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CORREÇÃO DA FICHA DE ORIENTAÇÃO DA cumprir a sua tarefa. É, ainda, Scarlatti que dá a notícia
LEITURA DE MEMORIAL DO CONVENTO a Baltasar e Blimunda da morte do padre Bartolomeu.

EXEMPLOS DE RESPOSTA 6. Padre Bartolomeu de Gusmão é uma personagem real


da História. Vive com a obsessão de construir a máquina
A. O título e as linhas de ação
de voar, o que o leva a encetar uma investigação
1. O rei D. João V faz a promessa de erguer o Convento de científica na Holanda. Como cientista, ignora os
Mafra se tivesse um filho varão do seu casamento com fanatismos religiosos da época e questiona todos os
D. Maria Ana. princípios dogmáticos da Igreja. O seu sonho de voar e
as suas inabaláveis certezas científicas revelam orgulho,
2. A relação conjugal entre o casal real resume-se a um ambição de elevar-se um dia no ar e tornam-no persona
único objetivo: dar um herdeiro à coroa. Por este motivo, non grata para a Inquisição, que o acusa de bruxaria,
o encontro periódico do casal revela a ausência de obrigando-o a fugir para Espanha e a deixar o seu
envolvimento afetivo e de amor. Esta situação gera sonho/projeto nas mãos de Baltasar.
frustração e infelicidade dando origem à infidelidade do
rei e aos sonhos da rainha. 7. Padre Bartolomeu de Gusmão assegura que casara
Baltasar e Blimunda, em Lisboa, apesar de não ter
3. O rei quer deixar como marca do seu reinado uma obra havido qualquer cerimónia religiosa. É, portanto,
grandiosa e magnificente: o Convento de Mafra, cúmplice de uma união transgressora aos olhos da
construído sob o pretexto de que cumpre uma promessa sociedade setecentista.
feita ao clero, classe que “santifica” e justifica o seu
poder. É símbolo do monarca absoluto, vaidoso, 8. No seguinte excerto está presente uma personagem
megalómano e egocêntrico. O padre Bartolomeu é o coletiva, o povo: “Tão grande fora o sofrimento durante
inventor de uma máquina de voar, que materializa o este arrastado dia, que todos diziam, Amanhã não pode
sonho dos construtores, agentes do progresso, e ser pior; e no entanto sabiam que iria ser pior mil vezes.
simboliza a perfeição e a sabedoria do homem que Lembravam-se do caminho que descia para o vale de
possui vontade e fé. O sonho faz parte da vida humana Cheleiros, aquelas apertadas curvas (…) Como será que
e é por ele que tudo avança e evolui. No entanto, é vamos passar, murmuravam para si próprios. (…) Os
preciso muita força de vontade e persistência para fazer aguadeiros corriam a longa fila, levando quartões de
voar a Passarola, num esforço conjugado de saberes. água ao ombro, iam buscá-la aos poços que por ali
havia, nas terras baixas (…)” p. 282.
4. Baltasar e Blimunda sonham uma vida em comunhão
plena, pautada pela espontaneidade, pela inexistência 9. Blimunda de Jesus é uma mulher excecional, na medida
de convenções exteriores à relação e pela entrega em que tem o dom de ver o interior das pessoas quando
incondicional. A união de Baltasar e Blimunda não se está em jejum e, por isso, integra-se no projeto da
ressente da falta de um herdeiro, porque vivem o amor e Passarola, porque, para o engenho voar, era preciso
a sexualidade de forma livre. “prender” vontades, coisa que só Blimunda, com o seu
poder mágico, era capaz de fazer. Blimunda tem uma
5. grande firmeza interior, uma forma de oferecer-se em
B. Caracterização das personagens. Relações entre elas silêncio e de aceitar a vida e os seus desígnios sem
orgulho nem submissão, com a naturalidade de quem
1. Blimunda conhece já o Padre Bartolomeu, mas une-se a sabe onde está. A sua relação com Baltasar demonstra
ele através da construção da máquina de voar. A que os dois têm os mesmos direitos, facto inverosímil
obsessão de voar domina-o de tal forma, que ele não se em pleno século XVIII.
inibe de integrar no seu projeto um casal não abençoado
pela Igreja e de aceitar e usufruir das capacidades C. O tempo histórico e o tempo da narrativa
heréticas de Blimunda de recolher “vontades”, que farão 1. O Convento de Mafra é construído no século XVIII
a Passarola voar. (1710- -1730).
2. D. Maria Ana Josefa é o nome da rainha, que veio da 2. Personalidades históricas que intervêm na obra: D. João
Áustria para dar um herdeiro à coroa portuguesa. V, D. Maria Ana, Infanta Maria Beatriz, Bartolomeu de
3. Baltasar e Blimunda conheceram-se no auto de fé que a Gusmão, Domenico Scarlatti.
mãe de Blimunda integrou como condenada ao degredo, 3. Mistura de tempos: “este gosto português pelo verde e
por atos de bruxaria. pelo encarnado, que, em vindo uma república, dará
4. A mãe de Blimunda chama-se Sebastiana Maria de bandeira” (p. 144) e “diremos que o peso da pedra da
Jesus. varanda da casa a que se chamará Benedictione é de
trinta e um mil e vinte e um quilos, trinta e uma tonelada
5. Domenico Scarlatti é um artista estrangeiro contratado em números redondos, senhoras e senhores visitantes,
por D. João V para iniciar a infanta Maria Bárbara na e agora passemos à sala seguinte, que ainda temos
arte musical. Scarlatti é cúmplice silencioso do projeto muito que andar” (p. 270).
da Passarola e com o poder curativo da sua música
liberta Blimunda da sua estranha doença, permitindo-lhe
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4. Data de inauguração do Convento: 22 de outubro de H. A música: poder curativo, valor sobrenatural, ao tirar
1730. Blimunda do estado profundo de inconsciência; revela-se
como fonte de vida. Representa também o último
5. contributo para a concretização do voo da Passarola,
ajudando na sua construção e na sua elevação.
D. Visão crítica
I. A Passarola: realização de um sonho; libertação do
1. Excerto da obra que se pode intitular “O desgoverno do homem das amarras que o prendem às limitações do seu
reino”: “E se aumentássemos para duzentos frades o quotidiano, à mesquinhez do dia a dia. Representa a
Convento de Mafra, quem diz duzentos, diz quinhentos, força criadora que revoluciona o mundo, a esperança
diz mil, estou que seria uma ação de não menor num mundo livre e diferente, e o sofrimento que a sua
grandeza que a basílica que não pode haver” (p. 312). conquista acarreta para quem se atreve a lutar por ele.
J. A história de Manuel Milho: rebeldia, coragem do
2. Personagens caricaturadas na obra: D. João V, D.
contador de histórias. Reflexão sobre a existência
Francisco, freiras, frades.
humana, em que o mais importante é o ser humano e a
3. Personagens engrandecidas na obra: Blimunda, sua essência. Esta história mostra que cada um é aquilo
que as condições sociais e as circunstâncias permitem
Baltasar, Bartolomeu de Gusmão, Domenico Scarlatti,
que seja.
os construtores / povo.
K. A viagem final de Blimunda: insistência e determinação.
4. Grupos sociais criticados na obra: nobreza e clero. Associada ao número nove, simboliza a ideia de procura,
de espera e a conclusão de uma ação.
E. Dimensão simbólica
1. F. A estrutura da obra

A. O número sete: para a cultura cristã, representa união, 1. Três linhas de ação paralelas que se entrelaçam ao
complementaridade e perfeição (sete virtudes cristãs e longo do romance: a de Baltasar e Blimunda, a da
sete sacramentos, mas também sete pecados capitais). construção do Convento e a da construção e voo da
Passarola.
B. O Sol: fonte de vida. Tal como o Sol percorre um ciclo
celeste diurno de Oriente para Ocidente, assim Baltasar 2. Padre Bartolomeu de Gusmão faz um sermão, tendo
percorre, no interior da Passarola, um ciclo entre Lisboa apenas como público Baltasar e Blimunda: “Et ego in illo,
e Montejunto; e tal como o Sol, para nascer, segundo a
disse o padre Bartolomeu Lourenço, dentro da
antiga mitologia, tem que vencer todos os dias todos os
abegoaria (…) Durus est hic sermo, et quis potest eum
guardiães da noite/morte, Baltasar terá que vencer os
guardiães da "noite histórica": a Inquisição, a credulidade audire”, pp.188-189.
popular, as forças espirituais retrógradas.
3. História simbólica de Manuel Milho: “Mais tarde chegou-
C. A Lua: por direta relação com Sete-Sóis, pois a Lua não se-lhes Manuel Milho que contou uma história (…) Não
tem luz própria, é o princípio passivo do Sol, mas, em sei.”, pp. 277-291.
Memorial do Convento, o princípio simbólico da
passividade feminina é subvertido e atribuem-se a G. Intertextualidade
Blimunda capacidades intuitivas e visionárias,
1. • Provérbios: “quem vai à guerra empadas leva” (p. 101),
dependentes das fases da Lua, que a tornam, como
“pela catadura se conhece o catacego” (p. 392).
elemento ativo, tão importante quanto Baltasar.
D. A mão esquerda: dimensão mais nefasta, mais • Registos populares: "de boca à banda" (p. 29), “deitar
masculina, por oposição à mão direita, uma dimensão os bofes pela boca” (p. 268).
mais espiritual, marcada pela perseverança, força, luta e • Autores portugueses:
sentido de futuro que sairá reforçada na associação com
Blimunda. Luís de Camões, Os Lusíadas: "O homem, bicho da
terra" (p. 65) e “vós me direis qual é mais excelente, se
E. Os olhos: representam o poder visionário de Blimunda, ser do mundo rei, se desta gente” (p. 321).
que a tornava conhecedora dos outros nos seus bens e
nos seus males, recusando-se, no entanto, a olhar Padre António Vieira, “Sermão de Santo António (aos
Baltasar por dentro. O seu olhar mágico seduz Baltasar e Peixes)”: "Estão parados diante do último pano da
será muitas vezes uma forma de comunicação entre o história de Tobias, aquele onde o amargo fel do peixe
casal. restitui a vista ao cego, A amargura é o olhar dos
videntes, senhor Domenico Scarlatti," (p. 181).
F. As vontades: união dos homens por uma mesma causa
ou num mesmo sonho, capaz de vencer a ignorância, o Fernando Pessoa, Mensagem: "Em seu trono entre o
fanatismo, a intolerância, libertando o Homem, brilho das estrelas, com seu manto de noite e solidão,
projetando-o para uma nova idade, abrindo-lhe tem aos seus pés o mar novo e as mortas eras, o único
perspetivas de um mundo diferente. imperador que tem, deveras, o globo mundo em sua
mão, este tal foi o infante D. Henrique, consoante o
G. A mãe da pedra: anuncia os "trabalhos" fabulosos que louvará o poeta por ora ainda não nascido... (p. 249).
terão de ser contornados e o esforço imperioso, mais do
que humano, que terá de ser despendido. Simboliza a 2. Momento de diálogo “Como sabes, se com ela não
gesta heroica, epopeica, do transporte da pedra gigante pudeste falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças
de mármore. perguntas a que não posso responder, faze como

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fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E agora, Se


não tens onde viver melhor, fica aqui, Hei de ir para
Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã, Fica,
enquanto não fores será sempre tempo de partires” (p.
59). A vírgula, seguida de letra maiúscula, é o sinal de
pontuação que marca as intervenções das personagens.
Verifica-se a ausência dos sinais emotivos de pontuação
(ponto de interrogação, ponto de exclamação).

3. Citação de versos de Os Lusíadas “Ó doce e amado


esposo, e outra protestando, Ó filho a quem eu tinha só
para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice
minha, tanto que os montes de mais perto respondiam,
quase movidos de alta piedade». Há também a
recriação de situações vividas no poema, como «e então
uma grande voz se levanta, é um labrego de tanta idade
que já o não quisera, e grita subido a um valado (...) Ó
glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei infame ó pátria sem
justiça” (p. 325). A citação insere-se no texto sem
qualquer indicação gráfica.

1.1. Anáfora: “ele é os ourives do ouro e da prata, ele é os


fundidores dos sinos, ele é os escultores de estátuas e
relevos, ele é os tecelões, ele é as rendeiras e
bordadeiras, ele é os relojoeiros, ele é os
entalhadores, ele é os pintores, ele é os cordoeiros,
ele é os serradores e madeireiros, ele é os
passamaneiros, ele é os lavrantes do couro, ele é os
tapeceiros, ele é os carrilhadores, ele é os armadores
de navios” (pp. 251-251)
1.2. Comparação: “choram os olhos de Blimunda como
duas fontes de água” (p. 57)
1.3. Enumeração: “de Macau as sedas, os estofos, as
porcelanas, os lacados, o chá, a pimenta, o cobre, o
âmbar cinzento, o ouro, de Goa os diamantes brutos,
os rubis, as pérolas, a canela, mais pimenta, os panos
de algodão, o salitre,” (p. 229)
1.4. Ironia: “Em rei seria defeito a modéstia” (p. 10), “toma
lá Bárbara, dá cá Mariana” (p. 354)
1.5. Metáfora: “É aqui que virá acostar a nau da Índia”, “É a
mãe da pedra” (p. 269)

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