suspensa em 5. 16o réis. Além disto a Santa Casa dava-lhe, para fornecer
Março de 1897 por se não ter pedido licença às autoridades, o vinho das missas, a quantia de 2.880 réis.
e terminada em 1900 (30). Muito interessante a renda do hospitaleiro no ano de
Foi em Novembro de 1910 que, por 3. 340 réis, se puse' i668. Tinha 200 réis mensais de ordenado; tinha para sus-
ram quatro grades nas 'janelas do hospital; e foi, no seguinte, tento 480 réis por mês; tinha uma quarta de sal, e 50 réis
em Maio de 1911, que se pôs, por 1.970 réis uma grade na <ie ajuda pêlos peditórios das feiras a favor da Misericórdia.
janela da enfermaria-prisao. Para azeite da lâmpada, recebia io quartilihos por ano; para
No primeiro andar da casa nova, ao lado da capela do hóstias, recebia 40 alqueires de trigo <35).
Senhor dos Passos, instalou-se a sala do despacho com o Em 1675, as rendas do 'hospitaleiro foram aumentadas,
mobiliário, já existente em 1860, avaliado ao tempo em assim: por cada ofício celebrado na igreja, 8o réis; por cada
28. 380 réis, com as seguintes peças: uma secretária de no' enterro da Casa, 20 .réis; pelas festasdo Espírito Santo, Visi-
gueira, uma cadeira de braços, forrada de damasco roxo, seis taçâo de Nossa Senihora e iSanta Maria Madalena, 100 réis
cadeiras de palhinha, uma papeleira a servir de arquivo, uma por cada uma. Além disto, recebeu na Quaresma 4 arrateis
mesa com capa de oleado lavrado, um carim'bo com as ar' de bacalhau, 4 quartilhos de azeite e uma quarta de grãos.
mas da Santa Casa, dois ferros de marcar a roupa, e uma lata O hospitaleiro era casado e vivia com a mulher no hos-
fechada para miudezas. A gente pasma e não acredita nestes pitai, e morreu em 1679. A mulher pediu, e obteve, para fí-
preços (32). Em 1865 se via adornada com 4 quadros que con-
.
(28) Compromisso de 1877, foi. 31. .

(32) Idem, foi. 124.


.
(29) L. de arrematações, 1864, foi. 14. .
(33) L. de arrematações, foi. 13 v.
;(3o) Actas, 1884, ifol. 124 v - C. Corr. i894'igo7, foi. i. <34) Fernando Correia. - db. CÍL., pág. 540, 545.
1(31) 1852, inventário, foi. 102. <35) 1669, Ifol. 20 - 1671, foi. 21.
108 109
car no lugar do marido, com a condição de conseguir um hospital, a ampliação, projectada e deliberada pela Mesa de
homem, capaz de servir a Santa Casa nos actos públicos, de que era (Provedor o Dr. Francisco José Martins Morgado.
portas adentro e fora da igreja, com a remuneração 'própria- Desde 1926 a 1935, as mesas não têm desamparado a
dos mesmos serviços <36). Mas a hospitaleira, a 28 de Outu- igreja e o velho hospital. Em 0'bras de reparação e pintura
bro de 1681,fez ciente a Mesa de que, após 25 anos de e mobília, já dispenderam 6.996, 77 escudos (39).
serviço, se achava velha e impossibilitada de poder servir»
Que lhe dessem, por caridade, um quarto onde vivesse. A
Mesa deu-lhe o quarto junto da tul.ha com iporta para o
adro, e consignou num acórdão,o pedido aos futuros prove-
dores de continuar a caridade. Demais, o seu marido deixara
o que tinha à Santa Casa. Depois a Mesa procurou um ho'
mem «suficiente, cristão velho, de bons costumes porque as-
sim acudiria melhor a .suas obrigações». E escolheu João Fer'
nandes e sua mulher.
Rasto do Ihos.pitaleiro, ainda o encontrei, em 1711. Mas
com o ordenado anual de 13.000 réis.
Construído o hospital novo no iPicadouro, uma. impor-
tante casa bancária do país, creio ter sido o Banco de Portu'
ga'l,desejou adquirir, por meio de compra, o edifício do velho
'hospital e a cedência do terreno ocupado pela igreja, coin
obrigaçãode reconstruir a igreja tal qual ela é. Convocou-se
a junta geral dos irmãos, para, em assembleia extraordinária
de 24 de Juriho de 1921, se manifestar sobre o assunto <37).
Era uma ideia aproveitável, e, por isso mesmo, não se apro'
veitou. Resoli veu-se arrendar todos os compartimentos dis'
pensáveis; mas a 28 de Outubro de 1922, mudou'se de
luçao: aproveitá-lo novamente enquanto se fazia, no novo

1(36) 1679, foi. 21.


1(37) Actas - 1919-1932, foi. 20.
(38) Idem, foi. 26. (39) Idem- C. Corr. 1924, fo!. 33, 85, gç, 175 Actas,
n. 16, foi. 49 v.
.
CAPITULO V,M

Oficiais da Santa Casa

Dos direitos e deveres do enfermeiro - Um desafio de preços


- A enfermeira: com direitos iguais - O administrador do hospital
- O campainha - O que ele fazia e como fazia - Uma lei que
não foi revogada - Pede-se, em nome . da lei, o campainha.

Já se 'viu que o Provedor é o verdadeiro chefe da Santa


Casa. Também já se viu que o veador, ou vice'pravedor, era
o seu substituto. Mas havia actos que só o Provedor podia
praticar, como eram os que dissessem respeito a arrendamen'
tos e aforamentos de bens, propriedades e coisas do hospital,
e também a suspensão de oficiais. «A unidade de comando,
de critério e acção, era assegurada pelo Provedor» W. O al-
moxarifado nada podia comprar por 'grosso, sem ser na sua
presença. Vigiava o serviço da dispensa e da. cozinha, para
que a alimentação dos doentes nunca .fosse prejudicada.
Ora os oficiais da Santa Casa, sob a directa dependência
do Provedor, eram o almoxarife, o dispenseiro, os enfermei-
ros, o 'cozinheiro e os serventes, dos quais era da maior im-
porfância o campainha.
Na Santa Casa de Bragança, almoxarife e dispsnseiro
eram uma e a mesma cousa. E depois os dois cargos funái-
ram'se no cargo de enfermeiro. É que o ho.spital bragan-
cano, pela poibreza .dos seus recursos e pelo número das pés'
1(1) Fernando Correia - ob. cit. - pág, 540.
112 113
soas ihospitalizadas, não coniportava tantos oficiais, como en- '.dio do carvão que foi de 1.200 réis, e do azeite que passou
tão se dizia. Como dispenseiro comprava, retinha e distribuía a ser de canada e meia <7>.
o necessário ao coziniheiro; e como enfermeiro titíha, a seu Para enfermeiro ou enfermeira, escother-se-á, diz o
cargo, vigiar e cuidar dos doentes, administrar'lhes os remé- Compromisso de 1856, pessoa de reconhecida caridade, amor
.

dios, organizar as dietas, lavar os doentes, mudar-lhes a rou' do próximo, fidelidade, e que em tudo seja apta para exer-
pa, varrer e limpar as enfermarias, amortalhar os defuntos e cer o seu mister que demanda o maior carinho e devoção (8).
dispor os cadáveres na casa mortuária para se proceder ao en- Neste ano, deu-,se 'ao enfermeiro 3.000 réismensais, e no ano
terro (2). Está-sea. ver que o enfermeiro tiriha de ser homem -seguinte, 1857, por causa do aumento dos preços, deu-se-lhe
caridoso e de ho.i condição, trabalhando, mais «para servir a ;a .gratificação de 1.800 réis<9).
Nosso Senhor que por esperar outro algum interesse» (3). E como os preços têm subido sempre, o ordenado do en-
Presumoque, na SantaCasa de Bragança,o cargo de en- ïermeiro tem subido também. Se em 1860 garihava 4.000
fermeiro era acumuladocom o cargo de hospitaleiro. Primei' réis mensais, em 1861 recebia 5.000 réis, em 1863 ó.ooo com
ro popque em documentos do século XVI não encontrei alu- os competentes 30 alqueires de pão, propina que senrpre te-
soes à função de enfermeiro, e segundo porque noutros do vê desde antigos tempos'10). Propinas que recebeu até ao
séculoXIX não se alude ao cargo de hospitaleiro. Num açor' ano de 1877, juntamente com o ordenado anual de 100. 000
dão de 9 de Março de 1835, vi que o enfermeiro teve au- reis (11).
mento de ordenado: aumento de 20 réis diários aos 40 réis O Compromisso de 1877 determina com mais clareza e
que já tinha, enquanto durasse a carestía do carvão (4). A precisão as obrigações do enferme. iro. Ele não deve ter me-
crise continuou. E a Mesa determinou que, além de 1.200 -nos de 30 anos, nem exceder os 41; ele não deve ter filhos,
réis «para carvão, recebesse 20 alqueires de centeio por ano, Tnenores de 25 anos, nem maiores de 55; ele deve ter saúde
4 quartilhos de azeite por mês para alumiar a erifermaria, e e róbustez, fcoa conduta religiosa, moral e civil; ele deve sa-
8 para a lâmpada do Santíssimo <5). ler ler, escrever e contar; ele deve ter alguns bens de seu
1844 'foi um ano mau para a Santa Casa.Resultado? Re' ou prestar caução pelo extravio dos objectos que lhe forem
gresso aos 1.200 réis mensais e ao consumo de carvão - 800 confiados, e morar no 'hospital onde tem casa e economia.
réis. Reclama o enfermeiro em 1845. Consequência? Aumen- Ele, o enfermeiro, 'é o res'ponsável administrador das enfer--
to mensal de 500 réis. Em 1851, o ordenado mensal era de -manas, a. quem incumbe: cumprir as ordens do médico no
i.Soo réis, e o subsídio para carvão era de 600 réis<6). Em exercício do serviço clínico; fazer aviar o .receituário e mi-
.

1853»o enfermeiro recebia por mês3.000 réis,alémdo subsí-


(7) Idem, foi. 55 v - 1845, foi. 58.
1(2) Idem - pág. 539. i(8) Compromisso de 1856.
<3) Idem-pag. 545. 1(3) Acórdãos, 1832, foi. 65 v.
1(4) Acórdãos- 1832, foi. 9 v. 1(10) C. Corr. 18514, foi. 34 - Acoráaos, x832, foi, 77, 8.3 v.
<5) Idem - foi. 12 v. C. Corr. 1854, foi. 53, 66.
.
(6) Idem - foi. 37, 39 47 - 1845, foi. 33. .

(li) C. Corr. 1854, foi. 83, 93, 113,


114 115
nistrar os remédios; acompanhar o médico na visita aos doen' na do hospital, ou o valor desta em dinheiro <17) que foi em
tes; receber os doentes e acomodá-los, depois de os mandar 1944 elevada à quantia de 500 escudos mensais <18),
lavar e limpar; inscrever-lhes os nomes, tomar conta do que O Compromisso de 1877 prevê a hipótese do .desenvol-
aos doentes-pertença; receber do mordomo os vales para os vimento do hospital e portanto a necessária nomeação de
géneros alimentícios; providenciar sobre as dietas; vigiar pe- ajudantes do enfermeiro (19). Ora um ajudante ]á existia em
lo silêncio das enfermarias; mandar chamar e auxiliar o me- 1920 tanto que o seu ordenado foi elevado a 18o escudos
dico nas operações e nos curativos do Banco; chamar o cape' anuais <20). Mas em 1940 o ordenado anual era de 960 escu-
lâo para confessar e sacramentar os doentes; fazer remover dos e em 1943 era de 1.080 escudos. Nas minhas dolorosas e
os cadáveres para a igreja ou para a casa mortuária; fome' morüificantes pesquisas cuja finalidade consiste em servir,
cer ao capelao os dados para os assentos de óbito; e repre' generosa e heròicamente, o publico, só encontrei o cargo de
sentar ao mordomo ou ao Provedor qualquer providênciaou enfermeira no ano de 1858, com o ordenadoanualde 50.400
medida que seja necessária 'para o bom serviço das enferma' réis, e a. gratificação de 38.400 no ano imediato. Depois,
rias <12\ Pek. velha razão da alta dos preços, o ordenado do desde 1885a 1905,vi subir o seu ordenadoa 95.800réisque
enfermeiro era, em 1894, de 108.000 réis anuais. Em 1897, o Ministro do Reino, a 13 áe .Março de 1906, fixou em
era de 144. 000. Em 1905, era de 154. 700. Em 1906, era de 100.000 <zl).
iSo.ooo. E em 1920, já era de 360 escudos (13). Mais tarde, a 4 de Junho de 1932, o Regulamento Ge-
Estabelece-se um desafio entre a alta dos preços e a as' ral da Santa Casa, legisla acerca dos deveres da enfermeira
censao do ordenado do enfermeiro. No entanto, o enfermei' e seus direitos. A enfermeira. ficou tendo iguais deveres aos
ro governava melhor a sua vida, em 1835, com 21. 600 réis, do erifermeiro, na. secçãode mulheres, desempenhando, den-
e 30 alqueíres de pão, do que no ano de 1922 a ganhar anual- tro dos seiis conhecimentos, o serviço de parteira, e auxi-
mente 900 escudos, e ao que no ano de 1923 com a renda liando a servente no arranjo das roupas <22>, ganhando, em
de 1. 200 escudos (14). 1943» i.4c)c>$oo escudos anuais, com quarto, cama e uma ra-
Mantém'seo mesmo ordenado anual atéao ano de 1931» cão diária da dieta ordinária do hospital <23>.
excepto gratificações que, em 1924, foram de 3 escudos men- Toda a a,ctividade dos oficiais da Santa Casa era supe-
sais e em 1935 foram de 30 (15). riormente vigiada e fiscalizada pelo Provedor, ou pelo seu
[De 150 escudos foi o ordenado, estabelecido em 1931 representante, nomeado mensalmente a quem se dava
que se manteve até ao ano de 1943 (16) mas com os seguin-
tes acréscimos: casa, água e luz, ração diária da dieta ordiná' (i 7) Reg. geral da S. Casa'- pág. 21.
1(18) Actas, foi. 17, foi. 40 v.
(12) Compromisso de 1877, ipág. 25, 37.
. (19) Compromisso de 1877, 'pág. 21.
1(13) Actas, 1884, foi. 130 - Actas, 1903, foi 33 v - Corvesp. <2o) Actos - 1919-1932, foi. ii v.
4-1929-Actas, 1919-1932, foi. 11. <2i) C. Corr. 185.4, foi. 25 - 323-Actas, iS 4, foi. 7 C.
1(14) Actas, 1919-1932, foi. 38, 42. Corr. 1884-1929 - Actas, 1903, foi. 33 v.
1(15) Idem, foi. 56. 1(22) Reg. geral da S. C. - pág. 18.
'(16) Actas, n. 16, foi. 13. (23) Idem - 'pág. 21-Actas, n. 16, foi. 13.
116 117
dos nomes: mordomo do hospital, visitador e administrador. Ser cozinheira de um hospital é serviço muito sério. Na'
A visita era e é diária, não só para examinar o que se fazia- tural que este cargo seja confiado a pessoa de confiança e
e como se fazia, mas também para providenciar quanto à. remunerado com certa generosidade. Em 1920, o ordenado
sua limpeza e decencia (Z4). mensal era io escudos. Em 1923 subiu a 25 escudos, e em
O novo Compromisso de 12 de Maio de 1877 recomen- 1930 a 6o, com direito a cama na enfermaria geral das mu-
da aomordomo que inspeccione o serviço da cozinha, vi' Iheres e a uma ração diária da dieta ordinária do hospital,
giandose ele sefaz com limpeza, fornecendocombustível pa- consoante o. prescrito pelo Regulamento Geral da Santa Casa
ra o mês, e vigiar se as dietas e as rações que se distribuem da JVIisericórdia,de 4 de Junho de 1932 (27).
aos doentes externos, são fielmente entregues, e também dar Pertencendo à categoria dos serventes, houve, desde o
conta ao Provedor de todas as irregularidades que observar
.

início da Santa Casa, um de enorme popularidade e de mui-


no serviço do hospital <25). tíssima utilidade. Ghamava'se o .campainha. O campainha
O cargo de administrador do 'hospital 'é de suma impor- era figura indispÊnsávelem todas as funções da. Misericórdia.
tância. Sem dúvida o de mais responsabilidade depois do- Ele ia à frente 'de todas as procissões, de todos os enterros,
Provedorque, na qualidadede enfermeiro-mor e chefe'supe- de todos os Viáticos, vestido de opa ou balandrau azul, a
rior da Santa Casa, é obrigado a exercer suprema inspecção- soar a campainha que, em 1679, custou 40 réis e em 1926
sobre todos os sectores da. sua vida administrativa, que o custou io escudos (28). Havia peditórios na&feiras? Lá viriha
mesmo e sobre todos os empregados e doentes, fazendo man- o campainha de prato na mão esquerda a receber as esmolas.
ter a ordem e cumprir as disposições do Compromisso e do Havia arraial de festa? Lá vinha o campainha a lembrar aos
regulamento interno. Também compete ao Provedor fazer festeiros os pobres da Misericórdia.Celebravam-se na igreja
observar a mais rigorosa decência e honestidade, tanto aos da .Santa Casa missas de sufrágio, ofícios de irmãos, missas
empregados como aos doentes,.comunicando à Mesa as in' de festa, 'novenas ao Senhor aos Passos? Lá corria ruas, ca-
""fracçõesque descobrir, para serem os seus autores punidos lejas e becos o campainha a dar o anúncio. Morria alguém
nos termos dos estatutos e, ainda mais, propor à (Mesa a re- na cidade? Lá vinha o campainha a dizer o nome do morto,
quisiçao e sortimento das roupas necessárias, ordenar que as- a. .hora do enterro, o dia e igreja das missas desaimento.
camas tenham roupa suficiente e estejam limpas e decentes. Em 1672, o povo chamava ao campainlha o apregoador
A superior fiscalização do Provedor vai até averiguar se ha das almas, e ele estrelou um vestido novo que havia custado
desperdício ou descaminho nos géneros alimentícios, e se hí 1.200 réis. 'Era de calças de pardo e jaqueta azul que, em
outros abusoscometidos pêlos empregados ou oficiaisda San- i68o, custou 3.030 réis<29). O campairiha era um elemento
ta Casa (26).

1(27) Actas, 1919-1932, foi. ii v, 42 - Actas, n. 16, foi. 13


(2.4) Acórdãos, 1832, foi. 55 v. ;. geral da S. C., pág. 28.
(2. 5') Compromisso de 1877-pâg. 33. (28) 1679, foi. 6 w - C. Corr. 1924, foi. 48.
(26) Idem - ,pág. 32. 1(29) Idem, foi. 7.
118 119
indispensável que, em 1783, tinha vestes de pano azul: um irmão de bons costumes, humilde e eni tudo proporcio'
uma nova com chapa de prata para anunciar enterros de pes- nado ao serviço do seu ministério. Usava, em todos os actos
soas nobres e irmãos de segunda condição, e. outra veÏha, públicos da Irmandade, um ibaiandrau de fazenda de la azul,
.

campainha de gente pobre ou de sangue menos limpo (30). fornecido à custa da Santa Casa, diz o Compromisso de
Em 1903, comprou-se para o .campainha, por 4.340 réis, 1856 (38). E o Compromisso que ainda rege e governa actual-
uma opa azul, opa que, em 7 de Abril de 1909, foi substi- mente a Misericórdia,diz expressamente: «deverá ser um in'
tuída por outra e que custou 3. 000 réis <31). divíduo estranho à confraria; pode, porém, ser irmão do Se-
Curioso saber-se: quanto garihava este 'benemérito da nhor dos Passos,humilde, e de bons costumes, nomeado pe-
cidade? la Mesa solb proposta do Provedor, e que não tenha menos
Em 1836 (para trásnada pude averiguar) ganhava 1.500 de 18 anos: usará de balandrau de la azul, fornecido pela
ïéis mensais. Desde 1840 a 1863, o ordenado foi de 1.800 Casa. Jncumfce-lhe: coadjuvar o enfermeiro enquanto não
reis <32) pois, neste ano, o ordenado subiu a 2.400, para des- houver ajudantes para o serviço do ho.spital; auxiliar o sá-
cer de novo a 1.800 em 1865 (33). 3.600 réis ganhava o cam- cristão na limpeza e asseio do templo, sacristia, vasos e mais
painha em 1870, e continuou a recebê-los até 1883 (34). De- guisamentos; avisar os irmãos para quaisquer funções religio-
pois, porque a Santa 'Casa deixou de lhe dar a propina anual sãs, para os enterros, ou para qualquer reunião ou serviço da
de pão que em 'geral orçava por 4.500 réis, o ordenado, a Casa; tanger o sino, tanto para as missas e funções da Casa,
partir de 1885, foi de 5.400 réis mensaisaté 1898 que passou como para anunciar a morte e o enterro dos irmãos, ou de
a ser de 6.600 réis <35). Em 1899 foi de 7. 700, e em 1906 foi outras quaisquer pessoas; acompanhar a Mesa e a Irman-
de 8.300 réis<36), e ainda em 1920 foi de 15 escudos<37). dade, precedendo-a com a campainha; servir de porteiro ou
Ao campainha, e aos seus serviços, dedicaram os com- contínuo, quando funcionar a Mesa, ou a assembleia geral;
promissos de 1518, de 1616, de 1856 e de 1877, artigos es- e cumprir as ordens da Mesa e dos demais empregados da
peciais. 'Para os dois primeiros, o campainha era parte inte- Casa <39>.
grante da Santa Casa. Nada se fazia sem ele. Era a voz so- Este Compromisso ainda não foi revogado. Continua
nora da 'Misericórdia. Era o. jornal vivo das notícias fúnebres sendo a letra por onde se rege hoje a Santa Casa da Miseri-
da cidade. Era o clamor dos pobres a suplÍGar a misericórdia córdia. É uma disposição legal que se deixou de cumprir e
dos ricos. Era o grito dos mortos a implorar sufrágios. Era não se sabe porquê. Uma disposição utilíssima cujo cum.pri-
.

mento todos reclamam porque a todos faz falta. Nem a ci-


i(3°) 1783, inventário. dade é bastante pequena para de viva voz se conhecer o que
(31) Corresp. 1884-1929.
1(32) Acórdãos, 1832, foi. 12 v, 27 v, 37. nela se passa, nem bastante grande para aguentar um jornal a
1(33) íáem, foi. 33 v - C. Corr. 1854, Ifol. 66.
(34) C. Corr. 18514, foi. 113, 125.
elucidara público dos tristes factos do dia. Resultado é que
<3?) Actas, 1884, foi. 7-Corresp. 1884-1935.
(36) Actos, 1903, foi. 33 v. i(3'8) Compromisso de 1856.
'(37) Actos, I9I9--I932, foi. 11 v. '(39) IComfiromuso de 1877 - pág. 24.
.
120
os acompanhamentos dos enterros e a frequência às missas
de saimento perderam muito da impressionante solenidade e
grandeza, características dos bons e seculares hábitos da ci-
dade.
Em nome de quase quatro séculos e meio de história,
do sufrágio das almas dos que vão morrendo, de uma tradi- CAPITULO VIII
cão que só honra a cidade, e até em nome da lei, pede-se,
suplicasse reclama-se . a restauração do campainha a dar os
e
O Senhor dos Passos
avisos necessários para o cumprimento de uma das obras de
misericórdia - rogar pêlos vivos e defuntos - diário pregão Procissões quaresmais nas quartas e Domingos - Missas can-
da existência da Santa Casa. tadas e novenas - Quando se fez a procissão de Passos - Capela
e ofertas ao Divino Senhor - Passos pela cidade - Confraria e
indulgências - A majestade da procissão.

À Quaresma dedicava-se a Santa Casa. O tempo de pe-


nitênciá era aproveitado para exercícios devotos que muito
serviriam de edificação. Nos Domingos e Quartas'feiras, saía
da. igreja da Misericórdia a procissão de penitência que le-
vava debaixo do pálio o .Santo Lenho e se dirigia, de cada
vez, a outra igreja onde se ouvia um sermão, e depois regres-
sava ao ponto de partida.
Para estas procissões quaresmais tiniha andado o cam-
painiha de prato estendido à devoção pública que, em 1658
e 1671, rendeu sucessivamente. 800 e 500 réis (1). Para eilas,
a Câmara Municipal concorreu sempre, desde o início da
Santa Casa até 1850, com o subsídio anual de 2.000 réis. O
que faltava, .era posto pelas rendas da Misericórdia. As dês'
pesas eram grandes. Havia pagar a música, que umas vezes
metia ibaixao, outras harpa e sempre órgão. Em 1641, a mú-
sica das procissões custou 21 alqueires de serôdio, e depois»
até 167^, nunca excedeu a quantia de 4.600 réis, notando'

(i) 1671, foi. 32.


122 123
-se que ao locador da harpa era da praxe dar 2.000 réis. Os aos Domingos, deixando'se de fazer às quartas-feiras. mas
frades do convento de São Francisco também tinham músi- sempre com o mesmo ritual. À frente o campainha com ba-
ca. E quando esta tocava, recebiam 6.000, entrando na con- landrau azul, seguido de um irmão que 'hasteava uma cruz
ta os sermões quaresmais (2). de pau onde uma toallia pendia dos braços. Atrás, de velas
De cera fazia-se regular despesa. Em 1660, gastou^se na mão, a Irmandade em duas filas. Iam ali, em fraternidade
nela a quantia de 4.300 réis, uma insignificância se campa- cristã, os irmãos nobres e os irmãos de segunda condição, no'
rada com o ano de 1668 no qual houve o gasto de 14.720 bres e artífices, todos cristãos velhos, todos limpos de san-
réis, e, com o ano de 1675, onde a cera. subiu à quantia de gue. Depois as confrarias segundo o direito de precedência,
13.225 réis. Em cera era, em geral, o pagamento do clero e aindadepois o clero: os frades do convento de S. Francisco,
que tornava parte nas procissões. Ao clero da colegiada de os jesuítas do Colégio, os padres de S. João Baptista com o
Santa Maria davam-se 6 velas de arratel, 2 arrateis de cera seu Abade, os padres de Santa Maria com o seu Prior, e não
davam-se aos religiosos de ,S. Francisco, 2 ao clero do Colé- faltaria o 'clero da Misericórdia que em 1710 formava uma
gio doSantíssimo Nome de Jesus, e 4 velas de arratei se da- colegiada de io capelâes.
va ao clero da freguesia de S. João Baptista, o que significa Cada um dos confrades e cada um dos padres levava
tomar todo o clero da cidade parte nas procissões da Qua- uma vela. acesa, dois enormes rosários de luzes vivas, trému-
resma. las que se desenrolavam desde o campainha ao pálio cujas
A procissão desifiiava pelas ruas da cidade varas eram seguradas pelo corregedor, procurador do Duque
e entrava, ca-

da vez, numa igreja onde a assistência ouvia sermão e rece- de Bragança, presidente da Câmara e vereadores, Juiz de fora
ihia a bênçãodo Santíssimo. Dez procissões, dez sennoes cujo e autoridades militares. Atrás do pálio roxo, os homens e as
estipêndio em 1614, foi de 600 réis^. Desde 1883 os ser- mulheres que alternavam com o clero os versículos do Mt-
mões passaram a ser pregados na igreja da Misericórdia<4> e serere e a toada triste e ckorosa do «Senhor Jesus Misericó'
tanto o Compromisso de 1856 como o de 1877 fizeram os dia», enquanto que os sinos das igrejas bragançanas colabo-
sermões facultativos <5>. Em 1869, ainda se pregaram na Mi- ravam, com o timbre das suas vozes, naqueles actos públi-
sericórdia os sermões quaresmais pêlos quais o beneficiado cos de penitência quaresmal.
JoãoEvangelista Vergueiro recebeu 15.000 réis, isto é 1.500 Mas havia um Domingo da Quaresma de mais interesse,
réis por cada um W. de mais vibração religiosa: era o Domingo, consagrado à pró'
IDesde aquele ano até 1883, reduziram-se as procissões cissâo do Senhor dos Passos.
Nem sempre se fez. Se a procissão, por este motivo ou
(2) Idem - foi. io v. 'por outro, se não fazia, faziam-se as novenas com missa an-
1(3) i679, foi. 6 v.
1(4) Aconáaos, 1832, foi. 4. tada ou simplesmente missa cantada sem novenas. Missa-
1(5) Compromisso de 2 de Julho de iSy6. - Novo Compro' cantada só a houve de 1881 a 1883, de 1887 a 1891, em.
mtsso de 1877.
<6) C. Corr. - 18314, foi. 95. 1902, em 1919 e em 1927 cuja despesa foi subindo de 1.200
124 25
réis a 120 escudos. Novenas com missa cantada, houve-as Perguntas se: e a despesa com a procissão?
em 1865, de 1894 a 1898, de 1900 a 1905, de 1911 a 1913, Com a procissão feita no ano de 1641 gastou-se em cera
de 1915 a 1918, de 1920 a 1928, em 1933 a 1946, gastan- 968 réis, o que representa muito dinheiro, com a de 1651 a
do-se desde a quantia de 9.440 réis, como foi em 1865, a despesa com os passos e com toda a Semana Santa foi de
6i9$85 escudos, em 1928. 9.684, que dá a certeza de que, em épocas tio distantes, já
Por exclusão sabe-se agora-quando a procissão do Se- existia, a. imagem e a devoção ao Senhor dos Passos. Em
nhor dos Passos foi feita. Ate 1836 .é de crer que se tivesse j 845» passados dois séculos, a despesa foi de 38.945 réis. Só-
realizado ininterruptamente. Não se fez em 1851 por causa be, em 1864, a 56.540 réis; sobe mais, em 1893, a 80.030
das obras no 'hospital, e depois do Compromisso de 1856 réis; sobe mais ainda, em 1899, a 108. 500 réis; e sobe des-
passou a ser facultativa<7), ao contrário do último Compro- medidamente, em 1926, a 498 escudos t12) o que infelizmen-
misso de 1877 que a faz obrigatória, com sermão do Preto' te não significa esfaanjamento.
rio e do Calvário, no segundo Domingo da Quaresma ou Se a procissão ao Senhor dos Passos se fazia já no ano
no dia para que for transferida pela Mesa. E quando por al- de 1641, é porque já existia a imagem e existiam passos. E
.

gum motivo grave se não possa fazer a procissão, e a Mesa como a capela só existiu em 1795, natural seria que os pás-
.

assim o resolva, nem por isso deixará de .haver missa canta- so.s se fizessem improvisadamente, e estes só fossem cons'
da. ao Senhor e sermão. É assim que reza o n.° 4.° do art. truídos pouco depois, como efectivamente 'foram.
61 W. Desde 1788 a 1805, pelo menos, foi Provedor da Santa
lFez'se a procissão desde 1879 a 1887, e tornou a fa- Casa da iMisericórdia Manuel Jorge Gomes de Sepulveda, Te-
zer-se no,s anos 1892 e 1893 e de iB98 a 1906. Houve-a de- nente General dos Exércitos e Governador das Armas da
pois em 1911 e 1914 t9>. Nos últimos anos a procissão fez-se
.

Província. Devoto da imagem do Senhordos Passos, não lhe


em 1937, 1940 e 1941 ilo>. sofria o ânimo vê-la em ponto de menosrelevo na igreja. No
iPara custear as despesas da festa do Senhor dos Passos, altar-mor não podia estar porque o Senhor JesusCrucificado,
.

o campainiha recolhia esmolas nas novenas, pela cidade cor- o Espírito Santo e Nossa Setíhora da. Misericórdia estavam
ria em geral uma subscrição,e muitos particulares concorriam em lugar muito seu. Ao seu espírito de crente e à sua ini-
com donativo. s. Se .houve um ano em que a sulbscriçao ren- ciativa de comandante, acudiu uma ideia que logo pôs em
deu apenas 6.'24o réis, como em 1853, outros houve, como execução. Junto da 'Igreja, do lado direito, havia uma casa
o de 1864 que rendeu 116. 120 réis (11>. A renda dependia, da qual fazia parte a que hoje serve de secretaria. ,Sóali, em
como sempre, do prestígio pessoal de quem a promovia. metade dtíla, se podia fazer a. capela. E ali, com poderes dis'
crecionários, a construiu e a torre do sino (13). Edificada a ca-
<7) Acórdãos, 1832, foi. 12, 57 - Comï>fomuso de 1856.
(8) Compromisso áe 1877^^pág. 27.
.

<ç) Actos, 1884, foi. 76 v - Corr. i8&4-ig29 - Corr. 189,4- 1(12) 1845, foi. 5 -C. Corr. 1924, fola 34 - Acórdãos, 1832,
-1923, 'foi. 52 v - Actas, 1907-1919, foi. 94. foi. g6 v.
<io) Actas, n. 16, foi. 78, i66-i8o v.'
<ii) 1854, foi. 52 v -C. Corr. 185,4, foi. 52 v. (13) Tombo I - foi. 112.
126 127
pela, mandou fazer o altar que terminou em 1799, e lá co' um crucifixo de metal amarelo, três sacras de lata, uma lâm-
locou a. imagem do Serihor dos 'Passos cujo nicho foi envidra- .

pada de metal amardo, duas escanetasde palhiriha,e quatro


çado em 1852 <14) na companhia do Senhor da Cana e do capas de seda do Senhor da Cana, sendo uma vermelha e
Senhor preso à coluna, imagens ]í consignadas no inventá- outra cor de rosa seca (20).
rio de 1783 e também em nichos envidraçados em 1869 <15). 'Em 1897, D. Teresa Moz Teixeira ofereceu ao Senhor
.

Em 1865 foi iforrada de novo a capela e reformado o te- dos Passos umas galhetas de prata (21); em 1903, D. Maria
Ihado (16) e, em 1870, concertaram-se a torre e o altar, mu- do Céu Pimentel dçu-lhe uma sanefa de veludo roxo e qua-
daram-se as grades da capela e adaptaram-seao arco da mes- tro laços, guarnecidos a galao e franja dourados; Francisco
ma, pôs's.e uma lâmpada de metal amarelo, no que se gás' Inácio Teixeira um rico esplendor de prata; D. Joana dos
taram 25.830 réis W. Em 1884, o Governo concedeu-lhe Prazeres Rodrigues Braga um véu de seda preta; e a Mar-
uma lâmpadade prata, vinda da igreja de S. 'Bento; um de- quesa da Fronteira e Alorna uma túnica, usada no ano ante-
voto ofereceu-lhe, em 1895, um par de jarras para o altar; rior ipelo Senhor dos (Passosda Graça(22>; em 1904, Alberto
e a Mesa de que era Provedor o Major Luís Ferreira Real, Rodrigues, bragançano residente no Rio de Janeiro, ofereceu
reconstruiu-lhe, em 1897, o soalho que se achava em estado uma riquíssima túnica, de veludo roxo de seda, largamente
de completa deterioração <18>. Em 1907, reformaram-se os vi- bordadaa ouro, que pela primeira vez saiu na procissão, dia
.

dros dos camarins e pintou'se novamente a apela. Necessá- 27 de Março <23>; e em 1909, o Cónego António José da Ro-
rio dizer-se que a sua fachada foi revestida de azulejos em chá ofereceu-lhe uma cabeleira (24>.
1873. O Tenente 'General Manue-l Jorge 'Gomes de Sepulveda,
Não se garante que a actual imagem do Senhordos Pás' construída a capela do Senhor dos Passos, ou ao mesmo tem-
sós seja a mesma existente, em 1641; mas assegura-. se ser a 'po, construiu ps passos espalhados pela cidade. O passo do
mesma que regista o inventário de 1783 com sua túnica» ca- pretório fazia-se de improviso na. capela, e o passo do Cal-
faeleira e esplendor de prata e quatro ramalhetes(19>. O in- vário erguia-se na igreja de S. Francisco. Os outros eram de'
ventáriofeito, em 1852,dá,como pertencente ao Senhordos ifinitivos, e foram construídos: um na esquina da Rua dos
Passose à sua capela, os seguintes objectos: um esplendorde Oleiros e da Rua do Passo, outro no lugar onde estáo Lac-
prata, duas túnicas, uma nova e outra velha, uma .camisa de tário, outro atrás da Sé, mais ou menos em frente da porta
monm, um 'véu roxo, quatro sanefas de la e cinco cortinas do Liceu, outro em frente da igreja de .S. Vicente, ao lado
de seda roxa, um frontal de damasco roxo, uma banqueta e do ohafariz, e outro na esquina da igreja de S. Bento onde
principia a grade do largo do governo civil.
1(14) Acórdãos, 1832, foi. 57 v
1(15) i7&j, inventário. 1(20) 1785, mven. târio.
1(16) L. de arreniatações, 1864, foi. 6. 1(21) Actas, 1884, foi. 122 v.
<i7) C. Corr. 1854, foi. 104. ' 22) Actas, 1903, foi. io, IO v, 2 V
<i8) Corres?. 1884-1929. 1(23) Idem, foi. 9 v.
(119) Actas, 1884, foi. 121. '(24) C. Corr. 1907-1915, foi. 29.
128

Em 1860, os passos foram compostos e pintados; em-


1877 foi concertado o de Fora de Portas; em 1887 a Mesa-
oficiou ao Reitor do . Seminário (o Seminário estava onde.
hoje o Liceu) para reparar os prejuízos causados no passo
com as obras, em 1890 a Mesa entrou em negociações coni
a Junta Geral do Distrito por causa do passo de S. Bento..
O presidente da Junta que era João António Pires Vilar,.
oficiou à Mesa, dizendo que o Largo de S. Bento devia ser
vedado por um 'gradeamento, não podendo, por isso, recons^
truir'se o passo que ali existia na parede do mirante, recen'
temente demolido, e propôs ou reconstruí-lo noutro lugar ou.
dar o dinheiro para a Santa Casa o reconstruir. A Santa Casa.
aceitou a segunda disjuntiva, e recebeu a quantia de 36. 000
réis, .ciente'de que podia fazer um passo provisório sempra:
que fosse preciso (25^.
O passo de S. Vicente foi reparado em 1894, e. com o
passo da Sé sucedeu que a Mesa, a 15 de Fevereiro de 1914»
oficiou à Câmara a perguntar que destino dera aos materiais
do passo, demolido sem autorizaçãoda Santa Casa. Respon-
deu a Câmara não ter autorizado a demolição» Replicou a
Mesa que deliberasse incluir no orçamento a quantia de 30
escudos para a reconstrução do passo, destruído em seu no-
me pelo vereador João de Deus Afonso Dias (26).
Era o tempo em que o ódio à Igreja se desafogava nestas
cousas...

O passo da Rua do Passo teve portas novas, em 1930»


que a Santa Casa pagou por 555 escudos (27).
A devoção ao Senhor dos Passos foi sempre muito gran-

(25) C. Corr. 18514, foi. 36


,
-
Actas, , foi. 18 v - Corresp^
i884'i929- O Divino Senhor dos Passos'
'(26) Actas, i907-"i9i9, foi. 94 v, 99 v - Corres?. 18 4-1929-
1(27) Corr. 1884-1929 -C. Corr. 1924, foi. 111.
129
de entre a gente bragançana* Em 1740, António Doutel de
Almeida, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, sargento'
-mor da Comarca e Provedor da Santa Casa, conseguiu que
o Sumo Pontífice Bento XIV, a 13 de Dezemlbro do referido
ano. concedesse 100 dias de indulgência aos que cinco vezes
rezassem o Pai-Nosso e Ave-Maria, de joelhos ao toque do
sino, e aos que nas sextas-feiras fizessem piedosa romaria da
paixão e agonia de Jesus Cristo (23).
Construída a capela do Serihor dos Passos, o Provedor,
Tenente General Manuel Jorge 'Gomes de Sepulveda, obteve
do Pontífice Pio VI, no dia 7 de Abril de 1797, três Breves:
um a declarar perpetuamente privilegiado o altar do Senhor
dos Passos; outro a conceder Indulgência Plenária aos que vi-
sitem a capelado Senhordos Passosna festa doEspírito San-
to e nas festas de Jesus Cristo; e outro a estender o privilé-
gio do altar, dentro da oitava dos fiéis defuntos, e em todas
as quartas, sextas e sábados do ano <29). Mais tarde, o Papa
Leão XMI, em 1879, concedeu IndulgênciaPlenária aos que
visitem a capela na sexta-feira, depois do 3.° Domingo da
Quaresma (30).
No inventário feito, em 1852, vê'se um guiao de damas-
co com 'franja de seda vermelha que era do .Senhor dos Pas-
sós (31) e, em 1874, houve a tentativa de organizar os devo'
tos do Senhor dos Passos numa confraria, que logo teve 59
irmãos alistados, e em 1877, estatutos próprios. Tinham eles
os mesmos direitos dos irmãos da Misericórdia, excepto ser
eleito para mesário, examinar livros, actas e inventários. Ti-
nham os irmãos do Senhor dos Passo.s de pagar a jóia de 500

1(28) Arq. Districtal - Brev. e confr.


1(29) Idem, idem - Arq. Secr. do Vaticano - Secr. Brev. vol.
Capela interior do hospital 93» foi- 167-Vol. 121, foi. 314.
1(30) Arq. Districtal - Doe. 'para a his.tória.
(31) Inventário, 1852 foi. 41.
130
131
réis e a anuidade de 16o réis, mas os irmãos residentes fora
24 de Maio, fez-se exposição do Senhor e celebrou-se missa
da.ciílade tinham de pagar 100 réisde jóiae 6o réis de anui-
cantada com sermão, estando a igreja pomposamente adorna-
dade. Os que não pagassem três anuidades consecutivas, os
da (36). Outra vez, por causa de uma longa estiagem, a pedi-
que fossem pronunciados por crime correspondente a pena do de vários irmãos, a Mesa de que era Provedor Afaílio de
maior e não comprassem a opa, seriam riscados. A opa era
Lobao Soeiro, fez a 11 de .Setembro de 1898, uma procissão
um balandrau roxo.À mesma pena estão sujeitos, pelo Com- de penitênciacom o andor do Senhor dos Passos que percor-
promisso em vigor d.e 1877, os irmãos da Misericórdia que» réu as ruas da cidade (37).
no dia de Passos e na Quinta-Feira Santa, não fizerem a hora
O andor do .Setíhor dos Passos existiu sempre na igreja
de vigília quando para isso escalados, e não pagarem 115 gra-
da Misericórdia. .Sofare a armação uma colbertura de cortiça,
mas de cera e faltar três vezes (32).
quatro bolas nos cantos e as varas para as sanefas e tam'bém
A 20 de Janeiro de 1853, a Mesa de que era Provedor
a cruz. Em 1854, José António Martins deu-lhe 4 ciprestes e
Joaquim António de Carvalho e Castro, deliberou mandar
competentes laços que custaram 38.400 réis(38). Estes ci-
cantar mensalmente no i.° Domingo de cada mês uma missa
prestes e laços foram substituídos em 1860, e em 1932 o an'
na capela do Senhor dos Passos, com 3 padres e 3 meninos dor foi pintado no que se gastaram 50 escudos(3a>.
ao coro, a principiar no i.° Domingo de Fevereiro (53). Deli-
A notícia mais velha que encontrei da procissão do ;Se-
<berou e cumpriu-se nos respectivos Domingos até que, pelo
nhor dosPassos, tem a data de 1641. Impressionou-me o gás-
Compromisso de 2 de Julho de 1856, se passaram a celebrar to da cera, em 1668, que foi de 16.000 réis. Chocaram-me
ias sextas--feiras <34) com a nota de obrigatórias mas reza-
das (34) que serem cantadas era do arbítrio da. Mesa. O Com-
caixas de marmelada, destinadas aos penitentes desta procis^
são e da dos fogaréus, a representação ao vivo dos pa.ssos ao
promisso de 1877 tornou obrigatórias as missas na capeia do horto e do calvário, o colorido das irmandades, a marciali-
.

iSenhor dos Passos, nas sextas, Domingos e dias santificados,


dade das tropas, a majestade e a grandeza de tamanha mani>
missas que eram encargo do capelao-menor, às 8 horas desde
i de Março a 31 de Outubro, e às 9 horas desde i de No-
festaçao <áeculto. (E parece-me que hoje, com tantos requin-
vembro ao último dia de Fevereiro (35).
tes de civilização, não seríamos capazes de reproduzir as ve-
'lhas procissões não só pela pelintrice de opas e balandraus,
Ao Serihor dos Passos houve sempre grande devoção.
mas também e principalmente porque falta hoje a enteme-
Recorria-se a ele nas horas más da vida citadina. Em 1891
cida fé dos nossos antepassados, servida por uma consciên-
operara-se um milagre, e a 'Mesa de que era Provedor o Ma- cia que não era de manga tão larga como a moderna.
jor Luís Ferreira Real, resolveu fazer uma procissão de peni-
À frente do cortejo ia o arauto a. avisar o público do
têncía. A procissão não se 'pôde fazer. Em vez dela, no dia
(36) Actas, 1884, foi. 50.
(32) Compromisso de 1877, ipág. 3, 9, 49- (37) i884, foi. 147.
<33) Acórdãos, 1832, foi. 58. (38) Acórdãos, 1852, foi. 62.
1(3.4) Compromisso de 1856. <39) Inventário, 1852, foi. 113 - Copiador, 1882, ii. 22, io e
(35) Idem, de 1877. li - C. Corr, 1924, foi. 140.
132 133
cortejo impressionantíssimo. Atráso campainhaa tilintar ma- tros, e estes eram o maior número, descübertos da cinta para
goadamente. Depois o guiâo roxo com letras de galao a re' cima tíhicoteavam-se e flagekvam-se sangrentamente. Para
cardar o senado e o povo romano, levado por um irmão ar- estes, como para as figuras vivas dos passos, havia o presen'
tífice ou de segunda condição, ladeado por dois irmãos no- te da marmelada, um doce considerado reconfortante.
'bres que seguravam tochas de cera. Outros três irmãos de Na cauda do cortejo, as guarniçõesda cidade, e o povo
ibalandrau preto erguiam ao alto 3 cruzes de pau, a. represen- de perto .e de longe devoto, compungido a pôr no Senhor
tar as 3 cruzes do calvário, acompanhados por duas filas de aos Passos os seus olhos de fé e de esperança.
20 irmãos, nobres e plebeus que tochas levavam também. A cada passo visitado, nova estação da Via-Sacra com
Depois da mancha negra da Misericórdia, as manchas moteto musical e com figuras vivas a fazer de judeus. No
vivas e coloridas das irmandades. Branca e verde das Almas passo do Calvário, as figuras não estavam inertes, como no
de Santa Maria, escarlates do Santíssimo da Vila e de .S. João Pretório ou no palácio de Heroáes. Num estrado alto, do-
Baptista, vermelha e azul do Senhor de São Vicente, preta minado por três cruzes e forrado de cortiça, de 'bucho e ra'
dos irmãos de São Pedro, cinzenta dos Terceiros de S. Fran- mos de medroriheiro, do qual se viam ao longe umas casas
cisco, todos com totíhas de cera acesa, e todos com as suas pintadas a fingir de Jerusalém, passeavam figuras vestidas de
cruzes, as suas insígnias, os seus emblemas. legionários romanos, e de cima dominavam a multidão com-
. .A seguiràs irmandades, o clero de sobrepeliz branca das primida na grande igreja de São Francisco, com o ar e a
paroquias, dos conventos e das colegiadas, também de velas arrogância de serem eles os senhores e dominadores daquela
grossas e de chama alta. Os andores de S. João Evangelista cena de tragédia.
e Nossa Senhorada Soledade moviam-se por entre as alas de Se à saída da igreja áa Misericórdia, o pregador que
conifrades e velas. Depois o andor do Senhor dos Passos, im' em geral costumava ser um fraiiciscano de voz forte e mo-
pressionantena queda sob o peso da Cruz, trágico nas linihas .
vimentos patéticos, agradava e arrancava gritos de compai-
dolorosas, a um tem. po aliciante e assustador pela expressão xao e de penitência, na igreja onde se armava o Calvário,
dos olhos. os gritos, as lágrimas e os prantos tinham de ser maiores.
O primeiro passo, o Senhor no Horto. Cristo esmagado Estava nisto empenhada a honra da Misericórdia e a gló-
ao pesoda paixãoiminente tem em frente de si um anjo vivo ria do pregador.
.
a tíferecer-Ihe o cálíx da agonia. Reza-se diante do passo a Pregado o sermão do calvário, a procissão saia mas em
primeira estaçã.o, canta-se um moteto sacro e a procissão con- direcção à igreja da. Misericórdia, já de noite, iluminada pe-
íinua. Atrás do pálio a abrigar o Santo Leniho, a Mesa da las duas filas d.e luzes das velas acesas das irmandades, do
IMisericórdiacuja vara de comando era levada pelo Provedor, <lero e dos irmãos da Santa Casa, negros como a noite nas
ladeado pêlos outros mesários. Com a Mesa, as autoridades. suas opas de tristeza e sofrimento (40).
E atrás destas os penitentes de promessa que uns carregavam
1(40) 1671, foi. io v - C. Corr. 1854, foi. 37 - Copitídor 1888,
pesos enormes, outros iam de joelhos pelas ruas e ainda ou- a. 30 - Copiador, 1882, n. io.
CAPITULO IX

Procissões dos íogaréus e Senhor Morto


Descreve-se a impressionante procissão - Um cortejo de ma-
ravilha - A visita aos sepulcros - O comovente enterro do Se-
nhor - O cortejo com irmãos da Misericórdia e confrarias da ci-
dade - Atrás do cortejo, as forças armadas.

Talvez porque se fizesse com menos esplendor e com


mais irregularidade a procissão dos fogaréus, de Quinta-Fei-
ra Santa, os Compromissos de 1856 e 1877 deram-lhe o ca-
rácter de facultativa (1\ E, deixando de ser obrigatória, nun-
ca mais se fez.
Na igreja da Misericórdia, à parte os Ofícios de Trevas,
faziam-se todas as cerimónias da Semana Santa. Na Quin-
ta-Feira, celebrava-se de manha a missa cantada; e, à tar-
de, não dispensava o Lava-pedes. Pela Missa cantada recebia
o capelao-mor o estipêndio de 100 reis, em 1651, e pelo
canto do Evangelho ao Lava-'pedes, a esmola era a mesma.
A procissão dos fogaréus demorava muito tem;po. Saia
às 8 horas da tarde da Misericórdia, percorria a cidade e
fazia visita a todas as igrejas onde houvesse Santo Sepul-
cro. Nela não tornavam parte as Irmandades a não ser a
da Misericórdia, e aparecia todo o clero da cidade.
A despesa era grande. Havia pagar ao trombeta ou

1(1) Compromisso de 1856-Compromisso de 1877 - pág. 27.


136 137
arauto que ganhava 400 reis, distribuir doces pêlos anjos, bre, ladeado por dois irmãos, um nobre e outro oficial com
pelas Marias .e pêlos penitentes. Necessitava pagar aos clé- dois tocheiros.
rigos, padres e frades no que em geral se dispendiam 10.000 Dois clérigos cantam a Ladainha. De onde a onde, anjos
reis. Havia custear a despesa da música que, uma ou ou' - seis - levam as insígnias. À ilharga de cada uma das in'
tra 'vez, era dos frades do Mogadouro no que dispendiam sígnias, dois irmãos, um nobre e outro oficial, com tochei-
6. 000 reis, pagar a lenha para fazer cavacos para as toguei' ros, e outros dois com varas pretas. Atrás de todas, mais dois
rãs, comprar rolos 'de palha para os arohotes no que iam. clérigos cantam, como os primeiros, a Ladainha.
'226 reis, azeite para candeias e lampiões, arrobas de pez a Da bandeira da irmandade à primeira insígnia da paixão,
i.ooo reis, barrinhoes e alguidares de barro que algumas ve- vão as pessoas devotas do cortejo; e, da primeira insígnia até
zes subiram ao número de 300, estopa para fiado e este para- à sexta, vão os penitentes, descalços, despidos da cinta para
torcidas, e cera para as tochas que nunca era menos de 50 cima, empunhando flagelos. Os confrades de balandrau pre-
arráteis (z). to seguem o cortejo em duas filas; e a seguir duas alas de
O que a Santa Casa gastava em azeite para as lan- 40 tochas a preceder a imagem de Cristo Crucificado, levada
ternas, as candeias e os canais! Àsvezes gastou sete almudes pelo escrivão da .Santa Casa, tendo a seu lado quatro ir'
e houve um ano que gastou dez (1677). Uma grande dês- .
inaos com quatro totíheiros.
pesa ao serviço de um grande esplendor. Uma grande peni" À frente do Crucifixo vai o Provedor só com a sua
tência pública que chegava a tisnar de sangue as ruas da ci- vara, e atrás vão os capelâes da Santa Casa a cantar, co-
dade e a dar imenso tralbalho ao mordomo da botica que ti- mo os outros, a Ladainha. Depois dos capelaes, duas in'
nha a obrigação de curar os penitentes que iam na procissão' sígnias de 'Cristo Morto levadas por dois irmãos que a seu
dos fogaréus(3). Havia anos nos quais a cura dos penitentes. lado vão outros com tooheiros e logo, dois capelaes a can-
exigia uma despesa de 400 reis, e também a de 2.700 reis tar, como os outros, o mesmo. Os irmãos que não levam
na compra de doce de marmelada que era distribuída por bandeira, vara ou tocha, seguram velas e levam as opas, e
eles e pelas figuras da procissão. os outros que não são irmãos, vão de roupa preta. Ali a cor
8 horas da tarde. A luz do dia ensaiava-se para fugir de: branca só existe nas sobrepelizes do,s eclesiásticos e na toa.'
vez. Sombras compridas da noite invadiam as ruas, as cale- lha da Cruz que abre a procissão.
] as e os*becos. Da igreja da Misericórdia já saiu o campainha Quando esta acaba de sair, já as ruas estariam mergu-
a soar as matracas poïque os sinos haviam 'emudecido à en" Ihadas em plena escuridão, se, das janelas das casas não pen-
toaçao do Glória da missa cantada. A cruz alta e preta vai dessem lanternas, candieiros e candis de azeite, se, em mui-
atrás da bandeira da Misericórdia, levada por um irmão no- tos pontos das alas da procissão, se não erguessem ao alto
ardhotes de chama alta, amarela e azul e fumaça cinzen-
ta, se pelas ruas dezenas de barrinhoes não vomitassem
1(2) 1671, foi. io, io v - 1679, foi. 6 v.
(3) Corres?. 1618, pág. 23. colunas de fogo que se agitavam ao toque do vento como
138 139

a luz dos archotes, das velas e das tochas, projectando cla- como obrigatória (9). De com o projectado es-
roes para as casas, para a multidão e para o céu estrelado ou plendor ou por motivo de obras na igreja, a procissão do
escuro.
Enterro do .Senhor saía da igreja de Santa Clara, e nuns
Entra a procissão em cada igreja onde o Santíssimo es' tempos, maisque noutros, a sua majestade e a riqueza tornou
tá no sagrado sepulcro para actos de adoração; e os que não tais proporções que fazia lembrar a majestade e a grandeza
podem entrar, que são a grande maioria, continuam acom- da procissão do Corpo de Deus, principalmente desde 1865 a
panhando a Ladainha de Todos os Santos, gritando e gemen-- 1898, na qual, consoante a tradição de tempos remotíssi-
do as respostasde «rogai por nós», de «tende compaixão de mos, iam as forças armadas da ci<lade, como retaguarda de
nós»; enquanto que ali, como em todo o trajecto, os pa- um cortejo que atraia, gente de perto e de longe. Ainda
decentes se flagelam a si próprios, na medida da sua fé e pelas aldeias distantes de Miranda do Douro e não menos
da sua contriçao, enchendo de equimoses o corpo e fazendo distantes de iMirandela, há velhos que recordam saudosa e
estalar a pele pela violência dos flagelos, ao lado dos pa- piedosamente o brilho e a imponência da procissão de Sex-
ta^Feira Santa W.
decentes, irmãos da Misericórdia com alguidares lavavam as
costas retalhadas, e ozitros forneciam-lhes pedaços de mar- Alguns anos, como o de 1887, fez-se na igreja da Mi'
melada como recorifortante (4). sericórdia a impressionante cerimónia do Descendimento
A procissão dos fogaréus ainda se fazia em 1721 com de Cruz. E quando não se fazia aqui, realizava-se na igre-
máximo esplendor (5) e com a mesma fé e o mesmo espírito já de ,S. Francisco. Sobre um estrado alto, em forma de
de penitência no ano de 1783 (6), e mais raramente de 1852 monte, cercado de pinheiros, atapetado de cortiça e mus-
para cá (7). Depois caiu em desuso e perdeu'se até da me- go, uma Cruz onde a imagem de Cristo está dependurada
mória dos ibragançanos. Nos anos 1920, 1921 e 1930, a Quin' de cravos. Figuras vivas faziam de Manas e de judeus que,
ta-<Feira Santa foi lembrada na igreja da Misericórdia com a. à voz do pregador, executavam todos''os movimentos até
exposição do Senhor dos Passos, feita com abundância de- que a figura de Cristo passava dos braços da Virgem para
corativa de flores (8). o sepulcro, disposto ao lado que o recebia. Ainda hoje, na
Uma outra procissão fazia e continua fazendo a Santa igreja da Santa Casa, uma ou outra vez, se arma o sepul-
-cro no dia de sexta'£eira santa (11).
Casa da 'Misericórdia: a procissão do Enterro do Senhor.
Todos os Compromissos, incluindo os de 1856 e 1877, a dão Em 1911 não se fez a procissão, dando'se como pretex-
to a proibição da presença das autoridades e áa força pú-
Mica (12). Houve reacção, em 1914, que se realizou com a
1(4) Compromisso, 1618, foi. 32. Conde de Sabugosa - ob.
cit. pág. 262. (9) Compr. 1856 - Compr. de 1877 - pág. 27.
(ï) Abade de Baçal - ob. cit. vol. 2, pág. 291. i('io) Copiador - 1882, n. i, .4, 14, 15, iç, 39 - Corresp. i8'75'
i(6) 1783, inventÁrio. -1894» íol- 7 - Corres^». 1894-1923, foi. 9 v.
1(11) Actas, 1884, foi. 15.
1(7) 1852, idem, foi. 47.
(8) C. Corr. 1924, foi. 113. 1(12) Actas igoj-igig, foi. 55.
140 141
pompa possível, e depois, nos outros anos, com a disponi- ]os e profetas, e saiam as três 'Manas vestidas de preto, co-
bilidade de fracos recursos, mas sempre, com autorização do bertas de 'véus que, em determinados pont03 do percurso,
administrador do concelho (13). A despesa, desde 1846 até mostravam a 'verónica - imagem do rosto de Cristo numa
1888, nunca foi menos de 15.000 reis nem mais de 20.000 tela que se dobrava e desdobrava - entoando o «Vüí
reis, que desde 1889 para cá até 1910 sempre orçou por omnes qui transitis per viam, atendite et videte, etc. ». As
30.000 reis. Em 1923 subiu a 230 escudos, e subiu ainda- insígnias que iam da cana às escadas, foram pintadas de no-
mais em 1941 à quantia de 2.000 escudos (14). vo, em 1671, por 900 reis, e os vestidos das Manas cus-
A imagem do Senhor Morto foi pintada por 600 reis, taram, no mesmo ano, 1.900 reis (20). Elas, por cantar, rece-
no ano de 1676, e teve um volante de prata para ser co' 'biam 200 réis, cada uma.
berto que custou, naquele ano, 1.800 reis. Em 1909, D. No ano de 1677, apareceram três figuras noyas: São
Maria Augusta de Moura ofereceu-lhe um véu de seda, pri' João e José d'Arimateia e São Matias, cujos trajes custaram
morosamente bordado, como em 1898 Íhe havia oferecido 7oo reis (21). Em 1838, às figuras dos anos anteriores, jun-
outro a D. Francisca de Jesus Pires (15). taram-se mais duas: a do Bispo e a de Santa Maria Madale-
(Por vestir a imagem do Senhor Morto receibia o cape' na (22). Em 1842, apareceram as mesmas e mais 6 profe-
lao-mor, em 1833, a propina de 480 reis, o mesmo que o tas (23). IDepois, até 1911, com mais ou menos anjos e com
enfermeiro e mais do que o campainha porque este re-' mais ou menos profetas, a procissão do Enterro do Senhor
cabia 320 reis (16). Esta imagem teve camarim novo, em Morto se 'fez com majestade impressionante, sobretudo no
1870, para o que se tiraram esmolas na soma de 13. 540 tempo em que foi Provedor o Major Luís Ferreira Real
reis <17). (1890-1898), pessoa 'que tornou muito a sério o esplendor do
A (Imagem . do Senhor iMorto sai num esquife que, em culto, de modo a restaurá-lo como se fazia nos antigos tem'
1668, foi feito por 30.000. Em 1710 foi substituído por pôs, vatendo-se do seu prestígio e da sua famüia, e não dei'
outro que custou 49.340 reis, envernizado em 1848 por xando de recorrer às sanções penais consignadas nos Esta-
6. 6oo a8 ),
reis e guarnecido de quatro sanefas de damas- tufos, sempre que os irmãos se descuidavam de aparecer nas.
co preto com galâo dourado em 1852 (19>. vigílias do Senhor dos Passos, nos turnos dos enterros, nas
Como na procissão dos fogaréus, as insígnias da Pai' procissões do Enterro do Sen'hor, ou quando deixavam de
.

xao e Morte de Jesus Cristo saiam sempre levadas por an' apresentar a figura que lhes era destinada pela Mesa. No
tempo do Major Real, como noutras gerências, as multas
1(13) 'Corresp. 1884-1929. eram infalíveis e imperdoáveis. De meio arratel de cerca
<i4) 1845, foi. - C. Corr. 1854, 1856 - C. Corr. 1907 - C.
Corr. 1924 - C. Corr. 1936 - Actas, 16 foi. 79. em 1848, de 1.500 reis em 1877, de 2.000 reis em 1901,
(15) C. Corr. 1884-1929 - Actas,. 1907-1919, foi. 15 v.
1(16) Acórdãos, 1832, foi. 2 v
1(17) IC. Corr. 1854, foi. 102 v, 104. l(2l) 1671, foi. 12 V.
<i8) 1845, foi. 12. (22) Corresp. 1838.
(ig) 1852, inventario, foi. 40 v. '(23) Acórdãos, 1832, foi. 31 v
142 143

de 3.000reis em 1902<24>eram as penas aos irmãosdesobe- categoria. Vai à frente, atrás do guiao roxo. As referidas
dientes; e quando estes se recusavam ao pagamento, era cer. frarias aproximam-se do pálio na razão directa da sua anü-
to serem riscados do rol dos irmãos. guidade. Chega agora da igreja dos jesuítas (hoje Sé) a con-
Diga.se a tempo que as figuras apresentadas na pró/ fraria de Nossa .Senhora dos Prazeres, constituída pêlos alu-
cissao recebiam de presente caixinhas de marmelada. No sé- nos do colégio do Santíssimo Nome de Jesus (1667) seguida
calo XVIII e XIX, a marmelada foi substituída por cartu. pela confraria de São Bento que vinha da igreja de Santa
chos de amêndoas que .eram o delírio das crianças do meu Escolástica (1682) com os seus hábitos pretos, e pela confra-
tempo.
ria de Nossa Senhora do Carmo (1686) com batina carme-
No Enterro do Senhor compareciam as irmandades, mas sim e capa branca vinda,da igreja de S. Vicente. Já próxi-
sem cruzes e guioes.
mas da irmandade da Misericórdia, iam na procissão do En'
Com os dados que temos, podemos reconstituir lima terro do Senhor a confraria das Almas (1715) com opas ver'
procissão do século XWH, a época mais faustosa dos corte- dês e brancas, chegada da igreja, de Santa Maria, a confra-
jos religiosos. ria de Nossa Senhora da Boa Morte (1741) saída da igreja
Saída áa procissão, às 4 horas. De todas AS igrejas vi- de São Francisco, a confraria do Santíssimo Sacrainento
nhamasconfrariase dispunham-se pelaRuadeTrás,segundo (1720) vinda da igreja de São João Baptista, com as opas
a suaantiguidade. E serápor estamesma antiguidade que as escarlates, e a Ordem Terceira de São Francisco (1781) com
disparei nocortejo. Vindada matriz de SantaMana. Aega os seus 'hábitos cinzentos, vinda da igreja do mesmo nome.
a confraria dosclérigosde S. Pedro (1583) com hábitos pré- Dentro das alas das irmandades, levando as insígnias <la
tos; da.igrpja de .SãoJoão Baptista chega a confraria do No. Paixão e Morte de Jesus Cristo, como na procissão dos foga-
me de Jesus (1602) com opas brancas; da igreja de São réus, vão anjos, profetas, varões, e as três Marias vestidas
Francisco, com opas azuis e 'brancas, a confraria de Nossa de preto, cobertas de véus espessos que vão atrás do andor
Senhora áa Conceição (1603); da igreja de São Vicente, com de Nossa Senhora da Soledade, e este atrás do andor de São

opas vermelhas e azuis, 'vem a confraria do Senhor Jesus João Evangelista.


(1654); e da igreja de Santa Maria toma lugar a confraria Depois o pálio, e, debaixo dele, o Senhor Morto, den-
de Santo Estevão (1663). tro do esquife, carregado por clérigos, revestidos de dalmá-
A bandeira da Misericórdia, é substituída, neste dia por facas.

um guiao roxo que no alto tem as seguintes letras: S. P. Vestindo opas da Irmandade da Misericórdia viam-se
Q. R. que, atrás de si, um irmão ergue uma cruz preta com as pessoas de maior categoria no artesanato bragançano; os
uma grande toalha pendente dos braços. A irmandade, dona mestres barbeiros, sapateiros, alfaiates, carpinteiros, emxam'
do cortejo e a mais antiga (1518) ocupa o lugar de menos bkdores, serralheiros, albardeiros, ferreiros e forneiros, em
boa camaradagem com os sirgueiros, os teceïoes de seda e de
veludo, os tosadores e os tingidores; e todos 'estes, em santa
(24) ïdem, foi. 26.
144
frateïnidade crista, com barbeiros, sangradores, cirurgiões,
físicos e facultativos, com advogados, bacharéis, licenciados
e doutores.
Atrás do pálio, fazendo coroa ao Provedor e à Mesa, os
padres, ábaáes,capelâes, cónegos e arcediagos, o procurador
do Duque de Bragança, o presidente da Câmara e vereado-
CAPÍTULO X
rés, o corregedor da .comarca com o juiz de fora e todo o pes-
soai da justiça: escrivães do judicial e do juízo geral, o alcai-
.
de da cadeia e o meirinho geral. Pobres, presos e enfermos
À frente das forças armadas, o Tenente General dos
Pão para os pobres nas festas do ano - Vestir os nus - Die-
Exércitos e Governador Geral da Província, cercado pelo -tas e receitas a dinheiro - Movimento de doentes no hospital -
Brigadeiro e Governador da Praça, sargento-mor da comarca, Pensionistas e o seu movimento.
.

mestres de campo, ajudantes de ordens; e depois os dois re-


glmentos de infantaria e o de cavalaria onde há fidalgos da À Mesa da Santa Casa não faltavam pedidos de pessoas
. Casa Real, 'eavaleiros próifesso. s da Ordem de Cristo. que desejavam ser visitadas para, depois, serem .socorridas. O
As forças armadas imprimem, à procissão do Enterro do Provedor procurava saber se os requerentes eram «pessoas
Serihor, uma grandeza e uma solenidade incomparáveis, pois de. recolhimento, virtude e 'boa fama», pobres e necessitados
os soldados infantes, os guardas a cavalo e os granadeiros, sem recurso à caridade pública, e incapazes, por suaqualida-
chefiados pêlos seus oficiais, pela marcialidade, pelo colori- <le, de servir a outrem, n2o deixando de ser considerados po-
do das fardas>e uniformes, fazem sempre arregalar os olhos bres os que tivessem casa e apenas o rendimento de 6.000
a quem goste e admire a ordem, a disciplina e a autoridade. reis anuais w.
.
Feita a investigação era encarregado um mesário de vi-
sitar periodicamente o necessitado e de lhe dar a esmola, re-
pulada bastante para seu remédio até à quantia .de 2 tostões;
e, se doente, providenciar sobre o físico e cirurgião e sobre
a recepção dos Sacramentos. E não só isto: prover de vesti-
do, calçado, camas e tudo o que fosse necessário<z).
A esmola que aos pobres dava a Santa Casa, era sobre-
tudo de pão. Em 1641,a trêspobres deu io alqueires de cen-
teio que valiam 500 réis. No ano de i"65i, a oferta de pão

1(1) Compromisso de. 1618, . pág. 30.


1(2) Idem, pág. 14, 9.
146 147

pêlos pobres foi de 37 alqueires, sendo o preço do serôdio a. 1895 a I9I4- '^m I^ a ^e Pobres foi tão grande
ioo réis e do trigo a 6o réis. Mas no ano de 1659, a distri- que 'houve de recorrer à polícia para assegurar a ordem W.
buiçao foi muito maior: 466 alqueires de pão e 6.260 réis^ JMo bodo aos .pobres de 1915, fez'se a despesa de 61 escu-
em dinheiro. Mas logo, em 1661, o gasto da Santa Casa já dos, e com as esmolas em 1919 gastaram-se 100 escudos.
foi menor - 36 alqueires ao preço de 8o réis, e 15.527 réis. Desapareceu dos hábitos da Santa Casa o cumprimento
em dinheiro. Aos pobres pensionados pela Santa Ca^a a es- de duas obras de misericórdia: dar de comer a quem tem
.

mçla variava, segundo as necessidades. Vê'seque, em 1667^ fome e, por isso mesmo, darde 'bebera quem tem sede.
houve pobres que recebiam mensalinente 56 réis, outros 84 Como se está longe do tempo em que, nos ihospitais, se
e outros 100 réis. Uns eram subsidiados mensalmente, e ou' via esta inscrição: Christo in pauperibus! Por Cristo aos po-
tros pelo tempo de 8 e 15 dias. Assim é que desde i §45 a bres. Pobre não'ésóo que estáenfermo sem recursos; é tam-
1914» a Santa Casa dispendeu com esmolas a domicílio a. bem o que sem recursos não pode viver. Cuidar dos enfer-
quantia de 3.378.025 réis <3>. jnos pobres 'é grande obra de misericórdia, mas esta obra
Mas havia dias no ano nos quais a .Santa Casa gostava não exclui nem dispensa o exercício da outra - dar de co"
de favorecer os padres. Era no Natal, nas quartas-feiras da mer a quem tem fome.
Quaresma, em Quinta-ifeira Santa e, nos primeiros dois sé^ Porque se não ressuscita o costume secular de fornecer
culos, no dia de Páscoa. O último ano em que houve distri' aos pobres, ao menos no Natal e na Páscoa, um bodo em gé-
buiçao de pão pêlos pobres, foi em 1650-119 alqueires de tri' ïieros? Dar com a direita, às escondidas da mão esquerda,
go. No Natal distribuía a Santa Casa pêlos poibres uma me' está bem, e .é assim mesmo, no domínio da caridade particu'
dia de 125 alqueires de trigo em grão e a quinta parte - 25 lar e individual. Mas no domínio da caridade colectiva, já
alqueires - cozido. E quando algum pobre estava mais ne- não pode ser .da mesma maneira. O exemplo público da ca-
cessitado, recebia um presente de mais vulto. ridade colectiva serve para Iformar o carácter da própria co-
Nas quartas-feiras da Quaresma, além do pão em grão lectividade. As povoaçõesnão são como os indivíduos. Aqui
e cozido, havia pêlos pobres a distribuição de arroba e meia e neste caso, o que dá,devedar ao público a seduçãodo ^eu
de peixe, assim como na Quinta-Feira Santa fazia distribui' exemplo; e o que recebe não deve ter a vergonha de a ïe-
cão de quartilhos de azeite, de arrateis de peixe, quartas de ceber. Não a têm os que têm o hábito de pedir. E os que a
grãos de bico, moletes de pão cozido e esmolas em dinheiro.. têm por serem pobres envergonhados, receberão a esmola a
Em 1661, as esmolas montaram a 4.820 réis, e, em 1710, a. -ocultas, como é próprio do espírito e da letra da Santa Casa
conta chegou a 22. 142 réis. Desde 1847 a 1866, não houve da 'Misericórdia.
distribuiçãode génerospêlos pobres, apenas se deu dinheiro» Quem dá aos pobres, empresta a Deus, disse um dia São
De 1866 a 1874, fez-se novamente; e novamente se fez de João Crisóstomo. A Santa Casa, socorrendo-os, acuniuta um

(3) Acórdãos, 1832, foi. 51 v, 53 v, 53 v. - C. Corr. 1854,. <4) Actos, 1903, tfol. 22 - C. Corr. 1907-1915, foi. 35 -
foi. 25, 32 - C. Corr. 1856, foi. 4, ç, 25. Corres?. 1894-1923, foi. 46.
149
148
restabelece o hábito edificante de fazer, o maior número de
capital de caridade, bem necessário .parao exercício dasou/ vezes, a distribuição 'de roupas pêlos pobres? Porque, dentro
trás obras de misericórdia.
Em vestir os nus, consiste a terceira obra de misencór- dela, à velha maneira, não institui a rouparia dos pobres, on-
.

de as senhoras da terra trabalhem, um dia por semana, na


diacorporal. E estápode serexercida,dandocadaumasrou-
confecçãode roupas,valendo-se de tecidoscomprados ou ofe-
pás velhas que não usa ou mandando fazer outras novas pa-
recidos pêlos comerciantes? Porque 'é que as mesmas senho'
ra os pobres. São Martinho de Tours deu, um dia, a um po'
fare metade da sua capa, e Cristo apareceu-lhe vestido com rãs não sacrificam em prol da misericórdia de vestir os nus,
ela. Este facto ficou, na história, como exemplo, e Gil Vi' um laço dos seus vestidos, um apetite dos seus divertimen'
tos, uma hora dos seus lazeres?
cente, em 1504, dedicou-lhe um auto W exaltando o santo
Repete-se a mesma ideia. A Misericórdianão foi sòmen-
por ter dado o manto a um pobre cheio de frio.
Não obstante a exiguidade de documentos, pode garan- te fundada para hospitalizarenfermos pobres. Ela saiu do co-
tir-se aqui que a Santa Casa da Misericórdia desta cidade ração generoso da Rainha Dona Leonor e do genial espírito
de Dom Manuel para executar todas as obras de miserícór-
cumpriu algumas vezes este preceito divino. Pude ver que
em 1641 se vestiu um mudo por 660 réis; vestido de novo dia. E a de vestir os nus não é menos imperiosa e obrigató-
em 1651. 'Em 1667, deram-se duas varas de pano, que cus- ria do que as outras.
taram 320 réis, a uma pobre aleijada. Mais tarde, de 1865 a Visitar os enfermos e encarcerados é a quarta obra de
1871, a Santa Casa incumbia as senhoras da cidade de^fabri- misericórdia, que nos apraz dividir em duas partes: assistên-
car roupas para os pobres, fornecendo-lhes tecidos adquiri' cia aos enfermos no hospital, assistência aos presos na ca'
dos nas lojas. Nestadespesa, a Mesa nãogastava mais de 20 deia. Se todas as obras de misericórdia são de instituição di'
vina e, por isso mesmo, imperiosas, esta, a dos enfermos po-
a 24 mil réis (6).
Daqui em diante, nas relações da despesa, pouco mais bres, impossibilitados de tratamento em sua casa, parece mais
.

vi a revelar interesse pêlos pobres: um vestido de mulher, divina do que as outras. É porque no exercício dela, a Santa
em 1894, pelo preço de 2.586 réis; tïês camisas a pobres, Casa faz as vezes do bom samaritano que abraça e cuida do
em 1895, que custaram 630 réis; roupa para dois pobres, em desgraçado doente, achado à beira do caminho, dos santos
1902, no que se dispenderam 1.880réis; compra de muletas que aos empestados consagraram cuidados e vida, e do pró'
e chinelos, em 1903, pelo preço de 740 réis; um enxoval prio Cristo quando deu saúde aos enfermos e movimento
completo para um recém-nascido, em 1920, oferecido por aos paralíticos. Foi o exame da caridade da .Santa Casa que o
D. Alice Gonçalves Silvano (7). grande santo alentejano. São João de Deus, extraiu a funda-
IPergunta-se: porque é que a Mesa da Misericórdia não cão da sua ordem - Os Irmãos da Misericórdia.- (1617)
tão conhecida em todo o mundo pelo especial cuidado dos
1(5) Fernando Correia - db. cit. pág. 275. loucos e que na Itália têm o simpático nome de Fate-bene^
i(6) C. Corr. 1854, foi. 94, 75. 'fmtelli, expressão usada pelo Santo quando, ao toque da
.
(7) Actas, n. 16, foi. 177 v
151
150
mseparávelcampainha, convidava o povo à prática .dacari- 1867, recebendo cadadoente a .diáriade 16o reis <11).Com
dade: Fazei 'bem, irmãos. rações domiciliarias que custaram 70.660 reis, foram socorri'
A Santa Casa tem por obrigação cuidar dos doentes po- dos 43 doentes em 1868, e 71, em 1870, que deram a des-
bres, ou no hospitalou na própriacasadosdoentes. Visível pesa de 51.210 réis. (12).
que o doente tratado no ambiente familiar tem um amparo O Compromisso de 1877 legisla sobre os doentes ex-
moral que não tem no hospital. Visível também que no ternos que não querem ou não podem ser tratados no hos-
hospitaltem o doente um amparo clínico quenãopode ter pitai e que, por isso mesmo, têm direito ao Aono de me'
na sua casa. Diante destas duas evidências, aparece o meio dicamentos e dietas, devendo-se'lhes consignar verba no or-
termo que se pode concretizar neste pensamento: assistir aos çamento. Abonos somente concedidos com atestado jurado
doentes na sua própria casa, na medida do possível. do pároco acerca da pobreza dos pretendentes. Para ter lu-
Este critério foi sempre empregado desde a origem da gar o abono de dietas para os doentes externos, é mister que
Santa Casa. O doente era visitado pelo mesário, e logo de'- o facultativo assistente do doente declare na receita qual a
pois eraassistido pelo facultativo que receitava, pelo boticá- dieta que lhe pode ser abonada e por quantos dias. E sus-
rio que aviava o receituário, e.pelo enfermeiro quelhe en- pende-se o abono quando se esteja certo de que o doente
vïava a dieta ou pelo tesoureiro que lhe mandava a esmola ou sua família vendem ou dão as rações abonadas. Aos doen'
em dinheiro. tes que careçam de banhos ou caldas ou que precisem de
Em i651, a nossa Santa Casa atendia a dois doentes no se 'tratar noutros hospitais, passam-se, sendo pobres, cartas
domicílio a quem dava mensalmente a esmola de 55 réis, o de guia para o hospital da localidade a que se destinarem <13).
que perfazia a quantia anual de 1.320 réis. Em 1658, eram Em quatro anos, 1930-1933, o número de dietas, dis-
trêsosdoentesquerecebiam a esmola mensalde 8o réis.Em tribuídas a doentes ao domicílio foi de 7. 118; e em três
1669, os .doentes eram seis no que se gastou, anualmente, a anos, 1940'1942, o número desceu a 1. 190.
soma de 5.560 réis,despesa menor do que, em 1671, que foi De 1942 para cá parece ter cessado o abono das die-
de 6.240<8'. Até 1680, o número de doentes atendidos foi tas. Apenas vi o abono de leite a cinco pobres que por doença
de 8 (9> e de 1681 em diante o número de doentes, atendi- contagiosa não podiam ser recolhidos ao hospital no ano
dos em sua casa, foi, mais ou menos de 12, número que se de 1943; e, em 1944, a mesma concessão a três tubercu'
fixou até ao ano de 1862 (10). losos <14>.
Foi de 20 o número dos doentes tratados em sua casa Não posso crer que, nestes anos, tenha desaparecido
no ano de 1863, e de 28 no ano de 1866, e logo de 21 em de iBragança a pobreza em condições de ser auxiliada na
sua própria casa.

1(11) Acórda.os, 1832, foi. 89 - C. Corr. iS 4> íol. 61, 67.


, (8) 1669, foi. 29-1671, foi. 11. <12) C. Corr. 1854, foi. 84, 104.
(~9) 1671, 'foi. 26-1679, foi. 7. 1(13) Compromisso de 1877.
<io) Acórdãos, 1832, foi. 5° v C. Corr. 1854, foi. 75. 1(14) Actas, 17, foi. 23, v, 46, 59.
152 153

Pelo primitivo 'Compromisso, «nenhumdoente podia ser saída dos doentes; arquivar as tabelas diárias e rações e en-
admitido sem consulta prévia do físico e cirurgião, únicos tregá-las ao escrivão (17).
juizes das admissões no que respeitava à classificação das Vejâ-se agora como, desde 1880 a 1942, subiu o nú-
doenças, embora elas fossem superiormente determinadas mero de dietas e, consequentemente, subiu a despesa. De
pelo Provedor que assiste a todas as consultas de aceitação, 188o a 1899 vão 20 anos. Nestes 20 anos, a despesa total
com as visitas. Os incuráveis não podiam ser admitidos». das dietas foi de 8.694.982 reis, equivalente à média anual
«O vereador substïtuia o Provedor nos seus impedimentos. de 434. 749 réis. Outros 20 anos, de 1900 a. 1920. Despesa to-
Na consulta da aceitação dos doentes, era substituído pelo tal de 18. 135.790 reis, o que dá por ano a despesa de
físico ou pelo cirurgião interno, conforme a doença de que 906.780 reis.
se tratasse. Quando qualquer doente não podia ir à con- O valor dos géneros sobe. O valor do dinheiro desce.
sulta, era visitado em sua casa pelo Provedor, acompanha' Consequência? Aumento do custo da vida. De 1920 a 1931
do do físico e do cirurgião interno que iam sozinhos, se vão 12 anos. Nestes 12 anos, a despesa foi de 201.484,92
o Provedor estivesse impedido, resolyendo-se se sim ou não escudos, resultando a despesa anual de 16. 790, 41 escudos.
devia ser internado e transportado para o .hospital» <15). A ascensão da despesa é sempre maior. De 1933 a 1942
Com esta norma, se procedeu sempre na Santa Casa ou vão io anos, nos quais se gastou a soma de 460. 816, 28 es-
se devia ter procedido. A despesa, em 1667, com os doen/ cudos, correspondente à despesa anual de 46.081,62 escudos.
tes internados foi de 23. 103 reis; e em 1671, foi menos de Que longe se está do ano de 1667 em que a despesa
metade -' 10.500 reis (16). Em 1681, foi 'de 30.736 reis; anual com os doentes internos foi de 23. 103 reis!... E tam-
e em 1710, foi de '20.000 reis. Veja-se, agora, o que a San' bem que longe se está do espírito da Santa Casa da Mise'
.

ta Casa gastou com dietas aos doentes internos desde 1845 rkórdia, não socorrendo desde 1942, com dietas os pobres
a domicílio. Poderá ter sido uma boa medida económica.
a 1858 - li anos. Foi de 1.255. 074 ceis, o que dá a média
de 114.095 reis. De 1860 a 1879, a despesa anual sobe - Não 'é decerto uma medida crista.
6. 128.613 reis, quantia que dividida por 20 anos, dá a média É tempo de perguntar: quantos doentes pobres na San-
ta Casa?
de. 306. 430 reis.
O Compromisso de 1877 legisla sobre os deveres do Em 1668, foram tratados 16, sendo um destes da d'
mordomo a respeito das 'dietas aos doentes hospitalizados. da'de. Em 1669, a Santa Casa recebeu 11, dos quais da
Compete-lhe: inquirir discretamente do enfermeiro e dos cidade eram dois, e todos morreram, sendo i o enterrados no
doentes a natureza e destino das dietas; formular de véspera adro da Madalena. Em 1672, o número de doentes subiu a
o vale para o fornecimento de géneros; visitar o hospital 22, saindo curados 14, e recebendo, à saída, esmola para a
duas vezes por dia; . inspeccionar os assentos de entrada e viagem (IS).

.
(15) Fernando Correia - eb. cit. pág. 539. (17) Compromisso de 1877.
i(i6) 1671, foi. ii. (i8) 1669, foi. 20 - ,1671, foi. 23 v.
154 155
(Por estes algarismos, se averigua a frequência incuráveis, ou mulher casada afectada de molësüa
hospitalar, concluindo'se que os doentes da cidade eram sifilítica, os doentes de tinha, e os doentes'sem gravidade
cuidados na sua casa e que, para o hospital, iam os que que podem ser tratados em suas casas ou no Banco. Também
na cidade não titíham o agasalho de uma casa e o amparo não podem ser admitidos no hospital: os militares, os alie-
de uma pessoa. O hospital até 1837 não tinha mais que nados não pacíficos, e os pacíficos em quartos particulares,
três 'barras de madeira (19). os estrangeiros fora de perigo de vida.
Deste ano em diante, o movimento hospitalar subiu. Ficou determinado que a admissão dos doentes se fí'
Em 1852, o número de doentes foi de 69 e o de mortos zesse, diariamente, pela manha, logo que o médico tivesse
foi de 4. De 7 mortos e 75 doentes, foi o movimento, em feito a visita ao hospital, e nos casos urgentes todo o dia,
I&53- E assim por diante. Vê'se que o horror pelo trata- e apenas se admitirá o número de doentes, corresponden-
mento no hospital diminue, ou que aumentaram as dificul' te à receita presuntiva de cada mês, .excepto em casos de
dades à assistênciadomiciliaria. Tanto assim que o Compro- epidemia, de desastre ou outros em que a caridade e a hu'
misso de 1856 abriga a um maduro exame da receita e manidade reclamam pronto socorro. Evidente que têm pré-
despesa, para, em face dele, ser fixado o número de doen- ferência os irmãos pobresÜaconfraria, os doentes de maior
tes que diária e gratuitamente podem ser tratados no hos- gravidade e, em igualdade de moléstias, os que são chefes de
pitai (20). família, ou os mais pobres (23).
Porque os rendimentos da Santa Casa aumentaram e a Em 1884, a Santa Casa só pôde admitir 6 doentes, e
enfermaria foi ampliada, a Mesa resolveu admitir doentes em 1889 apenas 4, mas em 1891 volta S receber 6, e assim
até ao número de. 8 (21\ Este número subiu a io, por delifae- se mantém até 1894 que permite a entrada de 8, e com
ração da Mesa, em 20 de Março de 1864 (22). Desta sorte, a este número, a Santa Casa se aguenta até ao ano de 1906
média- dos doentes, desde esta data ao ano de 1873, foi de que pôde manter a média diária de 12 (24). 12 doentes foi
84 doentes e 9 mortos. a média diária até ao ano de 1926, porque, neste ano, foi
Mercê das pretensões à assistência hospitalar, a Mesa fixado em 18 o número de doentes pobres a. serem tra'
da Santa Casa, decretou, pelo Compromisso de 1877, o se- tados gratuitamente no hospital <25). Em 1931, por moti-
guinte: que só podem ser admitidos no hospital doentes vo de obras no 'hospital, deckrou a Mesa só poder receber
pobres e com moléstias e ferimentos que não possam ser tra- 14 doentes pobres, devendo as duas últimas vagas ser preen-
tados senão com dieta e de cama; que não podem ser ad' chidas pêlos doentes de urgente gravidade, de forma a ha'
mitidos, ainda que sejam pobres, os doentes de moléstias ver possibilidade a qualquer caso de absoluta gravidade.

1(23) ComFromísso de r877, .pág. 39.


(19) Acórdãos, 1832, foi. 16. 1(24) Actas, 1884, fo!. 2, zS, 56 v, 7°> 8o .v, gi v, 105 v, 115
'(20) Compromisso de 1856. v, 128 'v,-
C. Corr. 18914-1923, foi. 62-
Actas,, 1903, foi. 33- v.
'(2.1) Acórdãos, 1832, foi. 66 v. '(25) Actas, 1907-^1919, foi. 46, 55, 69, 85, ir5 v, 140 - Actas,
(22) Idem, íol. 89. I9I9-I932» f°'l" II» I9> 52> 61.
156 157
A 4 de Junho de 1932, aprova-se o 'Regulamento Geral sistência 'hospitalar, mais pelo apego a. família que ao tra-
da Santa Casa. Neste Regulamento, reeditam-se as condições ïamento feito aos doentes, algumas vezes os doentes de-
que devem ter os pretendentes pribres à assistência hospi- ram as suas esmolas e outras vezes lhe deixaram o que ti-
talar, excluindo os de fora do concelho de Bragança, a não tíham, como prova de gratidão. Ainda em 1849, um espa-
ser que as respectivas câ'maras municipais. Assistência Pú- nhol Simao Garcia deixou uma casa que tinha na Vila à
blica ou qualquer entidade se responsabilizem pelas despe- Misericórdia, como lembrança e agradecimento pelo bem
sãs feitas. que o tinha tratado. Como este caso, outros se teriam dado
Este Regulamento também exclue definitivamente os em tempos anteriores.
membros das associações que concedem aos sócios doentes Vem isto a geito de dizer que é da natureza da Santa
subsídios que os habilitem a tratar-se nos seus domicílios, Casa receber, sem prejuízo dos pobres, doentes pensionistas.
os militares a nãoser como pensionistas, e os pobres do con- Em 1852, estiveram dois pensionistas que pagavam 16o
celho que ultrapassem o número máximo dos doentes que reis diários (28) e tanto o Compromisso de 1856 como o de
a Misericórdia pode socorrer. Exclui provisoriamente, en- 1877 dizem ser da competência da Mesa taxar os preços dos
quanto as circunstancias o não permitirem, as crianças até doentes que, tendo meios de sub.sistência, quiserem ser tra-
aos 7 anos, as mães acompanhadas dos filhos <26>. tados no hospital (29) e o Regulamento Geral de 1932 diz
Com a fundação e ampliação do novo hospital, o nu- que «a aceitaçap dos doentes que quiserem tratar-se em
mero de doentes pobres aumentou. Em 1934, resolveu-se quartos particulares no hospital, será feita pelo 'Provedor,
fixar em 22 o número de doentes pobres. Dali a 2 ano.s, precedendo informação do facultativo» (30).
em 1936, o número fixado foi de 24. 12 homens e 12 mu- A diária, em 1891, passou a ser de 300 reis; em 1897
Iheres foi o número determinado em 1938. Baixou a 16 o de 400 reis; em 1893 fixou-se entre 300 reis e 600 (31). Em
numero de doentes, em 1939, e em 17 de Outubro de 1944, 30 anos que tantos vão de 1863 a 1893, houve 16 com au-
em sessão conjunta da Mesa e Corpo Clínico, ficou assen- sência total de 'pensionistas. E nestes 30 anos, sendo a ren'
te: fixar estes números - na enfermaria de 'homens 12 po- da total dos pensionistas 443. 995 reis, a média anual foi
bres e mais 6 na enfermaria clínica cirúrgica; na enfermaria de 14. 766 reis.
mix.ta para mulheres io pobres, e 4 na enfermaria de gi- De 1894 a 1918 vão 25 anos, nos quais houve io
necologia e partos (27). pensionistas. O rendimento foi de 566. 035 reis, o que dá a
É da índole áa Santa Casa da Misericórdia, que dêm, média anual de 22.641 reis.
na medida das suas possibilidades, os doentes alguma coi' De 1919 a 1932 (14 anos) os pensionistas deram à
sá. Embora raros estes casos, pelo pavor que inspirava a as-
(28) i845, íol. 50.
1(26) Regulamento geral de. 1932, pág. 12. 1(29) Compromisso de 1856 - Compromisso de. 1877, pág. 16.
(27) Actos, n. 16, foi. 25 v, 53 v, 104, 126 v - Actas, n. <3o) Compromisso de 1877.
i7> foi. 56 v 1(31) Actas, 1884, foi. 56 v, 20 v, 128 v.
158 59

Santa Casa 53.043 escudos, o que representa a renda anual são de 15 escudos; e de terceira com a diária de io escudos.
de 3.788 escudos. Mais ainda: a contribuição média durante Mas no preço da pensão não está incluída a assistência mé-
3 anos foi de 6.518 escudos, porque o total-destes três anos dica, nem os serviços cirúrgicos, nem, para os de primeira
foi de 19.554 escudos. e segunda classes, a importância dos medicamentos (34).
Assombrosa a média anual de 1940 a 1945: - 95-4^7 Para as pensionistas de primeira classe, foi elevada, em
escudos porque os pensionistas entraram com a receita seis. 8 de Abril de 1936, a diária de 20 escudos a 25; e 17 de
vezes maior. Maio de 1943, subiram todas as taxas dos pensionistas, e
A 4 de Julho de 1920, acordou a Mesa da Santa Casa desta maneira: primeira classe, a 30 escudos; segunda clas-
fixar em 1.500 reis a diária dos doentes pensionistas com di- se, a. 22, 50 escudos; e terceira classe, a 15 escudos.
reito a dieta do hospital, assistência médica, enfermagem e. Mas não parou aqui a ascensão dos preços. Em 20 de
medicamentos, e em 2. 000 reis o subsídio a pagar pêlos Maio de 1946, resolveu-se que, a partir de i de Junho ime-
doentes que desejassem tratar-se em quarto particular, com <iiato, a taxa das diárias seja a seguinte: - primeira classe
direitos iguais aos outros. Fez-se isto, .em consideração da. - 4° escudos; segunda classe - 35 escudos; terceira classe
alta dos preços. Mas os preços estavam mais altos, em 1921. - 3° escudos (35).
Resultado,foi fixar a taxa de 2 escudos para os pensionis- Veja-se agora o movimento dos pensionistas desde 1925
tas, tratados na enfermaria -comum, e 3 escudos, para os. a 1944. IParte'se de 11 em 1925, chega-se a 36 em 1931,
de quarto particular. a 57 em 1939, a 593 em 1944. Em face dos algarismos da
Maior alta de preços, em 1925. Consequência? io es- escrita da Santa lCasa, vê'se que desde 1925 a 1944 inclu'
cudos para os da .enifermaria geral, e 15 escudos para os de: sive, 'passaram pelo hospital 2.587 pensionistas, o que re-
quartos particulares (32). presenta imenso, se atendermos à pequenez das nossas insta'
Continuou a alta dos preços em 1931. A Mesa da San- laçoes hospitalares.
ta Casa viu-se obrigada a aumentar dez por cento nas diá-
rias e trinta por cento sobre a percentagem hospitalar de:
operações cirúrgicas, destinando estes acréscimos ao pessoal.
do 'hospital - enfermeiro, serventes e cosinheira - aten"
dendo à pequenez dos seus vencimentos (33).
O Regulamento Geral de 1932 divide em três classes
os doentes pensionistas: de primeira em quarto de primeira
com a pensão diária de 20 escudos; de segunda com pen'

1(34) Regulamento Geral de 1932 - pág. 22.


(32) Actas, 1919-1932, foi. 5 li, i9, 52 v.
1(35) Actas, n. 16, foi. 62, 85 v.
(33) Idem, foi. 119.
CAPITULO XI

Ãssisíênda técmca

O sangrador e o barbeiro - Depois o cirurgião e o que ga-


nhava - Os médicos da Santa Casa - Os empregos da Santa Casa
não são vitalícios, mas anuais.

Dentro da quarta obra de misericórdia - visitar os en'


termos e encarcerados - está a assistência técnica. Os en-
fermos aspiram à cura. E para esta vir melhor e mais depres'
sá, é necessária a solicitude da medicina.
.

Por falta documental, não posso afirmar se a Santa Casa


teve desde o seu início, o físico, tão recomendado pelo com-
promisso de 1516. O físico teve tal categoria nas misericór'
dia que a sua chegada ao hospital era anunciada por oito ou
dez 'badaladas do sino, e era recebido conjuntamente pelo
Provedor, voador, hospitaleiro e iboticário que o acampa'
nhaivam na visita aos doentes (1).
Mas afirmo que houve o sangrador, pelo menos desde
1617 com o ordenado anual de 12 alqueires de trigo. Era.
um empregado que, como todos os da Misericórdia, era to.-
mado por um ano, o que não quer dizer que não fosse eleito
consecutivamente. Em 1846, ainda existia o emprego de san'
gradar porque, nesse ano, recebeu a quantia de 3.640 réis.
Em 1861, o sangrador já não ganhava por ano, mas por ca'
1(1) Fernanido Correia - ob. cit. pág. 536.
162
163
da vez que dava a sangria. Quatro sangnas fez, quatro vê- cargo de cirurgião por Júlio José de Morais e com a mesma
zes recebeu a quantia de 240 réis. gratificação anual <4). - '.
Ao lado do sangrador, existia o barbeiro, mas com me-
tade do vencimento do sangrador: - 6 alqueires de trigo, À morte do cirurgião Júlio deMorais, foi nomeado, a 3
de Janeiro de 1845, António Guilhermino Furtado com o
em 1668. Em 1671 e 1672 curou dois pobres, recebendo da
mesmo vencimento, elevado a 36.000 réis a 8 de Maio ime-
Santa Casa, pela cura de cada um, a quantia de 1.300^réis.
diato. Assim continuou até 12 de Agosto de. '1862 em'que a
IDepoiso barbeirodeixoudeserempregadonaqualidadede Mesa da Santa Casa, pêlos bons serviços prestados, achou
curandeiro para o ser no sentido literal da pa.lavïa, 480réis 'bem subir-l. he o ordenado anual a 54.000 réis <5). ' : '
garihouele no anode 1861,e 700réisno anode 1896.Nos Ao cirurgião António Guïlhermino Furtatío sucedeu b
anos seguintes, o pagamento ao barbeiro passou a fazer-se
cirurgião IDr. António Augusto de Oliveira Dias. Em'Março
mensalmente.
de 1876, havia dez doentes nó hospital que não eram visita-
A 31 deMarço de 1811, reuniãoda Mesada Misencór- dos diariamente. Não havia papeletas nem dieta. O Pròve-
dia, animada de grandes intenções. Comprara )á as roupas
dor Conselheiro Henrique Ferreira de Lima eScteve-Ílie a
necessárias para um certo número de camas, e queria cuidar
muito a sério no curativo dos pobres. Mas a administração perguntar se quer continuar a ser medico dó hospital, me-
não era fixa e constante. Parecia^he bem que o D.r. Antómo diante a retribuição anual de 54. 000 réis e com estás condi-
Dias Veneiros se incumbisse da cura dos doentes e, ao mes- coes: visita diária, visita sempre que seja chamado, papeletás
mo tempo, dirigisse o hospital com a economia compatível à cabeceira dos leitos, regularização do serviço do hospital
com a saúde dos doentes, recebendo a gratificação anual de e a sua substituição no seu impedimento. Respondeuó me-
dico a dizer que ganhava menos do que o campainha. Res-
20 alqueires de pão meado W. Mas ã Mesa pareceu que a posta do Provedor: o campainha vive só do ordenado.ÔDr.
gratificação era demasiada porque, no seu entender, devia Dias queria 66.000 réis. O Provedor insiste nos 54. ÓÓÓ
e não
assistir aos doentes gratuitamente como eles, os mesáriQs,a.
cede. Depois, em reunião com a Mesa, o Dr. Dias fica com
serviam. Este acórdão foi tornado a 3 de Outubro de
o velho ordenado e compromete'se a regularizar o setviçb
1813<3). m-édíco do hospital <6). ' : . ï'
Não sei dizer se o Dr. Veneirosconcordou com a reso-
É então que surge o Compromisso áe 12 de Maio áe
luçao tornada. Sei que no ano de 1829, a Santa Casa tinha 1877 a fixar as obrigações do médico do .hosprta.1. Stíbre afír-
um cirurgião com o ordenado anual de 24.000 réis e que se
chamavaManuel José de Morais. Porque, em Setembro de mar a existência áe um clínico nomeado apôs'concursodo'
cumental, diz que lhe incumbe: visitar diariamente às doen-
1841,foi 'horrorosamente assassinado, foi substituído no en-
tes, o mais tardar às io horas da manha no itwernò e às 9
no verão; fazer segunda visita de tarde aosdoentes hiais .rie-
(z) Matrícula, i834> to1- 222 v- <4) Acórdãos, 183.2, foi. 2, 30.
(3) Idem, 1830, foi. 222. <5) Idem, foi. 38 v, 79. , '
(6) Corresp. 1875-1894, foi. i, I v, 6 v.
164 165
cessitados; ouvir e tratar os doentes com caridade e paciên- a 30 de Junho de 1890, sendo substituído pelo Dr. António
cia e examiná-loscom atenção; fazer o receituário, indicar o Augusto Gonçalves Braga que, no ano 1898, recebia o orde-
modo de aplicação dos medicamentos e prescrever dietas e nado de 81.000 réis(9), acrescido em 1901 com a gratifica-
rações; fazer o diagnostico áa moléstia ou os principais sin' cão de 19. 000 réis por ter mais trabalho com a criação da
tomas que a podem caracterizar; e saber o modo como foram farmácia <10).
observadas as suas ordens. Promovido o Dr. 'Gonçalves Braga a guaráa-mor de saú-
Outros deveres se prescrevem ao medico: determinar e de do porto de Lisboa, pediu a exoneração de médico do hos-
conceder de vés-pera as altas, e declarar na papeleta os resul- pitai, após 15 anos de serviço. Lamentou muito a retirada do
tados que a moléstia teve; participar ao Proveaor a necessi- médico, e, a 24 de Dezembro de 1905, nomeou para o seu lu-
dade de se convocar qualquer consulta ou coniíerênaa; in- gar o Dr. [Francisco JoséMartins Morgado, a quem a. Mesa,
dicar, com a nota de Viático e Unçao que deve escrever nas no dia 24 de Fevereiro de 1906, elevou o ordenado a 120.000
papeleías, os doentes que estiverem em necessidade de sacra" réis, confirmado pelo Ministério do Reino, a 13 de Março se-
mentos; participar ao Provedor a necessidade de ser coadju' guinte (11).
vado sempre que careça para alguma operação; inspeccionar A 27 de Agosto de 1913, o Ministro do interior auto-
os géneros alimentícios e a cozinha, sempre que o julgar ne- nzou o proviínento, por concurso, de facultativo do hospital,
cessaria; e fazer autópsia aos cadáveres falecidos, sempre que com o vencimento anual de 120.000 réis, porque o Dr. Mar'
a julgue conveniente ou necessária. tins Morgado se despedira de médico. No concurso apresen-
Mais ainda: dar o seu parecer sofare as condições de ad-
.
tou melhores documentos o Dr. António Olímpio Cagigal
misslbilidade no hospital dos doentes; fazer os curativos no que tornou posse a 8 de Dezembro de 1913 (lz>. Em 1915
Banco; propor à Mesa as providências e medidas necessánas o serviço clínico aumentou, motivo porque a Assembleia
para o bom serviço do hospital e as reformas a fazer no ma- Geral da Misericórdia, no dia 6 de Junho, deliberou criar
terial e pessoal do mesmo; fazer as tabelas e rações, ou alie- mais um lugar de facultativo com o ordenado anual de 100
rar a existente, a qual será submetida à aprovação da Mesa; escudos,e o de parteira'com o vencimento de 40 escudos, fi-
e cumprir as demais obrigações que forem prescritas no re- cando o Dr. Cagigal como director clínico (13), e o Dr. Alípio
gulamenfo interno (7). Abreu como segundo médico. Mas o serviço clínico conti-
A todos estes encargosse sujeitou o Dr. Oliveira Dias, e nuou a aumentara, por isso, a 9 de Agosto de 1920, foi no-
sempre com o ordenado anual que tinha - 54. 000 réis - até meado m;édico interino o Dr. Aderito Madeira, e logo, a io
que, em 5 de Julhode 1888, foi substituído pelo Dr. Aníbal de Outubro seguinte, foi nomeada médica das mulheres a
Augusto Gomes Pereira (-s\ tendo como médico assistente o
Dr. Andréde Morais Frias Sampaioe Melo que se despediu 1(9) Idem, foi. 39 v, 143.
1(10) Idem, foi. 1,43, i8o.
<ii) 'Çorresp, 1884-1929 - Actas, 1903, foi. 311, 33 v.
(y) Compromisso de 1877, pág. 25, (12) Idem - Actas, 11907-1915, foi. 91.
(8) Actos 1884, foi. 7. '(13) Idem, foi. 109 v.
167
166
do director clínico que aceitou com a condição de nada re-
Doutora D. Laura Lopes Torres mas interinamente W, ten- ceber, enquanto fosse membro da comissão administrativa da
do-se-lhes arbitrado o vencimento anual de 120 escudos^ na Santa Casa; e, 6 de Maio do mesmo ano, o Dr. Francisco
sessão de 22 de Julho de 1921. e ao director clínico mais a Inácio Teixeira Moz é nomeado medico substituto, que, a 24
gratificaçãoanual de 30 escudos. Foinesta mesma sessãoque de Junho seguinte, pela exoneração do Dr. Madeira passou a
se deliberou dar à médica uma auxiliar com a gratificação médico tífectivo, ficando como substituto o Dr. António da
anual de 6o .escudos(15>. Circuncisão Pires.
Os dois m.édicos, Dr. Aderko Mendes Madeira e D. Lau. Pelo Regulamento Geral, de 4 de Junhode 1932, os me-
ra iDomingues Torres; foram nomeados definitivamente a 21 dicos efectivos recebem 100 escudos mensais, e o director clí-
de Agosto de 1921, com o ordenado anual de 120 escu' nico mais .20 escudos, a título de giatifícaçao. E pelo mesmo
dos <16>. Regulamento, os médicos da .Santa Casa só podem ser demi-
Não sei porquê, a i de Junho de 1922, o Dr. António tidos nos termos do Regulamento Disciplinar dos Funcioná-
.

Cagtgal pediu a .exoneração <") pedido que foi retirado a pe- rios Civis, cabendo'lhe o direito de recurso para o Tribunal
didodaMesa. Também não sei porquê, o Ministro do Tra' competente (2l). Evidentíssimo que este artigo - o art. 22.®
baÍho, a 22 de Setembro de 1932. considerou nulas as no' - do Regulamento Geral"põe a salvo os médicos do hospi-
meações do Dr. Adento Madeira e Dr.a D. Laura Torres. tal de eventuais injustiças da Mesa da Santa Casa; e eviden-
razão pela qual a Mesa agradeceu a estes dois médicos os tissimo que o mesmo artigo 'vem embaraçar a administração
serviços gratuitos prestados à Misericórdia(181. Mas se^ por- da Santa 'Casa qundo um medico ou médicos seja ou sejam
que a 9 "de Junho"de 1927, o Dr. Cagigal .pediu, e foi.lhe obstáculos à boa harmonia e paz que devem existir entre a
concedida, a exoneração de director clínico, depois de 14 Mesa e o Corpo Clínico. Parece-me, no entanto, que a difí-
anos. Tinha-se colocado em Lláboa (19). culdade foi resolvida, há 431 anos, pelo Compromisso de
Na sua vaga, foi nomeado interinamente o Dr. Manuel 1516 que ÍEl-iRei Dom Manuel decretou e impôs a todas as
Fernandes de JesusTorres, em Abnl de 1930; e, em Setem- Misericórdias de Portugal e seus domínios, compromisso,
bro de 1931,com ordenado anualde 100escudos, foram no' aliás, que sófoi publicado após 18 anos de experiência, pois
meados o Dr. Aderito Mendes Madeira e D. Laura Domin- começou a ser executado, experimentado e condnuamente
gues Torres t20». rectificado desde 1498, ano da fundação da Misericórdia de
A 3 de Abril de 1932, é o Dr. Fernandes Torres nomea' Lisboa. .Segundo este Compromisso, e dos mais que se lhe se-
guiram, os empregos da Santa Casa não são vitalícios, mas
' ,(14) Actas, 1919-1932. M- i3> 14 v - Correi. 1894-1923, í°l- anuais. Nem o'brigam as Mesas, nem obrigam os funcioná-
i6i.
Idem, foi. 19 'v- nos. Os.cargos da Santa Casa não são fontes de renda. se é
(Í6) Ïdem, iol. 23 - Corresí». 1894-1923.foL, I65_v^
Corresf. 1884-1929 - Actas, 1919-1932. »!. ^ v- que se pode chamar renda à parca gratificação mensal que
(i8~) Corresp. i?S4--ig29 - Actos, 1919-932, tol. 30 v.
(iç) Corresp. . 1884-1929; (21) Reg. Gemi de 1932, pág. 12.
<2o) Actos, 1919-1932, foi. 59 v.
68
rectíbem. Os cargos áa Misericórdia são, sobretudo . e princi-
palmente, encargos, desempenhados por espírito de fé e ca'
ïidade. Segundo o espírito 'e a letra de todos os compromis'
sós, desde o Provedor ao último servente, todos os encargos
são de anual duração e que, por isso mesmo, anualmente se
renovavam. Não se compreende bem esta privilegiada singu- CAPITULO XII
laridade de exercício miédico vitalício numa instituição que^

pela sua origem, natureza, 'história e fim, todos os cargos Os medicamentos


são encargos por tempo de um ano, mas capazes, no entan"
to, 'de serem renovados todos os anos. Nos primeiros séculos - Grandes despesas -A farmácia pri-
vativa do hospital - A sindicância - Como acabou a farmácia -
A i4 de 'Fevereiro de 1935, agradecem-se e aceitam-se
Grandes números de uma grande despesa.
os serviços clínicos da Doutora D. Branca Augusta Lopes
Chiote; e a 8 de Julho de 1937, o Dr. Francisco José Mar- O boticário, «'homem que saiba mui bem o ofício e te-
tins Morgado, antigo Provedor e médico, oferece os seus ser- nha a práticadele, .assim como para o maneo de tal casa con-
viços clínicos à .Santa 'Casa <2Z). vêm, que seja mui prestes e despachado nas coisas do dito
IPor morte do Dr. Fernandes Torres, foi nomeado para
ofício» (1> não existiria na Santa Casa de Bragança. As pur'
a sua vaga, em 23 de Março de 1943, o Dr. Francisco Inácio gás, os xaropes, leiteários, mezinhas místicas, estomáticos,
Teixeira Moz, e, para a vaga do Dr. Teixeira Moz na enfer- emplastros e cosimentos de hervas para lavatórios para a
maria dos homens, foi nomeado o Dr. António da Circun-
média de .três doentes na Santa Casa não podiam exigir um
cisãoPires que tornaram posse no dia 6 de Abril(23). laboratório especial. Decerto o enfermeiro recorreria à botica
A 17 de Maio d.e 1943, foi reconhecida a necessidade- comum da. cidade, de resto de pequena população.
de lemodelar o quadro dos médicos da Santa Casa. Fez-s& Não existindo boticáno no 'hospital, também não era
um projecto de remodelação, em 12 de Julho seguinte. A 3. de absoluta necessidade o mordomo da botica, encargo tão
de Julho de 1944, além dos médicos já existentes, ficaram a importante nas misericórdia.s de Lisboa e Porto; encargo que
fazer parte do corpo clínico da Santa Casa, os médicos: di" mensalmente era servido por um mesário, um mês nobre,
rector da enfermaria de obstetrícia e ginecologia, o Dr. Ali-'
outro mês oficial (2>. Fundamenta-se a minha opinião no
pio de Abreu; director da en.fermaria de cirurgia, o Dr. Ma- facto da .Santa'Casa dispender em mezinhas, no ano de 1641,
nuel António Pires; médico substituto da enfermaria dos ho-
a quantia de 1.020 réis, o mesmo em 1651, e somente 600
mens, o Dr. Ramiro Augusto Moreno; e médica substituta réis no ano de 1671. Mais que estas insignifkâncias, só em
da enfermaria das mulheres, a Dra. D. Branca Chiote t24'.
1681 no qual a despesa com mezinhas foi de 4.000 réis.
(23) Actas, n. 16, foi. 3'5 v, 86. 1(1) Fernando Correia, oh. cit. pág. 545.
(24) Actas, 17, foi. 15 v, 19, 24, 46, 48 v. 1(2) Compram, de 1616, pág. 22 v.
171
170
Assembleia Geral da Santa Casa em 27 de Maio de 1900.
Com o crescimento da população hospitalar e a dimi' Graves as dificuldades da Santa Casa por causa da des-
nuiçao das receitas, provocada principalmente pelo período pesa com os doentes recolhidos no hospital e com os que
das lutas liberais, no qual os serviços se desorganizaram, a socorre fora dela, e da despesa com o fornecimento de me-
. Santa Casa, depois do primeiro quarto do século XIX, viu' dicamentos a uns e outros. Provasse a despesa feita com os
/se em seriíssimas dificuldades. Assim é que, em 1839, a jnedicamentos nos últimos anos. A dívida era, por motivo
SantaCasanãopagava as contasda 'boticadesde 1833, e em dosmedicamentos,dequasedoiscontos e quinhentosmil réis.
1841 a dívida ao boticário era de 236. 126 réis<3). Para custear esta despesa, a Santa Casa dispunha apenas de
Vejamos agora o movimento de medicamentos, em vá' 418.500 réis, os juros de inscrições de 2.790. 000 réis» o subsí-
rios períodos, destinados aos doentes internos. De 1845 a
.

dio de algumasconfrarias c. omputado em 250.000íeis, a .con-


186o vão 15 anos. Nestes 15 anos, a despesa foi de 539. 442 tribuiçâo do Estado para as toleraidas e o insignificante ren-
réis, equivalente a 35.960 réispor ano. De 1861 a 1877 vão dimento de foros em géneros e dinheiro. Com o avanço do
i7 anos. Neste período de tempo, a despesa foi de 2.667. 194 pauperismo na cidade, o problema tendia a.complkar-se ain-
réis, o que dá a m'édia anual de 156. 890 réis, isto é cinco da mais.
vezes mais do que nos anos anteriores. 'Feita esta exposição, é lançada a ideia da criação de
Segundo o Compromisso de 1877, o mordomo do hos- uma farmácia a -fim de fornecer medicamentos para o hospi-
pitai tem a seu cargo fazer entrar nas enfennarias todos os tal, para os pobres e para o publico em geral. Para a. farmá-
remédios e o livro do receituário, até à hora e meia da tarde cia, um partido farmacêutico com o ordenado anual de
impreterïvelmente, observar se o facultativo visita regular' 250.000 réis e certa percentagem nos lucros a título de gra-
mente os doentes à hora marcada. Ora este receituário desde tificaçao. Para se pôr em prática esta ideia, era necessário
1878 a 1898 - 2i anos- importou .em 5. 547. 883 réis, equi' aiienar as inscrições sufícientes para obter a quantia de um
valente a 264. 180 'réis por ano. (Mas a despesa com o recei- conto, de réis, destinada à aquisição de medicamentos, arma-
tuário sobe de ano para ano. De 1899 a 1902, quatro anos^ cão, aparelhos e vidraria.
portanto, a despes'a foi de 1.302. 198 réis, correspondente a A assembleia geral aprovou a ideia e o pedido ao Go-
rlels anuais.
325. 549 verno para dar autorização (6>.
Esta despesa .anual sugeriu à Mesa da Santa Casa, de A 30 de Janeiro de 1901, o Governador Civil, Conse-
que era Provedor Abílio de Lobao Soeiro, a ideia de criar Iheiro Abílio Beca, informa o 'Provedor que, pelo decreto n.°
uma farmáciaprópria, tanto mais que os quatro farmacêuti- 288, de 2 de Novembro passado, a Santa Casa fora autoriza-
cos locais estabeleceram um autêntico desafio de percenta-
da a alienar as inscrições necessárias a fim de obter a quan-
gem que dava a impressão de boa margem de íucros <5).
<3) Idem de .1877, pág. 33 - AcoráSos, 1832, foi. 23, 27 v,
29, 29 v- <6) Idem, foi. 167 v. - Corresp. 1884-1929.
(4) Corresp. 1884-1929.
(5) Actas, 1884, foi. 161 v, 155 v.
172 173
tia necessáriade um conto de réis para fazer faceàs despe' lucro de 648. 780 réis <13) como no ano seguinte o deu de
sãscom a criação da farmácia. A 30 de Outubro 'de 1900, já 357'7°5 rels 4)*
o Govertío aprovara a criação;e, a 27 de -Março seguin.te, a Acontece que o farmacêutico, a 6 de Abril de 1906,
Mesa aprovou o regulamento que previa, quando possível, ipediu que, em vez da percentagem nos lucros da farmácia,
um laboratório para análises iquímicas ao serviço do hospital se lhe aumentasste o ordenado. A Mesa 'concorda, e fixa-lho
.
e do público, mediante preços» estabelecidos numa tabela. O em 400.000 réis anuais, e o Ministro do Reino, a 30 de Abril
farmacêutico ganharia 250. 000 réis anuais, teria quarto no de 1907, indeferiu o pedido(15).
hospital devidamente mobilado e a percentagem de 25%. A farmácia continua á ter lucros. A 30 de 'Junho de
Este regulamento foi publicado no Diáriodo Governo de 15 1908, regista um lucro áe 522.304 réis(16). No ano seguinte.
e 16 de Abril de 1901 W. a 17 de Março de 1909, o Provedor, Albino Joséde Carvaliho
Depoisdisto, vendem-se 2.700.000 réisde inscriçõespor e Castro, declara que o movimento da. farmácia estava limi-
1.026.000 réis, nomeia-se farmacêutico Carolino Abel Rodri- tado ao receituário do hospital e dos doentes externos <17).
gues .Serrano e .compra-se e instala-se a farmáciapor 211.800 No entanto, a 30 de Junho de 1910, o lucro ainda foi de
réis (8). 192.070 réis <18).
No primeiro ano a farmácia apurou 299.400 réis; no se- A Mesa da Santa Casa de que era Provedor o Eng.
gundo, 537.330 réis; no terceiro, 7o'2.875 réis; e no quarto Olímpio Artur de Oliveira Dias, apavora-se. Se neste ano
865.375 réis(9)- o lucro fora assim insignificante, nos anos seguintes o pre-
A 23 de Agosto de 1904, a Mesa apurou um saldo de juízo seria certo, com o que a Santa Casa não poderia sii'
17.418'réis, e a 30 de Junho do ano seguinte apurou o sal' portar. Esqueceu que, mesmo com prejuízo, haveria lucro
do de 599.310 réis(10). para a Santa Casa.
Diante 'deste saldo, a Mesa rejubila, e a 15 de Maio de Certa a. Mesa do prejuízo, reúne a 5 de Novembro de
1905. a Mesa resolve concorrer, no dia 19 imediato, à arre' ipi o. Na convicção de que farmácia não preenchia o
a seu

maUçâo do fomecimentt) de medicamentos ao hospital mi' fim - aumento de receita e maior distribuição de rem.édios
litar-t11). aos pobres - e na 'certeza de ser difícil a sua fiscalização
Termina o ano 1905-1906, e a Mesa observa com pra' por parte das Mesas, foi proposta e aprovada a venda da far-
zer que se .havia apurado a quantia de 795. 610 réis t12) e o macia, e votada em assembleia de 27 de Novembro, sendo
arrematada, a 18 de Fevereiro de 1911, havendo apenas um

1(7) Idem, foi. 65. (13) Actas, 1903, foi. 41 v.


<8) 1901-1906 - Farmácia, foi. 33 v, 50 v, 74 v° (14) Idem, 1907-1919, foi. 5.
(ç) Acafo, 1903, foi. 15 v, 30. (15) Corresp. 1884-1929 - Actas, 1903, foi. 34, 45.
i(io) láeni, foi. 23.
.
(16) Actas, 1907-1919, foi. 21.
i(li) Idem, foi. 23. '(17) ídem, foi. 14.
1(12) 1901-1906 - Farmácia, foi. 88 v. <i8) Idem, foi. 28.
174
175
único concorrente'que ofereceu a quantia de 5I3t 300 réls> .
O Governador 'Civil, Domingos Frias, a 15 de Novem- No entanto, apesar da evidência das considerações do
sindicante, a Mesa concluiu em contrário, e a farmácia, uma
bro d.e 1910. ainda tentou impedir a extinção da farmácia, útil realidade, desapareceu.
por não acreditar que ela desse prquízo. Mesmo que o dês- Segundo a minha opinião, a farmácia desapareceu devi-
se, esse prejuízo seria inferior à despesa da Santa Casa com
o fornecimento de remédios para os doentes, existentes den- do principalmente ao ambiente antipático que se the criou,
com algum fundamento. Faltou, nesta iniciativa, o espírito
tro e fora dela. Foi de opinião que se fizesse uma sindkân-
cristão que desde a sua fundação informou a .Santa Casa da
cia ao empregado; e, se acaso, resultasse mal, por-se-ia o lu-
[Misericórdia. Que a Santa Casa tivesse a sua farmácia para
.

gar a concurso (20).


uso próprio, para sua economia e vantagem, estava no seu
Em obediência à opinião do Governador Civil, fez-se a
direito <ectonfo'rme aos .seus Compromissos seculares. O erro,
sindicância da qual extraio o mais importante. «A diferença
e erro gravíssimo, foi instalar a farmácia em competição e
apuradacontraa Misericórdiae o dinheiro por'cobrardeme- guerra às farmácias existentes. Esta competição e es'ta guer'
dicamentos vendidos, dá um total de 1.954. 986 réis que, di-
ra são contra o espírito das Misericórtlias, É contra a justiça
vidido pêlos io anos de existência da farmácia, acusa uma e contra a caridade.
medi?,anualde 195.496 réisque foi positivamente em quan'
Extinta a farmácia,lfez'se, a 5 de Março «je 1911, a ar-
to vieram importando os medicamentos dos doentes do hos-
remataçao dos medicamentos. Diante das vantagens, a Mesa
pitai e pobres em cadaum dos io anos.Ora a médiadaim- da Santa Casa optou pela proposta de Álvaro de Oliveira
portânda de medicamentos que a Santa Casa gastou, em
cada um dos anos anteriores à instalação da farmácia com os !Moz que ofereceu ,a percentagem de 30%. No ano seguinte,
nova arrematação, a 3 de Março. Concorrentes 6 farmacêuti-
doentesdo hospitale externos. foi de 371.414 réls<lue' com'
cos. Foram adjudicados a Vítor Salazarque ofereceu a per-
parada com a media referida, mostra bem claramente que a centagem de 45% ie os preparados ao (preço da factura (22).
farmácia traria sempre lucros à confraria, independentemen-
te da sua má administração. É de notar ainda que, na esti- Desde 1910 a 1914- 5 an'os -a Santa Casa gastou em
medicamentos 739. 178 réis, o que dá a média de 147.835
maçao deste cálculo se deu, como incòbrável, ou perdida, a réis. Neste ano-ano de 11914 - ficou com o fomedmento
quantia de 375-390 réis, de medicamentos vendidos e por
dos remédiosÁlvarode Oliveira Moz, dando a percentagem
pagar, e se não meteu em conta a despesa de medicamentos de 50%, excepto as especialidades <23).
gastos com o hospital e pobres no ano económico de 1910-
'De ,1915 a 1919 - 5 anos- a despesa em meáicamen-
-1gii> por nãoestar aindaesta importância convenientemen-
tos foi de 1.249. 725 réis, o que deu a méáiaanual de 249.945
te üquidaáa»(21). reis.

(ig) Idem, foi. 29.


<2o) Corresp. 1884-1929.
(zi) Actos, i907-'i9i9, líol. 57 v 1(22) Idem, foi. 42, 65.
(23) Idem, foi. 95.
.
176 177
Estamos a. 16 de Fevereifo de 1920. Provedor o En.g. Qual a despesa em rem.édios em 1943? - 26.201 es-
Olímpio Artur de Oliveira Dias, o mesmo que pleiteou e con- <:udos.
seguiu a extinção da farmácia. Nesta data, escreve ao Minis- Qual a despesa, em 1944? - 33. 723 escudos.
tro do Trabalho: «Sendo o hospital civil a cargo da Miseri- Qual a despesa, em 1945? -' 54.963 escudos.
córdia de minha provedoria, destinado a recolher doentes E os pülbres externos? Os pobres externos que estão
desta cidadee seu concelho e a acudir a operários em aciden' centro da finalidade da Santa Casa da Misericórdia? Para
tes de trabaliho, acontece que a despesa com o fornecimento .

eles, desde 1863 a 1909 apenas se gastaram 595 escudos...


de medicamentos perturba e agrava sensivelmente a situa- E idepoisde 1909?Apenas pude averiguar que, no ano 1909-
cão económica deste estabelecimento de caridade que tantos '1910, se aviaram 242 receitas, que ,no ano de 1013 se gastou
benrifícios . presta aos pobres que sofrem. Nestas circunstân- em remi édios 15. 980 réis.

cias, ipois, venho rogar a V. Ex. al


se digne solicitar do Ex. mo A despesa com os remédios aos pobres externos está en-
Ministrto da 'Guerra a devida autorizaçãopara que a farmácia globada na despesa geral? Talvez. Mesmo sem talvez, tenho
do Hospital Militar possa 'fornecer os medicamentos para o a. impressão de que não tem havido por eles o interesse a
hospital civil, tíbrigando-se esta Misericórdia ao seu paga- <^ue têm direito, iporque ides, tanto ou mais que os internos,
mento pêlos preços ali estabelecidos. O respectivo farmaceu- por serem em maior número, são também filhos de Nossa
tico. visto tratar-se de auxiliar um estabelecimento de cari' Penhora da Misericórdia.
dade, sujeitasse manipular medicamentos gratuitamente, no
a Estejamos lembrados sempre que o hospital para doen'
caso áe ser concedida a autorização pedida, que representa tes internos é um importante sector da Misericórdia; não é
um importante benefício para este estabelecimento que tanto toda a Misericórdia.
carece de auxílio dos Poderes Públicos para poder exercer a
sua 'benéfica acção» (24).
O iMinistro da Guerra deu bom despacho, e a Mesa, a
19 de Julho de 1920, fez o primeiro pedido de medicamen-
tOS(25).
Agora estes algarismos de máxima importância. De 1920
a 1935 vão 16 anos. A despesa em medicamentos foi de
92. $25 escudos, equivalente, em cada ano, a 5. 782 escudos.
É muito. De 1936 a 1942 vão 7 anos. Nestes 7 anos, a des-
pesa total em medicamentos foi de 108.761 escudos. Média
anual foi ide 15. 533 escudos.

(24) Corresp. i894'i9'23, foi. 158 v.


(25) Corresp. 1884-1929.
CAPfTULO XIII

Assistência aos presos


Q mordomo dos presos - Água e pão - Nas quartas-feiras
da Quaresma e na Quinta-feira santa - Duas cartas muito expres-
sivas - O jantar aos presos - Os privilégios de Dom Manuel.

Tamibémpertence à quarta ofbra de misericórdiaa assis-


tência aos presos. Ela 'é tanto ou mais necessária do que a
assistência aos enfermos pobres. Para os pobres domiciliados
na sua casa, existe o conforto da família se bem que pobre
e .0 alívio da consciêncialivre de públicaacusação.Além dis-
to sofre/se a doença em pleno domínio da. liberdade. Com os
presos vive o desamparo de aÍectos, a ausência rie recursos,
a amargura de um crime tíometido ou imputado, .e as grades
de uma cela que 1'he tiram o maior 'bem de Deus - a liber-
dade.
Para presos doentes ou sãos, vive a Santa Casa. Eles,
desde a primeira hora, existem no. capítulo mais importante
das ^misericórdias.
Eleita a Mesa, esco.lhia-'se mensalmente um irmão para
mórdomo dos presos, ora nobre 'ora oficial, akernadamente,
homem em geral de mais experiência(1). E quando os pre-
sós'caíam doentes, era ao mordomo <áa botica que ca.bia velar
(i) Com.promisso de 1616, pág. 9 Matr. de irmãos, 1834,
foi. 273.
180 181
por eles. O primeiro cuidado era mandá-los confessar, ao aguadeira, passou a ser de 3.000 réis (6). Em 1672, houve mo-
mesmo tempo que providenciava, sobre a comida e sobre a. diificaçao no ordenado: 2.000 réis e 20 alqueires de trigo <7)
assistência pessoal que, em .geral, era .exercida por outro pre- que logo a quantidade do trigo baixou a 8 alqueires, . e em
só capaz de caridade e diligência. Incumbia'lhe tairibém lê' 1711 .subiu a io <8>. Vem a propósito dizer que, em 1641, a
var o médico duas vezes por dia à cadeia e o sangrador quan' Santa Casa comprou dois cântaros por 50 céis, e em 1659
do preciáo, levar-lhe a comida feita na cozinha da Santa Ca' comprou quatro por 18o réis.
sá, segundo as prescrições do 'físico (2). Era deste modo que a Santa Casa cumpria, para com os
Além da assistênciado mordomo, tinham os irmãos obri' presos, a misericórdia de dar de beber a quem tem sede.
gaçao de visitar os presos, para ver se estavam vestidos, se Também cumpria a outra - dar de comer a quem tem fome.
eram curados cm suas doenças, se as suas causas corriam com. Os presos não eram .esquecidos no dia do oifício geral
as diligências necessárias, e se estavam retidos por falta de pêlos irmãos.Para eles -esmolas» Em 1668, foram distribuídos
algum áitíheiro que a Santa Casa pudesse dar (3). 2. 8oo réis. Não eram esquecidos no dia de Natal. Em carne
Mais que o interesse do mordomo e dos irmãos, a Santa e vinho gastaram-se, em 1659, 300 réis, e em 1681 .a despe-
Casa dispunha que, em cada freguesia, 'houvesse uma ptessoa sá foi ;maior -650 réis. No Natal de 1710, em esmolas dis'
com .o encargode tirar .esmola de pão .para os presosque, em. tribuídas pêlos presos e pobres, a Santa Casa dispendeu
geral, pedia todos os Domingos depois da missa (4). Pêlos 44-28o réis.
privilégios de Dom Manuel, concedidos às Misericórdias, a Citam'se estes factos paia comprovar o carinho que à
15 áe Novemlbro de 1516, só a Santa Casa podia fazer pe- Santa Casa mereciam os presos da cadeia.
ditórios a favor dos presos, entrevados e .envergonhados, vis' Mas era sobretudo no tempo da Quaresma que maior
to que a «dita Conifraria a tudo prove, segundo a. necessida- interesse se desdobrava em favor dos presos: nas quartas-fei-
de que cada um sente» <5). rãs .e Quinta'iFeira Santa.
Que longe nós estamos desta maravilha de caridade! E, A esmola para esta distribuição extraordinária colhia-se,
no entanto, esta actividade crista íaz parte integrante da San' geiïlmente, na segunda-feira de Carnaval. Quando toda a
ta Casa da Misericórdia. Exercia esta obra de misericórdia^ gente folgava, quando todos, na medida das suas ptossibili-
pondo em práticaoutras obras. E a primeira era dar de beber dades, regalavam o paladar com as iguarias próiprias do En-
a 'quem .tem sede. trudo, a bandeja do campainha estendia-se à caridade públi-
Ao serviço dos presos, a Santa Casa tinha um aguadeiro ca. Entrava em toda a parte, e, à lembrança dos presos, as
que recebia anualmente 4.000 réis e 8 alqueires de pão. Este esmolas caíam na bandeja da misericórdia (9).
ordenado foi recebido até 1669 porque, neste ano, por ser
1(2) Idem, foi. 22 v. (6) 1669, foi. 30.
(3) Idem, foi. 9. (y) 1671, foi. 21.
;(4) Idem, foi. 26 v. (8) IÓ79, foi. 24.
1(5) Fernando Correia - ob. rit. pág. 577. {g) 1845, foi. li v.
182
183
Jamais se deixava de fazer este pedltóno quando não
'era substituído vantajosamente por uma subscnçâü pública. presos militares quando havia presos na cadeia militar, si'
tuaáa no rez do chão da .casa da guarda do Principal. A
E quando as esmolas arrecadadas eram insuficientes para o
custeio, a .Santa Casa extraía de si mesmo o que fosse neces' 34-2ÇOrels ascendeu a despesa no ano de 1878, e a 56.070
sário. Em 1852, as esmolas renderam 12.960 réis (10^ atingem réis no ano de 1893, e a 72. 750 réis em 1899, o último ano
27-670 réis em 1859 (11) sobem a 33.920 réis em 1865 (12> e, em que se deu aos presos o jantar que tinha séculos de pra-
xe. Durante centenas de anos apenas em 183^ houve uma
nesta quantia, se .mantém a subscrição até que se esqueceu
esta magnílfica . e caridosa usança. interrupção, devido a abundânciade presos e às grandes dí-.
Em todas as quartas-feiras da Quaresma, ,1 Santa Casa, vidas que pesavam sobre a Santa Casa. Mesmo assim a Mesa
desde a sua fundação, até pelo menos, 1721, <13) distribuía jan- da Santa Csaa fez chegar a cada preso, no grande dia de
Quinta-iFeira ,Santa, uma esmola de harmonia com a escassez
tar aos presos, 'jantar abundante no qual o bacalhau e o grão
de bico faziam as 'honras, e o vinho não escasseava. dos seus recursos <l8).

Exemplos: 1668 - Despesa com bacalhau, vi- O dia 5 de Abril de 1900 é o dia da morte do jantar
nho, 'azeite e grãos ...... ... ... ... .... ... ... 3. 585 aos presos da cadeia.
1672-2 arrobas de bacalhau e 5 quartas de Em sessão, deliberou-se 'empregar 10.000 réis na melho-
trigo ... ... ... ... ... ... ...... ... ... ... ... 2. 420
ria do rancho dos presos, Quinta-feira Santa por intermédio
1676-Vinho, bacalhau, azeite e grãos ... ... 2. 200 do Delegado do Procurador Régio. Resolveu-se mais: aumen-
Mais ou menos se fez esta despesa em todas as quar' tar o número de raçõese distribuídas pêlos pobres necessita-
tas-feiras da Quaresma até ao ano de 1711, no qual a Mesa dos, no mesmo dia destinado antigamente aos presos e aos
determinou que, alem do habitual, se cosessem 6 alqueires pobres. ,E dava-se esta razão: ser espectacultoso o cortejo do
de trigo e '5 de centeio. jantar aos presos da cadeia tl9).
.

Ë na Quinta-iFeira Santa? O jantar aos presos assumia Não se nega aqui o espectáculo do cortejo. E não se es-
a maior imponéncia. conde aqui a predilecçao pela esmola silenciosa e oculta. Isto
A despesa era um pouco mais do que -os jantares das deve Ifazer-se quando se trata de particular para particular e
quartas-lfeiras. Em 1848, foi de 7.435 réis(14) em 1854, su- mesmo à 'ctolectividade quando não haja interesse de maior.
biu a '2'i. 47o réis a5> em 1862, subiu mais a 32.205 réis <16>.
O interesse d'e maior, neste caso, está em dar às gerações no-
Desde o ano 1865, aos presos civis eram associados os vás uma lição pública, solene e impressionante de afecto aos
desgraçados que, longe da família e da liberdade, gemem e
(io) Idem, foi. 25 v, espiam o peso da justiça humana. É uma lição vivida, e tão
(i i) C. Corr. 1854, foi. 24 v.
(iz) Idem, foi. 58 v. vincadamente, que ela se não risca da memória de quem
;(i3) Ahade de 'Qaçal - ob. cit. vol 2, pág. 291.
(14) 1845, foi. li.
(15) Idem, foi. 62. 1(17) Idem, foi. 104.
<i6) C. Corr. 1854, foi. 47. (18) Acórdãos, 1832, foi. 3 v.
(19) Actas, 1884, foi. 159 v.
84 185
uma vez a presenciou. Depois é .um acto público de santa Em sete ceiras se recolhiam as esmolas para o jantar dos
fraternidade, porque os presos, com serem presos, não dei- presos porque cada um dava para o jantar o que podia; e,
xam de ser nossos irmãos. É o convívio entre a justiça que em dois caldeiroes de cobre, se levava o jantar. Estes caldei-
condenou e os réus condenadtos. É a doce certeza para quem roes 'foram üferecidos ao 'Museu a 8 de Fevereirü de 1931 (19).
safre de que não está esquecido nos grandes dias festivos. Desde 1891, para dar um jantar aos 'presos, era neces-
Foi uma pena 'que a Santa Casa da. Misericórdia deixasse
. sário pedir licença ao Delegado do Procurador Régio (20) e
os presos sem Misericórdia no augusto dia de Quinta'Feira quando, no mesmo dia, se dava um bodo aos pobres, recor-
Santa... ria-se ao Comissário de Polícia para enviar guardas a conter
Tenho aqui diantede mim duascontas da despesafeita o grande número de mendigos (21).
com o jantar dos prestos: uma do ano de 1659, e outra de De manha os presos haviam feito a desobriga. Na sala
1891. livre da cadeia, enfeitada para a comunhato pascal, todas as
mesas estavam dispostas para o jantar. Senhoras da melhor
A primeira: sociedade bragançana haviam distribuído flores por todas
Alqueire e meio de grãos ... .... ... 500 réis elas. Da igreja da Misericórdia saía às 11 horas da manha o
Três arrobas de bacalhau ... ... ... ... .. 3. 000 » cortejo, descia pela Rua de Trás, dobrava à direita junto da.
'De pão para os presos ............... .. 8o » igreja de São Vicente, descia ao iPrincipal e entrava na ca'
.

De vinho para eles .................. .. 680 » deia. Se havia presos na cadeia militar, ]á tinham sido con-
Seis caixas de marmelada ......... .. .. 1. 410 » duzidos para lá. Também eles, militares, eram filhos de Deus.
À frente a bandeira da. Misericórdia. Atrás da bandeira,
Total ... ... ... ... ... ... . .. 6.390 » e em filas, a melhor 'gente da mocidade 'bragançá.na, vestida
A segunda: de preto, levando ao omfaro esquerdo toalhas de linho, rica'
Três cargas de lenha .. ... ..... .. 720 » mente bordadas, e nas mãos uma riqueza de pratas, empres-
Uma carga de carvão e urzes .. ......... 440 » tadas alegremente 'pelas melhores casas da cidade. As toa'
Almoço para as mulheres ......... .. .. 460 » lhas eram em geral floridas de camélias 'e de violetas. As pra'
Geira de três mulheres (3 dias) ... ... 2.400 » tas, jarros, gomis e salvas! Uma riqueza que só vinha à rua,
Gelras de servente (3 dias) .. ... ... 360 » na Quinta-Feira Santa ou no Senhor aos enfermos.
i6 litros de vinhto ......... ..... ... 1.600 » Logo a seguir toda a 'Irmandadeda 'Misericórdia. Dentro
Rações pagas a dinheiro ..... .. ......... 2. 000 » das alas vinham as ceiras com moletes de trigo, garrafas de
Géneros .............. ... ......... 21. 880 » vinho, marmtílada e ifruta seca. Depois vinham os caldeiroes»
Bilhetes para dar rações ..... . ........ 70 » Neles fumegava o arroz de polvo, e desafiavam o apetite as
Uma carta de alfinetes .. ............ . 70 »
1(20) Corres?. 1884-1929.
Total 30. 000 1(21) Corresp. 1894-1923.
186
187
pataniscas e as fofas de bacalhau. O arroz doce, o querido
devendo os carcereiros dar seguras infonnações sobre a po'
doce do.s pobres e dos ricos, o pai de todos os doces como
breza e desamparo dos presos. Havia presos condenados a.
lhe chama pessoa da minha amizade, lá vinha noutro caldei-
degredo'para o ultramar por motivo de dívidas de custas ou
rao polvilhado de canela, a dar-lhe cor e mais delicado pala- outras, que davam ocasião a grandes despesas à Misericórdia
dar. Em salvas de prata, fatias de pão servindo de base a
para os sustentar. Esta tinha o privilégio de por cobro a to'
grossas fatias de queijo.
dos os obstáculos ao prosseguimento do seu destino. Para
Atrás dos caldeiroes a Mesa da Santa Casa com as auto-
ridades da terra: o Juiz de Direito e Delegado da comarca, o
que a ijustiça fosse breve» o Corregedor tinha de ir quinze-
nalmente à cadeia fazer audiência e os Juizes de oito a oito
Coronel de Caçadores300 Coronel de Cavalaria 7. E logo a
dias a ffím de ouvirem os presos, desamarrados das correntes
seguir uma das !fílarmónicas da terra e muito povo.
pêlos carcereiros para mais livremente requererem a sua jus'
Porque não se ressuscita este acto de solidariedade hu- tiça <22).
mana e crista?
Pertencia ao mordomo dos presos cuidar-lhes da líber'
Que mal advirá à Misericórdia em dar, segundo o velho
dade e sustento, com caridade e diligência, próprias de quem
e secular espírito da Santa Casa, uma demonstração pública
serve uma causa tão do agrado de Deus, com fundamento
de afecto fraternal a quem dentro de uma cadeia expia a ]'us-
na ]usti'ça e na razão, tendo'se em conta a pofareza e desam-
tiça da terra? Acto de vaidade? Se há vaidade em dar e re'
ceber, .bendita e louvada seja esta vaidade. Dar em público
paroda pessoa, e só de acordo com ela. Os presos com have'
rés não tinham a protecção total da [Misericórdia. Esta inter-
ou dar em particular, .é sempre dar; e dar é acto de soibera-
vinha a favor destes, como dos outros, para alcançar perdaç»
nia. Quem dá, parece-se com Deus.
da parte acusadora quando este perdão era de se pedir sem
Dar em público... A cadeia é pública, a expiação dos
escândalo.Acercado livramento dos presos, o mordomo ou o
presos é pública. Pública, portanto, a demonstração de afec-
solicitador eram obrigados a dar, todos os Domingos, conta-
to aos presos, e, 'para a formação do carácter colectivo, uma à Mesa dos termos em que iam os feitos e do modo com.
forte lição de amor a vincar'se pela vida fora.
que secorria com eles; e, sobre os deveres religiosos dos pré'
Repare-seno carinhocom que El^ReiDomManuel, a 15
sós, o mordomo insinuava a recepção dos Sacramentos na
de Novemfaro de 1516, cercou de privilégios a Santa Casa
Quaresma e nos quatro jubileus do ano: Nossa Senhora da
da Misericórdia a respeito dos presos. Os almotáceis e carni-
Assunção, Todos os Santos, Natal e Espírito Santo <23>.
ceiros deviam servi-los, primeiro que a ninguém, sob pena de
E a Santa Casa da Misericórdia de Bragança servia os
multa de 2.000 réisa favor dos presos. Os carcereirosdeviam
presos com a solicitude inculcada pelo seu Compromisso e
abster-se de opor o mínimo obstáculo à entrada dos oficiais
da Misericórdianas cadeias, ao contrário do que se fazia. Os
utilizava-se dos privilégios concedidos por El-Rei Dom Ma-
nuel?
mordamos passavam a ter livre .entrada nas cadeias para pró-
verem àsnecessidadesdos presos,'limpar asprisões,visitámos, .

(22) Fermindo 'Correia, ob. cit. pág. 577,


(23) Compromisso de 1618, pág. 12 v.
188
Apesar da lamentável escassez de documentos, eu pos-
só responder afirmativamente, valendo-me de insignificantes
notas encontradas que, para o caso, são de importância má'
xima.
. Em 1641, deu a Santa Casa 200 réis para a viagem de
um preso depois de o libertar; deu a mesma quantia a outro
em 1650, e em 1651 pagou 214 réis para a despesa de um CAPITULO XIV
galego preso; a 7 de Julho de 1658, 'foi libertado António
Vaz,moradorno lugarda Paradinhaa Nova, sendoProvedor ?er©grinos, caíiïos e mortos
o Doutor André de Morais Sarmento; a 30 de Junho de 1659;
a Mesa assentou que se corresse com o livramento de Do- Cama, água e lume - A confraria da Santa Cruz - Tumbas,
mingos Pires, fílho de Bragança; em 1672, com os presos de caixões e umas - Um episódio jurídico - Como se faziam os en
Barcelos gastou '200 réis; e em 1676 dispendeu 300 réis para terras - Remoção de ossadas - O enforcamento de José Jorge.
a viagem de um preso depois de o haver libertado.
À medida que se estudam as faenemerências da Santa A quinta obra de misericórdia é dar pousada aos pere'
Casa .da Misericórdia, através dos séculos da sua existência, grinos ou viandantes. Foi esta obra cristianíssima que criou
o entusiasmo e a .comoção instalam-se dentro de nós, ïben- ó nofailíssimo sentimento da hospi talidade. Obra que imorta-
coámos as geraçõespassadas que compreenderam e executa- lizoü, pára todos os séculos, o piedoso Samaritano que sobre
ram as obras de Misericórdia, e, depois, diante do que se acudir ao ferido, atihado à beira da estrada, o levou a uma
adulterou, sentimos a santa vontade de 'fazer uma patriótica pousada, obra 'enfim que iluminou de encanto e graça Marta
e sagrada restauração. é Mariapela ihospedagem, dada a Cristo. Por causadesta obra
Hoje sacri'ficou-se o todo a uma das partes. Em vez das <le misericórdia, costumavam os antigos mosteiros ter a seu
obras de iMisericórdia,apenas uma obra, se bem que elogiá- lado as hospedarias, como ainda os têm o mosteiro de 'Mon-
vel e necessária - o hospital. Para só termos um hospital, serrate na Catalunha e de São Bernardo na Suíça e, ainda há
despido e desadornado das outras obras de Misericórdia, não pouco, o tinha o arrasado mosteiro de Monte Cassino, na
vale a pena a santa basofia de ser o nosso País o único no Itália.
mundo a ter e realizar o ideal da Santa Casa, sem duvida, Fiéis a este mandamento de santa comoaixao eram os
uma 'federação de todas as obras de assistência social e espi- passados .séculos cristãos, pois neles os réis, os nobres e até
ritual. os pobres acolhiam os viandantes, dando-lhes abrigo, lume,
água, sal e cama, e pão à falta de farnel. Inevitáveis surpre-
sãs de ingratidão retraíram a hospitalidade particular, e de'
ram ensejo à instituição das albergarias ou dos albergues ou
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Surge-nos o ano de 1889 com 2.000 réis para um que vai pa-
dos. hospícios, casas onde sc recolhiam pessoas de passagem; ra o Porto, 1890 com 4.000 réis com outro que vai para Bra-
para repouso ou fuga das intempéries. ga, 1893 com 12.400 réis para vários que necessitam chegar
Neste ponto a SantaCasa da Misericórdiaé a continua- à terra. Depois temos 1911 que áispende 2.500 réis em es-
dora das velhas e beneméritas albergarias, pois que, aos pe- molas a 6 transeúntes, e 1912 com 2.200 réis para o mesmo
dintes andantes, a Santa Casa não lhes negava a cama e a fim.
água. em todo o ano, e no inverno o lume para se aquece- Depois, ainda, mais... nada, ou porque se recusa o auxí-
.

rem (l). lio a quem o pede ou popque não há quem peça. Qualquer
Muito grande deveria ter sido o movimento de peregri- destas hipóteses pode ser verdadeira ou pode ser íalsa. Num
nos no ano de 1667! A cada peregrino dava a esmola de 84 caso ou noutro, documenta que a Santa Casa de- hoje não
réis, e no entanto gastaram-se com eles 5.840 réis. No ano exerce a. quinta obra de misericórdia, aliás não se pensaria,
seguinte, a despesa cresceu. Foi de 6.500 réis. Baixou em e muito bem, em instituir um albergue para os pedintes an-
1671»porque a despesafoi de 3.850 réis(2). dantes, ressuscitando-se assim uma obra anterior às iMisericór-
Pobre de hospitaliáade foi 1676 porque a Santa Casa só dias e nas Misericórdias incorporada.
gastou 300 réis. Mas nos outros, desde 1677 a 1710, a média Remir os cativos é a sexta obra de misericórdia. Para a
dos gastoscom os peregrinosandou por 4.000 reis. Em 1711 redençãodos cativos, numa épocaem que os muçulmanos le-
a despesa sulbiu a 8.370 réis, e nos anos seguintes o mesmo» vavam para. o cativeiro muitos cristãos, fundaram'se no sécu-
Depois no século XIX a vida foi outra. Menos peregri- lo XII as Ordens da Santíssima Trindade e dos IVercedários
nos. talvez menos miséria e talvez menos... hospitalidade. de cujas benemerências, sobretudo dos trinitários, está cheia
As contas correntes de 1850 para sá fornecem-nos casos iso' a historia portuguesa e a própria história da. Santa Casa que
lados. Aqui (1850) é a esmolade 16o réis a uma velhinha tem, em iFrei Miguel de Contreras, um extraordinário pala-
que vai para Chaves <3) .é outra de 120 réis a um pobre de- dino e propagandista. As duas Ordens, dois alfofares de már-
Lamego t4> são dois pobres de fora que recebem 240 réis. tires dos bárbaros. Uns 900 foram martirizados em favor de
Ali (1855) é um viandante que recebe o auxílio de 1.220 um milhãode cativos que libertaram.
réis. Alem (1857) são quatro pübres de passagem pêlos quais 'Padres destas duas Ordens peregrinavam pelo país a
a Santa Casa desembolsa 18.080 réis <5). De 1866 a 1879, a mendigar esmolas para o resgate dos cativos, e batiam, como
despesa com passageiros foi de 89.920 réis. era natural, à porta da Santa Casa. Para eles nunca faltou a
Nove anos se passam sem exercício de hospitalidade.. esmola de 200 réis, o que era no século XVI esmola muito
de apreciar. Com 200 réis compravam-se 6 alqueires e meio
de centeio, correspondente hoje a 70 escudos.
(i) Fernando Correia. - ob. cit., pág. 544. Enterrar os mortos é a sétima obra de misericórdia.
(2) 1671, foi. II V.
.
(3) Acórdãos, 1832, foi. 49. Releia-se o Evangelho. Veja-se Tobias enterrava
(4) Idem, foi. 50 v.
($) Corres?. 1856, foi. 9.
192 193
os mortos em Ninive, no tempo do cativeiro, como os ha- do ficou reservado para os irmãos e pessoas que tivessem este
bitantes de Naim acompanharam o cadáverdo filho dá viú- privilégio, como eram mulheres e filhos de irmãos. Se alguém
va, como José de Arimateia e Nicodemos deram sepultura a- o pedisse, teria de dar 6.000 réis <8).
Jesus Cristo. É .que enterrar os mortos é fazer>lhes uma obra- A 14 de Setembro de 1681, deliberou a 'Mesa que o es-
de caridade que não poderão pagar. quife velho se pusesse a 600 réis, não sendo pobre, para com
Precursora da .Santa Casa, na piedosa caridade de enter- eles pagar a 4 homens que o levassem à sepultura.
rar os mortos, foi em Bragança a confraria de Santa Cruz. Por um inventário .feito em 1783, se averigua que na
Esta conlfraria estava erecta na antiga e desaparecida capela Santa Casa existiam 3 tumbas: uma coberta de veludo preto
de Santa Catarina, mais tarde incorporada na igreja de São e colchão almo!fadadodo mesmo; outra coberta de pano pré'
Francisco, e transferiu-se, depois de 1641, para a igreja de to com galoes de seda amarela e franja preta com colchão
São Vicente, valendo'se da concessão do bispo Dom Antó.- almofadado d'e milão preto; e outra de madeira tingida de
nio Pinheiro, a 6 de Setembro de 1569, de que ainda não ti' preto com colchão almofadado do mesmo tecido (10). Supo-
nham usado ^. n'ho que, assim com três tumbas, serviu a Santa Casa os
Coni a fundação em Bragança da Santa Casa, tornou es'- mortos da cidade até 17 de Fevereiro de 1833, .pois foi nes-
ta a si a tartífa de enterrar os mortos, fiel ao Compromisso te dia que resolveu fazer uma tumba para. .crianças desde á;
dado por El-<Rei Dom 'Manuel, entregando-a à obrigação do- idade de 7 anos, p'elo preço de 800 réis, sendo levadas à se-
mordomo da capela, que elegia, todas as sextas-feiras, qua- pultura pêlos filhos dos irmãos (11>. A 2 de Julho de 1833
tro irmãos para acompanhar as tumbas da Casa (?). estendeu-se às irmãs solteiras dos irmãos clérigos de Ordens
Em 1667, a 'Mesa mandara comprar para o equife, e por Sacras o privilégio da tumba que outrora se havia concedido,
15.000 réis, '20 cavados de veludo preto, tecido na cidade, às mulheres e filhas dos irmãos (12).
e ao mesmo tempo mandou fazer bandeira nova. Desta ma- Em 1852 fez-se um inventário. Havia 2 tumbas ricas,
neira se 'habilitou para deliberar que o pano e bandeira ape- 3 tumbas poibres e i tumba para crianças<l3). Mas uma das
nas servissem para o enterro dos irmãos, mulher e filhos, sem ricas, com grade e pirâmides douradas, foi vendida por inu'
darem cousa alguma, o que não sucederia com os não irmãos til por se terem adoptado os caixões. Ficaram então dois:
a não ser que dessem io cruzados de esmola. Também po' caixão rico coberto de veludo e franja dourada, e uma tum-
deriam levar o pano e bandeira as pessoas que dessem io ba dos pobres, coberta de pano novo, com galao branco.
tostões, levando o esquife velho. No ano seguinte, 2 de Ju'
lho de 1669, a Santa Casa mandou fazer um esquife rico-
bronzeado,ficando entãocom três esquifes. Pelo velho levar' (8) i668, foi. 77.
'se-iam 500 réis e pelo outro 3. 000 réis. O novo e bronzea^
.

(g) Inventário, 1783.


(io) Acórdãos, 1832, foi. 4 v.
.
(l l) Idem, foi. 6.
(6) Abade de Baçal - ob. cit. vol. 2, pág. 285. (12) Inventário, 1852, foi 40 v.
(7) Compromisso, 1616, 'pág. 21 v. 1(13) Idem, foi. 122.
194
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Foi em 1866 que se compraram, por 13.940 réis, quatro
vás: em 1658 as tumbas deram à 'Misericórdia a renda de
opas azuis; e foi 'em 1867 que se adquiriu .por 5.000 réis um
caixãoda ibaeta preta para o enterro dos poibres, e outro, por 60.300 réis, e desde 1848 a 1875 elas deram a renda de
69. 070 réis, coberto de veludo, guarnecido de galao fino, pa- 1.662. 660 réis, correspondente à renda anual de 593. 780 réis.
ra substituir as tumbas (15). Note-se que o aluguer das tumbas de terceira classe era de
O Compromisso de 1877 decreta: Compete à Mesa - 480 réis, e das de segunda era de 2. 000 réis.
Fixar a taxa do depósito dos cadáveres na igrqa, e do preço A propósito do privilégio da Misericórdiaa respeito das
da tumba quando os falecidos não sejam irmãos(l6). E a tumbas, conta-se aqui um episódio ocorrido em 1821. A San-
taxa foi de 1.200 réis para os depósitos, e de 2. 250 réis para ta Casa disse para a Justiça: «Estandoa SantaCasa na posse
a tumba rica (17). mansa e pacífica, desde o princípio da sua ifundaçao e insti-
Em 1894» ifez-se uma uma funerária e uma eça para de'
.

tuiçao até ao presente, de que nenhuma Ordem, Irmandade


pósito dos dtífuntos. Para os irmãos de graça, para os outros ou Confraria (exceptuando os eclesiásticos) levantasse tum-
a preços módicos(18) e em 1914 AntónioMaria ÁlvaresMar- ba para ir enterrar os seus confrades, sem irem na da. Santa
tins ofereceu à Santa Casa uma carreta para o transporte dos Casa da Misericórdia, os réus observam tanto pelo contrário
cadáveres para o cemitério, fixando-se em 1.200 réis o seu que provará que, no dia io do corrente mêsde Novembro de
1821, tendo-lhe falecido uma irma, chamada Genoveva Ma-
aluguer que, em 1921, subiu a 2. 500 réis (19).
Foi em 1925 que a taxa dos depósitos de cadáveres na ria dá iPonte, os réus pegaram em um esquife veliio ou tum-
igreja foi elevada a io escudos, o aluguer da carreta a 5 es- ba dos Reverendos Religiosos de São Francisco da mesma, e
cudos, e se resolveu fazer para cada pobre um caixão, sendo cdberta com um pano, e associados os mesmos Reverendos
enterrado com ele. Desde 31 de Agosto de 1926 a Agosto Religiosos a foram conduzir ao dito convento a onde a se-
<le 1939, a Santa Casa mandou fazer 168 enterros de pobres, pultaram, sem que a dita .Santa Casa para isso fosse con-
cujas umas custaram ïi. ï^o escudos <20).De sorte que as ur- vacada, no que lhe cometeram notória força e eAulho». De'
nas passaram a ser fonte de despesa quando anteriormente pois provou que as rendasconstituem grande porção de ren-
eram fonte d'e .receita. da aplicada ao curativo de pobres e mendigos, o que não
A Santa Casa teve, desde a sua fundação, o monopólio sucedia com os ïranciscanos que anualmente apenas faziam
a procissão de cinza, valendo-se de solldaáos para a condu-
das tumbas e, por isso mesmo, o seu ïendimento. Duas pró'
cão dos andores, e pediu que a Ordem Terceira fosse conde-
nada a desistir, e nas custas e prejuízos causados.
(15) C. Corr. 1854, foi. 76.
(16)
.
Compromis. de 1877, pág. 16.
O advogado da Ordem Terceira respondeu que a Santa
(i7) Actas, 1884, foi. 56 v. Casa não tiriha direito ao monopólio das tumbas porque a
1(18) Idem, foi. 96 v. taxa era dada a título de esmola e, por ser 'humilhante, fora
(19) Corresp. i884-'ig29 - Actas, 1907-1919, foi. 99 v
Actas, 1919-1932, foi. 11. extinta pelo Decreto de 20 de Março de 1821. Foi advogado
(io) Actas, 1919^.1932, foi. 52, 56 v. da Ordem Terceira o então recenformado Conselheiro José
196 197
Marceüno de Sá Vargas. O Juiz de Fora, a 7 de Janeiro de 3.6oo réis. 1860 a 1922 os condutores dos caixões dos
1823, deu sentença a. favor da Santa Casa. A Ordem Tercei- pobres falecidos passaram a ser retribuídos. A retribuição va'
ra apelou parao Senado da Relaçãoe Casadacidadedo Por- riava de 320 a 360, 400 e às vezes a 600 réis, segundo a dis-
to, a 14 de Fevereiro de 1823. A Relaçãoconfirmou a sen' tôncia do cemitério. Durante todo este tempo, dever-se'iam
tença do Juizde Fora a 19 de Junho de 1824, condenando a ter 'enterrado mais de 1. 132 poibres, gastando a Santa Casa
Ordem Terceira às custas dos Autos, em 15.066 réis(21>. com a sua condução mais de 483.680 réis. Desde 1930 a
Por causa das tumbas, teve a Santa Casa outra questão 1942» morreram no hospital 161 pessoas, o que dá média
com a Câmara Municipal. Foi em 1838. A Câmara escreveu anual de 13 óbitos.Desde 15 de Agosto de 1939, a Julho de
à :SantaCasa pedindoque lhe entregassem as tumbasporque i942> a Santa Casa fez 51 enterros de poibres cuja despesa
não podia usar mais delas. A Santa Casa resolveu não as en- em caixõesfoi de 3.212 escudos <24). Em 1944, gastou a San'
tregar por serem dela desde tempos imemoriais. Além disto, ta Casa 2.000 escudos, e nos meses de 'Abril e Maio de 1945,
seu rendimento era necessário para ocorrer às despesas do a despesa foi de 1. 170 escudos.
hospital. Resolveu-se pedir a. suspensão da ordem ou que Não se pode dizer que a Santa Casa da Misericórdia não
providenciasse sobre as despesas. A renda dos foros e prazos teriha cumprido generosamente a sua obrigação no que rés-
era aplicarem sufrágios, capelaes e funções a que a Santa peita à sepultura dos pobres.
Casa estava übrigada na forma do Compromisso. Porque o Erao mordomo da capelaque superintendiasobre os en'
AdministradorGeral do Distrito nãodeu despatího favorável, terras não se admitindo letreiros so'bre as campas dos sepul-
a Santa Casa resolveu, a 8 de Junho de 1838, representar ?. tados na igreja que aqui só eram enterrados os tidos na con-
SuaMajestade. E então o Administrador, a 22 imediato, de- ta de ibenfeitores. A 18 de 'Março de 1669, morreu Pedro Pe-
volveu a representação, dizendo que fizessem outra à Junta reira Mimoso deixando à Santa Casa uma 'boa lembrança,
Geral do Distrito que tiriha poderes para decidir <22). Deci- condicionada à sepultura na igreja com letreiro sobre a cam-
diu. efecttvamente, a .favor da Sai^ta Casa porque a Câmara pa. A UVIesa, por fidelidade ao Compromisso, não aceitou o
Municipal, a 21 de Fevereiro de 1839,declarou ceder as tu.m' legado com o que a família, vendo a razão apresentada,se
'bas que lhe havia tirado(23). conformou, dando mesmo assimà Misericórdiao que o lega-
A Santa Casa, além da. tumba para a condução dos ca- tário deixara. Tanto era o respeito pelas prescrições legais!
dáveres, fornecia as mortalhas para os pobres. Mortalhas e Desta sorte muito poucos eram enterrados na igreja da Santa
missas. Por cada mortalha, em 1660, 143 réis, e por cada Casa.
missa o estipêndio de 20 réis. Em 1710 fez a Santa Casa 36 'Interessante sa!ber-se quantas pessoas se enterravam e
enterros de pobres por amor de Deus, no que dispendeu onde, em determinados anos do século XViN, na cidade de
Bragança. Em 1668'1669 foram sepultados: 38 no adro e
(21) Doe. importantes.
'(22) Acórdãos, 1832, foi. 16 v, 19.
(23) láeni, foi. 22. (24) Compromisso de 1618, pág. 9 v.
198 199
igreja de Santa Maria; 20 no e igreja de São João; io suas cruzes com saio preto. Em frente da casa do falecido,
no adro da Madalena da Santa Casa; 5 na igreja d.e São taboleiros com tochasde cera que eram fornecidas aosmem-
Francisco; 4 na igreja da 'Misericórdia e i na igreja do Santo bros das irmandades e a outras pessoas que no préstito as
Cristo de Cabeça Boaí25). Agora, no ano de 1671-1672, en' «quizessem levar acesas.
terraram-se 44 pessoas. Na igreja de São João, 15; na igreja Esperava-se pela comunidade da freguesia à qual o
de Santa Maria, 14; na de São Francisco, 3; e no adro da defunto pertencia. À frente a Irmandade da Misericórdia ten-
Madalena da Santa Casa, 12 <25>. Mais outro ano-i68i' do na vanguarda o campainha de balandrau azul a tocar
-i882, 96 enterros cujos cadáveres foram sepultados: 46 em- uma campain'ha manual. Junto dele um irmão' oficial com
Santa Maria, 27 em São João, 12 em São Francisco, 14 no uma vara preta na mão, e logo a seguir a bandeira da Mi-
adro da Madalena, i em São Vicente, e outro em Santa. sericórdia com dois tocheiros à iíharga, levados por dois ir'
Clara. mãos com vestes pretas. Depois um irmão nobre de vara e
Os irmãos escalados por turnos eram obrigados a lïalandrau preto com um capelao da casa de sobrepeliz, à
parte nos enterros, aliás seriam multados e, se reincidentes^ frente da tumba levada .por 4 homens vestidos de opa azul.
.

eram riscados do rol. Nos séculos passados a multa variou. Após a tumba um servente de opa azul com uma caixa na
ï20 réis no século XVI e meio arratel de cera no século XIX. mão, pedindo, em voz alta, esmola para as obras de mi'
Se o irmão era mesário a multa, era, em 1819, de um arratel sericórdia, e a seguir os clérigos, religiosos, confrarias e po-
de cera <26>. Em 1895 a multa subiu a 840 reis. Em anos» bresquecom ceraacompanhavam o defunto. Esquecia-me de
como 1893, 1894e 1903, foram riscados 11 irmãos (27). Coni dizer que a irmandade ia logo adiante da tumba, em duas
multas e exclusoes a Santa Casa garantia o exercício da s'é- alas, com tochas de cera, recitando em voz alta 14 PaiNossos
tima obra de misericórdia - enterrar os mortos. e 14 Ave-Marias.
Como se faziam os enterros? O número de tochas era na razão directa dos recursos e
Antecipadamente o campanhia de opa azul anunciava da vontade da família do falecido <28), assim como as con/
pelas ruas o nome do falecido, a sua morada e a hora do trarias iam, ou não, se o defunto tinha ou não sido seu con-
enterro. Com este tríplice aviso, feito por todas as ruas e frade. Se o falecidohavia pertencidoa todas asconfrarias d.i
calejas da cidade, ficavam os hafeitantes inutilizados para cidade, seria espectáculo digno de ser visto o seu desfile com
apresentar a escusa da ignorância no respeitante ao cumpn- o colorido das suas opas, com as suas 'insígnias e os seus
mento desta obra de misericórdia. À hora e local indicados^ capelaes. 'Ele eram a confraria. de Nossa Senhora dos Prazeres
acorriam as irmandades com as suas opas características e as e a do .Santíssimo, vindas da igreja do Colégio; ele era a
confraria de Nossa Senhora das Graças, de Santa Clara;
eram as confrarias do,s Clérigos áe S. Pedro, de Santo Es-
(25) 1671, foi. 4'3-
{a6) Matr. de irmãos, 1834, Ifol. 277.
1(27) Actos, 1884, foi. 182 v. - Actos, 1903, foi. 4 - Cor-
resp. i894'i923, foi. 3. (28) Comfromisso de 1618, ,pag. 33 v.
200 201
tevão e das Almas da igreja de Santa Maria; eram as con- firmou os antigos direitos dos irmãos da Misericórdia, e
frarias de Nossa Senhora da Conceição, de Nossa Setíhora- acrescentou, digo extendeu'os a pessoas da sua família, e
da Boa Morte, da Ordem Terceira de São Francisco, da. permitiu o depósito gratuito na igreja para efeito de exé-
igreja dos franciscanos; eram as confrarias do Senhor Jesus. quias. E enquanto aos pobres, deliberou-se que o pregão
de S. Vicente e de Nossa . Senhora do Carmo, da igreja de. da. sua morte e enterro fosse feito com campainha de se-
S. Vicente; eram as confrarias do Nome de Jesus e do San' gunda classe, tendo por companhia o sacristão e o campai-
tíssimo, da igreja de São João Baptista; e era a confraria de nha da casa e seis irmãos de segunda condição com seis to-
São Bento, da sua igreja. chás acesas (32).
Se o lugar das confrarias não permitia questiúnculas O 'Compromisso de 1856, sobre tíbrigar a Mesa a com-
.

de precedência, porque se seguia o critério da antigui- parecer nos enterros de todos os irmãos da Misericórdia e
dade, já não sucedia o mesmo entre os mesmos capelaes da. dos que à Santa Casa pagavam a devida taxa, ordena que,
Misericórdia, entre os capelaes desta e os das confrarias, e além do público aviso do campainlia, o sino da igreja dê
os capelaes e respectivos párocos. Para aquietar a ritual dois sinais pelo falecido: um ao anoitecerde vésperae outro
consciência dos capelaes, a Santa Casa determinou a cate' pela manha, a fim de que os habitantes da cidade lhe sufra-
goria das posições e distribuiu-os segundo a ordem da an- gassem a alma:, dentro de suas casas (33>. Esta medida sobre
tiguidade na função ^; para a solução ao con'flito entre o toque do sino é confirmada pelo Compromisso de
-capelaes das confrarias a respeito da precedência nas enco- 1877 <34).
mendações dos defuntos, o 'bispo, Dom Frei José de Len' Quando se renovou o pavimento da igreja da ÍMiseri-
castre, a 26 de Abril de 1678, determinou que os cada' córdia e houve de fazer-se uma caixa de ar, no ano de
veres fossem encomendados pêlos capelaes das confrarias 1897» entendeu-se, e muito bem, que se devia fazer prara
à medida que fossem chegando, sem esperarem pelo cape' o cemitério a remoção das ossadas. Foi no dia 2 de Novem'
lâo da Misericórdia (20); e, para a questão de direito ede- bro. As conifrarias convidadas assistiram ao ofício cantado
siástko levantada, entre a Santa Casa e as paróquias, ficou às li horas. A seguir a trasladaçao dos ossos para o cerni'
assente, depois de longa controvérsia, que as paróquias tl- tério. À passagem do cortejo, os sinos da Sé dobraram a
nham precedência fora da igreja da Misericórdia e nunca finados. No cemitério um sermão adequado às circunstân-
dentro dela. Excluia-se, já se vê, o pobre viandante ou o po- cias <35). Para o transporte das ossadas mandou-se fazer uma
bre sem domicílio certo porque so<bre o cadáver de um e urna. Esta urna foi aproveitada para se fazer uma eça, à
de outro, 'havia somente a jurisdição da Santa Casa (31). qual se ajustaram os degraus necessários (36).
A 15 de Novembro de 1838, a Mesa da Santa Casa con-
1(32) Acórdãos, 1832, foi. 21.
(33) Compromisso de 1856.
(29) Idem, pág. 25 v. (34) Compromisso de 1877, pág. 28.
(30) Arquivo Distrital - Cónegos. .
(3'5) Corresp. 1894-1923, foi. 39.
(3i) 1671, foi., 95. (36) Actas, 1884, foi. 133.
202 203
Uma outra vez, mas de forma particiilar, se traslada' quem sabe se com o pensamento da Casa mandar
ram ossos 'humanos para o cemitério. Foi em Setembro de celtíbrar missas por sua alma. Com o produto delas, man-
1901, após a sua descoberta no quintal da Santa Casa, anti- dou a Misericórdia celebrar-lhe ofício, a 6 de Outubro de
quíssimo cemitério, o adro da Madalena (37). 1887 (38). Depois deste ano, não sei mais nada. Sei apenas
Entre os privilégios de El'Rei Dom Manuel, concedi- que, desde 1895 a 1901, de esmolas ao José Jorge, apurou
dos a 15 de Novembro de 1516, às Misericórdias, existe o de a Santa Casa a quantia de 247. 450 réis, e que o servente,
assistir e enterrar os condenados à morte por justiça. por tratar da capeliriha, recebeu, a 30 de Junho de 1908,
No dia 3 de Abril de 1843 deu'se, em Bragança o en- a gratificação de 2.525 reis (39>.
forcamento de José Jorge. Se por ventura em séculos pás' Como se deu a execuçãodo José Jorge?
sados alguém foi justiçado, esse alguém não ficou na tra- Dadaa sentençade morte, e conduzidoà cadeia,o mor-
diçao. Só ficou um - José Jorge. Ficou envolvido pela domodabotica foi aocárcerecom o mordomoda mesma lê'
piedosa tradição, de um erro judiciário. Daqui esta impres- var-lhe o vinho e o mais que ,se costumava levar para con-
sionante compaixão que se conserva intacta após um se' sokçâo (40>. Eram trêsdias de oratório. Um padre, convidado
culo. Compaixão e devoção. Reza-se ao José Jorge como se pelo mordomo dos presos, foi confessá-lo e consolá-lo. No
reza a um santo dos altares. Enterrado a um canto do novo segundo dia armou<se na cadeia um altar para José Jorge
cemitério, a Câmara Municipal fez'lhe uma singela capeli- assistir á missa e comungar. Neste dia o campainha andou
nha onde, com frequência, arde o azeite da caridade crista, pelas ruas a dar o aviso e a convocar padecentes que qui-
e se desfolham flores, postas ali por gratidão. Não raro sessem flagelar-se no enterro para bem da alma do conde-
tranças de mulher deitadas por mãos agradecidas caiem no nado. No terceiro dia, novamente missa na cadeia, e no-
térreo pavimento, e o linho em rama de flor azul docu- vãmente os sinos das igrejas dd cidade tocaram longamente,
menta a lavradeira que, no justiçado de 1843, põe a do' ifünebremente, dolorosamente a mortos. O padecente porjus-
mestiça esperança do aumento do seu bragal. Esquece-se tiça, como então se chamava ao condenado à morte, espe-
esta ou aquela sepultura, ou mesmo são esquecidas as de rava a irmandade da Misericórdia, ouvindo as palavras con-
muitos que trataram .connosco e connosco viveram. Com a soladoras, ditas pelo capelao. Os sinos continuam a tocar.
campa de José Jorge já não sucede assim. Todos sabem on' Era de tarde. Da igreja já saíram todos os irmãosde balan-
de é, e muitos, ao passar por ela, deixam cair dos lábios um drau preto, todos os capelaes acompanhando o Crucifixo de
Pai Nosso por sua alma. É a eterna compaixão da galeria tochas,acesas.Atrása [bandeiradaMisericórdia,e atrásdela o
pe'la vítima. É o protesto do coração humano contra as ine- povo que quis assistir ao enforcamento. Ouve-se. na Rua
vitáveis injustiças deste mundo. de Trás, o tilintar da campainha, e, em toda a cidade, ou-
Uns deitam flores, enfiam muitos, pelas grades, moedas
(38) Actas, 188,4, foi. 19 v.
1(39) C. corr. 1907-1915, foi. i3.
(37) C. conr. 1901. 1(40) Compr. 1618, pág. 23.
204 205
vem-se as vozes tristes dos sinos. Para o Crucifixo, erguido altos, clamorosos, veementes, os gritos de piedade e compai-
ao alto por um capelâo de sabrepeliz, erguem-se mãos postas xâo para o desgraçado sobre o qual o verdugo saltou, e a cor-
a pedir misericórdia, e cintilam com mais brilho as lágrimas da o asfixiou, e o capus envolveu a cabeça sem vida.
da ibondade humana. As Vozes dos capelaes erguem-se ao alto a entoar rés-
A Irmandade está à frente da cadeia. Está ali tudo. pensos por sua alma. Ao alto ergue-se o .hissope para aljofrar
Autoridades, tropas e tambores. -Funcionários da justiça e de água benta o cadáver do condenado por justiça. Ao alto
gente de todas as idades. Vestido de branco e manietado» ergue-se a 'bandeira da .Misericórdia para recolher o cadáver
surge à porta da cadeia José Jorge, de rosto pálido e ma- e ver se ainda, lhe aproveita um resto de vida (41).
cerado pelas agonias. O capelao d'eu'lhe o Crucifixo a bei- Para quê?
jar. Depois toda a multidão ajoe-thou e entoou a Ladainha. «Corre, cümo tradição piedosa, disse o Conde de Sabu-
de Todos os Santos a pedir a divina demência para a alma gosa que, rebentando o laço e caindo o padecente ainda
dele. Ao chegar ao ponto em que se invoca (i. Santa Maria,. com vida, abatia sobre . ele a bandeira da Misericórdia, e fi-
ora pró eo», todos se levantam e se dirigem pela mesma or- cava a coberto da perseguição da justiça, o condenado. Di-
dem em que vieram, excepto o Crucifixo que ficou junto de zia-se até que muitas vezes a Irmandade, com o fim huma-
José Jorge. A Ladainha continua a ser cantada, e os sinos nitário de intervir por este modo, .no salvamento dos seus
continuam a ddbrar a finados. O préstito vai Rua Direita protegidos, fornecia cordas passadaspor água forte».
acima, passa pela iPraça do Colégio e sofae. Rua dos Olei'
ros. Gente das aldeias, do raio de uma légua, comprime-se
pelas ruas, o cortejo desfila lentamente, e as crianças, por
obrigação legal, choram pelas bofetadas dos pais, para que
fique como lemibraaça, e fixam de olhos grandes o pobre
condenado, de mãos amarradas, vestido de branco e capus
na cabeça, desmaiado, sem forças físicas, cambaleando, tal'
vez sequioso de chegar depressa ao tablado da forca, er-
guida ao alto, 'junto ao muro do cemitério.
E os sinos tocam. Rufam os tamfaores. José Jorge só
tem a liberdade dos lábios para beijar, pela última vez, o
Crucifixo, para pedir perdão em alta voz dos seus pecados,
perdoar aos seus inimigos, e protestar a sua inocência.
Já sobe os degraus do patíbulo. Já os capelâes da Mi'
sericórdia entoam a antífona «Ne recorderis Domine», e os
sinos ainda tocam, e tos tambores ainda rufam, e ouvem-se, (41) Idem, pág. }^
CAPÍTULO XV

Misericórdia espiritual
Crianças ao desamparo - Paz entre desavindos - Rogar a
Deus pêlos vivos e defuntos - Exéquias pelo Duque de Bragança
Sufrágios.

A iMisericórdia não tinha, como finalidade principal,


receber os meninos desamparados. Seria uma oibrigaçao a
tomar por espaço de muitos anos e com despesa certa. No
entanto nunca se deu por desobrigada de acudir ao desam-
paro das criançasde pouca idade, cujas mães, por doença ou
morte, os não podiam criar. Diante do triste facto de crian-
cãsdeixadasno mundo pelas mães mortas no hospital, a San-
ta Casa da Misericórdiaijamais se negou a procurar para elas
amas para os criar, e depois de crescidas, admiti-las dentro
das suasparedes, atédar'lhes rumo na vida de «maneiraque
não venham a. ser prejudiciais à República, nem por falta de
ocupação fiquem expostas aos males que a ociosidade costu-
ma causar» <1). Mas antes da Casa tomar para si o encargo da
criança deixada pela mãe, tinha por norma conseguir a coo-
peraçao de «alguma pessoa virtuosa», pois não podia «tomar
a seu cargo, senão aqueles que não tiverem, nem outro re-
médio, nem .outra sustentação». Quer dizer: quando faltasse

(i) Compromisso de 1618 - pág. 31 v.


208 209
o auxílio da caridade particular, a criança ficava sendo fi- gio do meio citadino. A lista dos Provedores, constituída pelo
lho... da Misericórdia. ^que. de mais virtuoso, nobre e rico havia na cidade, docu-
Nas minhas pesquisas a respeito da Santa Casa, pude menta o enorme bem que se teria feito no essencial capítu'
.

averiguar que, nem mesmo neste doloroso capítulo da infân- lo da paz dom.éstica e social. A paz de todos ao serviço do
cia abandonada, a Misericórdiadeixou de ter por ela o du- 'bem comum, eis a divisa traçada às Misericórdias por uma
pio amor de benevolência e beneficência. Em meados do sé- Ra.itíha. e por um Rei que encheram Portugal de ventura.
culo XVilI, quando estava em plena prosperidade a indús' A par das misericórdias corporais, a Santa Casa teve sem"
tria da seda e do veludo, pagava 16o réis mensais a um te- pré na melhor conta as sete misericórdias espirituais. Viu-se
celao que ensinasse .e mantlvesse o mínimo deixado sem mãe. .
nos capítulos passados, e até neste, quanto a Santa Casa em
Nos primeiros anosdo séculoXIX,vi que a SantaCasacriou proveito destas - dar 'bom conselho, ensinar os ignorantes,
e edu-cou um mudo. 'E ainda é da minha lembrança pessoal -.consolar os tristes, castigar os errados, perdoar as injúrias, so-
a existência na Misericórdia de um exposto, chamado Ar' írer pacientemente as fraquezas alheias - quando, no exer'
naldo. «cíçio da sua missão sagrada, alimenta os famintos, sacia os
Outrü fim, não menos benemérito da Misericórdia, foi sequiosos, veste os nus, visita enfermos e encarcerados, aga-
estabelecer a paz .entre as pessoas desavindas. Safaendo'se que saïha os peregrinos, resgata os cativos e enterra os mortos.
Mas de todas as obras de misericórdia a. mais tocante,
«algumas pessoas estão postas em inimizade escandalosa ou
em discórdia que se sigam males públicos» o Provedor e os -aquela que mais respeita ao culto da gratidão e da saudade,
mesários deviam empregar todos os meios para as reconci- é a que se denomina - rogar a Deus pêlos vivos e defuntos.
liar, ou falando-lhes por si ou pelas pessoas que lhes pare- A oraçãopêlosbenfeitores, vivos e mortos é um dos mais be-
cessem maisacomodadas,até se perdoarem as injúrias, e dei- los actos que um crente pode fazer pelo seu semelhante. O
xarem o ódio e voltarem a ser amigos consoante manda a re- pobre sem ter que dar, pede a Deus que o substitua na gra-
ligiâo professada. tidao e ao reconhecimento. Outrora houve hospícios, desti-
Nunca a Santa Casa trataria de questões de honra e de nados ao abrigo de pessoas cuja missão era rezar pêlos seus
.

fazenda de cuja paz resultasse algum vexame para uma das benfeitores. E ainda foi do meu conhecimento que, na cida-
partes, nem se meteria em conseguir a paz entre dois inimi- <le do Porto, havia pessoas que viviam de assistir a missas
gos da qual resuhasse dano para o ifaem público <2>. pela intenção de quem lhes dava esmola. A própria Miseri'
.

Com esta orientação compreende-se admiràvèlmente o córdia de Lisboa tinha asilos a que 'dhamava mercearias para
'bem que a Santa Casa tem 'feito através dos séculos da sua abrigar «mulheres pobres, viúvas ou que não tivessem casa-
existência, sobretudo se pensarmos que a Misericórdia teve do»,, de 50 anos de idade pelo menos, «de boa fama, virtuo-
como orientadores e governadores as pessoas de mais prestí' sãs e honradas», mas não tcmulheres doentes ou aleijadas»,

(i) Idem - ipág. 36.


210 211
que morressem fora da cidade, logo que tivesse notícia certa
de modo que pudessem ir às igrejas a «rogar a Deus pêlos <lo seu falecimento (4).
vivos e defuntos» (3>.
Havia muitos irmãos que estavam ausentes e havia ou-
Saibe-se que Bragança era feudo da Casa do mesmo no.
tros que nenhuns serviços prestavam à Misericórdia. Eram
me. O castelo era palácio ducal. Desde a fundaçãoda Santa.
Casa nesta cidade, o Duque de Bragança dava pelo seu al' irmãos para o .benefício, não o eram para o ofício. E estes
moxarifado a gordíssima contribuição de 8.000 anuais. No
traziam grandes despesas à .Santa Casa: muita cera gasta nos
ofícios e nas esmolas. Nos .dois anos anteriores tinham-se
fim do ano de 1630 morre o Duque. A Santa Casa agrade-
feito mais de 70 ofícios. E apenas 'eram irmãos de nome, mo-
cida celebra-lhe exequias. E o Duque, a 14 de Janeiro de-
tivo porque a Mesa, a 22 de Junho de 1680, resolveu riscar
1631» manda-lhes esta carta que me apraz reproduzir.
aProvedor e irmãos da Mia dessa Cidade de Bargáça.; o
os que viviam fora da cidade. Logo que à cidade voltassem,
seriam reaámitidos <5).
sentimSto q mostrastes do faleci-mZto do Duq meu S°r'Epay
Viu/se que cada irmão tinha à sua morte um ofício e
(q DD te) he mui coforme as rezoes q nesta Vossa me di'
Z,eis q erao devi das asua. memorid Compristes nisto não soo uma missa, além das missas diárias que o capelao celebrava
por todas as intenções da Casa.
as lobrigações de Vassalos mas ainda as de agradecidos no
officio ends mais exequias terei sempre de tudo alebraca q Os sufrágios da. .Santa Casa distríbuíam-se pêlos pobres,
he rezao p" favorecer as cousas dessa Casa assy como o Duq pêlos irmãos e pêlos benfeitores. Pêlos poibres: no ano de
1667-1668, por 18 pobres falecidos, foram celefaradas 18 mis-
meu S°r e pay q ho te ofazict; escrita em Va Viçosa a 14 de
]anl de 1631 O Duque...
° sãs e 18 ofícios, no que a Santa Casa gastou 3.960 réis. Em
Ao Provedor e irmãos da Mia da Cidade de Bragança». i675'i676, fez metade da despesa porque os pobres mortos
Interessante, e de considerar, é este 'documento, firma'
foram 9. Igual despesa, fez em 1679-1680 W. Em 1681, os
do por quem dali a 9 anos seria o Rei de Portugal, Donr mesmos sufrágios. Mas em 1710 apenas se gastou a quantia
João IV. E tamibém interessante, pelo lado religioso e pátrio'
áe i.ooo réis. No século XIX e XX os pobres deixaram de
ter sufrágios.
tico, verificar que a Santa Casa, em pleno período fílipino^
sufragou a alma do seu benfeitor e afirmou a sua vassala- Pêlos irmãos; a primeira verba encontrada a seu respei'
gem.
to foi no ano de 1659: o pagamento aos capelaes da quantia
de 1.680 réis pela assistência aos ofícios dos irmãos. No ano
Pelo primitivo Compromisso, vê-se que, pêlos defuntos,
acompanhados à sepultura pela Irmandade, os irmãos reza-
seguinte - 1660/1661 - houve pêlos irmãos 23 ofícios ã
vam 14 Pai Nossos e 14 Ave'Marias, e que, no dia. seguinte,
razão de 7 vinténs cada um. Em 1675, porque haviam fale-
se lhe fazia na igreja da 'Misericórdia um ofício inteiro de cido 8 irmãos, fizeram 8 ofícios no que se gastaram 960 réis,
nove lições, e o mesmo se fazia por todos os irmãos, mesmo
iC4) Idem - pág. ^
<5) 1679, foi. 51.
(6) Idem, foi. 7.
(3) Idem - pág. 30.
212 213
e no ano de 1679-1680 o número de ofícios subiu a 22 no Meireles Martins; e i por alma de Monsenhor António José
que se dispenderam 2. 500 réis <7> e 9.800 réis foi a conta de da Rocha <12).
28 ofícios celebrados em 1681. Os benfeitores não têm sido esquecidos. Morre em 1907
Pelo Compromisso de 1856, a Mesa tinha obrigação áe de um desastre ferroviário o faenemérito Conselheiro Afaíli^
fazer cumprir os sufrágios dos irmãos, de por eles mandar Beca? Missa solene na Misericórdia. Morre no Luso, em
celdbrar a missa quotidiana e a. missa do meio'dià nos Do' Agosto de 1912, o bispo de Bragança, Dom José Alves de
mlngos e dias santificados (8) e pelo Compromisso de 1877^ Mariz, desterrado pelo Governo da República? Houve qu&m
ainda em vigor, os irmãos têm direito a 3 missas por sua al- o não esquecesse com uma missa por sua alma. É biàrbara-
ma, e a mais uma se o irmão tiver servido algum cargo na mente assassinado o Rei Dom Carlos? Soleníssimas exéquias
Santa Casa. Note'se que o Compromisso declara a redução. na 'Misericórdia. Matam o benemérito Sidónio Pais, Presiden-
ou aumento dos sufrágios ou quando os fundos da confra- te da República? As exi équias não lhe faltam na igreja da
ria não cheguem para o seu cumprimento integral, ou dêm. Santa .Casa <13).
margem para um ofício de corpo presente, de 6 padres para Por todos em geral, pobres, irmãos e benfeitores, a San'
cada. irmão (9). Apesar dos recursos da Santa Casa terem au- ta Casa, desde a sua fundação até hoje, tem mandado ce-
mentado, observa-se que, desde 1933 até hoje, o sufrágio lefarar ofício e missa cantada no mês de Novembro, con-
por cada irmão falecido 'é de uma missa (10). sagrado às almas do Purgatório. Todos? Infelizmente há uma
Das missas diárias e das missas dos Domingos e dias excepção - o ano de 1912 - Neste, as almas foram es-
santificados que a Santa Casa manda celebrar, participam as quecidas porque o culto dos mortos podia melindrar os prin'
almas dos faenfeitores, dever que se cumpre desde a funda- cípios e os fins da República.
cão,aliásconsignadopelo Compromisso de 1856 que diz ter O oficial geral que a Santa Casa mandava anualmente
a Irmandade «o ónus de obrigaçãoa bem dos benfeitores» e celeibrar na sua igreja era soleníssimo e assas dispendioso.
todos os sufrágios que, por legado ou doação, forem cometi' Em 1641, foi de 2. 139 reis a despesa com a cera, e com
dos à Irmandade, e ela se ührigue a cumprir (u>. o clero 'foi de 2. 510 reis. Também estiveram lá todos os
Estes legados são actualmente os seguintes: Ofício e mis" frades de São Francisco, todos os Padres do Colégio do San'
sá por alma do Padre Camilo de Fontoura; tífício e missa tíssimo Nome de Jesus, todos os padres da colegiada de
por alma de Francisco Ferreira Alves; 2 missas por alma do Santa Maria e da abadia de São João Baptista, todos os ca-
Barãode Castelo de Paiva; 2 missas por ahna do Padre Aní- pelaes da Misericórdia. Maior despesa se fez com a cera,
bal Francisco Rodrigues; i missa por alma de D. Antónia- em 1659, que foi de 20.362 reis (eram 68 arrateis) e com
o clero com o qual se gastaram 6. 100 reis.
(7) Idem, idem.
'(8) Compromisso de 1856.
.
(9) Idem de 1877 - pág. 27.
1(10) C. corr. 1935, foi. i, 9. (12) Actas, n. 16, foi. 14.
1(11) Compromisso .de 1856. (13) C. corr. 1917-1915, foi. 14-Actos, 1907-1919, foi. 130
214
Depoisdo ofício e missa cantada, era de obrigaçãoirem
processionalmente ao adro da igreja, cantar responsas por
alma dos irmãos. Mas, a 18 de Outubro de 1840, deliberou
a Mesa que fossem ao cemitério onde se rezariam os rés-
ponsos e os usos do costume (14). Para as sepulturas dos
benfeitores da. Misericórdia foram comprados, em Novem- CAPÍTULO XVI
bro de 1894, 30 lampiões para serem acesos no dia dos fieis
defuntos. Fontes de receita

O tesoureiro e o escrivão - O procurador e solicitador - Le-


gados e foros - Peditórios e mamposteiros - Bandos precatórios e
subscrições - O cortejo de oferendas - Uma carta de El-Rei.

Dois cargos muito importantes para o bom governo da


Santa Casa da Misericórdia, eram, e são, o tesoureiro e o
escrivão. Tesoureiro? Não. Dois tesoureiros: um nobre e ou-
tro crficial, que, segundo o primitivo Compromisso, deviam
ser pessoas de muita confiança, ricos e abastados e desem-
pedidos para, com muito cuidado e assistência, poderem
cumprir com esta obrigação e ir à S^nta Casa todas as ve-
zes que fosse necessário <-rl.
Na Santa Casa desta cidade, os tesoureiros chama-
vam-se maior e menor, segundo se incumbiam da receita,
dia a dia, 011 da receita em geral. Os irmãos noibres e se'
guada condição revezavam-se no mister de tesoureiro. As-
sim é que em Jiilho de 1671 era exercido por um tecelao de
tafetá <2>.
O Compromisso de 1856 não exigia a nobreza de san'
gue. 'Limitava-se a dizer que deveria ser um irmão probo,
inteligente, abastado, prático em contas e zjeloso no cum-

(i) Compromisso 1618-,pág. 17 v.


(14) Acórdãos, 1832, foi. 27. l(2) 1671, foi. 17.
216 217
primento dos seus deveres com estas obrigações: ter em dia vernador da Praça e Coronel de Cavalaria, o arquivo não
a sua escrituração, promover a cobrança das rendas, escri- ficou uma perfeição (6). Em todo o caso melhor do que na
turar os valores recebidos e dispendidos, realizar as suas provedoria do Abade de Quiraz, Padre Alexandre fcnuel
contas no fim do ano, toma-las ao encarregado da cobran- .
Coelho e Melo, em 1833. Ele não achou contas dos anos
ca do pão, e assinar o resumo do balanço da receita e des- anteriores, nem livros, nem nada (7). E esta falta de li-
pesa do ano para ser apresentado em assembleia geral (3).
.
vros perdurou até ao ano de 1850 <8>.Os últimos das contas
Enquanto ao escrivão, o primitivo compromisso tam- haviam'se perdido na administração do concelho (9).
bem exigia que fosse pessoa nobre, de tal virtude, pru- Por despatiho do Ministro das Obras Públicas, de 29
dência e condiçãoque pudesse dar expediente aos negócios de Maio de 1891, a correspondência da Santa Casa, trocada.
com certeza e facilidade. Seria de 40 anos, e desocupado de entre ela e as santas casas do país/passou a ser gratuita (10>
todo o ofício que pudesse ser-lhe impedimento para se em 1896 adquiriu'se um selo de alavanca com as armas da
ocupar no serviço de Deus e de Nossa Senhora, conforme Santa Casa por 10.000 reis, e em 1929 comprou-se uma
às obrigações da Santa Casa. Tinha a seu cargo ir diária- máquina de escrever.
mente duas vezes à casa do despacho, passar por mão pró- Trafaalhando ao lado do tesoureiro-mor, e do escrivão»
priaos conhecimentos em forma, tomar todas as contas qud estavam o procurador e o solicitador. A Santa Casa de Bra-
apresentassem à Casa .e servir mais um mês na gerência ime- gança, ao que parece e nada vi a este respeito, não tinha
diata para esclarecimento da nova Mesa (4). o mordomo das demandas - um mês nobre e noutro mês
Como ao tesoureiro, o Compromisso de 1856 não exi' oficial. Mas tinha o solicitador que em 1658 recebeu, por
gia, nem a limpeza, nem a nobreza de sangue. Queria ape- seus serviços, a quantia de 3. 120 reis, e em 1659, lhe foi
nas que o escrivão fosse um irmão dos mais qualificados, dado um jumento pela Santa Casa para. melhor exercitar o
activo, zeloso, inteligente, e capaz de preencher os deveres seu ofício e que custou 3. 000 reis.
do seu cargo, consignados minuciosamente em artigo espe- O procurador era um letrado, um homem de leis'que,
dal e adaptados à legislação corrente, e conïirmados pelo na qualidade de defensor dos presos, tinha, pêlos privilé-
Compromisso de 1877 (5)» gios concedidos por Dom 'Manuel, preferências nas audiên-
O escrivão tiriha a seu cargo o arquivo. Mas o arquivo cias, mesmo que se não tratasse de causas referentes à con-
em 1817 não estava modelarmente organizado. As escrítu- traria t11'.
rãs não estavam arrumadas, e os restantes estavam muito Em 1710, o procurador era o licenciado António Lopes
'bem desorganizados. Não obstante o interesse do Prove-
dor Francisco de Figueiredo Sarmento que também era Go- (6) Matric de irmãos, 1834, foi. 2'5o, 252.
(y) Acórdãos, 1832, foi. 5, 6 v.
(8) Idem, foi. 8 v., 19 v.
(3) Compromisso de 1856. 1(9) Ideni, foi. 49 v., 50 v.
(4) Compromisso de 1618, pág. io v. (io) Corresp. 1884-1929.
(5) Idem - pág. 18 - Compromisso de 1856. (li) Fernando Correia, ob. cit. pág. 577.
218 219
Rebelo que tinha o ordenado de 12.000 reis. Em 1836, o rio, onde, não muito decentemente, se conserva o Sántíssi-
procurador, mercê da crise financeira, desceu de ordenado.
.

mo Corpo do Senhor» (l6).


Passou a receber somente io alqueires de pio centeio (12) e Grande fonte de renda eram os legados dos quais elen-
depois, 1860, o ordenado era de 10.600 reis (13). quei, no apêndice, aqueles que pude encontrar. Mas, nos pri/
Acerca das despesas da Santa Casa para o cumpnmen- meiros dois séculos de existência, muitos legados teria rece-
to das obras de Misericórdia, algo se disse nos capítulos an- faido a 'SantaCasadaMisericórdiapara poder ter io capelâes
tenores. Importa agora dizer alguma coisa no que respeita a celebrar asmissas que os legados impunham. É de apreciar
às fontes de receita. e louvar o ressurgimento do interesse citadino pela Santa
Em apêndice dá'se, na medida do possível, o resumo Casa, nestes últimos 20 anos. Nada menos de 30 legados re-
da receita e despesa consoante os magríssimos recursos à cebeu a SantaCasadosquais me permito destacar os de José
minha disposição. Diz-se que no ano de 1658 a receita foi Borges do Vale, Monsenhor António José da Rocha, Dr. Jo-
de 152. 126 reis. Esta receita era ínfima se considerada com sé -Eugênio Teixeira, Engenheiro Olímpio de Oliveira Dias,
as enormíssimas despesas que acarretava o exercício das Alberto Rodrigues e o Dr. Diogo Albino de Sá Vargas que,
obras de misericórdia; mas era de valor impressionante se a meu ver, é o maior ibenemerito da Santa Casa em 430 anos
considerado o grande valor aquisitivo da moeda. Que era de existência.
dotada de exíguos rendimentos, disse-o aos Pontífices Ino- A renda de foros e pão 'foi, em eras passadas, uma gran-
cêncio XIII e Bento XIII em 1720 e 1727, o bispo Dom de fonte de receita. Para a sua arrecadação tinha a Santa
João de Sousa Carvalho (14). «Com tanta pobreza de re- Casa os mamposteiros e o coÍhedor. O colhedor era quem
cursos, a Misericórdia não podia íazer misericórdia», decla' ia cobrar o pãodos foros. Em 1658 tinha um que era almo-
rou aoPapa Bento XIV, em 1744, o bispo Dom Diogo Mar- creve e se abrigava por sua pessoa e bens, tendo de venci-
quês Moratto U5). mento ii.ooo reis e 2,0 alqueires de centeio. Em 1668, o
Mais incisivo e palavroso . foi o bispo Dom João da vencimento subiu a 16.000 reis e o centeio a 50alqueires, e
Cruz, em 1754, ao Papa Bento XIV: uHá na diocese igrejas em 1681 o centeio foi o mesmo e o ordenado cresceu a.
fundadas sob a protecção real com o título de Misericór' i S. ooo reis <-18^.
dias... Por causa da mesma protecção regia, estas igrejas e O Compromisso de 1877 legislou sobre o colhedor, ago'
confrarias recusam os visitadores eclesiásticos, o que faz que ra sufastituido pelo nome de cobrador. Daqui em diante te-
só a igreja ou Casa da Misericórdia de Bragança tenha sacrá- riam de ser irmãos de provada . honradez e capacidade, com
bens próprios de fortuna, sabendo ler e escrever, nomeados
pela Mesa, responsável pêlos prejuízos causados, com o en'
'(12) Acórdãos, 1832, foi. 12 v.
.
(13) Idem, íol. 73 v. (i 6) Idem, 1754.
1(14). Arq. secreto do Vaticano - Concilii, 1720, 1725. (i 7) 1669, foi. 34-
1(15) Idem - 1744, 1745. <i8) 1679, foi. 25.
220 221
de fazer a cobrança quando a Mesa achasse bem e o a 47 (26) no ano seguinte sobe um pouco a 88 (27> e arriba,
benefício de uma 'gratificação proporcionada ao trabalho W. em 1857, à soma de 311 (28),-e logo, no ano seguinte, des-
Esta medida revela desleixo nas cobranças passadas e, mais céu a 218 alqueires (29).
do que desleixo, menos probidade. As gratificações de Perdidas muitas escrituras, mortos os enfiteutas, au-
i8.ooo reis, em 1895, e 20.000 reis, em 1899, traduzem uma sentes os cobradores, desorganizaçãodos serviços, tudo con-
receita desanimadora no que respeita à colheita de pão de íribuiu para desaparecer a grande maioria dos foros em pão.
iforos e prazos. Era de tal ordem que a Mesa, a 13 de Ju- Por outro lado, os foros, prazos e pensões pagos em dinhei-
lho de 1906, resolveu pedir ao Governador Civil autoriza- ro deixaram de ter a. sua importância pelo Insignificante
cão para cobrar por justiça os devedores (20).
.
valor aquisitivo da moeda. O que no século XVIII tinha
A Santa Casa tinha uma tulha para recolher o pão jnuito valor, no século XIX pouco valia. E porque valia pou-
a princípio. Depois como os rendimentos aumentassem, fi- co, deixou de ter apreço para a Santa Casa e para o cobrador.
zeram duas: uma grande e outra pequena. A grande foi Assim é que, no ano iS45-i846, os 'foros em dinheiro ape-
repartida em 1858, e, em 1865, desapareceu por causa da nas renderam 184. 175 reis, renda maior em todo o caso do
nova enfermaria (21). <^ue a do ano de 1849-1850que foi de 156.695 reis (30) e do
Em 1659, recebeu a Santa Casa 1. 164 alqueires de pão a do ano de 1856-1857 que foi de 112. 705 reis m.
que renderam 152. 226 reis, ficando-lhe a dever 166 alquei- Mercê de novos legados, de reorganização e actualiza-
rés. Em 1661, o número de alqueires desceu a 1.014, e su- cão da moeda e foros, as rendas da Santa Casa, no ano
biu, em 1668, a 1.523 <22LMuito boa a cobrança do pão, em i94o'I94I>Íoi de i5>648 escudos, pouco mais ou menos.
1670. Nada menos de 1.751 alqueires (23> e ainda melhor, , A função da Santa Casa pode defínir'se nesta frase;
em 1674, com 1.859. Melhor ainda no ano seguinte que foi pedir e dar esmolas. Em cada freguesia tinha pessoas que
de 1.981. E ainda melhor a do ano de 1678 que subiu à por devoção pediam esmolas nas igrejas, aos Domingos de-
conta de dois mil (Z4>. Sempre em crescendo suave, verifr pois das missas, nas feiras e nas festas. Pediam e recebiam di-
camos que, em 1704, a colheita foi de 2. 211 alqueires. De- nheiro e pão, destinados aos presos, aos doentes e aos pobres
pois vai diminuindo progressivamente até que, em 1846, envergotíhados, e todo este pão era arrecadado na tulha, e o
.

apenas foram cobrados 100 alqueires <25). Em iS5i desceu dinheiro caia no cofre do tesouro para depois cair nas mãos
aos necessitados. Os que pediam tinham o nome de mampos-

Çig) Compromisso de 1877-pág. 24.


<2o) Corresp. 1884-1929. 1(26) Idem, foi. 36 v.
<zi) C. corr. 1845, foi. 8 - C. corr. 1854, foi. io, 6o. 1(27) Idem, foi. 50 v.
(22) j66p, foi. 59. (28) C. corr. 18514, foi. 15.
(23) 1671, foi. 6. (29) Idem, foi. 23 v.
(30) 1845, ' foi. 19 V.
(24) 1679, foi. 6.
(25) 1845, íol. 8 v. <3i) 1856, foi. i v
223
222
nheiro. O dinheiro não foi muito - 106.820 reis. Mas foi
teiros porque, no início da Misericórdia, eles pediam de mãos impressionante a colheita de donativos em roupas. Recolheu
postas, por amor de Deus.
No ano de 1659, as esmolas recebidas pêlos inampos-
a. comissão angariadora 342 peps de roupa e 32 peças de
louça. Só estas verbas: 202 lençóis e 47 cabertores. Arruma-
teiros renderam 2.538 reis, as recebidas nas feiras somaram
dos os ofertantes por bairros e ruas, verifiquei que foram a
2.010 reis, e os pedltórios no ano deram a quantia de i .775:
Vila e (Estacada os mais generosos, e que as ruas mais so-
reis.
vinas no dar foram as ruas dos Oleiros e a Rua Direita. É
Por todas as feiras que eram mensais na cidade, an-
dava o campainha com a sua opa azul a pedir esmola para. sempre assim. Os pdbres são sempre de alma maior do que
a Misericórdia. No ano de 1650, renderam as esmolas 14. 729
os ricos porque o po'bre conhece por experiência as dores e
zs misérias dos pobres w\
reis. Foi o ano máximo da generosidade no século XVII por-
Um bando precatório em .benefício da Santa Casa da
que nos outros anos a maior quantia foi de 5.005 reis (32).
Em todas as aldeias do termo de Bragança, a Santa-
Misericórdia, foi feito em 26 de Fevereiro de 1926, pela As-
sociaçâo dos Artistas que rendeu 675. 80 escudos <35) e, neste
Casa tinha mamposteiros. Pediam . uma vez por mês. Nos .

mesmo ano, a Direcção Geral de Saúde deu à Santa Casa


primeiros tempos o resultado foi apreciável. Depois áimi-
um régio presente - 265 peças de roupa.
nuiu o interesse no pedir e diminuiu, portanto, o interesse:
no dar. Em 1676, os peditórios nas aldeias só renderam O mês de Dezembro de 1931 foi zim mês feliz para a
5oo reis.
Misericórdia. Uma comissãode senhoras da cidade pediu di-
Os peditórios foram suibstituídos pelas subscrições. A
nheiro e peças de roupa. Pediu e conseguiu: 2.292 escudos,
primeira que se fez na cidade, em favor da Misericórdia^ e 269 peças de roupa, 24 peças de louça, 200 gramas de
unto e 2 frascos de xarope. Esta subscrição foi continuada
foi em 1860 que rendeu 49.370 reis. A segunda foi em.
pelas aldeias, sendo pedido dinheiro e géneros. O dinheiro
1864» tirada pelo Governador Civil, auxiliado pela Assem-
bleia Brigantina, que deu a soma de 247.630 reis. Fizera-se
recebido foram 2.484, 00 escudos, e de géneros é de dizer
a favor dos infelizes de .Cafao-Verde e, não sei porquê, re- que a Santa Casa recebeu: 24 peças de roupa, 14 quilos de
verteu para os doentes da Santa Casa (33). feijão, 342 quilos de batatas, 3 quilos e 600 gramas de grão
Em 1867, tomou^se a deliberaçap de pedir esmolas nas de bico, i quilo de salpicao, 2 tíhouriços, 2 quilos de ce'
aldeias. Mas esta boa ideia foi infructuosa porque só pró'
bolas, i réstia de alhos e 12 quilos de vitela (36).
As subscrições continuam pelas aldeias. Pelas aldeias a
duziu 15. 465 reis.
iEm Fevereiro de 1909, fez-se na cidade um esplêndido Santa Casa já tem amigos dedicados. E estes amigos fazem
movimento a favor da Santa Casa. Pediram^se roupas e di- milagres. Na povoação da Refega, em 1933, um amigo co-
(34) Corresp. 1884-1929.
35) C. Corr. 1924, foi. 33 v.
, (32) i66p, foi. 38. (35) Idem, foi. 139, 140, 144 v, 153.
.
(33) C. Corr. 185.4, foi. 36 v, 61 v.
224
Iheu 813 escudos, roupas, chouriços, batatas, lenha e palha>.
Outro amigo, em Grijó de Parada arranjou 173 escudos, uma^
manta e uma toalha. Tudo isto no ano de 1933 (37) que, no-
ano de 1934» outro amigo da Quinta do Vilar de Quintani'
lha deu à Santa Casa io escudos, io arrobas de batata e 100
calmos de palha (38>.
Criou'se o santo vício de dar. Nos anos seguintes, pela.
cidade e pelas aldeias cresce o sagrado interesse pêlos pobres
da Misericórdia. Desde 1935 a Outubro de 1944» as subscri'
coes renderam: 50 mil e tantos escudos, 81 peças de roupa,
34 peças de louça, 319 calmos de palha, 66 quilos d'e carne,
27 arrobas de batata, 53 litros de feijão, 17 litros de grão-
de 'bico, 59 quilos de pão, 5 litros de azeite, 100 quilos de
centeio, io caixas de injecçoes, carro e meio de lenha, dúzias
de ovos, cestas de castanhas, i galo, 3 galinhas, couves para-
dois meses e uma abóbora.
Ao lado das verbas regulares, deixo aqui, mui de pro"
pósito, as aparentes miudezas da caridade. Aos olhos de-
IDeus poderão ter um valor imenso pelo amor de sacrifício
que elas podem traduzir. Aos nossos olhos elas têm o valor-
fundamental da arimiética porque é das unidades que se.
formam as dezenas e os milhões. Causa ternura a dádiva da
camponesa que dá uma galinha. Imagine'se que cada fa-
mília das nossas aldeias dava à Santa Casa o mesmo. Ha-
veria caldos para os doentes a fartar. ;Calcule'se ainda que se-
fazia o mesmo com ovos e outras insignificâncias. Estas in-
signlficàncias endheriam a dispensa da Misericórdia.
Se muita gente soubesse quanto é agradávelo prazer ds Dr. ^Diogo Albi.no^de Sá Vargas (óleo de Henrique
- O maior benfeitor da Santa-Ca^a'

(37) Idem, foi. 15.6 v, 157 v - Actas, n. 16, foi. 3 v, 4, g .'^.


li, i5 v.
.
(38) Idem, foi, 180 v. - Actas, n. 16, foi. 27, 33.
225
dar! Se todos ponderassem, como dos nadas se resolvem pro-
blemas de grande economia!
Em 1945, tirou'se nova subscrição. Esta rendeu em di-
nhçiro 18.621,50 escudos, e em géneros, vindos de vária?
aldeias, apuraram-se: 402 quilos de batata, 77 quilos de
centeio, 56 quilos de grão de bico, 108 quilos de castar
nha, li litros de feijão,3 colmasde palha e 3 paesdecenteio.
A maior subscrição de todos os tempos fez-se em Bra-
gança, no dia 8 de Dezembro de 1946. Não oibstante o
tempestuoso do tempo, a Santa Casa pôde apurar estas ver-
bas, dignas da maior consideraçãoi em géneros, 60.981, 45
escudos; em dinheiro, 112.667, 20 escudos. Totaí:, 173. 648, 75
escudos. Total importantíssimo, sobretudo se pensarmos
quanto é pobre a cidade e o concelho de Bragança. Mas no
cortejo das oferendas, como modernamente se chamam aos
antigos peditórios, bandos precatórios, e públicas subscri-
coes, foi a magnífica lição de caridade dada pelas crianças
<las nossas escolas, em geral povoadas de alunos muito po-
bres. O ar feliz com que elas levavam duas enfeitadas ce-
bolas, ou sobraçavam um frango adornado. de laços! Cada.
uma das .crianças carregava alegremente o presente para os
pobres da SantaCasa. Nunca mais esquecerão,aquele dia de
bondade, e ficou^lhes gravado no coração o dever e a ale-
gria de dar aos pobres da Misericórdia. Das migalhas ofere/
cidas ainda se apuraram mais de 3. 000 escudos. E esta quan-
tia há-de multiplicasse cem por um nas generosidades que
elas hâo-de ter pela vida fora.
Outra fonte de receita da Santa Casa, desde tempos
imemonais- era a rendadas medidas do sal, das tábuas,das
mesas e dos bancos nas 'feiras. Uma pequena contribuição de
cada vendedor que, no fim do ano,'dava uma verfaa agra-
dável. Mas, no ano de 1834, a renda foi de 62.000 reis. uma
226 227
Era Provedor da MisericórdiaFrancisco Cândidode Car-
insignificância que, em séculos passados, representava uma
grande receita. Consequência da desvalorização da moeda. valho .e Castro, e Juizdaconfrariade Santo Cristo o Cónego
A Câmara Municipal chamou a si a renda das madei' João Evangelista Vergueiro. O traslado desta escritura foi
tas. A Santa Casa representou a El-Rei, provando o direito remetido para Lisboa ao Governador Civil a fim de solici-
e posse antiquíssima, e foi atendida. Foi isto no ano de tar a sanção real para a validade de contracto, sanção, que
1834 <39). foi dada por El-iRei, a 16 de Junho de 1864 <41) e nestes
tennos:
A renda das madeiras, cantaras e assentos foi, de 1837
«iDowi Luiz, etc.
a 1853, de 1.494. 245 reis. Em io de Julho de 1853, esta
renda passou a ser cdbrada e arrematada pela Câmara Mu' Faço saber aos que esta minha carta virem que, atèn-
nicipal para maior segurançados arrematarites e maior inte- dendo ao ique me representou a. Santa. Casa da Misericóïdia
resse para a Santa Casa, tanto que, desde 1854 a 1874, da cidade de Bragança., solicitando a Minha. Real sançãop&r s
a renda foi de 4.576.211 reis (40). a validade de contracto que fizera com a, confrariade Santo
Dificílima a vida económica da Santa Casa em 1860. De Cristo ^'Outeiro, e pelo qual 'esta se obriga, a dar antialmen'
receita apenas tivera 383.685 reis. Uma pobre gota de água te ú mesma Santa Casa a pensão de 200. 000 reis em metal
que mais despertava a sede. Que fazer a .pobre .Santa Casa? sonante, com a condição de serem rece.bidos e tratados no
Olhou em roda e viu as confrarias. O dinheiro da igreja respectivo hospital 8 irmãos enfermos da dita confraria;
aguça a cobiça dos que' se vêem em sérias dificuldades eco- Considerando -.que semelhante disposição se acha. implïci-
nómicas, até itíesmo políticas. Que pena que estas cousas se tamente consignada no artigo 6° dos Estatutos daquela COM-
façam com intenção pouco ou nada recta porque a igreja fraria, aprovados por Decreto de 3 de Julho de 1863: Hei
sabe, melhor que ninguém, ser a esmola de direito divino, por 'bem confirmar o referido contrato. Pelo que ordeno às
e ela própria se tem despojado voluntariamente dos seus ha- autoridades e mais pessoas, ú quem o conhecimento desta
veres nas grandes e calamitosas horas de desgraça social e Carta pertencer, que indo por tudo por Mim, assinada e
patriótica!... A Igreja é 'filha e depositária da caridade, que selada, com o selo das Armas Reais e ,p dd Causa Pública,
é IDeus. A cumpram e guardem, tão inteiramente, como nela se
contém.
A 13 de Janeiro de 1861, a coitfraria de Santo Cristo
de Outeiro contratou com a Santa Casa o seguinte: dar-lhe Pagou \áe direitos de mercê em títulos . de dívida funda'
anualmente a quantia de 200.000 reis perpetuamente com a da, a quantia de 12. 000 reis e de 1. 200 do respectivo im'
condição de lhe tratar 8 pobres enfermos. posto de viação como constou de dois conhecimentos em
forma passados nas estações competentes em p5 g 31 rfe

i^g~) Inventário, 1852, foi. 121 - Acoráaos, 1832, foi. 12 -


Arrematafões, foi. 2 - Arrenidtayoes, 1833, foi. 2. (41) Tombo ii, foi. 121.
. (40) Acórdõos, . 1832, foi. 58 v.
228
Maio'último. Dado e passado no Paço da Ajuda, aos io de
Junho de i864. El'Rei 'W.
A acomparihar a confraria de Outeiro, vem, a 9 de
Abril de. 1861 a confraria do Senhor Jesus de Cabeça Boa
0'ferecer 6o. ooo reis anuais, com a condição da Santa Casa
tratar de âois doentes .pobres, seus irmãos (43). Por outro CAPITULO XVII
lado o Administrador do Concelho resolveu dar à iMiseri-
córdia a décima parte das sobras das confrarias que, em
Mais receita
1865, foram 215. 195reis (44). isto de acordo com o .Go-'er-
.
naáor Civil que pF ocurou estabelecer a mesma medida em
Contra e a favor - Subsídios do Estado - Mais outros subsí-
todas as confrarias. Não o conseguiu, a não ser tributan- dios - Recitas e quermesses - Festejos e exposições - Saraus e
do-as segundo .os seus rendimentos. Algumas cumpriram rifas- Sessões de cinema e esmolas particulares.
sempre, -outras durante,algum tempo, e outras em tempo al-
. gum. Por f-im todas deixaram de pagar, e as suas dívidas fo- O Dr. JoséAntónio Franco que antes tinha sido abade
, ram .anuladas a 15 de Aihril de 1892 (45). de Virihais e depois cónego da Catedral, era um grande ad-
.., ; Pode-s.e, contudo, afinnar este facto lisongeiro para as vogado e foi ele que articulou o 'Compromisso de 1877.
confrarias. Em anos difíceis para a vida económica da San' A 7 .de Julho de 1876 já era Provedor da Santa Casa, tanto
ta Càsa^-elas contíiibuiram com 15. 104. 236 reis, o que, muí- que nesta qualidade e naquela data, escreveu ao Gaverna-
tiplicado pôr 10.0» daria 1.300 contos da moeda moderna. dor Civil. E diz-lhe:' no hospital existiam 8 enfermos - 5
toleradas e 3 pobres. As toleradas só no mês de Junho ha-
viam gastado 115.000 reis. Sendo o orçamento de 390.000
reis, era fácil tirar a conclusão. A continuar assim, havia
encerrar o hospital. Que o Governador Civil providen-
ciasse <1^.
Como as providências não chegassem, o Provedor rein-
cide na súplica, a 29 de Agosto de 1876. Disse-lhe que o
hospital não podia sustentar doente algum por não ter ren-
dimentos, e não podia pagar aos credores por abonos de ra-
coes. Por isto não tinha admitido doentes miseráveis, mas
tinha admitido toleradas, mandadas pela autoridade, gente
(42) Idem, foi. 125.
(43)' Idem, foi. 12,4. que gasta, gente incomoda, turbulenta e incapaz de se
.
(44) Copiador, 1882, n. 35 A.
(45) Actas, 1884, foi. 65. (i) Corres?. 1875-1894, foi. 8 v.
230 231
conservar. E conta: No dia 27, eram 8, e fugiu uma. Nï a 1926 inclusive, o subsídio governamental foi de 6.867, 50
tarde de 28, amotinaram/se, bateram-se, quebraram louças, escudos.

e só socegaram quando o tesoureiro acudiu ao motim. A de- Neste caso, nem a cadeia inculcada pelo Dr. Franco,
sordem repetiu-se na manha de 29. Isto, dizia o Provedor» nem a manga larguíssima do Provedor Miguel Pinto. Con-
não podia continuar. Depois nos Estatutos da Casa não ha' cilia-se um pouco a caridade e a moral, adoptando um pavi-
viacastigo algum para osdoentes revolucionários porque mal Íhâo ou sala de isolamento.
pensaria o legislador que a Santa Casa viesse a ser cubículo Tratando'se das fontes de receita, é preciso não esque'
de toleradas. Não se pode dizer que não háoutro lugar para. cer a Câmara Municipal. Em 1860-1861, deu, para sustento
elas, dizia o Provedor, pois na cadeia havia quartos ao cimo dos doentes, 119.890 reis (5); no ano 1873-1874,deu 300.000
. da escada. Este lugar era mais próprio para elas do que o reis (6) dê 1926 a 1932, deu, em 7 prestações, 20.500 es-
hospital, uma casas&ria onde só devia entrar gente séria <2). cudos (7) de 1933 a 1945, deu, em 17 prestações, 132.375
Em 1878 volta o Provedor a queixar-se ao Governador -escudos <8); a 25 de Maio de 1934, deu, para ajuda da com-
Civil. Desta vez a queixa é de ordem financeira. Em 1874' pra de um aparelho de diatermia, 2.500 escudos (9); para a
-i875» o Governo havia decretado o subsídio de 186.370 montagem de um ca'bo eléctrico, deu, a 4 de Setembro de
reis, e continuou a providênciacom a verba de 200.000 reis. I937»2.000 escudos (10); e, em multas por infracção ao có-
Em 1875-1876, o Governo prometeu verba igual e nãocum' digo da caça, deu em 23 prestações, 9. 198, 55 escudos <11).
priu. Findara-se o ano de 1876-1877, e ainda nada se rece' Não se pode dizer que a Câmara Municipal não tem
bera. O Hospital não pode abonar mais (3). ajudado a .Santa Casa da Misericórdia.
Em 25 de Fevereiro de 1881, o Provedor que era Mi' Subsídios do Estado. Pelo art. 7 da lei de 7 de Abril,
guel Maria Pinto tem outra orientação. Escreve ao Gover' de 1892, começou a Santa Casa a. receber, pelo Ministério
nadar Civil a interceder por elas, pedindo que consiga do <}o Reino, o subsídio anual de 172.800 reis perfazendo, até
Governo um subsídio para o hospital as poder receber (4). ao ano de 1910, a quantia de 3.283.200 reis (12>. A 25 de
Chegou o subsídio de 204. 800 reis, em 1891-1892, e depois Junho de 1901, recebeu um .certificado de 5 contos, n. 1619,
foi fixado o abono diário de 400 reis para cada uma, ele' aveAado à 'Misericórdia, e em Fevereiro de 1905, para A
vado logo depois a 500 reis (5).
O sufasídio do Estado neste capítulo foi: de 1892 a <5) Corres?. 188,4-1929 - Actas, 1884, foi. 64 v.
1895, de 2.649. 400 reis; de 1895 a 1900, foi de 6.668. 470 (6) C. Corr. 1854, foi. 36 v.
(y) Idem, 1924, foi, 39v, 70 .v. 76 v, 98 v, 100v, 113 v, 127 v.
reis; e de 1901 a 1922, foi de 9.999,60 escudos. De 1925 <8) íáem, foi. 1.62 iv, 178 v, 201 v - C. Corr. 1935, foi. ' 12,
36, 6o, 87, i2i, 131.
(9) C. Corr. 19124, foi. 180.
<io) Idem, 1935, foi. 53.
(2) Idern, foi. 7. 1(11) Idem,_íoï. 6, 8, i6, 18, 20, 24, 30, 36, 38, 55, 6o, 87,
(3) Idem, foi. io. 92' I/31'.~1 c' corr-_I924> foi. 197 v. - Actas, 17, foi. 43 v, 43.
(12) Corres?. 1884-1929.
(4) Idem, foi. 17 v
232 233
ampliação da enfermaria dos homens, o Estado concedeu o Mais subsídios ainda. Da Junta Geral do Distrito, desde
subsídio de 600. 000 reis. 1930 a Maio de i93'2,.22.500 escudos. Da Junta da Pró-
Nos termos da lei n.° 870, do art. 2.° do Decreto n.° vínoia de Trás-os-Montes, desde 1938 a 1944, 49.400 escu-
16. 142, de 13 de TSíovembro de 1928, da Lei 1017 de 6 dos, e em 1944-1945, 2.500 escudos. Do Governo Civil,
de Agosto de 1920, dos fundos realizados nos-termos das em 9 prestações,a Santa Casa recebeu 30.784 escudos<21).
leis 1274 e 1349, respectivamente de 5 de Junho e 12 de Se' Como fonte de receita e cultura, a Santa Casa tinha
tembro de 1922, concedidos pelo Instituto de Seguros Só' precisamente onde está hoje o Teatro Camões, casa de es-
ciais Obrigatórios e Previdência, da lei 870, a Santa Casa pectáculosque, em '1817, ainda existia com o nome ds. Casa
recebeu, em subsídios do Estado, desde 1919 a 1931' 3°5-I25 da. Comédia, título que, em geral, tinham os teatros no sé'
.

escudosÍ13). A AssistênciaiPública,desde 1933 a 1936, con' calo XVIII.

cedeu/lhe quase 62.000 escudos (14>. Quase 215.000 es- A SantaCasa, a 27 de Julhode 1817, deliberou pôredi-
cudos lhe deu a Direcção Geral da Assistência, desde 1933 tais para a sua venda <24). Parece que houve licitantes porque,
a 1942, e 78. 000 escudos no ano de 1943 <15). E nestes úl- 3. 6 de Novembro de 1839,AntónioManuel Ramires e Antó-
timos anos o subsídio foi de 532. 000,00 (16). nioMaurício Jorge de Lima seus proprietários ofereceram à
Mais subsídios. Da Comissão Distrital de Assistência Santa Casa os aprestos indispensáveis para a Casa do Teatro
Pública, desde 1914 a 1932, recebeu a Santa Casa 114.000 funcionar e, assim, de aluguer a companhias dramáticas, ti'
escudos <17>. Do iPresidente da República Dr. Sidónio Pais» rar proveito. A Santa Casa aceitou jubilosa, e nomeou uma
i.ooo escudos (18). Do Administrador do Concelho, desde comissão para, ao Administrador Geral, pedir autorização a
1919 a I927» 710 escudos. Do Ministro da Justiça, Dr. Lo- fim de receber depois as tíhaves e inventário da Casa do
mil escudos a9 >. Teatro <25).
pés Cardoso, 1920, y
nos anos 1919 e

Da Caixa Geral de Depósitos, destinado a cobrir o déficit 'Esta casa de espectáculosnas mãos da Santa Casa, a Ca-
orçamental, 3.986 escudos(20). sá do Teatro passou a ter o velho nome - Casa da Come-
<áia -.. que rendia, por cada recita, . a quantia de 2.400
(ï3) C. Corr. 1924, foi. 129 v, 108 v, 100 v, 99 v, 98 v, 96, réis <26).
v, 46 v, 68 v, 66 v, 58 v, 6 v, 30 v, 40 v, - Actas, ig'ig-1932,
foi. '35 v - Corresp. 1884-1929. Não sei quando a Casa da Comedia foi adquirida pela
(Í4) C. Corr. 1924, foi. 162 v, 20 i V - C. Corr. 1935, ü- Câmara Municipal, e esta lhe deu o nome de Teatro Brigan-
"(i5) Actas, 17, foi. 38 - C. Corr. 1924. f°l- 177 v - C. Corr. tino. Mas sei que, no ano de 1845, se deram dois benefícios
1935' f°l- 4» io, 26, 30, 50, 6o. que renderam 46. 590 réis. Desde o ano de 1849 a 1864, no
, Ci6) Idem, foi. 82 v.
1(17) Corresf. 1884-1929 - C. Corr. 1924, foi. 8, 20 v, 39 v,
6o v, 90 , v, 139 v, 144 v. (21) Idem, foi. igS v, 197 v, 202 v
.

Actas, 16, foi. 83 -


(18) Corres?. 1894-1923, foi. 153. C. Corr. 1935, foi. 131, 14.5.
(ig) Corresp. 1884-1929 - Actas, 1907-1919, íol. 145. I55^y- .
(24) Matric. de irmãos, 1834, vol. 350 v.
<2o) C. Corr. 1924, foi'. nç, v. 125. 139 v. 142 v. - C. Corr. iC25) Acórdãos, 1832, foi. 24. '
i935> foL 603- (26) Idem, foi, 28 v, 31 v.
235
234
réis (30). Promovida pelo Governador Civil, Cristóvão Aires
Teatro Brigantino, deram-se sete benefícios que renderam
realizou'se outra, em Agosto de 1893, que rendeu 653.555
i.59.58o reis sendo 2 de cavalinihos/27> e, desdeesteano até réis(31). E outra promovida e realizada em 20 de Maio de
à posse do teatro pela Associação dos Artistas, uma sériede 1906 por Major Salgueiro, Sebastião Pimenta e Albano Cos-
espectáculos se realizaram em benefício da Santa Casa da ta, teve o rendimento de 437. 350 réis <32>.
.
Misericórdia que deram o lucro de 422. 605 réis <28). Umas
Festejos^ No Entmdo de 1864, a Mesa da Misericórdia
vezes são amadores locais, como artistas e estudantes, outras
realizou festejos que renderam 18. 190 réis (S3). Em Outubro
sãoartistasquese prestam a colaborarcom a beneficênciada- de 1912, a comissãodos festejos deu à 'SantaCasa o saldo de
Misericórdia, como prestigitadores, rabequistas, cantores ita'
20 escudos. A 30 de Junho de 1934, a comissão das festas a
lianas* comparihias espanholas e companhias portuguesas t28^.
SãoJoãono Pontão ofereceu à Misericórdiao saldo de 50 es-
Desde que o Teatro Brigantlno da Câmara Municipal
cudos, fazendo o mesmo a comissão de festejos iguais no Pi-
passou para a Associação dos Artistas, os benefícios para a cadouro, com o saldo de 131 escudos (94).
Santa Casa continuaram. São os mesmos artistas, são os ofí.-
Exposições.A exposiçãoagrícola realizada por Claudino
ciais de Caçadores 3. em 1892, com o Coronel José Maria César Garcia em 1865, deu à Santa Casa 51.425 réis; e outra
Pinto Bandeira à frente, são os sargentos do mesmo regi-
áe prendas, feita em 19 de Fevereiro de 1876, deu o lucro
mento em 1893, é o grupo dramático do sargento Luís Cor- de 429.500 réis <35).
deiro em 1915, e são os estudantes em 1916. Foram 3.973
Samus. Em Abril de 1865, o Governador Civil Cláudio
escudos que entraram no cofre da Misericórdia <29).
Outros auxílios tem procurado a SantaCasaparao exer- Mesquita da Roza promoveu um sarau dançante que deu o
cício <lasobras de misericórdia.Referir-me-ei aos que teve na lucro de 135.550 réis. Em Fevereiro de 1874, dois saraus,
realizados pela Assembleia Brigantina e pela Associaçãodos
segundametade do séculoXIXe durante o séculopresente, Artistas, deram à Misericórdia 108.780 réis <36> e, a 27 áe Ja-
já como afirmações históricas, já como liçãoàs gerações pré'
sentes e futuras.
neiro de 1934, o sarau musical no Centro Republicano Emí-
Kermesses. Promovida pela Baronesa de Santa Bárbara, dio Garcia deu o resultado d'e 704 escudos (36).
auxiliada por António de Sousa Sampaio e Dr. Firmino João Aluguer de cadeiras. A partir do ano áe 1874 até ao
Lopes e realizada a 12 de Setemliro de 1856, rendeu 530-43» ano de 1881, a música tocava na Praça das Eiras (as eiras

(27) IC. Corr. 1854, foi. 36 v - 1845, foi. 19 v, 35, 35 v, 5" <3°) 1845» íol- 82 v - 1856, foi. i v - Acórd&os, 1832,
.
foi. 65 v.
(28) Idem, foi. 58 v, 73 v, 82 v, ^ v_io3, v, 130 v, 139 v i(3'i) Actas, 1884, foi. 78 v, 82, Si v,
Corresp. iS^yiSw, fol-/4 -Copiadora
-
1882.
<29) Actos;'1884, 'foi. 66 - Corresi?. 1894-1923, ^5 v - ACM^ (32) Corresp. -884-1929 - Actas, 1903, foi. 42.
(33) C. Corr. 1854, foi. 52 v.
X907^9i9."foÍ.-'i°6--v - Corresp. 1884-1929- C. Corr. 1924, foi. (3,4) C. Corr. 1924, foi. 182 v - C. Corr. 1935, foi. 26.
44 v, 122 v. .
(35) C. Corr. 1854, foi. 65 v.
1(36) C. Corr. 192.4, foi. 174.
236 237
do Arcebispo) à noite. A Santa Casa alugava cadeiras em que dá 4 galinhas, aquela aldea que oferece um saco de es-
seu benefício nas noites de Domingo, ao preço de 50 réis, topa e um que oferece um cabrito, não ficam diminuídos
cada uma. Durante estes anos, conseguiu a renda de 48.350 diante do titular que dá um conto de réis, nem em face do
réis<3". comerciante que presenteia 29 lençóis de pano cru. Porque
Rifas. A i de Maio de 1927, o Dr. Francisco de .Sousa tudo 'brotou da sagrada raiz do coração para servir a Deus
Esteves de Oliveira ofereceu à Santa Casauma. moto para ser na pobreza e a pobreza em Deus. O citadino que ofereceu à
rifada. A rifa rendeu 900 escudos W. No mesmo ano (a io igreja um Senhor 'Crucificado, acamarada com outro conter-
de Junho) a Santa Casa resolveu rifar uma junta de bois, râneo do Rio de Janeiro que desafoga saiidades e amor ao
uma charrua, uma espingarda caçadeira e uma bicicleta. A Senhor dos Passos, na riquíssima oferta de uma túnica de ve-
3i de Agosto de 1933, recebeu a Santa Casa, da percenta- ludo e ouro. As galhetas de prata ao Divino Senhor, como
gem da rifa de um automóvel, a quantia de 360 escudos <39> concisamente lhe chamava o Major Real, tem brilho maior
e. a 3i de Agosto de 1934, de uma tombola, realizada na junto do rico esplendor de prata, oferecido por um grande
Praça Camões, recebeu i.ooo escudos (40). bairrista. A senhora que deu um simples lençol, não fica mal
Sessões de cinema.. Em benefício dos pobres da Misen' junto de outra que durante anos ofereceu dúzias de lençóis.
córdia,desde 30 deDezembro de 1931 a 5 de Junhode 1936, Tudo está magnlficamente bem, divinamente bem. Aquele
deram-se quatro sessões de cinema que produziram 937 es- advérbio «divinamente» saiu'me; sem querer. Mas adopto'o
cuáosW. e perfílho-o, com todas as forças da minha convicção.Porque
'Sempre com a finalidade de provocar simpatia pela San' querer bem aos pobres, dar o mais possível aos pobres, é pre-
ta Casa da Misericórdia, de espevitar a generosidade dos lei- ceito divino, é querer e dar divinamente. Dar à maneira de
tores e de lhes sugerir iniciativas, neste capítulo e no ante - Deus, dar do modo que Deus quer.
cedente, fizemos desfilar todas as boas obras, realizadas em E os que dão, safaem-no por deliciosa experiência, sen-
proveito dos pdbres. Em apêndice, publica-se a lista dases- tem, dentro de si mesmos, o mdhor prazer do mundo, que,
molas, oferecidas pêlos particulares, encontradas no pobns- uma vez experimentado, se procura repetir o mais possível.
simo e incompletíssimo arquivo da Santa Casa. Nãohouve a Façam a experiência os que ainda não deram.
intenção da lisonja. Houve, isso sim, a preocupação de su-
gerir esmolas, na medida das possibilidades de cada um.
Na longa lista, há esmolas que enternecem. O anónimo

<37) C- Corr. 1854, foi. 139 v.


(38) Corres?. i884-.i929.
(39) C. Corr. 1924, foi. 167.
(40) Idem, íol. 187 v.
(41) C. Corr. 1935, foi. io, 21 v Actas, n. 16, foi.
C. Corr. 192-4, foi. 136.
CAPÍTULO XVIII

O novo hospital
A sua grande necessidade - Várias tentativas - O serviço
de Banco - O magnífico depoimento dos números - A primeira
operação - O instrumental cirúrgico.

A 12 de Julho de 1884, o Provedor Miguel Luís Pinto


Pimentel, escreveu ao 'Governador Civil: «O hospital da Mi-
sericórdia não merece o nome que lhe deram. Não tem con-
dições que o recomendem, e não se vê como possa tê-lo. As
suas enfermarias poderão comportar, se tanto, io ou 12 CA-
mas, e só com grande esforço também, custeará a despesa
com os doentes. Dever-se-á, em frente de uma calamidade
pública, lançar-se mão de um edifício em tão^desgraçadas
.

condições higiénicas?» (1).


Foi esta a resposta que o Provedor deu, depois de uma
visita do Delegado de Saúde, pois que as autoridades estavam
preocupadas com o eventual ataque do cólera-morbus(2).
Depois do pânico do momento, a costumada inércia. Só pas-
sados 5 anos, o Provedor José António Teixeira tornou a ini-
ciativa de abandonar o recurso das lamúrias fáceis e agir na
medida das suas forças. A animar'lhe os desejos o facto de
ser Ministro das Obras Públicas o Conselheiro Eduardo Coe-

(i) Corres?. i875-;i894, foi. 31.


.

<z) Actos, 1884, foi. 3.


240

tho, nosso amigo, e chefe do partido progressista neste dis-


tnto.
Que o estado financeiro da Santa Casa era grave, e, por
outro 'lado, necessário era alargar as enfermarias, defícientís-
simas para ocorrer ao movimento crescente do hospital, disse'
'o, em representação ao Ministro. Além deste alargamento,
era conveniente construir uma nova enfermaria, motivo por'
que 1'he pedia o . suficiente subsídio financeiro (3). À Rainha
D. Maria 'Pia mandou também uma representação, a 7 de
Setembro de 1889, na qual ]!he pediu protecção, pois que o
rendimento da 'Santa Casa não ia além de 300. 000 réis (4).
Nova exposição ao Ministro, a 7 de Janeiro, enviada
pelo. Provedor Augusto César Novais Pinto de Azevedo. O
iriesmo pedido, acompanhado das mesmas razões<5). A rés' 3
E
posta desòladora era sempre esta: muita amizade, muito in-
teresse, impossibilitados pela ausência de verba no orçamento.
18 de Junho de 1892. Na Provedoria o Major Luís Fer-
reirá Real. O magnífico edifício da Escola Industrial que a
Associação dós Artistas titihâ recentemente construído para
sua s'éde,estava quase vago. Major Real sonha nele para hos'
pitai. Ë representa a 03l-'Rei. As duas enfermarias não com- o
portavam mais de io doentes. A Santa Casa era pobre e não
podia tonstruir um hospital em condições higiénicas. Em
Bragança só havia uma casa -a escola industrial onde só
'havia uma'aula de desenho a um número diminuto de alu-
nos, que podia ser transferida para uma casa na Costa Pe-
qüenaque -se achava vaga e fetíhada. O hospital, como esta-
va, não podia abrigar os'doentes de febre tifóide, de vario'
ia, de sarampo, de escarlatina e de tuberculose. E concluiu':

(3) Corresp. 1875-18 foi. 33 v.


(4) Idem, foi. 36.
(5) Idem, foi. 37.
241
o hospital só tem 3 enfermarias - uma para homens, outra
para mulheres e outra para presos, ocupada ao tempo pelas
toleradas t6).
Percebes se hospital,
que o não Obstante as lamentações
.
da.s provedoiias, ia melhorando.
Implantada a República, foi exonerada a Mesa da San-
ta Casa, e nomeada uma comissão administrativa, que tinha
como iPresidente o Dr. António Manuel Santiago, que des-
<le logo procurou saber o estado da Santa Casa. Embora o
hospital comportasse 25 doentes, ele era impróprio para o
fim destinado. Entendeu que a primeira e principal necessi-
1 dade da Misericórdiaera a de um edifício adquado, onde se
pudessem convenientemente instalar toàos os serviços da as-
sistência hospitalar, cousa muito acima dos seus recursos que,
a.o tempo, apenas eram de 26.900.000 nominais em títulos
-de dívida pública, 100.000 réis em acções do Banco de Bra-
gança, 250.000 réis em capitais mutuados, e um pequeno pré'
dio por desamortizar no valor aproximado de 50.000 réis.
.

O valor dos seus bens móveis também não excedia a quan'


tia de 470.000 réis, ao passo que as suas dívidas activas or-
cavam em 1.941.780 réis, difíceis de cobrar por serem, ^a
o
I sua maioria, de subsídios de outras confrarias que lutavam
<:om graves dificuldades na sua vida económica. Serviam-lhe
<le muito os 500. 000 réis do Estado para tratamento das tole-
ïadas, mas este subsídio com as rendas próprias nãodava mar-
gem à Santa Casa para cuidar mais de 6 a 7 doentes. No en-
tanto, mesmo nas condições em que' a Santa Casa se encon-
trava, viu o Dr. Santiago que a Misericórdia prestava gran-
dês serviços no tratamento de doentes pobres, sem doença
contagiosa ou incurável, que o seu pessoal tinha competêii-

(6) Actas, 1888, foi, 66.


242 243
cia e as anteriores mesas se tinham esforçado em distribuir tanto dependia de mais ou menos porção de terreno cedido
benefícios, já socorrendo de pronto quaisquer acidentes no.
.
à sua organizaçãodefinitiva. Pediu, pois, o máximo possível
trabalho, já ministrando medicamentos a doentes. distribuin- de terreno, certa a Mesa de que ela só aproveitaria o que
do esmolas aos mais necessitados, e prestando aos desampa- íosse inteiramente necessário, arborizando o restante e vê-
rados as últimas 'horas em sufrágios e enterros <7). dan'do-0 até nas condiçõesque a Câmara entendesse t10).
A 17 de Setembro de 1912, o Presidente da Comissão. O projecto do novo hospital está em marcha. A 5 de
de Administração dos bens eclesiásticos do concelho pergun- Dezembro de 1914, o Provedor Dr. Lopes Cardoso tem o
touà Mesaquantoofereciaderendapelopaçoepiscopal<lho- prazer de o enviar ao Director das Obras 'Públicas para ser
je Museu) para lá se instalar o hospital civil, com exclusão. aprovado ou modificado, sendo preciso (11). Aprovado o pró'
do rez do chão, destinado a repartições públicas. A Me- jecto, as obras foram arrematadas, a 2 de Janeiro de 1915,
sáresolveu oferecer a renda anual de 24. 000 réisW. por Veríssimo de Sá Correia, condutor de Obras Públicas em
Em 1914 era Provedor o Dr. Artur Lopes Cardoso. A Mirandela por 6.835 escudos, com a condição de se sujeitar
comissão Distrital de Assistência estava depositária dos dona- às modificaçõesintroduzidas pela comissão delegada do Con'
tivos que em tempo fizera o Visconde da Senhora da Ri- selho de Melhoramentos Sanitários (12).
beira para fundar uni hospital distrital, incapazes da tíbra A obra do Engenheiro Veríssimo de Sá Correia acaboii
projectada.Maseram .capazesdemelhoraro serviçodehos/ de ser paga em Março de 1919, em dez prestações. E por-
pitalizaçâo e admitir de futuro, nasnovas instalações, alguns que 'houve necessidade de fazer uma divisão em madeira, a
doentes que as comissões concelhias de assistência pública. obra do pavilhão central importou em 6.901, 50 centavos.
mandassem dentro das forças orçamentarias da Casa<9\ Em Setenïbro de 1920, gastou-se no material para a recona-
Mas, a 6 de Maio do mesmo ano, já acordada a Mesa truçao do pavimento da coziriha a quantia de 113,69 centa-
com a Comissão Distrital de Assistência, oficiou esta à Cá-
.
vos, e, na colocação de vidros nas janelas do edifício, dis-
mara Municipal, pedindo o resto áa cerca do extinto conven/ penderam-se 25, 30 centavos.
to de Santa Clara, terreno sobre o qual se haviam pronun- Foi, em 'Setembro de 1916, que se fez a montagem da
ciado favoravelmente os funcionários da saúde. A Câmara. luz acetilene no que se gastaram 77 escudos, havendo, mais
reunida no dia 8, deliberou favoravelmente, e nesse mesmo. tarde, necessidade de instalar o gasómetro - 8 .de Agosto
dia o comunicou à Mesa da Misericórdia, perguntando quan- de 1920 - que importou em 38, 25 centavos.
to era preciso. E nesse mesmo dia também o Provedor rés- E água para o (hospital? A 6 de Maio de 1915, a Mesa
pendeu, dizendoque nãoestando ainda inteiramente conhe- pediu autorização à Câmara Municipal para aproveitar a ca'
cido o projecto do edifício e cerca do hospital, e que por- nalizaçao geral desde o sítio que maior comodidade e menos

(y) Actas, 1907-11919, foi. 63. (.io) Corres?. 1894-1923, .foi. 142, 142 v - Corresp. 1884-1929.
<8) Idem, foi. 70. '(ii) li dem, foi. 144 v.
(ç) Idem, foi. 94.
.
(12) Actas, ipoy-igig, foi. 104.
244 245
tirar pela cidade uma subscrição de linho fios (17>. A 16
dispêndio resultasse <13'. Depois, em Agosto de 1916 e em
Abril de 1918, foi comprada a tubagem para o encanamento de Agosto de 1876, o Provedor Dr. José António Franco.
que custou 39i>94 centavos. E mais tarde, a 30 de Outubro num ofício ao 'Governador Civil, garantia não existir na Mi-
de 1916, foi lavrado o contrato com a Companhia Nacional sericórdia um posto m.édico, um banco para curativos, nem
dos Caminhos de Ferro para esta fornecer água para explo- o podia criar por falta de recursos. Não o tinha e nem mês-
ração do Hospital Civil, sendo o preço de 300 réis por cada. mo para acudir às .ocorrênciaspoliciais, se pelo cofre do co'
metro cúbico, e válido por tempo indeterminado, enquanto missariado de polícia lhe não fosse concedida a verba neces-
conviesse aos contratantes (14). sária para esse fim. Também o Provedor se não podia res-
Claro que houve mobilar o hospital, aproveitando em- ponsabilizar pêlos presos doentes por não ter cómodos com a
bora o pobre material do antigo, gastando-se no transporte respectiva segurança<18>. Por isto mesmo, o Compromisso
do velho e na compra do novo esta quantia: 351 escudos. de 1877 obrigava o facultativo da Casa a fazer estes cura-
Na mcrbília do hospital, além de referida despesa, gastaram^ üvos, e o enfermeiro a fazer os primeiros curativos em casos
'se desde 1920 a 1930, 7. 756 escudos, havendo'se compra- repentinos <19).
do: borracha para camas dos doentes, artigos de enfermaria, Só, em 15 de Abril de 1892, por proposta do médico
máquina de escrever, objectos de ferro e cutelaria, máquina Dr. António Gonçalves Braga, se adoptou o uso do algo-
de costura, tabuleiros de madeira, grelha e panos de cozinha. dão fenicado e hidrófilo em substituição dos fios de linho t20)
Também dentro da referida soma se adquiriram guardana' e, em Outubrode 1898,.secomprou uma estantepara os me-
pôs,cadeiras, regadores, baldes, relógio de parede, objectos de dicamentos que custou 16.090 réis. Maca com correias só
cozinha, pedra mármore, estufas, e também se conta a pi n- existiu em Maio de 1988 pelo preço de 75 escudos, faem me-
tura de mobiliário, um lavatório com espelho e camisas para nos do que outra, comprada em Junho de 1930 pelo preço áe
os doentes <15). 787 escudos (21). Que a 31 de Dezembro de 1934 foi compra-
Desde i9'20 a 1930,as despesasde caiaçâo,telhas, caixi- do por 1.335 escudosum carro de curativos e pensos com la-
vatório (Z2).
lhos e grades para as janelas, de cadeiras, de relógio, de col-
choes e peças de mobiliário foi de 6.695 escudos <16). Para o serviço do Banco, o Regulamento Geral, de 4 de
Com a parte central do actual edifício do ihospital tudo Junho de 1932, dedicou quatro artigos. Neles se decreta haver
ficou melhor, não só o serviço de Banco como o serviço de no hospital um serviço permanente para todos os doentes,
cirurgia. Que diferença dos tempos passados! Ai 4 de Janei' necessitados de serviço urgente, o depósito de medicamen'
ro de 1881, a Mesa da Santa Casa incumbiu três irmãos de
(i7) Corresp. 1875-1894, foi. 17.
(18) Idem, vol. 6 v.
1(13) Corres?. '1894-1923, foi. 146 1(19) Compromts. 1877, ,pág. 45.
(20) Actas, 1884, foi. 65.
(14) Actos, 1907-1919, foi. 118 v. (z. i) Corresp. 192,4, foi. . 115.
(15) Corres?. 1884-1929. (22) Conta corr. 1924, foi. 196.
(i 6) Idem.
246 247.
tos e artigos necessários para a boa execução dos serviços. s Santa Casa. Estou em dizer que dificilmentehaverá um hos-
o material cirúrgico indispensável, serviço feito pelo enfer. pitai de província que maior quantidade de.serviços preste
meiro, auxiliado pelo pessoal das enfermarias, excepto quan- do que o de Bragança.
do. pela natureza ou gravidade dos tratamentos, se exija a. O progresso evidentíssimo que nos últimos anos se ob-
presença do médico, sendo absolutamente gratuitos para os serva no nosso hospital e paralelo ao que se observa no sec-
doentes, reconhecidamente pobres <2Z). tor da cirurgia.
Paraque se veja quanto é impressionante o serviço do O primitivo Compromisso obrigava o cirurgião a duas
Banco no hospital da Misericórdia, dá.se aqui a estatístiu visitas diárias aos doentes, com obrigação de indicar para ca-
dasconsultas, curativos, injecções e receitas, desde i de Abril da doente o tratamento a fazer. Era o serviço de cirurgia
de 1930 a 3i de Dezembro de 1942. indispensável para a boa marcha do hospital(24). Evidente
que desta obrigaçãoestavam naturalmente excluídas as San--
consultas in]ecçoes receitas
Anos curativos
tas Casasde pouco movimento como sempre foi a nossa. Mas
1930 659 2. 912 tudo tem a sua medida. Mas a Santa Casa da Misericórdia
i. i8o 6. 444 112
i93i de .Bragança não precisou de ter medida porque o capítulo
1932 1.470 9. 000 1. 190 176 cirurgia foi cousa que só .existiu no mundo dos possíveis.
i933 1.643 10. 021 i.6o5 1.519 A 7 de Fevereiro de 1892, o hospital nada tinha. Foi o
i.68o 11.647. 1.904 i.68o
i934 Dr. António Augusto 'Gonçalves Braga que, nesta data, re'
11. 250 1. 250 2. 112
i935 2. 112 ctíbeu de Paris uma caixa de amputaçoes e recepções que cus-
1936 2.352 10.944 670 2. 352 tou 146.665 réis, um aspirador Dieulafoy que custou 10.800
i937 2.536 14. 189 1.536 2.536 réis, e um forceps Famier pelo preço de 20.400 réis <2S). E
14. 597 i.o59 2.402
1938 2.402 como, no ano de 1893, se comprou uma estante para material
2. 120 13.858 i. i8i 2. 120
cirúrgico por 12.000 réis, pude averiguar que, desde este
i939
1940 2. 147 I5.B58 953 2. 147 ano a 1902, se gastou a quantia de 278. 470 réis.
2.029 12. 174 929 2. 029
i94i A pouco e pouco o progresso cirúrgico instala-se na San'
1942 i.79i 13. 566 1.529 i.79i ta Casa. Em Janeiro de 1906, já adquiriu duas mesas para
operações e uma cantoneira para os instrumentos por 9. 400
24. 121 146. 190 13.806 1.791 réis e se mandou pintar outra mesa e duas estantes por 7.000
réis, por sinal que foi Francisco Joaquim Martins que fome'
Estes algarismos merecem, com toda a justiça, o adjec-
céu gratuitamente a ferragem necessária (26).
tivo de extraordinários porque dizem, a um tempo, da po-
breza da nossa gente e dos serviços grandes prestados pela
(24) Fernando Correia - ab. cit. pág. 546.
1(25) Actas, 1884, foi. 63, 7i v.
(23) Regul. geral de 1932, .pág. X4. (26) Actas, 190.3, foi. 33.
248 249
A primeira operação realizada no hospital da Santa de 1921, pôde tomar as seguintes deliberações: operar gra-
Casa, foi feita pelo iDr. Francisco José Martins Morgado, tuitamente somente os pobres da cidade e seu concelho; que
auxiliado pelo Dr. António da Silva Barbosa, ao jornalei- o clínico opera<lor tinha o direito de cobrar aos doentes pen'
ro das Obras iPúblicas, Pedro Gonçalves, de Macedo de sionistas, dando à Misericórdia uma parte; que o clínico ope'
Cavaleiros, no mês de 'Fevereiro de 1907 (27). Foi o mes- radar seria auxiliado pêlos médicos do hospital, e por ele
mo operador que, no dia 23 do mesmo mês e ano, deu-ao remunerados; e que o dia das operações seria marcado de
hospital um autodave que comprara com a esmola de 30.000 acordo com o director do hospital <33).
réis, dada pelo 'Governador Civil Visconde da Bouça (28) com Estas resoluções indicam evidentemente certo movimen-
um perfurador de ossos 013 gramas de fio de prata que ha- to cirúrgico e capacidade para ele, como é de verificar pela
viam custado 3. 200 réis(29). despesa feita desde Novembro de 1920 a Setembro de 1923,
Depois só vi que, em 1909, se compraram objectos ci- e que foi de 3. 497 escudos.
rúrgicos por 10.400 réis, e que a Mesa, em 4 de Julho de Mesmo assim, a sala de operações, em 5 de Março de
1913' resolveu convidar o clínico do hospital a dizer em re' 1925» tinha muito a desejar. Os médicos reclamavam mate'
latório quais os objectos cirúrgicos que urgia adquirir para rial mais moderno e adquado que, a pouco e pouco, se'foi
se orçamentar a respectiva despesa, e bem assim quais os adquirindo desde este dia até Setembro de 1926, no que a
melhoramentos que a higiene exigia no hospital(29). Efec- Santa Casa dispendeu a quantia de 18.000 escudos (34). Por'
tivãmente desde 1914 a 1916 a despesa com objectos cirúr- que o 'capítulo perfeição não tem fim, os médicos quiseram
gicos '}á'foi de 514.690 réis(30). mais alguns ferros que consideravam de grande necessidade,
Já no hospital novo, a Mesa da Santa Casa, a 5 de Ju- de modo que desde este mês e ano até 1932 a despesa, em
lho de 1919, podia falar de alto, e deliberar que os seus ins- material cirúrgico,foi de 9.996 escudos <35) e o Regulamento
trumentos cirúrgicos só poderiam ser emprestados desde que Geral de 1932 estabeleceu doutrina sobre o que ele chama.
o pedido fosse feito por escrito com a declaração de ser o pomposamente arsenal cirúrgico. Assim é que, em três arti-
interessado irmão da Misericórdia (31) e podia afoutamente gos, decreta que o material deve ser guardado numa sala
pedir ao Dr. Martins Morgado o favor de operar um indi- tíhamada «Arsenal Cirúrgico», entregue à guarda, arruma-
gente, o que fez gratuitamente (32). cão e conservação do Director Clínico do Hospital, adquirin'
Pode dizer-se que nesta data se iniciou o movimento ci- do-se dentro dos limites da verba orçamental, sempre enco-
rúrgicono hospital, e de tal modo que a Mesa, a 17 de Abril mendadas por ele, ouvidos os directores das enfermarias e a
Mesa da Santa Casa <36'.

(27) Corresp. 1884-1929.


(28) Actas, 1903, foi. 45. (33). Actas, 1919-1932, foi. 17.
(29)
.
Actas, 1907-1919, foi. 85. '(34) Idem, foi. 59.
1(30) Idem, foi. 116.
.
(34) Idem, foi. 59.
1(31) Actas, igoy-igiç, foi. 140 v
.
03.5) Idem, foi. 64 v.
(32) Idem, foi. 145 v. (36) Regul. geral de. 1932,. foi. 33.
250 251
É respeitável a despesa com o material de cirurgia dês- diu ao arquitecto uma redução do projecto onde somente
de 31 de Dezembro de 1932 a 1940. Ela foi de 28.914 es- fossem aplicados 160.000 escudos (38). Nestas condições, o
cudos. No entanto, em 1943, compraram-se cor 3.400 escu- projecto foi feito, mas esbarrou com a reprovaçãodo Conse-
dos uma cama articulada e um aparelho articular, e mais lho Superior de Higiene.
472 escudos para material, mais umas luvas em 1944 por 1268 A ly de Maio de 1943, a Mesa resolveu ponderar ao
escudos. De maneira que, hoje, o hospital da nossa Miseri' Director Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais que
córdia já se pode ufanar de possuir, entre outras cousas, es- tendo-se modificado a situação hospitalar com a cedênciada
tes objectos: um termocautério (1925); um autoclave com EscolaAdaes Bermudes, já se não interessava pelo pavilhão
duas caixas (1926); um .oftalmoscópio, um aparelho de Ri- de cirurgiamas sim pela vindade um técnico a título gratuito
card, um aparelho Dieulafoy e material cirúrgico de partos para estudar in loco o edifício cedido, e possivelmente ela-
(1927); uma maca rodada, um aparelho para etherisaçao de borar um novo projecto dum pavilhão de cirurgia (39).
Omberdane (193°); um oscilómetro Paclion, um oxigenador Na perspectiva de grandes despesas, a Mesa, em 28 de
com dois 'balões de 20 litros (1933) e algum material cirúr- Maio, pediu ao Governador Civil promovesse a autorização
gko dos olhos; um aparelho de diatermia de ondas curtas paravender, em hastapública,diversos prédios,dispersos pe-
(1934); um aparelho iSolux-infra-vermelhos (1937); um los concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Vimioso,
aparelho para fracturas da clavícula e aparelhagem de frac- mesmo porque o rendimento de alguns era bastante escasso,
turas, e um aparelhooftalmoscópioeléctrico (1942). em relação ao 'valor matricial, e nulo o de outros. A autoriza-
Em face da progressiva ascensão do material cirúrgico, cão veio no Diário do Governo n.° 165, de 17 de Julho se-
era de incontestável evidência uma sala de operações, forra- guinte mas, com a condição do produto da venda ser conver-
-la decorticite no que sedispendeua.somade 2.000 escudos, tido em títulos do Estado, averbadosà Santa Casa.Nãoagra'
em 1926, dotá-la de lavatório com espelho que custou 980 dou à Mesa esta condição. E por isso, a 18 de Novembro,
escudos, forrá-la de papel, pôr oleados nas mesas e ordenar pediu ao 'GovernadorCivil que o rendimento das proprieda-
uma mesa para a anestesia, no que se gastou a quantia de dêsjá vendidaspudesseser aplicadoà construçãodo pavilhão
557 escudos (37). de. cirurgia e ao apetrechamento do edifício Adaes Bermudes.
A Mesa da Santa Casa de que era Provedor o Capitão Uma simples pergunta: quantas operações se fizeram
José Luís da Cruz, entusiasmada com os progressos cirúrgi- desde 1939 a 28 de Junho de 1945? Nada menos que 655,
cos do hospital, a 25 de Maio de 1941, apresentou o ante- sendo o ano de 1944 aquele em que mais se fizeram- 174.
'projecto do arquitecto Fernandes de Sá para se ampliar o
actual 'hospital com um pavithâo de cirurgia. Mas o projecto
exigiauma despesade 350contos, motivo porque a Mesape-
(38) Actas, n. 16, foi. 185 v, x85.
(37) C. Corr. 19214, foi. 43, 125. (39) Idem, 17, foi. 19.
CAPÍTULO XIX

Mais um pavilhão
Passos para mais um pavilhão - Laboratório de radiologia
- Novc^ construção - O desaterro - O lactário e seus benefícios
Aparelho de diatermia - Dispensário de higiene social _ Ce-
dência da escola «Adaes Bermudes» - Modificação das insta-
lagoes - Assistência de Religiosas.

O aparecimento, em Fevereiro de 1918, em Vinhais, de


um caso de tifo exantemático, de em Setembro do mesmo
ano, grassar uma epidemia no hospital militar, e, o apareci-
mento em Bragança de outro caso de tifo, em Abril de 1919,
alarmaram as autoridades . e a cidade <1> a ponto da Comissão
Distrital da Assistência entregar ao Provedor Olímpio Dias
mil escudos, destinado à ajuda de mais um pavirhao no no'
vo hospital <2>.
Dali a. um ano, em Junho de 1920, a ideia do segundo
pavilhão estava em marcha ... lenta porque, em Abril de
1921, o Provedordirigia-seao Presidente da ComissãoDistri-
tal da Assistência, nestes termos: <tNâotendo-o hospital Civil
a suficiente capacidade para receber os doentes pobres que
carecem de internato, sendo já preciso, por vezes, colocar ca-
mas suplementares na enfermaria dos homens, e tendo esta
Misericórdia, como administrador do referido hospital, o de-
(i) Corres?. 1884-1929.
(2) Actas, 1907-1919, foi. 138.
254 255
ver moral de admitir maior número de doentes, em virtude , inil escudos(7). A 8 de Agosto imediato,foi resolvidaa aqui-
do subsídio que lhe foi concedido nos termos da lei n.° 1017 siçao de um, na Casa Instituto Pasteur, de Lisboa, por 3.400
de6 deAgosto de 19^0, venho rogara V. Ex.a sedigne pro- escudos(8). A 9 de Outubro, já com o aparelho, determinou-
mover, com a possível brevidade, a construção do segunda ^se o preço de io escudos por sessãode tratamento, e o de 50
pavilhão, a fim de suprir, como é justo, aquek deficiên- por sériesde 6 sessões, sendo gratuito para os pobres (9).
cia» (3). Mas a 31 de Outubro de 1935, foi necessário gastar
A planta do novo pavilhão foi confiada ao Eng. Verís- 3.55o escudos na reparação da lâmpada do aparelho (10) e
simo de Sá Correia, com quem a Mesa muito insistiu em gastar na compra do aparelho «.Sollux» a quantia de 880 es-
Agosto de 1926<4>. Ou porque a planta não agradasse ou cudos al). Diga-se que, desde 1933 a 1942 inclusive, se fize-
porque o Eng. Veríssimo a não tivesse feito, o certo é que^ a-am 4.566 aplicaçõesde raios ultra-violetas, correspondentes
só a 28 de Dezembro de 1928, foram apresentados â Mesa. a. médiaanual de 456 aplicações.
o prcqecto de ampliação do edifício do hospital, o orçamento^ Relativamente ao lafaoratório de radiologia, a que acima
o caderno de encargos, a memória descritiva, tudo obra do se fez referência, a Mesa da Santa Casa de que era Provedor
arquitecto Cotineli Teimo, a pedido do nosso conterrãneo- o Capitão Cruz, depois de ouvir o corpo clínico que se ma-
Eng. JoséAbreu. Tudo de graça, a não ser mil escudos para iiifestou favoravelmente, resolveu aceitar a instalação de um
gratificai- os auxiliares. V.erificou-se então que as obras im- gabinete de radiologia, constante de um aparelho gerador de
portariam em 600 mil escudos, quantia superior às possihi- Raios X com a potência de KW e 100 M h, mesa de exame,
Íidades da Misericórdia.No entanto resolveu-se fazer o pôs- permitindo radioscopias e radiografias, quer em pé quer dei-
sível com a quantia de 200 mil escudos <5). tado, e Pàtter Buchey para radiografias até om,3 por om,4o.
Entretanto, a CâmaraMunicipal, a 7 de Março de 1927^ Além disto, a Câmara Municipal daria o auxílio anual de
participaà Mesa<kMisericórdiaa resoluçãotornada a 21 d&: 8.400 escudos, aprovado na sessão de io de Maio de 1937.
Fevereiro passado, de promover uma comissão para levar a Os concorrentes deveriam provar, por documento passado
efeito a construção do hospital distrital e a instalação no mês- por um professor da especialidade, que possuíam os cotíhe-
mo do raio X, e de um pequeno laboratório, e, com aplauso cimentas suficientes para o desempenho do lugar. Por causa
do GovernadorCivil, convida o Provedor a dizer se concor- <leste melhoramento foi necessário aumentar o quadro do
da e a trabalhar unidamente <6>. pessoal: um médico radiologista com a remuneração atribuí'
O conselho clínico, a 7 de Maio de 1933. sugeriu a ideia áa pela Câmara, e um médico encarregado de análises clíni-
de se comprar um aparelho de Raios Ultra-violetas. A Mesa cãs sem vencimento, sendo preciso a abertura de concurso.
aprovou e a Junta Geral ao Distrito contribuiu logo com Ç-, .
(y) Actas, n. 16, foi. 6.
(3) . Corresp. 1894^1923, foi. 163 v (8) idem, foi. 8.
<4) Actos, 1919^1932, foi. 64. '(9) Idem, foi. 32.
,
(5) Idem, foi. 77 v.
.
(io) C. Corr. 1935, foi. 8.
,
(6) Corresp. 1884-1929. (i i) Idem, foi. 40.
256 257
Estaproposta do aumento do quadro foi aprovada na assem' demandou o levantamento da antiga e novos materiais para
bleia geral de 13 de Junho de 1937. Aberto concurso, foi as obras novas, no que a Santa Casa dispendeu a soma de
nomeado médico radiologista o Dr. Manuel António Pires <12).» 14.400 escudos <19).
Depois pagou'se, a 30 de .Setembro de 1937, a monta- Depois fez-se o desaterro junto do hospital que impor-
gem de um cabo eléctrico por 3.998 escudos t13' e a li de tou em 3.000 escudos(20) a adaptação das enfermarias a
Dezembro seguinte, lavrou-se a escritura entre a Câmara quartos particularesno montantede 8.600 escudos<21)as pin'
Municipal e a Santa Casa, na qual aquela se comprometeu turas de janelas, dos pavilhõese da mobília que importaram
a dar anualmente ao médico radiologista a quantia de 8.40& em 10.500 escudos (22) e 17.630 escudos gastos na caiaçâo, nas
escudos <14) tornando posse a 7 de Março de 1938 (15>. estantes, nas prateleiras, nos vidros, nos tapetes, nas louças,
Regressemos à construção do novo pavilhão. A 4 de Ju- na banheira e em tanta cousa indispensável num prédio co-
nho de 1929, verificou a Mesa que, para a simples constru- mo o hospital, como são quadros, utensílios de cozinha, me-
cão de paredes, telhado, soalhos, caixilharia e exgotos, sem sãs, 'oleados, mármores, louças e tíhapas de ferro esmalta-
raboco interno, sem portas nem janelas, sem divisões,pintu- das (23). Só no transporte de materiais se fez a despesa de
rãs e outras obras necessárias, era precisa a quantia de 290 i. 5oo escudos <24).
mil escudos, pelo que resolveu adiar as obras para melhor A instalação da luz eléctrica, terminada em '21 de Feve'
oportunidade, visto só ter para elas 146.000 escudos<16'.Mas. reiro de 1931, custou 2.904 escudos, ficando a pagar 50%
depois, a 30 de Junho, reconsiderou. Deliberou unânime- sobre qualquer tabela a. vigorar para os outros clientes (25).
mente principiar depressa as obras, sem, no entanto, preju- A inauguração dos novos pavilhões fez-se no dia 28 de
dicar o andamento do hospital. O Director Geral da Assis- Maio de 1931, ao mesmo tempo que se inauguravao Lactá-
tência autorizou verbalmente todas as 0'bras necessárias, quer rio e se iniciavam as obras da CasaMortuáriapor haver ver-
por administração directa, quer por arrematação <17>. ba, destinada para .elas <26).
No dia 31 de Agosto de 1929, António loaquim da O lactário foi construído na antiga casa da guarda, na
Fonseca arrematou a obra por 244. 200 escudos <18) que f o' Rua de Fora de Portas, cuja construção - mão de obra,
ram pagosemprestaçõesatéJunhode 1931, com mais34.411 materiais, transportes, moibília e utensílios -. custou 53.641
escudos de modificações fora do contrato. Foi neste ano que. escudos, ao cofre do governo civil que a i de Janeiro o en-
se terminou e se pagou a obra da canalizaçãoda água, que
.

(iç) ídem, foi. 71 v - C. Corr. 1934, foi. 101, 120, i22,


12-3, i30.
(ia) Actas, n. 16, foi. 81. .

(20) Ç. Corr 1924, foi. 119, i2q, 122, 141.


(i3) C. Corr. 1935. íol. 54. (21) Idem, foi. 120, 122, 124, i2'6.
.
(14) Actas, n. 16, foi. 83. (22) Idem foi. i2'l, 123, i24, izó, 132.
(15) Idem, foi. 106. (23) Idem, foi, 123, 124, 126, izg, 129, 130, 132, 143.
(i6) Actas, 1919-1932, foi. 79 y (24) Idem, foi. 144.
(17) Idem, foi. 81. (25) Idem foi. 12.4 - Actas, n. 16, foi. i v.
(i8) Idem, foi. 84. (26) Actas, 1919-1932, foi. 114 v,
259
258
Crianças 565
tregouà SantaCasadaMisericórdia,por escriturade i de Dias de lactaçao 94-o8i
Janeiro de 1931, com as seguintes condições: primeira - o Biberes distnbuídos . . 128.561
governo civil'continuará a mantê.lo a expensasdo seu co- Leite fornecido 43-68o litros
fae;segunda- a directora dolactário seráa médica.D^.Lau- Frasco.s de leite disrribuídos 92.656
Ïa~Domíngues LopesTorres que só poderá ser demitida nos Leite em pó
termos do Regulamento disciplinar dos funcionários civis, 290.800 quilos
Consultas 5. i7.i
cabendo-Íhe o direito de recurso para o tribunal competente;
terceira - a conservação e reparaçãodo edifício ficama car> Receitas médicas 625
Fórmulas de medicamentos ao domicílio 1. 240
godaMisericórdia; e quarta - logoqueo edifício deixe^ Visitas ao domicílio 847
ser destinado a lactário ou estabelecimento congénere que o
.

Enxovais 25
substitua com vantagem, será entregue de plena posse á
Peças de vestuário - 3"
Câmara'Municipalquesóo poderáutilizarparafimdaassis.
tência às classes pobres. A directora passou a vencer mensal-
mente 150 escudos,auxiliadapor umaempregadacomo or. Diga-se que, a 25 de Maio de 1935, se inaugurou no
denado mensal de 90 escudos<27>. lactário um posto de protecçãoà infânciaque teve, sobretu-
~0 prédiodolactário.é lindoe modestonaslinhasa^qui- do, a 22 de Maio do ano seguinte, a distribuição de enxo-
tectónicas do século XVIIIIe foi solidamente construído. Dês. vais pelas crianças pobres e pequenos pacotes de bolacha, tu-
de a sua fundação apenas se fez uma chaminé e se^caiou e do confeccionado pelas senhoras(29).
Duas palavras sobre o importante melhoramento' da Ca.-
pmtou"umaveznoquesegastaram4 milescudosW.^ sá Mortuária.
Para se avaliar da sua despesa, necessário é consignar
O Regulamento 'Geral de 1932 diz que se destina ao de-
^qui aTgarismos que digam, a um tempo,
d^re"ita^e d0^ pósito dos cadáveres, durante as 24 horas que a lei prescre-
b^nefíaos distribuídos pelas crianças pobres. Desde 1931 até
vê, e àsanálisese autópsiasque os clínicos entenderem dever
;937-^clusive, pudeverqueo cofredo governo^ivil^on^ fazer. Depois da verificaçãodo clínico respectivo, o cadáver
tAuiu com 40.400 escudos; a assistência até 1938deu 28^
es'cudos;a CâmaraMunicipal entrou com 14.978 escudos, a é removido para lá, fazendo-se com isso uma obra de carida-
Junta Geral do Distrito com 10.661,70 centavos; e vários de aos outros doentes (30). Custou a quantia de 31. 520 escu-
contribuintes deram 6.747 escudos. _ . . ., . dos, tendo contribuído a Câmara Municipal com 2.500 (il)
"Interessantíssimo o rol de benefícios feitos pelo l; e na compostura do altar e dois quadros a quantia de 148 t32).
desde a sua inauguração atéao fim do ano de 1942. Foi inaugurada no dia 28 de Maio de 1932, com forno
(29) Actas, n. 16, foi. ,44 v, 66.
"(^Idenr, foi. ii5 - Actas, n. 16. foi. 14 v - Actas, n. (30)
(31)
Reg. Geral de. 1932, pág. 35, 3.6.
C. Corr. 1924, foi. 144 v, 135.
17, fol.^3'5. (32) Idem, foi. 145.
(z8) Actos, 17, íol. 39-
260 261
crematório, estufa de desinfecção e palheiro, com assistência A Mesa da Santa Casa entendeu adquirir um aparelho
do povo que manifestou o seu agrado (33). de Diatermia. Adquirido em Junho de 1934 por 13.337,50
Os melhoramentos no hospital continuam. Em Feverei- centavos, resolveu-se ser gratuito o tratamento para os po-
ro de 1932 gastam-se nas calhas do telhado 2. 109 escu- fares, e o preço de io escudos por cada sessãoou de 50 por
dos <34). Em Abril seguinte, colocam-se os mastros para a séries de 6 sessões<4D. pude averiguar que desde a aquisi-
bandeira, no que se dlspenderam 151, e d&sde 30 de No. cão do aparelho atéao fim do ano de 1942, se fizeram 1526
sessões.
vembro de 1932 a janeiro de 1939-em reparações, mate-
riais, calaçâo,tintas, vedações de madeira, reparações na co- Outro melhoramento existe dentro do recinto do hospi-
zintia, feitura do quarto n.° 2, salários e obras de conserva- tal da Santa Casa: o dispensário de higiene social. Permitiu
cão - a. despesa foi de 10.672 escudos (35>. Em móveis, de a Mesa, em sessão de '24 de Maio de 1935, que o dispensa-
1932 a 1938, gastaram-se quase 6 mil escudos <36) e ein pm- rio. dirigido pelo Dr. Francisco Inácio Teixeira Moz funcio-
taras, de 1933 a 1939, a despesa foi de 8.370 escudos <37). nasse no 'hospital até conseguir instalação em casa própria.
As enfermarias do hospital estão divididas em duas sec- Foi inaugurado no dia seguinte. Depois com autorização da
coes completamente isoladas uma da outra: a primeira sec- Mesa, a 15 de Maio de 1938, o dispensário foi construído
cão destinada aos doentes do sexo masculino, e a segunda dentro da áreada cercado hospital. Neste dispensaria foram
secção aos doentes do sexo 'feminino. Os serviços técnicos tratados 115 homens, 169 mulheres, deram-se 253 consultas,
áe cada. uma das secções estão a cargo de um clínico com a tendo. se feito 5.489 tratamentos. Isto desde a fundação ao
designação de director da enfermaria de homens ou de mu- fim do ano de 1940<42>.
Iheres <38>. No hospital continuam os melhoramentos. A 4 de Já-
Construído o hospital, sentiu-se, a 5 de Fevereiro de neiro de 1939, resolveu a Mesa da Santa Casa que, nas en-
I933» a necessidade de construir o muro de vedação, e ar- fermarias, ã semelhança das escolas, se colocassem os Cru'
borizar a cerca. Debalde se tentou a comparticipaçao do Es- cifíxos, cerimónia que se realizou a 15 de Maio de 1939, co-
tado. No muro gastaram'se 14. 717 escudos (39> e na arbori- locando também as imagens de São Josée Nossa .Senhora de
zaçao fez-se a despesa de 1. 100 escudos (40). Fátima W. A seguir, , é o médico Dr. António da Circunci.
são Pires que faz à Mesa a oferta de consultas e tratamento
<33) ldem i9i9-i932', foL I_35-
<34') C. Corr. 1924, foi. 158, 163.
da clínica de patologia ocular, numa secção independente,
<35) Idem, foi. '154. 163,' 190. 192. 197 - c- corr- ^35. ofertaqueteveo resultadodedaremtrêsanos- 1942-1944
foi. 18, 29, 50, 57» 92< 96- - 4-960 consultas W\ Depois, em Maio de 1944, arrema-
(36) C. Corr. 1924. foi. 156, 145, 170, 179, 182, .i»4, 194»
.

IQÓ- C. Corr. 1932 foi. 8 v - C. Corr. 1936^ foi. 32.


(37)'A-ctes, . n,.' 16, foi. 8, 8 v - C. Corr. 1924, foi. 173.
i95» Ï97 - c- corr- I935> foL I.5*85» I22' (4i) Actas, n.^ 16. foi. 22 v, 32 - C. Corr. 1924, foi. 184.
(38) Reg. Geral de_ 1932, pág^. 16.
.
.
(42) Idem, foi. 44, ii2 v.
,
(39) Actos,. .n. 16, foL'3 v. 88 v - C. Corr. 1935, foi. 54, 39.
.

(43) Idem, foi. 126 v, 142.


(44) Idem, foi. 180.
(4o) C. Corr. 1924, fo.l.' 158 - C. Corr. 1935, foi. 133.
262 263i

tou-se nova caiaçao e pintura do hospital pela quantia de soes diáriasdos doentes pensionistas(49>. Desde logo deiíbe-
6.5oo escudos<45>e depoisainda,a 3 de Dezembro de 1945» rou pôr em arrematação, por empreitada, a obra de pintura
a resolução .de fazer um tanque para lavar a roupa, compro-- e caiaçâodo edifício da escola <50) que se fez, em 19 de De-
metendo-se a Câmara a fornecer a água gratuitamente <46)» zemfaro de 1943, pela quantia de 4.500 escudos<51>.
Em Abril de 1943, houve grande alegria na Mesa da A io de Janeiro de 1944, a Mesa da Santa Casa apre-
Santa Casa. A Direcção Geral da Fazenda Pública comuni/ ciou a necessidade de se modificarem as instalações hospita-
cou, com a data de 7 de Abril, ao Governador Civil, que a.
,
lares, em virtude de se encontrarem em via de conclusão as
escola «Adâes Bermudes» do ensino primário fora cedida para. novas dependênciasno edifício «Adae^ Bermudes», resolven-
a Misericórdia. A escritura ou auto da cessão foi assinada a <lo'se fazer nestes serviços as seguintes transformações: en-
19de Abril de 1943 para ampliaçãodassuasinstalaçõesihos- fermaria de medicina a instalar na enfermaria dos homens,
pitakres, dispondo'se a Mesa a servir-se do prédio para ma- destinada a doentes pobres; enfermaria demedicina parapen-
temidade, para o que gastou avultadas quantias na adapta- sionistas de terceira classe, em metade da enfermaria das mu-
cão, motivo porque, a 4 de Dezembro seguinte, participou ao ilheres; enfermaria de cirurgia na outra metade; enfennaria
Director Geral da Assistência a sua próxima inauguração, ao de clínica geral para mulheres e crianças no pavilhão da ala
mesmo tempo que pediu um donativo, destinado a fazer fa' esquerda, do edifício; enfermaria para parturientes na meta-
ce aos encargos, pois precisavam de um pouco mais de 35. 000 de do pavilhão da ala direita do edifício; enfermaria de doen-
escudos <47). Este pedido teve bom .despacho porque, a 2 de cãs venéreas na outra metade desse pavilhão. Claro que so-
Fevereiro de 1944, o Subsecretário da Assistência autorizou. bre estas deliberações resolveu-se consultar o corpo clíni-
CO(52>.
a Misericórdia a dispender a importância de 50. 000 escudos,
nas obras da adaptação da escola «Adaes Bermudes», impor- Reunidos o corpo clínico . e a Mesa, a 12 de Abril de
tância a retirar do produto de propriedades, autorizada peli i944» £cou definitivamente combinado o seguinte: o pavi-
portaria de 9 <le Julho de 1943 (48). Ihao da ala esquerda destinado para mulheres; o da direita,
Estando quase concluídas as obras de adaptação,do edi- metade para pensionistas e crianças, e a outra metade para
fício escolar, a Mesa pensou na sua utilização. Por isso resol' partunentes; o quarto contíguo à cozinha para o trabalho
véu: rever o quadro dos médicos e do pessoal, tendo em de partos, e o da entrada para toleradas. Os quartos do pri-
conta as necessidades prováveis do serviço; escolher artigos. meiro andar foram destinados para doentes pensionistas (M).
de mobília e material indispensável para o funcionamento- Não é inútil saber-se a quanto montou a despesa feita
de todos os serviços hospitalares; e alterar os preços das pen- com a adaptação da escola «Aáâes Bermudes». Por isso dei-
(49) Idem, foi. 48.
(50) Idem, foi. 27 v.
(45) Actas, 17, foi. 46, 46 v. (511) Idem, foi. 39.
<46) Idem, foi. 78 v. (52) Idem, foi. 41.
.
(47) Idem, foi. 27 v. (53) Idem, foi. 44 v.
(48) Idem, foi. 47 v.
264 265
xam-se aqui estes algarismos: com a luz, 3.927,25 centavos; pré um benefício extraordinário que só Deus pode calcular
com o fornecimento de móveis, pintura e material fornecido» e recompensar.
30.326, 65 centavos; com obras de reparação, 4.602, 25 centa- Já. em 29 de Junho de
^Ji ^, a Mesa de que era Prove-
vos; com mão de obra em Agosto, 2.926, 50 centavos; com dor o Dr. Manuel da TrinSade Gonçalves Miranda, tinha
as janelas, 4.500 escudos; com o fio eléctrico, 2.548 escudos; pensado muito seriamente em religiosas para o hospital. Deu
com mdbiliário, 3.662 escudos; e com instalação de luz eléc' passos 'junto das irmãs Franciscanas Hospitaleiras Portugue-
trica, 5. 20'2 escudos. sãs que a 9 de Agosto imediato, responderam afirmativa-
É preciso dlzer-se que a enfermagem do hospital está mente, logo que tivessem pessoal<54>. Mais feliz foi a Mesa
entregue a religiosas, velha aspiração da Santa Casa que só de que era Provedor o Capitão JoséLuís Ferreira que as con'
muito dificilmente as pôde conseguir, e por duas razoes. A seguiu. Foi depois o Provedor , Dr. Luís António Rodrigues
primeira é que será difícil encontrar um 'hospital no país que que as recebeu, em Abril de 1945, a fim de tornarem conta
não tenha, no alto do rol das suas maiores aspirações, con- da administração e enfermagem do hospital, resolvendo^se
seguir religiosaspara o serviço de enfermagem; e a segunda- que fossem provisoriamente instaladas em dois quartos par-
é que é muito difícil obtê-las pela sua escassez. Portuguesas ticulares do pavilhão «Adaes Bermudes» até que fossem fei-
estão agorano início das suasfundações,e as poucas religio' tas as obras necessárias à sua definitiva instalação (55>.
sãs que anualmente saem dos novkiados e casas de forma- Para a instalação das Religiosas foram adjudicadas as
cão, são tão poucas que lhes é impossível atender pedidos obras pela quantia de 5.500 escudos. Na antiga casa do en-
de ihospitais mais centrais e de maior categoria ao que um fermeiro, foram demolidos o lar e a chaminé, transformaram
pobre hospital de província afastada, como é o de Bragança» a antiga cozinha em sala de jantar, fazendo-lhe uma taipa
Resta para a maioria dos nossos hospitais o recurso ao pés- com forro de pinho, de forma a evitar que da escada se veja
soai congreganista estrangeiro. E aqui a dificuldade, se não o que se passa nesse compartimento (56>. A 30 de Junho, foi
é maior, é igual. Além de terem de atender às necessidades inaugurada a capela com a assistência das autoridades ecle-
nacionais, têm de resistir aos convites que lhes chegam .de fo- siásticas e civis <57), ficando, desta maneira, realizada a gran-
dos os pontos -do mundo, sobretudo da América onde é axio- de aspiração de muitos anos, sendo o nosso hospital mais fe-
mático não abrir hospitais, sem primeiramente contar com a liz do que muitos outros.
assistência das religiosas, hoje estrangeiras e amanha nado-
nais à medida que vão .surgindo entre nós as vocações pa-
ra a. mesma congregação. De sorte que, sobre ser uma bênção
de Deus a sua assistência, é um favor de tal ordem que não
há agradecimento suficiente. Por mais senões que possa ter <54). Corresp. 1884-1929.
uma congregação religiosa ao serviço de um hospital, é sem- <55) Actos, 17, foi. 68.
(56) liem. foi. 68 v.
(57) Idem, foi. 72.
CAPÍTULO XX

Sugestões finais
Assistência aos pobres e doentes a domicílio - O que falta
à Santa Casa - A rouparia e albergue dos pobres - O jantar
aos presos da cadeia - Procissão do Divino Senhor dos Passos e
o Enterro do Senhor - O campainha.

Se limitamos a Santa Casa da Misericórdia a um hospi-


tal, temos de corifessar rasgados elogios a todos que desde
1914 têm lá empregado a sua actividade. Com poucos ou
muitos recursos, com mais ou menos iniciativa ou com êxito
maior ou menor, é incontestável que todas as Mesas e todas
as Comissões se têm interessado e trabalhado. A elas se deve
a substituição de um hospital, absolutamente incapaz, por
outro que todos conhecem e para o qual todos os habitantes
da cidade e do concelho têm concorrido ou na medida das
suas posses ou dentro da órbita dos seus desejos. Se o nosso
hospital não e a última palavra no género . também se não
pode dizer que seja a primeira. ,Se ele não pode receber to-
dos os pobres que necessitam de hospitalização, recebe, em
todo o caso, incomparàvelmente mais do que recebeu nou-
tros tempos. A servir os doentes, tem um corpo clínico nu-
meroso e dedicado;a servir os pobres externos, tem um ser'
viço de Banco que é impressionante; para trabalhos operato-
nos, tem um instrumental cirúrgico já de algum apreço; pa-
ra proveito da infânciapobre, tem a. assistênciade um lactá-
268 269,
rio; e para enfermagem cuidadosa, consciente, e apurada tem tuiçao da Santa Casa, com um programa vastíssimo, perfei-
as Religiosas que, por amor. de Deus, se consagram ao alívio tíssimo e nofailíssimo.
moral e físico das dores da humanidade. Ora o programa da Santa Casa não é só um hospital
Tudo isto está certo, certíssimo. O nosso hospital é um modelo. Tem outros fins que é necessário recordar porque
documento honrosíssimo para a generosidade bragançana. muito se têm esquecido. Ele é dar de comer a quem tem
No entanto, faz-se aqui uma pergunta: está no hospital fome, socorrendo a pobreza no seu domicílio, na doença, na
o resumo das obras que a .Santa Casa da Misericórdia tem invalidez e na falta de trabalho; ele é vestir os que não têm
obrigação de cumprir? Ou, por outras palavras, foi somente uma roupa para se cobrir ou dar um agasalho para resistir
para haver um 'hospital que Dona Leonor fundou a Santa Ca- ao frio; ele lê dar lume, água, caldo e abrigo aos pobres vian'
sá? Hospitais e muitos existiram antes desta admirável e ge' dantes que passam; ele é visitar doentes e presos e áar'Ihes
nial iniciativa. Em Bragança., antes da fundação da Miseri' a consolação de um pouco de interesse; ele é estabelecer a
córdia, houve três. Que o actual seja incomparàvelmente, in- ventura da paz entre os desavindos; ele é sufragar as almas
finitamente melhor do que os outros, nem se afirma. Mas, dos irmãos e dos pobres que não têm por eles a caridade de
nem por isso, deixa de ser hospital. uma prece; ele é acompanhar até à sepultura os irmãos e os
A Santa Casa da Misericórdia, tal qual a fundou para que o não puderam ser; e ele é dar agasalho às viúvas po-
todo o sempre a santa Rainha Dona Leonor, é a fusão de to' bres, e semear por todos a palavra de Deus pela pregaçãoque
das as instituições de caridade, por isso nos dizemos, e com é obra de Misericórdia e das mais importantes.
toda a razão, que ela é nossa, exclusivamente nossa, e que Por aqui se vê que a nossa Santa Casa da Misericórdia
nenhum outro país a idealizou e realizou como nós. Dentro está longe de ser uma Santa Casa. Mas é preciso que o seja
de nós e fora do continente. Tem o Brasil santas casas, es- pela variedade de bens que pode distribuir, pelo imperativo
palhadas pelo seu vastíssimo território? Fomos nós que as do seu Compromisso, e mesmo porque ninguém tem inte-
fundámos, ou fomos nós, com o nosso exemplo, que levámos resse em contrário. Há simplesmente uma ideia errada, ou
os brasileiros a fundá-las. Há pela África e pela Índia santas melhor entusiasmo .pela parte em prejuízo de todo, ou me-
casas da misericórdia? Decerto. Por toda a parte onde se er' Ihor ainda adiamento na realização de obras de misericórdia.
gueu a bandeira portuguesa, surgiram, na medida do possí/ Permita-se-me que eu espevite a memória aos leitores
vel, estas instituições que são a honra e a glória do cristia- e que proporiha à boa vontade dos bragançanos alguns al'
vitres.
níssimo coração de Portugal. Na própria Olivença, dentro
dos limites de (Espanha, a Santa Casa da Misericórdia está O primeiro é a reorganização da Irmandade de maneira
a gritar pelo domínio e soberania de Portugal, como a coisa a sair deste estado provisório que já dura, há 18 anos: co-
roubadaclama e bradapelo seu verdadeiro senhor. Prova ad- missões administrativas que efectivamente têm trabalhado
mirável de que só o nosso país possui a cnstiantssima insti- muito e bem, mas em desacordo com o espírito e a letra
dos seus compromissos que ordenam a eleição anual da Me-
270 271
sá, escolhida entre os irmãos. Da Mesa e de todos- os seus soai. Quero crerqueo pensamento do autor doRegulamento
empregados porque todos, desde o servente ao enfermeiro, Geral de 1932 fosse o de isentar os médicos de eventuais
desde o enfermeiro ao médico, e desde o sacristão ao capelao, aborrecimentos; mas é um facto que esta medida, sobre ser
devem fazer com a Santa Casa contratos anuais, contra o espírito da Santa Casa e contra a tradição secular,
Segundo o espírito e a letra, expressa e positiva dos briga com o espírito de todos os Compromissos.
Compromissos, nãohána Santa Casa exercícios vitalícios de Haverá decerto maneira de libertar os médicos-de pôs-.
empregos. Todos os contratos são de duração anual, se bem siveis e injustas contrariedades. A assembleia gei-al da Innan-
que podem ser renovados anualmente. Contra o Compro- dade foi, em todos os tempos, o recurso dos que se senti-
missa de 1498 que só foi publicado, após 18 anos de ex- ram lesados nos seus direitos. iPoraqui a justiça é mais rápi-
periência, pelo Rei Dom Manuel, contra a nova edição do da, mais breve, mais cómoda, e mais barata.
Compromisso de 1618, novamente reeditado em 1704, con' Reorganizar a Irmandade é o interesse do Subsecretaria-
tra o Compromisso de 1856, e contra ainda o Compromisso do da Assistência, de resto já manifestado à nossa Santa Ca-
de 1877, surgiu o Regulamento Geral de 1932, feito e sá. Reorganizar a Irmandade para, eleita a Mesa, se entrar
pulhlkado pelo Dr. Fernandes Torres que, a um tempo, era no regime da legal normalidade.
presidente da comissão administrativa e director clínico do A Santa Casa fundou-se, 'há 430 anos,' para ps pobres.
hospital, que considera funcionários públicos os médicos do Os pobres, em todas as modalidades da sua miséria, são a
hospital, sugeitos aos mesmos direitos dos funcionários do razão de ser da Misericórdia. A própria palavra o diz -
Estado, com recurso para tribunal superior. De sorte que se miseri córdia-; coração ao serviço dos miseráveis. Ora há po<
dá este absurdo: enquanto que a Mesa é de anual duração, o bres que em sua casa não têm que comer. A finalidade dd
médico é praticamente vitalício. Facilmente se podem tirar Santa Casa é cumprir a primeira obra de misericórdia
conclusões desagradáveis para os interesses disciplinares e eco- dar de comer a quem tem fome. Fez assim a 'Santa Casa; e a
actual benemi érita obra da «Sopa dos pobres»
nómicos da Santa Casa. Na melhor das hipóteses, a exigën- e
que tantos
cia de um contínuo milagre de conciliaçãoentre a Mesa e o benefícios tem prestado à pobreza da cidade, é da compe-
Corpo Clínico, e entre os próprios membros do Corpo Clí- tência da Santa Casa. Mas há pobres que se envergonhani
nico.
de pedir. De um modo especial para estes a Santa Casa tem
Para melhor explicação, dlz-se aqui que, no sentido ri- obrigação de os assistir no seu domicílio. Pelo não cumpri -
goroso, as funçõesdos que servem a SantaCasa,não sãocar- menta desta actividade misericordiosa, as Conferências de S.
gos, masencargos. Sendo encargos, sãoobrigaçõescujafina- Vicente de 'Paulo têm sido os soldados desconhecidos desta
lidade nãoé o proveito pessoal, mas somente o dever de ser. forma cristianíssima da caridade,que, a par do auxílio mate-
vir os pobres, de servir o bem comum. De resto as gratifíca- rial, levam, aos pobres, o conforto moral e espiritual, muito
coes são tão insignificantes que excluem os médicosda acu- de louvar e agradecer.
saçao injustíssima de servir a Santa Casa por interesse pés- Se, no sector da caridade, ninguém faz de mais, o de'
272
sejar eu que os mesáriosda Santa Casa visitem os pobres no
seu domicílio, apenas diz maior interesse pêlos pobres. Que
grande ideal de previdência e providência foi o da Rainha
Dona Leonor que fez da Santa Casa da Misericórdia uma vi-
vís&ima Conferência <le S. Vicente de Paulo, séculos antes de
Frederico Ozanam a fundar na sacristia da igreja de S. Ger'
main, em Paris!
Nos dias mais solenes do ano, a Santa Casa teve por
hábito a distribuição de um bodo aos pobres. Eram dados,
sobretudo, no Natal e na Páscoa, nestes dias sagfados onde,
em todos es lares, se devia escorraçar a fome. Eram dias ás
grande gala para a caridade.
Porque não ressuscitar este santo hábito? O que anti-
gamente se fazia indefectlvelmente, passou a fazer-se uma ou
outra vez, e sempre com resultado consolador. Poder-se-á
afirmar que a Santa Casa nãotem recursos, e acredita-se nes-
ta afirmação. Mas à Santa Casa ninguém tirou o sagrado di' o

reito de pedir, porque, para pedir e dar, se fundou a Santa s


Casa. à
Q.

Outra dbra está esquecida - a de vestir os nus. E, no


entanto, há por essa cidade muito esfarrapado que sofre frio, E

sobretudo na agrestia dos nossos invernos. Porque é que A Q.


o
nossa Santa Casa não cria dentro de si própria a rouparia
dos pobres? Rouparia a cargo das senhoras que dedicassem
um dia da semana a costurar para eles? Senhoras que fossem
a todas as casas de família e a todas as lojas comerciais pedir
e recefber o muito e o pouco, o que presta e ate o que não
presta é, ao menos uma ou duas vezes no ano, fazer uma ais'
tnbuiçao de roupas pêlos pobres?
Não faltam senhoras, não faltam casas onde pedir, o
que simplesmente falta, é caridade. A rouparia dos pobres!
273
Aqui está uma obra digna da atenção das senhoras de Bra-
. gança, dirigidas e animadas pela Santa Casa.
Não só há pobres que não têm pão; também os há que
-não têm um leito para dormir e um cobertor para agasalhar
.

do frio. Já não andam pêlos nossos caminhos os peregrinos


-que penitentemente visitavam os santuários. Já não lhá tran-
.
-seúntes de terra em terra, à procura de trabalho para defen-
.
der a vida. E se os há, são poucos. Mas por isso mesmo, mais
. .fácil é dar albergue aos que o precisam, aos que nada têm
para pagar a uma estalagem ou a uma hospedaria. As alber-
garias pagas ou de esmolas, precursoras dos modernos hotéis,
existiram nos primitivos tempos da nossa vida nacional, e fo-
.

ram substituídas pelas misericórdias. Porque é, então, que a


nossa Santa Casa não restaura a antiga pousada dos pobres, a
<[uem dava cama, água e lume, sobretudo agora que tem dis-
ponível o . antigo prédio do velho hospital? Continuo na mi-
Jiha: a Santa Casa não consiste apenas em manter um hos-
pi tai.
E os presos da cadeia?
A legislação portuguesa impede, por desnecessária, a in-
tromissao da Santa 'Casa nas questões judiciais dos presos,
o
nem o Estado lhes falta com a mantença. Mas o Estado não
dá aos presos solidariedade afectuosa, sobretudo nos dias em
que mais dela estão carecidos. Refiro-me, como aos pobres,
aos dias de Natal e Quinta-Feira Santa, para não citar ou"
tros dias de festa em que a Santa Casa da Misericórdia pró-
<urava preencher o vasio insubstituível da família. Depois,
<om o andar dos tempos, os dias de afectuosa caridade para
<om os encarcerados, foram-se reduzindo a ponto de só exis-
íir para eles o dia de Quinta-Feira Maior.
Na devida altura, algo se disse do jantar aos presos; e
275,
274
Procissãodo Divino Senhordos Passos, tão do agradoda pie-
algose dissetambém daliçãopú-blicadecaridadecrista da- <lade bragançana. Verdade é que deixaram morrer ou pelo
da, sobretudo, às novas gerações. menos desfalecer as confrarias, fonte de vida crista e decora-
ar a justiça da terra, não
Os presos, por estarem a expi
da tivos elementos do culto externo bragançano. É uma deso-
estao-mcj apacitados de receber,nem a visita
dos
mesár^s laçao averiguar que o abandono das nossas confrarias não tem
misericórdia, nem a mesma misericórdia no dia em que Deus. .

semelhante noutras cidades do continente. Mas mesmo, sem


não tendo mais que dar. se deu a ,Si mesmo no Santíssimc
confrarias, se poderá fazer a procissão do Senhor dos Passos,
Sacramento da Eucaristia, celebrado Quinta^Feira Santa^
uma Via Sacra soleníssima, uma lição viva da marcha dolo'
Indaga-seporque o jantaraospresosdeixoudesefazer, rosa e trágica do Redentor do mundo para o Calvário.
e não se encontra resposta, tanto mais que o jantar não saia.
Nota-se, de ano para ano, a diminuiçãode brilho e es-
da 'bolsa, da Santa Casa, mas da generosidade dos bragança'
plendor no Enterro do Senhor. Raros são os anjos portadores
nos, provocada por bando precatório ou pública subscrição. .
das insígnias da Paixão, e não se vêem mais os profetas, as
Seráimpossível ou difícil, regressar a SantaCasa ao cumpri' figuras bíblicas que tanto interesse despertavam na piedade
mento deste dever de caridade, imposto pelo Compromisso
ibragançana, e, muito menos, se vêem as três Manas, vestidas
que orienta e rege a mesma .SantaCasa? de preto, à frente do esquife do Senhor Morto, a desdobrar,
Nota<se com muita satisfação que a Santa Casa dá a
.

<ie quando em quando, a verónica de Jesus Cristo, e a can-


cada pobre falecido no hospital, nãoo empréstimo^ caridoso tar o O vos onines 'qui tríinsitis per viam, de tanta comoção
de um esquife^ou de uma tumba, mas a caridade definitiva .
crista.
de uma uma. Uma urna para cada pobre tem sido uma ge-
Deixei para o fim o alvitre da restauração do campai'
nerosidade muito simpática, mas esta generosidade contrasti
aha. Já tive ocasião de falar na importância do campainha,
siagularmentecoma total ausênciadesufrágiospelasuaal- por vários motivos. Mas agora apenas faço esta pergunta: que
ma. Enterrar não .é só enfiar o cadáver numa uma e a ur.
Jucrou a Santa Casa com a abolição do campainha? Nada lu'
na numa cova aberta. Enterrar é levá-los à sombra da Cruz
era, evidentemente porque o estipêndio ao campainha era
ao cemitério, dar-lhes a companhia do enterro e sufragar'
dado, nos últimos anos, pela família do falecido. E que per-
-'lhes a alma.
<le? Só o facto de perder uma tradição de séculos já é um
Porque se nãomanda celebrar por cada pobre falecido grande prejuízo. Este prejuízo é tanto maior quanto maior é
no hospital, uma missa por sua alma? a. soma. de 'benefícios que essa tradição traduz e representa.
Eu gostaria imenso que, nos Domingos da Quaresma, a Esperemos que a restauração do campainha seja da parte
Santa Casa ressuscitasse a velha e edificante tradição de fa- .
da Santa Casa da Misericórdia a demonstração de que ela
zer a Via Sacra ou levando sermão a cada uma das igrejas, ou
está empenhada em ser o que tem sido sempre - uma MI-
fazendo-o na sua, nas quartas-feiras e Domingos, ou mesmo
sericórdia.
só nos Domingos a tradicional conferência quaresmal. Mas Ao íináar este livro em cujas pesquisas pus o meu en-
se isto não é praticável, tome/se a resolução de restaurar a
276
tusiasmo de bragançano,e a certezade dar ao País o pnmei-
ro livro sobre uma Santa Casa de província, sinto especial
prazer em repetir os mesmos pensamentos que vem expres^
sósno primeiro capítulo. Que os bragançanos os tenham bem
gravados na memória: esta instiutiçao é Santa porque dar
aospobres é de direito divino; é Real porque tem, felizmen-
te, o auxílio do Estado; é Casa por ser o domicílio dos po-
bres; é da Misericórdiapor exprimir o coraçãoda nossa boa;
gente em prol de tanta modalidade de desgraça que as qua-
torze obras de Misericórdia procuram remediar.

FIM
APÊNDICE
Provedores da Santa Casa da
Misericórdia (1)

i6i5--i6i6-Licenciado Salvador Mendes de Vanscocelos.


1616-1617 -' Gaspar Borges.
i6i7--i6i8 - Joaquim Carneiro.
1620-1621 Félix de 'Morais.

i63i'i632 Francisco da Rosa Pinto.

i04i'i642 .
Sebastião de 'Figueiredo Sarmento.

1654'1655 Jácome de Morais e Sousa.

i657'i658 Padre António Pimentel de Sousa, Prior de


Santa Maria.
1658-1660 Doutor André de Morais Sarmento.
i66o/i66i Francisco Pegado Toscano.

1663-'1664-Manuel de Faria Figueiredo.

1665'!666-Roque de Seixas.
i666'i667-Manuel da Rocha Pimentel.
1667'1668-Padre Francisco Ferreira Sarmento, Abade <1;
S. João.

1(1) Não otbstante todais as pesquisas, não foi .possível inserir


aqui, como seria .desejável, os nomes ide todos os 'provedores da
Sa'nta Casa. Publica-. se, . no entanto, 'esta lista, eqp&rando que ou-
trem, mais feliz do que eu, a possa completar.
281
280
Doutor Francisco Cabral e Sequeira. i7i7'I71^-'Padre Miguel Ferreira de Morais Perestrelo,
1668-1669- Abade de Rebordaos
i7i8'i7i9-Gabriel Afonso
i67o'i67i -Doutor André de-Morais Sarmento. i7i9'I720- .................. Figueiredo
1671-1672- InácioPerestrelo. 1720-1721 -Duarte Ferreira de Morais
1672-1673-Paulo de Mesquita. 1721-1722-Jácome José de Morais Sarmento
1673'1674 -'Manuel Ferreira Sarmento i72a'i723-Doutor Salvador de Prada
1674-J675-Jacome de Morais e Sousa 1723-1724-Baltazar de Sousa Colmieiro
1675-1676-Sebastião Machado de Figueiredo
1676-1677-Teodósio da Fonseca Nogueira i724'i725 -.................. Pimentel
i725--i726-........... ...... Sarmento Lopes
1726'1727-Francisco Xavier Neves
1678-1679-Dom Frei José de Lencastre, Bispo de Mr i727'i728-Luís Sarmento Lopes
randa
1679'16So-Padre Manuel da Nóbrega de Azevedo, Aba- 1728-1729-José da Silva Soares, Capitão de cavalos
de de Meixedo I729-I730-Joao António Rebelo de Sousa 'Morais Col-
168o-1681-Sebastião da Veiga Cabral, Mestre de Campo mieiro

1681-i682-Francisco de Almeida e Figueiredo


173I'i 73^-Domingos de Morais Madureira
1684-1685-Estevão de Abreu Barras I73Ô--I737-Joao Ferreira Sarmento de Lousada
I737-'I738-'João Rebelo de Sousa Morais Colmieiro
1685-1686-António de Morais Colmieiro 1738'1739-Joao Ferreira Sarmento Pimentel
Gregórlo de Castro Morais I739-'I74C'-^ João António Rebelo de Sousa Morais Co!-
1689-1690 mieiro

1692-1693 Domingos de Morais i74c>'I74I"-AntónioDoutel de Almeida, Sargento-Mor da


Comarca, Cavaleiro Professo da Ordem de
Cristo
1703-1704 João Ferreira Sarmento Pimentel
i74I-I742-António Gomes Mena, 'Fidalgo da Casa de
Sua Majestade e Cavaleiro Professo da Ordem
1705-1707 António d.e Figueiredo Sarmento. Professo - Cristo
da Ordem de Cristo, Mestre de Campo de ín-
fantaria e 'Governador da cidade 1742'!743 - António de Abreu Sarmento
-António Doutel de Almeida
1743'1744-Joac> Rodrigues Neves
1707'17°8 1744'"1745-Manuel de Abreu Sarmento
1708-1709 Francisco Perestrelo de Morais
Francisco de Morais Madureira
1745'J749-'Padre Gonçaio dos Santos
I709-I711 .

lyi i-i?12 João Teixeira de Morais Sarmento


Figueiredo i75I'I752-Joao Ferreira 'Sarmento, Provedor por El'Rei
1712-1713
António de Morais Pinto Nosso Senhor
1713-1714
Francisco Perestt-elo de Morais 1752-1754-Joao Ferreira Sarmento Pimentei, . 'Fidalgo da
i7i4'i7i5 .

Casa Real, Cavaleiro Professo da Ordem de


i7i5'I7I6 António Doutel de Almeida
-Francisco Perestrelo de Morais Cristo
1716-1717
i754-'I755-Francisco Xavier Cabral
282 283
1838-1841-Francisco de Figueiredo Sarmento da Fonseca
Pinto Avehr, Fidalgo Cavaleiro da Casa de Sua
^62'i763-Vlce"Provedor, Licenciado Filipe Delgado de Majestade a Rainha Fidelíssima
Albuquerque
Sebastião José de Figi 1841'i842-António Lobo da Silva
1763-1764-vl ce'provedort 1842'1844-Francisco de Figueiredo Sarmento da Fonseca
Sarmento
Pinto Avelar
Filipe Delgado Filipe deAlbuquerque, ^ Licen- 1844'1845-António José Teixeira
1766'1767 .

1845-1847-Doutor. Eusébio Dias Poças Falcão


ciado, IrmÍo Regentena falta do Provedor
. Como Provedor,"André Ferreira de Morais Sar- 1847'1849-António Lobo da Silva
1767-1768 i849'-i85o-António José Teixeira
mento
1850-1851-António José de Morais
1768-1779 - André Ferreira de Morais Figueiredo 1851'i852-Paulo Cândido Ferreira de Sousa e Castro
1779-1788- . Domingos de Morais Pimentel, Freire 1852-1853 -Joaquim António de Carvalho e Castro
da Ordem de Cristo ^ _ ^.
-Manuel Jorge Gomes de Sepulveda^ i853'i854-Presidente da comissão, Padre Manuel Nunes
1788.1798 de Matos
1798-1805 Ídem, com o título de Tenente General dos
Exércitos e Governador das armas da Província 1854-1860-Joaquim António de Carvalho e Castro
1860-1864-Francisco Cândido Carvalho e Castro
Manuel Leite Pereira, Brigadeiro dos Exércitos 1864'1865-Presidente da Comissão, Cândido Augusto de
i8o9'i8ii Oliveira 'Pimentel, coronel reformado
de Sua Alteza, Governador desta praça
Francisco de Figueiredo Sarmento, Governador 1865'1870-Francisco Eugênio de Sousa Barras
l8ll'l822
1869-1871-' João António Pires Vilar
da praça. Coronel de Cavalaria, Professo da 1871-1873-JoséManuel de Castro
Ordem de Cristo
iSjyi S'^6 Conselheiro Henrique José Ferreira de Lima
1822-1823- Domingos de Morais Pimentel, Freire da Or-
-

dem de Cristo e António Ferreira' de Castro 1876'1878-Padre Doutor José António Franco
i878'i88o-Cónego João Evangelista Vergueiro
Figueiredo i88o-i88i -Miguel Maria Pinto
i823'i825 - António Joséde Novais da Costa 1881-1882-Francisco Eugênio da Silva Barras
1825-1826 -António Ferreira de Castro Figueiredo 1882-1883-José António Macedo Baptista e depois Doutor
1826-1827 - Francisco António do Vale e Sousa António de Oliveira Dias
1827-1828 -Rafael Francisco de Sepulveda i883'i884-'Doutor António Augusto de Oliveira Dias
1828-1829 - António Ferreira de Castro Figueiredo 1884-1885-Miguel Luís Pinto Pimentel
1829-1830 _Francisco António do Vale e Sousa 1885'1886-Albino José de Carvalho e Castro
1830-1832 -Bacharel António Manuel do Vale e Sousa 1886-1887-JoséLuís Macias
1832-1834 -(Padre Alexandre Manuel Coelho e Melo, Aba-
i887'i889-José António Teixeira
de de Quiraz
1889-1890-^Augusto César Novais Pinto de Azevedo
1834-1837 _Francisco de Figueiredo Sarmento, ^dalgo da 1890'1898-Major Luís Ferreira Real
Casa Real e Cavaleiro da Ordem de Cristo^
-Inácio Xavier de Novais, e, ,por morte deste 1898-1903-Abílio de Lobao Soeiro
1837-1838 1903-19°5-'José Júlio Chaves de Lemos
José António Pimentel
1905-191o-Albino José de Carvalho e Castro
284
i9io'i9i2 Engenheiro Olímpio Artur de Oliveira Dias,
e depois Presidente da Comissão Dr. António
Manuel Santiago
1912-1913 Joséde Morais Neves
i9i3'I9I8 br. Artur Camatího Lopes Cardoso
i9i7'I9I8 Idem - Desde Outubro Presidente da Comis/
são Dr. Eduardo Ernesto Fana
1918-1922- Idem - Desde Fevereiro, de 1919, Eng. Olím- Legados à.Santa Casa da Misericórdia
pio Artur de Oliveira Dias.
I922-I923 - Doutor Francisco José Martins Morgado
1923-1924- Idem - Desde Dezembro Eng. Olímpio Artur
3 666-D. Ürsula, mulher que foi de João de Morais Lava-
de Oliveira Dias do, de Bragança, deixou uma casa na vila de Al-
meida.
1924-1930-- Dr. Manuel da Trindade Gonçalves Miranda
1930-1936- (Presidente da Comissão Dr. Manuel de Jesus
.
1667-António Gomes Mena, escrivão da Câmara, deixou
. Fernandes Torres 6o alqueires, sendo a maior quantidade de Parada,
Paredes e Carocedo.
i936'I942 - Capitão José Luís da Cruz
1942-1944. Capitão JoséLuís Ferreira -Salvador Lopes Colmieiro deixou 206 alqueires de
1944'1945 . -Dr. Luís António Rodrigues serôdio de foro, com obrigação de se lhe dizer por
1945-1946 José António Guerra sua alma uma missa quotidiana para sempre por um
1946-1947 .
Tenente António dos Santos Subtil capelâo.
1947'J948- Dr. Afonso Henriques Leitão Bandeira, e logo - O tio de Francisco de Sales, deixou 2. 000 réis.
depois Tenente António Augusto Cordeito 1669-'O Inquisidor de Coimbra, Mateus Homem Leitão,
deixou i oo. ooo réis que foram dados por Bartolo-
meu 'Garcia, de Bragança.
1675-António Gomes Mena deixou 70 alqueires de trigo.
1676-Francisco Colmieiro de Morais deixou 20.000 réis.
1838-0 Padre Pedro Vieira deixou 500.000 réis da casa e
quinta de José Columbano.
1849-Simao Gcwcia., de Carregai de Comenda, Espanha,
deixou uma casa que tinha na Vila.
1867-Manuel Pinto, de Peredo, de Macedo de Cavaleiros,
deixou 10.854 réis.
- D. Ermelinda da. Cunha. Pires, dos Cortiços, Macedo

(i) Não se tem aqui , a preten. são de consignar todos os !e-


gados que a Santa Casa recebeu atzavés dos seus quatro séculos
de existência, mas somente aqueles que foram idesooberïos ao longo
de aturadas 'pesquisas. Ë pena é porque os legados foram muitos
e bons se atende.rmos que a. Santa Casa, 'no (primeiro quarto do
século XViIIII, tinha io capelaes.
287
286
iSgo-Padre Camilo António de Fontoura, deixou a. sua ca-
de Cavaleiros, e D. Luísa Marut, de Vale Bemfeito. sá de residência, na Rua de Trás, com obrigação de
-^aG^'Í5I^es, M^edodeCavaleiros,de.xou um ofício de 6 padres e missa no dia aniversário da
sua morte.
Soo réis. , . ^., . 1892-'D. Balbina Eugenia Mendes Pereira, desta cidade,
-Jo'íef7'Mdm de Morais Sarmento, de Vüannho do deixou 200.000 réis.
Monte, deixou 6.295 réis. _ - O Cónego Preto deixou 4. 500 réis.
i868-^Ísa^Encamaçío, de Salselas, Macedo de Cav^
.

1894-O Conde de São Bento deixou 1.200. 000 réis, man-


leiros, deixou 3.370 réis. ^ . . " dado pelo 'herdeiro José Luís Andrade.
1869- Leonardo Mendes Pereira, legou umas^inscnçóes.
.

1895-D. Francisca da Assunção, de Soutelo, Macedo da


1870 -]'osé"Mendes de Oviedo, Espanha, dencou 200. 000 Cavaleiros, deixou 1. 280 réis.
reis que lhe devia Bernardo Fernandes Dias. ^ ^ iS97-Manuel José Pissarro, desta cidade, deixou .bens no
i873- -D7Marid]'oaM daRocha Cabral, dos Olmos, valor de 38.350 réis.
ï. ooo reis. . _ . -José António Lopes Dine, do Porto, deixou: 2 ins-
i874- D~. ~Ãna"Maria Rdnwlho, de Podence, deixou 2.=
.

criçõesdo valor nominal de 500.000 réis, i inscrição


Cavaleiros, de i conto de réis e outra do mesmo valor.
i875- -pTd ncuco Pires, de Peleias. de Macedo de 1898-O Cónego Luís Augusto de Moura. Guewa deixou a
deixou 3.985 réis. ^ ^^ casa de morada na Rua Direita, 2 leitos de ferro, 4
-~ÍMO~de'Morais, de Vilar do Lombo, deixou 2.220 camas completas, com a condição de dar ao testa-
menteiro 100.000 reis para o enterro.
-Francisco Rodngws e Semfim Pires, de Macedo, - D. Francisca de Jesus Pires, moradora na Rua do Lo'
deixaram 3.000 reis. reto, deixou: uma cama de roupa, 'composta de 2
ío2o Gonçalves, de Macedo, deixou 6.000 reis. ^ lençóis, um cobertor, um travesseiro e uma coberti
D'. ~Teresa. Afonso e Rita- Marques, de Vmhais, dei- de chita, tudo ibom; e um véu grande de seda para o
xaram 1.920 reis. _ . .,. Senhor Morto.
1877 . Bdrôo de'Castelo de Pawa deixou uma inscrição no' -.. Manuel de Jesus Pires, falecido em Bouzende, Mace-
minai de i.ooo.ooo réis. do de Cavaleiros, deixou 3.360 réis.
1882 . 0 Püdre Bento Manuel Gtl de-Figueiredo, çresüite- 1899-D. Maria Joana, de Grandais, deixou 60. 000 réis.
- .ro da"Ordem'deS. Pedro, de Vinhais, residente^em O Padre Francisco Manuel Borges deixou 20. 00 réis.
Ferradosa, deixou a casa do seu patnmónio, meraa^ 1905 - General João Ferreira Sarniento deixou 200. 000 réis.
daFcortmhas contíguas, ^ Mrte do lameiro do ^ 1906-Legado de 150. 000 réis, entregue por Aníbal de Car-
faeïro~do Olmo e a tërra do Campllhinho, com a côa' valho e Manuel Pedro de Carvalho.
drçSode3'mïssas"no diadeNatal,porsuaalma, sei:s. 1909-J°sé dos Santos Gomes, do Castro, 50. 000 réis.
pais e seu tio. _ ^. ^ ^^ ^^, 1910-JoaquimJosé de Barras, 40.000 réis.
-Padre FranciscoJoaquimBamim, Prior de i<ate.cte,- 1911-O Dr. António J'úlio Pimentel Martins, de Macedo
xou 7 inscrições deum conto de réis cada uma e to' de Cavaleiros, deixou 400. 000 réis, com a condição
dos os"seu7haveres, com a condição de dar à^szii de uma. missa anual por sua alma.
irmâ'Isabel 120 réis diários, e depois à falha desta 1912 - O Padre António do Nascimento Gandara deixou "
Maria Augusta. ^.
i8g6-Jo2o da Cruz, de Edrosa, deixou uma lembrança.
288 289,
João José Afonso Monteiro, de Vale de Prados, dei-
seu património: duas terras que oliveiras e ii- xou os seus bens.
':-
-D. Maria dos Prazeres da Guerra Dias deixou
1914 -D. Ermelmád de Barras deixou 50.000 reis.
.

Ï>\ 'Mana, de Tavares Almeida, residente em üraga, 3.ooo$oo escudos.


1914
.

delxouuma .casa com quintal, na Caleja do Forte. T934--António Gonçidves deixou metade de uma cortinha
-António Mwtms dos Santos deixou i^.ooo. ooo^eis. e metade de uma casa no largo da Domus Munici'
1926 palis que foram vendidas por 3.333$oo escudos.
1926 . ManuelPinelo, tambémconhecidopor ManuelAton-
só, em Espitíhostíla, povoação^ da sua ï-esldënaa^ 1934- Engenheiro AntónioAugusto Soaresdeixou6.ooo$oo
em Gondezende. deixou 24 prédios dos quais 20 tem escudos.
o"rendlmento colectável dí 22.580^escudos. 1935-10 se Borges do Vale deixou: na freguesia de No'

1928 . D~. Lídia A. aos Passos Furtado deixou 3.000.00 es- gueira 18 prédios dos quais 16 têm o rendimento
cudos. colectável de 2.292$93 escudos; e em Reibordaos i
1929 . Alberto Rodrigues deixou em testamento a^ casa as: prédio com o rendimento coletávei de 52^36 escudos.
da morte
morada Rua de Fora depo rtas, depois
na - D. Adelaide da. Encarnação Peixoto deixou 4.ooo$oo
de sua irma LeopoldinaRodrigues.
. 'ÁlvaroMdcbfláo'deixouuma casa na Rua -Padre Domingos Bernardino Videira deixou a. casa.
Hercukno, com o rendimento colectável de 424-&0 que tinha em Rabal.
escudos, sendo usufructuária vitalícia D. Arminda_ 1936-António Teixeira Lopes deixou 10.000 escudos com
Rodrigues Morais. o encargo de uma missa anual.
193° ÏoAntómo ]osé da Rochd deixou 26.318.00 es- 1937-Maria da Conceição Fernandes deixou uma caaa
, cudos°e mais 15 prédios em Caçarelhos,^sua terra na. na Rua Alexandre Herculano com o rendimento co-
tal~com o rendimento colectável de^358.00 escudos. lectável de 2.368$oo escudos, e metade de uma vi-
s"a"sua"morte, a sua criada Belizanda da Luz, nha com o rendimento co-lectável de 6j^6 escudos.
ent<:ont"rouïhe--no ' espólio 56.ooo$oo escudos que. Engenheiro Olímpio Artur d'Oliveira Dias deixou:
honradamente entregou à Santa Casa.^ ^ a Quinta das Cantarias e um prédio no sítio daMi'
-Cónego Antómo dos Santos Rtbeiro deixou 200^00 íhada, ambos com o rendimento colectável Ae
escudos. _ . , _, , ., __. L-_. 5.oi9$52 escudos, sendo usufructuária vitalícia D.
-Cownel Albino dos Santos Pereim Lobo deixou bens Alibina Margarida Monteiro.
queforam avaliados em i8.ooo$oo escudos. I939-'-CaroUno Serrano deixou i.ooo$oo escudos.
i93i _D, Alexandnna Sarmento deixou 2oo$oo^escudos. -Manuel do Senhor, de Serapicos, deixou 3.ooo$oo
1932 .
]osé António de Carvalho, residente em Bl'aS^?a' escudos.
deixou'em Lamalonga a quarta_ parte de io - Dr. Diogo Albino de Sá Vargas deixou: a casa que
com o rendimento colectávd de ii4$74 escudos, foi vendida em 1941 por 25o. ooo$oo escudos ao
>os a morte de D. Albertina Amélia Carneiro, e a Banco de Portugal; a Quinta da Treijinha com o
quarta parte da dívida de 4 devedores, ou sejam rendimento colectável de 7.972$3Ó escudos; uma
6. i22$oo escudos. morada de casas n. 104 na Rua Abílio Beca com o
1932 _ D. Ltbânia Borges deixou 2.ooo$oo.
rendimento colectável de 2.43o$oo escudos; a Quin'
ta de Fonte Arcada com o rendimento colectável de
i933 -D. ^Cdmüa dos"Prazeres Martins deixou i.oool>oo
escudos. 4'53i$94 escudos; oito prédios na freguesia de Pi-
10
290
nelacomo rendimentocokct^el de_8^ooescu^s^
SFpSLs"^^guesVde_MO, z. de,sortes com °
^ndim^nto colectaye
l de
467^6e^udo^^^ ^^
-Dno sïÏugémo Tezxswa de^u d^casas^ u^
_

1941--^R^r&6Íeiros coutem RuaNov. corn^o ^


Ïm^o^okcïáveÏ de"2;385$o9^escudos^senáo usu.
^mtíuám~'vkalícia D. Carolma Augusta Pires.
-ÏÏRosa Belo áeixou i.ooo$oo escudos. Esmolas de pariiculares à Santa
só Abel José Pires deixou ioo$oo escudos.
^^D'. "Mo^'Borges da No^od, P^es^ra^de ^ Casa <1)
I94>-^a"naïuraï"de'Br°agança, deixou i-2knçóisdo^ me-
|^^"uma'cokha<ledamasco^. deK ""^^n- ^ 1640-Um anónimo deu 4 galinhas que se venderam por
-D~. "Pwdade Rodrigues Falcão deixou i.ooo$oo es. 18o reis.
O Duque de Bra-gança. dava, desde a fundação da
^47-D."'Gutibe-rmmd Teixewa áeixou 12 camas com/ Santa Casa, 8.000 réis por ano, por meio do seu al-
moxarifado.
pletos.
1671-De anónimos recebeu 15 peças de bertanque (?)
azul e 40 novelos de linhas cosidos em azeite.
- De anónimos recebeu 8 galinhasque foram vendidas
a 8o reis, cada uma.
1679- O Bispo Dom FreiJoséde Lencdstre deu 30.000 réis.
1844-José António de Castro Pereira, 14.400 oeis.
1845^ José de Jesus Guedes Assedio ofereceu um frontal
para a igreja.
1854-José António Martins ofereceu ao Senhor dos Pás-
sós (para o andor) 4 ciprestes e competentes laços
que custaram 38.400 reis.
El'Rei mandou à Santa Casa a quantia de 61. 560
reis que foram entregues pelo Governador Civil
Francisco Xavier de Morais Pinto.
O Governador Civil Francisco Xavier de Morais
Pinto, 40.500 reis.
Henrique José Ferreira, Lima, 4.800 reis.
O Cónego Dr. João Pereira Botelho do Amaral ofe-
receu: 6 toalhas de linho, 4 guardanapos, 5 saqui'
nhos, 6 lençóis, i saco de estopa e i bocadode lona.
<i) Dão-se .estas iniEonnaçoes com o louvável fim de acordar
amor^ objectivo pela Santa Casa, . e lam.enta-ise que seja menor o rol
dos benfeitores, . devido à pobreza do arqAivo que documenta o
horror ipela letra 'rasgada.
292 . 293
D. Rita Cândwla Garcia, Pinto ofereceu: i coberta de 1889-O JuizF. de Gouveia Osóriodeu 3.000 reis, e 2 len-
chita, 2 mantas, 2 lençóis de linho, i fronha de es- çóis, diversos panos de linho e grande porção de fios.
topa e l enxergao. 1890-José ^Albuquerque Granja, do Rio de Janeiro, deu
1855- O Governa,dor Civil deu 121.650 reis.
40.000 reis.

O Bispo Dom José Manuel de Lemos deu 9. 000 reis. - Manuel Rodrigues Cepeda ofereceu um Senhor Cru-
1858 O mesmo deu 280.500 reis. cificado, apresentado à mesa pelo Padre João d>Al-
O mesmo deu 22. 150 reis. meida Pessanha.
i859-
1864 A Exposição Agrícola, rendeu 51.425 reis. - O Bispo Dom JoséAlves de Mari^,deu 27.000 reis.
1865 Padre Paulo Miguel Marques deu 36. 000 reis. 1891-A Rainha Dona Maria Pia. deu 100. 000 reis.
Três anónimos deram 17. 000 reis. -- D. Balbina Eugenia Mendes Pereira deu 200. 000 reis.
O Bispo Dom João de Aguiar deu 5. 180 reis. Lino Augusto Leão, de Lisboa, deu 20.000 reis pa-
Henrique Maurício Jorge de Lima ofereceu os re- ra sufrágio da alma de sua mãe.
médios durante o mês de Março. - D. Luísa 'de Castro, 2 lençóis de morim.
António José Tetxeira ofereceu os remédios durante -D. Conceição Gouveia Osório, 2 travesseiros de
o mês de Abril. pano cru.
i866 Hennque Ferreirti Lima. deu 21.080 reis. Por intermédiodo Bispo Dom JoséAlves de Mariz a
1868 O Governador do bispado João José Martins, deu Rainha, D. Maria Pia e a Rainha D. Amélia deram
4.6oo reis. respectivamente 100. 000 reis e 50. 000 reis.
1869 Joaquim Pinto áe Albuquerque Jordão deu 4.500 1892-O Padre António José da Rocha deu à igreja um
reis. terno vermelho de seda que foi estreado na festa
1875- 0 Governador do bispado deu 4.500 reis.
.
do Espírito Santo.
O mesmo deu 9. 600 reis. 1893-Miguel Carlos Alves, negociante em Lisboa, deu
José António Teixeira, deu durante um mês os re- 20. 000 reis.

médios para sufragar a alma de seu pai. 1894-O Cónego António Augusto Rodrigues deu 200.000
1876- Manuel Guerra deu 4. 500 réis. reis.

O Bispo Dom José Maria da. Silva Fermo de Ca.rva' 1896-0 Bispo Dom José Alves de Mari^ deu 10.000 reis.
lho Martens deu 4. 500 reis. -Padre António José da Rocha deu 4.600 reis.
António Bernardo Teixeira, deu 9.000 reis. - O Bispo Dom José Alves de Mariz deu 15.000 reis.
O Gouemdáor Civil deu 11.900 reis. 1896-O Padre António José da Rocha ofereceu um tuíí-
Henrique Ferreird de Lima. deu 4.500 reis. ibulo de prata que custou 47. 700 reis.
Manuel Guerra Temeiro, de Freixo, deu 4.500 reis. -JoséLuís de Andrade,de SantoTirso, deu 1.096.370
i88i Herdeiros de D. Rosa Joaquina Dias deram 15.000 reis.

reis. I897-D. Teresa Mo^ Teixeira ofereceu umas galhetas de


1882 António Afonso, de Ervedosa, 5.000 reis. prata ao Senhor dos Passos.
- D.' Inácio. Bolas, 2.400 reis. -O Padre Avelino Pires Diegues, pároco d.e Rabal,
1887 - Lino Augusto Leãodeu 29 lençóisnovos de pano cru. deu 2.500 reis.
Augusto César de Novais Pinto de Azevedo deu 15 I899-António do Carmo Pires, Rio de Janeiro, ofereceu
lençóis de pano cru. 5 libras a 6.000 reis.
1900 - O Conde de Agrolongo, Lisboa, deu 100. 000 reis.
294 295
- António do Carmo Pires (Comendador) deu ao Se' O Visconde de Agrolongo, Rio de Janeiro, deu
loo. ooo reis.
rihor dos Passos 13. 500 reis.
1911--Francisco Cortes, Paredes, deu 20. 000 reis.
içoi -Dr. AfcíKo Beçd deu 5.000 reis.
_ O Comenda.dor António do Carmo Pires deu 24.000 Justino Coelho, de Portela, deu 5.000 reis.
reis. 19^3-DrAgostmho LopesCoelho deu i03$87 escudos.
1902-0 Padre António Augusto Teixeira deu 5.000 reis. - Aníbal Ala, de. Vila Nova, deu 8$oo escudos.
_O Bispo Dom José Alves de Mariz deu 20.000 reis» 1914-Francisco Joaquim Martins deu um cofre para es-
- O mesmo deu 20. 000 reis. molas.
_D. Ma.rgúrida. do Céu Pimentel deu uma sanefa de 1915-D. Lucília da Conceiça-o Novais e Silva, deu 2^50
veludo roxo e quatro laços também de veludo, tudo escudos.
guarnecido a galao e franja dorados - producto 1& - O Comissáno de polícia deu 3$8o escudos.
uma subscriçãoque tirou entre as senhoras. IQIÒ- Domingos Lo^eí deu tigelas, pratos e copos para d
-Francisco Inácio Teixeira e sua. mulher D. GuiÍher' enfermaria e 30% sobre o restante material.
mina. Maria Teixeira ofereceram ao Senhor dos Pás- i9i8-A Comuítío Pró Pátria oíereceu 5 sacas de café que
sós um resplendor de prata que foi estreado com foi vendido ao preço de io escudos cada 15 quilos.
uma túnica-nova, no dia 17 de Março deste ano. D. Inês Azevedo Real deu io$oo escudos.
_D. Joana dos Prazeres Rodrigues Braga ofereceu 1919 - A Corporação dos Bombeiros ofereceu ao hospital
ao Senhor dos Passos um véu de seda preta. 5o$oo escudos.
_ A Marquesa da. Fronteira e Alorna. ofereceu ^o Se- - O Padre Amador Dias deu 5$oo escudos.
nhor dos Passos uma valiosa túnica, usada no ano -José António de Carvalho deu io$oo escudos.
anterior pelo Senhordos Passosda Graça,em Lisboa, O Banco Na-cwnal Ultramarino, na inauguração ofí-
a pedido do deputado da Nação Cristóvão Aires.^ ciaide suaagênciaem Bragança,deu ioo$oo escudos.
- Um anónimo deu 6 peças de pano cru para lençóis. I Ç20 Professorado da Escola Primária. Superior deu 5$oo
1^04-Alberto Rodrigues, de Bragança, no Rio de Janei' escudes.
ro, em cumprimento de um voto, ofereceu uma rr 1922 Dr. ^Tobias Sequeira. - regente agrícola - deu
quíssima túnica. É de veludo de seda roxa, bordada- ioo$oo escudos.
a ouro. -José Victorino Pinto averbou a favor da Santa Casa
jgo5-D. Maria da Pieda. de Beca. de Pina. deu 5.000 reis. uma- lnscrlçao do capital de ioo$oo escudos, n.
D. Carolina Dias Lobo deu 5. 000 reis. 156.856.
igoé-O Bispo Dom José Alves de Mariz deu 20. 000 reis. Manuel da Silva Moura áeu ioo$oo escudos.
-O Cónego António José da.Rocha, deu 10.000 reis. 1924-D.^MariaInês de Azevedo Real deu 3o$oo escudos.
- O mesmo custeou os andores das imagens de S. João -João_BaptistaBorges, de Edrosa,deu ioo$oo escudos.
e Nossa Senhora. -A Comissão dafesta da flor deu 5oo$oo escudos.
1909-D. Mana. Augusta, Moura ofereceu um véu de seda, 1925- Dr- João Teixeira Dweito Dr. Luís da Silva Viegas,
primorosamente bordado. e Major Carlos de Barras Soares Branco, da Inspecção
José dos Santos, de Danai, deu 20.000 re/s. do Comércio Bancário, deram, esmolas que deram .-i
_O Conego António José da Rocha ofereceu ao Se' soma de 5. 7Ó5$oo escudos.
nhor dos Passos uma cabeleira nova. Dr. António Augusto Cepeda deu 23i$5o escudos.
1910-O Conselheiro Abílio Beca deu 10.000 reis.
297
296
- D. Maria do Carmo Barata Figueiredo Carminil deu - O Governador Cwil Tomás Fragoso deu 500^00
escudos.
ioo$oo escudos. -Miguel Augusto Rodrigues deu i5o$oo escudos.
-]osé Montanha deu a importância que tinna aa AS' Dr. António Olímpio Cagigal deu 8$oo escudos.
sociaçâodos pobres que era de 5i5$i? escüd.os. -Dr. António Cepeda. deu 20$oo escudos.
-Ma]0r Guilherme Correia de Araújo deu ioo$oo -O Comissário de Polícia deu 3o$oo escudos.
escudos.
-'A Agência, do Banco de Portugal deu^aooÇoo escudoi. 1927-A Sociedade Cooperativa de Consumo e Crédito
-A Agência, do Banco Nacional Ultramarino deu do Concelho de Bragança deu ioo$oo escudos pa?.i
200$oo escudos. sufragar a alma do regente Alípio Barbosa.
i927 - ^m dnónimo deu 20$oo escudos.
1926-Albmo Maria. Aretds deu i.ooo$oo escudos. Dr. Daniel Rodrigues deu i.ooo$oo escudos.
1926- O Comwáno áe Policia, deu 420$oo escudos. - Padre Jainie dos Santos deu 27^00 escudos.
-Ismael Gonçalves deu 5oo$oo escudos.
-Dr. João Teixeira. Direito, director da Inspecção do -- António Augusto Dias, para sufragar a alma de sua
Comércio Bancário, deu I.5oo$oo escudos. muher, deu 300^00 escudos.
-Q mesmo mandou i.5oo$oo escudos^ oferta do seu -D. Maria dos Anjos, de rebuçados vendidos, deu
35$oo escudos.
colega na Inspecção , Luu da Silva Vtegas. - O Governador Civil Tomás Fragoso deu 5oo$oo
- O mesmo mandou logo a quantia de 2.5oo$oo es' escudos.
cudos.
-Ismael Gonçtdves deu, em três prestações a quan- O Comissário de Segura.nça Pública. deu 433$oo
escudos.
tia de 3.ooo$oo escudos. -Dr. José Hipólito Carmona, deu ioo$oo escudos.
- Albino Areias deu 500^00 escudos. - Um anónimo deu 200. 000 escudos.
-Subscrição aberta, no Rio de Janeiro, por D. Ade- - O Comissário de Polícia deu 33$$o escudos.
ïaide Quintanilha, Padre José de Castro e Adriano 1928--D. Maria do Carmo Carmond deu 5o$oo escudos.
Carneiro que rendeu 55. 5oo$oo escudos. -António Augusto Diüs, para sufragar a alma de SUA
Moagem Maricmo & Companhia deu i.ooo$oo es' mulher, deu i.ooo$oo escudos.
cudos. _ . , D. Adelina Esteves Ramires, da. venda de catálo'
- JoséMontanha, para sufragar a alma de seu tio lê/ gos da sua exposição de lavores, 23o$oo escudos.
nente Coronel José Furtado, deu 200$oo escudos. Um- anónimo deu 35$oo escudos.
- Padre José de Castro ofereceu 500 .exemplares de Guilherme Libânio Peixoto ofereceu uma letra de
uma conferência sobre a Santa Casa que vendida
i3. ooo$oo escudos e juros em atraso.
deu 6.337$oo escudos. Joaqi iim Guilherme Pinto deu ioo$oo escudos.
4 professores da Escola. Pnmária Superior Passaram --D; Adelaide Vieira. deu 6o$oo escudos.
a contribuir mensalmente com a quantia de 35$oo -A Comissão de festas da. cidade deu 3.6oo$oo es-
escudos. cudos.
_Miguel Rodrigues deu i6o$oo escudos. -Anónimo deu 20$oo escudos.
-Um anónimo deu. ioo$oo escudos.
- O Comissário de Polícia deu 400 escudos. 1929-Um terço da multa., paga. por António Marques,,
-Ismael Ribeiro deu i.ooo$oo escudos. de Gimonde. i5o$oo escudos.
1930-José Coelho deu 25$oo escudos.
298 299
Um anónimo, io$oo escudos. 1935-Rr. Carlos^ Moreira e António Augusto Aires, em
Filipe de Moura Coutinho deu ioo$oo escudos. ?o Marques, mandaram pefos bragançanos
- Casa Oliveira & Melo L. a, do Porto, ofereceu uma ^20 escudos.
sineta. -]osé Borges do Vale, ioo$oo escudos.
Joaquim Pinto e Aníbal Teixeira deram 5o$oo es- -JnsttíMío Pasteur, Lisboa, vários medkamentos.
cudos. -Tribunal Judicial, de Bragança, 50^00 escudos.
-Anónimo deu io$oo escudos. -Tenente Gouveia 2o$oo escudos.
1931-D. Guilhermina Maria Teixeira deu 12 lençóis. -Major João Baptista Araújo Leite ^o$oo escudos.
-Dr. Alípio Camelo deu 6 cobertores de algodão, 12 1396-D. Raquel d'Assunção um anel que valeu 27$2o
lençóis, 6 travesseiros e 6 almofadas. escudos.
- Major João Saldanha deu 5$oo escudos. -Da Comissão venatória Concelhia. 5.081$75 escudos.
-Artur Augusto Franco deu 32^20 escudos. -D. Guühermina Maria Teixeira 12 lençóis.
i932-/. Pinto de Cdrvalho & C.a, Porto, ofereceu uma -Dr. Herculano da Concetção alguns medicamentos.
caixa de alfinetes de segurança. 1937-Dr. Atípw Camelo 8 coibertores de la.
--João António Costa, em sufrágio da alma de seu -Comandante da. Polícia de Segurança PúbUca
pai, 3oo$oo escudos. paes de trigo.
Anónimo A. R., do Porto, ioo$oo escudos. -Comandante da Guarda Fiscal do Vimioso. 20 aui-
-De uma cascata- do Sdo João, i25$oo escudos. de pão.
-Do «Grémto de Trás-os.Montes» 285$8o escudos. -Dr^. Francisco do Patrocínio Felgueiras deu 20 am-
-Dr. José Hipólito de Morais Carmona. deu 2o$oo Ias de soro anticarbunculoso.
escudos. Domingos Bernardo Vinhas 219^00 escudos
Um anónitno deu 20o$o'o escudos. -

Comissão de festas de S. Pedro, no caminhad


a Vila,
Valentim Alves deu i5o$oo escudos. POO escudos.
1933-'. António Manuel Nogueira ofereceu io lençóis. - Augusto_Beça, do Porto, 5.ooo$oo escudos.
D. Guilhermina Maria Teixeira ofereceu 12 lençóis. Cesário Vergueiro, de Salsas. 5o$oo"escudos.
António Manuel Nogueira deu três peças de fa- 1938- Comandante .daPoliciade S.Pública ioo$oo escudos.
zenda para lençóis e colchões.
Alfândega de Quintdnilba deu 6 quilos de pão. -D. GmlhermÍMjAa. rw Teixeira 6 lençóis"de aïgodSo.'
-Dr. Francisco Felguetras, 50 ampolas de"SorEo'7n.'
Dr. Adriào Ma-rtins Amado deu ioo£oo escudos.
- D. Darida Pires de Morais deu 5oo$oo escudos. Dr. António Gonçalves Rapasote i cabrito.
1934-Carne de javali, no valor ae 370 escudos, oferecida -Dr. Francisco Felgueiras i cabrito.
pelo Capitão Sá Morais e Tenente Francisco Xavier. -Comissão Venatoria do Concelho 4 coelhos e 2
- Dr. José Hipólito Carmona deu 50^00 escudos. lebres.
-Dou anónimos deram, cada, 20$oo escudos, e outro
deu 200$oo escudos.
-Comandante da Guarda Fiscal de Vinhais uma por-
cão de pão.
O Comandante da. Guarda Fiscal, do Vimioso, deu D. Guilhermina Teixeira, 6 lençóis.
2 quilos e 900 gramas de pão. i939- D. Palmim Mota e D. Bernardette Süvano oferece-
D. Maria Emílio. Macha.do deu um lençol. ram 30 camisas para os doentes e 50 travesseiros
-D. Guilhermina. Maria, Teixeira, 12 lençóis. para as camas.
300 301
1940-José Leão 22^50 escudos. Manuel Inácio Pereira. Cabrúl, de Mirandela, 38 li-
-D. Ana, Leãoy$oo escudos tros de azeite.
-Mota. Serrador 25o$oo escudos. -Aníbal Pires e esposa 2 peças de pano cru e 18 toa-
--Cesário Vergueiro, Salsas, 500^00 escudos. lhas de rosto.
-Mamiel António Pereira, 5o$oo escudos. 1944-Comandante da Polícia da Segurança,Pública300^00
Multa, do tribunal judicial 37$5o escudos. escudos.
1941-Comissário do desemprego -200 escudos. Junta Nacional dos Vinhos 71$30 escudos.
-Multa do Tribunal Judicial ioo$oo escudos. Daniel Antunes, de Terroso, 4o$oo escudos.
-D. Guühermind Teixeira. 12 lençóis. -António Pires, de Espinhosela, y$oo escudos.
- Gelmires dos An^os Manso i cântaro de azeite e -Padre Augusto Baptista Gonçalves, Abade de Gow
io$oo escudos. defende, io. ooo$oo escudos.
.

-. António Augusto Mora. 2o$oo escudos. - Manuel Pinto de Azevedo deu: 50 coibertores de al-
-Um anónimo ii8$6o escudos. godâo, 4 peças de tecido de algodão para lençóis,
-D. Cândida de Sá M. orais, io5$6o escudos. 5o cobertores de algodão, la para 25 cobertores.
-Dr- José Hipólito Carmona ioo$oo escudos. - Comando da Polícia, da. Segurança. Pública, 20o$oo
- Associação dos Artistas 40^00 escudos. escudos.
- Cândido Carneiro 5o$oo escudos. -Comissão Reguladora do Comércio Local 7.5oo$oo
-D. Maria do Amparo Banos 5o$oo escudos. escudos.
-^Ernesto Estevinho, de Parede, 5o$oo escudos. Heuri Emiel Ayon i.ooo$oo escudos por intermédio
do Dr. Alípio de Abreu.
i942 - LUM 5etAs 22^50 escudos. -'D. Alice Cunha. 200^00 escudos.
Um anónimo 5$oo escudos.
-Festa de São Pedro 3oo$oo escudos. Domingos Manuel Lopes ioo$oo quilos de la para
cobertores.
-Dr. António da Circuncisão Pires ioo$oo escudos.
-Dois anónimos 57$75 escudos. -Corporação dos Bombeiros Voluntários 5é3$6o es'
D. Maria Matilde Cepeda. io$oo escudos. cudos, correspondentes a io alqueires de centeio e
---Anónimo ioo$oo escudos. quilos de batata.
Aníbal dos Santos Pais 50^00 escudos. -Dom Duarte Nuno de Bragança i.ooo$oo escudos.
-D. Cândida Vergueiro 5o$oo escudos. -Manuel Francisco Afonso, de Alimonde, 4oi$oo es-
cudos.
D. Ana, Costa Veiga. Rodrigues 50^00 es-cudos.
Aníbal Augusto Pires e esposa 3 peças áe pano cru.
ig43-Multa do Tribunal Judicia.1 ioo$oo escudos. I945-' D. Ldum Torres deu 4 lençóis de algodão, 2 toalhas
- D. Francisco, de Jesus Pires deixou ao Senhor Morto de lavatório.
um véu grande de seda. D. Maria. Inácia,de Vila Boa, 2 lençóisde linho.
-D. Guilhermina Maria Teixeira 6 lençóis.
D. Maria, Clara. Rodrigues e marido deram metade
-D. Lauro. Lopes Torres generosa oferta de medica', de uma casa, sita no lugar da Curralada da freguesia de Moz.
mentos.
ip47-Esposa de Aníbal Augusto Pires um manto de seda
-Ernesto Augusto Rebelo, deu à Santa Casa um cré- azul para a Senhora da Soledade.
dito de 900 escudos.
- Manuel Pinto de Azevedo, Porto, 200 quilos de la
50 cobertores.
303
188o-1908-Confraria de Nossa Senhora
da Ribeira ... ... ... ... ... 16.940 »
188o-Confraria do Santíssimo ... 15.000 »
1880-1933-Confraria do Senhor dos
Chãos ... ... ... ... ... ... ... 280.000 »
1902-Confraria de Nossa Senhora
do Rosário de Tuiselo ... ... 15.000 »
Subsídios das confrarias 1903-Confraria de Nossa Senhora
da Assunção de Vilas-Boas 100. 000 »
1852-1894 Confraria de Santa Bárbara, 1912-1933-Confraria de Nossa Senhora
de Mithao ... ... ... ... ... 27. 510 da Serra ... ...... ... ...... 1.816.900 »
186o-193° Confraria do Senhor Jesus de 1933- Confraria de Nossa Senhora
São Vicente ... ... ... ... ... 361. 000 do Rosário de Fontes Barroso 15.000 »
i86i'i933 Confraria do Senhor Jesus de
Cabeça Boa'... ... ... ... ... 808. 100 Soma 13. 104.236
1862-1913 Confraria do Santo Cristo de
Outeiro ... ... ... ... ... ... 6.937.000
1865-1924 Confraria de Nossa Senhora
do Balsemao ... ... ... ... ... 267.500
1865-1933 Ordem Terceira de São Fran'
cisco, de Bragsaça ... ... ... 336. 210
1865-1871 .
Confraria de Vale d'Asnes... 7.lio
1865-1903 .
Confraria, das Almas de Babe i33«57c>
1867 Confraria da Santa Cruz de
Bruçó ... ... ...... ... ... ... 21.081
1868-1896 Confraria de Santo Antão da
Barca ... ... ... ... ... ... ... 590. 085
1868-1908 Confraria de Nossa Senhora
das Graças ... ... ... ... ... 132.600
1868-1934 Confraria das Almas de Santa
Mana ... ... ... ... ... ... ... 344-78o
i87o'i9i8 Confraria do Santíssimo Sa-
cramento da Sé ... ... ... ... 144. 145
1870-1918 Confraria de Nossa Senhora
do Carmo ... ... ... ... ... ... 73.800
i87i'i9i7 Confraria das almas de Izeda 561. 105
i87i'i9i7 Confraria das Almas de Baçal 12.600
1877-1930 Confraria do Santíssimo Sá-
cramento de Salsas ... ... .. 92.200
305
de cera com que por diferentes vezes benefí-
ciou a Santa Casa.
-António José Teixeira, Administrador do Con-
celho pêlos legados pios não cumpridos e li-
quidados na atiministraçâo e enviados à Santa
Casa, e outras esmolas*
Cla.udmo Augusto Césa.r Garcia, 2.° oficia.l do
Governo Civil, pelas avultadasesmolas que fez
Irmãos benemériíos da Santa Casa entrar na Santa Casa, resultantes das exposi'
coes agrícolas de que foi encarregado.
- Padre Paulo Miguel Marques, pela esmola de
1864'1865 -Gaspar Pereira, da Silva, Ministro dos Negócios 36.000 réis.
Eclesiásticose de Justiça., pelaconcessãode uma
lâmpada de prata cuja graça solicitou de El'Rei. -José Manuel de Castro, farmacêutico, pelas es-
molas em medicamentos.
Conselheiro José António de Lima, Desembar'
gddor da Relação de Lisboa., pelo auxílio pres- -Henrique Maurício José de Lima, farmacêutico
tado à Mesa para obter ^ lâmpada de prata. pelo mesmo motivo.
CUudino Mesquita da Rosa., Governtidor Civil, D. Teresa Maria Emília d'Affonseca e Sousa,
pela importante esmola das sobras das contra- pela esmola de 4.500.
rias e irmandades. Cónego António Joaquim de Oliveira Mo^, pe-
-Conselheiro Henrique José Ferreira de Lima, ias esmolas de cera oferecidas à Santa Casa.
Secretário Geral do Governo Civil, por ter fei- 1868-1869-Comissãopromotora de um basar de prendas
to incluir nos Estatutos de diferentes confra- do qual resultou a. compra da casa e constru'
rias e irmandades a obrigação de concorrer com cão da actual que serve de secretaria actual-
a décima parte do seu rendimento para a San- mente. A comissão era constituída por: Dr.
ta Casa, e outras esmolas que deu e promoveu. Joaquim Guilherme Cardoso de Sá, Dr. Aníbal
- José de Almeida Pessanha, Administrador do Gomes Pereira, Miguel Luís Pinto Pimentel,
concelho de Macedo de Cavaleiros, pêlos lega' Adriano Acácio de Morais Carvalho e Eugênio
dos pios não cumpridos, liquidados e enviados de Castro.
para a Santa Casa. Dr. Joaquim Pires Albuquerque Jordão, Brasil,
- Rev.mo João José Martins, Governador do Bispa' pela esmola de 4. 500 réis.
do, pelas esmolas de cera, dadas por diferen- 1892-1893-' O Bispo da .diocese, Dom José Alves de Mariz,
tes vezes à Santa Casa. pelas avultadas esmolas dadas à Santa Casa.
' -A Câmara Municipal, pela importância dotação - Cónego António José da Rocha., professor do
com que concorre para a Santa Casa. liceu, por suas dádivas à Santa Casa.
Direcção da Assembleia Brigantina., «pela filan' .

Mana Inês Novais Pinto de Azevedo Real, pe-


tropia e espontânea vontade com que 'fez à sua las esmolas à .Santa Casa.
custa as despesas da soirée dançante em bene- - Cristóvão Aires de Magalhães Sepulveda, Go-
fício da Santa Casa». vernador Civil.
Conego António Joaquim Preto, pelas esmolas
307
306
2 de Julho de 1894-Coloca-se o retraio do Provedor
i893'i894-Dr. António Augusto Rodrigues, Cónego da. Major Luís Ferreira Real.
catedral de Viseu.
3 de Abrü de 1896- Inauguraçãodos retratos do Con-
iSg6^i&^ - Conde de S. Bento. de de S. 'Bento e de seu sobrinho JoséLuís de Andrade.
-José Luís de Andrade, sobrinho e herdeiro do Junho de 1902-Inauguração do retraio do Provedor
Conde de S. Bento. Afaílio de Lobao Soeiro.
içoo-' Silvino Augusto de Morais, Rio de Janeiro, por 5 J de Dezembro de igii - Inaugurado o retrato do Dr.
ter dado 40.000 réis. António Júlio Pimentel Martins, de Macedo de Cavaleiros.
i90i'i902-Conselheiro Abílio Augusto de Madureira. Be- Em 1920 - Inaugurado o retraio do Ministro da 'Jus-
ca-, pêlos inolvidáveisserviços à Santa Casa. tiça, Dr. Artur Lopes Cardoso.
1902-1903-Abtíio Lobão Soeiro. 2i àe Julho de 1942 - Inaugurados os retratos dos Dr.
1904--19°5-Alberto Rodrigues, Rio de Janeiro. Diogo Aibino de Sá Vargas e Dr. José Eugênio Teixeira.
i9ii'i912--Dr. Aníonio Juíto Pimentel Martins, Macedo i6 áe Julho de 1945 - Resolveu-se que o retraio do
de Cavaleiros. Eng. Olímpio Artur de Oliveira Dias fosse colocado entre
i9i5'I9I6-AntónioMaria Álvares Martins. os beneméritos da Santa Casa.
i9i9'I920-Estevão Águas,Ministro dd Guerra, por auton-
zar o. fornecimento de rÈmédios da farmácia
central do Exército.
- DY. Artur Alberto Camacho Lopes Cardoso, Mi'
nistro da, Justiça., por ter obtido subsídios para
a construção do novo pavilhão.
i922'i923 -Jo5o Afonso Monteiro, de Vale de Prados, pelo
seu legado à Santa Casa.
1926-Dr. João Teixeira. Direito e Dr. Luís Viega-s,
pêlos seus donativos.
1930- Dr. JoséEugênioTeixeira e Beliz-anda dd Luz,
pelas esmolas à Santa Casa.
ig^7-Monsenhor José de Castro foi declarado faene-
mérito pela Mesa, mas não foi aclamado em
assembleia geral.

Benfeitores com retraio na sala das sessões

ip de Novembro de 1881 - Inauguração do retrato do


Prior de Fafe, Padre Francisco Joaquim Barreira, por ter dei-
xado à Santa Casa a maior parte dos seus haveres.
5 de Agosto de 1890- Foi neste dia inaugurado o re-
trato de José de Albuquerque Vaz Granja.
Maio de 1902 - Inauguraçãodo retrato de Monsenhor
Cónego António José da Rocha.
309
Em Pinela, 8 prédios que foram legados pelo Dr. Diogo
Vargas, com o rendimento colectável de 83$oo escudos.
Em Ëspinhosela, 19 prédios e em Gondezende 4, com o
rendimento colectável de 223$38 escudos.
Em Nogueira, 18 prédios, legados por José Borges do
Vale, com o rendimento colectável de 2..S^2$^ escudos.
Actual património da Santa Casa da Em Rebordâos, i prédio legado de José Borges do Vale,
com o rendimento colectável de 52$3Ó escudos.
Misericórdia A quinta das Cantarias, legado do 'Engenheiro Olímpio
Artur d'01iveira Dias com o rendimento colectável de
Prédios urbanos
i.8o8$84 escudos.
Um prédio no sítio da Malhada, legado do Eng. Olímpio
Edifício do antigo hospital e igreja anexa. Artur d'01iveira Dias com o rendimento colectável de
Edifício do novo hospital 3.2io$68 escudos.
A morada de casas da Rua Abílio Beca, n.° 103, Legada
Em Lamalonga, a quarta parte de io prédios, com o
pelo Dr. Diogo Vargas, que tem o rendimento colectável rendimento colectável de 114. 74 escudos, legado de José
de 2. 43o$oo escudos. António de Carvalho.
Úína morada de casas na Rua dos Oleiros que foi do
Dr. José Eugênio Teixeira. Foros
Uma morada de casas na Rua Nova que foi do Dr. José
Eugênio Teixeira; sendo usufrutuária vitalícia, desta e da
outra Dona Carolina Augusta Pires. Ambas têm o rendimen- D. Ana Maria de Carvalho de uma casa, na Rua Nova,
to colectável de 2. 385$09 escudos. o foro anual de ç6$oo escudos.
Uma casa na Rua Alexandre Herculano, legado de Al" Herdeiros do Coronel João António Lopes Saldanha,
varo Machado, com o rendimento colectável de 424$6o es' de uma casa na Rua Direita, o foro anual de 85$oo escudos.
cudos. Herdeiros de D. Filomena da Conceição Pires de uma
Uma casa na Rua Alexandre Herculano com o rendi- casa na Rua dos Oleiros, o foro anual de 8o$oo escudos.
mento colectável de 2.268$oo escudos, e metade de uma Herdeiros de João Maria Azevedo, de uma casa na Cos-
vinha com rendimento ccrlectável de Ó7$76escudos, legado ta Grande, o foro anual de 48$oo escudos.
de D. Maria da Conceição Fernandes. P." João Inácio Rodrigues da Costa, de uma casa na Rua
do 'Loreto, o foro anual de 6o$oo escudos.
Prédios rústicos Os herdeiros de D. Adriana Mesquita, de uma casa
na Costa Pequena, o foro anual de 6o$oo escudos.
A quinta na Treijinha e casa, legado do Dr. Diogo Al^ A Câmara Municipal, .de uma casa na Rua Abílio Beca,
bino de Sá Vargas, com o rendimento colectável de 7.973$36 o foro anual . de i20$oo escudos.
escudos. António Augusto de Sá Pilão, de uma casa na Vila,
A quintade Fonte-Arcada,legado do mesmo Dr. Diogo. n.° 216, o foro anual de i2$oo escudos.
Vargas, com o rendimento colectável de 4.531$94 escudos. Manuel JoãoTeixeira, de uma casa na Estacada, n.° 35,
Em Moz de Sortes, 22 prédios legados pelo Dr. Diogo o foro anual de 24^00 escudos.
Vargas, com o rendimento colectável de 467$o6 escudos. Manuel Anes Alves o foro anual de $50 centavos.
310
311
José Arïtónio dos Santos, da casa n.° 40 na Travessa
da Costa Pfcquena, o foro anual de iio$oo escudos. ;Em Fontelas, Delfim do Nascimento Preto, de 3 oitavas
de um prédio, 'o foro anual de i5$oo escudos.
Herdeiros de D. Ana Beca, da casa n.° 42, na Travessa
áa Costa Pequena, o foro anual de 200$oo escudos. Em Oonai, João Domingos Alves, de parte de um pré-
dio, o foro anual de 26$yo escudos.
Encarnaçãoda Assunção Alves, de uma casa na Vila, n.°
ii6, o foro anual de 8$5o escudos. Em Danai, Sebastião Afonso, de parte áe um prédio, o
foro anual de 50^00 . escudos.
IDelfina Rosa, de uma casa no caminho da Vila, n.° 44,
o foro anual de 25^00 escudos.
Papéis de crédito
O Capitão José Luís da Cruz, de uma casa na Rua Di-
reita n.° 97, o foro anual de 7o$oo escudos.
Seminário de .São José, de uma casa na Rua da Cadeia,
Junta de Crédito Público, .certificado de renda perpétua
i oo$0o escudos.
n.° 168- renda anual de 6.67o$44 escudos.
iBanco Aliança- - 19 acções ao valor nominal de 6o$oo
Mons. José de Castro, de um prédio na Ribeira, o 'foro escudos cada uma-i. i4o$oo escudos.
anual de 20$oo escudos.
Bancode Portugal-; Uma acçãon.° 132.029- valor no-
:Em Vale de Lamas,Manuel José Afonso, de um casal, minai de 75o$oo escudos.
o foro anual de 24$oo escudos. Tunta de Crédito Público - Certificado de Dívida Inscri-
'Em '.Samil, D. Rita do 'Céu Fernandes Nunes, de um la'
meiro, i6o$oo escudos.
ta, correspondente aos títulos de i obrigação n.° 600.639 a
6oo 645, 1.343.732a 1.343.733 e de io obrigaçõesn.° 77.803
A 'Câmara Municipal, do antigo matadouro, o foro anual a 77.807 a 77.937.
de 20$oo 'escudos. Junta de Crédito Público-Certificado de Dívida Ins-
Em Grijó de Parada, Aníbal dos Santos Pires, de 3 pré' crita n.° 666, correspondente aos títulos de i obrigação'deem-
dios, o foro anual de ioo$oo escudos. presumo de 33/4 de 1936.
Em Nogueira, 'D. Maria Rosa Fernandes, de um prédio, Um título de 100 acções da Sociedade Cooperativa de
ói alqueires e meio de trigo, 61 alqueires e meio de centeio Consumo e Crédito do Concelho de Bragança.
e uma galinha.
lEm Alimonde, Manuel António,de um terço de três pré-
dios, o foro anual de 27$9o escudos.
Em Terroso, D. Maria Augusta Pires, de dois prédios, o
foro anual de dois alqueires e meio de centeio.
Em Maças, .Domingos da Costa Afonso, de dois prédios,
o foro anual de 40^55 escudos.
Em. Vila Boa de Carçaosin.ho, José Alfredo Dias Branco,
de um prédio, o foro anual de dois alqyeires de trigo.
Em Vila Boa de Carçaosinho, Sebastião Maria Afonso, de
um prédio, o foro anual de 76$oo escudos.
Em Espinhosela, João Lino Martins, de Oleiros, de um
prédio, o foro anual de oito alqueires de trigo.
Em Fontelas, JoséManuelRatao,de 5 oitavas de um pré-
dio, o foro anual d'e 40$oo escudos.
313
i879'i88o Receita .. 996.880 reis

Despesa .. 996.580 »

1884-1885 -Receita ... 1. 185.945 »

IDespesa .. 1. 185.945 »

1889-1890 Receita .. i. 710. 223 »

Despesa 1.332.234 »

1894-1895 Receita 3J294.543


Receita e despesa da Santa Casa(1) Despesa 3. 182.915
»

1899'19o0 Receita 2.823.395 »

Despesa 2. 502. 045 «

1658-1659 Receita 152. 12,6 reis


i904'i9c>5 Receita 3.407.885 »

i66o-i66i Receita 154.95o »


3.274.697
Despesa »

Despesa 150.364 »
i909'i9IC> Receita 2.901.935 ».
1667'1668 Receita .. 238. 465 »
Despesa 2.864.435 »

1670-1671 Receita 228.725 »


Receita 3.697.795
[219.230
1914-1915 »

Despesa . »
Despesa 963.505 »

1675'1676 Receita 39o'o6o »


i9i9'I920 - Receita 5. 505.380 »

i678--i6679 Receita 593-940 »


Despesa 569. 190 »

[Despesa 508.330 »
1920-1921 Receita 18.479-740 »

1710-1711- Receita 384. 118 »


8.246.290
Despesa ))
Despesa 383.950 »
1930-1931 . Receita ... ii25.54c>-87° »

1795-1796- Receita 300. 000 »


Despesa .. 26.327.030 »

1845-1846- Receita 435-035 »


Receita .. 688. 038. 010
1944 »

Despesa 440.519 »
Despesa ... ... .. 315. 787.610 »

1850-1851-' Receita . 439-025 »


Receita .. ... ... 781. 565. 730 »
i945
Despesa 415-226 »
Despesa ... ... ... 341.241. 110
. »

' 1855-1856- Receita 897.620 »

Despesa 373-o8o ))

1859-'186o- Receita 672.800 »

Despesa 655.950 »

1864-1865- Receita . .
531.781 »

iDespesa :.423. 363 »

1869-1870- Receita :.522. 445 »

Despesa .
519-055 »

1874-1875 Receita . 646.834 »

Despesa :.359-726 »

(i) Impossível e faiatidioso dar aqui a receita e despesa da


Santa Casa durante 430 .anos .de existênda. Prdferiu-se dar aqui a
receita e despesa de alguns anos somente de mado a da:r uma ideia
da evolução económica da Santa Casa.
315
para onde melhor se possam tratar; promover esmolas, ou outros
quaisquer benefícios de caridade para o Hospital, e a esmola para
os presos nos dias designados pela Mesa.
Compromissos Art. 5. ° - Constará de Irmãos, que seyão divididos em duas clas-
sés - Irmãos beneméritos e Irmãos eíectwos.
i. ° Irmãos beneméritos serão todos aqueles, que forem jul-
Compromisso da Santa Casa dar Misericórdia gados dignos de tal Título' por dádivg, s, doações, ou outros quais-
quer benefícios, que a Irmandade cwsidere de grande valia.
de Bragança, de 2856
§ 2. ° Este título só poderá ser conferido em Mesa Geral, onde
a Mesa administrativa, ou algum lymão apresentará os motivos que
CAPÍTULO' I há para se conceder.
§ 3'° ^No caso de sc terem atendido, se passará um D:ploma
Do Titulo, Divisa, Fins e Orgamizaçao da Irmandade de Irmão benemérito à pessoa, ou Irmão, considerado como tal,
que será carim.bado, e assinado pelo Provedor e Escrivão.
"Artigo l.° - A Irmandade terá a Titulo de- IRMANDADE § 4'° Os Irmãos beneméritos gozarão de todas as regalias, Ji-
DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIADE BRAGANÇA- reitos e benefícios, que competirem aos mais Irmãos, cem i&Enção
conservando a sua sede, antiguidades, direitos, deveres, propriedade de todo e qualquer trabalho pessoal.
e regalias. § 5-° Para Irmão benemérito não se precisa requerer, nem
Art. 2. °-Ser-v-ir-lhe-á como Divisa-uma Bandeira guar- ter sido Irmão, por ser este um titulo que' a Irmandade confere
necida de veludo preto, tendo, em cada uma das quatro extremi- somente em reconhecimeiito de beneíícios prestados à Misericórdia.
dades, cordões com borias pretas. Esta Bandeira terá dum dos la- § 6. ° Este título poderá ser conferido às psssoas do sexo fe-
dos o Quadro de Nossa, Senhora, da Misericórdia, e do outro a Visi- minino que o merecerem, nos termos do § i. ° deste artigo.
taçâo de Nossa Penhora, rematando com uma cruz preta no centro 7. ° Haverá uma lista dos Irmãos beneméritos ca qual se
e cimo do Quadro. fará expressa menção dos motivos porque foram nomeados, e cm
Art. 3. ° - Usarão os Irmãos uma veste ou balandrau de que ano: esta relação estará patente na Igreja, a um dos lados do
cor preta, feita de fazenda de lã, do talhe e forma dos que actual- altar-mor.
mente se usam. A veste do Provedor será do mesmo feitio e cor § 8. ° Irmãos efectivos serão todos aqueles que derem cum-
mas de fazenda de seda, sendo o cordão, borla e forro do capaz, primento aos artigos do capítulo 2.
de seda roxa, devendo esta ser fornecida pela 1'áanta Casa e pro- § 9-° O número dos Irmãos efectivos nunca poderá exceder a
priedade da mesma. cem, residentes nesta Cidade; destes poderão pertencer à classe dos
Art. 4. °-Os fins desta Irmandade são: beneméritos, os que para. tal forem julgados dignos pela Mesa Geral.
i. ° A prática e regular exercício das obras de misericórdia,
em serviço e devoção de Nossa Senhora, Padroeira da Irmandade, CAPITULO II
e de Seu Santíssimo e Unigénito Filho Jesus Cristo, Venerado com
o Título de Senhor dos Passos;
Da odlmissao dos innSos e quaiidades que deverão ter
2. ° A conservação e aumento dum Hospital, onde sejam tra-
tados os enfermos pobres e desyalidos, conforme a& posses e rendi- Art. 6. °-Para qualquer indivíduo ser admitido a Irmão
mentos para tal fim destinados; efectivo da Misericórdia são indispensávfcis as qualidades segiiintes:
3. ° Socorrer os mendigos doentes, facilitando-lhes a saída, i. ° Que tenha boa reputação e conduta moral e civil;
316 317
2.'. ° Que tenha vinte e cinco anos de idade, que não os tendo Santos Evangelhos, em que ponho minhas mãos, juro servir esta
se ache emancipado; que não sendo sui júris apresente expressa Irmandade, na forma do .seu Compromisso; juro votar nas eleições
autorização de seus pais ou tutores; e Mesas a que assistir, sem ódio,' suborno ou afeição, mas somente
.

3. ° Que iiáo seja criado de servir; como a minha consciência me ditar, para o aumento da. Santa Casa,
4. ° Que não esteja impossibilitado pela idade ou moléstia de <e Glória de Deus; juro guardar sigilo em tudo o que debaixo de
cumprir as obrigações que lhe são inerentes. sigilo me for incumbido, mandado ou tratado, menos no que for
§ único- Em igualdade de circunstlâncias será preferido o Telativo a ordens e disposições da Autoridade'.
que souber ler e escrever. Art. 11. °-O Irmão que tiver sido riscado, poderá ser no-
Art. 7. ° - A admissão será requerida pelo pretendente, de- vãmente admitido, quando ele o requeira, e dois terços, pelo ine-
clarando seu nome, idade, filiação, estado e naturalidade, tudo do- sós, da Mesa votem pela sua admissão. Exceptuam-se os com-
aumentado, bem como atestado do Administrador do Concelho ou preendidos nos §§°s i. °, 2. °, 5. ° e 6. ° do artigo 15. ° que nunca
Pároco, da sua conduta moral e civil, . se assim o exigir a Mesa ad- poderão ser admitidos.
mimstrativa.
Art. 8.°-Nunca se poderá resolver a admissão de qualquer CAPITULO III
Irmão sem haverem . decorrido pelo meiios oito dias, depois da apre-
sentaçãodo requerimento e documentos à Mlesa, pai-a esta.conhecer
da capacidade ou incapacidade do requerente. Dos , _.. --, Regalias, Deveres e Penas idos Irmãos
§ único- A admissão será decidida por escrutínio secreto
por meio de esferas brancas e pretas, indicando o maior número, Art. 12. ° Todos os Irmãos serão iguais em direitos, e deveres,
sendo pretas a regeição e brancas, a admissão. salva a diferença proveniente do exercício de seus cargos na Ir-
Art. g.o -Admitido que seja, não poderá gozar dos respecü- inandade, ou classe, a que pertencerem.
vos direitos e regalias, nem ser inscrito no livro da Irmandade, en- Art. 13. ° - A qualquer Irmão competem os direitos seguintes:
quanto não apresentar a sua opa ou balandrau, feito à sua custa, i. ° Tomar assento, apresentar propostas e indicações tenden-
e para seu uso e serviço. tes aos fins e aumento da Irmandade nas Mesas gerais;
§ i. ° Se dentro do espaço de dois meses a contar da data i. ° Discutir e votar;
do despacho, o Irmão admitido não der cumprimento a este artigo- 3. ° Ser elegível para os cargos da. Irmandade;
ficará de-nenhum efeito a sua admissão, o que somente poderá con- 4. ° Ter livre ingresso no Hospital, com preferência a outro
seguir requerendo novamente à Mesa. apresentando os motivos, qualquer enfermo, que não seja Irmão, onde; quando de todo lhe
que deram causa a semelhante falta. faltem os meios, será tratado gratuitamente.
2. ° Se os motivos apresentados forem tais, que justifiquem § único - Se o Innáo que for recebido no Hospital tiver
o requerendo poderá ser readmitido. lavrando-se-lhe o assento nes- meios, com que possa, abrigando-se ali, tratar-se-á à sua custa,
ta data. pagará diariamente o que a Mesa arbitrar, sempre menos do que o
Art. io. °-O auto de admissão será exarado no livro pelo taxado . para os que não forem Irmãos, e em iguais circunstâncias.
.

Escrivão, declarando ter prestado o juramento de fielmente cum- 5. ° 'Examinar os livros da correspondência, da receita e des-
prir as disposições deste Compromisso, e ter apresentado a sua pesa, das actas, e do Inventário da Santa Casa;
6. ° Ser elevado a benemérito, se os seus merecimsnLos o fí-
opa ou balandrau. Este auto será assinado pelo Provedor e Irmão.
§ i.° O juramento será prestado sobre os Santos Evangelhos, zeram digno de tal.
nas mãos do Capelâo da Igreja e em presença da Mesa. 7. ° Representar à Mesa Administartiva por escrito, assinado
§ 2. ° A fórmula do juramento será a seguinte: «Por estes por mais seis Irmãos; e motivada a necessidade de qualquer Mesa
319
318
3. ° Quando acusar qualquer Irmão, e perante a Mesa não
geral extraordinária, quando se derem casos em que os :nter. i&s°s provar o objecto da acusação;
e decoro da Irmandade assim o reclamem; 4. ° Quando tenha sido por mais de três vezes sucessivas ad-
8.° Ser gratuitamente levado pela Irmandade na tumba rica moestado pelo Provedor e Escrivão, e não mostre emenda, come-
ao cemitério, falecendo nesta Cidade; esta regalia será extensiva EL tendo as mesmas faltas;
mãe, mulher, cu viúva não casada do Irmão, que também falece- 5. ° Quando declarada e publicamente desobedecer-às ordens
rem nesta Cidade; às filhas ou filhos de Irmãos, enquanto estive-
da Mesa, ou do Provedor, dadas dentro da esfera de suas respec-
rem debaixo do pátrio poder, e ainda depois da morte do Ii-CT. ão. tivas atribuições;
contanto que não excedam a vinte anos de idade, ou não estejam 6. ° Quando se recuse a servir os cargos, para que legalmente
às Irmãs de Irmãos, eles viverein dsbaijeo
já estabelecidos, se com
for nomeado, devendo para ter ou não lugar tal comunicação, aten.
do mesmo tecto e dependência. der-se à sua, idade, capacidade, e serviços anteriormente prestados
9. ° Gozar de todos os sufrágios, que se fizerem pflos Irmãos à [Santa Casa e Irmandade;
vivos e defuntos. 7. ° Quando não preste, ou se recuse a prestar contas dos car-
Ari. 14. ° - Todo o Irmão efectivo tem a cumprir os deveres. gos que servir;
seguintes: 8. ° Quando se prove ter sido subornado, ou subornar para si,
i. ° Aceitar e servir os cargos da Irmandade para que íôr -e- ou para outrem, votos lias eleições;
galmente nomeado ou eleito, salvo impedimento grave, cuja par- 9. ° Quando por mais de uma vez perturbar os actos da Ir-
ticipação fará oportunamente; mandade;
2. ° Comparecer na. Santa Casa. para a Mesa. geral e nos dias e io. ° Quando, sendo Membro da Mesa, lançar em leilões de
hora marcados pela Mesa. dministrtiva.; bens ou rendas da. Santa Casa por s:, ou por interposta pessoa.
3. ° Assistir a todos os actos religiosos da Irmandade; 11.° Quando for pronunciado em crime, que por Lei o torne
4. ° Obedecer às ordens do Provedor, dadas em harmonia e infame, depois de sentenciado.
na conformidade do Compromisso; Art. i6. ° - Ouvido e convencido o Irmão .perante a Mesa de
5. ° Acompanhar e levar à sepultura os Irmãos que falecerem- ter incorrido em qualquer das faltas designadas nos números do
nesta Cidade; artigo antecedente, se procederá à votação por esferas brancas e
6. ° Satisfazer, no que estiver ao seu alcance, às consultas e pretas, da qual, resultando dois terços pele menos de votos contra,
deliberações das Mesas, mandadas executar pelo Provedor . será riscado.

7. ° Conduzir fraternalmente com os mais Irmãos, respeitando


e fazendo respeitar o compromisso, regimento interno, deliberações. CAPITULO IV
da Mesa e ordens do Provedor; i
8.° Solicitar a caridade pública, em benefício da Irmandade
Da Mesa Geral .e suas utribuiçoes
e seu Hospital, por meio de subscrições, esmolas, doações, ou ou-
tros meios lícitos, e em harmonia com os fins e instituições da Ir-
Art. 17. °-A Mesa geral é a reunião de todos os Irmïos
mandade, e bem assim em favor dos encarcerados.
debaixo da presidência do Provedor.
Aic. 15. °-- Todo o Irmão efectivo será riscado mos casos. Art. i8. °-^Haverá Mesas gerais ordinárias e extraordinárias.
seguintes: Art. 19. ° - As Mesas gerais ordinárias terão lugar todos os
i. ° Quando delinquir gravemente contra o Compromisso, re- anos no Domingo anterior ao dia dois de Julho, pelas ire? horas
gimento interno e deliberações da da tarde na Igreja da Irmandade.
2. ° Quando por palavras ou escritos difamar a Irmandade; § .único - Quando porém o dia dois de Julho cair à segunda-
320 321
-feira, a Mesa geral terá lugar no Domingo antenor ao Doming& íerma e desvalida, de que lhes serão pedidas restritas contas, não
designado.
pela Mesa Geral, mas por' Deus Senhor Nosso, a quem nada se
esconde.
Art. 20.°_^ As Mesas gerais extraordináriasterão ingar todas.
as vezes compreendidas no n. ° 7. ° do art. 13. ° cap. 3. °, ou quando Art. 24. ° - A Mesa administrativa constará de Provedor,
Escrivão, Tesoureiro e quatro Vogais.
pelo Provedor ou Mesa administrativa forem mandadas convocar.
Art. 21.°-Nenhum acto, ou deliberação da Mesa geral será. § i. ° O Provedor será sempre uma pessoa, que por sua ba-
válido sem que esteja presente a maioria, pelo menos, lo número bilidade, prudência, virtude, zelo e posição na Sociedade se.torne
total dos Irmãos residentes nesta Cidade. digno deste cargo, e a quem os Irmãos, reconhecendo seus mereci-
Art. 22. ° - Compete à Mesa geral: ' mentos, respeitem e tenham como Chefe. Não deverá ter menos
de trinta anos de idade;
l. ° A eleição da Mesa Administrativa;
2.° A deliberaçãodos §§ i. °. 2. ° e 3-° do artigo 5. °, cap. l. °; § 2. ° O Escrivão será um dos Irmãos mais qualifíca. dos, acti-
3. ° Tratar das matérias, que a Mesa Administrativa, ou dl- vo, zeloso, inteligente, e capaz de preencher os deveres do seu
cargo;
gum dos Irmãos por escrito ou vocal submeter à sua deliberação;
4. ° Julgar e decidir da exclusão dos Irmãos feita pela Mesa. 3. ° O Tesoureiro será um Irmão probo, inteligente, abas-
administrativa;
tado, prático em contas, e zeloso no cumprimento dos seus deveres.
5.° Tomar contas à Mesa administrativa do ano da sua ge- § 4-° Os quatro Vogais serão escolhidos entre toda a Trman-
rência; dade, tendo sempre em vista o estado, idade e profissão de cada
6. ° Autorizar a, venda, ou troca de foros, pensões ou outros um, que lhes permitam a observância de seus deveres;
quaisquer rendimentos da Santa Casa; e bem assim .pa.ra. contratar» § 5. ° Nenhum Irmão pode ser obrigado a servir dois anos su-
fazer transacções sobre heranças, ou doações de propríedadâs, vin- cessivos, salvo, se recaindo nele a eleição aceitar.
' das à Casa, ou sobre dívidas a que esta seja credora, quando se Art. 25. °-Oito dias antes do designado para. a eleição, se-
semelhantes transacções resulte vantagem à Santa, Casa, atendendo. ra afixada na Sacristia da Igreja da Santa Casa a lista nominal dos
sempre às leis vigentes, e obtida nos casos necessários a, compe- Irmãos por classes, e os anúncios respectivos designando o dia e
tente autorização Régia. hora em que deve ter lugar a eleição.
§ único - Todos os objectos tratados em Mesa Geral serão Art. 26. °-No dia marcado para a eleição da Mesa admi-
decididos à pluralidade de votos absoluta, excepto no caso previste». nistrativa, serão convocados os Irmãos, ao toque do sino da Santa
no artigo 66. °. Casa, devendo no dia antecedente ter sido avisados pelo servente.
que percorrerá as ruas da Cidade, com a sua veste e tangendo a
campainha.
CAPITULO V
Art. 27. ° - No corpo da Igreja da Santa Casase acharáuma
Da eleição da Mesa Ad;ministraitiva mesa, e assentos para os Iimãos, e sobre ela uma urna aberta, o
Compromisso da Santa Casa, a lista nominal dos Irmãose quais-
Art. z'3.°-Os Membros da Mesa Administrativa serão sem-
quer matérias que por escrito algum deles ou a Mesa admin^stra-
tiva tiver de propor la deliberação do Mesa geral.
pré um vivo exemplo para.toda a Irmandade no cumprimento e-
desempenho de todos os seus deveres, tendo como modelo a Jesus. Art. 28. ° - Reunida a Irmandade, o Provedor, Escrivão. Te-
Cristo Senhor Nosso, e Suas Santíssimas Obras de Misericórdia: en- soureiro e Capelão, tornarão assento em roda, da mesa, e seguida-
trarão em Mesa, deliberando e votando sempre com inteira ,e recta. mente os mais Irmãos: neste acto, o Capelão. em voz alta e inteli-
consciência, sem ódio ou afeição; lembrando-se, que são adminis- gível, lerá a parte deste Compromisso, que regularisa .a eteição,
tradores dos benefícios destinados ao Culto Divino, e à poEreza en-

11
322 323
as comissões das penas duma Comissão composta de sete Irmãos, que tenham servido na
marca os deveres dos Irmãos, e
mais próximas Mesas transactas, à qual depois de se ter eferido o
nos casos omissos: ^ _ ^
juramento aos Santos Evangelhos nas mãos do Capelão <1e resolver
'§"i~'. ° Finda a leitura, toda a Irmandade de Íoelhos eem_vc;z em sã e recta consciência lhe será incunibida a decisão i io protesto
alta, resará^trê7Ave Manas implorando o auxílio e ProtpcÇao. _de ou reclamação;
NossaSenhora, tornará depois assento, e fechadaa urna, examina- § 2. ° Resolvida que seja a validade da reclamação ou protesto,
da"que"nada dentm contém, principiará o Escrivão a fazer a cüa- pela decisão da Comissão, se procederá novamente à eleição no ir.es-
mLdïdos Irmãos pela lista, em que irá pondo as descargas, escr^- mo dia ou no imediato, tendo sempre em vista as disposições deste
.
"endoo seu apelido à margem do nome do votante,esteà proporção Compromisso;
lançar
qu7^ada-um ent regar a lista dobrada ao Provedor, e a

3. ° Se pela abundância das matérias ou gravidade delas, se


reconhecer, que por falta de tempo ou conhecimento, não podem
LÍ"2. ° Cada lista deverá conter sete nomes, com designação dos ser tratadas neste dia, haverá Mesa geral no Domingo imediatao,
cargos 01.e cada um e votado; pelas três horas da tarde, para delas se tratar e decidir; e se ainda.
§ 3. ° Concluída a recepção daslistas, e vendo-se pelalista dos assim se não puderem concluir, ficará a Mesa adiada para ü dia se-
Irmão°s que~neiihum falta para votar P°derá-acto. contínuo^brt1 ;^ guinte e sucessivamente até final decisão das matérias apresentadas
Fuma; porém faltando, alguém nãose poderá abrir senãoum^bora por escrito, ou vocais, e que não sejani da competência da Mesa
oTsdachamada geral; confrontar-se-á o número dos v°^ntePe;
.

administrativa.
ÍaTZsc7rgas7e~em Seguida sefarâo apuramento dosvotos, lendo o Art. 31. °-No dia dois de Julho por oito horas da manhã se
<:apelão~em"voz alta aslistas queo Provedor lhe for entregando e reunirá na Igreja da Santa Casa toda a Jrinandade, com suas vestes,
fazendo a carga dos votos o Escrivão e Tesoureiro; à qual presidirá a Mesa eleita.
§ 4. ° Terminada, a leitura das listas, e o apuramento ^oà ^ § i. °. Logo em seguida cantar-se-á unia Missa com toda a
tos, ficarãoeleitos aqueles, que para cadaum dos cargosobtiverem solenidade.
maioria absoluta de votos; 2. ° Terminada que seja, o Capelão, ainda parameiitado, se
§ 5. ° Acontecendo haver empate, preferirá o mais velho colocará nQ lado do Evangelho, voltado para . o poyp, e tornará
§ 6. ° Logoem seguida sefarãoduaslistas daMesa fcleita- c010' nas mãos os Santos Evangelhos, deferindo a. Mesa. eleita o jura-
candose uma^ia porta principal da Igreja e outra na dav^^_ (nento, cuja fórmula lida pelo Escrivão ajoelhado do lado da Ëpís-
'§"7.0-Concluída afeição, se lavrará a competente acta tola será a seguinte:
peloEscrivão^assinadapeloProvedor, Escrivão,Tesoureiro e Ca- «Por estes Santos Evangelhos, em que pomos as mãos, jura-
ramos cumprir religiosamente todas as obrigações, .que nos impõe
\ 8.° Estaactadeverácontero nomedoseleitoscomdesigna- o compromisso desta Santa Casa da Misericórdia».
Cão os cargos e tíúmero de votos, da qual s.e enviará cópi^a ao Pro- O Provedor e Mesários -ajoelhando sucessivamente e pondo a
^edoT. e'outra ao Escrivão, novamente cleros, para expedirem avi- mão direita sobre o Evangelho, dirão «assim o jur0)>.
sós ao resto dos Mesários. §3-° Prestado o juramento, se cantará a Ladainha de Nossa
Art"29. ° - Se no acto do apuramento, algum dos eleitosime-
ale- Senhora, finda a qual, a Mesa eleita dirigindo-se à casa do despa-
.
gar
motivasse escusa, fortes e atendíveis, recairá a eleição no
cho entra em exercício.
diato em votos.
Art, 30. ° - Quando haja alguma reclamação ou protesto so-
bre qualquer matéria relativa à eleição,dos
^esta só será__atendlda- £e
for apoiada pela terça parte pelo menos
IrmãosPresfn1:es;^^^
7.o-Apoiada que seja, proceder-se-á imediatamente â eleição
324 325
CAPITULO VI o bom e regular andamento dos .negócios da Santa Casa e seu
Hospital;
Da Mesa Administrativa, seus deveres e atribuições i4. ° Assinar os despachos nos requerimentos a ela dirigidos;
i5. ° Passar todos os anos quitações ao Tesoureiro, ou a qual-
Art. 32. ° - A Mesa administrativa é responsável por todos quer Empregado, ou a outra pessoa, sobre saldo de contas ou en-
os seus actos, e incumbe-lhe o seguinte: trega de objectos;
i. ° Organizar o regimento interno, no qual se designarão os i6. ° Fazer cumprir os sufrágios . pelas almas dos Irmãos, e
deveres de cada um dos Empregados, e os meios de levar a efeito os legados que a Innandade tenha por ónusou obrigaçãoa bem das
o determinado neste compromisso; almas dos benfeitores da Santa Casa;
2. ° Executar na parte relativa, e fazer executar .inteiramen- 17. ° Fixar o número dos doentes que diária e gratuitamente
te este Compromisso e regimento interno, que serão entendidos no podem ser tratados no Hospital, o que nunca fará sem um madu-
sentido literal, e as palavras em que são concebidos, na cignifica- ro exame da receita e despesa apresentada pelo Tesoureiro;
cão vulgar, e prática comum, sem admitir interpetrações; i8. ° Taxar os preços aos doentes, que, tendo meios de sub-
3. ° Assistir às reuniões, festividades religi. osas e actos de be- sistência, quizerem sr tratados no Hospital.
neficência; Art. 33.° - É expressamente proibido à Mesa despender ou
4. ° Acompanhar à sepultura as pessoas designadas no n. " S." hipotecar os rendimentos dos anos futuros, e quando por justís-
do art. " 13. ° cap. 3. ° e todas as mais, de cujos enterros a Banta simos motivos isso se tome necessário, não o poderá fazer, sem
Casa perceber a taxa marcada no regimento interno; prévia consulta da Mesa Geral.
5. ° Nomear, demitir e arbitrar os ordenados aos Empregados Art. 34. ° - Nenhum será legal, sem o voto e assinatura da
da Casa; maioria dela.

6. ° Admitir e riscar os Irmãos, e julgar da sua culpabilidade, Art. 35. °-A Mesa administrativa que, sem prévia, autori-
jicando eles com recurso à Mesa geral; zação da Mesa geral, praticar algum dos actos referidos no ^.úme-
7. ° Dar uma conta à Mesa geral da receita e despesa do ano ro n. ° do art. 22. °,. capítulo 4. ° pagará uma multa de seis mil a
<ia sua gerência, de quem, como e quando foi recebida, e em que vinte quatro mil reis, além de responder por seus bens pêlos pre-
.
despendida; juízos causados à Santa Casa.
8° Decidir, tendo em consideração as posses da Santa Casa.
<omo e quando se devem -lazer as Funções religiosas, que são fa- CAPITULO VII
-cultativas;
9. ° Mandar reunir Mesa geral, quando o julgue necessário; Do Provedor, seus deveres e atribuiç&es
io. ° Administrar os bens da Irmandade, e autorizar com a.
sua assinatura as suas deliberações, escrituras de dívida, foros, ou Art. 36. ° - Compete ao Provedor:
prazos, contraídos com a Santa Casa; i.° Presidir a todas as Mesas, reuniões e actos públicos da
11.° Lembrar e vigiar o cumprimento das obrigações de cada Irmandade;
iim dos Empregados, quando haja negligência; 2'. ° Mandar convocar, abrir, interromper ou fechar as Mesas,
12.° Fazer executar na parte relativa qualquer deliberação da nas quais terá voto dicisivo no caso de empate.
Mesa geral, sendo responsável pelo prejuízo, que da sua parte hou- 3. ° Manter a ordem e respeito, conceder ou negar a palavra
ver na demora da execução; aos Mesários que a pedirem, não admitindo discussões sabre objec-
i3. ° Exigir dos Empregados os esclarecimentos precisos para tos diversos da matéria em questão, proibindo imediatamente
326 327
13. ° Nomear, lia falta do Escrivão, um Irmão de Mesa, pa-
quaisquer propostas ou interpelações, envolvam política ou
ra o substituir, quando aquele não excede a trinta dias, exceden-
personalidade;
do, será chamado, o que serviu anteriormente, e se este não acei-
4. ° Rubricar todos os livros da escrituração, assinar os autos
tar, será eleito pela Mesa administrativa.
ou termos dos . assentos dos Irmãos, cartas de guia, portarias de
despeza. Diplomas dos Irmãos beneméritos, e mais objectos da ad-
CAPITUI-0 VIII
ministração da Casa;
5. ° Conceder, e dar as babcas ao Hospital não podendo admi-
tir doente algum excedente ao uúmej-o fixado pela Mesa, em con- Do Escrivão, seus deveres e a+rrbuiç&es
formidade do n. ° i. ° do artigo 32. °, Cap. 6. °.
§ i. ° Exceptúam-se os casos extraordinários de epidemia, acon- Art. 37. ° - Compete ao Escrivão:
tecimento fortuito ou acidental em que o decoro e humanidade re- i. ° Lavrar todas as actas, despachos das Mesas, autos ou ter-
clamem os socorros da Santa Casa, de que dará imediatamente raos de assentos, riscar e fazer notas aos Irmãos, passar Cartas de
parte à Mesa geral, convocando-a para tal fim, para ela indicar guia aos pobres, certidões, formar listas, e finalmente concorrer
à Mesa Administrativa os meios necessários para remediar tais ne- com toda a escrituração da Casa;
cèssidádes. 2. ° Liquidar as adições a receber, das quais passará e assina-
§ '2. ° Também ficam exceptuados os casos compreèadídos no ra guias, que depois de rubricadas pelo Provedor, o Tesoureiro re-
n. ° 4'do art. 13. ° cap. 3. °.' ceberá, passando delas recibo ou quitação;
§ 3. ° No número dos doentes fixado'pela Mesa administrativa, 3. ° Passar e assinar as ordens ou portarias de pagamento das
não serão inclúidos os que pagarem a ïaxa fixada 110 n. ° 5. ° do verbas de despesa previamente aprovadas pela Mesa, Administrati-
precitado art. 13.° va, as quais ordens ou portarias depois de rubricadas pelo Prove-
' 6. ° Admoestar e repreender os Empregados, quando omissos dor, serão pagas pelo Tesoureiro.
no cumprimento de'seus deveres, e em casos graves susüendê-los § i. ° Tanto as ordens de pagamento, como as guias de recei-
dando parte à Mesa na primeira reunião; ta de que tratatn os dois números antecedentes, serão guardadas
7. ° Fiscalizar todos os bens, rendas, foros ou outros quaisquer para documentar as respectivas contas.
proventos, que a Santa Casa possua, ou haja de possuir; § 2. ° Toda a escrituração compreendida nos n. °s 2. ° e 3. ° des-
8. ° Estabelecer e íazer conservar o melhor sistema e ordem te artigo, que houver de ser feita nos livros da Casa, os despachos
na escrituração, tornando-a fácil e inteligível; bem como a regula- das Mesas, as actas, e Diplomas de Irmão benemérito, serão feitos
ridade na administratação dos rendimentos, legados e foros, ou. pelo Escrivão, nos mais casos bastará subscrever e assinar;
quisquer donativos, que em benefício da Santa Casa, ou da po- 4. ° Ter, sob sua inspecção e responsabilidade todos os livros,
breza enferma lhe tenham sido ou forem doados; escrituras, inventários, documentos e mais papeis da Santa Casa,
9. ° Legalizar as despesas da sua gerência; o que tudo receberá do seu antecessor por inventário, lio qual se
io. " Admoestar os Irmãos, instando pelo exacto cumprimento lavrará termo de entrega, tirando-ss uma cópia do mesmo Inven-
de suas obrigações; tário, que depois de conferida e assinada pêlos dois Escrivães, se-
li. 0 Fazer ciente a Mesa dos bons ou maus serviços dos Ir- ra entregue ao Provedor;
mãos, para serem devidamente avaliados; 5. ° Fazer anualmente um inventário de todos os objectos
12. ° Empregar todos os meios ao seu alcance para conciliar existentes na Santa Casa, classificando as suas qualidades e valor
os Irmãos que estiverem em desarmoniât admòestando-os perante aproximado, bem como o bom ou mau estado, em que se acham,
a Mesa, e fazendo-lhes ver o escândalo, e mau exemplo, que dão do qual inventário tirará uma cópia, que entregará ao Provedor;
à Irmandade com tal procedimento; 6. ° Tomar todos os anos, e quando a Mesa Administrativa o
328 329
determinar, contas ao Tesoureiro, para se dar cumprimento ao n. ° tamentária, o Tesoureiro receberá em separado os seus produtos,
7. ° do art. 32. ° cap. 6. °; e deles não distrairá quantia alguma, sem que os respectivos en-
7. ° Servir de Provedor, quando a ausência deste não exceda cargos se achem plenamente satisfeitos, ainda mesmo que para
a seis meses;
isso haja ordem expressa do Provedor, Mesa geral ou Adminis-
8. ° Ler em Mesa as matérias apresentadas; trativa.
9. ° Conservar sempre na melhor ordem e classificação os pa- § único. Se as heranças ou legados forem em bens de raiz,
peis e documentos existentes no arquivo; ou da natureza daqueles que ihes são equiparados, não se julga-
io. ° Exercer como Escrivão, relator nato e Delegado das
rão adquiridos para a Irmandade sem a expressa Licença Régia.
Mesas as funções que lhe são inerentes.

CAPITULO IX CAPITULO X

Do Tesoureiïo, seus dteveres e atribuições


Das funções e encargos religiosos do Santo Casa
Art. 38. ° - Compete ao Tesoureiro:
i. ° Ter sempre regular e etn dia a escrituração a seu cargo; Art. 40.° - Haverá funções e encargos religiosos obriga-
tivos e facultativos.
2. ° Promover e fiscalizar a cobrança de todos os íoros, pen.-
soes, esmolas e quaisquer outros rendimentos; Art. 41. ° - Obrigativos são:
3. ° Dar cumprimento na parte relativa ao disposto nos n. 05 i. ° As Missas quotidianas pêlos Irmãos na Igreja da Santa
2 e 3 do art. 37. °;
Casa, devendo as das sextas-feiras, por isso que são em honra
e louvor do Senhor dos Passos, celebrar-se na sua Capela;
4. ° Escriturar nos livros da receita e despesa os valores, quer
2. ° A Missa cantada no dia dois de Julho;
em dinheiro, quer em géneros recebidos e despendidos, empregan-
3. ° A Missa do meio dia nos dias santificados:
do todo o cuidado em que a escrituração seja clara e cohi asseio;
4. ° A Missa cantada a Santa Maria M:adalena;
5. ° Prestar-se a dar cumprimento ao n. ° 6. ° do art. 37.°
5. ° Ofício geral pêlos Irmãos defuntos;
cap. 8. °;
6. ° Todos os mais que por legado ou doação forem come-
6. ° Legalisar as suas contas no fim do ano, conforme o de-
tidos à Irmandade, e ela se obrigue a cumprir, aceitando os le-
terminado no n. 15 do art. 32. ° cap. 6. °;
gados, que para tal fim forem doados;
7. ° Tomar anualmente contas ao encarregado da cobrança
7. ° A procissão do enterro do Senhor.
do pão;
Art. 42. ° - Facultativos são os seguintes, e ficam à deli-
8. ° Assinar o resumo do balanço geral da receita e despe-
beração da Mesa administrativa, para serem feitos quando o es-
sá do ano findo para ser apresentado em Mesa geral;
tado e rendimento da Santa Casa o permitam:
9. ° Nomear, no caso de impedimento, um Irmão para o i. ° Procissão do Senhor, dos Passos;
substituir, sendo responsável por todos os actos deste, como se 2. ° Procissão de quinta-íeira santa;
por si mesmo fossem praticados. 3. ° Novenas e festividade do Espírito Santo;
§ único. Se o Tesoureiro não quizer nomear, ou falecer, 4. ° Sermões das Domingas de Quaresma;
compete à Mesa administrativa, a nomeação de outro Tesou- 5. ° Missa, cantada ao Senhor dos Passos;
reiro. 6. ° Missa, cantada a Nossa Senhora das Dores.
Art. 39. ° - No caso que à Santa Casa venham heranças
ou deixas com satisfações imediatas em forma de disposição tes-
330 331
CAPÍTULO XI Art. 47. °-O Capelão terá por dever:
i. " Celebrar na Igreja da Santa Casa o Santo Sacrifício da
.

Missa, todos, os dias menos às sextas-feiras, que será na Capela do


Dos enterros
Senhor dos Passosi todas com intenção por alma dos Irmãos vivos
e defuntos;
Art. 43. ° - A Mesa Administrativa é obrigada a acompa- 2. ° Oficiar em todas as Funções da Irmandade;
nhar todos os enterros, em que sair ou pertencer sair a turn- 3. ° Acompanliar a Mesa ou Irmandade em todas as Procissões
ba rica.
e enterros, e quaisquer outros actos públicos, e a todos os mais que
§ l. ° Qualquer Irmão de Mesa pode para estes actos, no
forem designados no Regimeiito interno.
caso de impedimento, fazer-se substituir por outro Irmão, me-
nos o Provedor, a quem só poderão substituir os Irmãos de Me-
sá por ordem de seus cargos. CAPITULO XIII
§2.° Quando haja enterros a que tenha de assistir a Me-
sá, o Provedor mandará oportunamente avisar pelo servente da Do Enfermeiro
Casa a cada um dos Mesários da hora em que deverá ter lu-
gar o enterro. Art. 48. ° - Para eafermeiro ou enfermeira escolher-se-á pes-
3. ° Sendo porém de Irmão, Mãe, Mulher ou viuva não soa de reconhecida caridade, amor do próximo, fidelidade, e que
casada deste, falecido no limite desta Cidade, a que a Irman- em tudo seja apta para exercer um mister que demanda o maior
dade toda tem de concorrer, o Escrivão inandará dar dois si- carinho e devoçção: as suas obrigações serão inarcadas pelo Re-
nais no sino da Igreja, pelo servente da Casa, um ao anoitecer gimento interno.
do dia véspera do enterro, e outro no dia do mesmo pela ma-
nhã, para assim indicar à Irmandade, que faleceu um de seus CAPITULO XIV
Membros, para quem se pedem os sufrágios pessoais.
Art. 44. ° Reunida a Mesa ou Irmandade, o enterro se fará Do Sacristão
pela ordem que for designada no Regimento interno.
Art. 49. ° - O Sacristão será uma pessoa fiel, humilde, vir-
CAPITULO XII tuosa e decente. O Regimento interno marcará suas obrigações.

Do Capelao e seus dieveres


CAPITULO XV

Art. 45. ° - O Capelão da Santa Casa será um Presbítero, pro- Do Servente

posto pelo . Provedor e aprovado pelo Ordinário, de merecimentos e


virtude:
Art. 50. ° - Haverá um servente, cuja nomeação deverá recair
reconhecida em igualdade de drcuns-fcâ.ncias pi eferirá o
em indivíduo que não seja Irmão, de bons costumes, humüde, e
Eclesiástico que for Irmão.
em tudo proporcionado ao serviço do seu ministério.
Art. 46. ° - O Capelão depois de nomeado, não poderá ser
§ 'único. Usará em todos os actos públicos da Irmandade um
despedido a não ser por falta de execução em seus deveres, 011
balandrau de fazenda de lã azul, fornecido à custa da Santa Casa.
quando se torne incapaz ou indigno do seu ministério; em qualquer
Art. 51. °-As obrigações do Servente serão reguladas pelo
destes casos a Mesa administrativa, depois de o ouvir, e convencido,
Regimento interno.
o poderá despedir, procedendo logo la escolha e nomeação de outro,
para o substituir.
.
332 333
CAPÍTULO XVI Art. 57. ° - No caso que o íestador deixe à Santa Casa fazen-
las 3u bens com a reserva de os possuir alguma oa mau; pessoas
De como se hao-de aceitar e executar os Testamentos durante a sua vida, a Mesa administrativa ou geral 03 não poderá
vender enquanto vivos forem, os usufrutuários, mas sim os fará sem
c'emora inventariar, vigiando e pondo todo o cuidado em que se não
Art. 52 - No caso de que alguma pessoa, deixe por herdeira
ou testamenteira a Santa Casa, a Mfisa administrativa antes da deteriorem, para o que requererá no Juízo de Direito contra o usu-
aceitação testamentária, considerará maduramente sobre a natureza frutuário para que preste caução de bene atendo et ae damno "es-
e encargos dai herança, consultando, quando necessário seja, um sartiendo; e a Mesa ou Mesas que por inclina ou desleixo deixa-
ou mais jurisconsultos, a quem devem ser presentes todos os papeis rem de inventariar, ou deteriorar tais herança.s, ficam responsá-
veis a indemnizar por seus bens os prejuízos que resultarem la, San-
e esclarecimentos concernentes ao objecto; e quando de tais exa-
ta Casa.
mês se depreenda a utilidade e conveniência da aceitação da heran-
ca, a Mesa recorrerá & Mesa Geral, a fim de que esta a autorise
para o recebimento da herança, que aceitará a benefício de iaven- CAPITULO XVII
tário, praticando e satisfazendo imediatamente as indicações do le-
gatário; porém quando se reconheça não ser líquida a herança, e De como se hao-de dor os dinheiros o juro
que ainda tentados os meios judiciais, ela se não possa obter ou
não chegue para cumprir as últimas vontades do testador, a Mesa. Art. 58. ° - Havendo a Santa Casa de dar algum dinheiro a
geral não autorizará por forma alguma a aceitação da mesma he- juros, a pessoa que o pretender, dirigirá um requerimento à Mesa,
rança. declarando a quantia, a hipoteca que oferece para segurança e qual
único. Resolvida a aceitação da herança, o Escrivão lançará o fiador e principal pagador do próprio e juros O' Provedor e mais
no livro para isso destinado, a cópia do testamento e bem assim a Irmãos da Mesa recebido o requerimento, averiguarão cada um de
folha da deixa extraída do Inventário, havendo-o. per si, com circunspecção e exame o mais escrupuloso das quali-
Art. 53. ° - As formalidades do artigo antecedente serão sem- da,des do pretendente, das hipotecas, do fiador e principal pagador,
pré as mesmas, mutatis mutandis, em todos os mais casos que pos- de forma que estabeleça um juízo certo de segurança dos fundos
sam vir à Santa Casa, bens móveis ou de raiz, ou fundos por deixa, que se vão conceder, tendo sempre, em vista as seguintes cláusulas:
cedência ou por outro qualquer título. i. a Que a hipoteca seja livre e desembaraçada de todo e qual-
Art. 54. ° - Logo que a Irmandade entrar de posse dos bens quer ónus;

móveis,, semoventes ou de raiz, a Mesa pedirá à Mesa Geral a pré- 2. a Que se apresentem os títulos por que se possuem tais bens,
via autorização para os poder vender ou aforar, o que fará perante ou pelo menos prova de antiga e pacífica posse;
si em hasta publica, cujos termos o Escrivão lavrará no livro a que 3. a Que o valor dos mesmos não seja inferior ao duplo do va-
alude o § único do artigo 52. lor a q,ue vão ficar sugeitos;
Art. 55. °-As disposições exaradas nos três artigos antece- 4. a Que o fiador seja chão e abonado, que se obrigue como
dentes, ficam, pelo que diz respeito à aquisição e alienação de bens principal pagador, igualmente com sua Mulher, sendo casado, à
ou fundos, dependentes, como é de Direito, da autorização Régia. satisfação do capital e juros, assinando as escrituras;
na conformidade das leis vigentes. 5. a Que o requerente tenha conceito estabelecido de homem
Art. 56. ° - A Mesa administrativa ou geral não poderá dis- probo, de boas e rectas contas.
trair quantia alguma do produto dos testamentos ou deixas, sem Art 59. ° - Preenchidas as cláusulas do artigo aatecedente,
que primeiro estejam cumpridos todos os legados externos â Santa a Mesa deferirá ao requerimento^ e no acto da entrega do dinheiro,
Casa.
334 335
fará lavrar escrituras públicas do livro de Notas, assinada pelo re- Bragança e sala da casa do despacho da Santa Casa da Mise-
ricórdia dr' Bragança, 29 de Maio de 1856.
querente, fiador e mulheres, sendo casados.
§ único. O indivíduo, que receber o dinlieirOi mandará ex-
O Presidente -. Manuel Nunes de Matos
trair pelo respectivo Tabelião um traslado da escritura, que en-
tregará ao Escrivão da Mesa para ser lançada no Inventário e ar- O Vogal - Firmino António Trancoso
O Logal - João Evangelista Vergueiro
quivada, fazendo o dito Escrivãoesclarecimentos de tiido no livro
competente.
Art. 6o. °-É expressamente proibido dar dinheiro a juros Aprovado por Decreto desta data. Paço de Mafra em dois de
aos Irmãos que forem Membros da Mesa Administrativa. Julho de mil oito centos e cincoenta e seis.
Art. 6i. ° - As fcscrituras de juros não poderão ser distratadas
senão a rogo dos devedores ou íiadores, ou quando por qualquer 7. <?. da Silva Sanches
incidente imprevisto corra risco a sua segurança: nesta segunda hi-
pótese a Mesa geral decidirá da necessidade do distraio, auton-
zando a Mesa Administrativa a proceder a ele.
Art. 62. ° - A Mlesa, que infringir as disposições deste Capí-
tulo, pagará por seus bens um por todos e todos por um os prejuí-
zos que resultarem à Santa Casa.

CAPÍTULO XVIII

Disposições gerais

Art. 63. ° - Os Membros da Mesa reunidos represeníarão sem-


pré a Irmandade.
Art. 64. °-^ Todos os objectos que forem doados à Santa Ca-
sá da Misericórdia, ficarão sendo por este facto próprios da Irman-
dade. Nesta disposição são compreendidas as deixas testamentánas
aceites pela Irmandade.
Art. 65. ° - As faltas que houver neste Compromisso poderão
ser preenchidas por artigos adicionais.
Art. 66. ° - O' presente Compromisso principiará a ter exe-
cução logo que for aprovado pelo Governo, e poderá ser alterado,
havendo sido primeiramente consultados todos os Irmãos em Mesa
geral, e concordando nisso os dois terços dos Irmãos prese-ntes.
§ i.° Nas alterações, que houverem de fazer-se, se respeita-
rão sempre os fins e direitos estabelecidos neste Compromisso.
§ 2. ° Nenhuma mudança, aditamento, ou snpressão que haja
de fazer-se neste Compromisso, depois de aprovado, poderá ter for-
ca ou validade sem nova aprovação Régia.
337
3. ° Sufragar as almas dos irmãos vivos e defuiitos, e propor-
cionar-lhes o goso das indulgências que Sua Santidade houver por
bem conceder-Ihes e que constarem da respectiva Bula;
4. ° A conservação e aumento dum Hospital onde sejam tra-
tados os enfermos pobres e desvalidos, conforme as posses e rendi-
mentos destinados para tal fim;
5. ° Proporcionar curativos e operações no Ranço em casos
repentinos;
Novo Compromisso da Santa Casa da Míse- 6. ° [Socorrer os doentes pobres que não poderem ser tratados
ricórdia de Bragança, de J877 no Hospital, íacüitando-lhes o trajecto para outros hospitais e a
admissão neles, e íornecendo-lhes medicamentos, dietas e os mais

misteres, segundo as posses da casa;


CAPITULO' I 7. ° Promover esmolas, donativos ou quaisquer outros bene-
fícios de caridade para o Hispital;
Titulo, direitos e fins da Confraria 8. ° Socorrer os pregos pêlos mesmos meios e nos dias designa-
dos pela mesa;
Art. i. ° A Confraria continuará a ter o título de-CON-
9. ° Constituir-se em comissão de .beneficência, nos casos de
FRARIA DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIADE BRA-
qualquer calamidade pública, ou epidemia.
GANÇA- conservando a sua sede, antiguidades, direitos, deve-
rés, propriedade e regalias. CAPITULO II
Art. 2. ° Continuará a servir-lhe de Divisa uma bandeira guar-
necida de veludo preto, tendo em cada uma das quatro extremi-
Dois iriïiaos, suas classes e condições dte admissibilidadie, direríos
dades, cordões com borias pretas. Esta bandeira terá dum dos la- e deveres
dos o quadro de Nossa Senhora da Misericórdia, e do outro a Visi-
tação de Nossa Senhora, remataiido com uma cruz preta no centro Art. 5. ° Todos os católicos dum e doutro sexo . podem ser ir-
e cimo do Quadro. mãos desta Confraria, com as seguintes distinções e classificação:
Art. 3. ° Usarão os innãos de uma veste ou balandrau, de cor i. a Irmãos da Misericórdia;
preta feita de fazenda de lã, do talhe e forma dos que actualmente 2. a Simplesmente irmãos do Senhor dos Passos;
se usam. A veste do Provedor será do mesmo feitio e cor, mas de 3. a Irmãos beneméritos.
fazenda de seda, sendo o cordão, borla e forro do capuz, de seda § i. ° Só podem ser irmãos da Misericórdia os católicos do sexo
roxa, devendo esta ser fornecida pela Santa Casa e propriedade da masculino de maior idade, ou emancipados, residentes nesta cidade,
inesma. que tenham boa conduta religiosa, moral e civil.
§ único. Os que se inscreverem irmãos .do Senhor dos Passos § 2. ° Podem ser confrades do Senhor dos Passos, não só os
somente, nos termos da parte segunda do art. 5. ° e do § 2. ° do indivíduos designados no § antecedente, mas também os que resi-
mesmo art.. usarão de veste roxa. direm fora da cidade, - as mulheres e os menores apresentando
Art. 4. ° Os fins desta Confraria são: autorização, aquelas de seus maridos, se forem casadas, e estes de
i. ° A prática regular das obras de misericórdia em serviço e seus pais ou tutores.
devoção de Nossa Senhora da Misericórdia, Padroeira da Confraria; Art. 6. ° Todo o indivíduo que for confrade da Misericórdia,
2. ° O culto de Seu Unigénito Filho Nosso Senhor Jesus Cris- é, ipso-facto, confrade do Senhor dos Passos.
to, venerado sob a invocação de Senhor dos Passos;
338 339
Art. 7. ° Para ser irmão da Misericórdia é preciso, além dos a todos os indivíduos de ambos os sexos, ou sejam irmãos da Mi-
requisitos mencionados ao § i. ° do art. 5. °: sericórdia ou do Senhor dos Passos, ou não, quando se tornem di-
i. ° Não ser criado de servir, praça de pret, ou guarda da gnos dêsia distinção, por dádivas, doações ou serviços relevantes
fiscalização externa, por serem esses misteres incompatíveis cora prestados à Confraria.
os encargos de irmão. Art. 12. ° O título de irmão benemérito só poderá ser conferido
Art. 8. ° A admissão dos iraiãos da Misericórdia, far-se-á por em assembleia geral, e sob proposta da mesa gerente.
meio de votação da mesa gerente, sob requerimento do pretenden- Art. 13. ° Os irmãos beneméritos gosarão de todas as regalias
te, e verificada a existência das condições exigidas pelo § i. ° do e direitos que competem aos outros irmãos, com isenção de todo e
art. 5. °, e a dos irmãos do Senhor dos Passos far-se-á por simples qualquer encargo ao serviço da masa.
inscrição, pagando os pretendentes previamente a respectiva pró- § único. Passar-se-ão dois diplomas a cada um dos irmãos be-
pina.
iieméritos, um dos quais será entregue ao agraciado e o outro será
§ 'único. A votação para irmão da Misericórdia far-se-á por colocado na secretaria da igreja.
escrutínio, e julgar-se-á admitido o que obtiver a. maioria dos vo- Art. 14. ° A admissão dos irmãos da Misericórdia é gratuita,
tos dos mesários presentes. ficando, porém, os admitidos, sujeitos ao serviço da casa, nos ter-
Art. 9. ° Nenhum irmão, em geral, poderá gozar dos respec- mos do art. l6. ° § 2. °.
tivos direitos e regalias sem que apresente a sua opa ou veste feita Art. 15. ° Os irmãos do genhor dos Passos pagarão de jóia qui-
à sua custa. Tihentos reis e de anuidade cento e sessenta reis, sendo residentes
§ 'único. A inobservância deste artigo importará a exclusão nesta cidade, e os que residirem fora pagarão cem reis de jóia e ses-
do irmão eleito ou inscrito, quando ele, sendo devidamente intima- senta reis de anuidade. Os herdeiros de uns e outros pagarão de lu-
do, não o cumprir no praso de dois meses. tuosa duzentos reis.
.

Art. io. 0 Os irmãos da Misericórdia, depois de eleitos e de Art. i6. ° Todos os irmãos são iguais em direitos e obrigações,
lavrado o respectivo termo de admissão, prestarão juramento de na classe a, que pertencerem, e assim:
fielmente cumprir as disposições deste compromisso. Este auto será. i. ° Aos irmãos da Misericórdia competem os segumtes di-
assinado pelo Provedor e irmão. reitos:

§ i." O juramento será prestado sobre os Santos Evangelhos i. ° Gozar de todos os sufrágios que se fizerem pêlos irmãos
nas mãos do capelão da Confraria e em presença üa mesa. vivos e defuntos, e das indulgências que forem concedidas â Con-
§ z. ° - A fórmula do juramento será o seguinte: Por estes fraria;
Santos Evangelhos, em que ponho minhas mãos, juro servir esta 2. ° Ser o seu cadáver depositado na igreja da Misericórdia
Confraria na forma do seu compromisso; juro votar nas eleições e gratuitamente, e alumiado por quatro brandões, e ser conduzido,
mesas a que assistir, sem ódio, suborno ou afeição, mas somente também gratuitamente, na tumba rica ao cemitério pela irmandade,
como a minha consciência me ditar, fará o aumento da Santa Casa falecendo nesta cidade;
e glória de Deus; juro guardar sigilo em, tudo o que debaixo de 3. ° Ser admitido no hospital de preferência aos que não fo-
sigilo me for incwmbido, man. da. do ou tratado, menos no que for re- rem irmãos, e aí tratado gratuitamente sendo pobre, e se tiver meios
lativo a ordens ou disposições da iw. toridade. e quizer recolher-se ao hospital e ser nele tratado, pagará a metade
§ 3-° Aos irmãos do Senhor dos Passos, depois de inscritos, do que estiver arbitrado para os doentes em iguais circunstâncias
passar-se-á uma carta ou diploma, sem dependência de juramento, e que não forem irmãos;
§ 4-° Uns e outros serão inscritos no livro do registo dos ir- 4. ° Tomar assento, apresentar propostas e indicações . teriden-
mãos, com a sua respectiva classificação. tes aos fins e aumento da Confraria, na assembleia geral;
Art. 11. ° O título de irmãos beneméritos poderá ser conferido 5. ° Discutir e votar;
340 341
6. ° Ser elegível para os cargos da Confraria, sabendo ler e es- 3. ° Aquele que sendo só irmão do Senhor dos Passos não pa-
crever; gar três anuidades consecutivas;
7. ° Examinar os livros da correspondência, da receita e des- 4. ° O que for pronunciado por crime a que corresponda pena
peza, das actas e do inventário da Santa Casa, na secretaria da maior;
mesma. 5. ° O que não cumprir o disposto 110 art. 9. °.
§ 2. ° Aos irmãos da Misericórdia incumbem as seguintes obri- § único. A exclusão de qualquer irmão deve ser discutida. e
gaçoes; votada por dois terços dos laesários presentes, e só se tornará efec-
i. ° Aceitar e servir os cargos da Confraria, para que forem tiva depois de confirmada, pela assembleia geral.
legalmente nomeados ou eleitos, excepto no caso de impossibilidade
física ou moral, legalmente comprovada, e cuja apreciação perten- CAPITULO III
cera à mesa gerente;
z. ° Comparecer na Santa Casa para a assembleia geral nos iDo assem.bleia geral
dias e horas marcados pela mesa gerente;
3. ° Assistir a todos os actos religiosos da. Confraria; Art. i8.° A assembleia geral é a reunião de todos os irmãos
4. ° Obedecer las ordens do Provedor dadas em harmonia e na do sexo masculino e de maior idade, sem distinção de classe e sob
conformidade do compromisso; a presidência do Provedor.
5. ° Acompanhar e levar lá sepultura os imiãos que falecerem Art. 19. ° A assembleia geral reunir-se-á ordinária e extraor-
nesta cidade, estando de turno; dinàriamente. A reunião ordinária terá lugar no penúltimo do-
6. ° Satisfazer, no que estiver ao seu alcance, as consultas e mingo anterior ao dia 2 de julho de cada ano.
deliberações da mesa, mandadas executar pelo Provedor; Art. 20. ° A assembleia geral não se haverá como constituída,
7. ° Conduzir-se fraternalmente com os mais irmãos, respei- nem poderá deliberar sem que estejam presentes, pelo menos, a
tando e fazendo respeitar o compromisso, regulamento interno, deli- maioria dos irmãos residentes na cidade.
berações da mesa e ordens do Provedor; único. Se no dia designado no artigo antecedentes não se
8. ° Solicitar a caridade pública em benefício da Confraria e reunir número legal de irmãos, ficará a sessão espaçada para o do-
seu hospital, por meio de subscrições, esmolas, doações ou outros mingo seguinte, e então funcionará com o número de irmãos que
meios lícitos e em harmonia com os fins e instituições da. Coiifra- aparecerem, qualquer que ele seja.
ria, e bem assim em favor dos encarcerados.
Art. 21. ° À assempbleia geral compete:
§ 3-° Aos simples irmãos do Senhor dos Passos, competem os i. ° A eleição' da mesa administrativa;
direitos enumerados nos n. 08 i. °, 2. °, 3. °, 4. ° e 5. ° do § i. ° deste 2. ° A admissão de irmãos beneméritos, sob proposta da mesa;
artigo, e incumbem-lhe as obrigações designadas nos 11. °' 2. °, 3. °, 3. ° Confirmar ou não a exclusão dos irmãos, proposta pela
4. °, 5-°> 6-°> 7-° e 8. ° do § antecedente. mesa;

Art. 17. ° Perde a qualidade de irmão: 4. ° Deliberar sobre a venda, troca ou inversão dos fundos da
i. ° Aquele que não acatar e cumprir as deliberações da mesa, Confraria, e aceitação de doações oneradas com legados, ou outros
e que sem motivo justificado recusar o cargo para que for eleito, encargos, observando-se as disposições das leis civis a este respeito;
ou o serviço que lhe for incumbido; 5.
° Deliberar sobre quaisquer outras medidas, reformas cu riC-

2. ° Aquele que tendo servido algum cargo que importe res- gócios de interesse para a Confraria.
ponsabilidade, se recusar a prestar contas, sem que esta pena o único. Na sessão ordinária da assembleia geral poderá tra-
.

exima da respectiva acção judicial; tar-se, além do objecto para que ela é convocada, qualquer outro
assunto de interesse para a Confraria.
342 343
Art. ia'.0 A assembleia extraordinária- reunir-se-á:
§ único. Não podem votar:
i. ° Quando o Provedor ou a mesa a convocar; i. ° Os irmãos do sexo feminino;
2. ° Quando doze irmãos, pelo menos, o requererem à mesa. 2. ° Os menores de z'i anos;
devendo neste caso declarar-se na petição qual o objecto e motivo Art. 26. ° Ao acto eleitoral precederá a recitação, ou canto
da convocação. da Ladainha de Nossa Senhora, a qual será entoada ou principia-
§ único. A esta reunião extraordinária é aplicável o disposto
da pelo capelão da casa no altar-mór e em presença do Santíssi-
no art. 20.°
mo Sacramento, terminando com o versículo Vem Sançte isfiritus
etc., e oração do Espírito Santo.
CAPITULO IV
Art. 27. ° A mesa da eleição será formada pelo Provedor, Pie-
sidente, e por dois escrutinadores e dois secretários, que serãc» elei-
Da mesa, sua eleição e atribuições tos por aclamação dentre os irmãos presentes, e a mesa provisó-
ria será nomeada pelo Provedor.
Art. 23. ° A administração e gerência de tudo quanto perten- Art. 28. ° A mesa da. eleição é competente para decidir todas
cer à Confraria estará a cargo de uma mesa eleita anualmente em as questões e dúvidas que se suscitarem sobre a validade do acto
assembleia geral dos irmãos. eleitoral, salvo porém o recurso para a assembleia gerai, que pelo
Art. 24. ° A mesa será composta de um Provedor, um Escri- Provedor do ano anterior será convocada para o resolver.
vão, um Tesoureiro, seis vogais e um procurador, com voto ünica- Art. 29. ° Quando na. eleição' para qualquer cargo houver
mente cor. sultivo.
empate na votação, será preferido o mais velho, e se ambos os
A eleição de Provedor deverá recair em pessoa qualiíicada eleitos tiverem a mesma idade, o que for irmão mais ant-lgc, e se
pela sua posição, saber e virtudes, e que não tenha menos de trinta assim houver empate, decidirá a sorte.
anos de idade.
Art. 30. ° A mesa eleita entrará em exercício no dia. 2 de iu-
Para os outros cargos devem ser escolhidos irmãos de rcconhe- lho, reunüido-se por oito horas da manhã lia igreja da Santa Ca-
cido mérito, aptidão e probidade, e que pela sua profissão, idade sá todos os irmãos com as suas vestes sob a prssidência da mesa
ou moléstia, não estejam impossibilitados de exercer o cargo. eleita.
§ único. Não podem ser eleitos membros da mesa: § i. ° À posse precederá uma missa cantada, à qual assisti-
i. ° Os que não souberem ler e escrever; rão todos os irmãos.
2. ° Os que forem devedores de qualquer quantia à Confraria, 2. ° Finda a missa o capelão, ainda paramentado, se co-
ou os que forem fiadores dos devedores; locará ao lado do Evangelho voltado para o povo, e tornará nas
3. ° Os que tiverem feito parte da mesa dissolvida pela auto- mãos os Santos Evangelhos, deferindo à mesa eleita o juramento,
ridade, não poderão ser votados na eleição subsequente a essa dis- cuja fórmula., lida pelo Escrivão ajoelhado do lado da Epístola, 'se-
solução. ra a seguinte: Por estes Santos Evangelhos em- que pomos as .mãos,
. Art. 25. ° A eleição da mesa gerente será feita na igreja da juramos cumprir religiosa-mente todas as obrigações que nos impõe
Misericórdia em assembleia geral dos irmãos e no penúltimo domingo o compromisso áesia Santa Casa. da Misericórdia; o Provedor e me-
anterior ao dia 2 de julho, procedendo-se a este acto por escrutí- sários ajoelhando sucessivamente e pondo a mão direita sobre o
nio secreto à pluralidade de votos da maioria dos irmãos residen- Evangelho dirão: Assim o juro.
tes em Bragança, e observando-se as formalidades decretadas e §3-° Prestado o juramento se cantará a Ladainha de Nossa
geralmente usadas nos actos eleitorais, convidando-se os irmãos Senhora, finda a qual, a mesa eleita dirigindo-se lá, casa do despa-
pelo modo que a mesa entender mais conveniente. cho entra em exercício.
344 345
Art. 31. ° A nova mesa receberá nesse mesmo dia da mesa Art. 35. ° Incumbe à mesa gerente:
cessante: i. ° Administrar bem e fielmente os fundos e bens da Confra-
i. °As contas da receita e despesa, em vista do competente or- ria, dando-lhes a legal aplicação;
çamento devidamente aprovado, e relativas ao tempo decorrido des- 2. ° Confeccionar e discutir todos, os anos o orçamento de re-
de a aprovação das últimas contas; ceita e despeza, e fazê-lo aprovar pela autoridade competente;
2. ° As alfaias, paramentos, dinheiro, títulos e todos os outros 3. ° Organizar o regulamento interno da casa» no qual se es-
objectos entregues e os que constarem do inventário. pecifiquem e definam as obrigações de cada um dos empregados e
Art. 32'. ° Todos os cargos da mesa são obrigatórios e gratui- a maneira prática de cumprir as prescrições do presente compro-
missa e de executar os diferentes serviços da casa;
tos, excepto o de procurador, e só poderão ser dispensados deles os
irmãos em quem se der alguma das seguintes causas de escusa: 4. ° Cumprir e fazer cumprir inteiramente o compromisso e
i. ° A idade de 65 ou mais anos; o regulamento interno;
z. ° Moléstia crónica de que resulte impossibilidade de assis-
5. ° Nomear os empregados da casa e arbitrar-lhes os ordena-
tir às reuniões da mesa e ao desempenho das obrigações. dos e gratificações, vigiar se eles cumprem as suas obrigações, de-
3. ° Mudança de domicílio para fora de alguma das freguesias miti-los, se para isso derem motivo, e nomear outros;
6. ° Tomar contas de três em três meses aos cobradores e
da cidade;
4. ° O facto de ter servido como mesário no ano imediata- procurador, ou a. quaisquer outros empregados a quem esteja co-
mente findo. metida a arrecadação, administração ou aplicação de alguns fun-
dos da Confraria;
i. ° A alegação dos motivos de escusa .será feita pelo inte-
7. ° Assistir às festividades religiosas, actos de beneficência
ressado dentro dos primeiros oito dias depois da eleição e peran-
e caridade e aos enterros, nos termos do art. 66. °;
te a nova mesa, que conhecerá deles, concedendo ou recusando a
escusa como fôr justo. 8. ° Deliberar em harmonia com os recursos da casa quais as
§ 2. ° A mesa reunir-se-á impreterivelmente e resolverá sobre festividades facultativas que podem e devem celebrar-se, como e
as escusas nos oito dias seguintes ia, apresentação delas, e se ou quando;
pelo número dos escusandos ou por outro motivo não houver nú- 9. ° Fazer celebrar com decência e com possível esplendor
mero legal para se constituir, serão convocados os mesários mais as festividades obrigatórias e mandar cumprir os sufrágios por al-
votados da mesa. cessante para preencher o número legal. ma dos irmãos, e os que a Confraria tem ou venha a ter a seu car-
§ 3-° O' Procurador receberá a gratificação que a mesa lhe go a bem dos seus bemfeitores;
arbitrar. io. ° Apresentar ia assembleia geral, no dia da eleição, um
relatório da, sua gerência e dos factos ocorridos durante ela, e bem
Ari. 33. ° As vacaturas dos mesários preencbidas pêlos ir-
mãos mais votados na última eleição, e na falta destes e também assim um mapa gorai da receita e despeza, o qual depois de exami-
no impedimento dos efectivos, serão chamados os do ano antece- nado pela assembleia geral, será afixado nas portas da igreja;
ii. ° Admitir irmãos e excluir os que o já forem, salvo neste
dente, segundo a ordem dos cargos que tiverem exercido, prefe-
rindo os mais votados aos menos e os mais velhos aos mais novos. último caso o disposto no § único do art. 9. ° e n. ° 3. ° do art. 21. °;
Art. 34. ° A mesa só poderá funcionar estando presentes, p.f- 12. ° Fixar no princípio de cada mês o número dos doentes
lo menos, a metade e mais um, ou cinco dos seus membros. 0's que podem ser tratados gratuitamente no hospital, isto em harmo-
nia com os recursos da casa, com as necessidades acorrentes e com
negócios serão decididos 'à pluralidade de votos dos presentes, e
havendo empate decidirá o Provedor, . que neste caso terá voto de as obrigações^a esta respeito contraídas com irmandades ou ou-
qualidade. De tudo o que a mesa deliberar se lavrará acta em li- trás corporações;
vro para isso destinado, autenticado pelo Provedor
346 347
13. ° Taxar o preço diário do tratamento dos doentes, que fraria e assiná-las com o Provedor, registando-as no livro respec-
quizerem recolher-se ao hospital, mediante retribuição; tivo;
i4. ° Fixar a taxa do depósito dos cadáveres na, igreja. 4. ° Passar os documentos de cobrança e assiná-los com o
Art. 36. ° Compete ao Provedor: Provedor e Tosoureiro;
i. ° Convocar os irmãos para a assembleia geral e os mem- 5. ° Passar as cartas de guia, que serão assinadas pelo Pro-
bros da mesa para as sessões, presidir a umas e outras e regular vedar somente;
os trabalhos delas;
6. ° Fazer a escrituração das contas anuais para serem pre-
2.° Rubricar todos os livros da escrituração, assinar os ter- sentes â autoridade competente, e organizar o mapa geral da recei-
mos de admissão de irmãos, os diplomas de irmãos &eneméritos ta e despeza para o fim indicado no art. 35. ° n. ° io. °;
e as cartas de guia; 7. ° Tomar, com o Provedor e Tesoureiro, contas gerais no
3. ° Ordenar o pagamento das despezas da Confraria em har- fim de cada ano aos cobradores e Procurador;
inonia com o orçamento e assinar as respectivas portarias; 8. ° Organizar as relações dos devedores com designação dos
4. ° Admitir os doentes no hospital e dar-Ihes baixa, não po- seus débitos e entregá-las ao Tesoureiro, fiscalizar a cobrança e
dendo exceder o número fixado pela mesa, precedendo as formali- apresentar à mesa, no fim de cada ano, a relação dos devedores
dades prescritas nos artigos 85. ° e seguintes. omissos para serem demandados;
§ único. Exceptuam-se os casos extraordinários de epidemia 9. ° Lançar no livro da matrícula os nomes dos irmãos elei-
e os de urgente necessidade, em que a humanidade e a caridade tos e inscritos, e lavrar o termo de admissão dos primeiros;
reclamam a pronta admissão, do que o Pro.vedor dará conta à me- io. 0 Fazer a descarga dos irmãos falecidos, excluidos ou que
sá. Neste caso qualquer mesário poderá ordenar a admissão; se' despedirem, extrair relações dos falecidos; 'entregando-as ao ca'
5. ° Fazer o abono de medicamentos e dietas aos doentes ex- pelão para este mandar fazer os sufrágios;
ternos;
íi. ° Fazer as relações dos turnos de irmãos para os enterros,
6. ° Superintender em todos os negócios da casa, vigiar sobre
organizando para isso uma tabela ou escala, nomear, também por
todos os empregados, adverti-los quando forem omissos e suspen-
escala, os irmãos que hão de pegar ao pálio e aos andores, ou le-
dê-los quando as faltas forem graves, dandoaparte à mesa na pri-
var outras insígnias ou fazer algum outro serviço nas festividades
meira reunião;
ou procissões da casa, ficando salvo aos nomeados o recurso para
7. ° Conciliar os irmãos que estiverem em desarmonia, adver- a. mesa;
tindo-os em particular ou perante a mesa, e restabelecendo a união 12. ° Fazer oportunamente a distribuição das figuras para a
e espírito de caridade entre eles; procissão do-Enterro do Senhor-em vista do respectivo livro,
8. ° Providenciar em todos os negócios e ocorrên.cias de mo- podendo, os que se julgarem agravados, reclamar perante a mesa;
mento que demandem pronta solução, dando oportunamente con- 13. ° Guardar debaixo da sua responsabilidade todos os livros
ta à mesa das medidas adoptadas. e mais papeis pertencentes à Confraria, os quais conservará na
Art. 37. ° Compete ao Escrivão: melhor ordem, respondendo por qualquer extravio 011 alteração
i. ° Lavrar as actas de todas as sessões tanto da mesa como a que der causa;
da assembleia geral; i4. ° Lavrar todos os termos, autos e diplomas, e Jazer toda
2. ° Escriturar os livros da receita e despesa da Confraria e a correspondência a cargo da mesa e da assembleia geral;
fazer inventário de todos os objectes dela, ou rectificá.- o já exis- i5.° Substituir o Provedor no impedimento deste, ou na au-
tente; senda,, que não poderá exceder a seis mezes.
3. ° Passai as portarias para pagamento das despesas da Con- Art. 38. ° Incumbe ao Tesoureiro:
i. ° Cobrar e arrecadar todos os rendimentos da Confraria,
348 349
mediante os documentos que para esse fim lhe forem entregues pelo CAPÍTULO V
Secretário;
2. ° Pagar todas as despesas à vista das portarias que lhe ío- Dos empregados da. Confraria e suas atribuições
rem apresentadas assinadas pelo Provedor e Secretário, cobrando
nelas recibo dos interessados; Art. 41. ° Haverá na Confraria os seguintes empregados: um
3. ° Lançar no diário e arrecadar todas as verbas de receita capelão-mór, outro menor, um sacristão, um servente, cobradores,
tanto eventuais como as que lhe forem entregues pêlos cobradores um facultativo e um enfermeiro.
e bem assim o juro das inscrições; § único. Quando os recursos da casa o permitirem, e o desen-
4. ° Prestar contas à mesa, sempre que lhe forem exigidas. volvimento do hospital o exigir, haverá, além destes, um ou mais
§ i. ° Além das qualidades enunciadas no art. 24. °, o Tesou- ajudantes do enfermeiro.
reiro deve ser irmão abonado, que tenha bens pêlos quais respon- Art. 42. ° Os capelães devem ser presbíteros de reconhecida
da por qualquer alcance em que incorra. ciência, virtude e capacidade, que não sejam devedores à Confra-
§ 2. ° No seu im^iedimento será substituído por um irmão da ria,. Serão nomeados pela Meza, sob proposta do Provedor e com
sua escolha e confiança, por cujos actos responderá. aprovação do Ordinário. Em igualdade de circunstâncias, serão
§ 3-° se o Tesoureiro não nomear quem o substitua nos seus proferidos os eclesiásticos que forem irmãos da Confraria, devendo
impedimentos, ou se falecer, compete à mesa a nomeação do subs- residir nesta cidade.
tituto, ou doutro Tesoureiro.
Art. 43. ° Os capelães não poderão ser exonerados senão
Art. 39. ° Compete aos vogais assistir às reuniões da mesa e quando faltarem- ao cumprimento dos seus deveres, e quairJo se
a todos os mais actos e festividades religiosas da Confraria, e de- tornarem incapazes do serviço ou indignos do seu ministério. Em
sempenhar quaisquer encargos que a mesa lhes confiar. qualquer destes casos, a Mesa é competente para os dsmitir, ou-
Art. 40. ° O Procurador; além de saber ler e escrever, deve vindo-os pi èviamente, e no caso de demissão, dsve logo nomeai
saber contar - incumbe-lhe:
outros que <j3 substituam.
i. ° Promover a cobrança dos foros, juros e mais rendimentos Art. 44. ° Incumbe ao capelão-mór:
da Confraria;
i. ° Celebrar missa na igreja da Santa Casa todos rs dias,
2. ° Vigiar se os cobradores cumprem com os seus deveres; aplicando-as por alma dos irmãos vivos e defuntos.
3. ° Executar as ordens do Tesoureiro, no que disser respeito § único. A missa nos domingos e dias santificados será dita
à cobrança; ao meio dia. .
4. ° Acompanhar os enterros e tomar nota dos irmãos do tur- 2. ° Oficiar em todas as funções da Confraria, sem invasão dos
no que faltarem, para ò fim designado nos art. 6. ° e 68;°; direitos que competem ao respectivo pároco;
5. ° Pedir a esmola para o Senhor dos Passos nas missas dos 3. ° Confessar e sacramentar os doentes do hospital e assiïti-
domingos e dias santificados; -los quando moribundos;
6. ° Promover o andamento de quaisquer processos judiciais 4. ° Acompanhar a M:esa e a irmandade em todas as procis-
ou administrativos, em que a Con.fraria seja interessada, distribuir soes; enterros, e em quaisquer outros actos públicos;
as insígnias nas funções e procissões e dirigir estas. 5. ° Fazer a encomen.dação dos irmãos falecidos;
6. ° Vigiar pelo asseio do Templo, e velar pe]a guarda c con-
servação de todos os ornatos, roupas, alfaias, vasos e mais guiza-
mentos, que servem para o culto;
7. ° Convida, r os clérigos para as funções da Confraria; excep-
to para pregar;
350 351
8. ° Mandar sufragar as almas dos irmãos falecidos, em har- 6. ° Cumprir as ordens da mesa e dos capelães:
monia com a relação que para este fim lhe for entregue pelo se- § i.° O sacristão usará de batina, volta e sobrepeliz, em todas
cretário, .preferindo para estes sufrágios o capelão-menor, e exe- as funções, procissões, enterros ou outros actos públicos, e quan-
cutar as deliberações da mesa respeitantes ao serviço da igreja, do ministrar nas missas das sextas-f eiras e domingos.
quando não forem contrárias à Sagrada Liturgia; § z. ° São aplicáveis ao sacristão as disposições dos artigos
9. ° Lavrar os assentos de óbito dos doentes que falecerem 43. ° e 46. °.
no hospital, e remeter ao pároco respectivo as indicações precisas Art. 49. ° Ficam a.bolidas e extintas as propinas e emolumentos
para lavrar o competente assento dos capelães, sacristães, ou outros empregados por qualquer serviço
da casa.
Art. 45. ° Incumbe ao capelão-menor:
i. ° Celebrar missa, em todas as sextas-feiras, domingos e dias. Art. 50. ° O servente deverá ser um indivíduo estranho à Con-
santificados na capela do Senhor dos Passos, e por intenção dos fraria; pode, porém, ser irmão do Senhor dos Passos, humilde e de
irmãos vivos e defuntos; bons costumes, nomeado pela. mesa, sob proposta do Provedor, e
§ único. A liora destas missas será às oito da manhã, desde que não tenha menos de 18 anos: usará de balandrau de lã azul,
o dia. i. ° de março a 31 de Outubro, e às 9 horas, desde i. ° de íornecido pela. casa. Incumbe-lhe:
novembro ao 'ultimo, de fevereiro. i. ° Coadjuvar o enfermeiro enquanto não houver ajudantes
2. ° Coadjuvar o capelão-mór, substitui-lo;, nos seus impedi- para o serviço do hospital;
mentos é. cuaiprir as ordens legais que este lhe der; 2. ° Auxiliar o sacristão na limpeza, e asseio do Templo, sg-cris-
3. ° Assistir às funções .da Confraria, e acompanhar esta nas tia, vasos e mais guizamentos;
procissQçs'e. outros actos pi úbUcos; : , :. :. ,. ... . 3. ° Avisar os innâos para quaisquer funções religiosas, para
4. °. Celebrar as missas de sufrágio.pelas, almas dos irroãog que os enterros,, ou para qualquer reunião ou serviço da casa;
falecerem,,, segundo, a relação que lhe. der o capelão-mór... . 4. ° Tanger o sino, tanto para as missas e funções da casa,
Art. 46. ° Os capelães perceberão o ordenado que lhes for como para anunciar a morte e o enterro dos :rmãos, ou doutras
arbitrado . pela mesa, e consignado no o.rçameato. devidamente apro- quaisquer pessoas;
vaâo. Esse . ordenado será propõrcioiiado aos encargos e serviços 5. ° Acompanhar a mesa e a irmandade, precedendo-a com a
de cada um deles. , ; . ... . . campainha;
Art. 47-° O' sacristão será um clérigo minorisfa, tonsurado ou. 6. ° Servir de porteiro ou continuo, quando funcionar a mesa,
simplesmente licenciado, que não terá menos de quatorze anos de ou a assembleia geral;
idade, virtuoso, humilde e decente. A sua iiomeação será feita pe- 7. ° Cumprir as ordens da mesa e dos demais empregados da
la mesa sob proposta do Provedor. casa.;

ArtJ 48. ° Incumbe ao sacristão: § único. São aplicáveis aos serventes as disposições dos arti-
i. ° Conservar em seu poder e sob sua responsabilidade, as gos 43. ° e 46. 0.
chaves do Templo; Art. 51.° Os cobradores dos foros,, anatas e mais reditos da
2. ° Fornecer vinho e hóstias para as missas da casa; casa, serão irmãos de provada honradez e capacidade, que tenham
3. ° Abrir todos os dias e fechar a hora conveniente, as por- alguns bens de fortuna próprios, e que saibam ler e escrever. Serão
tas da igreja, e ajudar às missas da casa; nomeados pela mesa gerente, que fica responsável pêlos prejuízos
4. ° Cuidar da limpeza e asseio do Templo, da sacristia, dos que causarem.
vasos e mais guizamentos; Art. 52. ° Os cobradores deverão proceder à cobrança, nas
5. ° Assistir a todas as funções da casa, acompanhar os enter- épocas designadas pela mesa, recebendo, do secretárioos documen-
ros, e ministrar aos capelães sempre que oficiarem;
352 353
tos respectivos, dos quais deixarão recibo na mão do mesmo secre- § i. ° O enfermeiro residirá sempre no hospital, onde terá a
tário. sua casa e economia.
Art. 53. ° Feita a cobrança, deverão os cobradores apresentar § 2. ° S aplicável ao enfermeiro o disposto nos artigos 43.°
em mesa as suas contas ao provedor, escrivão e tesoureiro, entre- e 46. °.
gando as quantias que se liquidarem. § 3-° A mulher, mãe, irmã ou filha do enfermeiro coadjuvará
Art. 54. ° Os cobradores receberão uma gratificação propor- este e terá a seu cargo o serviço das enfermarias das mulheres, sob
cionada ao seu trabalho, a qual será arbitrada e votada pela. mesa responsabilidade do enfermeiro.
todos os anos no respectivo orçamento, e, não o sendo, regulará o Art. 6o. ° As obrigações do enfermeiro são as que constam do
arbitramento do ano anterior.
capítulo 8.°, secção 2'. a, artigo 84.° do presente compromisso, e as
único. O' número dos cobradores será fixado pela mesa, em.
roais que forem consignadas no regulamento interno da casa.
harmonia com o desenvolvimento que a Confraria tiver, e com o
aumento ou diminuição dos rendimentos.
CAPITULO VI
Art. 55.° Haverá na Santa. Casa um facultativo externo, que
tenha o curso legal da faculdade de Medicina da Escola Médico-
-Cirúrgica do Porto ou de Lisboa. Festividiades, sufrágios e encargos religiosos da Santa Caso
Art. 56. ° A nomeação do facultativo pertence à mesa, pre-
cedendo concurso público por documentos, e preferindo os que pro- Art. 6i. ° São obrigatórias as seguintes festividades, sufrágios
varem mais habilitações científicas e merecimento clínico. e encargos religiosos:
Art. 57.° Ê aplicável ao facultativo a disposição dos artigos i. ° Uma missa diária pêlos irmãos vivos e defuntos;
43. ° e 46. °. 2. ° A missa das doze horas em todos os domingos e dias SEUI-
tificados;
Art. 58. ° As obrigações do facultativo são as que constam do
capítulo 8. °, secção 2. », artigo 83. ° do .presente compromisso, e as 3. ° A missa do Senhor dos Passos, na sua capela, nas sextas-
mais que forem consignadas no regulamento interno da casa. -feiras, domingos e dias santificados, nos termos do artigo 45. °, nu-
mero i e seus parágrafos.
Art. 59. ° Haverá um enfermeiro, que será nomeado pela me-
4. ° Missa cantada e procissão de Passos, com sermões de Pré-.
sá, precedendo concurso documental, sendo preferido o que reunir
todas ou maior número das qualidades seguintes: tono e Calvário na segunda dominga da quaresma ou no dia para.
i. ° Não ter menos de trinta anos de idade, e não exceder a que for transferida, pela mesa.

quarenta e um;
§ i.° Quando por algum motivo grave não se poder fazer a
2. ° Ser casado e sem filhos, solteiro ou viúvo, que tenha em procissão dos Passos, e a mesa assim o resolver, nem por isso dei-
xará de haver missa cantada ao Senhor e sermão.
sua companhia irma, filha ou mãe, não menores de vinte e cinco
anos, nem maiores de cincoenta e cinco.
5. ° Missa cantada à Visitação de Nossa. ISenhora, no dia 2
de Julho;
§ único. Quando não aparecer indivíduo algum, que reuna. li-
6. ° Missa cantada a Santa Maria Madalena, no dia 22 de
teralmente alguma das condições do número 2, a mesa escolherá
Junho;
o que relativamente as preencher melhor.
3. ° Ter saúde e robustez; 7. ° Ofício geral no dia 3 de Novembro, pêlos irmãos defuntos;
8. ° A procissão do Enterro do Senhor;
4. ° Ter boa conduta religiosa, moral e civil;
9. ° Missa do Espírito Santo;
5. ° Saber ler, escrever e contar;
6. ° Ter alguns bens de seu, ou prestar caução pelo extravio io. ° As missas que forem impostas por legados pios, aceites
pela Confraria;
dos objectos que lhe tenham sido entregues.
11. ° Três missas por alma de cada irmão que falecer, pagando
12
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seus herdeiros a lutuosa designada no art. 15. ° e as anatas em dí- sais compostos de doze irmãos da Misericórdia, não mesános, e de
vida. Se o irmão defunto tiver servido algum cargo, na casa, terá outros doze irmãos do Senhor dos Passos, residentes nesta cidade,
mais uma/ missa. procedendo nessa nomeação com toda a igualdade, e podendo os no-
§ i. ° Estes sufrágios serão reduzidos, se os fundos da Confra- meados reclamar perante a mesa, quando julgarem injusta a sua
ria não chegarem para os cumprir integralmente; e quando os re- nomeação.
cursos da mesma. Confraria, o consentirem, celebrar-se-á também § único. Logo que o ruúmero de irmãos o permitir, os turnos
um ofício de corpo presente, do número de seis padres, por cada serão mensais.

um dos irmãos. Art. 66. ° Os mesários concorrerão também aos enterros pela
2. ° A. mesa. incumbe fixar estes sufrágios no princípio do forma seguinte:
ano da sua gerência em harmonia, com os recursos da irmandade. § l. ° O provedor, escrivão e tesoureiro formarão turno entre si,
Art. 62. ° Sã.o facultativas as seguintes funções, as quais se- desempenhando cada um este serviço durante quatro meses do ano,
rão celebradas quando a mesa o deliberar, tendo em atenção o ren- ou acordando-se de maneira, que compareça sempre um deles;
dimento da casa: § 2. ° Os seis vogais formarão três turnos de dois, servindo
i. ° Novenas e festividades do Espírito Santo; cada um desses turnos quatro meses.
2. ° Missa cantada ao Senhor dos Passos em todas as sextas- § 3-° O procurador comparecerá sempre;
-feiras da quaresma; § 4-° se o enterro for de algum irmão que tenha, servido na
3. ° Missa cantada a Nossa Senhora das Dores; casa algum cargo, comparecerá a mesa toda.
4. ° Procissão de Quinta-Feira Santa; Art. 67. ° O irmão que estiver de turno poderá, substituir-se
5. ° Sermões nas domingas da quaresma. por outro.
§ i.° O irmão que estando de turno não comparecer nem se
CAPITULO VII
fizer substituir, ou não justificar legalmente a sua falta, pagará
de cada uma, vez que faltar 115 gramas de cera, ou o seu valor,
para a casa.
Dos enterros
§ 2. ° O que faltar três vezes sem se substituir, nem pagar a
Art. 63. ° À Confraria da Misericórdia incumbe acompanhar multa ou sem justificar a falta, será avisado de ordem do Prove-
todos os enterros em que sair a tumba chamada- RKa,- ; quer dor, pelo Procurador, lembrando-Ihe qual a disposição do compro-
eles sejam de irmãos da Misericórdia, quer de simples confrades do misso, e marcando-lhe um praso para pagar as multas, ou para. se
Senhor dos Passos, quer de pessoas estranhas. Este serviço será re- justificar. Se dentro desse praso não cumprir, será riscado.
guiado pela maneira, declarada nos artigos seguintes: Art. 68.° O Procurador tornará nota dos irmãos, que estando
Art. 64. ° .Logo que faleça um irmão seja da Misericórdia seja de turno laltarem, e entregá-la-á no fim de cada mês ao Escrivão
do Senhor dos Passos, e que desse facto tenha conhecimento o Pro- para o fim designado no artigo antecedente.
vedor, mandará este' pelo servente dar um sinal no sino da casa, ao Art. 69. ° âaverá um livro especial autenticado pelo Prove-
anoitecer da véspera do enterro, para anunciar à Confraria que fa- dor, no qual serão lançados pelo Escrivão os nomes dos irmãos de
tum. 0, notando-se em casa especial ao lado do nome de cada ir-
.

leceu um dos seus membros, a fim de q.ue orem por ele e fiquem
prevenidos para o enterro, e lio dia deste pela manhã,,logo depois mão, as faltas que cometer e se foram justificadas ou pagaram as
inultas.
do toque da Santíssima Trindade, dar-se-á outro sinal, e depois o
servente avisará da hora do enterro aos irmãos^ segundo o costu- Art. 70. ° Os enterros dos pobres que não íorem irmãos e cu-
me da casa. jas famílias não tiverem absolutamente meios para os fazer enter-
Art. 65. ° O escrivão nomeará para este serviço turnos tnmen- rar, serão feitos a expensas da Santa Casa.
357
356
§ único. Cada verba não poderá exceder a. dois terços das
§ i. ° Para isto deverão os interessados apresentar ao Prove- sobras dos rendimentos anuais e cessará quando se tiverem cons-
dor atestado jurado do regedor e pároco respectivos, no qual se truido e reformado as enfermarias necessárias para. o movimento
declare aquela circunstância, sem o que não poderá ordenar-se o médio dos doentes, yotando-se neste caso só a verba necessária para
enterro gratuito. reparos.
§ 2. ° A disposição do § antecedente não é aplicável aos doen- Art. 76. ° A mesa promoverá por todos os meios ao seu al-
tes que falecerem no hospital da Santa Casa. cance, subscrições, donativos e esmolas com aplicação a estas obras.
§ 3-° A condução dos cadáveres dos pobres para o Art. 77. ° Das esmolas, legados ou doações que forem feitas
tério será feita por seis homens à escolha do Procurador, obser- à Santa Casa, sem aplicação especial designada pêlos benfeitores,
vando-se o uso e costume estabelecido emquanto à remuneração empregar-se-á a metade nas obras mencionadas até à sua con-
deste serviço, ou arbitrando-a a mesa. clusão.
4. ° Acompanharão o cadáver - o servente levando a ban- Art. 78. ° A disposição das enfermarias, as classes de doentes
deira da Confraria, e o sacristão, sempre que o respectivo pároco para que devem ser destinadas, as condições de higiene e tudo o
comparecer. mais que respeite às matérias do hospital, será determinado no re-
Art. 71. ° O disposto nos art. 63.° a, 69. ° é aplicável ao en- gulamento interno.
terro dos irmãos do'Senlior dos Passos, que sendo domiciliados fo-
ra de Bragança, vierem residir a esta. cidade, ou que achando-se SECÇÃO II
nela acidentalmente, aqui falecerem.
Do pessoal
CAPITULO VIII
Art. 79. ° O pessoal do hospital compõe-se do Provedor, que
Do Hospital é enfermeiro-mor. dum mordomo, um facultativo, um enfermeiro
e um servente.
SECÇÃO I
único. Quando os recursos da o permitirem e o mo-
Do material do Hospital vimento do hospital o exigir, haverá um ou mais ajudantes do
enfermeiro.
Art. 72. ° O hospital continuará na parte do edifício da Santa. Art. 8o.° Ao Provedor, como enfermeiro-mor e chefe supe-
Casa destinado para ele. lior do hospital, compete:
Art. 73. ° Haverá enfermarias separadas para homens, para. l°. Exercer suprema inspecção sobre o hospital, sobre todos
mulheres, para doentes de moléstias sifilíticas e para os presos. os empregados dele e sobre os doentes, fazendo manter a ordem e
civis, e além disso haverá. quartos para particulares que quiserem cumprir as disposições do presente compromisso e do regulamento
tratar-se no hospital à custa deles, os quais quartos serão tantos interno;
quantos comportarem as proporções do edifício, os recursos da casa. 2. ° Fazer observar a mais rigorosa decência e honestidade,
e a concorrência de doentes.
tanto aos empregados como aos doentes, comunicando à mesa as
Art. 74. ° As enfermarias devem ser espaçosas, convenien- infracções que descobrir, para serem os seus autores punidos nos
temente ventiladas e nas condições de higiene prescritas pela. termos deste compromisso e do regulamento interno;
ciência.
3. ° Propor à mesa a requisição e sortimento das roupas neces-
Art. 75. ° A mesa votará todos os anos, no orçamento, uma. sanas, e ordenar que as camas dos doentes tenham os que lhe per-
verba para reparos e melhoramentos das enfermarias existentes e tencsm e estejam com limpeza e decência;
para a construção de outras.
358 359
4. ° Averiguar se nos géneros fornecidos para o hospital há conferirá quando dele as receber, relacionando também as que
algum desperdício ou descaminho e por quem cometido, dando lhe forem dadas à lavadeira, conferindo-as no acto da recepção;
parte à mesa dos abusos que a este respeito descobrir; io. ° Passar um vale para pagamento da lavagem da roupa,
5. ° Propor à, mesa todos os melhoramentos de que o hospital em vista do qual o Escrivão passará a competente portaria;
carecer. li. 0 Inspecionar o serviço da, cozinha, vigiando se ele se faz
Art. 8i. ° O mordomo é um delegado da mesa, junto do hos- com limpeza, e fazer o fornecimento do combustível para o mês,
pitai, para o seu bom regime. Este cargo será exercido aos meses passando, um vale da sua importância, o qual será entregue ao Es-
pêlos seis vogais da mesa e segundo a distribuição que ela fizer em crivão para por essa importância passar a respectiva porfaria;
sessão no princípio do ano do seu exercício, lançando-se na respec- i2. ° Vigiar se as dietas e as rações que se distribuem aos doen-
tiya acta essa distribuição. tes externos lhes são entregues fielmente;
Art. 82. ° Incumbe ao mordomo: i3. ° Dar conta ao Provedor de todas as irregularidades que
i. ° Visitar o hospital pelo menos duas vezes no dia, de ma- observar no serviço do hospital.
nhã uma ou duas horas antes de se distribuir o jantar aos doentes Art. 83.. ° Incumbe ao facultativo da Santa Casa:
e de tarde uma hora antes da ceia, e extraordinariamente de ma- i. ° Visitar os doentes dela todos os dias o mais tardar às dez
nhã antes do almoço ou da hora da limpeza e à noite antes ou horas da manhã no' inverno e às nove no verão;
depois da hora do recolher, vigiando sempre se os empregados cum- 2. ° Fazer segunda visita de tarde, às horas que lhe parecer,
prem as suas obrigações e inspeccionando pelo menos duas vezes aos doentes que carecerem ser observados mais de uma vez por dia;
no dia as enfermarias; 3. ° Ouvir e tratar os doentes com caridade e paciência, exa-
2. ° Inquirir dos doentes por maneira discreta, se o enfermei- minando-os com atenção e aplicando-lhes, com o maior escrúpulo,
ro reparte fielmente o pão, as dietas e rações, e se ou pelo enfer- os remédios convenientes;
meiro ou pêlos próprios doentes, são dadas ou vendidas para fora; 4. ° Fazer o receituário e lançá-lo no livro competeiite, indicar
3. ° Formular diariamente, em presença do mapa das dietas o modo e condições da aplicação dos medicamentos e prescrever as
e rações, o vale para o fornecimento dos géneros para o dia se- dietas e rações, escrevendo tudo nas papeletas;
guinte, mandaii. do-0 em seguida ao Provedor para o visar e entre- 5. ° Fazer o diagnóstico da moléstia e escrevê-lo na papeleta
gando-o depois ao enfermeiro; na parte respectiva, até ao terceiro dia depois da entrada do doente
4. ° Fazer entrar nas enfermarias todos os remédios e o livro do no hospital. Se, porém, ainda ao terceiro dia o facultativo não pu-
receituário, até à hora e meia da tarde impreterivelmente; der fazer o diagnóstico, descreverá os principais sintomas que po-
5."Observar se o facultativo visita regularmente os doentes dem caracterizar a moléstia, - mas no quinto dia impreterivel-
â hora marcada; mente será descrita a moléstia;
6. ° Inventariar e pôr em arrecado o espólio dos doentes na 6. ° Observar se as aplicações que tiverem sido feitas na vi-
sua entrada para o hospital, entregando-o ao doente quando sair sita antecedente, foram observadas e cumpridas, e vigiar pela qna-
curado, ou ao Tesoureiro se o doente falecer: lidade e distribuição dos remédios;
7. ° Inspecionar se o enfermeiro lavra os assuntos de entrada. 7. ° Determinar e conceder, de véspera, as altas, e declarar iia
e saída dos doentes e se' o capelão lavra os assentos de óbitos; papeleta o resultado que a moléstia teve;
8. ° Arquivar durante o mês e, findo este, entregar ao Escri- 8. ° Participar ao Provedor directamente, ou por intermédio do
vão, as tabelas diárias das dietas e rações, para serem conferidas enfermeiro ou mordomo, a necessidade de se convocar qualquer con-
com os vales em poder do fornecedor; sulta ou conferência, designando o dia e hora em que ela deve ter
9. ° Ter sob sua guarda e responsabilidade as roupas do hos- lugar;
pitai, fornecer as que o enfermeiro exigir, fazendo .um rol que
3.60 361
9. ° Indicar com a nota de Viético e União, que deve escrevsr 6. ° Tomar conta da roupa, dinheiro, papeis ou outros objectos
lias papeletas, os doentes que. estiverem em necessidade .de serem que os doentes trouxerem, descrevendo esses objectos nas costas tia
sacramentados e ungidos, evitando sempre, debaixo de sua rcspon- papeleta e entregando-os logo ao mordomo;
sabilidade, que faleçam sem os sacramentos; 7. ° Receber do mordomo os vales para o fornecimento dos gé-
io. ° Participar ao Provedor, sempre que careça coadjuvação neros alimentícios para os doentes, ir, ou mandar, recebê-los do
de outro ou outros facultativos, para executar alguma operação; fornecedor, examinando se são de boa qualidade;
11. ° Inspeccionar os géneros alimentícios e a casinha, quando 8. ° Mandar fazer a comida e dieta para os doentes e distribuir-
o julgar necessário, ou para isso for chamado; -lhas às horas marcadas no regulam-ento interno, ou designadas pelo
iz. ° Fazer autópsia nos cadáveres .dos doentes que falecerem, Mordomo ou pelo Provedor;
sempre que o julgue conveniente, ou quando, por outras circuns- 9. ° Fazer ou mandar fazer diariamente, e a horas convenientes,
tâncias, isto se torna.r iiecessário; a limpeza do hospital, desinfectar a,s enfermarias e fazer toda a
i3. ° Dar o seu parecer sobre as condições da admissibilidade polícia delas;
no hospital, dos doentes que para esse íiui lhe forem apresentados; io. ° Requisitar do fornecedor as rações ou dietas para os doen-
14. ° Fazer os curativos no Banco; tes externos, em vista dos abonos feitos pelo Provedor, e distribui-
15. ° Propor à mesa, verbalmente ou por escrito, as providên- -los, o mais tardar, até às 9 horas da manhã;
cias e medidas necessárias para o bom serviço do hospital, e as 'e- li. " Vigiar que nas enfermarias se mantenha o maior silêncio,-
formas a fazer no material e pessoal do mesmo; participando ao Mordomo qualquer falta praticada pêlos doentes;
i6. ° Fazer as tabelas das dietas e rações, ou alterar a existente, i2. ° Mandar chamar extraordinariamente o facultativo quando
a qual será submetida à aprovação da mesa; o estado dos doentes assim o reclamar;
i7. ° Cumprir as demais obrigações que lhe forem prescritas no i3. ° Auxiliar o facultativo nas operações que se fizerem;
regulamento interno. i4.° Ter no Banco sempre prontos aparelhos para qualquer cu-
Art. 84. ° O enfermeiro é o administrador das enfermarias e é rativo, fazer as principais aplicações em casos repentinos, mandan-
responsável por todos os objectos que lhe tiverem sido entregues do chamar logo o facultativo;
por inventário, ao qual se procederá pela secretaria da mesa, quan- 15. ° Chamar o capelão para confessar e sacramentar os doentes,
do for nomeado o enfermeiro e antes de se lhe dar posse. - Incum- a que o facultativo tiver posto a nota de Viátwo e Unção;
be-lhe: i6. ° Admitir nos domingos ou nos dias que forem designados,
i. ° Cumprir as ordens que o facultativo lhe der no exercício üo as visitas de pessoas de família, ou de amizade aos doentes, quan-
serviço clínico; do estas lhes não sejam proibidas pelo facultativo, e despedi-las
2. ° Fazer aviar o receituário até a hora indicada no art. 82.° passada que seja meia hora;
n. ° 4. °, e ministrar os remédios aos doentes, informaiido-o de qual- i7.° Fazer remover os cadáveres para a igreja ou para a casa
quer alteração que as moléstias tiverein feito e do resultado que mortuária, quando o facultativo o determinar;
houverem produzido as aplicações anteriores; i8.<> Fornecer ao capelão os esclarecimentos para este tomar o
4. ° Receber os doentes q^ue apresentarein ordem de admissão assento de óbito dos doentes que falecerem no hospital;
no hospital, dando-lhes entrada, na eníermaria respectiva, mandan- iç.° Representar ao Mordomo ou ao Provedor qualquer pro-
do-os lavar e limpar, dando-lhes roupa da casa para se mudarem, vidência ou medida que seja necessária, para o -bom serviço das en-
cama e os mais misteres; fermarias;
5. ° Inscrever os nomes dos doentes no livro de entrada, procu- zo. ° Cumprir todas as mais obrigações que lhe forem impos-
rando satisfazer, quanto possível, aos dizeres do mesmo, dar-lhes tas no regulamento interno.
baixa quando morrerem ou saírem;
362 363
SECÇÃOIII parao hospital, será feita pelo facultativo da casa e pelo Mordomo,

dando este em seguida parte ao Provedor.


Da admissão e alta dos doentes Art. 90. ° A admissão dos doentes que não puderem apresentar-
-se no hospital, para serem inspeccionados, far-se-á sobre atesta-
Art. 85. ° Só podem ser admitidos no hospital doentes pobres cão jurada de um dos facultaüvos do partido municipal, na qual
Se declare a natureza da moléstia, sendo essa atestação verificada
e com moléstias e ferimentos que não possam ser tratados senão
com dieta e de cama. pelo facultativo da casa, que, no caso de julgar admissível o doen-
Art. 86. ° Não podem ser admitidos ainda que sejam pobres: te, lhe porá a nota de Visto, sendo em seguida apresentada ao Pro-
i.° Os doentes de moléstias incuráveis; vedor,. que na mesma lançará a ordem de admissão.
2. ° Aqueles que forem naturais de concelho onde haja hospi- Art. 91. ° Quando pretendam a admissão doentes ein maior nú-
tal, se a moléstia lhes permitir transportarem-se para ele sein in- mero do que o que pode ser admitido, terão a preferência os irmãos
convenientes; da Confraria, sendo pobres, os doentes de maior gravidade, e cm
3. ° Homem ou mulher casada afectada de moléstia sifílitica, igualdade de moléstias os que forem chefes de família, ou os mais
não entrando também no hospital o outro cônjuge e não se sujei- pobres.
tando ambos ao mesmo tratamento; Art. gí'. ° Logo que qualquer doente seja admitido, o faculta-
4. ° Os doentes de tinha; tivo lhe dará uma papeleta impressa, na qual o mesmo facultati-
5. ° Os doentes que não forem de gravidade e que puderem íer vo escreverá o nome, estado, idade, profissão, naturalidade e re-
tratados em suas casas ou no Banco; sidência do doente, data da entrada e declaração da dieta e do le-
6. ° Os militares; inédio que se lhe deve dar.
7. ° Os alienados, salvo sendo pacíficos e querendo as famílias § 'único. Quando a moléstia ameaçar morte iminente, o facul-
fazer-lhes algumas aplicações nos quartos particulares, - se, po- tativo escreyeTá. no centro da papeleta Viáticg e Unfão.
rém, se tonarem furiosos, serão despedidos; Art. 93. " Feita a aceitação, o enfermeiro tornará conta do doen-
§ único. Quando a autoridade administrativa enviar para o te, cujo nome inscreverá no livro competente, exigindo do doente
hospital algum alienado, será recolhido, mas o Provedor represen- todos os esclarecimentos precisos para o registro.
tara à mesma, ou à superior autoridade, que, tendo sido recebido Art. 94. ° O facultativo dará alta aos doentes, logo que os jul-
por obediência à ordem da autoridade, se lhe pede que dê o desti- gue restabelecidos.
no legal ao doente, e que não o fazendo será este expulso do hos- § i. ° O enfermeiro dará parte ao Mordomo, logo que se dê alta
pitai; a algum doente, sendo-lhe entregues a roupa, dinheiro, papeis ou
8. ° Os estrangeiros, salvo quando se apresentem com molés- quaisquer outros objectos que tenha levado para o hospital, de
tia ou ferimento que os ameace de perigo de vida. cuja entrega se lançará nota no verso da papeleta, onde se tiverem
Art. 87. ° A admissão dos doentes far-se-á todos os dias pela relacionado esses objectos, sendo essa nota da saída, do dia em
manhã, logo que o facultativo tenha feito a visita ao hospital, e que teve lugar, declarando se o doente saiu curado.
nos casos urgentes todo o dia. Art. 95.° Se a moléstia de qualquer doente fcr rebelde a -lodo
Art. 88.° Em quanto os recursos do hospital não o permiti- o tratamento, o facultativo dará parte ao Provedor, para se con-
rem, não poderá admitir-se maior número de doentes do que o íi- vocar uma junta, ë se esta declarar que a moléstia é incurável,
xado pela mesa no princípio de cada mês, excepto o caso de epide- será o doente despedido do hospital, se o padecimento for de na-
mia, de um desastre ou outros em que a caridade e a humanidade tureza que lhe permita a saída.
reclamem pronto socorro. § único. Da resolução da junta, layrar-se-á em um livro para
Art. 89. ° A aceitação dos doentes que puderem transportar-se esse fim destinado, uma acta.
364 365
Art. 96. ° A aceitação dos doentes que quizerera tratar-se em para outras enfermarias, e nas suas andarão moderadamente i-em
quartos particulares no hospital, será feita pelo Provedor, prece- incomodarem os outros doentes.
dendo infonnação do facultativo, nos termos dos art. 89. ° e 90.° Art. 108. ° É proibido dar ou consentir que se dê aos doentes
alguma, outra coisa que não sejam as dietas e rações que lhes este-
SECÇÃOIV jam determinadas, e aos doentes é proibido dar para fora as suas
rações ou parte delas.
Art. 109. ° São permitidas visitas públicas aos doentes nos do-
Da policia das enfermarias
mingos ou nos dias e às horas q^ue o,regulamento interno ou o Pro-
vedor designar, - nenhum doente poderá receber mais de duas vi-
Art. 97. ° Nas enfermarias guardar-se-á sempre o maior silêncio.
sitas, e cada uma delas não se prolongará mais de meia hora.
É proibido aos empregados da casa ralharem com os doentes, e es-
Art. lio. ° Ë proibido aos visitantes levarem coisa alguma aos
tes disputarem uns com os outros.
doentes, excepto rapé ou cigarros. O enfermeiro vigiará que nem os
Art. 98. ° É proibido tocar, cantar ou assobiar nas enfermarias
visitantes I-evem coisa alguma aos doentes, nem tão pouco a rece-
e fora delas.
bam eles.
§ único. Pode permitir-se fora das enfermarias tocar iastrumen- Art. iii. ° Não se consentirão mais de duas pessoas junto da
tos que não incomodem os doentes.
cama de cada doente.
Art. 99. ° O enfermeiro fará, ou mandará fazer sob sua ins-
Art. ii2.°. Não serão admitidas nas enfermarias pessoas de ta-
pecção, todas as manhãs a limpeza das enfermarias. O Mordomo
mancos, ou calçado que faça barulho, nem é permitido conversar
vigiará se este serviço se faz coiivenientemente.
alto, rir ou gritar.
Art. ioo.° Depois da limpeza, e de tarde pelo menos, o enfer-
Art. 113.° As pessoas das famílias dos doentes só poderão fazer-
meiro desinfectará as enfermarias, com as composições que o ía-
cultativo indicar.
-lhes visitas particulares, mediante licença prévia do Mordomo, sob
informação do facultativo.
Art. ioi. ° Ë proibido fumar nas enfermarias, e aos doentes é
único. A estas visitas são aplicáveis as disposições dos artigos
proibido também acender pavios ou fósforos.
antecedentes.
Art. 102. ° S, proibido acender lume e fazer comida a não ser
na cozinha.
Art. 114. ° As demais disposições policiais e higiénicas das -e'n-
fermarias, a designação dos objectos e móveis que pertencem a .-. a-
Art. 103. ° Depois do jantar haverá uma hora de profundo si-
da doente e a. maneira prática de executar o serviço das enferma-
lêncio, fechando-se as janelas das enfermarias e não podendo, du-
rias, serão expostas no regulamento interno.
rante esse tempo, os doentes conversar uns com outros, por mais
Art. 115. ° O serviço, higiene e polícia dos quartos para doentes
baixo que seja.
particulares, serão prescritos no regulamento interno.
Art. 104. ° 'JÊ proibido aos empregados e aos doentes estarem às
janelas das enfermarias.
Art. 105.° Os doentes são obrigados a obedecer ao facultativo,
SECÇÃO V
ao Mordomo e ao enfermeiro, podendo, porém, queixar-se ao Pro-
vedor ou ao Mordomo de qualquer mau trato ou excesso da parte Do fornecimento dos géneros e medicamentos para o hospital
de qualquer empregado.
Art. 106.° As enfermarias serão lavadas todos os meses desde o Art. 116.° O íoniecimento dos géneros alimentícios para o hos-
princípio de março até o fim de outubro, e serão caiadas todos os pitai será feito por arrematação e adjudicado a quem oferecer pre-
anos no mês de maio. co mais cómodo e mais garantias de bem fornecer.
Art. 107. ° Na convalescença, os doentes não passarão de umas
366 367
§ único. A mesa poderá optar ou pelo meio da licitação, ca meios a necessidade e pobreza do doente, o Provedor lançará na
pelo de propostas dos arrematantes em carta fechada. receita a nota de «abonado», a qual será aviada pelo farmacêutico
Art. 117.° Da arrematação lavrar-se-á auto no livro das actas que fornecer os medicamentos para o hospital.
das sessões da mesa, ou em livro especial, o qual auto será assinado Art. 127. ° Para ter lugar o abono de dietas para doentes exter-
pêlos mesários, pelo arrematante e pelo fiador que este deverá nos, é mister que o facultativo assistente do doente declare na re-
apresentar, e de cuja idoneidade a mesa decidirá. ceita qual a dieta que lhe pode ser abonada e por quantos dias.
Art. 118.° Ë proibido aos vogais da mesa e a quaisquer outros Art. 128. ° Logo que ao Provedor conste que o doente ou sua
empregados da casa, arrematarem por si ou por interposta pessoa, família vendem ou dão as rações que lhe são abonadas, suspenderá
o fornecimento dos géneros ou serem fiadores do arrematante. o abono.
Art. 119. ° Os medicamentos serão fornecidos também por ar- Art. 129.° A tabela das dietas será feita pelo facultativo, de
rematação, observando-se as disposições dos artigos antecedentes. acordo com a mesa, e nunca os facultativos poderão mandar dar
aos doentes, dietas ou rações que não estejam compreendidas nas
SECÇÃOVI tabelas.
Art. 130.° Aos doentes que carecerem de banhos ou caldas, e
Dos curativos no Banco que, ou pela natureza da moléstia, ou por outra circunstância, pre-
cisarem ir tratar-se em outros hospitais, passar-se-á, sendo pobres,
Ari. 120.° A observaçãoe.tratamento de moléstiaspertencentes uma carta de guia para o hospital da localidade a que se desti-
narem.
à clínica cirúrgica, e que dependam de alguma operação, denomi-
nam-se curativos no Banco. Art. 131.° Esta mesma carta se passará também aos doentes,
Art. 121. ° O facuUatiyo da casa é obrigado a fazer estes cura- que, tendo sido classificados incuráveis, e por isso despedidos do
tívos, e ao enfermeiro incumbe fazer as primeiras aplicações em hospital, quizerem dirigir-se para algum asilo ou hospício.
casos repentinos, mandando logo chamar o facultativo. Art. 132.° Na carta de guia que será passada pelo escrivão e
Art. izz'." O regulamento interno designará quais os ínstrumen- assinada pelo Provedor, designará este a quantia que deve ser abo-
tos; aprestos cirúrgicos e mais utensílios, que devem existir i;o nada ao doente, a qual será paga pelo tesoureiro.
Banco. § único. A mesa arbitrará quais as quantias que devem ser
abonadas aos doentes nestas circunstâncias, marcando o máximo e
Art. 123.° No caso de ser misterpratícar-se alguma operaçãode
grande cirurgia, o facultativo observará o prescrito ao n.° io «to o mínimo, e o Provedor graduará o abono pela necessidade e es-
artigo 83.0. tado do doente e mais circunstâncias.
Art. 133. ° A carta não será entregue ao doente sem que frle
SECÇÃOVII mostre estar em via de marcha.

Dos doentes externos CAPÍTULO IX

Art. 124. ff Aos doentes pobres que não quizerem oa não pude. O» admimstra-çSo económica da Confraria
rem ser tratados no hospital, abonar-se-ão medicamentos e dietas;
para o que a mesa consignará uma verba no orçamento. Art. 134. ° À mesa compete administrar os ftíndos da Confra-
Art. I2.5. 9 Estes abonos- serão feitos pelo Provedor, apresen.tan- ria e aplicá-los da maneira mais vantajosa para esta, relatando
ao os pretendentes atestado jurado do pároco, de que são pobres. anualmente perante a assembleia geral, e nos termos do número io
Art. 126,° Com este atestado., e verificada por quaisquer outros do artigo 35. °, a maneira porque se houve neste assunto.
368 369
Art. 135. ° Não poderá a mesa repudiar herança ou legado al- Art. 143. ° Os mesários responderão solidariamente e pêlos seus
gum, os quais aceitará sempre a benefício de inventário nos ter- bens, por qualquer prejuízo causado por dolo ou simples negligên-
mos da lei civil. cia à Confraria.

Art. 136.° Quando à Confraria for feita alguma doação onerosa,


a mesa não a aceitará sem examinar detidamente se os encargos CAPITULO X
absorvem ou excedem a doação. Em qualquer destes casos regeita:á
a doação, precedendo, porém, consulta de um ou mais advogados, Disposições penais
e ouvida a assembleia geral nos termos do número 4 do artigo 21. °.
Art. 137. ° Quando à Confraria forem doados ou deixados bens Art. 144. ° As penas de exclusão e de multa cominadas nos ar-
com reserva do usofruto em favor de terceiras pessoas, a mesa pro- tigos 17. °, 67. ° e outros do presente Compromisso, terão também
moverá o inventário dos bens doados ou legados, e exigirá do uso- lugar nos casos e nos termos seguinte:
frutnrário caução, tanto para a restituição dos bens, como para a i. ° O membro da. mesa que, sem motivo justificado, faltar três
reparação das deteriorações, nos termos da lei civil. vezes às sessões, pagará 230 gramas de cera, ou o seu valor, para
Art. 138.° Quando â Confraria forem deixados ou doados bens a casa.

imo.biliários, a mesa promoverá a sua alienação e inversão em fun- 2.° Se nem pagar a multa nem justificar as faltas, será excluí-
dos consolidados, dentro do praso marcado na lei civil, e nas !eis do, guardadas as formalidades do artigo 67.° e seu § 2.°,
de desamortização. 3.° O irmão da Misericórdia a quem tocar vestir figura para
§ único, ge a Confraria carecer adquirir alguns bens -Imobi- a procissãodo Enterro do Senhor, e que se recusar a isso, pagará
liarias, que sejam indispensáveis para o desempenho dos seus d'e- i$5°o reis, para a casa mandar fazer esse serviço, e se se recusar
veres, e cumprimento do fim social, pedirá para isso ao Governo a ao pagamento, será riscado.
legal licença. 4.° O irmão que não fizer a hora de vigília ao Senhor dos Pas-
Art. 139. ° A mesa promoverá a remissão ou venda dos foros, sós, no dia de Passos e de Quinta-feira Santa, segundo lhe per-
censos e pensões, da Confraria, pela maneira mais vantajosa para tencer por escala, ou que não fizer cumprir por outro esse' serviço,
esta, dentro do mais curto praso, em harmonia com as leis respec- pagará 115 gramas de cera para a casa, e se por três vezes faltar,
tivas, invertendo em fundos consolidados, e nos termos da lei, o ou se se recusar a pagar, será riscado.
produto dessas alienações.
Art. 140. ° É proibido mutuar ou emprestar a juros, dinheiro, CAPÍTULO XI
quaisquer que sejamos fundos da Confraria.
único. No caso de haver saldo de receita, será esse saldo em- Disposições gerais e transitórias
pregado em fundos consolidados.
Art. 141. ° A mesa promoverá o pagamento dos capitais actual- Art. 145. ° A mesa fará o regulamento interno da casa em har-
mente mutuados, e dos respecticos juros, para lhes dar a aplicação monta com o presente Compromisso, e em quanto o não fizer, pro-
designada no § únxo do artigo antecedente. videnciará para os casos omissos da. maneira que lhe parecer mais
§ único. A cobrança dos capitais mntuados e a sua inversão em conforme aos fins da Confraria.
fundos consolidados, eíectuar-se-á no prazo de quatro anos, fican- Art. 146. ° A mesa promoverá que nas condições dos partidos
do a mesa responsável por qualquer negligência ou omissão a este médicos do concelho de Bragança, se consigne a obrigação de os
respeito. facultativos providos neles concorrerem gratuitamente às confe-
Art. 142.° A mesa não poderá despender quantia alguma, que rências, juntas ou operações que tiverem lugar no hospital, e para
não esteja autorizada em orçamento ordinário ou suplementar. as quais forem convidados pelo Provedor.
ÍNDICE

PREFÁCIO ... ... ... ... ... ... ... .... ... ... ... ... ... ... . ... 7
Capítulo I - A SANTA CASA - O grande 'preceko da caridade
- A formosa lição do Apóstolo S. Paulo - A caridade através dos tem-
pôs - Traça-se o perfil da Rainha D. Leonor - As primeitas miseri-
.

córáias de Portugal - Obras em Bragança, precursoras d.a Samta Casa -


Desde quando a nossa Misericórdia? ... ... ... ... ... ... ... ... ... 35
Capítulo II - A IRMANDADE DA MISERICÓRDIA- A sua fina-
ilidade - Direitos, deveres e .sanções - O juramento de ibem servir -
Irmãos 'com limipeza de sanigue, ii rmaos 'com limpeza ide mãos, .e irmaQs
com limpeza de intenções - A ban.dieira da Irman. dade - As opas dos
irmãos ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 47

Capitulo III - A iIGREJA DA MISERICÜRDIiA - A capela da


Madalena iprimei, ro, ido Espírito Santo depois - Fundação da Miseri-
córdia em Bragança - Froataria e retábulo :do altar-mor - Fala-se d.e
jmagens, altares, sacristia, móveis .e paramentos - Os sinos da Mi-
sericórdia 6i

Capitulo IV - CAP.ELÃES E SACRISTÃES- Número de ca-


ipelâes através dos séculos - Os seus direitos e deveres- De como se
Aegou à total ausência de capelâes - Fala-se do organisita e do sacris-
.
tão-Obrigações e estipêndios ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 75

Ctipítulo V - A MESA 'DA SANTA CASA - El.eiçao 'e posse da


Mesa - Os poderes da Mesa, 'limitados pela Mesa Geral - Cartas dos
Reis Dom }osé I .e Dom Pedro 'li - As qualidades do Provedor - Os
privilégios das iMisericóráias e dos mesários - Comissões adminisitraü-
vás - Confronto desconcertante ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... S?

Capítulo VI - O VELHO HOSPITu^L - Rouip_as da Santa Ca-


, sa - O número de leitos - Luz, cozinha e água - 'Material médico e
mobiliário - O serviço sanitário - Ampliação da enfermaria dos ho-
mens. e enfermaria . das mulheres - Uma 'carta do Rei Dom Luís
O hospitalriro e seus proventos ... ... ... .. ... ... ... ... ... ... 97
374 375
Capítulo VII - OFICIAIS IDA SANTA CASA - Dos direitos Bandos ipr. ecatórios e subscrições - O cortejo de oferendas Uma
e .deveres do enfermeiro - Um desafio de ipfecos - A enfermeira com carta de El-Rei 215
direitos iguais - O administrador do hospital - O 'campainha - O que
ele fazia e 'como fazia - Uma lei que não foi Tevogada - Psde-se, em Capitulo XVII - MAJS RECEITAS - Contra, e a favor - Subsí-
nome da lei, o campainha ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... in aios do Estado - Mais outrois subsídios - Festejos e exposições - Sa-
raus 'e rifas - Sessões de '.cinema e esmolas particulares ... ... ... 229
Capítulo VIU - O SENHOR DOS PASSOS - .Procissões quares-
mais nas quantas e Domingos - Missas cantadas e novenas - Q.uan.do Capítulo XVIII - O NOVO HOSPITAL - A sua grande neces-
se fez a procissão de Passos - Esmola, e ofertas ao Divino Senhor - sidade - Várias tentativas - O serviço do Banco - O magnífico de-
Passos 'pela. cidade - Confraria e idulgências - A majestade da pro- poimento dos números - A primeira operação - O instrumenital ci-
císsão ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... já; rürgico ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 239

Capitulo IX - 'PROOISISÂO ,DOS FOGARIÉUS E SENHOR MOR-


Capitulo XIX - MAIS UÍM PAVILHÃO- Passos para mais um
TO- Descreve-se a impressionante iprocissão - Um cortejo de ma- ipavithâo - Laiboratório de radiologia - Nova. consitruçao - O de-
ravilha - A ivisita aos sepulcros - O comovente entetro do Senhor - saterro - O lactário e -seus benefícios - Aparelho, de diatermia -
O cortajo com irmãos da Misericórdia e confrarias da cidade - Atrás
Dispensário de ihigiene social - Cedência da escQl, i «Adães Bermudes» -
do cortejo, as forças armadas ... ... ...... ... ... ... ... ... ... ... 135 ModifLcação das instalações - Assistência de Religiosas ... ... ... 253
Capitulo X - iPOBRlES, PRESOS E ENFERMOS - Vestir os nus
- Dietas e receitias a dinh'eiro - Movimento de doentes no hosipital - Capítulo XX - SUGESTÕESFINAIS - Assistência aos pobres
Pensionistas e o seu movimento ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... x45 e doentes a domicílio - O que falta à Santa. Casa - A rouparia e al-
bergue dos ipdbres - O jantar aos presos da cadeia - procissão do
Çapítulo_XI - ASBISTÊNCIA-nÉCNICA - O sangrador e o Senhor dos Passos e Enterro do Senhor -- O camipainfaa ... ... ... 267
barbeiro - Depois o cirurgião, e o que ganhava - Os médicos da
Santa Casa - 0,s empregos às, Santa Casa não são vitalíaos. mas
anuais ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... jg; APÊNDICE

Capítulo Xll - OS MEDICAMENTOS- Nos iprimreiros séculos - Provedores da Santa Casa da-Misericórdia ... 279
Grandes despesas - A farmácia privatíva do hoapital - A smdicância Legados à Santa Casa da [Misericórdia 285
- Como acabou a farmácia - Grandes números 'de uma grande Esmolas de particulares â Santa Casa 2g i
despesa I( Sulbsídios das confrarias 302
Irmãos beneméritos da Santa Casa 304
Capitulo XIII - ASSIST1ÊNGIA AOS (PRESOS - O mordomo Actual [património da Santa Casa .da Misericórdia 3o8
dos_.presos - Água_e ^. âo - Nas Quartas-Feirasáa Quaresma e na Quin- Receita e despesa 'da Santa Casa 3'12
ta-Feira Santa - Duas cartas muito 'expressivas ^ O jantar . aos pre- Compromissos - Compromisso da Santa Casa da misericórdia, de
sós - Os privilégios A Dom Manuel ... ... ... ... ... ... . '.. ... ... \-jq Bragança, de 1856 ... '... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 314
Novo compromisso da Sa.nita Casa da Misericórdia de
Capitulo XIV - PEREGRINOS,CATIVOS E MORTOS - Cama, de 1877 .. ... ... ... ... .. ... ... ... ... ... ... ... 336
água_,e lume - A confraria de Santa Cruz - Tumbas, caixões e urnas
- Um Bpisódio j.und.ico - Como se faziam os enterros - Remoção
de ossadas- O enforcamento de JoséJorge ... ... ... ... ... ... ... 189
Capitulo XV - dVCISERICÜRDlIiAESPIRITUAL- Crianças ao de-
.

sam.paro - Paz ien.tTe desavindos - Rogar a Deus pêlos vivos e de-


funtos - Exéquias pelo Duque de Bragança - Sufrágios ... :.. 207
Capítulo XVI - 'FONTES D:E RECEITA - O tesoureiro e o
escrivão - O .procurador e .solicitador - Peditórios e mamposteiros

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