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SUMÁRIO

"Memorial do Convento " de José Saramago.


Leitura e análise de excertos do cap. XV ao XVII.
Caracterização do padre Bartolomeu e Domenico
Scarlatti; linha de ação da construção da passarola.
Simbologia. Resposta a questionário de
interpretação.
Cap. VI _ p.295 manual
1. «…que padre é este padre…» Baltazar estranha e espanta-se que um padre que
frequenta a corte e tem a estima do rei, também
conheça a mãe de Blimunda, condenada pela
Inquisição.

2. Caracterização do Padre • Tem uma memória excecional ( sabe de memória


Bartolomeu e sua excecionalidade vários textos de vários escritores da Antiguidade
Clássica)
• Tem a mesma idade de Baltasar, mas • Elevada capacidade intelectual no poder de
é um pouco mais baixo e parece mais argumentação filosófica
novo. • Responde a todas as dúvidas da Sagrada Escritura
• Vítima de chacota na corte – •Compunha poesia
chamam-lhe “Voador”, por sonhar • Faz experiências cientificas
construir uma máquina de voar, mas é
protegido pelo rei. Representa a elevação ao
• Concretiza o seu sonho, com a ajuda
de Baltasar e Blimunda. divino da vontade
• É perseguido pela Inquisição e morre Humana. 2
Cap. VI _ p.295 manual
3. Crítica do narrador implícita na Critica que apenas saibamos apreciar o ouro que
caracterização do Padre vem do Brasil e não homens tão sábios e dotados
como o Padre Bartolomeu (ll.31-32)

4. Por que razão o Padre Para o Padre Bartolomeu voar seria a materialização
Bartolomeu afirma ter voado sem
o ter feito? do sonho humano, pelo que acredita na capacidade
de o homem progredir através do conhecimento. Ter
feito subir um balão é como se subisse também, logo
cumpriu uma etapa do desenvolvimento humano
(ll.52-53)
5. Como explica a crença no A necessidade e a capacidade de o homem
progresso humano inventar. (ll.80-85)
3
Cap. VI _ p.295 manual
6. Razão da advertência de Voar é um perigo porque o santo Ofício considera
Baltazar «uma arte subtil» e. como tal, será castigada.

7. Relação entre Baltazar e Padre Baltazar Bartolomeu


Bartolomeu . Homem ligado ao . Homem associado ao
trabalho e à guerra saber e ao estudo

Todavia estão ligados pela construção da


passarola e não há arrogância do Padre em
relação a Baltazar, logo relacionam-se de forma
natural e honesta.

4
Memorial do Convento: cap. X _ Relação entre as personagens

D. João V D. Maria Ana Josefa


• Casado com D. Maria Ana • Relação cerimoniosa com o
Josefa, mas libertino. marido.
• Megalómano – movido pela • Impossibilitada de assumir a
vaidade e pelo fanatismoCasamento
sua feminilidade, sonha com o
religioso, manda construir um cunhado, daí resultando
convento em Mafra.
contratual, baseado
sentimentos de culpa.
no cumprimento
• Vaidoso (equiparando-se a
Deus).
das convenções.
• Interessado pelas descobertas
de Bartolomeu de Gusmão.
Representa o poder real Representa a mulher
absolutista e aristocrata presa às
prepotente/autocrático. convenções sociais.
Memorial do Convento: cap. X _ Relação entre as personagens

Baltasar Sete-Sóis Blimunda Sete-Luas


• Natural de Mafra. • Dotada de poderes sobrenaturais
• Assenta praça na infantaria do rei e (vê por dentro quando está em
Relação de
combate na Guerra da Sucessão de jejum).
Espanha, aí perdendo a mão esquerda • Quando conhece Baltasar, tem 19
amor pautada
(que substitui por um gancho). anos, cabelo espesso e cor de mel.
• Quando conhece Blimunda, tem 26 • Recolhe vontades dos homens
pela autenticidade,
anos, “cara escura e barbada”. para o voo da passarola.
fidelidade, ternura,
• Participa entusiasticamente na
construção da passarola.
• Recolhe a vontade de Baltasar
quando este é queimado pela

forma alienada.
sensualidade.
• Trabalha nas obras do convento de Inquisição.

• É queimado num auto de fé.


Representa a condição Representa o
humana e a crítica do transcendente
narrador à desumanidade e a inquietação
da guerra. humana.
Memorial do Convento: Cap. XIV _XV

Domenico
Scarlatti

• Músico contratado pelo rei para


dar lições de cravo à princesa.
• Leva um cravo para a abegoaria,
onde toca enquanto Baltasar e
Blimunda constroem a passarola.
Representa • A sua música cura Blimunda e
o poder permite que a passarola voe.
transcendente
da arte.
Cap. XIV
p.174

Sublinha a importância de que está prestes a


Significado simbólico do pedido de
acontecer a admissão de Scarlatti no pequeno
Bartolomeu a Scarlatti (« Só de olhos
número dos que conhecem aquele segredo,
vendados se entra no segredo»)
como um gesto ritual que o implicava e o
comprometia, fazendo dele um cúmplice.

a) Sobressai o seu tamanho imponente e,


Mostrar que a imagem da passarola
logo em seguida a forma
é dada pelos olhos e pensamentos de
b) Depois, o gesto do músico desencadeia a
Scarlatti
surpresa , o mistério
c) Finalmente, a revelação da reflexão
interior, antes da formulação da pergunta
Facetas de Blimunda - sabedoria, quando apresenta solução para
o problema apresentado
- A mulher-amante revela-se pelos brincos
com que se enfeitou para Baltazar
- o lado mágico de uma mulher que vê o que
até a uma deusa seria invisível
- - finalmente, a mulher do povo, de roupas
grosseiras e mãos maltratadas

- Baltazar : mão de trabalhador manual


Descrição das mãos como
- - Padre : mão de académico
elemento caracterizador
- Scarlatti: mão de pianista
- Blimunda : mão associada à terra, ao colher
dos frutos, ao alimento

- Celebrar o início de um pacto;


Significado da refeição - Sublinhar a igualdade entre os homens.
partilhada
Memorial do Convento: CONSTRUÇÃO DA PASSAROLA.

QUERER do • Padre Bartolomeu


Lourenço, saber
conhecimento: CONSTRUÇÃO
científico e alquímico. da passarola voadora:
• Baltasar Mateus, saber
Conjugação artesanal. símbolo da ciência e do
voluntária de • Blimunda de Jesus, progresso, do sonho e da
vários saberes saber sobrenatural. Utopia.
• Domenico Scarlatti,
articulados
saber artístico.
Bartolomeu Lourenço regressa da Holanda
e dirige-se a Mafra onde revela a Baltazar e
Cap. XI Blimunda o segredo alquímico do éter que
p.130 fará voar a passarola

«…mas o éter não se compõe das


almas dos mortos, compõe-se, sim, É a vontade do homem que faz a ação, que
ouçam bem, das vontades dos leva ao progresso e ao conhecimento.
vivos…»
Inauguração da 1º pedra do convento pelo
Cap. XII
rei.
p.143
Baltazar e Blimunda regressam a Lisboa e
«Quando o tempo levantou,… continuam a trabalhar na passarola
Apenas disseram adeus, nada mais»
Mistura-se a história com a ficção.

Cap.XIII Blimunda começa a recolher vontades


p. 149 Procissão do corpo de Deus
«Falemos agora a sério, disse o
Padre…lembra-te de que são Blimunda vai à procissão de corpo de Deus
precisas pelo menos duas mil porque as vontades desprendem-se dos
vontades» homens mais facilmente (corpos e almas
estão mais frágeis)
-Lição de cravo de D.Maria Bárbara
Cap. XIV -Regresso definitivo de Bartolomeu
p.176 -Conversa com Scarlatti
-Primeira ida do músico à abegoaria
«…Deus vê nos corações e
não precisa que alguém Aquando da doença de Blimunda, o padre
absolva em seu nome…» revela-lhe as suas ideias sobre a confissão.
Cap. XV - Epidemia em Lisboa
p.190 - Scarlatti leva o cravo para a abegoaria.

«…Deus vê nos corações e


Aquando da doença de Blimunda, o padre
não precisa que alguém
revela-lhe as suas ideias sobre a
absolva em seu nome…»
confissão(heterodoxia).

Cap. XV
p.194
«Deite-nos a sua bênção, As suas dúvidas revelam-se
padre, Não posso, não sei frequentemente e a sua fé está cada
em nome de que Deus a vez mais abalada.
deitaria,…»
CAP. XVI - Medo da Inquisiçao
p.197 - 1º voo da passarola
- Procissão pelo surgimento do Espírito Santo.

«Padre Bartolomeu Lourenço, de O medo que tem em ser apanhado


que é que tem medo…» pela Inquisição é cada vez maior e
acaba por perturbá-lo.

Crítica à religião: tal como definida


na época, aquela torna-se sinónimo
de obscurantismo.

O padre vive atormentado devido à


«O padre Bartolomeu Lourenço
perseguição do Santo Ofício, e, uma
entrou violentamente na abegoaria,
vez que a passarola está construída,
vinha pálido, lívido, …»
será experimentada e transformada
em meio de fuga.
Cap. XVI

Após terem fugido, e já em


«Se tenho de arder
terra novamente, o padre
numa fogueira, fosse
tenta incendiar o engenho,
ao menos nesta».
justificando.

Após este incidente, o


Cap. XVI padre embrenhou-se pela
serra e desapareceu.
«Foi-se embora, não Baltasar procurou-o em
o tornaremos a ver.» vão.

Sabe-se, mais tarde, que o padre


Cap. XVII morreu em Toledo. É Scarlatti
quem dá a notícia.
A passarola é um modelo de encontros e de desejos:

 todos juntos contribuem para a


realização de um mesmo sonho;
Todos vivem com a passarola as mesmas
angústias, os mesmos medos e as mesmas alegrias.

Cap. XVI
Voo da passarola poema
Pedra Filosofal
Simbologia da passarola
Simbologia:
Face Heróica
Nesta obra aparece-nos o fantástico com uma função marcadamente simbólica.
De facto, não é por acaso que o que faz subir a passarola são as vontades dos
homens e das mulheres. Estas vontades recolhidas por Blimunda poderão significar
que a vontade(s) dos homens, unidas por uma mesma causa ou num mesmo sonho,
serão capazes de vencer a ignorância, o fanatismo, a intolerância, libertando o
homem para uma nova “idade”, abrindo-lhe perspetivas de um mundo diferente.
O próprio voo da passarola poderá representar o poder que o homem tem
quando é capaz de sonhar e não desiste dos seus sonhos. Como a passarola, o
homem libertar-se-á das amarras que o prendem às limitações do quotidiano, à
mesquinhez do dia a dia, capaz de olhar o mundo com lucidez, tornando-se mais livre
e mais senhor de si.
Face Dramática

Mas o simbolismo tem uma face trágica. A busca de vontades quase matará
Blimunda depois de a ter feito sofrer cruelmente, e a concretização do sonho levará
o Padre Bartolomeu à loucura.
Assim, a história fantástica da construção da passarola representa a força
criadora que revoluciona o mundo, a esperança num mundo livre e diferente e o
sofrimento que a sua conquista acarreta para quem se atreve a lutar por ele.
A Matéria e o Sonho
Ao longo de todo o romance facilmente se constata a
importância da matéria e do sonho, intimamente
relacionados.
Com efeito, tanto o convento de Mafra como a passarola
(a matéria) são resultado de um sonho humano, da vontade
que o homem manifestou em ultrapassar os seus acanhados
limites de mortal, aproximar-se de Deus, através de criações
que não só mostrem o seu talento e engenho como dêem
provas da sua superioridade no universo.
No fundo, “são os sonhos que seguram o mundo na sua
órbita” (Cap. XI). E quantas vezes o mesmo sonho é
partilhado por várias almas! É o caso de Bartolomeu, Baltasar
e Blimunda que “em tantas noites passadas, uma terá havido,
pelo menos, em que sonharam o mesmo sonho, viram a
máquina a voar batendo as asas, …» (Cap. XI).
O sonho potencia a criação, liberta o homem dos seus
limites de Prometeu agrilhoado e torna possível aquilo que
era utópico, considerado impossível (“é para isto que sobem
os sonhos alto”, Cap. XVII).
Conjugação dos Saberes

Baltasar
Bartolomeu
(O saber artesanal)
(O saber científico)

Blimunda Scarlatti
(O saber sobrenatural) (O saber artístico)

Com todas as vontades reunidas é possível chegar mais longe.


Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita.
Memorial, Cap. XI, pág. 117.
Personagens
Histórico-Ficcionais

Bartolomeu Lourenço

Capelão e orador da corte,


pregador talentoso, Scarlatti
angustiado pelas dúvidas
religiosas, homem culto, Músico italiano, talentoso,
dado a experiências culto, sonhador. Professor da
aeronáuticas, visionário, princesa D. Maria Bárbara.
perseguido pela
Inquisição. Morre louco
em Toledo.
Do sonho à concretização

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